Mostrando postagens com marcador Axel Honneth. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Axel Honneth. Mostrar todas as postagens

domingo, 13 de junho de 2010

Instituto de Pesquisa Bob Dylan

http://www.spiegel.de/unispiegel/studium/0,1518,514187,00.html

Mareike Knoke (Der Spiegel on line)

Tradução: Lúcio Jr.

________________________________________________________________________________

Axel Honneth, sucessor de Habermas e presidente da Escola de Frankfurt, vê em Bob Dylan alguém do Novo Mundo que o completa. Honneth fala sobre um congresso e um livro a respeito da lenda do folk-rock, para ele, um “filósofo da liberdade”.

“Quem? Bob Dylan?” Era comum que os colegas da Escola de Frankfurt perguntassem assim a Honneth, para irritá-lo, quando ele manifestava suas preferências musicais. Então, de todos os lugares do mundo, passou a vir a pergunta, duvidando se era verdade que o aluno de Habermas e representante da Escola de Frankfurt estava realmente fazendo um congresso internacional sobre o cantor de folk-rock norte-americano. E, na primavera de 2006, ocorreu o primeiro congresso, chamado “Bringing it all back home”. O encerramento foi em grande estilo: teve direito a uma banda e Honneth compareceu a cárater, ou seja, vestido com seu casaco de couro preto.

“Por que não”? Pergunta Honneth, recuando um pouco e fazendo um gesto de incompreensão. “Bob Dylan, sim, respondo. Sempre tive interesse em Bob Dylan e o sinto ligado ao campo filosófico.” Esse contemporâneo de Dylan, nascido em Essen em 1949, apenas oito depois do nascimento de Dylan em Minnesota, explica porque se opõe a Adorno e Horkheimer a respeito: “No tempo de Adorno existia um grande abismo entre a cultura popular e a alta cultura, especialmente a estética sofria com essa ruptura. Agora isso foi superado.”

Em Bob Dylan”, continua Honneth com um ar amável e calmo, “existem articulações entre crítica social e a canção onde convergem temas com os quais lidei em meu próprio trabalho”. Honneth enfatiza sua fala enquanto aponta o dedo ao livro que escreveu sobre Dylan. O filósofo alemão ressaltou que conferiu um justo reconhecimento que a canção popular contendo crítica social ainda não tinha tido e também saudou a saudável intertextualidade do Congresso “Bringing it All Back Home.”

O Filósofo Bob Dylan

“Heresia, profanação” são os sentimentos que a atitude de Honneth provoca em alguns colegas, mas ele segue adiante, levando mais longe seu gesto, escrevendo sobre o próprio Bob Dylan enquanto filósofo. No congresso sobre Dylan, Dr. Susan Neimer pontificou sobre a filosofia moral, enquanto Dr. Diedrich Diederichsen realizou uma preleção sobre Cultura Pop e o Dr.Gunten Amen discorreu sobre Sexo e Drogas. “Nos Estados Unidos isso não é incomum”, diz Honneth. “No entanto, aqui ainda parece a alguns impensável dizer que uma canção como Blowin´ in the Wind possua uma aplicação prática da filosofia e seja, inclusive, um clássico.”

Em seu livro lançado em setembro de 2007, O Jovem Dylan: Canções com Conteúdo Filosófico, Honneth cita abundantemente as canções de Dylan, esclarecendo seus pontos de vista sobre o trabalho do cantor com notável familiaridade (Honneth é fã de Dylan desde os dezesseis anos). Analisando-o enquanto filósofo prático, Honneth encontra em Dylan temas como a justiça, a sociedade e o reconhecimento, presentes também em Adorno, Horkheimer e Habermas.

