sábado, 10 de julho de 2021

Cine Regina, Paixão e Fantasia


CINE REGINA, PAIXÃO E FANTASIA
LÚCIO EMÍLIO DO ESPÍRITO SANTO - Fui grande frequentador do Cine Regina, nas tardes de domingo, com o ingresso valendo cinco cruzeiros - aquela cédula com a efígie do Barão do Rio Branco. Era difícil arrancar esse “barão” toda semana do bolso do meu pai. Tinha que proceder bem a semana toda, tirar boas notas, fazer um montão de tarefas domésticas, entre elas cuidar de uma horta e um galinheiro no fundo do quintal. Não sei que obrigação doméstica eu não cumpriria para não perder o seriado do Flash Gordon, um predecessor do Guerra nas Estrelas, com o mesmo tipo de ação e emoção. A missão de Flash Gordon era destruir o reino do vilão Mongo, que tramava atrocidades contra o planeta Terra. Quando surgiram os filmes em Cinemascope, o Cine Regina procurou se adaptar, criando o telão e o processo de projeção.
Um dia, um amigo meu me perguntou se eu já havia notado que esse tal de Starring trabalha em todo filme. Quando as películas apresentavam o elenco, aparecia o Starring, ou seja, “estrelando” fulano e sicrano. Eu fiquei encabulado e fui contar para o meu irmão mais velho que já estudava inglês e ele caiu na gargalhada. Se as imagens de Jack Lemmon (Se meu apartamento falasse), Sandra Dee (Quando setembro vier), Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo) e tantos outros clássicos da época, dificilmente saem da memória, a melodia escolhida para prefixo do Cine Regina também não sai de nossos ouvidos. Trata-se da Opera 312, de Alphons Czibulka (1842-1894), dedicada à princesa Stephanie da Bélgica pelo seu noivado com Rodolfo, príncipe herdeiro da Áustria. A melodia evoca esse momento festivo de um noivado real.
> Ouça a música clicando neste link:
O espírito de humor dos frequentadores do Cine Regina logo tratou de inventar uma letra para a música de Czibulka, refletindo com certeza a preocupação dos pais com o clima, não só dos filmes, mas também das liberdades que o “escurinho do cinema” permitia. Eram duas sessões, uma às dezenove horas, outra às vinte e uma horas. À primeira sessão iam as moças de família. Já a segunda sessão era frequentada pelos casais mais liberais. Havia aqueles que deixavam a namorada “certinha” em casa e voltavam com outra para a sessão mais quente.
Eis a letra da melodia-prefixo do Cine Regina:
Passa pra dentro, sua cachorrada,
Que o cinema vai começar.
O filme é impróprio até dezoito anos
Menoridade não pode entrar.
Ah papai falou pra mim
Você não pode ir lá,
Tem muito que estudar,
Na escola se formar,
O filme é tão ruim,
Tem beijo do começo ao fim.
Uma coisa que eu nunca entendia também era uma contagem que a plateia fazia a cada beijo que acontecia na tela, como se fosse uma competição, um a zero, um a um, e assim por diante.
Aí está mais uma prova de que Bom Despacho sempre procurou, através de suas lideranças empreendedoras, manter-se na vanguarda cultural do país, acompanhando de perto as novidades, permitindo aos seus moradores uma permanente atualização. Bons exemplos dessa conexão com o mundo são o Cine Odeon e o Cine Regina, que traziam os astros universais e os grandes sucessos do cinema, inspirando amores e despertando paixões.
Lúcio Emílio do Espírito Santo é coronel reformado da PMMG, colunista, escritor e membro da Academia de Letras João Guimarães Rosa, da PMMG.
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NOTA DO EDITOR: O site do Jornal (www.ibom.com.br) está passando por renovação. Enquanto isso, as matérias completas serão publicadas aqui no Facebook.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

CONTRAPONDO AS BOBAGENS DE CRISTIANO ALVES SOBRE POL POT

 

 

IDEOLOGIA: A verdade sobre Pol Pot

Por Cristiano Alves

 

 

A internet é um terreno fértil para as teorias mais exóticas, desde as mais extremadas às mais conformistas. Quando se trata da história dos países socialistas, a esmagadora maioria do que se vê é propaganda anticomunista, desinformação e terrorismo psicológico, mas também há a possibilidade, ainda que tímida, de se encontrar informações verdadeiras, detalhadas, pesquisadas e até documentadas. Dentre o extenso leque de teorias exóticas encontradas na internet encontra-se sites que defendem o Khmer Vermelho e Pol Pot. A Página Vermelha dedicou-se a analisar alguns argumentos.

 

Sabe-se que grande parte dos blogs e outras páginas da internet são escritas por jovens politicamente inexperientes e jovens sem muita leitura, ou por vezes sem senso crítico, sendo assim facilmente seduzidos por ideias simplistas, reducionistas, "se X é atacado por Y, assim como N, logo X é um personagem positivo". É baseado nesse raciocínio que surgem defensores do nazismo e até da pedofilia(sim, as internet possui sites que defendem a pedofilia sob a ótica do anarco-capitalismo, ou libertarianismo). Alguns tomam uma determinada posição por ignorância, outros por desonestidade. Em outros casos são jovens com problemas familiares, que visam na internet um meio para exorcizar seus demônios e expressar sua revolta pessoal, decorrente desses atritos.

 

CONTRA QUEM VOCÊ ESTÁ FALANDO? QUE SITES? VOCÊ PSICOLOGIZOU VULGARMENTE A IDEOLOGIA!

 

É necessário partir inicialmente de algumas premissas básicas, Pol Pot não era comunista, o Khmer Vermelho não possui nenhuma política que se identifique com o comunismo e grande parte dos crimes a ele atribuídos foram resultado das campanhas genocidas da Força Aérea Americana(USAF) contra o Vietnã, que frequentemente invadia o território cambojano em busca de vietcongs.

 

LEIA A DECLARAÇÃO DO PCK QUE POSTEI NO YOUTUBE E VERÁ  QUE É, SIM, COMUNISTA.

 

Pol Pot, um aliado do imperialismo de Ronald Reagan e Margareth Thatcher

 

Dentre o mar de mentiras sobre o comunismo várias verdades são intencionalmente omitidas, e uma dessas é o apoio dado por Ronald Reagan e Margareth Thatcher, o casal idolatrado por todo anticomunista e mais extremado liberal. Durante 15 anos os Estados Unidos apoiaram a causa do Khmer Vermelho, tido como um aliado na desestabilização da Indochina. Conforme revelado pelo jornalista australiano John Pilger:

 

"The US not only helped to create conditions that brought Cambodia's Khmer Rouge to power in 1975, but actively supported the genocidal force, politically and financially. By January 1980, the US was secretly funding Pol Pot's exiled forces on the Thai border. The extent of this support -- $85 million from 1980-86 -- was revealed 6 years later in correspondence between congressional lawyer Jonathan Winer, then counsel to Sen. John Kerry (D-MA) of the Senate Foreign Relations Committee and the Vietnam Veterans of America Foundation."

 

Como assim, quinze anos? De 1975 a 1986 são onze anos! APRENDA A CONTAR!!

 

"Os EUA não apenas ajudaram a criar as condições que trouxeram o Khmer Vermelho ao poder em 1975, mas ativamente apoiaram a força genocida, politicamente e financeiramente. Em janeiro de 1980, os EUA estavam secretamente fundando forças exiladas de Pol Pot na fronteira com a Tailândia. A dimensão desse apoio era de 85 milhões de 1980 a 1986 foi revelada 6 anos depois em uma correspondência entre o advogado congressista Jonathan Winer, então conselheiro do Sen. John Kerry (D-MA) do Comitê de Relações Exteriores do Senado e a Fundação dos Veteranos do Vietnã da América".

 

NESSE TEMPO HAVIA UMA GRANDE CRISE HUMANITÁRIA NO CAMBODJA E O KHMER AINDA CONTROLAVA ALGUMAS REGIOES MONTANHOSAS PERTO DE PAILIN, SENDO AINDA RECONHECIDO COMO GOVERNO LEGÍTIMO PELA ONU ATÉ 1983.

 

Durante os anos 70, o Kampuchea (nova denominação do Camboja, como inclusive era chamado pela imprensa britânica) iniciou uma série de ações contra a minoria vietnamita, provocando uma guerra com o Vietnã. Nesses mesmos anos 70, conforme informado pelo professor Grover Furr, marxista-leninista americano, os EUA pressionaram a ONU para manter Pol Pot como representante oficial do Camboja, mesmo após a sua saída do poder, como forma de manter o novo governo cambojano pró-vietnamita excluído.

