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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Crônicas de um Velho Ranheta e Reaça

Está na hora de Ferreira Gullar ir para o museu. É isso que concluo, diante de suas últimas entrevistas e prêmios.

Gosto muito de seus ensaios e poemas. Foram importantes para mim. Mas a pessoa do poeta já está na hora de Deus chamar ou de entrar num museu para virar parte do patrimônio.

Leio no site dele que ganhou o prêmio Jabuti pelo livro Resmungos, crônicas escritas na Folha de S. Paulo. Ora, "resmungos"? Por que não ser mais vanguarda e escrever logo: Crônicas de um Velho Ranheta e Reaça?

Mais espantoso é o site pessoal dele, onde registra que introduziu o "pós-modernismo" em São Luís do Maranhão ao lado do ex-presidente José Sarney. Que horror. Eu teria vergonha de ter feito uma coisa dessas. Introduzir pós-modernismo junto com um poeta que escreve livros chamados "Marimbondos de Fogo". Ainda que fossem "Marimbondos de Néon", "Marimbondos Punks Aidéticos", uma coisa assim, mais pós-pós.

E haja paciência para os Resmungos. Para ele, presidente constitucionalmente eleito de Honduras é Pepe Lobo e não Zelaya. Isso me cheira podre, vindo de quem foi vítima de um golpe militar. Numa outra crônica "inteligente" sobre Guilherme Habacuc Vargas, o artista plástico que deixou morrer um cão numa instalação, Gullar fez o possível para reduzir o trabalho do artista a uma caricatura e expô-lo à execração pública. Má fé não, deixa. Assim ele faz com a luta antimanicomial e muitas outras coisas, inclusive o PT, que até faz por merecer esses resmungos. Resmungando, Gullar faz crítica de artes plásticas para destruir as artes plásticas.


Gullar diz que a lei antimanicomial foi criada pelo PT e dá a data de 2001. Ora, em 2001 o governante era o seu saudoso FHC. Quem sabe ele não se entende a respeito do assunto com Serra, ex-ministro da Saúde e agora seu candidato do coração, como foi outrora Roseana Sarney, aquela musa que anda merecedora de um poema que a chame de "monstro de olhos verdes"? Mais recentemente, o "monstro" jantou o PT do Maranhão.

Agora, me espanta profundamente a atitude dele diante da esquizofrenia dos filhos. Ele acha que isso não tem nada a ver com a sociedade e a família e isso é "doença mental". Quem sabe ele deveria reintroduzir para valer o pós-modernismo no Maranhão, agora quem sabe com a esquizoanálise deleuziana.

O que eu acho mais curioso em Gullar é que ele parte de uma geração de comunistas que foi fazer "entrismo" na Globo, nos anos 70, entrar nos aparelhos do sistema capitalista para obter a hegemonia à la Gramsci. Mas a TV Globo é que fez "entrismo" neles; ela os arrombou, devorou. Se esculhambaram, se perderam totalmente.

Mas Gullar, nada existe de mais esquizofrenizante do que a posição de esquerda na sociedade capitalista e isso Deleuze registrou muito bem: a esquerda tende à esquizofrenia, a direita à paranóia. Na verdade, Gullar não é mais esquerdista: fala em Marx, em poesia, mas suas posições são como das do velho reaça do DEMO Jorge Bornhausen. Que termo define isso melhor do esquerdofrenia?

Para quem quiser resmungar com ele, tá aí o endereço:


http://literal.terra.com.br/literal/calandra.nsf/0/DC04A0DC1539C12903257679004F96D5?OpenDocument&pub=T

Eu, pessoalmente, vou continuar lendo a obra e torcendo para que o poeta vá se arrumando para pedra.

domingo, 6 de julho de 2008

Caro Anônimo

Caro anônimo:

Roberto Schwarz acaba de abrir a FLIP dizendo que há livros que só tem o nome de seus pais (autores) em suas capas e mais nada. Mas eu, para me dirigir a você, nem sequer tenho teu nome, não é? Quem és?