Em 1992, Honneth escreveu sua tese sobre a “Luta pelo Reconhecimento: Gramática Moral dos Conflitos Sociais”, tendo obtido grande reconhecimento internacional e sido convidado a ir como professor visitante do Instituto de Pesquisa Social Theodore Geuss em New York. Originalmente, esse Instituto de Pesquisa Social era ligado à Universidade de Colúmbia e Adorno e Horkheimer obtiveram nele um forte apoio para seus trabalhos criticando a Alemanha nazista. Hoje, Honneth sente-se em casa nos Estados Unidos.

O filósofo nascido na região industrial do rio Ruhr possui também em comum com o artista uma origem humilde, tendo ambos sempre criticado os ricos. Tendo passado a infância em reformatórios, mandado pela mãe pobre e sempre sem dinheiro, Honneth viveu na pele os dramas do não-reconhecimento e a desvantagem social. “Olhar o colega e ter vergonha de si mesmo é uma situação familiar a nós, que nos revolta: ao rico é garantida a riqueza e as posses, enquanto somos condenados à pobreza.”

Transitando Entre Vários Campos de Atuação

Honneth, assim como Dylan, não teve uma militância política na juventude. Honneth chegou a ser participar durante três meses da juventude socialista, ao entrar em Bochum para estudar Filosofia e Sociologia. “Em três meses, no ano de 1969, passei de simpatizante da juventude socialista para a condição de pesquisador dentro da conservadora universidade de Bonn”, diz hoje Honneth com um brilho satisfeito nos olhos ao falar desse tempo, época em que também completou uma graduação em Direito em Berlim pouco depois. “Ali, nessa época, passei de confiante revolucionário a cético.” Honneth chegou a participar de greves em Berlim, mas sempre preferiu não participar diretamente de grupos partidários, uma vez que para criar o equilíbrio entre reflexão profunda e compromisso político dentro de uma obra é preciso uma postura distanciada.

Nessa época, estreitou o contato com autores como Adorno e Habermas, que foi promovido por Cristian Menke, ex-professor de Ética/Estética de Honneth em Potsdam: “eu promovi leituras de Adorno, inclusive um colóquio com Habermas, no qual Honneth conheceu o mestre, ao lado de quem deu-se tão bem que acabou sucedendo no cargo de presidente do Instituto de Pesquisa Social”, comentou satisfeito o professor Menke.

Fantasma de Adorno

Para Menke, Honneth é o grande representante da Teoria Crítica surgido após Habermas. “Ele é um pensador com conceitos próprios, emancipou-se de Habermas”, comenta Menke. Em 1996, Habermas passou a condução dos seus seminários no Instituto a Honneth. “Foi um momento muito assustador para mim, pois era enorme responsabilidade”. De um jeito ou de outro, parece que os fantasmas de Adorno e de Horkheimer ainda pairam por ali. O medo era sem fundamento, e de fato ele veio a suceder Habermas no cargo em 2001. A preocupação foi sem razão. Honneth é carismático, competente como cientista e com uma formação sólida, e, assim como Habermas antes dele, Honneth desde rapaz demonstra “cândida tolerância diante das opiniões dos outros”, como confirma, entusiasmado, seu assistente Dr. Rahel Jaeggi, “ele é aquilo mesmo que mostra aos outros, procura fazer com que cada um desperte o que tem de melhor”, completa o discípulo.

Para Honneth, “um jovem não pode se deixar levar por mestres e gurus, principalmente de forma acrítica. Um mestre que pede que o jovem o aceite sem críticas fará o discípulo voltar-se contra ele”, afirma. Aqui, mais um paralelo com Bob Dylan: desse mal, o músico nunca sofreu: Dylan também exige constantemente dos fãs e seguidores muito espírito crítico.

domingo, 6 de julho de 2008

Carta Sobre Honneth

Olá Lucio...

Encontrar justificativas em Honneth para as cotas não significa necessariamente que ele tenha idealizado a proposta ou que seja o autor a partir do qual se concebeu a proposta.

Aliás, a questão das cotas é independente, em sua formulação, à proposta das ações afirmativas.

