quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Fidel e os Tempos do Gatilho Alegre

Ramos Grau San Martin estava no seu segundo mandato, no ano de 1945. O primeiro tinha sido nos anos 30, o governo dos cem dias. Cuba tinha propensão a resolver as coisas na base do revólver. Em 46, a corrupção já estava muito disseminada. A violência política virou o pão de cada dia. De 1944 a 1948 foram 64 assassinatos políticos. Centenas desses revolucionários eram pagos pelo estado, como no ministério da educação. Essas pequenas organizações (MSR, UIR) matavam antigos policiais de Batista e Machado. E também se matavam entre si em rixas armadas violentas. A universidade de Havana era um epicentro dessa violência política. Enrique Ovares, antigo líder estudantil, comentou que, para essa geração de Fidel, era bastante válido o assassinato politico. Nessa conjuntura é que chegou a Havana para estudar Direito o jovem Fidel Castro, um rapaz superdotado e ambicioso, mas complexado por ser filho bastardo. Ele de início entrou no MSR, Movimento Social Revolucionário. Eles exigiram um atentado como ritual de iniciação. Ele e seu grupo supostamente o fizeram, mas não mataram Leonel Gomez Pérez, o líder estudantil rival, líder da União Insurrecional Revolucionária. No entanto, eles erraram o alvo e feriram outro estudante e um menino de doze anos. A UIR marcou Fidel por isso. Fidel passou então a desenvolver a obsessão com segurança –e com bastante razão. E também a tendência a recorrer ao terrorismo individual contra os seus rivais, assassinando-os, resolvendo as diferenças na base do assassinato, mesmo na esquerda. Ele não tinha conseguido entrar no MSR e tinha se queimado com a UIR. Poderia, então ser morto e ficou preocupado com isso. Procurou, então, graças a um amigo em comum, o líder da UIR, Emilio Tro Rivero, veterano da Segunda Guerra Mundial. Fidel pediu perdão a Emilio Tro e foi aceito na UIR. A tarefa passou, então, a atacar um líder importante da organização da qual tinha acabado de sair. E o grupo de Fidel supostamente esteve envolvido na morte de Manolo Castro (que não era parente), presidente da Federação Estudantil Universitária (FEU). Num domingo de carnaval de 1948, dois homens mascarados balearam e mataram Manolo Castro na saída de um cinema. Castro foi preso devido a esse assassinato, mas um colega do curso de Direito, Frank Balart, da família Diaz-Balart de quem era amigo e até se casou com uma deles (Mirta Diaz-Balart, sua única esposa oficial), conseguiu tirá-lo do processo. Castro foi a Colômbia para fugir do processo político, mas também envolveu-se em violência política no chamado bogotazo. O conflito entre MSR e UIR escalou até o massacre de Orfila, onde foi morto o líder da MSR, Rolando Masferrer, uma verdadeira campal entre as duas organizações. No verão de 1948, foi morto Oscar Fernandez Caral, um sobrevivente do MSR no massacre de Orfila. Castro foi indicado pelo assassinato, mas o caso foi encerrado por falta de provas. Fichado pela polícia desde 1949, Castro estava também muito marcado pela UIR, o que deixou-o paranoico e deu trabalho a seu pai, que teve de ajudá-lo a pagar sua defesa nos processos. Rolando Masferrer perseguiu Castro várias vezes, quando ele aparecia, Castro voava para outro lugar. A saída de Castro foi formar-se e mudar de vida, queimado como estava. Casou-se com Mirta Diaz-Balart, mulher de alta sociedade e família ligada a Batista, abriu escritório de advocacia e passou a sonhar em candidatar-se ao parlamento. O golpe de Batista em março de 52, instalando uma ditadura, fazendo com que o presidente Prio Socarrás tenha de se exilar, frustra a carreira política de Castro. E ele tenta, então, trazer sua experiência nas organizações revolucionária para a juventude de um partido legalista, o Partido Popular Cubano. E daí parte com a juventude ortodoxa de origem pobre para ação violenta em La Moncada, mas essa é outra história. Fidel Castro e os Tempos do Gatilho Alegre, Enrique Ros.

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