sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O Capítulo 6 --O PC do B nas vésperas da luta armada

Capítulo 6

Capítulo 6 – O PC do B nas vésperas da luta armada

Depois do V Congresso do PCB, em 1960, vários dirigentes identificados com as posições anti-reformistas foram deslocados para estados de menor expressão, numa espécie de degredo partidário. Carlos Danielli foi para o Espírito Santo e João Amazonas para o Rio Grande do Sul. Outros foram mandados para organismos municipais ou distritais.
No Espírito Santo, começou a amizade de Elio com Danielli, cuja tarefa era dirigir o semanário comunista Folha Capixaba. Danielli tinha 31 anos e Elio era secundarista. Fluente em russo, o dirigente dava aulas do idioma para os militantes do partido. A maioria dos alunos era secundarista. O livro texto era uma gramática de Nina Potapova, e, até hoje, Elio se recorda das aventuras da “maladaia diévutchka Iliéna”, a jovem mocinha Elena. A fluência de Danielli pode ter sido adquirida na própria União Soviética. No PCB, os militantes mais destacados eram enviados para o Curso Stalin, de dois anos, uma espécie de pós-graduação em marxismo-leninismo.
Em 61, antes da ruptura formal, foi publicado o chamado manifesto dos 100, em que dirigentes e militantes protestavam contra os rumos que o PCB estava tomando. Em fevereiro de 1962 foram expulsos do Comitê Central do PCB todos os membros que ainda continuavam apegados à chamada linha stalinista: Diógenes de Arruda Câmara, João Amazonas de Sousa Pedroso, Pedro Ventura Araújo Pomar, Maurício Grabois, Miguel Batista dos Santos, José Maria Cavalcanti, José Duarte, Ângelo Arroyo e Orlando Piotto. Esse foi o núcleo em torno do qual se reorganizou o PC do B.
No dia 18 de fevereiro de 1962, na Rua do Manifesto, bairro do Ipiranga, São Paulo, houve uma conferência extraordinária do que passaria a se chamar Partido Comunista do Brasil. Participaram dela delegados de vários Estados. Entre eles estavam dirigentes históricos do Partido como João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Kalil Chade, Lincoln Oest, Carlos Danielli, Ângelo Arroyo, Elza Monnerat, entre outros.
Prestes declarou que pelo menos dez por cento dos militantes do PCB aderiram à cisão. Estimando os efetivos do PCB em 5.000 militantes, a projeção indica que 500 militantes se incorporaram ao PC do B, nos primeiros meses. Temos razões para pensar que esse número está superestimado.
Elio Ramirez Garcia ingressou no partido em 60.  Embora tenha acompanhado os camaradas que reorganizaram o PC do B, durante todo o ano de 62, permaneceu no Espírito Santo, sem pertencer a uma estrutura formal. Havia a distribuição da Classe Operária, eram feitas discussões políticas, mas, somente em 63, o PC do B se organizou nesse estado.  Em 62, o PC do B estava enraizado basicamente no eixo Rio São Paulo. Deveria ter contatos em vários estados, como no caso de Elio e, graças ao trabalho deAmazonas, uma liderança de grande prestígio, estava estruturado no Rio Grande do Sul.
A composição por estado dos militantes que foram para o Araguaia, dá uma idéia de como foi o crescimento do PC do B. Do Rio Grande do Sul saíram José Humberto Bronca, João Carlos Haas e Paulo Mendes Rodrigues. Militantes mais antigos, eles devem ter se aglutinado em torno de João Amazonas.
Rio e São Paulo forneceram a maioria dos militantes. O pequeno Espírito Santo forneceu dois militantes: João Gualberto Calatroni (Zebão) e Marcos José de Lima(Ari Armeiro)José Maurílio Patrício (Mané), o outro capixaba, atuava no Rio de Janeiro.  Os mineiros da guerrilha, em sua maioria, foram recrutados a partir de 68. Nesse ano de grandes manifestações de rua, o PC do B começou a disputar a hegemonia do movimento estudantil e de alguns sindicatos. Ciro Flávio Salazar de Oliveira (Flávio), enviado a Minas, onde era conhecido como Tio ou Bigode, foi o grande responsável pela criação do PC do B nesse estado.
Paulo Roberto Pereira Marques (Amaury) e Walquíria Afonso Costa (Walk)estavam entre os primeiros militantes recrutados. Walquíria, uma liderança estudantil de peso, contribuiu bastante para o crescimento do partido, recrutando novos militantes. Ela e Paulo acabaram ficando muito visados  pela repressão. De Minas, também saíramIdalísio, marido de Walquíria e Rodolfo.
Ceará e Bahia, outros estados que estiveram fortemente representados no Araguaia, contribuíram com quadros mais experientes, que iniciam sua militância política já em 66, nos movimentos secundaristas e universitários. Ozeas Duarte, delegado a VI Conferência do PC do B, realizada em julho de 66, foi responsável pelo crescimento do partido no Ceará. Outras grandes lideranças, como João de Paula, Pedro Albuquerque, Genoino, Dower (Domingos) e Bérgson (Jorge), surgiram entre 66 e 68. Os quatro últimos foram para o Araguaia.
Da Bahia, os militantes que se deslocaram para a guerrilha também iniciaram sua militância nesse período. Citaremos Dinalva Oliveira Teixeira(Dina) e seu maridoAntônio Carlos Monteiro TeixeiraUirassu de Assis Batista (Valdir)Rosalindo de Souza (Mundico)Vandick Reidner Pereira Coqueiro (João Goiano) e sua mulherDinaelza Soares Santana Coqueiro (Mariadina).
Um indício de que havia uma estrutura anterior do partido na Bahia é a presença dos irmãos Piauhy DouradoNélio (Nelito) e José Lima (Ivo) no Araguaia, o primeiro com treinamento na China. A seleção e o envio de um militante para esse treinamento apontam para a existência de uma estrutura partidária, ainda que pequena.
À VI Conferência, em 1966, compareceram cerca de 40 participantes, entre convidados, membros do Comitê Central e delegados, representando cerca de 500 militantes. É um acontecimento significativo para um partido que começara pequeno numericamente, e que durante o período entre 62 e 64 não alcançara maior prestígio entre os movimentos de massa. Por sua luta implacável contra o reformismo, seus militantes eram rotulados de aventureiros, esquerdistas, e outros adjetivos menos amáveis.