As ações afirmativas não se dão necessariamente pelas cotas "étnicas", que é um expediente que muitos partidários das ações rejeitam.

Já a a tese das cotas nasce em outro momento, embora por vezes tenha convergido com as ações afirmativas.

O melhor exemplo é o estímulo às cotas de emprego para deficientes em empresas públicas e para mulheres nos partidos brasileiros.

Pode-se atribuir a Rawls não as cotas, mas o embasamento conceitual para as ações afirmativas (ou compensatórias).

Aliás, no Brasil, a aversão às cotas não é universal. As cotas étnicas são mal recebidas, mas as cotas sociais em universidades contam com a simpatia até da centro-direita.

Evidentemente, a questão das "cotas étnicas" acabou sendo o bode na sala para que as cotas sociais fossem mais simpáticas aos opositores.

Sem uma, nem se discutiria a outra.

Lucio
escreveu:
De: Lucio
Assunto: Honneth e as Cotas
Para: wedenn@yahoo.com.br
Data: Sexta-feira, 4 de Julho de 2008, 13:45

Oi, Wedenn, posso estar até equivocado, mas o fato é que Honneth vem sido
lido assim, encontrei uma dissertação a respeito.
Eu acho que pode se depreender da análise dele a necessidade de políticas
públicas de reconhecimento, tal como as ações
afirmativas.
Se efetivamente o reconhecimento é o cerne das lutas sociais, sendo ele
negado a alguns grupos ou indivíduos, pode se depreender políticas como as
cotas, não?
Honneth é crítico de Habermas em vários pontos, portanto pode não ser
incompatível com Rawls.

Abraços do Lúcio Jr.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Axel Honneth escreverá um livro sobre Bob Dylan, Um Filósofo da Liberdade

BOB-DYLAN-FORSCHUNG

Auf Songwriters Spuren

Von Mareike Knoke

Habermas-Nachfolger Axel Honneth lebt in einer völlig anderen Welt als Bob Dylan. Dennoch rief der Frankfurter Sozialphilosoph zu einem Dylan-Kongress und veröffentlichte dazu ein Buch - für Honneth ist die Folk- und Rock-Legende ein Philosoph der Freiheit.

ANZEIGE

Bob Dylan? Einige Kollegen waren, gelinde gesagt, irritiert, als sie von seinem Vorhaben hörten. Wie, um alles in der Welt, kam der Sozialphilosoph und Habermas-Schüler Prof. Dr. Axel Honneth, Lehrstuhlinhalber und geschäftsführender Direktor am weltberühmten Frankfurter Institut für Sozialforschung, auf die Idee, dem US-amerikanischen Folk- und Rocksänger einen Kongress zu widmen? Und nicht nur das: Die Früchte dieses internationalen Meetings im Mai 2006 an der Universität Frankfurt sind seit Ende Oktober in einem von Honneth mitherausgegebenen Band schwarz auf weiß zu genießen: "Bringing It All Back Home – Internationaler Bob Dylan-Kongress".

Der junge Dylan (1969): Songs mit philosophischem Gehalt
Zur Großansicht
AP

Der junge Dylan (1969): Songs mit philosophischem Gehalt

Warum denn nicht?, fragt Axel Honneth gelassen zurück. "Mich hat immer interessiert, herauszufinden, ob meine Faszination für die Musik von Bob Dylan auch irgendetwas mit meinen philosophischen Interessen zu tun haben könnte." Diese Frage kann der 1949 in Essen Geborene – also fast noch ein Altersgenosse von Dylan, geboren 1941 in Duluth, Minnesota – inzwischen mit "Ja" beantworten. Wohl auch deshalb, sagt Honneth, "weil ich schon immer – im Gegensatz zu Adorno und Horkheimer – der Ansicht war, dass die Kluft zwischen Populärkultur und ernster ästhetischer Kultur so groß gar nicht ist, auf jeden Fall aber überwindbar."

