Desde que presenciei, em um supermercado de Juiz de Fora, uma mãe corrigindo sua filhinha ("Não é ´pûr favor', é 'pôr favor'", dizia a mãe) deixei de entrar em discussões sobre "O que se fala é diferente do que se escreve".
Juiz de Fora talvez seja uma cidade universitária e culta demais para os padrões brasileiros, mas não vem ao caso...
Apenas gostaria de ressaltar que Caetano, em entrevista a Jô Soares, por esses dias, comparou o "falar errado" do Lula (e suas circunstâncias políticas) ao ato de falar, seguindo extremamente a norma culta, de uma brasileira que foi alfabetizada aos 16 anos (e também teve suas circunstâncias de formação de caráter): Marina Silva.
Giuliano Martins Massi
-------------------------------------------
Caro Giuliano: essa situação que você presenciou deveria ser seu ponto de partida, pois a mãe está fazendo uma tolice. Se a criança fala de maneira informal, provavelmente está imitando a fala da mãe, que por sua vez quer que ela fale como um livro.
Eu vi essa entrevista de CaeTUCano. A posição dele com relação a Lula é partidária, por isso a postura burra de chamá-lo de analfabeto. Ele tem as posições de Jô, que é a visão da Globo, que é a visão que predomina na mídia, que é a da gramática normativa.
Quanto a Marina, sinceramente não gosto do discurso dela. Acho voltado para a classe média e prefiro a clareza pontual de Plínio Sampaio em prol dos movimentos sociais, embora não tenha votado nele e sim, de alto a baixo, no PCB.
Tucanos tendem a preferir Marina que Lula. E Marina, é claro, por sua origem de classe, sabe falar o português informal também, mas como informo acima, ela se dirige à classe média e seu esforço foi em seduzir as bases petucanas na última eleição. Caetano está embevecido, pois em geral quem tem simpatias tucanas pode não aceitar Serra e preferir Marina. Caetano também está encantado com Aécio Neves. Aécio é lindo, Serra é feio.
Agora, gostaria que alguém estudasse as falas dela para saber se fala "extremamente de acordo com a norma culta". Creio que é essa afirmativa é falsa, porque a norma culta dos brasileiros abrange construções como "deixa eu dançar", "beija eu", construções não aceitas no português padrão, muito ligado a Portugal, que você deve estar chamando de "norma culta" e que é ensinado na escola.
O que é lamentável em Marina é que ela tem um problema sério com partidos. Ela não resiste a parti-los. Ela rachou com o PT e foi para o PV; no PV exigiu a retirada do casamento gay e da liberação das drogas, o que provocou o racha do Partido Livre; e recentemente Marina rachou com o PV e, quem sabe, irá para o Partido Ecológico Nacional. Também há quem me diga que ela criará um novo partido brotando diretamente de um movimento social a ser convocado por ela. Será, então, o quarto partido ecológico brasileiro.
Assim, o tópico "ecologia" em política estará tão rachado quanto o assunto "comunismo". Sim, pois temos agora quatro pcs: Partido Comunista Brasileiro, Partido Comunista do Brasil, Partido Comunista Revolucionário e Partido Comunista Marxista-leninista.
Eu acho isso bom? Não.
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
Mostrando postagens com marcador Caetano Veloso. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Caetano Veloso. Mostrar todas as postagens
sábado, 6 de agosto de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
Blognovela Revista Cidade Sol: Episódio: "junta os papéis da tua peça que eu tenho um esquema no Ministério da Cultura"
(Anônimo e Francinny debatem os rumos da Companhia Milkshakespeare no palco em um ensaio aberto, transformando o próprio debate sobre a Lei Rouanet um ato da peça).
Francinny: Anônimo, será que isso vai dar certo?
Anônimo da Bilheteria: claro que vai, Francinny.
Francinny: Mas...não sei. Eu sempre disse que a Cia. Milkshakespeare é contra a tirania do estado. Sempre foi uma companhia libertária, anárquica. Receber dinheiro do estado, agora, na crise...
Anônimo da Bilheteria: Qualé, Francinny. Você sabe que quem escolhe é o mercado, não o estado.
Francinny: Mas quem paga é o contribuinte. Quem paga são professores miseráveis, trabalhadores da educação, pobres, miseráveis do Brasil.
Anônimo: Quem falou em Brasil? Menina, estamos em El Senor. Podemos continuar falando o que sempre falamos, que somos contra toda tirania do estado, governos, totalitarismos.
Francinny: Mas...e se alguém descobrir?
Anônimo (colocando as mãos na cintura): Escuta aqui, meu amor e revolução. Já cortamos vários atores no ajuste teatral. A coisa não pode continuar assim, senão você vai vender limão no sinal, fia. Não podemos montar Amleto com dois clowns e uma árvore seca, sacou?
Alguém da platéia: Eu já vi essa peça! É Esperando Godard.
Francinny: Sai fora, meu filho, que mané, nem me fala. Eu hein, engordar...(Volta-se para o Anônimo): Ah, não sei, fico me sentindo meio dividida, sabe.
Anônimo: Pois é, menina. Mas vê se te junta. E Junta os papéis da tua peça que eu tenho um esquema no Ministério da Cultura.
Francinny: Não tem clima, bicho. Vê o que fizeram com a Betânia agora, quase foi linchada.
Anônimo: É que Betânia e o Caetano não precisam da rede. Hoje eles são ricos. A única rede que eles precisam é a de deitar.
Francinny: Não conhece a rede e faz projeto para falar todo dia nela?
Alguém da platéia: Betânia vagabunda!
Anônimo: Não há nada além de moralismo udenista aqui!
Francinny: Não gosto de Reinaldo Azevedo, mas gosto de Jabor.
Anônimo: Jabor não rola, menina, ele não vai querer atuar na peça, o passe dele é alto.
Francinny: É preciso rever essa lei Rouanet. Com ela, medalhões ficam ganhando lucros fáceis. É que não existe política para a cultura, na prática, o mercado escolhe e o estado é quem paga, é contribuinte.
Anônimo: Gente, mas quem inventou esse negócio de ensaio aberto deveria ser um torturador astuto ou um coprófago. Fechem as cortinas que eu preciso falar com a diretora em particular, hein!
(Platéia sobe ao palco, joga tomates, grita).
Francinny (corre para recolher os tomates): Nooosa, pelo menos hoje a macarronada vai ter molho, geente!!! Obrigado, obrigado (Tenta fazer um leve gesto para agradecer, mas a chuva de tomates se adensa, o que obriga ela e Anônimo a saírem pela coxia).
Francinny: Anônimo, será que isso vai dar certo?
Anônimo da Bilheteria: claro que vai, Francinny.
Francinny: Mas...não sei. Eu sempre disse que a Cia. Milkshakespeare é contra a tirania do estado. Sempre foi uma companhia libertária, anárquica. Receber dinheiro do estado, agora, na crise...
Anônimo da Bilheteria: Qualé, Francinny. Você sabe que quem escolhe é o mercado, não o estado.
Francinny: Mas quem paga é o contribuinte. Quem paga são professores miseráveis, trabalhadores da educação, pobres, miseráveis do Brasil.
Anônimo: Quem falou em Brasil? Menina, estamos em El Senor. Podemos continuar falando o que sempre falamos, que somos contra toda tirania do estado, governos, totalitarismos.
Francinny: Mas...e se alguém descobrir?
Anônimo (colocando as mãos na cintura): Escuta aqui, meu amor e revolução. Já cortamos vários atores no ajuste teatral. A coisa não pode continuar assim, senão você vai vender limão no sinal, fia. Não podemos montar Amleto com dois clowns e uma árvore seca, sacou?
Alguém da platéia: Eu já vi essa peça! É Esperando Godard.
Francinny: Sai fora, meu filho, que mané, nem me fala. Eu hein, engordar...(Volta-se para o Anônimo): Ah, não sei, fico me sentindo meio dividida, sabe.
Anônimo: Pois é, menina. Mas vê se te junta. E Junta os papéis da tua peça que eu tenho um esquema no Ministério da Cultura.
Francinny: Não tem clima, bicho. Vê o que fizeram com a Betânia agora, quase foi linchada.
Anônimo: É que Betânia e o Caetano não precisam da rede. Hoje eles são ricos. A única rede que eles precisam é a de deitar.
Francinny: Não conhece a rede e faz projeto para falar todo dia nela?
Alguém da platéia: Betânia vagabunda!
Anônimo: Não há nada além de moralismo udenista aqui!
Francinny: Não gosto de Reinaldo Azevedo, mas gosto de Jabor.
Anônimo: Jabor não rola, menina, ele não vai querer atuar na peça, o passe dele é alto.
Francinny: É preciso rever essa lei Rouanet. Com ela, medalhões ficam ganhando lucros fáceis. É que não existe política para a cultura, na prática, o mercado escolhe e o estado é quem paga, é contribuinte.
Anônimo: Gente, mas quem inventou esse negócio de ensaio aberto deveria ser um torturador astuto ou um coprófago. Fechem as cortinas que eu preciso falar com a diretora em particular, hein!
(Platéia sobe ao palco, joga tomates, grita).
Francinny (corre para recolher os tomates): Nooosa, pelo menos hoje a macarronada vai ter molho, geente!!! Obrigado, obrigado (Tenta fazer um leve gesto para agradecer, mas a chuva de tomates se adensa, o que obriga ela e Anônimo a saírem pela coxia).
Marcadores:
Betânia,
Blognovela,
Caetano Veloso,
foog nos teatros,
lei rouanet,
Mikshakespeare
terça-feira, 6 de julho de 2010
O Famoso Duende da Morte Ou: A Volta de Mcluhanaíma
Li uma coluna em O Globo a respeito do filme e do livro Os Famosos e os Duendes da Morte (que me interessam), de autoria de um famoso que não é um duende da morte (ou não!) Caetano Veloso. Nela, Caetano exercita a crítica embasada em teoria literária, gênero há muito extinto nos jornais brasileiros e substituído por algo mais próximo ao resenhismo de um Rafael Rodrigues e seu blog (irregular e apenas mediano) ligado à Revista Bravo, por exemplo. Caetano, herói sem nenhum caráter que compõe canções para telenovelas da Globo e canta a saudade de ACM contra o governo do PT na Bahia em O Globo, não quer somente reabilitar Mcluhan: ele encarna um Mchluhanaíma. Sim, Caetano, depois que surgiu Pierre Lévy, Mcluhan é dépassée.
Existe um tipo de crítico que, quando vai falar do trabalho do outro, volta-se sobre si mesmo e aí temos, por exemplo, Paulo Francis falando sobre Francis a propósito de Shakespeare. Caetano é esse tipo de crítico. Antes de comentar o texto e o filme, cita Heidegger, Marilena Chauí, o panfleto do PSDB contra as cotas (Uma Gota de Sangue, do Demétrio Magnoli), Deleuze, Roberto Machado e outros. Em meio a tantas leituras (que me enchem de alegria e preguiça) que ele tem para fazer na mesma turnê (quem lê tanto livro em turnê?), é de se supor que a leitura que ele faz de Os Famosos e os Duendes da Morte seja desatenta. O cantor poderia dizer, parodiando Janis Joplin: “depois de fazer amor com milhares de pessoas no palco, eu volto para meu hotel solitário e vou ler a Ilíada e Finnegans Wake.”
O lirismo e a música, para Caetano, começam onde terminam a dialética e Lukács. No entanto, Lukács é bastante ligado à estética modernista de Flaubert e Thomas Mann, enquanto um autor que ele cita para sustentar seu ponto de vista, Jürgen Habermas, julga que Nietzsche é um irracionalista. Ninguém mais amigo da estética modernista e melhor companheiro contra o pós-modernismo que Lukács, que não gostava de Joyce, Kafka e Beckett, chamando-os artistas burgueses e decadentes por negarem a representação.
Para lidar com o texto de Ismael Canappele, o famoso gasta muito latim em sua fundamentação concretista e deixa de lado qualquer pendor cinemanovista: dá, inclusive, a entender que o filme de Esmir Filho deixa de lado o “viciado plano-sequência” [do Cinema Novo], reinventando a narrativa de arte. Ora, de arte? Não seria melhor definir como narrativa de “cinema-cinema”? Não seriam também narrativas de arte Os Dois Filhos de Francisco e o mau caratismo anunciado de Tropa de Elite 2? Ou esses filmes não são arte?
Em meio a tantas “refações” e esmegma filosófico, o poeta-músico deixa de lado o sofrimento dos emos e da comunidade GLBT em pequenas cidades do interior, que é um fato que leva essa moçada a se refugiar na internet. Esse era um ponto para Caetano comentar, mas ele não teve nem ser nem tempo. Ele comenta que está lendo Heidegger em espanhol. Ora, por que não ler em alemão? Não está provado que só é possível filosofar em alemão?
Nos parágrafos finais, o Leãozinho/Duende aproxima a narrativa de Ismael da de Oswald de Andrade. O autor de Famosos e os Duendes da Morte seria um pós-modernista que não nega as experiências modernistas de um Oswald, mas o experimentalismo que Veloso relata (nos últimos parágrafos, quando deixou as Heidegger-preliminares e finalmente entrou na coisa em si) aproxima Canappele de Clarice Lispector e não de Oswald. Mas, se Ismael tiver influência de Oswald, alvíssaras!
Caetano finaliza desejando ardentemente que os adolescentes da era da internet leiam o livro de Ismael e vejam o filme de Esmir. Mas, se a intenção era essa, por que um artigo tão “cabeça”? Afinal, quantos desses meninos terão sobrevivido para ler a coluna até esses parágrafos finais? Terá o Mcluhanaíma obtido sucesso em seu intento? Tomara que Ismael Canappele tenha cuidado para não ser devorado em meio a essa amizade antropofágica.
Existe um tipo de crítico que, quando vai falar do trabalho do outro, volta-se sobre si mesmo e aí temos, por exemplo, Paulo Francis falando sobre Francis a propósito de Shakespeare. Caetano é esse tipo de crítico. Antes de comentar o texto e o filme, cita Heidegger, Marilena Chauí, o panfleto do PSDB contra as cotas (Uma Gota de Sangue, do Demétrio Magnoli), Deleuze, Roberto Machado e outros. Em meio a tantas leituras (que me enchem de alegria e preguiça) que ele tem para fazer na mesma turnê (quem lê tanto livro em turnê?), é de se supor que a leitura que ele faz de Os Famosos e os Duendes da Morte seja desatenta. O cantor poderia dizer, parodiando Janis Joplin: “depois de fazer amor com milhares de pessoas no palco, eu volto para meu hotel solitário e vou ler a Ilíada e Finnegans Wake.”
O lirismo e a música, para Caetano, começam onde terminam a dialética e Lukács. No entanto, Lukács é bastante ligado à estética modernista de Flaubert e Thomas Mann, enquanto um autor que ele cita para sustentar seu ponto de vista, Jürgen Habermas, julga que Nietzsche é um irracionalista. Ninguém mais amigo da estética modernista e melhor companheiro contra o pós-modernismo que Lukács, que não gostava de Joyce, Kafka e Beckett, chamando-os artistas burgueses e decadentes por negarem a representação.