 

TODO GOVERNO NO MUNDO TEME UMA INVASÃO DE UM VIZINHO OU GRANDE POTENCIA. O GOVERNO PRO VIETNÃ ERA FRUTO DE UMA INVASAO, ERA ILEGITIMO. MAS MESMO ASSIM A ONU PASSOU A RECONHECÊ-LO, DAÍ A POSSÍVEL AJUDA “PARA O KHMER” –MAS ERA AJUDA PARA O GOVERNO LEGÍTIMO.

 

Em 1981, Zbigniew Brzezinsky, acessor do presidente Jimmy Carter, alegou ter encorajado a liderança chinesa a apoiar Pol Pot. Segundo ele, "os EUA(assim como a China) enviaram armas ao Khmer Vermelho através da fronteira com a Tailândia".

O papel do Reino Unido, então sob a liderança de Margareth Thatcher, foi secreto até 1989. Conforme revelado pelo Sunday Telegraph, pelo jornalista Simon O'Dwyer-Russel, correspondente diplomático de defesa e com contatos profissionais e familiares com o SAS(Serviço Aéreo Especial, tropa de elite britânica), o Reino Unido treinou vários guerrilheiros do Khmer Vermelho em bases tailandesas por mais de quatro anos. Todos os seus instrutores eram britânicos, do SAS, alguns eram veteranos das Malvinas, liderados por um capitão. Todos eram do serviço ativo.

Ao contrário dos Estados Unidos, o Reino Unido negou por muito tempo o seu auxílio ao Khmer Vermelho, até 25 de junho de 1991, quando admitiu publicamente que treinou a "resistência" do Khmer Vermelho desde 1983. O país europeu também armou o Khmer Vermelho com minas terrestres e treinou inclusive os guerrilheiros para o uso e manufatura de explosivos.

 

No ENTANTO, REGISTRAM-SE NA REPORTAGEM DE DAVID KLINE OS ATAQUES DOS USA E A INVASÃO DA TAILANDIA AO MESMO TEMPO EM QUE O VIETNA ATACOU.

 

Nem comunista, nem maoísta

 

De acordo com Jason Unruhe, do blog Maoist Rebel News, Pol Pot não foi o único responsável pelas mortes no Camboja, mas também não era nem comunista e nem mesmo maoísta, mas um oportunista. Inicialmente eles nem mesmo se diziam comunistas, mas depois se disseram tais, todavia segundo as ideias de Marx e Engels o que define um comunista é a sua prática. E no "Kampuchea Democrático"(como seus partidários adoram chamar o país) não há nenhuma política que caracterize o regime do Khmer como comunista. O país também foi intensamente bombardeado pela USAF, que provocou mais de 10 milhões de mortes na Indochina, só no Camboja, 10% da população(cerca de 600 mil) morreram vítimas de bombardeios da Força Aérea Americana. Tudo isso torna difícil distinguir no país o que é verdade e o que é propaganda imperialista.

 

A DECLARAÇÃO DO PCK DESMENTE ISSO. EM SEU PROGRAMA CONSTAVAM A REFORMA AGRÁRIA, COMBATE AS DOENÇAS TROPICAIS, ETC.

 

Pol Pot nunca se considerou um maoísta enquanto Mao vivia, Mao nunca chamou Pol Pot de "maoísta", e Pol Pot jamais apoiou a "Gangue dos Quatro", os sucessores ideológicos de Mao. Em vez disso, Pol os chamou de "contrarrevolucionários". O apoio da China maoísta ao Khmer Vermelho não é indicativo de que "Mao reconhecia Pol como seu aluno", lembremos que a China apoiou a luta de vários países do terceiro mundo, incluindo países sem a liderança de um partido comunista. Pol Pot era um oportunista. Em 77 ele declarara que Deng Xiaoping era um oportunista, mas quando este chegou ao poder, ele começou a elogiá-lo, e jamais se disse novamente maoísta.

 

O PCK, CONFORME SEU DOCUMENTO, SEGUIU A LINHA CHINESA EM OPOSIÇÃO AO VIETNÃ, QUE NÃO APOIOU A LUTA DE LIBERTACAO DOS CAMBOJANOS. FORAM INFLUENCIADOS PELO MAOISMO, MAS TUDO INDICA QUE NÃO SE PRENDIAM A ESSA DISCUSSÃO TERMINOLOGICA. SERIA INTERESSANTE ANALISAR ESSA RELAÇÃO POL POT/DENG SIAOPING COM BASE EM DOCUMENTOS E DECLARAÇÕES. MAS É POUCO PARA PODER CHAMAR POL POT DE OPORTUNISTA. SE FOSSE OPORTUNISTA, FICARIA AO LADO DO VIETNÃ, BEM MAIS MAIS FORTE.

 

O regime do Khmer Vermelho, segundo a Albânia socialista

 

O regime do Khmer Vermelho é extensivamente usado como um espantalho pela burguesia reacionária para atacar o comunismo. "Vejam Pol Pot e o Camboja", dizem os anticomunistas como tentativa de explicar o "fracasso" do comunismo e uma suposta política genocida como norma. Ocorre que todos esses marionetes dos grandes capitalistas e de pedófilos ocultam uma verdade, que é a oposição feita por vários(senão todos) os Partidos Comunistas de todo o mundo às políticas desumanas e impopulares do Khmer Vermelho.

Uma das críticas mais ferrenhas ao regime do Khmer foi feita pelo Partido dos Trabalhadores da Albânia, liderado por Enver Hodja. Enquanto algumas pessoas de esquerda tentam fazer uma apologética do regime cambojano, Hodja alega que "os diplomatas albaneses viram com os seus próprios olhos o povo cambojano ser tratado de forma desumana pela panelinha de Pol Pot e Yeng Sari". A Embaixada da Albânia, país que forneceu ajuda humanitária ao Camboja, foi cercada por arame farpado, tal como um campo de concentração, assim como a embaixada de outros países. Se esse era o tratamento dado pelo Kampuchea "Democrático", imaginemos que tratamento era dado aos inimigos...

Enver Hodja foi mais longe, chamando a ditadura do Khmer Vermelho de "grupo barbárico de fascistas de Pol Pot", questionando por que os imperialistas chineses os apoiavam.

 

DEPOIS DA MORTE DE MAO, HODXA ROMPEU COM A CHINA DE FORMA ESTREPITOSA, CHAMANDO MAO DE REVISIONISTA. PELO VISTO ACIMA, CHAMOU ATÉ POL POT DE FASCISTA E OS CHINESES DE IMPERIALISTAS. FOI OBSERVADO POR GONZALO O FATO DE QUE HOXJA NÃO FALAVA DO SOCIAL IMPERIALISMO RUSSO E FOI SUCEDIDO POR UM GORBACHEVISTA QUE RESTAUROU O CAPITALISMO. É UM PONTO A MAIS PARA SUPORMOS QUE HOXHA ERA, APESAR DAS APARÊNCIAS, UM PARTIDÁRIO DO IMPERIALISMO RUSSO, O QUE EXPLICA ESSA POSTURA IGNORANTE DE COMPARAR A OFENSIVA DE UM PARTIDO COMUNISTA LIBERTANDO O PAÍS A UMA HORDA DE BÁRBAROS. SE SÃO BÁRBAROS, NÃO SÃO HUMANOS, JUSTIFICA-SE O USO DO NAPALM.

 

Quem ataca o Khmer Vermelho? É verdade que muitos líderes comunistas foram atacados por forças anticomunistas, mas também por forças supostamente comunistas, entretanto eles dividiram opiniões. Um bom exemplo disso é Iósif Stalin, condenado no XX Congresso do PCUS, mas defendido por quatro grandes Partidos Comunistas históricos, o Partido dos Trabalhadores da Albânia, o Partido Comunista Chinês, o Partido Comunista Romeno e o Partido Comunista Grego(KKE). Dentro da própria URSS vários setores do PCUS defenderam Stalin contra os ataques de Nikita Khuschov, dentre os quais Vyacheslav Molotov, o general Vassiliy Stalin, o Marechal Júkov, nos anos 70, além do Marechal Vassilyevskiy e outras personalidades políticas. Além dos Partidos Comunistas, lembremos que o povo da Geórgia se insurgiu em enormes manifestações contra Nikita Khruschov, não apenas comunistas georgianos, como também nacionalistas e até liberais! Na década de 2000, Stalin foi votado como o 3º maior nome da Rússia, em um concurso televisivo de 2008, mais de 40 após calúnias e difamações contra o líder georgiano, além de ser hoje na Rússia defendido por comunistas, nacionalistas e até monarquistas.