"Auch bei Bob Dylan", fährt Honneth nachdenklich fort, "geht es um die Artikulation von verschiedenen, sich ausschließenden Freiheitsbegriffen. Das berührt eng meine eigene philosophische Arbeit." Kritiker bescheinigen Bob Dylan stets, dass die sozialkritischen Liedertexte auf seinen 60er-Jahre-Alben wie "Bringing It All Back Home" – das dem Kongress den Namen gab – eine Komplexität und literarische Qualität erreichten, die es bis dahin in der Populärmusik nicht gegeben hatte. Interessant genug, scheint es, für den interdisziplinären sozialwissenschaftlichen Kongress.

Dylan als Philosoph

Als Kongressteilnehmer und Mitherausgeber für den nun erscheinenden Dylan-Band konnte Honneth namhafte internationale Kollegen und Experten gewinnen: unter anderem Prof. Dr. Susan Neiman (Moralphilosophie), Prof. Diedrich Diederichsen (Popkultur) und Dr. Günter Amendt (Sex und Drogen). In den USA, sagt Honneth, sei es nichts Ungewöhnliches, Dylans Songtexten praktischen philosophischen Gehalt zuzubilligen und sich mit Klassikern wie "Blowin‘ in the Wind" ernsthaft auseinanderzusetzen.

GEFUNDEN IN...

duz
Das unabhängige Hochschulmagazin
Heft 10/2007
"Dort gibt es sogar Werke der philosophischen Fachliteratur, die, wo es passend erscheint, Zitate aus Dylans Texten als Motto voranstellen", sagt Honneth. Dass auch er keine Berühungsängste hat, wirft ein freundliches Licht auf ihn. Aus ihm spricht jedoch nicht nur der begeisterte Bob-Dylan-Fan, der er seit seinem 16. Lebensjahr ist, sondern der Praktische Philosoph, der sich in seiner Arbeit mit den Phänomen der Gesellschaft, mit Gerechtigkeit und Anerkennung beschäftigt. Und die Tradition der Kritischen Theorie der Frankfurter Schule von Theodor W. Adorno-Max Horkheimer-Jürgen Habermas weiterführt.

1992 veröffentlichte Honneth als Habilitationschrift das viel beachtete Werk "Kampf um Anerkennung. Zur moralischen Grammatik sozialer Konflikte". Eine von etlichen Publikationen, die international große Anerkennung fanden und ihm unter anderem 1995 die renommierte Theodor-Heuss-Gastprofessur am Institute for Social Research an der New School in New York eintrugen. Das Institut war 1933 von Max Horkheimer ursprünglich an der Columbia University gegründet worden und war Anziehungspunkt der aus dem Nazi-Deutschland geflüchteten Wissenschaftler. Noch heute fühlt man sich dort der Frankfurter Schule eng verbunden.

Einer Einsortierung in irgendwelche Schulen oder gar Zeitgeistschubladen, so Honneth, habe sich Bob Dylan immer gerne entzogen. An diesem Punkt – Honneth leugnet es nicht – gibt es Parallelen zur Biografie des Arztsohnes aus dem Ruhrgebiet. Seine Eltern schickten ihn auf ein Reformgymnasium, wo er die Schulbank gemeinsam mit Arbeiterkindern drückte – soziale Benachteiligung und den Wunsch nach Anerkennung erlebte er also hautnah mit. Axel Honneth erinnert sich: "Meine Mitschüler und ich schämten uns wechselseitig voreinander. Die einen für ihren Reichtum, die anderen für ihre Armut."

Zwischen den Lagern

Wie der junge Dylan wollte sich auch der junge Honneth während seiner Studienzeit und der Jahre als junger Nachwuchswissenschaftler nie für politische Strömungen oder Lager ganz und gar vereinnahmen lassen. In Bonn hat er sein Studium 1969 begonnen: Philosophie, Soziologie und Germanistik. Doch schon nach drei Semestern flüchtete der bekennende Jungsozialist von der "damals erzkonservativen" Bonner Uni an die neu gegründete Ruhr-Universität Bochum und promovierte später an der Freien Universität Berlin.