No Espírito Santo, a Conferência Estadual que elegeu Elio como delegado reuniu os responsáveis pelos municípios e frentes estudantis. Discutiram o crescimento do partido e as questões locais. Em São Paulo, durante as reuniões, Elio ficou face a face com alguns membros do Comitê Central. Elza Monnerat e Danielli já eram conhecidos. Na sua volta da China, havia feito um relatório a João Amazonas e Pedro Pomar.  E fora colega de curso do Bronca. No decurso da VI Conferência, conheceu Maurício Grabois, Arroyo, Zé Duarte, Luís Guilhardini e Wladimir Pomar.
Do Comitê Central, ele não se lembra de ter visto Dynéas Aguiar, Consueto Callado, e Lincoln Oest. A norma era todos usarem nomes de guerra, mas Danielli ia identificando um ou outro, de caso pensado – o novo militante devia ter uma idéia dos nomes históricos que haviam reconstruído o PC do B.
A Conferência contava com apenas um delegado por estado: Ozeas Duarte, pelo Ceará; Elio pelo Espírito Santo, Diniz Cabral Filho, o Queixadinha, por Goiás; uma loura, companheira de Hélio Cabral, por Brasília; Vicente pelo Rio e dois delegados pelo Comitê Regional dos Marítimos (do Rio): Guilhardini e um certo Copa. Além de outros que não ficaram na memória de Elio.
A derrota de 64 desmascarou as grandes ilusões que o PCB depositara na via legal. A posição inicial deste partido, afirmando que o golpe de 64 era passageiro e que os militares não ousariam enfrentar a reação popular, voltou a atenção dos revolucionários para o PC do B.
No Rio houve a incorporação da direção de todo um organismo, o Comitê Regional dos Marítimos, de vários dirigentes de prestígio e de grandes setores do movimento de massa, como ferroviários e empregados da CBT (carris). 
A VI Conferência consagrou a entrada de José Humberto Bronca e de Luis Guilhardini no Comitê Central. O Comitê inicial, com perto de uma dúzia de membros, contava com João Amazonas, Valter Pomar, Carlos Danielli, Maurício Grabois, Ângelo Arroyo, Consueto Callado (pai de Daniel Ribeiro Callado), Elza Monnerat, Lincoln Oest, Khalil Chade e José Duarte. Elio acha que José Maria Cavalcanti, dos marítimos; Wladimir Pomar, filho de Pedro Pomar e Ozeas também passaram a integrar o CC.
Posteriormente, Diógenes Arruda e Jover Telles ingressaram no PC do B e no seu Comitê Central. A última incorporação de vulto foi de parte da AP, formalizada em 73, já sob o prestígio da luta no Araguaia.
Em 67, no Rio de Janeiro, particularmente na Guanabara (à época, a cidade do Rio de Janeiro constituía o Estado da Guanabara), houve uma grande cisão no PCB. Os dissidentes se organizaram com o nome de Corrente Revolucionária, visando intervir no 6º Congresso do PCB. Foram expulsos e acabaram criando o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).
Em junho de 68, a maioria do Comitê Regional do PCBR rompe com a direção nacional e aprova a resolução “Um reencontro histórico”, que propõe a sua incorporação ao PC do B. Apolônio de Carvalho, fundador do PCBR, o Apolinário da trilogia de Jorge Amado, afirma que “mais de 80% dos militantes, com destaque para os setores operários e populares – optaram pela unificação com o PC do B”.
Ronald era militante do PC do B desde junho de 68, vindo da Dissidência, uma cisão que houvera no PCB em 66. Sua esposa, Myriam, participou ativamente da Organização da UJP, União da Juventude Patriótica, criada formalmente em março de 70.Era uma agremiação revolucionária que congregava os jovens independentes interessados e motivados em lutar contra o regime militar e pelas reivindicações populares, sem distinção de cor, classe, ideologia, religião e concepção filosófica.
Segundo Myriam, na UJP havia militantes do PCdoB, que geralmente eram uma espécie de ponte entre a direção e os núcleos, assim como pontos de apoio iniciais para a construção. Foi o caso da Adriano Fonseca, do IFCS. Entretanto, compunha-se, por larga maioria, de militantes independentes. Muitos não tinham a compreensão política suficiente para entrar no partido ou a disposição de fazê-lo. Boa parte nem era comunista. Outros, mesmo tendo uma consciência mais avançada, não queriam, por algum motivo, assumir compromissos partidários, mas estavam dispostos a participar de alguma forma da luta contra o regime militar e pela realização do Programa.
De março de l970, quando foi fundada oficialmente, a setembro de l972, a UJP cresceu vertiginosamente, chegando a ter cerca de 600 membros. Myriam tem certeza dessa data e desse número de militantes porque, em seu último “ponto” com Lincoln, foi feito um balanço geral da situação. A UJP foi uma decisão do Comitê Regional, referendada pelo Comitê Central, concebida inicialmente como uma experiência piloto. Não chegou a se constituir nacionalmente.
Estes dados dão uma idéia da importância do PC do B do Rio de Janeiro e explicam a quantidade de quadros que enviou ao Araguaia.
O núcleo dirigente do PC do B era o mesmo que, com a prisão de Prestes, após a insurreição de 35, havia comandado o partido e convocado a Conferência da Mantiqueira. Amazonas, seu quadro mais destacado, tornou-se, após a reorganização, secretário geral do Comitê Central. Seu deslocamento, junto com mais três dirigentes históricos (Grabois, Arroyo e Elza), mostram o peso que o Araguaia tinha na política do partido. Lincoln Oest ficou encarregado, juntamente com Danielli, de selecionar os novos militantes que iriam para a área.
Sobre o tamanho do partido, Arroyo, no documento Grande Acontecimento na vida do país e do PC do B, reconhece que: “Embora pequeno, nosso partido foi capaz, sob uma ditadura fascista, de organizar e dirigir uma resistência armada...”[1]. O próprioAmazonas, em depoimento colhido em 2001, afirma: “Para se compreender a dimensão do que é a Guerrilha do Araguaia é necessário analisa-la historicamente. Somente assim se pode ver a grandeza de um movimento empreendido por um partido ainda pequeno...”[2]  Ambos grifos são nossos.
No próximo capítulo, tentaremos precisar o que se dever entender por um partido pequeno.