Diferente de Stalin, a esmagadora maioria dos Partidos Comunistas de grande relevo, senão todos, condenou a causa de Pol Pot e do Khmer Vermelho, que hoje praticamente não tem nenhum apoio ou simpatia por parte da população cambojana. Se Pol Pot foi tão relevante, como insistem alguns de seus apologistas, por que será que no Camboja não há nenhum movimento a ele favorável, ou ainda fora do Vietnã, exceto alguns escassos blogs pela web? Que grande papel Pol Pot desempenhou em prol da causa comunista? Nenhum!

 

O PCK JULGOU POL POT E PASSOU A SER UM PARTIDO A MAIS LIGADO AO ESTADO CAMBOJANO, OU SEJA, O QUE FOI AFIRMADO ACIMA É FALSO. ELES SÃO UMA FORÇA POLÍTICA NO PAÍS, GOVERNAM ESTADOS, ETC. CRISTIANO ALVES NÃO É MARXISTA AO FALAR SÓ NA PERSONALIDADE DE POL POT, A QUESTÃO SEMPRE É O GRUPO. CRISTIANO ALVES NÃO TEM UMA VISÃO MARXISTA DA HISTÓRIA. Claro QUE O PCK TEM UMA VISÃO E ELA FOI INSPIRADA NO MAOISMO, MAS A IDEIA ERA CONSTRUIR ALGO ORIGINAL.

 

Além dos partidos comunistas, grandes comunistas se opuseram individualmente ao Khmer Vermelho, dentre os quais nomes como Grover Furr, William Bland, Ludo Martens, Kurginyan, dentre outros, o que mina o argumento de que "criticar o Khmer é tomar partido do anticomunismo".

 

CRITICAR DESSA FORMA ANTIMARXISTA E ANTICOMUNISTA COMO VOCE FEZ NESSE TEXTO COM CERTEZA É TOMAR ESSE PARTIDO QUE VOCE REJEITA!!!

 

Longe de representar qualquer avanço ou referência de socialismo, como foi o caso de países como Cuba, União Soviética, Tchecoeslováquia, Alemanha Oriental, China, ou Albânia, só para citar alguns exemplos, o Camboja serve apenas como o argumento de espantalho do anticomunista. Cabe a qualquer comunista minimamente informado ter determinação para estudar e a ousadia para demonstrar que, longe de qualquer política comunista, Pol Pot foi um marionete de príncipes liberais como Reagan e Thatcher, que depois seria traído pelos antigos aliados, algo típico da política norte-americana.

 

O PCK DERROTOU UMA DITADURA MILITAR E ENFRENTOU OS USA E SEU PODERIO MILITAR E SÓ FOI DERRUBADO POR UMA INVASÃO DE UM PAÍS MAIS FORTE {VIETNÃ) COM APOIO DE UMA POTENCIA (URSS).

 

quinta-feira, 20 de maio de 2021

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Câncer na Cultura Brazyleyra (Glauber Rocha no Farofafá)

 A Cultura Brazyleyra está com câncer. Toritoma Maligno. Carcinoma Embriogênico. Melonema pulverizantyz. Metástase: os efeitos destrutivos possuíram órgãos, membros e almas dos artistas, dos burocratas que se ocupam de produzir, realizar e distribuir cultura no Brazyl.

A Televisão está contaminada pelos enlatados promocionais do FBI e da CIA (órgãos de segurança yankz). As Telenovelas veiculam problemas falsos com roupas falsas e falas falsas. Nossas Rádios transmitem 90% de músicas yank ou “multyz” com o objetivo de SURDAR o povo. Ninguém pode ter tempo livre para pensar. O massacre de filmes, músicas, peças, livros e outras propagandas reduz a cultura brssileira a um lamaçal de BURRICE? RECALQUES? INCOMPETÊNCIA? – é tudo isto e mais o desespero diante do futuro brazyleyro.

As Universidades Yanks e “multyz” enviam professores de extrema direita para ensinar a nossos empobrecidos estudantes as últimas noções racistas da Nova Direita. As elites intelectuais, na maioria de classe média, recebem Bolsas de Estudos das Fundações Yankz (Ford, Rockfeller, etc.) e no “Parayzo Rolyudiano” estudam, decoram e juram servilismo perpétuo ao Modelo Yank. Imperialismo Cultural.

Nestas Universidades impera o neo-Positivismo. É o discurso retórico, fenomenológico, monetarista, inflacionário. Estes bolsistas colonizados fundam no Brazyl movimentos que visam negar a BRAZYLYDADE e afirmar o YANQUYSMO. Os intelectuais vendidos a Wall Street estão contactados com os Agentes Culturais da CIA. Daí a existência dos BRAZYLYANYSTAZ.

No Brazyl, o GANCHO do Pentágono é o CENTRO BAZYLEYRO DE PESQUISAS, que funciona em São Paulo. Durante o período das ABERTURAS geradas pelo GRANDE GEISEL, o CEBRAP elaborou uma TEORIA DO AUTORITARISMO, de inspiração cinicamente KARTEZYANA.

A economista luzytana, Dona Maria da Conceição Tavares, resolveu negar o Brazyl em nome dos interesses de Edward Kennedy. Na época de Geisel, seguiram Karter. Agora, que Karter caiu em desgraça, obedecem a Edward Kennedy. Vocês acham que aquele artigo assinado por Edward Kennedy que saiu na VEJA, há duas semanas, foi escrito por “TEDDY”? Foi escrito por algum membro brazyleyro da assessoria de Kennedy. Então é por isto que o CEBRAP negou as aberturas.

O professor Fernando Henrique Cardoso é apenas um neo-capitalista, um KENNEDYANO, um entreguista. Responsável pela organização das Patrulhas Ideológicas contra os intelectuais e artistas revolucionários e nacionalistas, MR. Cardoso trabalhou contra as aberturas. As aberturas nunca interessaram a Magalhães Pinto. Magalhães queria uma Dytadura, para melhor protestar em nome de sua candidatura. Por isto a Esquerda pró-soviética se uniu à direita pró-yank. Tudo a mesma coisa: Fernando Henrique Cardoso e Oscar Niemeyer unidos contra as Aberturas.

Pobre Niemeyer, o mais patrulhado de todos. Oscar é um gênio. Mas um gênio corrompido pelas mordomias. Cinicamente, Oscar defende Moscou. Ele fecha os olhos para os campos de concentração de Breznev, para o anti-semitismo e para o avanço colonizador de Moscou na Afryka. A senilidade de Oscar o levou a fundar um organismo chamado Centro Brasileiro Democrático. Nenhum democrata foi convidado a participar deste embrião de Comitê de Censura Política. Então o formalista Oscar se transformou em outro Chefe de Patrulhas.

ESTOU aqui entregando os nomes dos Patrulheiros Chefes: Fernando Henrique Cardoso, pelo CEBRAP, Oscar Niemeyer pelo CEBRADE. CEBRADE e CEBRAP. Dois Centros de serviço aos estrangeiros euryanks que desejam ocupar o Brazyl. Como é que um gênio como Oscar pode se prestar a papel tão burro, mesquinho, tacanho, degradante para sua tradição de maior arquiteto mundial, criador desta maravilha que é Brazylya? Fernando Henrique Cardoso é um subcientista social. Não tem a importância de Oscar. Como Florestan FernandesCaio Prado Júnior e outros pseudo cientistas sociais, responsáveis pelos desastres políticos das intelectualidades encabrestadas.

Estes sub-intelectuais não suportam uma sabatina de Gilberto Freyre. Por isto esculhambam Gylberto, Jorge AmadoNelson RodriguesGilberto GilCaetano Veloso, e todos intelectuais que não rezam pela cartilha de Washington e Moscou. E Oscar não é comunista. Oscar fatura o comunismo. Nadando em multyz mordomias, Oscar descola contratos fabulosos em países socialistas para construir palácios.

No Brazyl, Oscar declara que não se deve destruir favelas mas fixar o homem na miséria. Oscar dirige uma coleção de livros, AVENIR. Ali se exerce a MAIOR CENSURA CULTURAL DA QUAL JÁ TIVE NOTÍCIA. Só é publicado quem repete a cartilha de Oscar, do realismo socialista (ah, se fosse mesmo REALISTA E SOCIALISTA). Chega de Oscar, de CEBRAP, de Don Evaristo Arns, o Cardeal de Berlim, o sacerdote dos milhões de dólares que fala da fome do povo com o objetivo de catequizar os pobres para a neo-escravidão social democrática.

Don Evaristo também lutou e luta contra as aberturas. As aberturas atrapalham a demagogia de Don Evaristo. Para continuar tomando dinheiro do estrangeiro, em nome da Democracia, Don Evaristo precisava dizer a Karter que o GRANDE GEISEL era Ditador porque assim ele receberia mais prestígio internacional. Seria necessário que a imprensa devassasse o esquema do Cardeal para que se veja a demagogia entreguista que suborna as massas mistificadas pelo catalocismo comercialista.

