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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Autocrítica de um Condenado da Terra

AUTOCRÍTICA DE UM CONDENADO DA TERRA

Por Glauber Rocha - Texto original em francês, traduzido por Anita Leandro

I. José Marti, Che Guevara, Frantz Fanon são intelectuais revolucionários do terceiro mundo. Os condenados da terra explodem depois do proletariado em 1917. A Rússia destruiu Napoleão, o czarismo, o capitalismo, Hitler. Depois da desagregação do império inglês, Fidel apareceu para destruir o imperialismo norte-americano. Fidel, o homem mais poderoso do mundo (força, beleza, inteligência, cultura, erotismo, o destruidor de Hollywood / CIA, comedor de mitos da lost generation etc / um homem mais que Errol Flynn / Hemingway / John Wayne / Fidel Castro e Che Guevara contra John, Bob e Teddy Kennedy, etc.) não recebeu lições de Marxismo, Leninismo, Trotzkismo, Stalinismo, Maoismo, etc. Fidel, absolutamente liberado, faz sempre sua autocrítica comunizando seu mito com o povo. Ele não é um Deus. O povo Cubano o chama amorosamente El Caballo. Ele é a violência e o amor. Os dois maiores escritores hispano-americanos são José Marti e Alejo Carpentier. “O Século das Luzes”. Cuba entra na guerra de Angola com a liberdade revolucionária tri-continental. Che Guevara, dividido entre o Cristo Selvagem e o Marx / Engels / Trotzky, não morreu num foco na Bolívia.

A Cultura Terceiro- Mundista explode nos anos 60. Os intelectuais burgueses mais velhos tremem diante da Revolução Cubana. As novas gerações são os filhos de Fidel / de Che / De Sartre, que escreveu “L'Ouragan sur Cuba” sem ter entendido Marti e Carpentier.

Fidel e Che se tornaram objetos da crítica materialista européia e vários intelectuais de vanguarda se deslocam para tentar decifrar a nova mitologia tropical. Guerras de independência, Tupac Amaru, Simon Bolivar, Toussaint Louverture, Revolução Mexicana, A Coluna Prestes, Golpes, Guerrilhas, intervenções – Fidel e Che entram no bordel tropicalista num iate com alguns companheiros e fazem uma revolução Socialista – intervenções, Fidel e Che entram no saloon tropicalista e fazem uma revolução socialista diante do Pentágono. O filósofo é um profeta, Lênin pôs em prática o sujeito de Marx / Engels. MAO - Deus oriental, reconhece o materialismo marxista-leninista. Também Fidel, que não era previsto por Lênin. O materialismo supera o tribalismo.

Angola demonstra que a razão está com Frantz Fanon e não com Jacques Lacan. O colonizador é cada vez mais aterrorizado pela metralhização dos Condenados da Terra. Loin du Vietnam.

O Mundo não acabará com o apocalipse atômico. Angola paga o mesmo preço que o Haiti, último QUILOMBO, mercado de escravos. O presidente do Brasil, Ernesto Geisel, reconheceu o MPLA.

II. - Fernando Pessoa era um poeta português de quatro cabeças. Fascista e revolucionário. Dom Sebastião e Luiz de Camões. Portugal descobriu o Brasil, o país mais belo, mais rico da terra, o underground dos ESTADOS UNIDOS. Eu sou baiano, meu povo veio de Angola e na Bahia eles criaram a dança guerreira Capoeira de Angola, mas existem também os galos guerreiros de Angola e etc. “O Leão de 7 Cabeças”, 1970, rodado no Congo, Brazzaville, e “Cabeças Cortadas”, 1970, rodado em Barcelona, e Claro, 1975, rodado em Roma: o cineasta colonizado destrói o núcleo do cinema colonizador, esquerdista, pequeno-burguês, mesquinho, ilusionista, fascista, machista, oportunista, capitalista da nouvelle vague de GAULLE: Jean-Luc Godard.

EU VOMITO GODARD NA CAMA DE LANGLOIS E MARIE MERSON.