Para lidar com o texto de Ismael Canappele, o famoso gasta muito latim em sua fundamentação concretista e deixa de lado qualquer pendor cinemanovista: dá, inclusive, a entender que o filme de Esmir Filho deixa de lado o “viciado plano-sequência” [do Cinema Novo], reinventando a narrativa de arte. Ora, de arte? Não seria melhor definir como narrativa de “cinema-cinema”? Não seriam também narrativas de arte Os Dois Filhos de Francisco e o mau caratismo anunciado de Tropa de Elite 2? Ou esses filmes não são arte?
Em meio a tantas “refações” e esmegma filosófico, o poeta-músico deixa de lado o sofrimento dos emos e da comunidade GLBT em pequenas cidades do interior, que é um fato que leva essa moçada a se refugiar na internet. Esse era um ponto para Caetano comentar, mas ele não teve nem ser nem tempo. Ele comenta que está lendo Heidegger em espanhol. Ora, por que não ler em alemão? Não está provado que só é possível filosofar em alemão?
Nos parágrafos finais, o Leãozinho/Duende aproxima a narrativa de Ismael da de Oswald de Andrade. O autor de Famosos e os Duendes da Morte seria um pós-modernista que não nega as experiências modernistas de um Oswald, mas o experimentalismo que Veloso relata (nos últimos parágrafos, quando deixou as Heidegger-preliminares e finalmente entrou na coisa em si) aproxima Canappele de Clarice Lispector e não de Oswald. Mas, se Ismael tiver influência de Oswald, alvíssaras!
Caetano finaliza desejando ardentemente que os adolescentes da era da internet leiam o livro de Ismael e vejam o filme de Esmir. Mas, se a intenção era essa, por que um artigo tão “cabeça”? Afinal, quantos desses meninos terão sobrevivido para ler a coluna até esses parágrafos finais? Terá o Mcluhanaíma obtido sucesso em seu intento? Tomara que Ismael Canappele tenha cuidado para não ser devorado em meio a essa amizade antropofágica.
Marcadores:
Caetano Veloso,
comentário,
O Globo,
os famosos e os duendes da morte
sábado, 7 de novembro de 2009
Comentário sobre o último livro de Costa Lima
EXTRA! EXTRA!
Pessoal: esse blog do Ronald Augusto, poesia-pau.blogspot.com, é excelente. Não percam lá o texto Decadência do Império Caetano, que mereceu de Caetano até mesmo uma resposta (sem citar o nome, sempre, pois Caets nunca cita seus adversários intelectuais, assim como Pasquale faz com Marcos Bagno e Sírio Possenti).
sábado, 8 de agosto de 2009
O controle e a afirmação do traidor dilacerado
Sem que isso seja mencionado em seu prejuízo, O controle do imaginário & a afirmação do romance é em princípio um livro voltado para uma audiência acadêmica, já que até certo ponto, para a sua compreensão, se requer o conhecimento de obras anteriores do autor mais afeitas aos cânones da instituição. Mesmo no design da capa se denuncia essa medida de livro — com suas quase quatrocentas páginas — ofertado à cobiça professoral e científica. Os motivos mondrianescos ajustados aos quadrículos coloridos, alguns cortados diagonalmente; a alusão ao concretismo publicitário enquanto estilema gráfico-visual, presente no lirismo de diagrama a evocar as “bandeirinhas” de Volpi, e que, agora, na prateleira das livrarias, exposto ao olhar do leitor compenetrado, dir-se-ia tratar-se de um livro de lógica, de análise das estruturas do discurso, enfim, dessas coisas que demandam anos de dedicação, e que só podem ser levadas a cabo pelo pathos meticuloso de secretários do castelo. Vale dizer, ainda, que a obra aqui resenhada é um prolongamento de análises publicadas — quer em âmbito universitário, quer em comercial — e de cursos que Luis Costa Lima vem apresentando desde a década de 1980. Na “Nota introdutória” (pág. 13), o crítico e professor, refere que José Mário Pereira tomou a iniciativa de patrocinar a reedição de um conjunto de estudos, a Trilogia do controle (2007), que na década de 1980, ele, Costa Lima, escreveu sobre a questão do controle do imaginário.
Por outro lado, O controle do imaginário & a afirmação do romance é de interesse para outros leitores não restritos àquelas instituições de ensino. É uma obra bem escrita, seu refinamento de linguagem não provoca o sono. Agora, se o livro é dedicado à memória de alguns escritores consagrados, e, ao que tudo indica, amigos e interlocutores de Luis Costa Lima, a presente resenha, escrita por alguém que não leu as obras anteriores do autor de que se ocupa, é dedicada à memória do leitor interessado, ou do leitor “malandro” naquela acepção cunhada pelas análises de Antônio Candido acerca de uma determinada forma de romance. O leitor motivado pelo desejo, cujo tempo dedicado à leitura de estudos críticos ou hermenêuticos é o mesmo que dedica à leitura de textos artísticos, isto é, o tempo que dura o prazer textual.
Mas, mesmo num livro em que é patente seu escopo de gosto enciclopédico e seu apetite de scholar, há lugar para a confissão e para a solidariedade corporativa. Fique esclarecido que tais inconfidências aparecem na mencionada “Nota introdutória”, o lugar correto para isso, situado aquém do ponto onde o rigor da análise tenta cancelar o contingente. Assim, Costa Lima admite que este talvez seja o seu último livro apoiado em uma longa pesquisa, pois se encontra em estação provecta, isto é, já não tem idade para essas coisas. E, mais adiante, menciona sua opção por não fazer parte da tribo dos especialistas por constatar a tortura que seria batalhar por manter-se “atualizado em um país em que bibliotecas permanecem um artigo de luxo”, mostrando-se, por sua vez, atento às vicissitudes dos seus colegas universitários.
Mas, continuando, O controle do imaginário & a afirmação do romance se divide em duas partes. Na primeira, Costa Lima situa o leitor no ambiente teórico-contextual do controle, sua proposta é apresentar o “Renascimento italiano como o tempo de que parte não só a hostilidade contra o romance como a motivação para ele”; na segunda e última parte, o autor se dedica ao estudo hermenêutico de romances que são paradigmáticos a propósito do tema eleito, pois é sobre as obras desse período (dos séculos XV e XVI para cá) que por excelência o controle do imaginário é exercido de modo mais severo. Estamos mais ou menos dentro dos limites da Reforma e da Contrarreforma.
Luis Costa Lima não faz uma investigação puramente textual, isolada das condições da sociedade, e tampouco se restringe a questionamentos historicizantes. O estatuto que emerge de sua argumentação e que aponta para a “teoria geral do controle” não é depositário de uma análise meramente sociopolítica. O grande excurso histórico da primeira parte parece contradizer a afirmação anterior, inclusive porque um pouco a contragosto do próprio autor essa primeira parte resultou maior do que o imaginado. Com efeito, o autor procura demonstrar que o controle se plasma sob duas situações. Em primeiro lugar, não é difícil constatar que sempre está implícito alguma forma de controle na estrutura das sociedades, pois estas se assentam sobre regras, “e onde há regras há controle. Mas, Luis Costa Lima anota uma coisa importante: o controle “não assume um aspecto visível e marcante se a instituição ou a sociedade que o ativa não está em crise, ou sob sua iminente ameaça”. O controle do imaginário... investiga então em sua primeira parte como o controle do romance é dependente da crise que afetara tanto a Igreja “enquanto matriz dos valores institucionalizados” como o poder configurado nas cidades-Estados italianas. O ponto de partida da crise que irriga o controle é, portanto, o Renascimento, onde se reitera o mundo antigo como norma, e que se intensifica “com a Reforma e a reação católica, a Contrarreforma e o Concílio de Trento”.
Mas, eu gostaria de voltar à questão quase óbvia que diz respeito à afirmação: “onde há regras há controle”. O estudo de Luis Costa Lima nos permite uma reflexão em perspectiva e em outras direções. O controle está implicado em todas as estruturas sociopolíticas que representam a forma consagrada para normatizar as relações de poder entre os cidadãos. Estas relações se definem por meio de uma ordem que objetiva assegurar as necessidades e os desejos do grupo em detrimento dos do indivíduo. O controle do imaginário se beneficia das relações de força e dominação que estão em jogo quando se estabelece o teatro conflituoso e/ou conciliatório na cena social. Mas o controle, ao contrário da censura, quase nunca é explícito. Para Luis Costa Lima a censura “é de imediato visível e localizável”. Já o controle do imaginário, como foi dito mais acima, não só lhe é gentilmente hostil, mas como que também o motiva.
Essa condição por assim dizer multifária do controle torna-o maleável e capaz de naturalizar-se, e de neutralizar, por exemplo, hoje, as tensões estéticas atinentes ao ficcional. Romances fundamentais, até então criadores de caso e de fervorosos debates como Ulisses, Finnegans Wake, Grande Sertão: Veredas tornaram-se agora obras a respeito das quais não se diz se não o rotineiramente tolerável, e com muita boa-vontade. Elas são escassamente referidas por meio de um discurso em estado de lápide, isto é, as afirmações e/ou negações se prestam, quando muito, a inscrições tumulares e controvérsias de fachada. O resultado é que tanto os que as repudiam quanto os que as incensam, em fim de contas, acabam se encontrando numa zona de intransigência anódina ou de indiferença estética que não gera movimento nenhum. Essas obras que alargaram os limites do romance clássico, segundo a atual dinâmica do controle do imaginário, já estão catalogadas e fartamente interpretadas; não servem mais de insumo ao tacanho realismo desses prosadores para quem a simples menção a um “público refinado” lhes provoca uma cusparada de clichês antidecadentistas. Como diz Luis Costa Lima em entrevista, o controle, — que, em sua análise se refere a jogos de poder dos grupos dominantes ao longo da História — se associa também à lógica de mercado. Com efeito, o mercado busca moldar menos este ou aquele autor em particular do que um modo de escrita que não entre em atrito com o repertório de um hipotético público leitor. O crítico literário Frank Kermode menciona ainda a presença nefasta de um “controle institucional da interpretação”, instância de poder de cuja função se espera a classificação do que é e do que não é canônico, fazendo, assim, em versão secular as vezes da figura do Concílio da Igreja que tinha como atribuição decidir quais os santos passíveis de canonização. Ora, sob esse aspecto a ideia de cânone se funda num modelo de controle que mais aprendemos a apreciar e respirar do que prestar-lhe uma atenção crítica. Cito alguns dos representantes do controle da interpretação: a universidade, a crítica especializada, os grupelhos de beletristas bem relacionados, os ocupantes de órgãos públicos e/ou privados ligados à cultura, etc.
É também na primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance que vamos encontrar a interessante análise a respeito da dialética da simulação e da dissimulação como forma de convivência ou de conciliação com o controle. O olhar de Luis Costa Lima procura desvelar “o que se ocultava sob a alegre docilidade dos cortesãos e a resignação dos modestos escribas”. A legitimação dos condottieri assentava-se sobre bases ilegítimas. E porque ilegítimos “tais senhores precisavam compensar traições e crueldades com gestos e requintes de chefes finos. Por exemplo com o estímulo à cortesania”. Baldassare Castiglione, de acordo com o autor, é quem decodifica a gramática e a conduta do cortesão no seu Il Corteggiano (1528), obra escrita entre o humanismo e a Contrarreforma. O cortesão encarna a figura do intelectual e do artista que esposa o compromisso de fazer a mediação entre culturas diversas e disputas palacianas. Seu jogo não se faz num espaço público. Seu jogo dramático assume a forma de um “drama da contenção, contudo não mais a contenção da paixão ou da loucura, e sim a contenção da perspicácia”. Esse personagem apóia o seu discurso em afirmações e contraditas que se fazem acompanhar da marcação de um ridendo, senha de uma metalinguagem a assinalar que suas palavras não devem ser levadas a sério.
Luis Costa Lima define o cortesão como uma ficção externa (isto é, realizada fora do âmbito de uma obra de arte); um esteta, uma ficção ambulante. Um entertainer que dominasse a arte da esgrima. Os condottieri, com sua proverbial obstinação em deixar-se enganar e cobiçosos de ver menos vacilantes as bases de sua legitimação se aproveitavam indiscriminadamente dos serviços dos cortesãos. Com isso também eram chamuscados pelas chamas de sua cortesania cheia de charme. E às vezes acabavam favorecendo aqueles que talvez só merecessem seus desfavores. O cortesão como ficção externa, no entanto, não faz uso de normas preestabelecidas. Segundo Costa Lima, “em vez de normas, por éticas que pareçam” a prática cortesã se decide pela cautela. Esse artista alcoviteiro, se podemos assim dizer, compósito de escritor, secretário do castelo, e conselheiro, situa-se na entrelinha, no intervalo, e cumpre com tamanho virtuosismo os seus vagos afazeres que a impressão causada é a de que faz bem o que faz, mas sem demonstrar o menor esforço; ele se refugia na displicência. Metáfora da arte que sobrevive ao controle, que se aproveita de um cochilo ou outro do sistema e dissimula aquilo que é. No exercício divino e malévolo de sua bouffonerie o artista-cortesão nos demonstra que a dissimulação supõe a “habilidade de não fazer ver as coisas como são”. Reduzir e dissimular são termos dessa estratégia de sacrifício a que se dedica cotidianamente, com o propósito mais secreto de confrontar-se com a ordem social. De acordo com Luis Costa Lima, o cortesão, condenado a fazer falar lateralmente o silêncio da supressão e da autossupressão, presume em perspectiva que o “estilo da perda converte-se em estilo da revanche”. Metáfora do escritor como um traidor dilacerado: “simula-se aquilo que não é, dissimula-se aquilo que é”. A ficção externa como dissimulação na tentativa de convivência e conciliação com o controle acaba por fortificar o centro deste, porquanto as armas de que se serve aquela (astúcia, ambigüidade, embromação e alguma falsidade) são as mesmas de que se aparelham os mecanismos de controle.
Na segunda parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, Luis Costa Lima se detém em alguns romances paradigmáticos que começam a travar uma relação de outra ordem com os processos de controle da imaginação atuantes nas sociedades de corte católicas. Trata-se agora de enfrentar os primeiros lances de uma ficção interna — em oposição ao ridendo da ficção externa do cortesão — que se constitui num como se assumido. O autor detecta neste conjunto de romances (Dom Quixote, As relações perigosas, Moll Flanders e Tristram Shandy) o índice do ficcional como alternativa discursiva — a máscara que se declara máscara —, e não mero jogo de cena e dissimulação. Mas aqui minha fabulação manca, pois das quatro obras investigadas por Luis Costa Lima só pude ler o Dom Quixote. E eu diria apenas o seguinte: a obra máxima de Miguel de Cervantes ajuda a fundar a categoria moderna da “ficção”, que se constitui como um tipo de linguagem que não é nem “verdade” nem “mentira”, senão que tem um estatuto próprio. Em Dom Quixote lemos menos a dissimulação que a simulação da loucura. De outra parte, devo dizer que não tenho tempo nem paciência para a longa leitura que os outros romances exigiriam de mim. Como não costumo ler comentários ou análises de textos que ainda não li, resolvo parar por aqui mesmo. Mas pelo que consegui ver em minha leitura mais curiosa da primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, tenho certeza de que Luis Costa Lima se houve muito bem na interpretação dessas obras clássicas, e na afirmação, por meio delas, da capacidade de o romance bom propor novos esquemas críticos e inventivos na sua relação com o controle.