Este catecismo da KATASTROFE penetra as consciências de estudantes, de jovens intelectuais, de operários, de todas classes ignorantes e famintas de SABER DE COMER DE VIVER. A imprensa alternativa que expludiu no PASQUIM (1970) é hoje uma lixeira das mensagens gasparianas (falo de Fernando Gasparian, o proprietário da Editora Paz e Terra e do finado jornaleco marrom, OPINIÃO) – na qual os jornalistas desinformados escrevem absurdos contra as Aberturas, servindo às táticas de Magalhães Pinto que não hesita emprestar dinheiro a qualquer intelectual que sirva à estratégia da tensão anti-militarista.

Porque tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética não desejam um Regime Militar no Brazyl. Um regime Militar evita a dominação Militar do Brazyl pelos militares yanks e soviéticos. Então a estratégia é desmoralizar as Forças Armadas. Por isto é que vários articulistas comprados escrevem que os MILITARES DEVEM VOLTAR AOS QUARTÉIS. O Sr. Márcio Moreira Alves, jovem burguês membro da direita carioca, fez aquele discurso contra as Forças Armadas em 1968 a mando das forças reacionárias que temiam medidas revolucionárias do então Presidente Costa e Silva.

Quando qualquer Presidente Militar tentou uma reforma agrária, cambial, habitacional, cultural – QUALQUER REFORMA ESTRUTURAL – vem logo o MDB jogar “Cokayna” no problema, travestindo as reformas estruturais em reformas Partidárias, em frescuras casuísticas, em reformulaçòes do “JOGO POLÍTICO”. Por isto é que o Sr. David Nasser escreveu na MANCHETE que o General Golbery jogava um XADRÊS DE SANGUE. Quem é o Sr. David Nasser, contumaz chantagista que desmoraliza a imprensa, para dizer que as ABERTURAS não passam de jogadas no XADRÊS DE SANGUE do General Golbery? Por que esta campanha contra Golbery?

Quem age contra Golbery são forças imperialistas, forças fascistas, forças que não desejam o desenvolvimento nacional independente do Brazyl. Então, Magalhães é contra Golbery. Todos os esquerdistas drogados e bêbedos ficam contra Golbery. O uísque é pago pelos “multyz”. Inclusive alguns são pagos pelo Governo. No ANTONIO’S, boteco caryoka, encontro vários funcionários do esquema de promoção do Governo (?) que depois do décimo uísque com vodka começam a gritar:

– Estamos faturando alto para criar a imagem do Figueiredo mas não adianta. A gente trata ele como o Chacrinha

O Ministro Said Farhat precisava enquadrar estes publicitários que se declaram seus empreiteiros e vão pro ANTONIO’S gozar o Figueiredo. Estes publicitários que servem às “multyz” estão gigoletando Figueiredo. São eles que levam espiões como Harry Stone ou picaretas fascistas como Frnco Zefirelli pra coquetéis com Figueiredo. Os mesmos não hesitam em relançar picaretas como Jean Manzon no mercado. Jean Manzon falsifica o Brazyl em documentários turísticos. Acho que o Ministro Said Farhat devia meter o bisturi neste câncer e extirpar estes pobricitários do esquema. Diante de tal quadro chegamos à materialização cancerígena:

A: de um lado o acordo WASHINGTON E MOSCOU tramando a inasão do Brazyl mediante a dominação cultural. Neste projeto ainda funciona o Instituto Goethe, órgão Germânico, e várias organizações de espionagem como o PROGRAMA DE COOPERAÇÃO francesa.

B: De outro lado, a criação de um FALSO ESPÍRITO CULTURAL de empresários arrivistas que envolvem o Governo, tomando dinheiro para promover Figueiredo e enganar o Ministro Said Farhat e o próprio Figueiredo.

Estou escandalizado com uma certa INGENUIDADE DO GOVERNO REVOLUCIONÁRIO em relação aos problemas de CULTURA, em particular de Comunicação. Este quadro envolve ESQUERDAS E DIREITAS CIVIS NO MESMO SACO ANTINACIONALISTA.

A política Cultural do Governo necessita de uma DEFINIÇÃO URGENTE. O Ministro da Educação e Cultura, Eduardo Portella, é um dos maiores intelectuais do Paiz, tenho por ele estima e admiração, mas o sinto de mãos e pés amarrados no campo CULTURAL.

No campo Educacional, Eduardo está funcionando muito bem, procurando reformular a esclerosada estrutura Universitária e nisso tem encontrado resistência dos TOGADOS REACIONÁRIOS que durante 15 anos de ditadura se acostumaram a reprimir estudantes e professores enquanto faturavam o futuro.

De New York, o crítico literário do Pentágono, Mr. WILSON MARTINS, publica semanalmente artigos contra os melhores romancistas nacyonaisdivulga ideologia ocupacionista e pretende “DAR UM GOLPE” para derrubar Eduardo Portella. Enquanto isto, intelectuais importantes como Paulo Francis e outros atacam sistematicamente Eduardo Portella, com o obetivo de remover um Ministro cuja Obra escrita é revolucionária, sobretudo pelo nacionalismo.

Os intelectuais e artistas encabrestados no MDB pedem dinheiro ao MEC mas não querem criar nenhum movimento cultural revolucionárioQuerem a grana e o direito de falar mal do Ministro, bebendo e fumando a grana. A Educação anda mas a Cultura não. Até agora não houve um Projeto Cultural integrado dos intelectuais com o MEC. Eduardo Portella não pode produzir nenhuma revolução cultural se os intelectuais e artistas se movimentam contra qualquer perspectiva nacionalista.

Por outro lado, a burocracia frígida domina o setor cultural do MEC. Considero a atuação do Sr. Márcio Tavares do Amaral na direção do DAC (DEPARTAMENTO DE AÇÃO CULTURAL) absolutamente estéril. O Sr. Amaral até hoje nunca se reuniu com os mais importantes artistas do Brazyl. Não disse a que veio, nem para onde vai. Sua política é elitista, esnobe, antipática, reacionária. O DAC deveria ser ocupado por um ARTYZTA NACIONALISTA E REVOLUCIONÁRIO e não por um ilustre desconhecido que simplesmente DESPREZA a existência dos artistas.

Não sei quais os motvos que levaram Eduardo Portella a nomear o Sr. Márcio Tavares do Amaral para o DAC. Sei apenas que o Sr. Amaral é uma Pedra de Gelo nas Aberturas Culturais, uma BUXA que entope os canais. Como o Sr. Gilson Amado na direção da TVE. O Sr. Gilson Amado corta tudo. Equanto as TVS comerciais BOTAM QUASE TUDO NO AR – o Sr. Gilson Amado corta, corta, corta, emprega subartistas, promove funcionários burros a diretores de programas e ainda denuncia de viva voz o programa ABERTURA (TV TUPY) de promoção comunista.

Embora eu tenha simpatia e ternura pelo Sr. Celso Amorim, atual Diretor Geral da Embafilme, até hoje o Sr. Amorim não fez nada mais do que superburocratizar a Embrafilme. Criou um programa de roteiros, pagando Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) a cineastas, para que escrevam roteiros. O Celso Amorim deveria saber que desde Roberto Rosselini (anos 40) o Cinema de Roteiro foi por água abaixo.

A EMBRAFILME PRECISA FINANCIAR FILMES E NÃO ROTEIROS. A Embrafilme nos tempos de Ney Braga financiou um programa de ROTEIROS PARA FILMES HISTÓRICOS. Pagaram Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros). Até hoje nenhum roteiro apareceu. Isto foi um truque dos Cineastas para enganar Ney Braga.

Em seguida, Roberto Faria, o ex-Diretor Geral da Embrafilme, enganou Ney Braga outra vez, financiando um projeto de FILMES PARA TV. Foram Cr$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões!!!) investidos neste Projeto. Onde estão os ROTEIROS DOS FILMES HISTÓRICOS? ONDE ESTÃO OS FILMES DE TV? Estão bebidos, fumados, consumidos em viagens internacionais. O Roberto Faria corrompeu os cineastas. Muito dinheiro para projetos – financiamentos – a perder de vista. Filmes, nada. Somente Roteiros, Festivais, Revistas de Cultura, Simposyuns realizados por subprofessores e promessas paternalistas.

Celso Amorym não fez uma revolução na Embrafilme. Não concordo com a assessoria de Celso Amorym. Alguns funcionários remanescentes da SAVAK de Faria mandam nos corredores da Embrafilme com um autoritarismo fascista indigno das aberturas.

