Laerte Braga
Não há o que mediar na  Bolívia, exceto se for para convencer as elites a aceitarem a vontade popular  expressa em voto em mais de duas oportunidades. Na eleição de Evo Morales, na  convocação da Assembléia Nacional Constituinte, na maioria absoluta alcançada  pelo presidente e na extraordinária vitória no referendo que confirmou seu  mandato agora em agosto passado. 
E nenhum mediador vai  convencer banqueiros, grandes empresários, latifundiários, investidores  estrangeiros, traficantes de droga, as quadrilhas que dominam o cenário político  do país desde tempos remotos, a aceitar que o povo decida o seu  destino.
Na cabeça dessa gente a  Bolívia, como qualquer outro país capitalista, é propriedade deles e o povo mero  adereço que tem entre outras coisas, que trabalhar e gerar riquezas na mais  valia da acumulação desmedida. Democracia é tolerável como farsa, como biombo, a  hipocrisia costumeira e vale enquanto os donos se mantiverem com o poder e a  chave do cofre.
Os norte-americanos são  pródigos nesse cinismo que caracteriza a tal nova ordem política e econômica.  Enchem a boca para defender a democracia, promovem intervenções militares para  assegurar a “democracia”, desde que o que esteja em risco sejam os interesses  que garantem, asseguram e representam.
Para além disso querem que  a democracia se exploda. 
A grande lição a inferir  da crise boliviana, que vem sendo ministrada desde o golpe contra Chávez em  2002, é que ou a América Latina, particularmente a América do Sul confirma a  vontade dos povos de cada nação dessa região do mundo e entende que os Estados  Unidos são algozes, um império semelhante ao espanhol quando exterminou os Incas  por exemplo, ou sucumbe e vira de vez colônia do império do  norte.
Não há meio termo e nem há  que discutir vontade popular, mais ainda quando expressa em condições e regras  criadas pelos donos para tentar manter a farsa. Perderam? Pois que aceitem a  vitória popular.
A questão boliviana é  muito simples. Existe um governo produto dessa vontade, do povo, e uma elite  empenhada em não aceitar esse governo, manter intocados os privilégios que  desfruta e tem, escravizada a classe trabalhadora, mas submissa a Washington, na  podridão em todos os sentidos desse tipo de gente. No Brasil se exibem em  revistas tipo CARAS, promovem chás beneficentes e se chafurdam na corrupção e na  apropriação do Estado e das riquezas nacionais.
Exemplo claro disso?  Tucanos e democratas. Lula tem que aprender essa lição também. Há o momento de  conversar e o momento de enfrentar. Aqui, os bandidos tomaram o stf, boa parte  do restante do poder judiciário, controlam o congresso nacional, num momento em  que a popularidade do presidente bate recordes em confronto com governos  anteriores.
É hora de enfrentar a  mídia golpista. As chantagens da GLOBO que quando quer arrancar dinheiro senta a  pua no governo e depois passa no caixa. Hora de mostrar a face real de gilmar  mendes e os interesses que representa no stf. De colocar a nu congressistas  corruptos e também os interesses que representam, tucanos como Artur Virgílio.  Ou governadores venais e ligados ao que de pior existe no País, como o são José  Serra, Aécio Neves, Yeda Crusius. 
Por que a justiça só cala  o governador do Paraná, Roberto Requião? Porque Requião é sério e não se submete  a esse estado neoliberal?
Essa turma que proibiu  algemas decidiu em causa própria. Deveria toda estar algemada. É de alta  periculosidade.
É simples entender o que  se passa na Bolívia. O complexo FIESP/DASLU perdeu o controle dos “negócios”,  não consegue mais enganar o povo via mídia e parte então para gerar o caos,  buscar espaços em negociações onde possa salvar os dedos, deixando um ou outro  anel.
Não é hora disso. As  sucessivas tentativas de golpes contra presidentes populares explicam as  declarações de Hugo Chávez. “Um golpe contra Evo Morales justifica a luta  armada. Se não conseguimos com o voto porque não deixam, vamos para a luta  armada.” 
É só isso, não tem o que  negociar. É aceitar o estupro ou resistir e algemar os  estupradores.
Ernest Hemingway tem uma  frase lapidar sobre o ser humano e se aplica a momentos como esse vivido na  Bolívia e por todos os povos latino americanos.
“Ninguém sabe o que há  dentro de si,
até ter que colocar para fora.”
Há quem faça e há quem  deixe.  
As elites estão expondo  seu caráter predador, explorador. É hora de colocarmos para fora o que existe  dentro de cada um de nós. 
A não ser que bolivianos e  latino americanos queiram aceitar o tacão nazista de Washington e seus  cúmplices.
No Brasil é hora de ir às  ruas e exigir que o pré sal seja nosso. Por enquanto a maior parte é dos  gringos. 
Na Bolívia é hora de  resistir e vencer e não de negociar.
Fernando Pessoa vale  sempre: “navegar é preciso, viver não é preciso”.
Até porque viver trancado  em pastas do poder, nas chantagens e na exploração dos donos não é propriamente  viver. Não importa a dimensão do dono.  
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