[1] Guerrilha do Araguaia, ed. Anita Garibaldi, p. 63.
[2] Idem, p. 53.

Segunda Parte--O Vietnã é aqui

Obra de Marco Lisboa sobre o Araguaia. Fonte: O Senhor Gato

segunda parte - O Vietnã é aqui!

Primeira Campanha


Capítulo 1 – Os arapongas[1]

            O ataque aos guerrilheiros foi precedido por uma grande atividade dos serviços de informação do exército. O próprio relatório Arroyo afirma que “nos primeiros dias de abril, já alguns policiais andaram pelas áreas dos destacamentos A e C à procura de informações sobre os “paulistas””[2]. Segundo Criméia, os guerrilheiros já sabiam que, em 31 de março, o exército chegara à Faveira.
            As informações iniciais sobre o destacamento C vieram de Pedro Albuquerque. Em sua 4ª edição, “A guerrilha do Araguaia”, publicada pela editora do PC do B reproduz as duras palavras do relatório Arroyo: “... O Exército soube de nossa presença no sul do Pará através da denúncia do traidor Pedro Albuquerque que, meses antes, havia fugido com sua mulher do destacamento C. [NE: mais tarde, soube-se que não foi Pedro Albuquerque o denunciante dos guerrilheiros que se encontravam no Araguaia].” A nota da edição, desmente laconicamente o texto, sem dizer quem foi o denunciante.
            Embora essa polêmica não tenha maior relevância numa perspectiva histórica, é importante restabelecer os fatos. Pedro havia deixado a área em junho de 71. Ao chegar a Fortaleza, havia procurado o Partido e se mantinha escondido em apartamentos de amigos e conhecidos, ligados de alguma forma ao PC do B. De sua parte, havia o compromisso de manter o trabalho em sigilo. Além disso, era fácil para a direção do PC do B monitorar os seus passos. Essas informações, com certeza, haviam sido repassadas à Comissão Militar, já que envolviam um sério risco de segurança.
            Criméia afirma que a fuga de Pedro foi decisiva na resolução de desativar a base de Faveira. Os futuros guerrilheiros do Destacamento A se estabeleceram longe das margens do Araguaia, em três PA.
Em dezembro de 71, a CM decidiu deslocar os pontos de apoio do Destacamento C mais para o interior, para o norte, na direção do Igarapé Abóbora. A demora de mais de seis meses é explicável, se pensarmos que o PC do B tinha certo controle sobre a situação.
            Em dezembro, Paulo, o comandante do Destacamento C, chamou um vaqueiro para tomar conta de sua fazenda. O escolhido foi Raimundo José Veloso, o Raimundinho, tio de Neuza, que havia se casado com Amaro. Paulo disse que faria uma longa viagem e, em janeiro de 72, entrou na mata, juntamente com os paulistas. Raimundinho não teve mais notícias suas. A pressa com que a mudança foi feita talvez se deva à informação de que Pedro pretendia abandonar a clandestinidade.
             Em fevereiro de 72, Pedro foi preso ao tentar tirar a segunda via da carteira de identidade. Segundo ele: “Eu achava que eles já não estavam mais me vigiando (na volta a Fortaleza), trabalhava clandestino como corretor e fui a uma delegacia tirar minha identidade para um emprego no Laboratório Roche, em Teresina. Na polícia, fui preso.” [3]
Pedro Albuquerque estava no PC do B desde 62, vinha de uma família de comunistas e tivera papel de destaque no movimento estudantil cearense. Elio relata que ele se tornara particularmente visado pela repressão ao deter, na sala de aula, um policial infiltrado, tomando sua arma. Ele foi reconhecido e enviado para a Polícia Federal.
A notícia da prisão de Pedro chegou ao Araguaia em março de 72, de acordo com o relatório Arroyo. Segundo depoimento de Francis, um militante cearense, uma enfermeira ligada ao partido viu Pedro sendo atendido em um hospital. Ele tentara se suicidar fazendo cortes profundos na altura do antebraço.
Os autores de “Operação Araguaia” tiveram acesso a fontes do exército. Pretendemos contrapor essas informações aos depoimentos dos sobreviventes e ao próprio Relatório Arroyo, de maneira crítica. Segundo o livro, o CIE (Centro de Informações do Exército) tomou conhecimento da existência de um campo de preparação de guerrilha rural em fins de março. A Operação Peixe I, determinada pela Segunda Seção[4] da 8ª RM, teria duas fases. “Na primeira, os investigadores sairiam para confirmar a presença de guerrilheiros no Sul do Pará. Na segunda, seria feito “o isolamento, cerco e redução do inimigo””[5].
A área da guerrilha tem uma peculiaridade: são inúmeras as localidades que possuem o mesmo nome - Pau Preto, Gameleira, e Cigana, entre outras. São nomes de pássaros ou de árvores da região. Próximo a Marabá, às margens do Rio Tauarizinho, havia um lugarejo com o nome de Cigana. Teria sido para lá que os agentes se dirigiram inicialmente. Ao procurarem informações em São João do Araguaia, acabam descobrindo o PA da Faveira, já desativado. Antes de retornarem a Belém, “Souberam de outro lugarejo Cigana, às margens do Sororó. Acreditavam que essa pista fosse boa, pois ficava perto de Xambioá, cidade de Goiás com nome semelhante a Xangri-Lá, referência dada por Pedro Albuquerque.”[6] A equipe voltou para Belém no dia 31 de março.
Embora os guerrilheiros soubessem da existência de outros destacamentos, Pedro, provavelmente, não sabia da existência do PA em Faveira. Ou acreditamos na versão de que os militares chegaram lá por acaso, ou somos obrigados a concluir que houve outra fonte de informação, alguém que conhecia esse local.
É justo dizer que Pedro resistiu ao máximo e que as informações que forneceu eram imprecisas.
“Na Polícia Federal, foi torturado e humilhado. Resistiu, mentiu e trocou nomes de pessoas e regiões. Disse que tinha contato no PC do B com André, que nunca existiu. Falou do suposto dirigente Mário Alves, militante histórico, morto pela repressão um ano antes. O verdadeiro Mário Alves nunca pertenceu ao PC do B...”[7]
Depois de acareado com José Sales de Oliveira, militante do PC do B que também estava preso, a tortura se intensificou e Pedro deu mais informações. Vejamos alguns trechos de seu depoimento:
“... o militante foi mandado pelo partido para São Paulo, junto com a esposa. Viajaram e se encontraram com um militante de codinome Lauro, branco, mais ou menos 45 anos, que o encaminhou para “Mário Alves”. Em São Paulo, o casal recebeu a tarefa de viajar para Belém, onde teriam outro contato.
... o casal foi recebido em Belém por Paulo, cor clara, cabelos pretos, 33 anos, aproximadamente 1,70 m. Paulo conduziu os dois até Cigana, lugarejo no  município de Conceição, sul do Pará. No local havia outros 15 militantes,divididos em cinco células (célula é o nome dado pelos partidos às unidades mínimas na base da organização).” Grifos nossos.
Mário Alves seria Mário, codinome de Maurício Grabois, Lauro era Lincoln Oest (o autor se lembra que ele usava esse codinome) e Paulo era Paulo Mendes Rodrigues. O destacamento C, no período em que Pedro lá esteve, tinha aproximadamente 15 militantes. Em outro depoimento, ele cita que o destacamento era comandado por Paulo e Vitor.
“Operação Araguaia” afirma que ao deparar com a base de Faveira, no final de março de 72, o Exército não tinha noção do que havia encontrado. “O General Darcy Jardim e o tenente-coronel Raul Augusto Borges montaram a Operação Peixe II ainda sem ter certeza sobre as atividades dos paulistas na área. No documento Confirmação de Ordens Verbais, os dois militares expõem as hipóteses de que sejam subversivos, contrabandistas ou hippies.[8]  
Essa “informação” é contraditória. Os arapongas tinham verba e tempo limitados e uma indicação de um local bem distante da Faveira. Estavam lá à caça de “subversivos”. No entanto, abandonam o objetivo inicial, encontram uma base desativada, e ainda suspeitam de uma colônia hippie? O objetivo do vazamento desse documento pode ser o de proteger a fonte de informação sobre o Destacamento C.
Se estavam lidando com hippies ou não, o certo é que os arapongas fizeram o que sabiam fazer: prenderam vários moradores para obter informações. As prisões realizadas durante essa operação foram de pessoas que conheciam os militantes, mas que não estavam envolvidas diretamente na preparação da guerrilha. Segundo “Operação Araguaia”, a investigação durou até o dia 12 de abril, sendo que entre 7 e 12 de abril, 11 homens ficaram de tocaia na Transamazônica, na altura de São Domingos, esperando a passagem de Joca.
“O documento Operação “Peixe II” (INFO) aponta erros no comportamento dos agentes e conclui que os homens das Forças Armadas circularam muito em uma região de poucos habitantes. Perguntaram demais; a missão perdeu o sigilo e nenhum guerrilheiro foi preso. O documento constata a falta de pessoal de informação qualificado.”
A Operação Peixe III se sobrepõe à Operação Peixe II. Um grupo de 24 soldados do Pelotão Antiguerrilha, o PESAG, se dirige para o Alvo (Chega com Jeito), procurando por aproximadamente 11 homens. “- O pelotão “PESAG”, por meio de ações rápidas, violentas se necessário, e de surpresa, deverá aproximar-se, cercar e neutralizar e/ou destruir o “ALVO”[9].
            Segunda Elza Monnerat, no início de abril, o vice-comandante do Destacamento A, Piauí “... foi comprar farinha em um pequeno povoado, denominado Bom Jesus. Quando se aproximava do lugarejo, ouviu vozes de muitos homens e se afastou do trilho. Viu quando os soldados passaram e percebeu do que se tratava. Conhecedor da região, abandonou o caminho e, rapidamente, tornou ao rancho por atalhos na mata. Avisou aos companheiros e todos puderam retirar-se em ordem, o mesmo ocorrendo nas casas vizinhas.”[10]