A Distribuidora da Embrafilme, a grande criação de GUSTAVO DAHL, foi reduzida a um Departamento de Fofocas. Ninguém tem coragem de enfrentar os exibidores. Harry Stone, o agente da Motions Pictures, manda e desmanda. Como é que o Celso Amorym aceita Jean Rouch no Brazyl programando cursos em Universidades Nordestinas? Será que Celso, que é diplomata, não sabe que Jean Rouch já foi denunciado em todo mundo cultural como um AGENTE COLONIZADOR ou, em miúdos, um Agente de Informações do Governo Francês, cujo alvo é fotografar e gravar os problemas das regiões terceiro-mundistas?

Até hoje, certamente seguindo a política elitista do Sr. Márcio Tavares do Amaral, nunca se reuniu com os Cineastas para discutir os problemas culturais. O que Celso Amorym faz na Embrafilme é transar baixa política com os produtores de PORNOCHANCHADAS CHIS e com os burocratas da COOPERATIVA BRASILEIRA DE CINEMA, feudo do Sr. Nélson Pereira dos Santos e de outros cineastas decadentes que continuam fazendo filmes populistas e tecnicamente ruins. Os jovens cineastas não existem. E os cineastas independentes,que desejam filmar, JÁ – são obrigados a entrar num absurdo Concurso de Roteiros que vai repetir o mesmo desastre já verificado com os PROJETOS DE FILMES HISTÓRICOS e com os PROJETOS DE FILMES TELEVISIVOS.

Solicito ao Ministro Eduardo Portella que faça uma revisão profunda e radical no esquema do DAC. Porque o DAC é um Ministério da Cultura. O Serviço Nacional de Teatro também não funciona. É um órgão acadêmico, paternalista e o único talento do Sr. Orlando Miranda é dar dinheiro aos esquerdistas festivos para montar peças reacionárias. O Sr. Orlando Miranda é um corruptor da classe teatral. Porque nenhum Grande Teatrólogo é ouvido. Criou-se a burocracia patrulheira no SNT.

O Mesmo no Instituto Nacional do Livro. Meu queridíssimo Herberto Salles não faz nada para revolucionar a questão editorial no Brazyl. É a velha fofoca literária de comadres. O Herberto, autor desta Obra-Prima que é “ALÉM DOS MARIMBUS”, deveria passar o cargo a um Escritor Industrial ou senão dar a volta por cima e providenciar algumas medidas para melhor se Editar e Distribuir Livros no Brazyl.

No Instituto Nacional de Música, a mesma coisa. Óperas, concertos clássicos, esmagamento da música popular brasileira, desvalorização de nosso Folklore em função de um elitismo europeizante. Assim, a nossa MUSYKA morre estrangulada entre LA TRAVIATA e JOHN TRAVOLTA.

E o que é a FUNARTE? Que arte se faz na FUNARTE? José Cândido de Carvalho, Diretor da Funarte, é um GÊNIO LITERÁRIO. “O Coronel e o Lobisomem” é uma novela central de nossas letras. Mas Zé Cândido não faz nada na FUNARTR. Nunca convidou um artista importante para ir lá.

A política de ARTES PLÁSTICAS está em casa de tia Maria. Um mangue. Ninguém se entende. É a fofoca. O Paternalismo. Eu preferia que Zé Cândido se tamsformasse num LOBO agressivo e promovesse uma revolução cultural.

Fica claro que o DAC não funciona. E se o DAC não funciona, a CULTURA entra em crise. Quem veicula a cultura revolucionária? A TV? As multinacionais? Sim, a TV e as Multinacionais e as Fundações Culturais que compram, aviltam, seviciam, destroem nossos artistas.

Por isto, sem culpa de ofender os brios de quem quer que seja – solicito ao Ministro Eduardo Portella uma revolução no DAC. Será a única forma de salvar nossa Cultura do Câncer.

Foram 15 anos de censura. Desinformação. Contra-informação inernacional. Poluição popular. Se alguma força reacionária estiver segurando Eduardo Portella eu estou com ele para combater estas forças. Eu e todos os intelectuais e artistas revolucionários do Brazyl. A Embrafilme, o Serviço Nacional do Teatro, o Instituto Nacional do Livro, o Instituto Nacional de Música e a Funarte NÃO FUNCIONAM. As verbas para pagar os funcionários e suas MORDOMIAS (muitos coquetéis, viagems e muita ARROGÂNCIA E MUITA PUSILANIMIDADE) estão sendo desperdiçadas para manter funcionários que até agora nada fizeram a não ser tratar os artistas como mendicantes. Estamos entre o DAC e a CIA. Entre o DAC e a KGB. Entre o DAC e a miséria cultural.

Agravando o câncer, disseminando o veneno estão os Partidos Políticos chefiados por homens que nada entendem do problema – exceção seja feita a José Sarney que é brilhante prosador e poeta – e que pretendem usar os intelectuais e artistas como massa de manobra eleitoral. Miguel Arraes, na linha argelina, defende a censura rígida. Leonel Brizola nunca deve ter pensado no problema da cultura revolucionária, embora eu considere que Brizola seja mais flexível do que Arraes.

(Texto publicado no jornal Correio Braziliese, em 27 de setembro de 1979, e reproduzido por FAROFAFÁ sob autorização dos herdeiros de Glauber Rocha.)

domingo, 9 de maio de 2021

Ao Vendedor, as Batatas

 Ao Vendedor, As Batatas


Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior



O livro de contos O Vendedor de Batatas de Dênis Reis (Ed. Do Autor, 2008) é muito bem arquitetado: inicia-se com o “rap para o meu avô negro, por ocasião do primeiro dia de inverno” e finaliza-se com uma “elegia para meu avô branco, por ocasião do último verão”. São os textos mais poéticos do livro. São narrativas cuidadosamente buriladas de forma a compor um todo harmonioso. São dois atos e no final o tema do início é retomado. Reis têm uma forte influência da música e suponho que ela inspira sua composição, tanto que ele cita positivamente Mozart: suas citações em geral são negativas. Ele parte de um tema, desenvolve-o e vai se distanciando dele quase imperceptivelmente.

Uma das obsessões de Reis é a estupidez da pequena burguesia, que ele persegue implacavelmente, embora se veja também obrigado a transigir, envolvido nela. Talvez isso seja o que mais o desespera. Mas talvez não haja desespero algum e o humor e o desespero sejam só jogo de cena filosófica de mesa de bar. A imbecilidade ele persegue com um ódio sem quartel, enxergando-a até numa lagartixa atrás da pia e fechando uma careta para o mundo, sem aceitá-lo com ele é. Mas às vezes a revolta é tamanha que parece tudo refluir para a poltrona da casa, para a fobia social.

Os contos são todos como um roteiro de como combater a imbecilidade com fúria, precisão e estética, digamos assim. E nisso Reis é bem sucedido. Ele encontra a mediocridade de classe média na vida do casal (História de um marido pobre), nos papos de botequim (Os Mosqueteiros do Amendoim), na vida militar (Eu mesmo) e em um dos alvos que ele mais goza ao encontrá-la: a universidade e seus seminários de dança das pulgas (Onde está Wally?). Aliás, os intelectuais são os grandes criticados nesses contos, é a categoria que, como um todo, sai mais atacada. Reis odeia profundamente sua empáfia, suas patotas, suas teses com nomes enfeitados e “des-leituras” de romancistas amazônicos, por exemplo. A libido, em O Vendedor, não é nada grafocrática.

O universo da rua, do botequim, da zona boêmia, embora criticado em O Vendedor...ainda é poupado em relação ao desprezo caricatural com que é tratado o ambiente universitário, assim como é detonado o mundo resplandecente de Marília Gabriela e Jô Soares, ou seja, o universo das celebridades, da moda e do consumo. Mas nada o apraz tanto quanto encontrar a imbecilidade nos supostamente inteligentes:



Um mestrando queria saber se devia comprar ações da Telemar. Com medo de perder a reprise do programa da Marília Gabriela, respondi que sim. ´Deve sim, ora essa´. Só porque está enrascado com uma tese sobre a teoria do valor, o idiota pensa que vai ficar rico como David Ricardo. Vai acabar mais pobre que Marx. Que mestrando imbecil! (REIS, 2008, p. 81).



Essa busca, nesse momento acima, gozou em encontrar seu objeto: a intelligentsia provinciana, os chamados “heróis póstumos da paróquia”. Do ponto de vista de Reis, o “luso-tropicalismo” deve ser violentamente atacado e derrotado, para o bem da comunidade negra. O ponto de vista dele, supõe-se, é o da senzala com caneta de raio laser:



Nós, não. O nosso conservadorismo não existe. É só o jeito de quem levou muita lambada na cacunda. Minas Gerais é uma ética. A desgraça do Brasil foi o conde Maurício de Nassau ter voltado para a Holanda. Gilberto Freyre derrotou Maurício de Nassau na batalha de Guararapes. E o Brasil virou uma merda (REIS, 2008).