Estou em tensionamento com essa tradição de escritores mineiros contadores de causo mesmo. E, de acordo com a carta que recebi do Giba e publiquei a seguir, parece-me que realmente a imagem de caipira foi vestida por Carlos Herculano para vender o livro no Jô. Não vejo problemas nisso nem o invejo. Eu não vestiria essa carapuça, afinal, vivo num meio caipira, acho respeitável, por exemplo, Guimarães Rosa, o dialeto caipira, etc. No entanto, essa carapuça no interior é lugar-comum.

Não invejo jornalistas: a maioria vive de frilas, sem carteira assinada, ou pelo menos eles se queixam de ter de mendigar frilas nesse monopólio de imprensa no País. É assim que eles falam nos bastidores. Fora os constrangimentos políticos, a censura e a autocensura, etc. Prefiro ganhar dinheiro com outras coisas e ter liberdade para ser eu mesmo como sou aqui nesse blog do que ter que "ser" o Aécio para ganhar a vida.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O Curió do Carlos Herculano Lopes

Vi a entrevista do Carlos Herculano Lopes no e não gostei muito. Papai tinha aqui O Sol nas Paredes, primeiro livro dele, de contos.

Achei que, talvez intencionalmente, frisou a imagem do mineiro como um sujeito roceiro, andando de ônibus, catando curiós para vender, vendendo um queijinho aqui, outro ali, entre um artiguinho e outro no Estado de Minas. Deu a entender que talvez ele ganhe mais com os queijos e curiós do que com as crônicas que ele agora está lançando, entre uma viagem com passageiros de pés fedorentos (parece que ele trata de chulé) e outra.

Deve fazer parte da imagem que ele quer vender. Nos anos 90, tive contato pessoal com ele a propósito do lançamento da resenha de O Ajudante, de Robert Walser, traduzido pelo Zé Pedro Antunes. Carlos Herculano sapecou o texto assim: "Chega, com cem anos de atraso ao Brasil, o texto de Robert Walser..." Zé Pedro reproduziu a resenha, mas percebendo o exagero provinciano (Walser é pouco conhecido até na Suíça) suprimiu esse intróito.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Check-List

CHECK-LIST


Veja só, parecia uma inocente listinha de supermercado. Pois saiba, sua cadela desavergonhada, que descobri os códigos secretos que você usa para se referir às suas escapadelas extra-conjugais e aos apetrechos a serem providenciados para os encontros com seu amante. Um verdadeiro dialeto cifrado, que você julgava inviolável mas que, sem grande dificuldade, consegui desvendar. Duvida? Vejamos.

FÓSFOROS
Não venha me dizer que é para acender vela para algum santo. Você sempre foi agnóstica. Só pode ser para um outro tipo de velas, aquelas de jantar romântico, que antecede o bem-bom. Nenhuma outra desculpa é válida: nosso fogão tem acendimento automático, amor.

CALDO DE CARNE
Permite mais de uma interpretação, das quais arrisco duas bastante prováveis.
Alternativa 1: você se refere a algo que auxilie sua carne dar um bom caldo, acertei? Provavelmente alguma novidade anti-celulite, que aliás você está mesmo precisando.
Alternativa 2: o referido produto é comercializado em cubos. Cubo é a terceira potência. Terceira potência mundial é a Inglaterra. Ou seja, encontro em algum bar estilo pub.

ALHO E CARÁ
Sem comentários, de tão óbvio: suprir o estoque de preservativos, certo? De outrem, pois sou vasectomizado.

CD COMPUTADOR
Mas pelo jeito você quer sem dor alguma. Não se trata do suprimento de informática, e sim de gel para práticas pouco ortodoxas.

COTONETES
Cotonete lembra ouvido, que está na cabeça, onde vai o boné, que protege do sol, que é vital para a vida na Terra, onde existem moitas pra fazer sem-vergonhice. Decifrando: hoje tem, e vai ser no meio do mato mesmo.