Postado por ronald augusto às 15:39 0 comentários
Pessoal: esse blog do Ronald Augusto, poesia-pau.blogspot.com, é excelente. Não percam lá o texto Decadência do Império Caetano, que mereceu de Caetano até mesmo uma resposta (sem citar o nome, sempre, pois Caets nunca cita seus adversários intelectuais, assim como Pasquale faz com Marcos Bagno e Sírio Possenti).
sábado, 8 de agosto de 2009
O controle e a afirmação do traidor dilacerado
Sem que isso seja mencionado em seu prejuízo, O controle do imaginário & a afirmação do romance é em princípio um livro voltado para uma audiência acadêmica, já que até certo ponto, para a sua compreensão, se requer o conhecimento de obras anteriores do autor mais afeitas aos cânones da instituição. Mesmo no design da capa se denuncia essa medida de livro — com suas quase quatrocentas páginas — ofertado à cobiça professoral e científica. Os motivos mondrianescos ajustados aos quadrículos coloridos, alguns cortados diagonalmente; a alusão ao concretismo publicitário enquanto estilema gráfico-visual, presente no lirismo de diagrama a evocar as “bandeirinhas” de Volpi, e que, agora, na prateleira das livrarias, exposto ao olhar do leitor compenetrado, dir-se-ia tratar-se de um livro de lógica, de análise das estruturas do discurso, enfim, dessas coisas que demandam anos de dedicação, e que só podem ser levadas a cabo pelo pathos meticuloso de secretários do castelo. Vale dizer, ainda, que a obra aqui resenhada é um prolongamento de análises publicadas — quer em âmbito universitário, quer em comercial — e de cursos que Luis Costa Lima vem apresentando desde a década de 1980. Na “Nota introdutória” (pág. 13), o crítico e professor, refere que José Mário Pereira tomou a iniciativa de patrocinar a reedição de um conjunto de estudos, a Trilogia do controle (2007), que na década de 1980, ele, Costa Lima, escreveu sobre a questão do controle do imaginário.
Por outro lado, O controle do imaginário & a afirmação do romance é de interesse para outros leitores não restritos àquelas instituições de ensino. É uma obra bem escrita, seu refinamento de linguagem não provoca o sono. Agora, se o livro é dedicado à memória de alguns escritores consagrados, e, ao que tudo indica, amigos e interlocutores de Luis Costa Lima, a presente resenha, escrita por alguém que não leu as obras anteriores do autor de que se ocupa, é dedicada à memória do leitor interessado, ou do leitor “malandro” naquela acepção cunhada pelas análises de Antônio Candido acerca de uma determinada forma de romance. O leitor motivado pelo desejo, cujo tempo dedicado à leitura de estudos críticos ou hermenêuticos é o mesmo que dedica à leitura de textos artísticos, isto é, o tempo que dura o prazer textual.
Mas, mesmo num livro em que é patente seu escopo de gosto enciclopédico e seu apetite de scholar, há lugar para a confissão e para a solidariedade corporativa. Fique esclarecido que tais inconfidências aparecem na mencionada “Nota introdutória”, o lugar correto para isso, situado aquém do ponto onde o rigor da análise tenta cancelar o contingente. Assim, Costa Lima admite que este talvez seja o seu último livro apoiado em uma longa pesquisa, pois se encontra em estação provecta, isto é, já não tem idade para essas coisas. E, mais adiante, menciona sua opção por não fazer parte da tribo dos especialistas por constatar a tortura que seria batalhar por manter-se “atualizado em um país em que bibliotecas permanecem um artigo de luxo”, mostrando-se, por sua vez, atento às vicissitudes dos seus colegas universitários.
Mas, continuando, O controle do imaginário & a afirmação do romance se divide em duas partes. Na primeira, Costa Lima situa o leitor no ambiente teórico-contextual do controle, sua proposta é apresentar o “Renascimento italiano como o tempo de que parte não só a hostilidade contra o romance como a motivação para ele”; na segunda e última parte, o autor se dedica ao estudo hermenêutico de romances que são paradigmáticos a propósito do tema eleito, pois é sobre as obras desse período (dos séculos XV e XVI para cá) que por excelência o controle do imaginário é exercido de modo mais severo. Estamos mais ou menos dentro dos limites da Reforma e da Contrarreforma.
Luis Costa Lima não faz uma investigação puramente textual, isolada das condições da sociedade, e tampouco se restringe a questionamentos historicizantes. O estatuto que emerge de sua argumentação e que aponta para a “teoria geral do controle” não é depositário de uma análise meramente sociopolítica. O grande excurso histórico da primeira parte parece contradizer a afirmação anterior, inclusive porque um pouco a contragosto do próprio autor essa primeira parte resultou maior do que o imaginado. Com efeito, o autor procura demonstrar que o controle se plasma sob duas situações. Em primeiro lugar, não é difícil constatar que sempre está implícito alguma forma de controle na estrutura das sociedades, pois estas se assentam sobre regras, “e onde há regras há controle. Mas, Luis Costa Lima anota uma coisa importante: o controle “não assume um aspecto visível e marcante se a instituição ou a sociedade que o ativa não está em crise, ou sob sua iminente ameaça”. O controle do imaginário... investiga então em sua primeira parte como o controle do romance é dependente da crise que afetara tanto a Igreja “enquanto matriz dos valores institucionalizados” como o poder configurado nas cidades-Estados italianas. O ponto de partida da crise que irriga o controle é, portanto, o Renascimento, onde se reitera o mundo antigo como norma, e que se intensifica “com a Reforma e a reação católica, a Contrarreforma e o Concílio de Trento”.
Mas, eu gostaria de voltar à questão quase óbvia que diz respeito à afirmação: “onde há regras há controle”. O estudo de Luis Costa Lima nos permite uma reflexão em perspectiva e em outras direções. O controle está implicado em todas as estruturas sociopolíticas que representam a forma consagrada para normatizar as relações de poder entre os cidadãos. Estas relações se definem por meio de uma ordem que objetiva assegurar as necessidades e os desejos do grupo em detrimento dos do indivíduo. O controle do imaginário se beneficia das relações de força e dominação que estão em jogo quando se estabelece o teatro conflituoso e/ou conciliatório na cena social. Mas o controle, ao contrário da censura, quase nunca é explícito. Para Luis Costa Lima a censura “é de imediato visível e localizável”. Já o controle do imaginário, como foi dito mais acima, não só lhe é gentilmente hostil, mas como que também o motiva.
Essa condição por assim dizer multifária do controle torna-o maleável e capaz de naturalizar-se, e de neutralizar, por exemplo, hoje, as tensões estéticas atinentes ao ficcional. Romances fundamentais, até então criadores de caso e de fervorosos debates como Ulisses, Finnegans Wake, Grande Sertão: Veredas tornaram-se agora obras a respeito das quais não se diz se não o rotineiramente tolerável, e com muita boa-vontade. Elas são escassamente referidas por meio de um discurso em estado de lápide, isto é, as afirmações e/ou negações se prestam, quando muito, a inscrições tumulares e controvérsias de fachada. O resultado é que tanto os que as repudiam quanto os que as incensam, em fim de contas, acabam se encontrando numa zona de intransigência anódina ou de indiferença estética que não gera movimento nenhum. Essas obras que alargaram os limites do romance clássico, segundo a atual dinâmica do controle do imaginário, já estão catalogadas e fartamente interpretadas; não servem mais de insumo ao tacanho realismo desses prosadores para quem a simples menção a um “público refinado” lhes provoca uma cusparada de clichês antidecadentistas. Como diz Luis Costa Lima em entrevista, o controle, — que, em sua análise se refere a jogos de poder dos grupos dominantes ao longo da História — se associa também à lógica de mercado. Com efeito, o mercado busca moldar menos este ou aquele autor em particular do que um modo de escrita que não entre em atrito com o repertório de um hipotético público leitor. O crítico literário Frank Kermode menciona ainda a presença nefasta de um “controle institucional da interpretação”, instância de poder de cuja função se espera a classificação do que é e do que não é canônico, fazendo, assim, em versão secular as vezes da figura do Concílio da Igreja que tinha como atribuição decidir quais os santos passíveis de canonização. Ora, sob esse aspecto a ideia de cânone se funda num modelo de controle que mais aprendemos a apreciar e respirar do que prestar-lhe uma atenção crítica. Cito alguns dos representantes do controle da interpretação: a universidade, a crítica especializada, os grupelhos de beletristas bem relacionados, os ocupantes de órgãos públicos e/ou privados ligados à cultura, etc.
É também na primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance que vamos encontrar a interessante análise a respeito da dialética da simulação e da dissimulação como forma de convivência ou de conciliação com o controle. O olhar de Luis Costa Lima procura desvelar “o que se ocultava sob a alegre docilidade dos cortesãos e a resignação dos modestos escribas”. A legitimação dos condottieri assentava-se sobre bases ilegítimas. E porque ilegítimos “tais senhores precisavam compensar traições e crueldades com gestos e requintes de chefes finos. Por exemplo com o estímulo à cortesania”. Baldassare Castiglione, de acordo com o autor, é quem decodifica a gramática e a conduta do cortesão no seu Il Corteggiano (1528), obra escrita entre o humanismo e a Contrarreforma. O cortesão encarna a figura do intelectual e do artista que esposa o compromisso de fazer a mediação entre culturas diversas e disputas palacianas. Seu jogo não se faz num espaço público. Seu jogo dramático assume a forma de um “drama da contenção, contudo não mais a contenção da paixão ou da loucura, e sim a contenção da perspicácia”. Esse personagem apóia o seu discurso em afirmações e contraditas que se fazem acompanhar da marcação de um ridendo, senha de uma metalinguagem a assinalar que suas palavras não devem ser levadas a sério.
Luis Costa Lima define o cortesão como uma ficção externa (isto é, realizada fora do âmbito de uma obra de arte); um esteta, uma ficção ambulante. Um entertainer que dominasse a arte da esgrima. Os condottieri, com sua proverbial obstinação em deixar-se enganar e cobiçosos de ver menos vacilantes as bases de sua legitimação se aproveitavam indiscriminadamente dos serviços dos cortesãos. Com isso também eram chamuscados pelas chamas de sua cortesania cheia de charme. E às vezes acabavam favorecendo aqueles que talvez só merecessem seus desfavores. O cortesão como ficção externa, no entanto, não faz uso de normas preestabelecidas. Segundo Costa Lima, “em vez de normas, por éticas que pareçam” a prática cortesã se decide pela cautela. Esse artista alcoviteiro, se podemos assim dizer, compósito de escritor, secretário do castelo, e conselheiro, situa-se na entrelinha, no intervalo, e cumpre com tamanho virtuosismo os seus vagos afazeres que a impressão causada é a de que faz bem o que faz, mas sem demonstrar o menor esforço; ele se refugia na displicência. Metáfora da arte que sobrevive ao controle, que se aproveita de um cochilo ou outro do sistema e dissimula aquilo que é. No exercício divino e malévolo de sua bouffonerie o artista-cortesão nos demonstra que a dissimulação supõe a “habilidade de não fazer ver as coisas como são”. Reduzir e dissimular são termos dessa estratégia de sacrifício a que se dedica cotidianamente, com o propósito mais secreto de confrontar-se com a ordem social. De acordo com Luis Costa Lima, o cortesão, condenado a fazer falar lateralmente o silêncio da supressão e da autossupressão, presume em perspectiva que o “estilo da perda converte-se em estilo da revanche”. Metáfora do escritor como um traidor dilacerado: “simula-se aquilo que não é, dissimula-se aquilo que é”. A ficção externa como dissimulação na tentativa de convivência e conciliação com o controle acaba por fortificar o centro deste, porquanto as armas de que se serve aquela (astúcia, ambigüidade, embromação e alguma falsidade) são as mesmas de que se aparelham os mecanismos de controle.
Na segunda parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, Luis Costa Lima se detém em alguns romances paradigmáticos que começam a travar uma relação de outra ordem com os processos de controle da imaginação atuantes nas sociedades de corte católicas. Trata-se agora de enfrentar os primeiros lances de uma ficção interna — em oposição ao ridendo da ficção externa do cortesão — que se constitui num como se assumido. O autor detecta neste conjunto de romances (Dom Quixote, As relações perigosas, Moll Flanders e Tristram Shandy) o índice do ficcional como alternativa discursiva — a máscara que se declara máscara —, e não mero jogo de cena e dissimulação. Mas aqui minha fabulação manca, pois das quatro obras investigadas por Luis Costa Lima só pude ler o Dom Quixote. E eu diria apenas o seguinte: a obra máxima de Miguel de Cervantes ajuda a fundar a categoria moderna da “ficção”, que se constitui como um tipo de linguagem que não é nem “verdade” nem “mentira”, senão que tem um estatuto próprio. Em Dom Quixote lemos menos a dissimulação que a simulação da loucura. De outra parte, devo dizer que não tenho tempo nem paciência para a longa leitura que os outros romances exigiriam de mim. Como não costumo ler comentários ou análises de textos que ainda não li, resolvo parar por aqui mesmo. Mas pelo que consegui ver em minha leitura mais curiosa da primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, tenho certeza de que Luis Costa Lima se houve muito bem na interpretação dessas obras clássicas, e na afirmação, por meio delas, da capacidade de o romance bom propor novos esquemas críticos e inventivos na sua relação com o controle.
Postado por ronald augusto às 15:39 0 comentários
Marcadores:
Caetano Veloso,
comentário,
controle do imaginário,
Luiz Costa Lima,
poesia,
revista Sibila,
Ronald Augusto
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Caetano: a burrice desse cara tem me consumido...
Adoro Caetano. Acho um grande músico, ícone de geração, gosto dele sólido, gasoso, líquido, etc.
Só que, de vez em quando, acho ele burro. No blog dele, Obra em Progresso, cansamos de dizer para ele que não se deve dizer que o Lula é analfabeto, que ele é perfeitamente um falante, coisa e tal. Eu, Eduardo Luedy, uma linguista, o Sírio Possenti, todos explicamos que falar isso é preconceito, é ideologia, não uma observação científica, coisa e tal.
Mas agora, em plena época de eleição, lá vem o bonitão repetir a mesma coisa que disse antes no blog, numa formulação ainda mais agressiva. Lula seria analfabeto, grosseiro e cafona em comparação com Marina. Não seria melhor ele explicitar que acha FHC sexy, fino, chique, muito elegante? Aécio também é? É aquela coisa. Um leitura pós-moderna, meio Zelberto Zel, de Casa Grande & Senzala: o mestiço pernóstico da varanda gritando:
Bate! Mas bate de cinto Pierre Cardin que é mais chique! O bonito é borrar tudo com nossa mestiçagem, não é, Demétrio Magnoli?
