1) Eu, Bruno Ricardo, militante do movimento sindical e comunitário de Vigário Geral, venho por meio desta carta esclarecer os motivos que levaram à minha saída do PCB e à crise política que se desenvolve no interior da UJC e do PCB, no Estado do Rio de Janeiro.
2) No ultimo dia 4 de dezembro, em reunião da direção estadual do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi aprovada de maneira unânime minha aposentadoria sumária da União da Juventude Comunista (UJC), organização na qual fui dirigente estadual por 4 anos e militante por mais de 10 anos. As acusações infundadas que sofri foram: ser “conivente com as praticas de um camarada e dirigente recentemente expulso do PCB”, fomentar “Espírito Obreirista”, “Levar debates de uma frente de massas para outra” (No caso levar o debate do movimento negro para dentro da UJC).
3) Não tive direito à abertura de processo, além de não ter sido apresentada nenhuma testemunha, outras formas de provas ou depoimento que justifiquem minha aposentadoria sumária. Considero tal postura do PCB e da UJC como um sintoma claro de perseguição política contra a minha postura crítica frente ao burocratismo e à apatia da organização, além de evidências de racismo dentro de todas as instâncias do PCB. Constatei também que tal postura de membros da direção se dirige contra outras vozes discordantes que se levantaram em críticas fraternas e absolutamente construtivas, visando fortalecer a linha política do partido e tirá-lo de um posicionamento que o condena ao isolacionismo e, em muitos momentos, ao sectarismo que impede uma real inserção na classe trabalhadora e em sua lutas concretas, o que deve ser o eixo estratégico de qualquer partido comunista que queira sê-lo não apenas como realidade retórica.
4) Desde o começo da minha entrada na direção da UJC fui perseguido e ofendido por dirigentes nacionais e estaduais. Como exemplo, cito o caso do Seminário Nacional de Jovens Trabalhadores, seminário do dia 24 de abril, atividades que foram negadas sem justificativa, além de, por diversas vezes, ter sido punido por escrever notas políticas. Reiteradamente, militantes do Núcleo Elizeu Alves (onde fui secretário político) foram ameaçados de aposentadoria sumária e expulsão por criticarem posturas autoritárias de membros da direção nacional da UJC. Minhas situação piorou depois que pedi que fosse feita pelo Partido uma carta de repúdio para o seminário Fela Kuti, foi agredido e após criticar o boicote por parte da direção do PCB/UJC às atividades no Chapéu Mangueira, no dia da Consciência Negra.
5) Na realidade, se formaram frações dentro da direção estadual do PCB. Algumas dessas frações identificaram o Núcleo de Jovens Trabalhadores como uma possibilidade concreta de massificar o partido, construindo uma inserção efetiva e considerável em setores precarizados da classe trabalhadora, o que poderia constituir uma ameaça à sua hegemonia. Na véspera do VII Congresso Nacional da UJC, apelaram para um golpe chapa branca, que foi dado a partir da expulsão sumária do Secretário de Organização e Movimento Popular, da minha suspensão sumária da Juventude e da aposentadoria do Secretário de Formação Política, além do afastamento de alguns dos militantes mais ativos do Núcleo Eliseu Alves. O Núcleo de Jovens Trabalhadores promoveu, desde o seu início, formação política de alta qualidade teórica dentro do marxismo com militantes de origem proletária, porém não se limitando à discussão teórica, buscando articular dialeticamente teoria e prática, como se espera de qualquer partido revolucionário que deseja realizar um trabalho político real junto à classe. Por esse motivo, vinha demonstrando grande possibilidade de adentrar em setores da classe trabalhadora, conseguindo tocar greves e dar a linha política. Setores esses com pouca (ou quase nenhuma) tradição de mobilização política. Em outros momentos, o Núcleo se mobilizou por fazer sopão para os despejados da Favela da Telerj, buscando realizar um trabalho de inserção e conscientização política desses setores altamente precarizados e marginalizados da classe. O projeto de partido que os reformistas e eurocomunistas defendem não é o que nós, trabalhadores, queremos. Eles querem manter o partido como anão-político que realiza “boas analises”, mas que não desse do pedestal e constrói concretamente a luta dos trabalhadores. Cabe ressaltar que nós trabalhadores nutrimos grade repúdio a um projeto que não consegue articular dialeticamente teoria e prática, como defendia Lênin. A articulação dialética entre teoria e prática é o eixo de qualquer partido marxista revolucionário que não queira condenar-se a um processo irreversível de degradação política, esclerosando e tornando-se um aparelho burocrático sem nenhuma inserção concreta nas lutas da classe trabalhadora.