Criméia nos forneceu mais detalhes sobre o ataque. Na madrugada anterior, um morador de um castanhal próximo procurou os guerrilheiros, solicitando a presença de Sônia. Segundo ele, haveria um doente necessitando sua ajuda. Os guerrilheiros, desconfiados, negaram, dizendo que não poderiam deixar uma moça andar sozinha, à noite, pela mata. Mais tarde o exército estabeleceu uma base nesse castanhal. O pedido poderia ter sido uma cilada, com o objetivo de efetuar uma prisão.
Os soldados que Piauí avistou seguiram um caminho mais longo e se detiveram na casa de um camponês amigo dos guerrilheiros. Ele desconfiou dos estranhos, que embora descaracterizados, usavam armas e botas novas e um relógio que dava a direção (bússola). Eles se apresentaram como amigos dos “paulistas”. O camponês os convenceu a pernoitarem, alegando que os paulistas moravam longe dali.
De manhã cedo, mandou seu filho procurar os guerrilheiros, com a desculpa de pedir um pouco de café. Mário disse ao menino que as suspeitas de seu pai estavam certas e explicou porque estavam sendo procurados. Os guerrilheiros ficaram na área aguardando a chegada da tropa. Criméia conta que assistiu a ocupação do PA e o sobrevôo de um helicóptero a uma distância de uns 50 metros. Devido à disparidade das forças, a decisão foi de se internarem na mata.
A precisão do ataque faz pensar que o Exército, desta vez, disponha de boas informações. Atualmente, o PC do B afirma que a fonte do exército foi a esposa de Lúcio Petit, Lúcia Regina. Levada até Anápolis para se tratar de brucelose, ela fugiu do hospital e chegou à casa dos pais em 19 de dezembro de 71. Ela nega que tenha denunciado a guerrilha e afirma que foi presa em 74, quando não mais poderia fornecer qualquer informação útil.
Desde 71, os guerrilheiros estavam estabelecidos em Metade, Chega Com Jeito e um outro PA, mais novo, que ficava entre os dois. Ao sair da região, no lombo de um burro, Regina seguiu a picada que vai até São Domingos. Depois, juntamente com Maurício Grabois e Elza Monnerat, pegou um ônibus na Transamazônica. Coincidentemente, os soldados do PESAG seguiram o caminho inverso até o PA.
Há um outro indício que a incrimina: quando retornava ao Araguaia, no momento em que o Exército iniciava o seu ataque, o ônibus em Elza viajava foi parado na Transamazônica, no exato local em que os militantes que retornavam ao Araguaia costumavam descer. Elza não foi molestada, porque, segundo ela, os soldados estariam procurando João Amazonas. Por motivo de saúde, os dois inverteram as datas em que iriam retornar. Essa troca seria do conhecimento de Regina, que havia sido contatada para retornar com o dirigente.
Elza se recorda que quando informou a Beto que Regina havia voltado para São Paulo, ele comentou: “Ela não volta mais, o pai dela é amigo de uns militares e possivelmente não vai permitir que ela volte.”[11] A conclusão dela é taxativa:
“Continuei a viagem até Marabá e no dia seguinte comecei a voltar para encontrar o Amazonas em Anápolis. Se não fosse a Regina ter denunciado a guerrilha, eles não encontrariam de jeito nenhum o nosso povo, nem saberiam em que ponto estava, o adiantamento, etc. A Regina era do Destacamento A e tinha um cunhado, uma cunhada e uma concunhada no Destacamento C [Jaime, Maria e Lena, respectivamente], e ela sabia que do Destacamento C tinha fugido um casal [Pedro e Tereza]. Ela tinha condições de saber que além do destacamento A, que era o dela, havia um Destacamento C. Foi ela quem informou direitinho o ponto em que o Amazonas iria descer na Transamazônica e indicou que havia também gente lá para cima, mas ela não sabia indicar por onde entravam nem coisa nenhuma. Assim, no dia 12 eles entraram no A e no dia 14 eles entraram no C”. [12]Grifos nossos.
            Em seu livro, Araguaia, o Partido e a Guerrilha, Wladimir Pomar, filho de Pedro Pomar, levanta algumas questões interessantes. Segundo ele, parte do Comitê Central e de sua Comissão Executiva ignoravam completamente os detalhes concretos do trabalho militar. Ozeas relata que participou em algumas reuniões com dirigentes que tinham crises de malária. A dedução lógica é que a luta armada se travaria em algum lugar da selva Amazônica (que cobre quase metade do território brasileiro).
“Entretanto, apesar de todo o método conspirativo adotado, o dispositivo foi descoberto por denúncia de outra desertora. Regina, uma das militantes selecionadas para o trabalho na área, ficou doente e teve que ser enviada para o sul em meados de 1971 para tratamento, apesar das normas em contrário estabelecidas pela Comissão Militar. Acabou desertando e, sob a pressão da própria família, denunciou o trabalho de preparação, possibilitando que as forças repressivas montassem todo o plano de ataque. Durante muito tempo, o CC ficou sem saber a causa da descoberta do trabalho do partido na área, em grande parte porque ignorava a deserção daquela militante. A comissão militar e seu principal dirigente, que teve que permanecer na área após o ataque das forças armadas [Maurício Grabois], não se sentiram na obrigação de informar nem mesmo a CEx [a Comissão Executiva do Comitê Central] sobre o assunto. Só após 1974, com a derrota da guerrilha, foi possível desvendar o mistério.”[13]
Os futuros guerrilheiros eram advertidos de que a ida para o campo era um caminho sem volta. Danilo, por exemplo, foi obrigado a permanecer na área até o início da luta, para não criar um risco de segurança. As circunstâncias da fuga de Regina (ela levava dinheiro escondido, suficiente para chegar até São Paulo, e foi deixada num hospital, sozinha) caracterizam uma falha gravíssima da Comissão Militar. 
Em minha opinião, o depoimento de Criméia lança uma luz definitiva sobre essa questão.
“Depois da fuga de Pedro, por medida de segurança, os militantes mais novos foram transferidos para o PA de Chega com Jeito. A Transamazônica estava em fase inicial de construção. Perto da futura estrada, Regina disse que não agüentava mais caminhar e pediu “que a deixassem por ali mesmo, porque ela preferia morrer ali”. Esta atitude levou o próprio Mário [Maurício Grabois] a suspeitar de Regina.
Outra atitude que, vista retrospectivamente, compromete Regina, foi uma conversa que mantivemos. Ela havia ido para a região antes de Lúcio, seu marido. Vendo que leva seguinte ele não estava entre os recém chegados, Regina se lamentou, dizendo que só havia ido para lá acompanhar o marido. Esse comentário provocou um certo mal estar.
Alguns sobreviventes alegam que foram parar no Araguaia enganados sobre o tipo de trabalho que iriam desenvolver. Eu não concordo. O clima político do país, as discussões internas que travávamos no PC do B, os documentos divulgados, tudo dizia que o trabalho no campo visava o desencadeamento da guerra popular. Eu, pelo menos, fui para o Araguaia com esta visão.
Em fevereiro de 72, encontrei com Regina, em São Paulo, em um ponto de rua, perto do Colégio Madre Cabrini, em Vila Mariana. Ela afirmou que não voltaria á guerrilha. Saí do ponto com duas enormes sacolas de plástico, cheia de bugigangas, que seriam para os guerrilheiros.
Era uma oferta tão inusitada que preferi me desfazer delas, jogando-as fora num córrego. Suspeitei que pudesse ser uma marca, algo que poderia me identificar para a repressão.”
O depoimento de Elza é contraditório. Ela diz que Regina foi contatada, intimada a voltar, contrariando todas as expectativas que o bom senso apontava, e que, inclusive, conheceria a data do retorno de Amazonas. Por outro lado, não poderia informar aos militares a localização certa do PA de onde havia saído! Parece uma tentativa de incriminar definitivamente Regina, e, ao mesmo tempo, minimizar as falhas de segurança da CM.
            Quase simultaneamente ao ataque partido de Belém, 15 homens do CIE, Centro de Informações do Exército, do CMP, Comando Militar do Planalto e da 3ª Brigada de Infantaria partem de Brasília, levando Pedro Albuquerque. É o início da Operação Cigana, que tinha como alvo o Destacamento C. As localidades visadas eram Caianos, Cachimbeiro e Cigana (aparentemente Pedro não conhecia Pau Preto).
A nossa opinião é que houve duas fontes de informação: uma, Pedro, sobre o Destacamento C; a outra, que se originou de Regina, sobre o Destacamento A. Em breve, com a prisão de Genoino, o exército teria informações detalhadas sobre o Destacamento B.
Outros depoimentos e fontes do próprio exército indicam que a repressão considerava a área potencialmente perigosa. Vários exercícios militares contra supostos guerrilheiros já haviam sido realizados e prisões haviam sido efetuadas, de militantes ligados as correntes foquistas. Em poder de um militante da ALN, havia sido apreendido um mapa da região. A construção da Transamazônica e de vários quartéis podem ser vistas como medidas preventivas. Entretanto, a região do Bico do Papagaio é imensa e despovoada, além de ser coberta por mata densa. As informações mais precisas sobre a guerrilha e a sua localização exata só foram obtida em 72.
É razoável supor que, cedo ou tarde, a guerrilha seria localizada, já que o Exército monitorava a região e tinha informantes entre os jagunços e bate-paus dos fazendeiros. De uma maneira ou de outra, o conflito militar era iminente, naquele ano de 72.