"Den ausgeprägten revolutionären Tendenzen meiner Kommilitonen dort stand ich allerdings eher skeptisch gegenüber", sagt er heute rückblickend. Das machte seine Zeit als wissenschaftlicher Assistent "zum Balanceakt zwischen politischem Engagement und gleichzeitiger Distanz zu irgendwelchen wilden studentischen Splittergruppen".

Damals kam Honneth auch erstmals in Kontakt mit Prof. Dr. Jürgen Habermas, der den überraschten Promovenden anrief und dessen wissenschaftlichen Aufsatz lobte. Honneth lacht bei der Erinnerung daran. "Ich war glücklich, aber auch ein wenig eingeschüchtert. Und hätte natürlich jeden für verrückt erklärt, der mir damals gesagt hätte, ich würde eines Tages Habermas auf seinen Lehrstuhl für Sozialphilosophie folgen." Zunächst aber folgte Honneth dem "Meister" ans Max-Planck-Institut für Sozialwissenschaften nach Starnberg und wurde dann sein Assistent an der Uni Frankfurt.

An diese Zeit erinnert sich auch Honneths Weggefährte Prof. Dr. Christoph Menke, Professor für Ethik/Ästethik an der Universität Potsdam: "Ich promovierte über Adorno und vertrat Ansichten, die Jürgen Habermas ziemlich verärgerten. Und Habermas konnte ja leicht aufbrausen. Axel Honneth hat damals in dem Kolloquim die Wogen geglättet und meine Thesen verteidigt." Man hört Menke heute noch an, wie dankbar er Honneth damals dafür war. Ein kleines Ereignis nur, aber für Christoph Menke sagte es viel über Axel Honneths Persönlichkeit aus – als Wissenschaftler und als Mensch.

Adornos Geist

Für Menke ist Honneth "nach Jürgen Habermas sicherlich der international bedeutendste lebende Vertreter der Kritischen Theorie." Und das wohl auch deshalb, weil Honneth sich früh von Habermas emanzipierte, auch inhaltlich. In den neunziger Jahren nahm er zunächst eine Professur in Konstanz an, wechselte dann aber an einen Lehrstuhl für Politische Theorie an die FU Berlin.

1996 kam das Angebot, Habermas Nachfolge anzutreten. "Einen Augenblick lang habe ich gezögert. Ich hatte natürlich großen Respekt vor dem Erbe, das in Frankfurt auf mir lasten würde", gibt Honneth zu. Und vor dem Ort, an dem die Geister von Adorno und Horkheimer immer noch durch die Gänge und Seminarräume zu huschen scheinen. Die Angst war unbegründet. Seit 2001 ist er Institutsdirektor und besitzt, abgesehen vom wissenschaftlichen Format, genug Charisma, um den Platz auszufüllen. Und er zieht, so wie vor ihm Habermas, quicklebendige junge Nachwuchswissenschaftler aus aller Welt an. Sie schätzen seinen interdisziplinären Ansatz in der Forschung - "und seine Offenheit und Toleranz gegenüber anderen Meinungen", schwärmt Honneths Assistentin Dr. Rahel Jaeggi, die auch bei ihm promovierte und ihm von Berlin nach Frankfurt folgte. "Ich hätte es nicht besser treffen können: Er ist da, wenn man ihn braucht. Lässt einen aber ansonsten eigene Wege gehen."

