ÊNCLASE
Porque penso
Se forçosamente estou
Tal como vou
Porque penso
Se sempre esqueço de meu braço
Se sempre acordo às 6:00
Se me despenteio no vento
Porque penso
Se assim me incendeio
Se minha verve explosiva
De um sim distancia-se
Porque penso
E invento tanto
Alardeando como um santo
A faca de tais elementos
Porque me dilacero na contradição
Porque me embebedo da insensatez
Porque me esqueço do despertador
Porque penso
Pulsando por impertinência
Vagando por qualquer clemência
Anômalo
Em sua insistência
Porque penso
Porque vejo
A túnica que se desgarrou
De sua entropia
Porque penso a tristeza e a alegria
Porque não fluo
Nas inadequações do dia
Porque coleciono medos
Receios estéreis
Porque não fluo
E significo aporias
Porque não esqueço de mim?
Porque penso
E peno
Atravessando o inferno 
No meu próprio umbigo
Forte 
Fraco
Soberbo
Perdido
FARSA
Que se adequa a cada desafio
ESCRAVO do vazio que a cada hora crio
ESTRANHO inerte na droga do cio
Quem sou eu?
A pergunta volta
Que circo cíclico
Zomba desta pobre alma
Encontro-me devassado
Preciso de espaço
Não consigo fugir
Sinto medo
Porque sinto?
MINHA FÉ
Nos idos de 2005, encerro já os meus versos
Meu manifesto está mudo
E demasiado lúcido
Miúdo para qualquer panfleto
Meu leito esgarça-se
Meus braços expandem-se
Tudo querem abarcar
E minha fome aumenta com o tempo
Este ano de tantas esperanças
Pouco acrescentará às lembranças
Espero ao menos ter semeado
O odor dos acessos
O ocaso do tédio
Na corda bamba fui tentando aprumar
A rota do meu escancarar
Testemunha do esforço agudo a se debater
O rio de vãos sorrisos se esquecerem
E se reerguerem insólitos
Talvez numa cruzada sólida
Vestida de lucidez e força
Como uma tomada nova
Visitei incontáveis ângulos
Nem sabendo que havia tantos
E neste momento de ciência
Vejo-me exaurido
O tanto que doei é só o que ganhei
A façanha de engendrar o possível
Das entranhas do que parecia insano
Guardo no silêncio
As esperanças módicas
E me atiço viscoso ante as possibilidades
Este meu ar delirante
Ainda me fará arder
Temo morrer queimado
Por minhas paixões
(Re)encontro a dor tanta
No acabar do ano
CURVA
O noticiário da TV
Jorra peças sombrias
Envolvidas pelo ácido
De uma neo-selvageria
Pós moderna 
Aviltada 
Quando a frustração alimenta o sangue
E o sangue é vendido feliz
A barbárie via satélite
Novos tempos
A barbárie via satélite
E o noticiário da vida
Padece da mesma irrazão
Tanto quanto aqueles mesmos fatos mortos
A vida e a barbárie, juntos
Numa transa frenética
Os corpos mortos estão vivos
E os vivos, mortos
Seu legado fétido toma a tudo de pronto
E a carne pútrida reveste os tantos corpos belos
Pois a violência é a outra face
É o negativo
É o outro lado
Violência é tudo o que você vê não vendo
É o outdoor
São as luzes histéricas clamando atenção
Os corações excitados e exilados
São as manchas das sirenes
Rasgando a noite
É o tempo parado sobre rodas
É o calor que cobra e asfixia
É a multidão incógnita e premente
É toda promessa de frustração
Estampada em toda propaganda
É todo o tempo contado e ofegante
É todo edifício garboso esbarrando em favelas
É todo condomínio-feudo no meio do caminho
É todo império do vazio
É toda possibilidade de impossível 
Todo caminho demasiado longo
É tudo isso que fazemos repetindo aceitando
É toda essência do que somos
Do que nos transformamos
Qual violência você escolhe:
Com ou sem sangue?
Há farta escolha vil nesta real constatação:
Indo nesta direção
Violência é o que lhe espera após a próxima curva
LVUÉOESRDUUX
Não consigo arrumar a bagunça que há em mim
                                                                                                  E no mundo e em você
E agora
- me pergunto e puno
Ao não digerir estes traços inacabados de tudo
Esta bagunça Este mundo assusta
E eu não acabo a mim E ao mundo e a você Nada está acabado e ainda sim Tudo terminado em sua imperfeição
E impropriedade E
ainda sim tudo se insinua
Mas não desnuda
E a vida está eternamente preparada
         Para um tudo que não se acha
                        E que tende mais para um nada
                                                                                               atejorp es odut sioP
                                                                                                            Mas não se acarreta
Ou se desperta
Nestas eternas tendências às meras                           De frases inebriantes e abertas
Esse real de                                           promessas
                Imersas de sonhos mundanos
         Cruzados no ardor do caos
                                                      Dessa sentença estranha
Que a ninguém encanta
O improvável do imponderável
                   Que se torna justiça
      O salto ao vazio                
Que se faz de verdade
                                                                      
                                                                                                               O fio não se acha
        O que afirmo se dissolve
                                                   Nesse ocre do olhar insone
Vigilante na teia de ghosts
  Supernovas nauseantes
                                    Me deixando, te deixando assim todo perdido
NÃO CONSIGO ARRUMAR A BAGUNÇA E O TURBILHÃO VAI ENGOLIR
 
 
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