Tava pensando.
Dizer que Lula é "analfabeto" é como dizer que Caetano é "bicha". Não é verdade, mas é um contágio com um universo do qual se está próximo ou com o qual sua imagem pública apresenta pontos de contato.
Só que, de vez em quando, acho ele burro. No blog dele, Obra em Progresso, cansamos de dizer para ele que não se deve dizer que o Lula é analfabeto, que ele é perfeitamente um falante, coisa e tal. Eu, Eduardo Luedy, uma linguista, o Sírio Possenti, todos explicamos que falar isso é preconceito, é ideologia, não uma observação científica, coisa e tal.
Mas agora, em plena época de eleição, lá vem o bonitão repetir a mesma coisa que disse antes no blog, numa formulação ainda mais agressiva. Lula seria analfabeto, grosseiro e cafona em comparação com Marina. Não seria melhor ele explicitar que acha FHC sexy, fino, chique, muito elegante? Aécio também é? É aquela coisa. Um leitura pós-moderna, meio Zelberto Zel, de Casa Grande & Senzala: o mestiço pernóstico da varanda gritando:
Bate! Mas bate de cinto Pierre Cardin que é mais chique! O bonito é borrar tudo com nossa mestiçagem, não é, Demétrio Magnoli?
Tava pensando.
Dizer que Lula é "analfabeto" é como dizer que Caetano é "bicha". Não é verdade, mas é um contágio com um universo do qual se está próximo ou com o qual sua imagem pública apresenta pontos de contato.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Com roaunet, ingressos para Caetano podem cair
Publicado em 14 de junho de 2009
Com Rouanet, ingressos para Caetano podem cair
Os produtores da turnê Zii e Zie, do músico Caetano Veloso, propuseram a redução do ingresso do espetáculo de R$ 80 para R$ 40.
Foi a proposta feita após o pedido de financiamento do projeto, via renúncia fiscal, ter tido parecer contrário na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) – órgão consultivo do Ministério da Cultura, com participação do setor artístico e empresarial.
A CNIC vai reavaliar o pedido. Se for aprovado, a renúncia fiscal vai garantir maior acesso do espetáculo à população. “O show já está em turnê, cobrando um preço. Seus produtores se dispuseram a reduzi-lo para pouco menos da metade se for incorporado dinheiro público. Ao que parece, o ingresso cairia para R$ 40 inteira, e R$ 20 meia. Isso possibilita a ampliação de pessoas na plateia”, afirmou o ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, este final de semana.
danielmerli em Notícias
Com Rouanet, ingressos para Caetano podem cair
Os produtores da turnê Zii e Zie, do músico Caetano Veloso, propuseram a redução do ingresso do espetáculo de R$ 80 para R$ 40.
Foi a proposta feita após o pedido de financiamento do projeto, via renúncia fiscal, ter tido parecer contrário na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) – órgão consultivo do Ministério da Cultura, com participação do setor artístico e empresarial.
A CNIC vai reavaliar o pedido. Se for aprovado, a renúncia fiscal vai garantir maior acesso do espetáculo à população. “O show já está em turnê, cobrando um preço. Seus produtores se dispuseram a reduzi-lo para pouco menos da metade se for incorporado dinheiro público. Ao que parece, o ingresso cairia para R$ 40 inteira, e R$ 20 meia. Isso possibilita a ampliação de pessoas na plateia”, afirmou o ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, este final de semana.
danielmerli em Notícias
Marcadores:
Caetano Veloso,
cair,
ingressos,
lei rouanet
sexta-feira, 24 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
A Doçura de uma Vênus da Arte (Caetano Veloso)
Primeiro vi Pina Bausch na Nave de Fellini. Ela era linda e extraordinariamente expressiva, fazendo aquela bailarina cega. Ouvi muito sobre sus coreografias serem sombrias. Ao ver Sobre a Montanha Ouviu-se um Grito, no Municipal, fiquei surpreso com a abrangência e delicadeza de sua arte. Foi um alumbramento. Era a vida. Senti grande afinidade com a poesia do teatro de sua dança (...).
Quando vim a conhecê-la pessoalmente (depois da apresentação de Cravos aqui no Rio), eu já tinha convivido com ela em pensamento e em sonhos durante muito tempo. Pina não gostava de interpretações de seu trabalho. Eu, falante e opinioso como sou, me sentia importunando-a.
Mas ela comentou ao menos minha observação de que o uso da marcha brasileira Dama das Camélias -- com seu refrão "A minha vida se resume/Oh Dama das Camélias/Em suas flores sem perfume" -- parecia ter uma relação mágica com a cena do corpo de baile avançando por sobre aquele campo de cravos. "Eu escolhi a música sem saber o que a letra dizia: comprei esse disco aqui no Rio há anos".
Quando vim a conhecê-la pessoalmente (depois da apresentação de Cravos aqui no Rio), eu já tinha convivido com ela em pensamento e em sonhos durante muito tempo. Pina não gostava de interpretações de seu trabalho. Eu, falante e opinioso como sou, me sentia importunando-a.
Mas ela comentou ao menos minha observação de que o uso da marcha brasileira Dama das Camélias -- com seu refrão "A minha vida se resume/Oh Dama das Camélias/Em suas flores sem perfume" -- parecia ter uma relação mágica com a cena do corpo de baile avançando por sobre aquele campo de cravos. "Eu escolhi a música sem saber o que a letra dizia: comprei esse disco aqui no Rio há anos".
Marcadores:
arte,
Caetano Veloso,
Pina Bausch,
venus
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Contra Caetano
Sou contra Caetano usar recursos públicos para seu show. Ele ficou irritado ao comentar a respeito pela Monica Bergamo na Folha, segundo ele, não pela pergunta, mas pela abordagem.
Para mim, isso realmente é o fim. Caetano poderia receber recursos públicos para fazer uma oficina gratuita a um público que não é o dele, ou uma "aula-xóu" como diz o Ariano Suassuna, por exemplo. Ele próprio já disse na Cult que não pensava a Lei Roaunet para a música.
Mas já foram beneficiados por investimentos públicos artistas tais como Maria Betânia, Ivete Sangalo, etc.
Para mim, isso realmente é o fim. Caetano poderia receber recursos públicos para fazer uma oficina gratuita a um público que não é o dele, ou uma "aula-xóu" como diz o Ariano Suassuna, por exemplo. Ele próprio já disse na Cult que não pensava a Lei Roaunet para a música.
Mas já foram beneficiados por investimentos públicos artistas tais como Maria Betânia, Ivete Sangalo, etc.
Marcadores:
Caetano Veloso,
investimentos públicos,
lei rouanet
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Caetano Veloso: crítica do disco Zi & Zek
Caetano Veloso, Banda Cê, Zi & Zek
Acompanhei atentamente o blog de Caetano Veloso por ocasião do lançamento de seu novo disco e gostei muito. Há anos acompanho seu trabalho. Ao contrário de Glauber, Caetano envelhece como um patriarca. Por isso, talvez, ele se cercou de uma banda de jovens músicos cuja identidade é mais rock. A proposta é o ambivalente transamba: base rítmica de samba e acompanhamento de rock com baixo, guitarra e bateria. E guitarra, principalmente. São comuns no disco as trips hendrixianas, assim como há algo das suítes do rock progressivo no trabalho de Pedro Sá. A cozinha de Marcelo Callado e a produção de Moreno também são seguras e competentes.
O que faz a dor e a delícia do disco é a ambivalência de Caetano, esse ser semovente. A capa é sombria, ao contrário das canções e da própria personalidade que Caetano mostrou no blog Obra em Progresso: solar. E é como homem solar e não lunar que Caetano tem melhor desempenho. Por isso, seria melhor algum outro título que não o hermético e auto-indulgente título escolhido. Talvez fosse melhor mesmo dar ao disco o nome Zi & Zek, em homenagem ao filósofo esloveno que tantas discussões motivou no blog. Caetano investe em perder-se de si mesmo para se reconquistar, no outono do patriarca. Será que consegue, conseguiu, conseguirá?
Em relação ao disco Cê, a sonoridade de Caetano ficou mais doce, mais Dorival Caymmi; amenizou-se a guinada em direção a uma sonoridade de rock, com letras cruas. Nesse disco, quando Caetano faz canções mais longas, como “Perdeu” e “Incompatibilidade de Gênios”, ele mostra uma certa lassidão à la Dorival Caymmi, embora sua voz continue chique e bela como sempre, lassidão essa que conflita um pouco com o impulso roqueiro de sua banda. Em Zi & Zek, as canções das quais mais gostei foram “Base de Guantánamo” e “Lobão tem Razão”, curiosamente já divulgadas por Caetano no blog Obra em Progresso.
As novas canções de Caetano possuem letras afiadas, com uma musicalidade minimalista e criativa, com a voz de Caetano dialogando bem com a tríade composta por baixo/guitarra/bateria, mesmo em seus tremolos mais característicos ao final da canção “Lobão tem razão”, que parece ser uma resposta à canção de Lobão “Mano Caetano”, mas vai bem além. Ela fala do “sêmen derramado”. Ora, não pode estar tratando da relação Caetano/Lobão! No fundo, Lobão tem razão é uma canção de amor. No entanto, acho que nunca se deve dar razão a Lobão, por uma questão estrutural mesmo. Lobão e a razão não possuem nada em comum: Lobão é movido pela explosão dos sentidos irracional do rock, das paixões, do sexo, da polêmica e, no passado, da droga. Dar razão a ele é tomar dele o Viagra das metáforas e deixá-lo com os oxímoros da impotência da razão. Caetas, deixe a razão para o Antônio Cícero fazer poemas logocêntricos e odes à Harold Bloom ou elegias a Hugo Chávez!
Já canções como “Tarado ni Você” parecem ser criadas para testar o fraseado da guitarra de Pedro Só e provocar a correção dos Pasquales da vida, que precisarão dizer em suas colunas gramaticais e normativas que a forma correta é “Tarado por Você”. Talvez Caetano, que tem algo de professoral, proponha canções-avaliação para ver se a banda Cê está “passando na prova” tal como a bossa nova. Caetano, gramático e dramático, possui uma fixação por Portugal que fica clara em “Menina da Ria”. Se Menino do Rio marcou a época da distensão e da abertura, por sua letra com alusões pansexuais, Menina da Ria é, quem sabe inconscientemente, um flerte com a teoria de Plínio Salgado sobre Portugal, país com a qual o Brasil teria uma relação incestuosa e normativa de mãe e filho. Caetano, matriarca/fratriarca da new left brazuca, por vezes ainda é bem patricarcalista-gramático-messiânico. Será que com Lula estamos voltando ao mar, estamos voltando ao útero ameraba-português, voltando a ser colônia? Nessa canção Caetano está sóbrio, heterossexual bem sucedido ao conquistar belas portuguesas sem bigode, maduro, glabro. Talvez por isso tenha conflitado recentemente com Fidel: dois bicudos não se beijam nem balançam ao som de Guantánamo nem de Guantanamera. O Brasil foi Portugal que pariu? Fica a sugestão de inclusão de Plínio Salgado e dessa frase numa futura letra de Caetano. Quero ver Caetano lançar.
A lassidão de Caetano em Zi & Zek é superada em canções como A Cor Amarela, mas essa é claramente uma música de trabalho, uma Garota de Ipanema turbinada com pagode baiano, liberada sexualmente pela pílula ou pela injeção de Perlutan. Caetano não se contém e exclama: “Que bunda! Que bunda!” em meio a uma levada dançante para tocar no rádio, no rádio do seu coração. Já “Lapa” tem uma relação com o samba meio fria, meio “uma noite no museu”. Depois de fazer carreira ao esfriar sambas e boleros com a bossa nova ou mesmo canções bregas de Peninha com seu toque de violão e voz sedutores, mostrando à la João Gilberto a geometria dessas canções, Caets se arriscando a fazer rock é como o artista plástico que, logo depois de ter desenhado um carneirinho, quer logo partir para a abstração e a action paiting à la Jackson Pollock. O resultado às vezes é genial e, por vezes...já viram japonês tocando samba?
No fim das contas, nesse disco Caetano ainda não se reencontra, reencontrou, reencontrará com sua base estética, a bossa nova, mas já se aproximou do samba: é meio caminho andado. Ele sinaliza que no futuro pode se desvincular da banda Cê e voltar a uma fase orquestral como foi com Jacques Morelenbaum e Júlio Medaglia. Quem viver, caetaneará.
Acompanhei atentamente o blog de Caetano Veloso por ocasião do lançamento de seu novo disco e gostei muito. Há anos acompanho seu trabalho. Ao contrário de Glauber, Caetano envelhece como um patriarca. Por isso, talvez, ele se cercou de uma banda de jovens músicos cuja identidade é mais rock. A proposta é o ambivalente transamba: base rítmica de samba e acompanhamento de rock com baixo, guitarra e bateria. E guitarra, principalmente. São comuns no disco as trips hendrixianas, assim como há algo das suítes do rock progressivo no trabalho de Pedro Sá. A cozinha de Marcelo Callado e a produção de Moreno também são seguras e competentes.
O que faz a dor e a delícia do disco é a ambivalência de Caetano, esse ser semovente. A capa é sombria, ao contrário das canções e da própria personalidade que Caetano mostrou no blog Obra em Progresso: solar. E é como homem solar e não lunar que Caetano tem melhor desempenho. Por isso, seria melhor algum outro título que não o hermético e auto-indulgente título escolhido. Talvez fosse melhor mesmo dar ao disco o nome Zi & Zek, em homenagem ao filósofo esloveno que tantas discussões motivou no blog. Caetano investe em perder-se de si mesmo para se reconquistar, no outono do patriarca. Será que consegue, conseguiu, conseguirá?
Em relação ao disco Cê, a sonoridade de Caetano ficou mais doce, mais Dorival Caymmi; amenizou-se a guinada em direção a uma sonoridade de rock, com letras cruas. Nesse disco, quando Caetano faz canções mais longas, como “Perdeu” e “Incompatibilidade de Gênios”, ele mostra uma certa lassidão à la Dorival Caymmi, embora sua voz continue chique e bela como sempre, lassidão essa que conflita um pouco com o impulso roqueiro de sua banda. Em Zi & Zek, as canções das quais mais gostei foram “Base de Guantánamo” e “Lobão tem Razão”, curiosamente já divulgadas por Caetano no blog Obra em Progresso.