Denn eines, sagt Honneth, will er ganz bestimmt nicht sein: "Ein Guru, der kritiklose Jünger um sich schart." Und trotz biografischer Parallelen zu Bob Dylan: Dessen Starallüren teilt er nicht.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Entrevista com Axel Honneth na Folha

MARCOS NOBRE

LUIZ REPA

ESPECIAL PARA A FOLHA

Figura mais destacada do que pode ser chamada a "terceira geração" da Escola de Frankfurt, Axel Honneth chega na segunda a São Paulo para lançar o livro "Luta por Reconhecimento - A Gramática Moral dos Conflitos Sociais" (Editora 34). Honneth participa, em seguida, de debate sobre sua "Teoria do Reconhecimento", no Instituto Goethe.

Honneth dirige o Instituto de Pesquisa Social, instituição fundada por intelectuais de esquerda nos anos 20 e que daria guarida aos pensadores frankfurtianos (entre eles Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Erich Fromm), que procuraram repensar as contribuições da filosofia alemã, de Marx e da psicanálise, a fim de estudar e criticar o capitalismo no século 20.

Foi assistente de Jürgen Habermas, o filósofo frankfurtiano da "segunda geração", entre 1984 e 1990. Honneth, que nasceu em 1949, hoje dá aulas de filosofia social na Universidade Johann Wolfgang Goethe de Frankfurt. Entre seus principais trabalhos, estão "Kritik der Macht. Reflexionsstufen einer kritischen Gesellschaftstheorie" (Crítica do poder. Estágios de reflexão de uma teoria social crítica) e "Luta por Reconhecimento. A Gramática Moral dos Conflitos Sociais" (92). No dia 14, Honneth faz conferência no Ciclo Adorno, também no Goethe, e, no dia 15, fala na Universidade Federal do Rio.

Na entrevista a seguir, Honneth fala sobre a "Teoria do Reconhecimento" e faz uma crítica aos pensadores de Frankfurt.

Folha - No livro "Crítica do Poder" o sr. fala de um "déficit sociológico" da Teoria Crítica. O que é essa deficiência em Adorno, Horkheimer, Habermas e Foucault?

Axel Honneth - Minha crítica de que os projetos clássicos da Teoria Crítica, chegando a Foucault, apresentam um déficit sociológico, possui uma rota de choque diferente em cada caso. Em relação a Adorno e Horkheimer, continuo convencido de que suas teorias da sociedade subestimam o sentido próprio do mundo da vida social. Eles não atribuem às normas morais nem às operações interpretativas dos sujeitos papel essencial na reprodução da sociedade. Ambos tendem a um funcionalismo marxista: a socialização, a integração cultural e o controle jurídico possuem meras funções para a imposição do imperativo capitalista da valorização.

Em Habermas isso é diferente. Ele parte justamente da racionalidade comunicativa do mundo da vida social. Por isso eu vejo o seu déficit sociológico inscrito na tendência a subestimar em todas as ordens sociais o seu caráter determinado por conflitos e negociações. Foucault, finalmente, tende a um déficit sociológico porque ele abandona a intuição central de Durkheim, segundo a qual toda ordem de poder carece do assentimento normativo dos membros da sociedade na forma de um consenso. Essas distintas versões de um déficit sociológico na tradição da Teoria Crítica da sociedade só podem ser superadas quando se coloca no centro da vida social um conflito insolúvel por reconhecimento. Assim, o consenso moral e a luta social podem ser considerados estágios diferentes no processo de reprodução dos mundos da vida sociais.

Folha - Para o sr., o teórico crítico tem de possuir um ancoramento na sociedade, onde se buscam os elementos normativos que dão vida e sentido crítico à teoria. Esse ancoramento pode dispensar uma análise do capitalismo, visto que tal análise em sentido estrito não está em "Luta por Reconhecimento"?

Honneth - Não, não creio. Parto do princípio de que a crítica social só pode se ligar de maneira imanente às exigências morais e às experiências de injustiça em uma situação dada quando ela é capaz de analisar a gênese e o lugar delas no quadro de uma análise abrangente da sociedade. E para tal análise eu não vejo ainda nenhum ponto de partida melhor do que uma teoria que comece pelo estado social definido por uma prioridade estrutural dos imperativos capitalistas de valorização.