Jean-Louis Comolli projeta seu sonho anarquysta no Brasil do Cinema Novo, mas ele filma o Maio de 68 na Roma retrô. O filme é lançado com a opinião favorável da crítica. O desmazelo de Cahiers du Cinéma, os filhos da nouvelle vague são Edoardo de Gregorio, André Techiné, Comolli (Garrel off). Regressão. Nenhum grande cineasta francês está no PCF. Godard, depois do maoísmo dziga-vertovista, virou pesquisador. Agora ele tem uma câmera de vários olhos da CIA. Nós não precisamos disso. O Cinema Novo veio para destruir Hollywood e a Nouvelle Vague. Godard disse várias vezes que a Mosfilm e Hollywood eram a mesma coisa. Depois da existencialista Karina, a materialista Wiazemsky. E o anar-mao Gorin. Depois de Número 2, o funeral da Nouvelle Vague. Pier Paolo Pasolini disse: eu exploro o cu do sub-proletariado masculino. Eu fui morto por isso! A Nouvelle Vague explora as mulheres. Paris é o maior bordel do mundo. A prostituição audiovisual. CU e POLÍTICA, eis aí a última questão dos intelectuais colonizadores que controlam o poder cinematográfico. Godard, surpreendido por Solanas, tentou comer o Cinema Novo dizendo (com o grupo Dziga Vertov): Glauber Rocha é um cineasta progressista. Ele disse também que o cinema cubano era imperialista. Em 1969, Godard vem me ver na casa de Gorin e me diz, como se ele fosse o chefe de uma revolução (ele dava uma de Trotzky traído): é preciso destruir o cinema!! É, Jean-Luc, é preciso destruir o Cinema Novo.

TERRA EM TRANSE tinha sido rodado em 1966, antes de Régis Debray. Desde a primeira leitura, eu achava “La Révolution dans larévolution” um livro provocador e dogmático, colonizador, Victor Hugo se fazendo passar por filho de André Malraux.

O Cinema Novo, o Cine Solanas / Gettino / Cine Cubano / Cine Allende / Cine Torre / Cine Mexicano / Cine Afro-árabe. O cinema é a principal arma ilusionista do colonizador. O poder infinito desse meio de materialização dialética da História (Eisenstein) é a luz do Terceiro Mundo. CORISCO É CHE GUEVARA!! ANTÔNIO DAS MORTES É FIDEL CASTRO. PAULO MARTINS É CHE GUEVARA, FIDEL CORTA AS 7 CABEÇAS DO LEÃO IMPERIALISTA EM PORTUGAL, ESPANHA, ANGOLA....... Críticos franceses já trataram “Claro” de "filme imprecatório ...." "...cometido em Roma..." etc.

III – Nenhum crítico europeu tomou conhecimento da situação política do Brasil. Os antropólogos estruturalistas têm medo da tradição antropofágica brasileira.

Lévi Strauss chama seu livro de “Os Tristes Trópicos”. Ele sim, é um homem triste. Não os tropicalistas. Não Oswald de Andrade. Alguns críticos se tornaram especialistas em Cinema Terceiromundista. Depois do Brasil, Chile, Argentina, Peru, México, a História sempre contra as teorias revolucionárias da esquerda colonizadora.

Árabes, asiáticos, africanos, são os condenados da terra. O colonizado, lembra Fanon, quer sempre estar no lugar do colonizador. A cultura produzida pelo colonizador não tem nenhuma utilidade para o colonizado. O esfomeado fala uma outra linguagem. Eisenstein foi comido no México. Artaud, Trotzky, o Eldorado não existe. Tragédia. O colonizado não mostrará ao colonizador a rota do Eldorado. Há séculos o colonizador tortura, mata, procura a via. Lévi Strauss passou a metade da vida lá, mas ele não teve a coragem de deixar ser comido.