As novas canções de Caetano possuem letras afiadas, com uma musicalidade minimalista e criativa, com a voz de Caetano dialogando bem com a tríade composta por baixo/guitarra/bateria, mesmo em seus tremolos mais característicos ao final da canção “Lobão tem razão”, que parece ser uma resposta à canção de Lobão “Mano Caetano”, mas vai bem além. Ela fala do “sêmen derramado”. Ora, não pode estar tratando da relação Caetano/Lobão! No fundo, Lobão tem razão é uma canção de amor. No entanto, acho que nunca se deve dar razão a Lobão, por uma questão estrutural mesmo. Lobão e a razão não possuem nada em comum: Lobão é movido pela explosão dos sentidos irracional do rock, das paixões, do sexo, da polêmica e, no passado, da droga. Dar razão a ele é tomar dele o Viagra das metáforas e deixá-lo com os oxímoros da impotência da razão. Caetas, deixe a razão para o Antônio Cícero fazer poemas logocêntricos e odes à Harold Bloom ou elegias a Hugo Chávez!
Já canções como “Tarado ni Você” parecem ser criadas para testar o fraseado da guitarra de Pedro Só e provocar a correção dos Pasquales da vida, que precisarão dizer em suas colunas gramaticais e normativas que a forma correta é “Tarado por Você”. Talvez Caetano, que tem algo de professoral, proponha canções-avaliação para ver se a banda Cê está “passando na prova” tal como a bossa nova. Caetano, gramático e dramático, possui uma fixação por Portugal que fica clara em “Menina da Ria”. Se Menino do Rio marcou a época da distensão e da abertura, por sua letra com alusões pansexuais, Menina da Ria é, quem sabe inconscientemente, um flerte com a teoria de Plínio Salgado sobre Portugal, país com a qual o Brasil teria uma relação incestuosa e normativa de mãe e filho. Caetano, matriarca/fratriarca da new left brazuca, por vezes ainda é bem patricarcalista-gramático-messiânico. Será que com Lula estamos voltando ao mar, estamos voltando ao útero ameraba-português, voltando a ser colônia? Nessa canção Caetano está sóbrio, heterossexual bem sucedido ao conquistar belas portuguesas sem bigode, maduro, glabro. Talvez por isso tenha conflitado recentemente com Fidel: dois bicudos não se beijam nem balançam ao som de Guantánamo nem de Guantanamera. O Brasil foi Portugal que pariu? Fica a sugestão de inclusão de Plínio Salgado e dessa frase numa futura letra de Caetano. Quero ver Caetano lançar.
A lassidão de Caetano em Zi & Zek é superada em canções como A Cor Amarela, mas essa é claramente uma música de trabalho, uma Garota de Ipanema turbinada com pagode baiano, liberada sexualmente pela pílula ou pela injeção de Perlutan. Caetano não se contém e exclama: “Que bunda! Que bunda!” em meio a uma levada dançante para tocar no rádio, no rádio do seu coração. Já “Lapa” tem uma relação com o samba meio fria, meio “uma noite no museu”. Depois de fazer carreira ao esfriar sambas e boleros com a bossa nova ou mesmo canções bregas de Peninha com seu toque de violão e voz sedutores, mostrando à la João Gilberto a geometria dessas canções, Caets se arriscando a fazer rock é como o artista plástico que, logo depois de ter desenhado um carneirinho, quer logo partir para a abstração e a action paiting à la Jackson Pollock. O resultado às vezes é genial e, por vezes...já viram japonês tocando samba?
No fim das contas, nesse disco Caetano ainda não se reencontra, reencontrou, reencontrará com sua base estética, a bossa nova, mas já se aproximou do samba: é meio caminho andado. Ele sinaliza que no futuro pode se desvincular da banda Cê e voltar a uma fase orquestral como foi com Jacques Morelenbaum e Júlio Medaglia. Quem viver, caetaneará.
Marcadores:
banda Cê,
Caetano Veloso,
crítica,
novo disco,
Zizek
sábado, 23 de maio de 2009
Força estranha derruba Caetano Veloso em show
Um comentário de fã: "somente Caetano para transformar um simples tombo em uma performance genial!"
Marcadores:
Brasília,
Caetano Veloso,
performance genial,
tombo
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Batman é preso: o mundo é de Batman
"O mundo é de Batman", dizia Caetano Veloso de gola rolê, numa de suas primeiras entrevistas, ainda na revista "Realidade", em 1967.
É 2009, hoje eu faço 35 anos e realidade acabou há muito.
Bait-man (Batman?) foi preso, escuto no telejornal. Ele tinha saído pela porta da frente de um presídio de segurança máxima, pois é um ex-policial.
O nome do grupo de milicianos de Batman? Liga da Justiça!
O mundo é de Batman, mesmo! Caetano é um profeta.
É 2009, hoje eu faço 35 anos e realidade acabou há muito.
Bait-man (Batman?) foi preso, escuto no telejornal. Ele tinha saído pela porta da frente de um presídio de segurança máxima, pois é um ex-policial.
O nome do grupo de milicianos de Batman? Liga da Justiça!
O mundo é de Batman, mesmo! Caetano é um profeta.
Marcadores:
Bait-man,
Bangu,
Batman,
Caetano Veloso,
profecia
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Lula é o cara da Obamania
Deu muita repercussão o flerte de Obama com Lula. Todos já sabem que, em ano eleitoral, ser chamado de "o cara" vale votos, muitos votos. Será que foi tudo combinado? Obama sabia dos bônus da AIG? Sabe das eleições no Brasil?
Um amigo que trabalha na bolsa de valores e que eu acho melhor chamar "O Tempestuoso", pois toda vez que chega cai uma tempestade, me ligou dizendo que os ativos do Brasil dão para comprar todo o sistema bancário norte-americano, que é uma situação para lá de anômala. Ele diz que tem gente nos USA que durante gerações passava ações como herança. Eu citei a cena de um dos Batmans (não bait-mans) onde o pai, morrendo, dizia: "Filho, compre todas as ações da Enron e venda as da Google, aquela empresinha sem importância..." kkkk, o Tempestuoso riu demais e comentamos muito o artigo de Luiz Bresser Pereira, que pode ser acessado no site do Bresser (procurem no google acadêmico), o melhor até agora sobre a crise, que nem tem nome e que eu sugeri ao Tempestuoso para chamar de: "CRACK DE 2008". Tempestuoso anotou e vai lançar a moda dessa denominação a seus amigos da bolsa. Veremos se vai colar.
Sabe que pode afundar lutando contra os Talibãs, os antigos "guerrilheiros da liberdade"? Acho que não.
Há algum tempo, vi que Obama era objeto de uma obamania: a cidade de Obama no Japão estava em polvorosa, comia-se Obama em pasta de amendoim, sua biografia bombando como best-seller, Jabor orgulha-se de que sem Orfeu Negro não existiria Obama, mas Obama é um Orfeu Negro que irá naufragar no Hades-feganistão & Paquistão. Existe Obama sólido, Obama líquido, Obama gasoso. Pode-se comer Obama, beber Obama, cheirar Obama, lamber Obama, Obama pelos SETE buracos de sua Der Leone has sept cabezas.
Moral de escravos: os judeus eram perseguidos e viraram bodes expiatórios do capitalismo europeu. Moral de senhores: os judeus aprenderam que o bom é ser amigo do imperador. O negócio é tombar se o imperador tomba.
A tua presença. Terás um falcão negro por tumba. Terás uma somália por tumba. A Somália implodiu e assim também todas as suas estruturas e agora é dominada por milícias islâmicas.
Os USA não souberam entrar e sair de dentro do toda a estrutura somali e fizeram-na implodir...Quem teve essa coragem? Foi o capitão Maersk, Obama, Gil e eu? Pô, isso é discurso de Caetano em festival! Lula e Obama são o "centro progressista". Iam se aproximar, isso estava claro. Será esquerdofrenia ser Obama nos USA e combater Lula no Brazyl? Mas Lula, o cara que empresta grana pro FMI, é a favor de ANGRA III! Da transposição do Rio São Francisco, pode virar o nosso Mar de Aral! Greve de fome de novo, Morales, Di Cappio! Di fome, Di Caprio! Caetano disse que devoraria Di Caprio ou Di Cappio? Ele disse ao jornal Libération que devoraria muitos ícones culturais, mas que o Matt Dilon é mais palatável que o Di Caprio.
O falcão negro & a águia americana tentaram dar um rélpimperialista, mas não rolou. O que rola é Sombras de Goya, cinebiografia do pintor. Rola Julian Schnabel com Basquiat. Mas Bacon rola? Nos anos 90, estava um climinha "bem vindos aos anos 70" e Black Crowes tava na moda e eu até saí de calças veludo cotelê bocas de sino. Atores, escritores, pessoas comuns davam entrevistas dizendo que transavam os dois sexos. Que barato, Nosferatu! Dá saudade, mas agora não existe sequer vício solitário: adolescentes punhetam pela web.
Os anos 90 foram legais, nem tudo foi reciclagem. Nunca vi um modismo tão marcante quanto o grunge. Deve ter sido como os hippies para a geração de 68. Meu amigo Andrei Golemsky aderiu e fez banda grânji. Depois fracassou e não gosta de lembrar do Goobledygook, a banda bruzundanga.
Juntar tudo a respeito de nós, dar um google me, não é egolatria, é arquivo pessoal. Fichário marioandradino. MINHA LITERATURA AGORA, como diz o nosso amigo do blog!
Sonhei essa noite que Lula dava uma declaração citando Gerald Thomas! Foi um assombro. Vi o último filme do Adam Sandler, Zohan. Zohan total. Melhor comparação. O papo de conciliação de palestinos e judeus se perdeu num mar de escatologia e canastrice. Ele já não é o mesmo de Fifth First Dates. Esse filme dele, Zohan, foi uma bosta. O humor dele é lowbrow. A Alma Boa de Setsuan também não prestou? Dont´ know. Adorei Denise Fraga no Jô, que voltou.
É bom gostar de Bacon e ser vegetariano, alimentar-se de leite & mel, como fazia Mautner em London, London, disse Caets. A obra em progresso de Caetas está chegando ao final. Zi e Ziee, nome fraco que sugeri (sem sucesso) que ele substituísse por Zi & Zek, em homenagem ao filósofo esloveno, não deu certo.
Zizek transa Laibach que transa Neue Skolovenski Kunst. Ajuntando os clichês stalinistas e nazistas. Laibach era o nome de Liubliana, capital da Eslovênia. Como diz o Laibach como uma voz do demo (não dos demo-cratas brasileiros): Jesus Crist, Superstar!
Fiquei sabendo que Eistein, politicamente era um sionista que não queria apenas mais um nacionalismo. Isso na História Viva. Como disse Einstein, é duro ser o eleito do povo eleito!
Um amigo que trabalha na bolsa de valores e que eu acho melhor chamar "O Tempestuoso", pois toda vez que chega cai uma tempestade, me ligou dizendo que os ativos do Brasil dão para comprar todo o sistema bancário norte-americano, que é uma situação para lá de anômala. Ele diz que tem gente nos USA que durante gerações passava ações como herança. Eu citei a cena de um dos Batmans (não bait-mans) onde o pai, morrendo, dizia: "Filho, compre todas as ações da Enron e venda as da Google, aquela empresinha sem importância..." kkkk, o Tempestuoso riu demais e comentamos muito o artigo de Luiz Bresser Pereira, que pode ser acessado no site do Bresser (procurem no google acadêmico), o melhor até agora sobre a crise, que nem tem nome e que eu sugeri ao Tempestuoso para chamar de: "CRACK DE 2008". Tempestuoso anotou e vai lançar a moda dessa denominação a seus amigos da bolsa. Veremos se vai colar.
Sabe que pode afundar lutando contra os Talibãs, os antigos "guerrilheiros da liberdade"? Acho que não.
Há algum tempo, vi que Obama era objeto de uma obamania: a cidade de Obama no Japão estava em polvorosa, comia-se Obama em pasta de amendoim, sua biografia bombando como best-seller, Jabor orgulha-se de que sem Orfeu Negro não existiria Obama, mas Obama é um Orfeu Negro que irá naufragar no Hades-feganistão & Paquistão. Existe Obama sólido, Obama líquido, Obama gasoso. Pode-se comer Obama, beber Obama, cheirar Obama, lamber Obama, Obama pelos SETE buracos de sua Der Leone has sept cabezas.
Moral de escravos: os judeus eram perseguidos e viraram bodes expiatórios do capitalismo europeu. Moral de senhores: os judeus aprenderam que o bom é ser amigo do imperador. O negócio é tombar se o imperador tomba.
A tua presença. Terás um falcão negro por tumba. Terás uma somália por tumba. A Somália implodiu e assim também todas as suas estruturas e agora é dominada por milícias islâmicas.
Os USA não souberam entrar e sair de dentro do toda a estrutura somali e fizeram-na implodir...Quem teve essa coragem? Foi o capitão Maersk, Obama, Gil e eu? Pô, isso é discurso de Caetano em festival! Lula e Obama são o "centro progressista". Iam se aproximar, isso estava claro. Será esquerdofrenia ser Obama nos USA e combater Lula no Brazyl? Mas Lula, o cara que empresta grana pro FMI, é a favor de ANGRA III! Da transposição do Rio São Francisco, pode virar o nosso Mar de Aral! Greve de fome de novo, Morales, Di Cappio! Di fome, Di Caprio! Caetano disse que devoraria Di Caprio ou Di Cappio? Ele disse ao jornal Libération que devoraria muitos ícones culturais, mas que o Matt Dilon é mais palatável que o Di Caprio.
O falcão negro & a águia americana tentaram dar um rélpimperialista, mas não rolou. O que rola é Sombras de Goya, cinebiografia do pintor. Rola Julian Schnabel com Basquiat. Mas Bacon rola? Nos anos 90, estava um climinha "bem vindos aos anos 70" e Black Crowes tava na moda e eu até saí de calças veludo cotelê bocas de sino. Atores, escritores, pessoas comuns davam entrevistas dizendo que transavam os dois sexos. Que barato, Nosferatu! Dá saudade, mas agora não existe sequer vício solitário: adolescentes punhetam pela web.
Os anos 90 foram legais, nem tudo foi reciclagem. Nunca vi um modismo tão marcante quanto o grunge. Deve ter sido como os hippies para a geração de 68. Meu amigo Andrei Golemsky aderiu e fez banda grânji. Depois fracassou e não gosta de lembrar do Goobledygook, a banda bruzundanga.
Juntar tudo a respeito de nós, dar um google me, não é egolatria, é arquivo pessoal. Fichário marioandradino. MINHA LITERATURA AGORA, como diz o nosso amigo do blog!
Sonhei essa noite que Lula dava uma declaração citando Gerald Thomas! Foi um assombro. Vi o último filme do Adam Sandler, Zohan. Zohan total. Melhor comparação. O papo de conciliação de palestinos e judeus se perdeu num mar de escatologia e canastrice. Ele já não é o mesmo de Fifth First Dates. Esse filme dele, Zohan, foi uma bosta. O humor dele é lowbrow. A Alma Boa de Setsuan também não prestou? Dont´ know. Adorei Denise Fraga no Jô, que voltou.
É bom gostar de Bacon e ser vegetariano, alimentar-se de leite & mel, como fazia Mautner em London, London, disse Caets. A obra em progresso de Caetas está chegando ao final. Zi e Ziee, nome fraco que sugeri (sem sucesso) que ele substituísse por Zi & Zek, em homenagem ao filósofo esloveno, não deu certo.