O texto por vezes é muito engraçado, mostrando uma realidade singular de maneira debochada. O narrador é um observador ora polido, ora de franqueza rude, ora ambicioso, ora seco e desenganado, ora desesperado, ora romântico que cita canções de amor sobre índias de sangue tupi e favos de mel de jati. Sua revolta permanente o faz desancar meio mundo. Ele o faz através até do avô, que segundo ele:



Mandou bala nos paulistas em 1932. Devíamos ter destroçado com a terra nostra em 1932, como fizemos com o Paraguai no século XIX. Ah! As moderações! Minas Gerais é uma ética. E junto com os muitos outros, em cima de um caminhão, atravessou, ocupante, a cidade de Ribeirão Preto. A Semana de Arte Moderna de 22 atrasou a literatura brasileira por 30 anos. Alguém tinha de dizer isso. Dixit ET animam levavi! Sacanearam o Lima Barreto, o único escritor brasileiro honesto. Malditos paulistas, bando de barões bundões. Na Faculdade de Letras – sempre-clássicas não se diz tal coisa. Minas Gerais é uma ética (REIS, 2001, p. 184).



No entanto, existem teóricos da área de Letras, tal como Luís Bueno, que advogam isso: os modernistas teriam rompido com uma tradição literária nacional. O livro de Reis atacou mais vezes a intelectualidade paulista, em quem verifica muito apego a famílias ricas, comunismo e estalinismo equivocados e de salão, em geral brilhareco falso e superficial, Gianotti explicando Wittgenstein para o Jô Soares. Pontuemos, no entanto: o maior ataque ao luso-tropicalismo até hoje partiu de Roger Bastide (e de São Paulo): a pesquisa A integração do negro na sociedade de classes. Roberto Drummond, segundo ele, lhe dá azia – sinônimo de desgosto e raiva, mas é forçoso dizer que esse livro se aproxima, através das frases curtas, afirmativas e ritmadas, do estilo de Roberto Drummond no início da carreira, em especial do livro de contos A Morte de D. J. em Paris. De tanto tentar superar a Paidéia da província e sua sufocante atmosfera, Reis aproximou-se de Drummond, do Roberto, com a diferença que o que lhe parece sufocante para Roberto Drummond era alegre e saltitante. Reis está mais para Lima Barreto do que para Kafka, mais para Bom Despacho do que para metafísica checa.

O livro tem a ressonância machadiana logo em seu título. Em comum com Machado, ele possui o estilo afiado e a ironia que por vezes se tinge de sarcasmo. Há quem veja também ligações com Kafka e Walter Campos de Carvalho. Prefiro falar em Murilo Rubião e os personagens psicóticos de Campos de Carvalho também não se fazem presentes nesses contos. Denis experimenta livremente com os contos, afastando-os das crônicas de jornal, por exemplo. Eles citam livremente literatura, filosofia, programas de televisão e até receitas culinárias. Ele me divertiu especialmente quando fez o balanço do universo belo-horizontino, universo que oscila entre o desejo da mudança e as ponderações do conservadorismo, entre a transcendência da filosofia e o sonho de uma revolução que não seja só um levante militar e a dureza da vida cotidiana, da pobreza, da falta de dinheiro, da mesquinhez do trabalho e da dura realidade de uma grande metrópole. Denis quando ele fez prosa poética, como no primeiro e no último conto.

Seu acerto de contas com o conformismo é sutil, mas para quem tem sensibilidade e sabe ler as entrelinhas poderá sentir a imensa violência poética que existe em textos como História de um Marido Pobre e Eu Mesmo. E são contos indigestos, que irritam, provocam, inquietam. Existe humor, mas ele incomoda, pois é polidez do desespero e esse desespero é tangível. O objetivo do autor, suponho, é esse.

Denis fez do livro um objeto cuidadosamente estruturado, com contos que repetem temáticas ou até mesmo algumas palavras-fetiche, como “açúcar” e “obesidade”, símbolo, para ele, da solidão e da morbidez, senão do intolerável da pobreza, da aposentadoria e da alienação. É uma ótima estréia de Denis como contista.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Fiotinha e a Língua da Tabatinga

 FIOTINHA E A LÍNGUA DA TABATINGA

Tânia T. Nakamura e Lúcio E. do E. S. Júnior


Na cidade de Bom Despacho temos uma comunidade de afro-descendentes, no Bairro Tabatinga, onde reside Maria Joaquina da Silva, conhecida como “Fiotinha”, última falante de uma língua (predominantemente banto) que funcionava como espécie de código secreto para preservação de troca de informações entre o grupo.
“Fiotinha” teve um papel destacado na preservação da “gira” da Tabatinga ao dar depoimentos a Sônia Queiroz, professora de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da UFMG, mestre em Letras pela mesma Universidade e doutora pela PUC/São Paulo, natural de Bom Despacho, quando da realização de sua obra “Pé Preto no Barro Branco”, que aborda a constituição da Língua do Negro da Costa.
O projeto tem como sua idealizadora principal a própria “Fiotinha”, que com o objetivo de preservar a cultura local, quis criar uma escola em que se ensinasse a língua da Tabatinga.
Assim iniciamos uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Bom Despacho e comunidade local, os trabalhos em duas frentes que interagiram: 1ª - Alfabetização de adultos, pois “Fiotinha” é analfabeta e manifestou grande desejo em aprender a ler , também em reunião informal feita no bairro foi levantado um número significativo de analfabetos no bairro; 2º: Conversação na língua da Tabatinga.
Consideramos este trabalho pioneiro no que se refere a uma sala de conversação em língua de afro-descendentes e de suma importância para a preservação da cultura negra local, como também com uma grande viabilidade dentro da pesquisa em História Oral, definida aqui com beleza por Fiotinha: “Não tenho a letra, só tenho a palavra”.
Importante destacarmos a co-orientação da professora Sônia Queiroz, que atualmente é docente na Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Departamento de Línguas Vernáculas, que nos possibilitará um apoio fundamental no decorrer da pesquisa.
Observamos que o apoio e preservação de determinadas manifestações culturais tradicionais têm se tornado uma bandeira na busca da identidade de certas comunidades, em meio ao fenômeno que chamamos de “globalização”, que tem se mostrado homogeneizador e massificante, principalmente por atuar diluindo as diferenças. A busca da identidade e o respeito ao diferente serão o núcleo do nosso projeto aqui apresentado.
Maria Joaquina da Silva, “Fiotinha”, a grande mentora do projeto que aqui apresentamos. Filha de um dos falantes mais antigos da Língua do Negro da Costa, chamado Zé Caria (ou Zacaria) e Joaquina Caria. Teve apenas um irmão chamado Zé Baiano. “Fiotinha” teve seis filhos e seis netos e Zé Baiano, dois filhos e seis netos.
Como aponta QUEIROZ (1998), trata-se de uma comunidade historicamente “excluída” até na geografia, como sendo “um bairro de negros” , ironicamente construída numa cidade que foi fundada sobre uma área de quilombos destruídos:

Os quilombos são, pois, fator importante no povoamento da região de Bom Despacho: os negros, fugindo aos seus senhores, entram pelo sertão em busca de esconderijos onde se organizar como homens livres. Atrás deles vão os capitães-de-mato, que muitas vezes encontram pelo caminho lugares atraentes onde resolveram fixar residência” (QUEIROZ, 1998, 38)

Tendo em vista em nossa pesquisa a história de vida de “Fiotinha” o diálogo com as fontes orais fornece ao seu trabalho um posicionamento diante do estatuto do conhecimento histórico. A construção da memória pela sua formação, manutenção e elaboração das identidades individuais e coletivas, veiculada pela oralidade, expressa as várias faces da experiência humana ao longo do processo histórico, estabelecendo relações e mediações com outros tipos de registro do real, acrescentando segundo GATTAZ que:
Os aspectos individuais, na história de vida, são exacerbados, enquanto os movimentos gerais da História assumem em geral um plano secundário, e isso faz com que a nossa abordagem destes testemunhos seja diferente daquela que daríamos a uma série estatística ou um relatório governamental. Neste sentido, distingue-se a história oral de vida, preocupada com a experiência subjetiva, da história oral temática, voltada ao fato objetivo e à reconstrução de um passado ignorado. Na história de vida, a verdade dos fatos se subordina à verdade do homem, pois é o homem que está em questão (GATTAZ, 1988, 877)

A história de vida de “Fiotinha” está sendo captada por nós através de entrevistas onde:

A gravação da entrevista entre o oralista e o colaborador cristaliza uma manifestação histórica. Sua análise, portanto, deve considerá-la como uma forma expressiva determinada pelo espaço e pelo tempo, refletindo não o sentido que o narrador teve dos fatos no passado, mas aquele que lhe ocorre no momento da entrevista – e não de forma inocente ou inconseqüente, como notam alguns estudiosos (GATTAZ, 1998, 883).