6) Reitero que em nenhum momento as perseguições dirigidas contra mim e meus camaradas pararam. Houveram acusações de uso do movimento sindical para proveito próprio (como a eleição da CIPA e como aliança com forças políticas de esquerda na greve dos operadores de telemarketing). Inúmeras vezes sofri ameaças de dirigentes por divergir da posição de alguns dirigentes nacionais. Posições que, a meu ver, deveriam ser discutidas crítica e fraternamente dentro de um partido que se reivindica revolucionário. Posicionamentos meus (como criticar a não participação em greves, o patrulhamento ideológico, a proibição de notas políticas, o uso de ofensas pesadas à categoria dos garis etc) não foram sequer debatidos . Não tive o direito de ser escutado na minha célula, nem no meu núcleo da UJC, onde me foi negando o direito de ampla defesa e deixando apenas ser divulgada a versão da direção.
7) A direção do PCB\RJ se comporta como a PM que se utiliza do aparelho repressor para perseguir a juventude negra e aqueles que possuem críticas. À divergência não é encarada como uma oportunidade para um debate político honesto que fortaleça a posição política do partido. A divergência é encarada como uma heresia que deve ser silenciada ou ignorada, principalmente quando as críticas são embasadas em uma análise concreta da realidade concreta. É a juventude negra aquela que mais morre nas periferias, favelas e na baixada. É ela também que são sumariamente presas e assassinadas.
8) Na semana passada consegui uma reunião na célula de Movimentos Sociais. Nessa reunião, pedi o uso do estatuto do partido (documento máximo da entidade) em frente a quatro membros da direção, que me responderam que “o estatuto não valia para uma cambada divisionistas, mas o que vale é a moral e a ética”. Além disso, uma burocrata, funcionária do partido, afirmou de maneira ofensiva e desonesta que, na verdade, minhas críticas se devem a uma “frustração pessoal por não estar na Universidade e que eu era mal resolvido com a minha cor”. A partir desse momento não milito mais em nenhuma das fileiras do PCB, UJC ou UC e me nego a conversar com uma direção racista, autoritária e que não ouve sua militância, se furtando ao debate fraterno verdadeiramente honesto, aberto e de consistência, estigmatizando os que discordam dela como fracionistas e obreristas. Convoco a esquerda e a sociedade civil para se opor a tal medida autoritária e não faço nenhuma autocrítica e nem critico o posicionamento do camarada dirigente expulso recentemente do PCB, ao contrário, o apoiarei com minha saída e darei força a qualquer um que se oponha as medidas atrasadas do movimento comunista e da esquerda, no Brasil e internacionalmente, me opondo veementemente àqueles que cultivam os resquícios de um fetichismo burocrático, confundindo centralismo democrático com aristocracia burocrática.
“Condenai-me. Não importa. A história me absolverá.”
-Fidel Castro.
(Abaixo envio conversa que realizei com o membro do Comitê Central do PCB e da direção Nacional da UJC. Ao propor um panfleto didático que seria distribuído durante a greve dos Garis do Rio de Janeiro este dirigente afirma que "não se deveria panfletar para uma categoria de analfabetos". Essa postura racista, elitista e preconceituosa de alguns membros da direção já criou raízes fortes dentro da organização e julgo que este mal é irremediável.)