Zizek transa Laibach que transa Neue Skolovenski Kunst. Ajuntando os clichês stalinistas e nazistas. Laibach era o nome de Liubliana, capital da Eslovênia. Como diz o Laibach como uma voz do demo (não dos demo-cratas brasileiros): Jesus Crist, Superstar!
Fiquei sabendo que Eistein, politicamente era um sionista que não queria apenas mais um nacionalismo. Isso na História Viva. Como disse Einstein, é duro ser o eleito do povo eleito!
Marcadores:
Barack Obama,
blog de Gerald Thomas,
Caetano Veloso,
Einstein,
Eslovênia,
Laibach,
Lula
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Um Comentário no Obra em Progresso
A diferença na ausência do artigo na primeira pessoa do plural no último verso de Sampa é fundamental!
# Caetano Veloso disse:
Março 27th, 2009 at 4:40 am
Maria João Brasil: Luis Caldas acaba de fazer um CD todo de rock. Pronto. Acabou o problema.
Maria: quando eu era novo, os pernambucanos diziam “ricife”. Era igual a “cibola”. Hoje, que muitos dispensaram o artigo, ouço mais “rê”. Baiano diz “ré-cife”. Quanto a vogais abertas ou fechadas em música cantada, isso não vale. Todo o mundo cresceu ouvindo canções em pronúncia vocálica carioca (os erres eram tipo italiano). E “moçada” é sempre “mô”, pelo menos na Bahia. Vem de “moço/moça” e a gente não esquece. Já “pessoal” na Bahia é sempre “péssoal”. A não ser que se esteja cantando (aí varia: ou se faz como cantores do Rio ou se faz como a Simone - eu já fiz os dois; o gozado é que João Gilberto elegeu a pronúncia das vogais breves cariocas, exceto NUM disco: o branco, gravado em Nova Iorque, no estúdio de Wendy Carlos, que era Walter Carlos mas fez operação e virou mulher: ele/ela é músico erudito e fez a trilha de Laranja Mecânica, de Stanley Kubrik; ese disco branco de João é o meu preferido da discografia dele, se tirarmos os 3 primeiros, com arranjos de Tom).
Lucio Junior: boa lembrança o debate na FAU/USP em 68. Eu não tinha relacionado minhas ironias agressivas à USP a esse episódio. Você é um psicanalista. Vou pensar.
A capa do Zii e Zie tem foto (lomografia: é a câmera “russa” mesmo, tipo “Lomo”) de Pedro Sá, projeto gráfico meu (escolhi a foto, os tipos e onde iriam as palavras) e realização gráfica de Pedro Einloft.
Neyde L: pensei que já tivesse respondido a algum comentário seu. Talvez tenha feito isso e depois não postei. Mas lembro de ler você sobre a Barra e o carnaval. Nunca deixaria de falar com você por você ser mulher: minha misoginia não vai tão longe.
# Caetano Veloso disse:
Março 27th, 2009 at 4:40 am
Maria João Brasil: Luis Caldas acaba de fazer um CD todo de rock. Pronto. Acabou o problema.
Maria: quando eu era novo, os pernambucanos diziam “ricife”. Era igual a “cibola”. Hoje, que muitos dispensaram o artigo, ouço mais “rê”. Baiano diz “ré-cife”. Quanto a vogais abertas ou fechadas em música cantada, isso não vale. Todo o mundo cresceu ouvindo canções em pronúncia vocálica carioca (os erres eram tipo italiano). E “moçada” é sempre “mô”, pelo menos na Bahia. Vem de “moço/moça” e a gente não esquece. Já “pessoal” na Bahia é sempre “péssoal”. A não ser que se esteja cantando (aí varia: ou se faz como cantores do Rio ou se faz como a Simone - eu já fiz os dois; o gozado é que João Gilberto elegeu a pronúncia das vogais breves cariocas, exceto NUM disco: o branco, gravado em Nova Iorque, no estúdio de Wendy Carlos, que era Walter Carlos mas fez operação e virou mulher: ele/ela é músico erudito e fez a trilha de Laranja Mecânica, de Stanley Kubrik; ese disco branco de João é o meu preferido da discografia dele, se tirarmos os 3 primeiros, com arranjos de Tom).
Lucio Junior: boa lembrança o debate na FAU/USP em 68. Eu não tinha relacionado minhas ironias agressivas à USP a esse episódio. Você é um psicanalista. Vou pensar.
A capa do Zii e Zie tem foto (lomografia: é a câmera “russa” mesmo, tipo “Lomo”) de Pedro Sá, projeto gráfico meu (escolhi a foto, os tipos e onde iriam as palavras) e realização gráfica de Pedro Einloft.
Neyde L: pensei que já tivesse respondido a algum comentário seu. Talvez tenha feito isso e depois não postei. Mas lembro de ler você sobre a Barra e o carnaval. Nunca deixaria de falar com você por você ser mulher: minha misoginia não vai tão longe.
Marcadores:
Caetano Veloso,
obra em progresso
segunda-feira, 2 de março de 2009
MST, Orwell, Olavo de Carvalho X Bagno, Beckett...
Eu li no blog do GT que ele e o Pacheco estão querendo fazer um filme sobre o MST. Pacheco será que já fez a "Waltcheco Produtchions" que o Fábio Pipipi sugeriu? Eu li as sugestões do Pacheco.
Achei-as nada reais. Mas GT, que sugeriu dirigir e produzir o filme, não é realista e detesta apresentações naturalistas.
Eu já estive num acampamento do MST e vi algo bem diferente. Em primeiro, ninguém está sujo ou passa fome. Aliás, em primeiro é preciso diferenciar acampamento de assentamento. O acampamento é onde eles ficam nas barracas de lonas, esperando uma decisão legal. Enquanto isso, plantam e colaboram intensamente. Não vi sujeira no acampamento que vi em Ibirité. Vi um assentamento em Campo Florido: quando eles estão assentados, são famílias que receberam sua parte de terra. Foram muito gentis conosco (eu estava com Pierre Doury e meu pai, que é coronel da PMMG) e serviram café, milho verde e pamonha, com fartura. Disseram que o milho não compete bem com o de países de agricultura subsidiada. Estávamos em pleno governo FHC e o MST estava bem fashion, até no exterior.
Eles nos contaram que, quando estão assentados, há risco de chegarem capangas. Contaram casos onde os capangas chegam armados e atacam todos, mesmo mulheres e crianças.
Eles não deixam ninguém da Globo entrar e conversam com as pessoas que querem filmar ou fotografar antes. Bom, então Pacheco e GT provavelmente vão ter que fazer uma cidade cenográfica para o filme...Nada de difícil para a Waltcheco Produtchions. A Globo adora por a culpa do desmatamento da Amazônia no MST e agora está com essa de não olhar o lado deles nesses acontecimentos trágicos em Pernambuco: taí a resposta de porque eles não gostam da "Rede Povo" do Lula pré-peace and love.
Eu fui também a um curso ministrado aos integrantes que começava com uma sessão de mística. Ninguém gritava slogans odiando as elites. Só erguem os punhos e cantam canções louvando o MST, a luta socialista e pela terra. Contardo Calligaris horrorizou-se com isso, mas meu amigo Pierre gostou. Achei um pouco excessivo. Eles eram também preocupados com a moral e os bons costumes, pediam que ninguém bebesse durante o curso, etc.
E agora para algo inteiramente diferente. Quanto mais ouço falar sobre Beckett, mais vejo o quanto ele é central no teatro contemporâneo: ouço dizer que muitos o plagiam, copiam, gostariam de ter mais contato com ele (Pinter, Arrabal, David Mamet) enquanto outro (s) o transcriam, recriam, adaptam, antropofagizam (Gerald Thomas). Vi vários vídeos ótimos sobre o trabalho dele no youtube: Not I, monólogo de uma boca; Film, filme mudo que me lembrou o surrealismo e o expressionismo; outro, cujo nome esqueci, tinha pessoas enterradas em vasos e falando, falando, dando o aspecto de um grande cemitério de talking heads vivas. No final, descobre-se que o mundo é esse grande cemitério surreal. Finalmente, Henrique Hemídio postou o belo Improviso de Ohio, com um texto de estilo muito sucinto e forte, estrelado por Jeremy Irons. Quanto mais ouço falar sobre Beckett, descubro que preciso ler mais Beckett, Beckett, Beckett.
No blog do Caetano debateu-se Bagno X Olavo de Carvalho. Olavão nada entende de linguística. Bagno o considera, num texto, mas não citando seu nome, tão ultraconservador que chega a ser quase fascista; dá a entender que é ele. Olavo, por não dominar o assunto "língua", debate identidade nacional e tradição ibérica, que são coisas diferentes.
Li numa velha Revista Oitenta a seguinte definição de Orwell, inesquecível: "um poeta da decadência e do mau gosto..."
O conto Pequeno Concerto para Celular saiu na Broca Literária. Logo mais posto o endereço aqui.
Achei-as nada reais. Mas GT, que sugeriu dirigir e produzir o filme, não é realista e detesta apresentações naturalistas.
Eu já estive num acampamento do MST e vi algo bem diferente. Em primeiro, ninguém está sujo ou passa fome. Aliás, em primeiro é preciso diferenciar acampamento de assentamento. O acampamento é onde eles ficam nas barracas de lonas, esperando uma decisão legal. Enquanto isso, plantam e colaboram intensamente. Não vi sujeira no acampamento que vi em Ibirité. Vi um assentamento em Campo Florido: quando eles estão assentados, são famílias que receberam sua parte de terra. Foram muito gentis conosco (eu estava com Pierre Doury e meu pai, que é coronel da PMMG) e serviram café, milho verde e pamonha, com fartura. Disseram que o milho não compete bem com o de países de agricultura subsidiada. Estávamos em pleno governo FHC e o MST estava bem fashion, até no exterior.
Eles nos contaram que, quando estão assentados, há risco de chegarem capangas. Contaram casos onde os capangas chegam armados e atacam todos, mesmo mulheres e crianças.
Eles não deixam ninguém da Globo entrar e conversam com as pessoas que querem filmar ou fotografar antes. Bom, então Pacheco e GT provavelmente vão ter que fazer uma cidade cenográfica para o filme...Nada de difícil para a Waltcheco Produtchions. A Globo adora por a culpa do desmatamento da Amazônia no MST e agora está com essa de não olhar o lado deles nesses acontecimentos trágicos em Pernambuco: taí a resposta de porque eles não gostam da "Rede Povo" do Lula pré-peace and love.
Eu fui também a um curso ministrado aos integrantes que começava com uma sessão de mística. Ninguém gritava slogans odiando as elites. Só erguem os punhos e cantam canções louvando o MST, a luta socialista e pela terra. Contardo Calligaris horrorizou-se com isso, mas meu amigo Pierre gostou. Achei um pouco excessivo. Eles eram também preocupados com a moral e os bons costumes, pediam que ninguém bebesse durante o curso, etc.
E agora para algo inteiramente diferente. Quanto mais ouço falar sobre Beckett, mais vejo o quanto ele é central no teatro contemporâneo: ouço dizer que muitos o plagiam, copiam, gostariam de ter mais contato com ele (Pinter, Arrabal, David Mamet) enquanto outro (s) o transcriam, recriam, adaptam, antropofagizam (Gerald Thomas). Vi vários vídeos ótimos sobre o trabalho dele no youtube: Not I, monólogo de uma boca; Film, filme mudo que me lembrou o surrealismo e o expressionismo; outro, cujo nome esqueci, tinha pessoas enterradas em vasos e falando, falando, dando o aspecto de um grande cemitério de talking heads vivas. No final, descobre-se que o mundo é esse grande cemitério surreal. Finalmente, Henrique Hemídio postou o belo Improviso de Ohio, com um texto de estilo muito sucinto e forte, estrelado por Jeremy Irons. Quanto mais ouço falar sobre Beckett, descubro que preciso ler mais Beckett, Beckett, Beckett.
No blog do Caetano debateu-se Bagno X Olavo de Carvalho. Olavão nada entende de linguística. Bagno o considera, num texto, mas não citando seu nome, tão ultraconservador que chega a ser quase fascista; dá a entender que é ele. Olavo, por não dominar o assunto "língua", debate identidade nacional e tradição ibérica, que são coisas diferentes.
Li numa velha Revista Oitenta a seguinte definição de Orwell, inesquecível: "um poeta da decadência e do mau gosto..."
O conto Pequeno Concerto para Celular saiu na Broca Literária. Logo mais posto o endereço aqui.
Marcadores:
Beckett,
broca literária,
Caetano Veloso,
Gerald Thomas,
MST,
Orwell
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Obama, Caetano, Cânone, etc
Caetano abriu novo debate com os linguistas em seu blog Obra em Progresso. Penso que ele não vai ganhar doutorado honoris causa em linguística, se a coisa continuar assim: ele lê, lê, mas discorda cordialmente de quase tudo. Caetas não gosta de linguista. E de linguística. Prefere gramática. Ponto. Não seria melhor assim? Quando ele falou sobre o "r" retroflexo em Verdade Tropical, chamando-o de "aleijão" ele mostrou ter preconceito linguístico.
Em dado momento, ele atribui a Bagno uma adesão a uma falta de auto-estima brasileira e às críticas de Marilena Chauí ao descobrimento no ano 2000. Pelo que me lembro naquele ano, o que aconteceu foi que os movimentos sociais concluíram que nada havia para comemorar e o momento deveria ser de protesto e assim foi. E, no discurso de Caetano, os PCNs, com os quais o discurso de Bagno está em sintonia, criticados como demagógicos e em outro momento, mostrados como realização do governo Fernando Henrique Cardoso ou mostra de que ele não foi horrendo. Esse governo teve muito de horrendo, com certeza. Mas piores foram as tais comemorações em Porto Seguro que Caetas defendeu: até Gabeira se espantou com o ridículo dos galeões portugueses que não navegaram. E Gabeira tem pouco a ver com os movimentos sociais, é liberal moderno, de uma nova direita, mas não sei se ele entende assim.
E cita esse artigo de Antonio Cícero, filósofo poeta e letrista de Marina Lima, parece que acredita quase religiosamente nas luzes da razão ocidental como panacéia universal, "pomadinha japonesa" que serve para tudo ou quase tudo: ao falar de um poema, o coloca em forma de premissas lógicas e diz que sabe que será acusado de logocentrismo. Critica Terry Eagleton e os estudos culturais quando eles dizem que o cânone muda e é relativo. Para Cicero, a prova de que os textos canônicos possuem valor reside no fato de terem sobrevivido secularmente a tantas críticas e revisões.
O texto que ele ataca de Eagleton parece realmente ser frágil. Eagleton defende que a arte grega poderia sair do cânone se ocorresse uma importante descoberta arqueológica, diz Antonio Cicero sobre o Eagleton citando a famosa frase de Marx que também está debatida por Lukács: o mito é a infância da humanidade e a arte grega pode ser apreciada embora as estruturas econômicas que a geraram fossem pobres, toscas e já desapareceram. Como não vi o artigo de Eagleton, não é possível defendê-lo nesse ponto.