Folha - O sr. distingue três dimensões do reconhecimento: "amor", "direito" e "solidariedade". Elas possibilitam aos sujeitos, respectivamente, a autoconfiança, o auto-respeito e a auto-estima. A relação entre essas dimensões seria de subordinação ou de coordenação? Poderia haver um conflito entre a esfera do direito e a da solidariedade, ligada aos valores de uma determinada sociedade?

Honneth - A questão aborda dois problemas diferentes, que vou tentar responder em separado. Primeiro a questão de qual espécie de ordem genética ou lexical existe entre as distintas esferas de reconhecimento. Existe, a meu ver, uma primazia genética da primeira forma de relação de reconhecimento, isto é, da autoconfiança possibilitada pelo amor e pela assistência. Sem a experiência dessa forma de reconhecimento, nenhum sujeito poderia constituir uma identidade estável e uma personalidade intacta. No entanto, outra coisa se passa com a ordem "lexical". Eu afirmaria, pelo menos para as sociedades modernas, uma primazia da relação jurídica de reconhecimento. Ela, a princípio, exorta todos os sujeitos, de maneira igual, ao respeito mútuo e, por isso, possui a maior força de inclusão.

Sobre o segundo aspecto da questão, pode-se dizer que tanto da perspectiva do sujeito quanto da perspectiva da sociedade, são possíveis conflitos entre as exigências morais das diversas relações de reconhecimento. Eles só podem ser solucionados privilegiando-se as relações jurídicas.

Folha - O sr. teve uma discussão com a filósofa americana Nancy Fraser. Para ela, é preciso complementar o conceito de reconhecimento com o de redistribuição, proposta que o sr. rejeitou porque as questões de justiça distributiva seriam tratadas melhor no quadro da Teoria do Reconhecimento. Qual é o seu balanço a respeito?

Honneth - Nas questões normativas concordamos em mais coisas do que era claro de início. Nós dois entendemos que o objetivo da justiça social é possibilitar uma participação de todos os membros da sociedade no processo comunicativo da vida da sociedade. Contudo cada um de nós soletra essas condições de maneira diversa. Eu, com os conceitos de uma teoria do reconhecimento; Nancy Fraser, com uma teoria da participação. Em relação à questão central, redistribuição ou reconhecimento, a diferença consiste em que eu vejo somente a possibilidade de justificar as finalidades da redistribuição com as categorias do reconhecimento social.

Folha - Como o sr. avalia o estado atual dos estudos sobre Adorno?

Honneth - No começo do Congresso Internacional Adorno deste ano, eu havia chamado a atenção para aquilo em que residia a diferença essencial na recepção de Adorno entre 1983 e 2003. A conferência de 20 anos atrás se apoiava em uma discussão viva sobre Adorno, que no entanto não recebeu nenhum suporte por parte da elite política. Neste ano aconteceu o contrário. Quase não existe mais uma discussão viva, fecunda também em termos acadêmicos, com a obra de Adorno. Por outro lado, sua pessoa foi eleita praticamente como o superego moral da nação por parte da esfera pública política e midiática. Nesse sentido eu tive de fazer a difícil tentativa de realçar, justamente em tempos de indiferença acadêmica, o potencial teórico da obra de Adorno.

Folha - Quais as linhas de pesquisa que estão sendo desenvolvidas no Instituto de Pesquisa Social?

Honneth - Tenho seguido o programa de uma ampliação interdisciplinar das perspectivas de pesquisa. Investigamos os processos de transformação que eu gostaria de compreender como "paradoxos da modernização capitalista", incluindo a psicanálise, a sociologia do direito e a história econômica.

--------------------------------------------------------------------------------

Marcos Nobre é professor de filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap; entre outros livros, publicou "A Dialética Negativa de Theodor W. Adorno" (ed. Iluminuras/Fapesp)