A parte propriamente pedagógica, o processo de alfabetização, foi por nós desenvolvida a partir de temas, os quais serão extraídos da própria realidade dos alunos.
Nossa vivência com a “gira” da Tabatinga e a figura de Fiota aconteceu, digamos, em parte devido à nossa experiência de termos saído de pequenas cidades do interior e agora termos retornado, acompanhando a tendência de expansão para o interior das instituições de ensino superior.
Bom Despacho, nossa cidade, situa-se no centro-oeste de Minas Gerais, estado repleto de cidades históricas e tradições. No entanto, nossa comunidade não tem mitos como Xica da Silva, que se projetou nacionalmente e ganhou eco com livros como Rei Branco Rainha Negra, de Paulo Amador, e até um filme de sucesso, Xica da Silva, de Cacá Diegues nem grandes vultos históricos como Juscelino Kubitschek. No entanto, a cultura popular da cidade preserva singularidades bem pouco estudadas ou valorizadas.
Uma delas é a “gíria” da Tabatinga. Corre por toda a cidade que existe esse vocabulário, muitos conhecem uma ou outra palavra, verifica-se interesse, mas trata-se de algo anedótico e intermitente. Uma clínica veterinária e uma cooperativa utilizam palavras como cambuá (cachorro) e mavero (leite) sem que se saiba do conhecimento que os donos das empresas e seus usuários possuem dessa “gira”.
Primeiramente tínhamos ouvido falar da “gira” e lido o livro de Sônia Queiroz, Pé Preto no Barro Branco. A seguir, tivemos contato com Fiota, tida pela comunidade como última falante autêntica da língua. Transcrevemos a seguir trecho de uma de nossas entrevistas com D. Fiota:

Lúcio: Como era com seu pai, sua mãe, sua família? Você falou com a Brigitte que aqui era tudo mato?

Fiota: Meu pai era baiano, vivia andando pelo mundo. Minha mãe estava trabalhando no tempo da escravidão, no tempo do cativeiro. Ele foi passano e acenou para ela. Ela foi e perguntou se ela não arrumava um serviço para ele. O patrão falou: aqui só tem ranca de mandioca. Ele foi e deu ele o serviço. E nesse tempo ela era sortera. Aí ele foi namorano, namorano. Ele resolveu pedir a mão dela em casamento. Ela falou: não, não pede agora não, minha mãe é muito nervosa. Aí pediu, foi aceito, eles arrumaro e casô. Logo quando ês casô, ela contava para mim que ele falô: “Eu sei duma cultura que é a mió coisa do mundo, e vou te ensinar ocês uma cultura, que quando a gente tiver famia, isso vai ser muito bom procês”. Quando nós nascemo, ela falou, vou ensinar para vocês uma cultura que seu pai deixou para vocês. Eu falei: muito custosa? Ela falou: não. Ela estava sentada fiando fio de algodão e ia dizendo, vamo hoje na linguagem, foi explicar a você cumé que é. E aí ela foi contando para mim o jeito que ela explicou para ela. Meu irmão falou: vamos brincá. Ele falou: não, não vô aprendê não. E eu aprendi, e hoje sou muito percurada, recebo todo mundo de braços abertos, gosto muito do jeito que ês me trata, agora tô até no salão [da Igreja Católica]. Agradeço muito ao Simão, que abriu a mão para mim. Ao Beto, Beto me deu a maior força, maior apoio.
Eu falo para todo mundo quarqué hora a língua da gira. Ela começou assim: quando minha mãe tava lá, ele falava: cafingueiro caxô. Patrão chegava, eles falavam: catingueiro caxô. Caxô o quê? No curima. Ela tava querendo dizer que o patrão chegou. Essas tinham que tirar uma tarefa. Comia mandioca e achava que era um almoço muito bacana. A gente não pode falar o nome do trem. Não tem assango? Não, não tem assango não. Tem cambelera, não, cambelera também não caxô não. Quando rebentô a liberdade, minha mãe saiu lá Engenho do Ribeiro caçando um lugá. Isso aqui tudo era mato. Nós foi luitá para fazer uma barraca de lona. Nós fizemo, entramo. A barraca acabou, nós fizemos a piteira. Nossa casa era coberta de “apita” ao redor. A coberta era apita. Não tinha jeito de buscar água mais perto, buscar água era lá no chacrinha. A gente pegava a pineira e coava, tirava barro. Nós tirava barro era no meio do garimpo aqui. Nós entrava dum lado e saída do outro. Nós ia com as enxada atrás tirando a terra. Nós custô demais fazer um cômodo barreado mas nós fizemo, e aí o povo, todo mundo foi fazendo. Nós amassava era de pé,o barro. Não tinha amassador de barro, não tinha cavalo... Foi aonde que cresceu esse bairro tão maravilhoso. Só uma coisa eu quero, quero ver se dou conta de chegar lá. Quero tirá esse nome que botaram aqui, Ana Rosa. Pô o nome que era. O nome Tabatinga foi minha mãe que colocou aqui. Na subida era um barro branquinho. Não tinha carro automóvel, era carro de boi. Toda vida foi Tabatinga. Desde o tempo da escravidão. Aí mandou por Ana Rosa. Se Deus quiser, quero tirar Tabatinga e pôs Ana Rosa. Pode parar por aqui ou cês qué mais?
Aqui no bairro é muito difícil quem fala a língua. Uma das pena que ficou de resto que pode contá foi só eu. Tem muita gente que grita aí só aquelas paiaçada de cuete ocora, cuete cafuvira, mas não interessa pelo bairro. O que vem a ser cuete ocora? (Pausa).

Lúcio: Ah, cuete ocara é preto.

Fiota: preto. Hoje quem falá do preto, acho que agora o viriango caxa, né? Eu não vou retacar ninguém por causa da minha cor.

Tânia (rindo): É, o viriango caxa.

Lúcio: Como foi o trabalho do livro da Sônia?

Fiota: O pai dela foi o melhor médico que nós encontramo aqui em Minas. Ele dava os remédio de graça, dava consulta de graça. Eu devia muita obrigação ao pai dela. Ela me disse: quero aprender a língua da Tabatinga. Ficô umas coisa no livro que ela não“intrerpretou” bem não. Demorô uns quinze ano. No livro ficô umas coisas, ela aproximô. Tem muita coisa para a gente falá e induzi. Não sei se é porque ela tava nervosa. Eu quero agora fazê um outro livro com a Tânia.

Tânia: A gente chega lá (....).
Fiota: Eles fala que se eu continuá falando, todo mundo vai sabê e eu num vô sê percurada mais. Mas eles tem que aprendé que vai sê uma cultura boa para eles.