[1] Gíria que designava os agentes da comunidade de informação.
[2] Os guerrilheiros ficaram conhecidos na região como paulistas e povo da mata.
[3] Entrevista de 30.07.2007
[4] A segunda seção era responsável pela informação e contra-informação. Participava ativamente da repressão política.
[5] Operação Araguaia, p. 62.
[6] Idem, p. 64
[7] Operação Araguaia, p.53
[8] Operação Araguaia, p. 68.
[9] Operação Araguaia, p. 77.
[10] Guerrilha do Araguaia, Anita Garibaldi, p. 89.
[11] Romualdo, p. 105
[12] Romualdo, p. 106
[13] Pomar, p. 38.

Fonte: El S

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Prefácio do livro de Marco Lisboa

Prefácio

Prefácio 03.10.09

Houve um tempo em que a atividade política era movida à paixão. Uma parte dessa geração foi destruída, uns tantos sobreviveram e outros tantos se consideram vitoriosos, porque conseguiram abocanhar um pedacinho do poder. Esse livro é o registro de um dos capítulos mais significativos dessa época. Ele conta a história dos derrotados.

O xadrez foi uma das minhas primeiras paixões de adolescente. Para quem não é aficionado, é difícil entender a emoção envolvida em uma simples partida. Para os jogadores, é uma luta sangrenta entre duas vontades, entre dois projetos estratégicos. A expressão “o xadrez político”, para mim, sempre teve um colorido especial. Mais tarde, eu iria unir essas duas paixões.

A política, assim como o xadrez, é uma arte. Encontrar o fio condutor, a linha correta, no meio de uma série de fatores que se entrelaçam e se influenciam mutuamente é o desafio comum às duas atividades. Outro ponto em comum é que a liberdade criadora está limitada por uma série fatores objetivos. No caso do xadrez: o tabuleiro, as peças, as regras que determinam seus movimentos e a própria história anterior, que levou a cada posição em particular. Esse é o lado científico do jogo.

Quando eu freqüentava o Clube de Xadrez de Belo Horizonte, costumava assistir as análises post-mortem, que eram feitas assim que uma partida terminava. Os dois jogadores, com a ajuda de um bando de sapos, analisavam jogada por jogada, procurando estabelecer um veredicto final: a vitória foi justa ou não? Quais eram as alternativas do perdedor?

O que se pretende com esse livro é uma análise post-mortem da Guerrilha do Araguaia. A luta contra os guerrilheiros, episódio obscuro de nossa história recente, durou três anos e envolveu dezenas de milhares de soldados. Para apoiar essas operações, quartéis e estradas foram construídos no meio da selva amazônica. Tudo isso sem que a imensa maioria do povo brasileiro soubesse que, numa região conhecida como o Bico do Papagaio, 70 militantes do Partido Comunista do Brasil, o PC do B, pretendiam criar um novo Vietnã.

Esse livro foi escrito em co-autoria com o meu antigo companheiro de cela no Dops de Belo Horizonte, Elio Ramirez Garcia. A par do rigor científico, da preocupação com a verdade factual, pretendemos enriquecer essa análise expondo os desejos, as expectativas e os pensamentos de um dos lados envolvidos no conflito. Militando no PC do B à época da guerrilha, tivemos a oportunidade de conhecer em primeira mão a história desse partido, de conviver de perto com militantes e dirigentes que estiveram no Araguaia e de vivenciar a cultura dessa organização, se é que podemos usar esse termo.

Inicialmente, pretendemos mostrar que o Araguaia foi a conseqüência lógica da trajetória anterior do PC do B, o coroamento de uma visão estratégica. Entre o final da década de 60 e meados da década de 70, época que abrange a preparação e o desencadeamento da guerrilha, parecia que a revolução poderia derrotar o imperialismo. É a época da libertação das colônias africanas e da derrota americana no Vietnã. No horizonte da crise do petróleo e da estagflação da década de 70, se vislumbrava um colapso do sistema capitalista. Poucos poderiam prever a guinada da China e nada indicava o desmoronamento total do regime soviético e das democracias populares, tal como se deu.

No plano nacional, o PC do B previa que o recrudescimento do fascismo acabaria por isolar o governo, revigorando o movimento de massas. Apostava que o fracasso das políticas de conciliação e a justeza de sua linha ajudariam a transformá-lo num partido forte e numeroso.