PILHAS
Leia-se Viagra e/ou catuaba e/ou ovo de codorna e/ou ginseng.

RODO
É odor ao contrário. Provavelmente algum produto para eliminar cheiros no quarto após a bacanal.

Pois é, querida, caem as máscaras. Disfarçada de prosaica listinha de compras, as intenções veladas de adultério e fetiche pecaminoso. Sinto-me um Champollion moderno, decifrando seu papelzinho de Roseta. Ou seria de rosetar? A diferença é que Champollion certamente teve muito mais trabalho, você foi previsível demais. É quase um passatempo desbaratar seus códigos cheios de associações imediatas, faltou sutileza e astúcia para acobertar seus afazeres sacanas. Mas a lista continua.

CHICÓRIA (5 MAÇOS), COLA TENAZ, TESOURA DE UNHA

Pegando a primeira sílaba de cada palavra, temos sua face sadomasoquista: chicote..

6 CAIXAS DE LEITE, 8 SACHÊS HIGIÊNICOS, 2 BOLACHAS MAIZENA, 7 EMBALAGENS DE OMO, 1 ATUM EM ÓLEO COMESTÍVEL, 3 QUEIJOS RALADOS, 8 LÂMPADAS 25W (por que essa luz tão fraca, heim?) 2 GOIABADAS CASCÃO

Liguei para 6827 1382 e caiu em um sex shop. O que tem a me dizer?

UMA PEÇA DE PATINHO
O pato, no caso, sou eu. A peça é o ingresso de teatro que você me deu, dizendo que tinha ganho na promoção da Rádio Difusora AM. Enquanto o patola aqui assiste à tragédia, você cai na comédia com o cafajeste.

PALHA DE AÇO
Palhaço, ou seja, eu de novo. Último item da lista. Daqui pra frente, nem isso. Inclua-me fora, da sua lista e da sua vida. Acabo de pedir uma inflável no Delivery.

© Direitos Reservados

Marcelo Sguassábia

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

João Evangelista Rodrigues: Um Poeta da Via Láxia

João é muito mais que um João. Ele é o homem de sete talentos, maior que Mário de Andrade: fotografa, faz letras, poemas, etc. Coloquei aqui o linque para seu site, Via Láxia, com fotos e poemas de boa qualidade.

João é poeta na linha de Drummond, mas não é prosador da linha de Pedro Nava e sim na de Fernando Sabino. Faz crônicas leves, mundanas, quase fúteis, como a que escreveu no Digestivo Cultural recente (www.digestivocultural.com.br). Embora não escreva na grande imprensa, João, jornalista, poeta e filósofo, tinha capacidade para tal (afinal, tem sete talentos...)

Quando o conheci, ele queria que eu fizesse um prefácio para seu livro de poemas dedicado a Arcos. Eu não fiz, pois ele já tinha encomendado um prefácio a Anelito de Oliveira (que acabou saindo como posfácio) onde ele o comparava a Marcelo Dolabela e classificava como "poeta da falação". Achei deselegante desbancar o então amigo Anelito e isso quase me custou a amizade de João Evangelista, que foi muito frio comigo quando do lançamento do livro.

Depois, para agradar João, fiz uma resenha do livro no Jornal Plenário, depois, resenha que perdi, senão reproduziria aqui. São João Evangelista não gostou muito, pois o título da resenha era "A Oeste do Contemporâneo". São João Evangelista, para tanto, soltou os dragões e, em seus textos a seguir, escreveu me respondendo indiretamente, citando Octavio Paz, poeta de posição política neoliberal que estava muito em moda, junto com Vargas Lhosa, nos anos 90.

Tempos depois, quando aviões se suicidavam destruindo torres gêmeas no Norte, nos reconciliamos e conversamos sobre Pedro Moraleida, artista plástico suicida e filho de jornalista.
João mostrava, como professor e coordenador, alguns leves traços de doidice, tais como ficar me explicando e justificando as reivindicações dos alunos ou cantar, improvisando, a partir das palavras que dizia o meu coordenador.