Devemos então notar o seguinte: Fiota fala de marcas, ou melhor, certas marcas falam nela. Uma é a dura história dos negros após o cativeiro. Notamos que Fiota referiu-se à vida de sua mãe, fundadora do bairro da Tabatinga onde atualmente ela mora, demonstrando saber que sua história começou antes de seu nascimento, com a história de seus pais. O “dialeto” da Tabatinga foi uma herança paterna, quem sabe a única. A mãe foi a responsável pela transmissão para a criança da língua herdada do pai. É curioso observar que o filho do sexo masculino negou a língua do pai, acolhida carinhosamente apenas pela filha. Fiota, apesar das dificuldades para garantir a sobrevivência e o analfabetismo, observou certo avanço histórico (“Hoje quem falar do preto, acho que o viriango caxa, né?” O que quer dizer: “Hoje quem falar do preto, acho que o policial prende, né?”) e permaneceu firme no desejo de recuperar a parte de suas tradições que foi apagada, no caso, o próprio nome do bairro, Tabatinga, substituído por Ana Rosa. O nome se reveste de uma importância que ressoou mesmo no livro já realizado sobre o bairro, de autoria de Sônia Queiroz: o título “Pé Preto no Barro Branco” é uma referência, ao mesmo tempo, ao barro existente na principal rua do atual bairro, amassado como o pé para fazer casebres, e à “gíria” em si, que se utiliza da língua portuguesa para inserir termos de origem africana, dando a entender, em sua própria estrutura, a presença da mestiçagem.
Chamamos a atenção também para outro dado, presente indiretamente na fala de D. Fiota: muitos repetem palavras na língua (“cuete ocora” e “cuete cafuvira”, sinônimos de “negro”) mas não se interessam pelo bairro. A discriminação e o preconceitos com relação aos falantes da “língua do negro da costa” foi algo também sentido por nós no decorrer de nosso contato.
Após nossa aproximação, realizamos o desejo de D. Fiota e obtivemos espaço no salão da Igreja Católica para a realização de um curso de alfabetização, contando também com o apoio da prefeitura na figura do secretário de educação, Carlos Alberto, que nos cedeu lápis e cadernos, além de contratar como professora a então voluntária da Igreja Católica Maria Marilac.
A professora, já com experiência de alfabetização em escolas da rede pública, teve também sua primeira experiência com alfabetização de adultos nesta ocasião. Após as aulas, algumas vezes reunimos os alunos para uma conversação na “gira”, por vezes acompanhada de cafezinho e bolo. Com freqüência o tema discutido foi a língua da Tabatinga. Após a desistência de alguns membros da comunidade, verificamos que existiam alunos interessados na alfabetização, mas que resistiam à língua da Tabatinga, tida por esses desistentes como “bobagem” e “coisa de vagabundos, malandros”. O motivo seria que, por fornecer um código de difícil decodificação para aqueles situados fora da comunidade, a “gira” despertou desconfiança. Porém, desmistificando o preconceito que envolve os falantes da língua, Sônia Queiroz mostrou em seu livro que a maior parte da população do bairro constitui-se de trabalhadores.
Decididos a contrariar o preconceito e a baixa auto-estima encontrados em certos círculos da comunidade, resolvemos orientar a professora Marilac a inserir palavras na língua da Tabatinga no decorrer das aulas. Isso nos pareceu altamente recomendável, por ligar-se, inclusive, à pedagogia ensinada por Paulo Freire, pedagogia essa em que algumas palavras, obtidas no contexto da comunidade, seriam “palavras geradoras”. No caso, as a palavras geradoras foram “ingura” (dinheiro), “assango” (arroz) e “cuete” (homem). Verificamos que a iniciativa obteve aceitação por parte do pequeno grupo de alunos.
Outra experiência que realizamos, paralelamente à alfabetização, foram as entrevistas tais como a citada acima. Promovemos também o seguinte diálogo: Brigitte, professora de francês de origem afro-belga e que ensina de francês na cidade, tentou conversar com Fiota e comparar algumas palavras nos dialetos africanos que sabe, sendo esses o swahili e um dialeto originário do Zaire. Não observamos coincidência entre os termos falados por Fiota e aqueles utilizados por Brigitte, mas o encontro resultou numa conversa animada e simpática, e, de certa forma, ao receber em sua casa uma pessoa que já esteve na África, fala suas línguas e conhece suas realidades, Fiota pode reencontrar-se um pouco com suas raízes.
No decorrer dessas nossas vivências com a comunidade e com a Língua do Negro da Costa, gostaríamos de anotar algumas produções culturais ligadas ao bairro, mas que ainda permanecem pouco conhecidas. O livro “Madrinha”, um pequeno livro de contos também autoria de Sônia Queiroz, trouxe uma personagem negra também chamada Fiota:

_Eu aqui sô chefe de turma. Os cavinguero passa no meu conjolo e vai só tipurano: Ô Fiota! Ruma aí uns vinte home e muié pra prantá mio lá para mim. Eu rumo. Se fô bão de ingura, se a ingura fô avura, eu caxo. Caxo os cuete dos conjolo e nóis caxamo tudo pro sengue. Pegamos injira do cavinguero, prantá pungue, tipoque, missango, quarqué embondo. Agora, se o cavinguero fô ruim de ingura, ingura catita, num vai dá não, né, cuete? Mió ficá no meu conjolo caxano urunanga na omenha, mió que i pro curimba sem ingura. (Eu aqui sô chefe de turma. Os patrões passa na minha casa e vai só olhando. Ô Fiota! Ruma aí uns vinte home e muié pra prantá mio lá para mim. Eu rumo. Se for bom de dinheiro, se o dinheiro for bom, eu arranjo. Pego os rapazes das casa e entramos no mato. Pegamos o caminho do trabalho para o fazendeiro, prantá milho, feijão, arroz, qualquer coisa. Agora, se o patrão for ruim de dinheiro, dinheiro bom, não vai dar não, né cara? Melhor ficar em casa secando roupa na chuva do que trabalhar sem dinheiro). (QUEIROZ, 1987, p. 21)

Além desse uso ficcional do “dialeto” da Tabatinga, ficamos sabendo também de uma composição de autoria de Ronniere Menezes, professor, mestre em Letras e funcionário público da ASLEMG, cuja letra utiliza termos da língua da Tabatinga, tais como, por exemplo: “O cuete avura comemora a abolição da escravatura (algo como: ‘O belo rapaz comemora a abolição da escravatura’)”. Não pudemos obter, devido ao curto prazo que tivemos, devido às nossas atividades como professores, nem a letra na íntegra nem o depoimento do referido autor.
Nesta altura de nosso trabalho, após o relato de nossas experiências e de nos referirmos à bibliografia e produções ligadas à língua, passemos à questão da oralidade. A “gira” da Tabatinga é um exemplo de herança cultural passada oralmente. Os negros da Tabatinga permaneceram na “oralidade primária”, que segundo Walter Ong, seria:

A oralidade de uma cultura totalmente desprovida de qualquer conhecimento da escrita ou da impressão. É “primária” por oposição à “oralidade secundária” da atual cultura de alta tecnologia, na qual uma nova oralidade é alimentada pelo telefone, pelo rádio, pela televisão ou por outros dispositivos eletrônicos, cuja existência e funcionamento dependem da escrita e da impressão. Atualmente, a cultura oral primária, no sentido estrito, praticamente não existe, uma vez que todas as culturas têm conhecimento da escrita e sofreram alguns de seus efeitos. Contudo, em diferentes graus, muitas culturas e subculturas, até mesmo num meio de alta tecnologia, preservam muito da estrutura mental da oralidade primária. (ONG, 1978, p. 12)

Curiosamente, podemos dizer que a “oralidade primária” da língua da Tabatinga é um desses raros casos referidos acima. Trata-se de um caso em que palavras de origem africana foram passadas adiante durante gerações, e estão, diante de nós, vivendo sua ainda muito recente aparição na esfera da escrita e da leitura.
Ressaltemos que essas palavras trazem consigo uma história. Elas falam da resistência africana, apesar da violência, da marginalização, dos massacres dos resistentes nos quilombos. A presença da Língua do Negro da Costa em Bom Despacho subverte toda a história oficial da cidade, história essa que explicou que Bom Despacho foi fundada por três portugueses que fizeram uma promessa à chamada Nossa Senhora do Bom Despacho ou Nossa Senhora do Sol ao chegarem a uma das três colinas que constituem, ainda, o núcleo da cidade. A presença da “gira” da Tabatinga mostrou-nos que, antes de ser habitada por brancos portugueses, a região foi refúgio de negros fugidos das regiões de mineração situadas próximo a Belo Horizonte e Pitangui. Portanto, a “língua” seria um indício decisivo de que a cidade foi primeiramente um quilombo. Aliás, vale a pena frisar que a presença dos negros fugidos, neste período, motivou a chegada dos brancos portugueses, muitos dos quais, tendo vindo no encalço dos quilombolas, resolveram, permanecer na região.
Trata-se de um exemplo de uma “língua” oral transmitindo palavras que minam, arruínam, põem abaixo uma versão que claramente foi a dos vencedores e a chamada história oficial. O mesmo recalque ou superposição da história das vítimas pelo nome dos mais poderosos verificou-se estar em ação ainda hoje, ao lembrarmos da entrevista acima: Fiota demonstrou estar sentida com a troca do nome “Tabatinga”, (que lembra a ela a luta de sua mãe, ex-escrava, junto aos pioneiros que construíram o bairro), pelo outro, “Ana Rosa”, nome de uma granja situada na região, ou, acrescentemos, “Nestlé”, nome da multinacional fabricante de chocolates, adotado por alguns do bairro, julgando que assim poderiam ficar livres da conotação pejorativa que tomou o termo “Tabatinga”, ou seja, que se veriam livres de sua própria história. Ora, mesmo um rico herdeiro de um milionário poderia entregar a outrem todos os seus bens, fazer voto de pobreza, mas não ficaria livre de sua história. Podemos perder todos nossos bens, trocar de nome ou de identidade, mas mesmo assim não deixamos de ter uma história, ainda que negada ou silenciada.