No Araguaia, o regime se viu obrigado a mobilizar grandes contingentes militares e a manter completamente isolada uma vasta região. Ele procedeu como se estivesse em território inimigo - conduziu as operações militares sem se preocupar em ganhar corações e mentes, sem poupar nem mesmo a própria Igreja da região. O fim da guerrilha coincide com o fim da ilusão de ganhar a simpatia da classe média e dos formadores de opinião. A retirada estratégica de Golbery entra na ordem do dia.

Ambos seguiam uma lógica interna, respondiam, cada qual a sua maneira, às exigências da situação política nacional e internacional. Embora o resultado seja conhecido, não seria prudente dizer que ele era inevitável, ou mesmo que o seu desfecho era completamente previsível, sem um exame mais detalhado do conflito.

Em nossa análise, respeitaremos as mesmas limitações que um jogador de xadrez observa: não faremos jogadas impossíveis. No nosso caso, não dotaremos os personagens históricos de uma onisciência que eles não poderiam ter.

Uma das nossas dificuldades iniciais foi a de entender a natureza da região. Quais eram as suas características físicas, como viviam os seus habitantes, por que ela foi escolhida pelo partido? Abusando de nossa analogia, queríamos saber como era o tabuleiro. Outra dificuldade, por incrível que possa parecer, já que éramos militantes nesse período, foi a de avaliar a força do PC do B. Quais eram as peças? Segundo os seus dirigentes, era um partido ainda pequeno. Ficamos surpresos ao constatar o que era exatamente um partido pequeno, face à grandeza das tarefas as quais ele se propôs.

Finalmente, procuramos reconstituir lance por lance a partida, a verdade factual. Ao exército, não convém expor os métodos que usou para derrotar a guerrilha. Ao partido, por sua vez, razões internas e de propaganda impedem uma avaliação mais serena. Uma simples reconstrução dos três destacamentos, com todos os seus componentes, exigiu a consulta a várias fontes, muitas vezes divergentes. O relatório Arroyo, nossa fonte primária mais importante, é impreciso em relação a vários fatos e datas. Foi uma tarefa similar à de reconstituir uma partida mal anotada, recorrendo, muito tempo depois, às lembranças dos espectadores.

É preciso considerar que o Araguaia é muito pouco conhecido. Em 1972, fazia mais de 35 anos que a Insurreição de 1935 ocorrera. Hoje, estamos a essa mesma distância do Araguaia. Entretanto, a bibliografia disponível sobre a guerrilha e o próprio espaço que ela ocupa na cabeça dos cidadãos comuns são menores do que os relativos à insurreição.

A análise feita até agora pelo principal protagonista, o PC do B, é precária. A discussão interna foi abortada e o que se tem como posição oficial são documentos de 1976. Os participantes do drama, guerrilheiros sobreviventes e militantes do PC do B da época, se dispersaram pelas mais variadas posições políticas. Nós diríamos até que o PC do B de hoje é muito distinto do partido que fez a guerrilha.

Por último, gostaríamos de ressaltar que a guerrilha do Araguaia, foi, antes de tudo, um confronto militar. E os confrontos militares são decididos pelas armas. O nosso veredicto final deve ser algo do tipo: a guerrilha poderia ter sobrevivido? A posição oficial do PC do B é que sim, se não houvessem acontecido erros militares graves. Nós pretendemos fazer uma análise da concepção que norteou o Araguaia, dos condicionantes que levaram a essa concepção, das alternativas que se ofereciam e, finalmente, voltar à posição inicial, àquele dia 12 de abril de 1972, e responder: o que poderia ter sido feito para levar a um outro desfecho?
Fonte: blog El Senor Gato

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cristiano Alves se embana sobre Pol Pot

Cristiano Alves se embanana ao falar sobre Pol Pot e Cambodja, Veja o vídeo aqui.

Houve uma guerra entre Cambodja e Vietnã, sim, a partir de 1975. O motivo foi porque o Cambodja perdeu territórios no passado para o Vietnã e no sul do Vietnã ainda vivem pessoas de etnia Khmer. O objetivo, então, era recuperar esses territórios perdidos quando o país era ainda o império Khmer.

A partir dessa tentativa, o Vietnã passou agredir o Cambodja sistematicamente, com provocações na fronteira. Como o Cambodja era menos populoso e tinha menos armas, sofreu derrotas a partir da invasão vietnamita em 79. A solução foi proclamar a guerra popular e desocupar a capital.

Os guerrilheiros do Khmer continuaram fortes na região da fronteira da Tailândia e, durante muitos anos, a ONU ainda reconheceu o governo de Pol Pot como governo legítimo, pois não se pode reconhecer governos advindos de invasões estrangeiras, daí a suposta ajuda de Reagan e Thatcher.

A posição de Enver Hodja era possivelmente exagerada devido ao fato de que Hodja, por volta de 1975, rompeu radicalmente com o maoísmo. Enquanto Hodja ficou para trás, o maoísmo, que é o marxismo mais avançado que existe, segue em frente, inspirando movimentos vigorosos na Índia, Filipinas, Nepal, assim como até mesmo o governo da China ainda é maoísta da boca para fora.

Pol Pot e seu partido ambicionavam criar algo novo, sem seguir linha estrangeira alguma. No entanto, como boa parte da esquerda mundial nos anos 60, foram influenciados pela revolução cultural e pelo maoísmo.

O país não foi anti-marxista porque transferiu as pessoas para o campo. Isso não se resolve simplesmente recorrendo ao Manifesto Comunista, fazer isso é puro mecanicismo. E do mais grosseiro.

A ideia foi transferir as pessoas da cidade para o campo, pois as pessoas estavam todas na capital, vivendo de ajuda humanitária. E essa ajuda cessou a partir da revolução cambojana de 1975. Daí que o país transferiu as pessoas para o campo, buscando reconstruir as plantações de arroz. E há fontes que indicam que obteve sucesso.

O regime cubano aceitou a divisão internacional do trabalho proposta pelo social-imperialismo soviético, por isso não desenvolveu indústrias. Não foi nada ligado ao fato de serem jovens que não entendiam o papel da indústria.

A China interessou-se, sim, no governo de Pol Pot. O partido cambojano seguia a linha chinesa desde os anos 60, repudiando a linha vietnamita pró-soviética, que propunha que o Vietnã deveria hegemonizar a libertação do Cambodja, construindo uma federação indochinesa. Mesmo Deng Siaoping ainda chegou a atacar o Vietnã em 1979 em protesto contra a invasão do Cambodja.

Havia uma frondosa embaixada soviética na ditadura militar de Lon Nol no Cambodja, ditadura essa saída de um golpe de estado em 65, com apoio dos Estados Unidos. O golpe derrubou o governo do rei Sihanouk. Os monarquistas, por estranho que pareça, estiveram ligados ao movimento de Pol Pot. Os monarquistas eram representantes, podemos supor, da burguesia nacional.

Não consegui fontes primárias sobre isso, exceto alguns documentos em universidades americanas que pude acessar na wikipedia em inglês. Os documentos mostram a influência do maoísmo nas resoluções do partido cambojano. O programa deles era acabar com as doenças tropicais, a fome e o analfabetismo. 

O monumento existente no Cambodja foi construído pelo governo pró-vietnamita que durou de 1979 a 1991 no Cambodja. Ainda hoje há acusações de que o Vietnã influencia o governo cambojano e há tensões entre os cambojanos e os vietnamitas.

Até hoje o Khmer Vermelho é uma força no jogo político do país asiático, embora tenha virado em grande parte um partido associado ao poder e alguns de seus líderes estejam sendo alvo de um tribunal internacional, tais como Khieu Samphan.