Mas já Harold Bloom é um prato cheio para os multiculturalistas criticarem. E diria o seguinte: o cânone, do jeito que certos tradicionalistas querem, não é desejável. Mas Cicero e Caetano querem colocar o cânone como se fosse um enorme traseiro de mármore diante de nós. Estou com Oswald de Andrade: precisamos retornar ao que está vivo na tradição, não ao passado.
Talvez ele tema que eles não sobrevivam tão bem à sanha dos estudos culturais...Mas tudo bem. Caetano compara a defesa do cânone do Cicero com a defesa que ele faz da gramática e das normas, tomadas como nascidas do povo e altamente desejáveis. Ele deseja uma gramática do desejo? Acho que ele deseja que desejemos a gramática. Ele poderia fazer uma canção de amor a crase e nos ajudar. Caets não acha a crase difícil. Sou mais Gerald Thomas, que escreve em pc estrangeiro mesmo e não usa acentos. Sou a favor de uma reforma da língua portuguesa escrita que acabe com todos os acentos, para que ela fique mais competitiva em relação à língua inglesa.
Caetano e Cícero lutam muito contra a idéia de que grupos cultos e letrados possam ter selecionado esses textos canônicos por razões particulares. Quanto ao cânone isso me parece claro, mas para eles não é, por alguma razão obscura (ou não!): um bom autor como Octavio de Faria ficou fora do cânone. Gostei bastante de seu romance Mundos Mortos, achei-o de primeira linha, sem retórica exagerada, conciso, abordando um tema espinhoso (a adolescência) e a identidade sexual. No entanto, ele possui fortes concorrentes em seu tempo: Graciliano Ramos, Jorge Amado, entre outros. Ele entra agora no cânone de um interessado em temas gays em literatura como João Silvério Trevisan, por exemplo. Pode ser que, mais adiante, desbanque alguém do cânone. E ele estaria no cânone se o cânone fosse exclusivamente, perdidamente católico, por exemplo.
Gosto de ver Shakespeare como o vi no TU: Próspero era o colonialista decadente, vestindo roupas rotas e os nativos da ilha, Caliban inclusive, estavam nus ou seminus e eram fortes e vigorosos.
Em suma: para quê negar que são grupos cultos ou elites que selecionam o que temos como literatura canônica e a gramática? E que esses critérios que fizeram o cânone tem muito pouco rigor científico e bastante de arbitrário? Que o que chamamos de norma culta era o dialeto dos cultos e letrados do passado? Será que esses donos da razão vão ir mais longe e chamar todos os que questionam isso de irracionalistas?
Obama discursou e o discurso parecia uma cena de cinema. A anunciação foi magnífica. É preciso analisar a gestuália de Obama. Regina Casé analisou a de Fidel em Cinema Falado e observou que tudo, em Fidel, vinha da região genital, suas mãos sempre evoluindo a partir do ventre. Obama discursou bonito, mas o mercado, como acabo de saber, não melhorou. O mercado é irracional.
O Brasil industrializou-se, historicamente, nos períodos de crises motivadas por guerras dos países centrais (1914-18) e 1939-45, segundo Nelson Werneck Sodré. Vejamos o que vai acontecer agora.
Minhas críticas ao governo Lula são políticas e não culturais. Lula sabe também sabe fazer discurso conforme a platéia, matizando as idéias para jamais ser "contra" aquela platéia. Suas proezas de anão evocam Getúlio Vargas no inconsciente do povo brasileiro, mas Vargas foi mais longe em suas realizações. Vejamos do que, pressionado, Lula é capaz. Somos moldados pelo meio e pelo contexto. Num desses carnavais mundo afora, não sei se no Mardi Gras de New Orleans ou em Rijeka na Croácia, fizeram um boneco de Chávez com Bush no colo. Bush, radicalizando com um golpe à moda antiga contra Chávez, ignorou o contexto político da Venezuela e fez nascer o Chávez de esquerda, o aliado de Fidel. Antes ele se manteve dentro dos parâmetros do neoliberalismo. Depois do golpe falhado, pode finalmente colocar em prática uma agenda progressista mais ampla. Chávez não é dúbio, Lula é.
Mas ainda quero --mas acho que não vou ver -- Obama ter culhões para um dia entrar no Congresso e dizer:
--My fellow citizens, we lost in Iraq. Sadly, also in Apheganistan.
Mas o racismo continua. O Washington Post publicou uma charge de um chimpanzé morto e abaixo a legenda: "vamos ter que encontrar alguém para inventar um plano de estímulo..." Um amigo me diz que a direita está satisfeita com Obama. Outro, que é um sargento democrata do Texas, diz que existe uma grande insatisfação com os impostos que devoram trinta por cento dos salários dos trabalhadores americanos. E existe a suspeita de que Obama não vai cumprir suas promessas de campanha. Demétrio Magnolli comentou, em programa de TV, que Chávez é autocrático e tem tudo a perder com a crise. Essa gente pensa que basta fechar as torneiras do petróleo e ele cai. Já vi raciocínios assim na Globo, na Piauí, num artigo de um tal Jim Holt. Só que Chávez possui realizações e não só programas assistencialistas. E ele perde nas províncias mais ricas que produzem petróleo: claro, ele obrigou-as a se democratizarem, atacou as oligarquias podres e a burocracia das empresas, em especial da PDVSA.
Magnolli diz que existe um ódio popular contra Wall Street e que Obama joga com a seguinte chantagem com os ricos: se vocês não fizerem o que eu mandar, virá alguém mais anti-Wall Street que eu, aquela velha frase que os professores dizem: "atrás de mim virá uma pessoa que boa me fará"...
Em dado momento, ele atribui a Bagno uma adesão a uma falta de auto-estima brasileira e às críticas de Marilena Chauí ao descobrimento no ano 2000. Pelo que me lembro naquele ano, o que aconteceu foi que os movimentos sociais concluíram que nada havia para comemorar e o momento deveria ser de protesto e assim foi. E, no discurso de Caetano, os PCNs, com os quais o discurso de Bagno está em sintonia, criticados como demagógicos e em outro momento, mostrados como realização do governo Fernando Henrique Cardoso ou mostra de que ele não foi horrendo. Esse governo teve muito de horrendo, com certeza. Mas piores foram as tais comemorações em Porto Seguro que Caetas defendeu: até Gabeira se espantou com o ridículo dos galeões portugueses que não navegaram. E Gabeira tem pouco a ver com os movimentos sociais, é liberal moderno, de uma nova direita, mas não sei se ele entende assim.
E cita esse artigo de Antonio Cícero, filósofo poeta e letrista de Marina Lima, parece que acredita quase religiosamente nas luzes da razão ocidental como panacéia universal, "pomadinha japonesa" que serve para tudo ou quase tudo: ao falar de um poema, o coloca em forma de premissas lógicas e diz que sabe que será acusado de logocentrismo. Critica Terry Eagleton e os estudos culturais quando eles dizem que o cânone muda e é relativo. Para Cicero, a prova de que os textos canônicos possuem valor reside no fato de terem sobrevivido secularmente a tantas críticas e revisões.
O texto que ele ataca de Eagleton parece realmente ser frágil. Eagleton defende que a arte grega poderia sair do cânone se ocorresse uma importante descoberta arqueológica, diz Antonio Cicero sobre o Eagleton citando a famosa frase de Marx que também está debatida por Lukács: o mito é a infância da humanidade e a arte grega pode ser apreciada embora as estruturas econômicas que a geraram fossem pobres, toscas e já desapareceram. Como não vi o artigo de Eagleton, não é possível defendê-lo nesse ponto.
Mas já Harold Bloom é um prato cheio para os multiculturalistas criticarem. E diria o seguinte: o cânone, do jeito que certos tradicionalistas querem, não é desejável. Mas Cicero e Caetano querem colocar o cânone como se fosse um enorme traseiro de mármore diante de nós. Estou com Oswald de Andrade: precisamos retornar ao que está vivo na tradição, não ao passado.
Talvez ele tema que eles não sobrevivam tão bem à sanha dos estudos culturais...Mas tudo bem. Caetano compara a defesa do cânone do Cicero com a defesa que ele faz da gramática e das normas, tomadas como nascidas do povo e altamente desejáveis. Ele deseja uma gramática do desejo? Acho que ele deseja que desejemos a gramática. Ele poderia fazer uma canção de amor a crase e nos ajudar. Caets não acha a crase difícil. Sou mais Gerald Thomas, que escreve em pc estrangeiro mesmo e não usa acentos. Sou a favor de uma reforma da língua portuguesa escrita que acabe com todos os acentos, para que ela fique mais competitiva em relação à língua inglesa.
Caetano e Cícero lutam muito contra a idéia de que grupos cultos e letrados possam ter selecionado esses textos canônicos por razões particulares. Quanto ao cânone isso me parece claro, mas para eles não é, por alguma razão obscura (ou não!): um bom autor como Octavio de Faria ficou fora do cânone. Gostei bastante de seu romance Mundos Mortos, achei-o de primeira linha, sem retórica exagerada, conciso, abordando um tema espinhoso (a adolescência) e a identidade sexual. No entanto, ele possui fortes concorrentes em seu tempo: Graciliano Ramos, Jorge Amado, entre outros. Ele entra agora no cânone de um interessado em temas gays em literatura como João Silvério Trevisan, por exemplo. Pode ser que, mais adiante, desbanque alguém do cânone. E ele estaria no cânone se o cânone fosse exclusivamente, perdidamente católico, por exemplo.
Gosto de ver Shakespeare como o vi no TU: Próspero era o colonialista decadente, vestindo roupas rotas e os nativos da ilha, Caliban inclusive, estavam nus ou seminus e eram fortes e vigorosos.
Em suma: para quê negar que são grupos cultos ou elites que selecionam o que temos como literatura canônica e a gramática? E que esses critérios que fizeram o cânone tem muito pouco rigor científico e bastante de arbitrário? Que o que chamamos de norma culta era o dialeto dos cultos e letrados do passado? Será que esses donos da razão vão ir mais longe e chamar todos os que questionam isso de irracionalistas?
Obama discursou e o discurso parecia uma cena de cinema. A anunciação foi magnífica. É preciso analisar a gestuália de Obama. Regina Casé analisou a de Fidel em Cinema Falado e observou que tudo, em Fidel, vinha da região genital, suas mãos sempre evoluindo a partir do ventre. Obama discursou bonito, mas o mercado, como acabo de saber, não melhorou. O mercado é irracional.
O Brasil industrializou-se, historicamente, nos períodos de crises motivadas por guerras dos países centrais (1914-18) e 1939-45, segundo Nelson Werneck Sodré. Vejamos o que vai acontecer agora.
Minhas críticas ao governo Lula são políticas e não culturais. Lula sabe também sabe fazer discurso conforme a platéia, matizando as idéias para jamais ser "contra" aquela platéia. Suas proezas de anão evocam Getúlio Vargas no inconsciente do povo brasileiro, mas Vargas foi mais longe em suas realizações. Vejamos do que, pressionado, Lula é capaz. Somos moldados pelo meio e pelo contexto. Num desses carnavais mundo afora, não sei se no Mardi Gras de New Orleans ou em Rijeka na Croácia, fizeram um boneco de Chávez com Bush no colo. Bush, radicalizando com um golpe à moda antiga contra Chávez, ignorou o contexto político da Venezuela e fez nascer o Chávez de esquerda, o aliado de Fidel. Antes ele se manteve dentro dos parâmetros do neoliberalismo. Depois do golpe falhado, pode finalmente colocar em prática uma agenda progressista mais ampla. Chávez não é dúbio, Lula é.
Mas ainda quero --mas acho que não vou ver -- Obama ter culhões para um dia entrar no Congresso e dizer:
--My fellow citizens, we lost in Iraq. Sadly, also in Apheganistan.
Mas o racismo continua. O Washington Post publicou uma charge de um chimpanzé morto e abaixo a legenda: "vamos ter que encontrar alguém para inventar um plano de estímulo..." Um amigo me diz que a direita está satisfeita com Obama. Outro, que é um sargento democrata do Texas, diz que existe uma grande insatisfação com os impostos que devoram trinta por cento dos salários dos trabalhadores americanos. E existe a suspeita de que Obama não vai cumprir suas promessas de campanha. Demétrio Magnolli comentou, em programa de TV, que Chávez é autocrático e tem tudo a perder com a crise. Essa gente pensa que basta fechar as torneiras do petróleo e ele cai. Já vi raciocínios assim na Globo, na Piauí, num artigo de um tal Jim Holt. Só que Chávez possui realizações e não só programas assistencialistas. E ele perde nas províncias mais ricas que produzem petróleo: claro, ele obrigou-as a se democratizarem, atacou as oligarquias podres e a burocracia das empresas, em especial da PDVSA.
Magnolli diz que existe um ódio popular contra Wall Street e que Obama joga com a seguinte chantagem com os ricos: se vocês não fizerem o que eu mandar, virá alguém mais anti-Wall Street que eu, aquela velha frase que os professores dizem: "atrás de mim virá uma pessoa que boa me fará"...
Marcadores:
Antonio Cicero,
Caetano Veloso,
Marcos Bagno,
Terry Eagleton
Carnaval (post de Caetano sobre linguistica)
CARNAVAL
21/02/2009 5:00 am
Um dia escrevi aqui: “Os linguistas contribuem com sugestões utilizáveis quando se fizer um bom projeto de educação básica no Brasil. Mas no momento esses militantes fazem também um pouco de demagogia nociva, provavelmente sem o saber.” Heloisa comentou desta maneira: “Caetano, gostei da forma cuidadosa e moderada desse comentário. Isso me basta, por enquanto”. Lembro que em outro lugar ela pediu paciência a Luedy, que ele esperasse eu ler Bagno diretamente. Algo assim. Pois bem. Li “A norma oculta” e não mudei um milímetro. Ali ainda pesavam mais os vícios da esquerda autocongratulatória.
Encontrei Luedy pessoalmente. Ele veio com uma professora de linguística irresistível. Ela falava bem e era paciente quando eu a interrompia. Luedy quase não falava. Paquito, o amigo músico que nos apresentou, às vezes puxava o assunto para longe do tema central. Quase nunca concordávamos mas todos gostávamos de ouvir uns aos outros. Eu tinha apenas olhado as primeiras páginas de “Preconceito linguístico“. Depois que Luedy, Paquito e Tânia (esse é o nome da moça) foram embora, fui lê-lo. Heloísa tinha sido profética. A leitura realmente mudou minha disposição em relação ao combativo professor da UnB.
