Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Alencar, Schwarz, Caetano
A passagem que motivo a nota foi um fragmento do livro Sonhos d´ Ouro, de José de Alencar. O primeiro passo, segundo Schwarz, é dado pela vida social e não pela literatura. A crítica de Schwarz imaginar que o Brasil é mera cópia da Europa, o que desde o tempo da colônia é equívoco. E nessa edição de 78 há citações de Gilberto Freyre, que não aceita essa idéia da cópia, que sempre frisa a excepcionalidade da mistura de raças do Brasil. A passagem de José de Alencar é a seguinte:
Tachar esses livros de confeição estrangeira é, relevem os críticos, não conhecer a sociedade fluminense, que está a faceirar-se pelas salas e ruas em atavios parisienses, falando a algemia universal, que é a língua do progresso, jargão eriçado de termos franceses, ingleses, italianos e agora também alemães. Como se lhe dá de tirar a fotografia desta sociedade, sem lhe copiar as feições?
Já a nota diz:
A situação é comparável à de Caetano Veloso cantando em inglês. Acusado pelos “nacionalistas”, responde que não foi ele quem trouxe os americanos ao Brasil. E é claro que cantando em inglês com pronúncia nortista registra um momento substancial de nossa história e imaginação (Schwarz, 1978, p. 56)
E agora, o mais engraçado: Caetano canta em inglês, no disco Transa de 1972, por exemplo, em inglês britânico, disfarçando ao máximo seu sotaque baiano. Ele sempre teve orgulho em dizer que canta e fala em inglês “sem sotaque”. E outra: ele é nordestino, não “nortista”!
sábado, 5 de julho de 2008
Abertura da Flip vira aula com leitura de Schwarz sobre Machado de Assis
LIGIA BRASLAUSKAS
Editora-geral da Folha Online
"A melhor forma de elogiar Schwarz é ler sua obra". Essa foi a frase usada por Hélio de Seixas Guimarães, professor de literatura da USP (Universidade de São Paulo) e autor de "Os Leitores de Machado de Assis", para apresentar o crítico literário Roberto Schwarz, uma das maiores sumidades em Machado de Assis (1839-1908), que fez a abertura oficial da 6ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), cujo homenageado deste ano é justamente o bruxo do Cosme Velho.
Schwarz leu texto inédito, de sua autoria, para sala lotada da Tenda dos Autores. Em suas palavras, traçou um perfil de Machado de Assis, baseado em "Dom Casmurro" (1899). A apresentação de Schwarz, didática e rica, elogiou os títulos de abertura da obra machadiana, dizendo ser "um melhor que o outro".
Para o crítico literário, o título do livro é um processo de várias etapas, como antipatia social, desfile por bairro pobre, desfile por bairro rico, homenagem a um amigo. Fez uma comparação interessante ao levantar a hipótese da troca da palavra livro por filho, explicando que isso dá à obra de Machado de Assis um outro clima, mais alto, mais quente. "Há livros (filhos) que não terão mais do que o nome de seus autores (os pais)".
Schwarz desenhou em palavras o trajeto dos temas de "Dom Casmurro", levando o público a imaginar começo, meio e fim de forma instrutiva. Comparou a loucura de que é capaz o homem em situação de ciúme, citando o feito de Otelo a Desdêmona --a tragédia "Otelo", de William Shakespeare (1564-1616)--, devido a um simples lencinho, e perguntou: "O que deveria fazer Bentinho a Capitu?", recomendando, com o questionamento, uma avaliação cuidadosa da atitude de personagem ciumento de machado.
A partir daí, Schwarz discorreu sobre a febre do ciúme, sobre classes sociais, o poder patriarcal e sugeriu três formas de leitura para o livro de Machado de Assis -uma romanesca, outra patriarcal e policial e, por fim, de efeito contra a corrente, cujo narrador é o próprio réu.
O crítico também esquadrinhou a obra sob o olhar de outros admiradores e estudiosos de Machado de Assis, delineando um perfil ricamente exposto sob diferentes formas de análises, observando o conteúdo patriarcal captado no ciúme e na truculência de Bentinho, e no conteúdo social, cumprido na doçura e beleza de Capitu. Para ele, é a postura patriarcal incrustada na sociedade exposta na obra machadiana.
Schwarz também falou sobre o início da carreira de Machado de Assis, dizendo que foi ela "muito ruim". "Os quatro primeiros livros foram muito fracos, a partir do quinto ele passa a ser genial."
Ele classificou como ousado e genial o procedimento literário de Machado de Assis de escrever na primeira pessoa do singular para escancarar o perfil "perfeito" da sociedade. "É como se imitássemos o lado ruim do outro como forma de mostrar a ele aquilo que não gostamos, simplesmente por não termos a coragem de apontar o dedo e dizer na cara dele aquilo que não nos agrada".
Questionado sobre a influência de José de Alencar na trajetória machadiana, Schwarz arrancou risos do público quando, de forma simples e direta, disse que Machado sempre reconheceu a importância da obra de Alencar, mas que a usou para mostrar ao próprio Alencar como é que se fazia a coisa direito. "Ele [Machado] mostra [em sua obra] como Alencar é bocó, e como ele [Machado]conta a história de forma boa", disse.
Quinta
Nesta quinta-feira, quem já estiver em Paraty poderá assistir a discussões em várias mesas que ocorrerem durante o dia. Os grandes destaques internacionais desta quinta são a psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco, a portuguesa Inês Pedrosa e a inglesa Zöe Heller.