Cuba está se integrando ao sistema capitalista mundial

Um artigo muito bom de José Gabriel Rondán explica o que se passa em Cuba:
"Como se dijo antes, después de la desintegración de la URSS, el Departamento de Estado norteamericano declaró que Cuba ya no era una prioridad para su sistema de seguridad. Sin embargo, nadie consideró necesario acabar con el ineficaz embargo. Reiteramos, Obama no ha hecho otra cosa que reconocer el fracaso de esa medida, no solo por su ineficacia sino también porque ha retrasado la incorporación de Cuba a su esfera de influencia. El fin del embargo será el principio del fin del seudo-socialismo cubano, si es que antes no lo precipitan otros factores, si las contradicciones de clase y la lucha de clases en Cuba no se agudizan hasta desencadenar una crisis política y social. Al igual que con la URSS y otros países del bloque soviético, el caso de Cuba no es el colapso del socialismo, sino el colapso del capitalismo restaurado, el colapso del capitalismo burocrático del revisionismo moderno."
Leia o artigo completo em:

terça-feira, 28 de julho de 2015

O Caminho da Índia: Notas Sobre os Naxalitas

Nessa postagem vou apenas alinhavar algumas observações sobre o movimento maoísta na Índia, observações em sua maioria lidas em inglês e não disponíveis em português.

O movimento surgiu por inspiração de Mao, nos anos 60. O filme Labirinto fala a respeito. Como os movimentos no Brasil, sofreu enormes reveses e perdas no decorrer dos anos 60 e 70. Um líder destacou-se: Kissen Ji. Ele inspirou o filme acima citado e, segundo os indianos, é comparável a Che Guevara. O termo "naxalita" refere-se a um combate e massacre acontecido em uma cidade, no período do início do movimento.

Reconstruiu-se, no entanto, em outras bases. Se antes chegava ao povo falando na rivalidade entre União Soviética e China, em política internacional, assuntos estratosféricos para pessoas de baixa instrução como camponeses ou pequenos proprietários do interior, a solução do movimento foi deslocar-se para assuntos locais.

Um exemplo: uma fábrica de Coca-Cola estava drenando toda a água dos pequenos camponeses e pequenos fazendeiros numa determinada região. Os camponeses e fazendeiros tentaram ir à justiça e chamar a polícia, mas sem sucesso algum. Sendo assim, entraram em contato com os maoístas, explodiram a fábrica e o problema foi solucionado.

Os maoístas não se prendem ao marxismo clássico. Buscam inventar sua própria teoria, tiram a teoria da prática, etc.

O sistema de polícia e justiça na Índia, como no Brasil, é caro e, como aqui, existe corrupção. Para tanto, os maoístas organizaram um sistema paralelo de justiça, bem mais rápido e gratuito, para mediar os problemas nos vilarejos e meios rurais controlados por eles.

As regiões onde os maoístas são fortes são  mais ou menos um terço do país: a região ao redor de Bengala, próxima a Bangladesh, assim como três províncias do sul e centro. Próximo a Bengala há o chamado Corredor Vermelho, região onde os maoístas são fortes e o estado quase não se faz mais presente. Na prática, o governo indiano controla Bangladesh e o movimento é muito fraco nesse país.

O movimento enraizou-se em povos nativos ou tribais, que perfazem minorias dentre o povo indiano, assim como entre os dalits (a casta mais baixa e sem direitos).

Igualmente, os maoístas se ligaram aos addivhasi, povos marginalizados e oprimidos pelo desenvolvimento econômico industrial predatório entre a passagem do governo Gandhi para Nehru.

Os addivhasi habitam a floresta de Dandakharina, a maior floresta da Índia, espalhada por três estados. O conflito começou quando madeireiras exploraram intensamente o sândalo, madeira nobre da região, culpando os povos nativos. A resistência nasceu a partir daí.

Habitualmente, os movimentos armados não matam policiais, apenas pedem que eles entreguem suas armas. Como os destacamentos em sua maioria são compostos de soldados que não querem morrer por sua classe política corrupta, raramente as tropas lutam. Igualmente, a Índia é um estado federal e há a questão de quem irá pagar os paramilitares que são enviados aos estados para combater os maoístas, se o estado ou a federação, assim como há questão da soberania de cada estado e suas leis. As tropas chegam desmotivadas, não querendo matar seus próprio povo.

Quando houve um ataque recente a uma caravana de políticos em campanha em Chattisgarh, região de floresta e da tribo addhivasi, vários políticos foram mortos, mas o povo da região vibrava, contente com a morte dos corruptos.

Os dialetos dos addivhasi nem estavam ainda registrados na forma escrita. Os maoístas encarregaram-se disso.

Ultimamente, com a Operação Caçada Verde (Green Hunt), na prática uma campanha de paramilitares para matar guerrilheiros, abriu-se a discussão em todo o país sobre se os naxalitas estão perdendo terreno e estão perdendo a guerra. No entanto, o movimento alega que não se trata de um jogo onde há uma tabela em que se contam pontos.

Outros países onde os movimentos são fortes são: Filipinas e Nepal. Há dois vilarejos na fronteira entre o Irã e o Paquistão controlados pela guerrilha maoísta. O partido comunista do Afeganistão é também, atualmente, maoísta.







segunda-feira, 27 de julho de 2015

Leonardo Padura: Um Escritor na Borderline

Leonardo Padura, escritor cubano, está com frequência visitando o Brasil e divulgando sua literatura policial, assim como seu romance histórico O Homem e Os Cachorros.


Logo quando ele passou a vir com mais frequência ao Brasil, tive acesso a um texto de Yoani Sánchez, escritora e dissidente profissional, a seu respeito: Stalinismo Vivo em Cuba. Já tratei brevemente desse texto aqui, uma vez que encontrei nele uma contradição bem ao estilo de Yoani: enquanto John Lee Anderson, num perfil para a revista Piauí, menciona que os livros de Padura estão em todo lugar na ilha, Yoani mentiu dizendo que saíram apenas uns cem exemplares. Dizer que Yoani é mentirosa  é pleonasmo. Além de que, afinal, não fez uma carreira literária ou jornalística na ilha como Padura. Ou seja: Yoani não é uma escritora cubana, é uma nulidade adotada e promovida por brasileiros tolos como Jaime Pinsky, Augusto Nunes e Eduardo Suplicy. 


Já foi notado o quanto a figura de Yoani é conveniente ao sistema em Cuba. O fato é que sua figura de dissidente pró-americana exaltada ofusca a crítica às privatizações no país, por exemplo, assim como a presença, lá, de empresas como a Odebrecht, envolvida em escândalos de corrupção ligados ao PT desde os anos 90. Além do que, segundo  a própria Dilma, a Odebrecht opera com capitais holandeses. Alguém que sabe o beabá do marxismo sabe que os capitais estrangeiros, ao serem exportados, vão para as regiões produtoras de matérias-primas, ou seja, das metrópoles para as colônias ou semi-colônias. Isso configura um processo colonial de exploração. Daí que fica bem mais complexo explicar porque o "socialismo" cubano aceita isso --a menos que seja um falso socialismo, um revisionismo onde de fato há avanços democráticos, mas pouca ou nenhuma construção socialista efetiva.