A Academia Colonizadora é mais confortável. A França é um país pobre disfarçado com belezas notórias e um erotismo sexy-tradicional . É um país pobre, sem colônias, desemprego, imperialismo em crise, o terceiro mundo está no Champs Elysées.

A Revolução virá da Itália, a Renascença, porque a Itália é a cabeça do Terceiro Mundo, que come os bárbaros europeus. O imperialismo reflete diante dos condenados da terra. É por isso que a terra não será destruída pela bomba atômica, porque o materialismo é criador. Humanista.

Depois da Angola, haverá outras guerras coloniais mas a desagregação imperialista será mais rápida e nem a União Soviética, nem a China, nem os Estados Unidos não quererão mais Guerras.

IV – Diante de uma situação onde os homens começam a compreender que a violência não é um método humanista, é preciso ser otimista. O planeta é pequeno, pobre, ainda subdesenvolvido, os processos revolucionários são contraditórios, fim de século, morte da barbárie, nascimento da civilização.

GLAUBER ROCHA

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Carta de Costa Lima (II)

Caro Lúcio

Não posso lhe enviar nenhum trecho para seu blog simplesmente porque não
tenho meus textos já publicados no computador e não tenho ... Esqueci o nome
(aquela maquininha que transcreve páginas escritas para o computador). De
todo modo, meu livro inteiro sobre Euclides, Terra ignota. A descontruição
de Os Sertões, Civilização Brasileira (creio que de 1998), absolutamente não
está esgotado. Muito menos, acrescento, o Mímesis e modernidade, reeditado
pela Paz e Terra.
Com o agradecimento de Luiz Costa Lima
N.b.1. Vejo pelo e-m anterior que esqueci a referência sobre Said. É (ou
era) uma pessoa que eu admirava por suas posições políticas, sem bajulação
ao chefe-mor, naquele momento, Arafat. Mas nunca foi um crítico de ponta.
Quando falo em amadorismo dos estudos culturais refiro-me aos atos de
montagem de literatura com qq outra coisa. Há alguns meses um colega baiano
me contava haver sido procurado por alguém que queria sua orientação em Lit..
Brasileira, fazendo um estudo sobre cultos africanos no romance de Jorge
Amado. O informante me dizia haver perguntado se a figura tinha algum
conhecimento antropológico sobre o tema - afinal, estavam na Bahia. Que o
rapaz respondeu espantado que não, que conhecia sim os romances de J. Amado..
2. Em troca da falta de textos que pudesse lhe transferir, posso lhe enviar,
para seu conhecimento, os excertos de uma revista australiana, chamada
Crossroads, que prepara um número especial sobre minha obra - reduzida ao
que há em inglês. Se quiser, basta me dizer.
Com o abraço de Luiz CL


On 5/16/08 2:20 AM, "Lucio" wrote:

>
> Caro professor Costa Lima:
>
>
> Em primeiro, muitíssimo obrigado pelo diálogo compreensivo e atento. Essa
> resenha tem mais problemas que esses, provavelmente, pois não foi aceita em
> revista alguma na Web e por isso acabei publicando-a aqui em meu blog,
> afinal, os blogs são o final da gaveta e do arquivo morto, além de serem o
> novo "mimeógrafo" dos poetas.
> É muito bom saber que o diálogo tem esse deslocamento do enfoque desde os
> anos 80 (afinal, essa foi uma suposição, apenas).
> Interesso-me por Homi Bhabha, mas penso que ele mistura posições advindas de
> Franz Fanon, uma linha de pensamento muito ligada à descolonização da África
> e da Ásia nos anos 60 e 70, com desdobramentos do pensamento de Nietzsche e
> Heidegger (Derrida e outros). A fusão às vezes fica meio frouxa.
> Sobre Euclides, realmente não sabia com clareza sua posição (seus livros
> anteriores estão esgotados e difíceis de achar!). Se quiser me enviar um
> capítulo ou passagem de alguns deles para que eu divulgue em meu blog, eu
> ficaria infinitamente grato.
>
> Obrigado mais uma vez,
> abraços do Lúcio Jr.
>