Aqui, Padura fez sucesso de Frank Sinatra, encontrando-se com Dilma e Lula e sido elogiado pelo escritor fascista (ele chega a usar pseudônimos como Guerreiro do Sigma, utilizando um sigma do integralismo brasileiro) Olavo de Carvalho. Ou seja, como escritor que trabalha sempre na fronteira, ora como dissidente político, ora com escritor que vive em Cuba e apenas critica de leve o regime, adquire ampla aceitação, tendo feito sucesso nos dois lados do espectro político.


Vendo suas entrevistas, verifiquei que Padura tem a pretensão, além de ficcionista, de que os fatos narrados em seu livro sobre Trotsky sejam verdade, afinal ele diz ter feito pesquisas em Moscou. No entanto, mesmo em uma simples entrevista para outra encontramos contradições. Ele diz que na juventude, apenas dispunha de dois livros sobre Trotsky: Trotsky Traidor e Trotsky Inimigo do Comunismo. Em outro momento, em outra entrevista, afirma que os livros de que dispunha em Cuba pulavam a morte de Trotsky, como se ele tivesse subido aos céus --e por isso, também, Padura teria escrito esse romance histórico que, esse sim, parece realmente colocar Trotsky --cada vez mais comprovadamente, em termos históricos, um traidor e um disseminador de uma doutrina que destrói o comunismo, conforme estou verificando em minha tradução do texto do professor Grover Furr, Evidências da Colaboração de Trotsky com os Nazis e Japoneses --no céu.


Igualmente, Padura aproveita a ligação entre Jacson Monard e Cuba (ele viveu um tempo lá, depois de cumprir sua pena no México) para fazer um ataque mais generalizado ao socialismo e ao comunismo em Cuba e na URSS.

No fluxo de resenhas favoráveis a Padura, lançadas quando o livro O Homem e os Cachorros saiu, uma delas dizia que não se sabia da morte de Trotsky na URSS em 1940, pois "quase nada saiu". Falso! A morte de Trotsky saiu no editorial do jornal Pravda. O editorial foi revisado pelo próprio Stálin. O documento está disponível na web, traduzido em língua portuguesa e chama-se a morte de um espião internacional. O documento tem anotações do próprio Stálin, realizadas durante sua redação. As anotações confirmam o que se pode ler também em outras fontes, como um telegrama de Trotsky para o Comitê Central em 36, coligido por Grover Furr: mesmo na esfera privada, Stálin acreditava que Trotsky era culpado.


Obviamente, poderemos navegar pelas 400 páginas de Padura sem nunca sonhar com informações ou documentos como esse.

Padura insiste na teoria de que Jacson Monard, para ele Ramon Mercader, teria sido treinado na URSS por um agente da família Eitingon, família da qual levantou uma história mirabolante. Mas e o Jacson Monard histórico, o que dizia em sua defesa? Vamos dar voz a ele, citado por Harpal Bar em Trotsquismo x Leninismo:


"Trotsky estava querendo mandar-me para a Rússia,com o objetivo de organizar um novo estado de coisas na URSS...Nossa missão era produzir a desmoralização no Exército Vermelho,cometendo diferentes atos de sabotagem em indústria de armamentos e outras fábricas (...). Em lugar de encontrar-me frente a frente com um chefe político que estava dirigindo e luta pela libertação da classe operária, vi-me diante de um homem que desejava nada mais do que satisfazer suas necessidades e desejo de vingança e de ódio e que não utilizava a luta dos operários para nada mais do que um meio de esconder sua própria ligação, insignificância e seus cálculos desprezíveis...em relação a sua casa,que ele me disse muito acertadamente ter sido convertida em um fortaleza. Eu me perguntei muitas vezes de onde tinha vindo o dinheiro para tal trabalho...Talvez o Cônsul de uma grande nação estrangeira que muitas vezes visitou-o nos possa responder essa pergunta...
Foi Trotsky que destruiu minha natureza,meu futuro e todas as minhas afeições. Ele converteu-me em um homem sem nome, em um instrumento de Trotsky - Trotsky esmagou-me em suas mãos como se eu fosse de papel." 

A fala de Jacson converge com o que foi escrito no Pravda: Trotsky foi assassinado por um de seus colaboradores. Saiba mais aqui. Padura chega a admitir a hipótese de que Trotsky foi assassinado numa operação dirigida pessoalmente por Stálin, assim como insinuou que o fato de Trotsky ser judeu foi um elemento motivador de seu assassinato. 


O que o professor Grover Furr levantou foi que Sudoplatov, ex-agente do comitê de segurança pública (NKVD), escreveu suas memórias ao tempo de Yeltsin e admitiu que existia uma operação anti-trotsquista no México. No entanto, mesmo escrevendo depois do fim da URSS, mesmo tendo ficado anos na prisão na URSS, ainda escreve, nos anos 90, certo de que Trotsky estava colaborando com os nazis --e daí a razão de seu assassinato.

    Em resenha recente, Manoel Urbano Rodrigues, ligado ao PCB, verificou com espanto a audácia de Padura no romance ao colocar arrependimento na boca de Trotsky no que diz respeito à repressão contra a base de Kronstadt. Em Muito Barulho por Kronstadt, artigo de Trotsky, ele repudiou violentamente os que o cobravam pela repressão na base: chamou-os uma frente de delatores. Igualmente, chamou nesse artigo os marinheiros da base de algo como "coxinhas", ou seja, pequenos-burgueses mimados, escória, gente mais preocupada com o topete ou a calça boca-de-sino do que com qualquer coisa consequente em termos de política. Outro crítico, do jornal Sul 21, observou com espanto o sucesso do estilo prolixo e cafona de Padura. Sucesso obtido num romance de 400 páginas...

    Os espantos não param por aí. Padura é muito mimado pela mídia por ser dissidente enrustido de regime de Fidel Castro e teve um vídeo de sua participação no Roda Viva viralizado por petistas em defesa de Cuba, apenas porque rebateu uma jornalista da revista Veja que comentou sobre a fome em Cuba e foi desmentida por Padura. No perfil para a revista Piauí, Padura vitimizava-se, dizendo-se isolado em Cuba. No entanto, verifiquei que ele tem twitter. Nesse twitter, ele chama a Interpresse, site de Cuba, de cachorros de Mercader, numa aparente crítica. Ao verificar o site, notei que há artigos ali falando bem...do próprio Padura!

    Igualmente, Padura insiste em que Trotsky desapareceu das fotografias na URSS. Essa hipótese desse tipo de falsificação foi examinada por meu amigo Icaro Alves. Esse tipo de pressuposição vai de encontro ao que o próprio Padura fala: ele admite que em Cuba existia UMA DETERMINADA NARRATIVA sobre Trotsky. E uma narrativa que o apontava como traidor. Ele não foi apagado da história --foi apontado como inimigo.

    Minha aposta é que o falastrão e carreirista Padura deixou de lado qualquer pesquisa histórica em prol de uma boa narrativa convincente e vendável. Para Padura, Trotsky e Mercader eram fanáticos, mas Stálin era um psicopata. Se Trotsky é fanático, Stálin psicopata, Padura é praticante da duplicidade política, é personalidade fronteiriça. Padura segue a cartilha dos vendilhões e escreve pensando no mercado, sim. É como diz ia George Orwell, material antistalinista é sempre muito vendável.




                                         Padura para Lula: "sou grato pelo que você fez pelo país"