Não sei se o texto que Bagno publicou na Caros Amigos em resposta a minhas opiniões é mais ou menos agressivo do que o que ele mandou aqui para o blog (e depois pediu a Hermano para não publicar: Hermano, que, sendo antropólogo, está mais pros Bagnos do que pros Cipros, tinha me mandado o irado comment, perguntando se não seria o caso de evitarmos publicação de texto tão aguerrido e vulnerável - e eu tinha respondido optando pela publicação: não queria me proteger nem facilitar a vida de Bagno). Seja como for, o texto que li era violento o suficiente para aumentar minha má vontade. Não foi sem má vontade que li “A norma oculta”; não foi sem má vontade que comecei a leitura de “Preconceito linguístico”. Não foi sem alegria que vi minha disposição mudar. Viva Heloisa.
“A norma oculta” me deixou com as mesmas más impressões da entrevista à Caros Amigos: demagogia, ar de quem descobriu a pólvora, malevolência em relação aos consultores de gramática dos meios de comunicação, sobretudo um argumento central que não me balança: a tese do nascimento da gramática normativa há cerca de 2.000 anos como um mal do qual só o heróicos sociolingüistas do século 20 nos salvariam. Mas em “Preconceito linguístico” encontrei o que já nem buscava: razão, alguns argumentos sólidos, apreciações justas. Será que nada disso havia no outro livro – nem na entrevista? Será que nada havia no eco da campanha dos lingüistas? Claro que há coerência entre essas fontes e “Preconceito lingüístico.” Mas ao ler este fui posto em condição de ver o que há de bom mesmo onde eu não tinha visto antes.
Seria preciso contar a história da minha vida. Não posso fazê-lo aqui. Mas o fato é que sempre me excitaram observações como a do Padre Antenor, diretor do Colégio Estadual Teodoro Sampaio, de Santo Amaro, que dizia não podermos considerar errado o “entonce” do matuto do recôncavo, que é português correto mas antigo e não atual e errado. Comentários como esse me prometiam mais do que as nomenclaturas das análises lexicais e sintáticas. É verdade que tive mais sorte do que Luedy: me ensinaram as “categorias gramaticais” no curso primário; a análise sintática só começou no ginásio – e começou devagar: primeiro as orações simples, só mais tarde estudamos períodos compostos. Primeiro os “por coordenação” e depois os “por subordinação”. Se havia quem achasse chato, esses não eram em maior número do que os que não agüentavam história ou geografia – sem falar em matemática. Mas a mera insinuação da etimologia feita pelo padre me acenava com um mundo maravilhoso. Eu queria entender mais o que era a língua que falávamos, como se formara, como continuaria em sua trajetória. Em suma, eu tenderia mais para um linguista do que para um gramático. Embora as sutilezas das regras de concordância me apaixonassem. E até hoje eu ame o entendimento da crase e sofra com o mito de que ela é difícil, um fenômeno inescrutável, um capricho desarrazoado dos professores e da própria língua portuguesa.
Entre a faculdade de filosofia e a música popular, minha admiração por Godard, pelos Beatles, pelos pintores pop e pelos poetas concretos me aproximou de Saussure e Jakobson, dos estruturalistas e pós, não dos gramáticos e filólogos. Entre 67 e 68 eu, além de já estar careca de saber que a língua muda, li “Tristes Trópicos”, Saussure, Jakobson, “As palavras e as coisas”, McLuhan, Oswald de Andrade (“a contribuição milionária de todos os erros”) – e nada de Napoelão Mendes de Almeida. De Antonio Houaiss, só a tradução do Ulisses de Joyce.
O artigo de Antonio Cicero na Ilustrada de 8/2/2009 expõe claramente a natureza de minha atitude contra a euforia dos lingüistas ao “desmascararem” o desejo de manter privilégios escondido por trás de toda paixão pela gramática. Leiam-no em http://antoniocicero.blogspot.com/. Chama-se Os Estudos Literários e o Cânone. Cicero diz, basicamente, que o cânone não é, como quer Eagleton, uma suspeita seleção feita a partir de interesses particulares, mas, ao contrario, algo que foi construído na luta das idéias e cuja força reside em não parar de ser qüestionado. A reação de certa esquerda ao cânone é semelhante à reação dos sociolingüistas à norma culta. Não que eles sejam a mesma coisa. Apenas, naquilo que têm em comum, suscitam reações parecidas nos meios que sonham com a revolução. Em ambos os casos essas reações me parecem tolas. A criação de um “paideuma”, de um recorte do cânone que nos obriga a revê-lo, é, explícita ou implicitamente, necessária à criação de algo relevante na história de uma arte e mesmo na construção de um estilo individual. Agusto de Campos pode dizer que John Donne e Sá de Miranda estão acima de Shakespeare e Camões. Ezra Pound detestava Gertrud Stein. John Cage queria livrar-se de Beethoven. Bergman detestava Orson Welles e Godard. Marcelo Nova pode desprezar João Gilberto. João ostentou gostar tão pouco de Noel que isso era uma espécie de escândalo silencioso. Mas tudo isso é diferente de querer-se desautorizar todo cânone. Muitas vezes em nome de reinvidicações de raça, gênero, classe e “orientação sexual”. Os panfletos de Bagno sempre me pareceram mais aparentados a essa tendência do que à decisão de contribuir para a vitalização da educação no Brasil. Além disso, me causa repugnância a facilidade com que se quer descartar mesmo a mais remota possibilidade de haver algo aproveitável na particularidade da história brasileira. Bagno vocifera contra a baixa estima que resulta de dizer-se que os brasileiros não falam certo ou que não sabem português. Mas faz coro com Marilena Chaui contra a celebração do descobrimento e não vê senão vergonha no fato de a nossa independência ter sido proclamada pelo príncipe da metrópole.
Claro, ninguém “não sabe” a língua que ouve desde que começou a viver. E nenhuma língua é incapaz de resolver os problemas de comunicação que seus falantes enfrentam. Mas, se esse aspecto da questão é evidente, o mesmo não se pode dizer da confusão que causa afirmar ao mesmo tempo esse grau de independência do fenômeno lingüístico e denunciar como mitológica a língua “ideal” dos gramáticos. De novo, sei que não se trata da mesma instância, mas se temos de definir como projetaremos o ensino da língua no Brasil precisamos ser claros justamente quanto ao que transcende (gostou, Heloisa?) a matéria bruta da fala diária e o corpo dos textos escritos existentes. Se seguimos a Marilena do panfletinho contra a celebração do descobrimento, como podemos clamar pela elevação da autoestima de uma nação tão monstruosamente formada – e apenas através da ligüística? Vê-se que há uma lacuna no pensamento. E vê-se que ela é aterrada com o entulho das variedades mais ingênuas das crenças em vanguardas revolucionárias.
O que, então, é bom em “Preconceito lingüístico”? Em primeiro lugar, aqui Bagno freqüentemente mira os alvos certos. O livro de Josué Machado não precisa ser lido por inteiro: as citações escolhidas por Bagno justificam a crítica que este lhe faz. O verbete do “Dicionário Sacconi da língua portuguesa” é tão grosseiro quanto as explicações dadas por Bagno sobre rotacismo e vocalização do “lh” são claras e bem articuladas. Os erros que este aponta nos livros daqueles merecem ser destacados. E a vulgaridade agressiva do estilo deles deve ser combatida. O projeto de lei de Aldo Rebelo é ridículo. Sou amigo de Pasquale Cipro Neto (e admirador confesso do trabalho que ele faz), mas das palavras depreciativas que ele usou contra os lingüistas apenas “deslumbrados” é de fato adequada.
Além disso, Bagno aqui dá um esboço de programa que já é contribuição efetiva para um plano inteligente de educação de massa no Brasil. Ele não está sendo simplesmente o militante de um comando antigramatical. Na verdade, as propostas concretas que ele apresenta soam muito menos demagógicas do que os “Parâmetros curriculares nacionais”. Esse documento oficial (surgido, não se sabe como, no supostamente horrendo governo Fernando Henrique) parece mais um brado de protesto contra humilhações sofridas por falantes pobres, enquanto o próprio Bagno propõe “acionar nosso senso crítico toda vez que nos depararmos com um comando paragramatical e saber filtrar as informações realmente úteis, deixando de lado (e denunciando, de preferência) as afirmações preconceituosas, autoritárias e intolerantes”. Aí ele está elevando o nível de exigência em relação aos que desejam ensinar a norma a tanta gente que tem sede de ter acesso a uma. E o mesmo texto em que ele diz essas coisas é o exemplo da língua culta padrão, da norma – que não está no texto dos grandes ficcionistas nem dos poetas, muito menos na fala coloquial: é o português que Bagno usa (e as regras de que se vale para criticar o conhecimento de gramática de jornalistas e professores, com maior ou menor razão), o português das argumentações teóricas, do texto oficial, da produção acadêmica, e não o dos poetas e ficcionistas, que está mais perto dessa entidade que não pode ser reduzida à materialidade da língua móvel dos usuários: a língua ideal. O fato de Bagno usar pronomes no caso reto em função de objeto direto é mais do uma exceção que confirma a regra: é a exemplificação de uma proposta de regra nova que ele já põe, a sério, em prática (ele não usaria “menas”, “nós vai”, “três pastel” etc.: haveria o risco do texto ficar menos inteligível – e (o que é crucial) menos respeitável. Nenhum padrão é idêntico à pluralidade de entes reais que ele representa. Por que a língua teria de se resumir às falas concretas dos falantes? Mas é o Bagno que sabe disso que diz que ensinar português é ensinar a ler e escrever - numa norma padrão.
A distinção entre ensinar a língua e ensinar sobre a língua procede. Mas isso não pode ir além de meramente enfatizar o treino do uso em vez da análise do funcionamento. As comparações com a diferença entre dirigir automóvel e entender a mecânica do motor é simplista demais. Ainda bem que ele reconhece que numa certa altura tem-se que aprender algo sobre a mecânica da língua: afinal, de onde sairiam os gramáticos, os lingüistas, os técnicos? Há um continuum entre o aluno e o professor, não há uma linha igual à que separa o motorista amador do mecânico de oficina. Claro que Possenti está certo, no trecho citado por Bagno, quando diz que “saber usar as regras é uma coisa e saber explicitamente quais são as regras é outra”. Mas há grande alegria em ver revelado o processo que se dá dentro da gente quando efetivamos o uso da regra. Essa alegria não é igual à alegria do motorista que descobre o que é que faz o carro andar. Justamente por no caso da língua revelar-se algo que está dentro de nós. Não é tudo (acredito que há pensamento sem palavras) mas é muito, é mesmo quase tudo o que somos.
É essa alegria genuína que levou Pasquale a reverenciar Napoleão quando este morreu, não o pedantismo que fazia dele uma figura cômica. Porque uma coisa é certa: se há uma esfumaçada miragem de norma culta, português correto, reverência à maneira lusitana de falar e escrever – essa miragem é pisoteada alegremente pelos brasileiros de todas as classes – e bem possivelmente pelas classes mais remediadas e urbanas. Os jornalistas riem dos gramáticos e da Academia, toda a gente ri de Portugal. A defesa quixotesca da língua culta é um cachorro morto nas ruas do Brasil. Temo que os sociolingüistas o chutem com demasiado prazer. O ódio aos Pasquales se deve a eles representarem um surpreendente sinal de vida no cadáver desse cão. Suspeito que Luedy adivinha que Bagno e Possenti não gostariam do Psirico porque o que correspondente ao Márcio Victor não é o “menas” mas o Pasquale: os “comandos paragramaticais” é que são brega. Se há um país onde regras de gramática são tradicionalmente (e mesmo saudavelmente) desprezadas é o Brasil. Comparemos o que se passa entre nós e o que se passa na França, na Espanha. Os argentinos têm o “vos” e resquícios de uma conjugação referente a esse pronome. Mas quem for filho de alguém que saiba ao menos ler, saberá todas as regras de uso de pronomes que há no castelhano. A rigidez normativa da língua francesa não tem igual. Já disse que sou contra o projeto de lei de Aldo Rebelo. Mas na França, onde a Academia realmente dita a moda (com a contribuição de ninguém menos que Lévy-Strauss, que foi de quem primeiro ouvi que não há línguas mais capazes que outras, que não há línguas primitivas, que não há hierarquia possível entre línguas), as ações de defesa da língua têm muito mais peso do que aqui. Vivi na Inglaterra: na cidade de Londres, as diferenças de pronúncia, vocabulário, sintaxe e tom entre as classes sociais (e a importância que é institivamente dada a elas por todos os ingleses) é maior do que entre as regiões do Brasil, por mais distantes que sejam umas das outras, por maior que seja a disparidade de poder aquisitivo. Dizia-se em Londres que o inglês da BBC era a melhor tentativa de padrão. O mito da homogeneidade do português brasileiro não é meramente um mito: é também a realidade de uma língua transplantada, língua de colônia, em que grupos diferentes de pessoas tiveram de passar a falar uma língua só.
Os lingüistas deveriam ficar felizes pela oportunidade. Na verdade acho que estão felizes. Não apenas o livro do Bagno está na 50a edição: a própria ciência lingüística encontra terreno tão fértil aqui quanto a psicanálise na Argentina. Bagno prefere repetir Marilena na cantilena da formação que não pode ser festejada, mas a colônia em que o príncipe da metrópole declarou a independência é tão original que, mesmo tendo ficado séculos atrasada em relação às outras colônias ibéricas quanto à instituição de universidades – e que exibe ainda a cicatriz desses descompassos e esquisitices nos resultados dos exames de aprendizado dos seus estudantes – produziu o maior romancista latinoamericano do século 19 (Machado) e o maior romancista latinoamericano no século 20 (Rosa) – pelo menos no dizer de Rodrigues Monegal, o grande teórico hispanoamericano de literatura.
Uma empreitada de familiarização da maioria dos brasileiros com as letras já agradece a contribuição que lingüistas como Bagno e Possenti vêm dando. Eu teria preferido me manter como o espírito de porco que, mesmo sem ser estudioso formal da matéria, toma a defesa dos comandos paragramaticais e escarnece dos esquerdismos triunfantes. Mas a leitura de “Preconceito lingüístico” mudou meu mood. Agora prefiro festejar o sucesso desse grupo tão intolerante quanto generoso. Acompanhar o aproveitamento das contribuições que ele traz. Claro que eles podem, como Tom Zé, recusar minha aprovação. Não faz mal. Seguem podendo ser bons para o que interessa.
Minha adesão aos lingüistas tem preço. É preciso que eles ouçam este leigo com a mesma isenção que ele os ouviu e pensem ao menos nas questões seguintes. 1) O cientificismo é, em muitos meios, considerado um preconceito. 2) As regras são sim filhas do uso real da língua pelos falantes e, tal como os próprios lingüistas detectam agora, sempre vieram de “baixo” para “cima”. 3) O fato de a gramática normativa poder datar de cerca de 2.000 anos atrás não diz nem que gramáticos tenham imposto os caminhos seguidos pelas línguas nem que eles não entrem na história da formação destas. 4) Os resultados de uma bem sucedida ação de letramento da massa brasileira poderão supreender esses seus proponentes: “tendências” poderão mudar porque 5) A escrita influencia a fala.
Continuo gostando do sucesso de Bagno, Pasquale, Maria de Lourdes, Possenti e Psirico.
149 comentários » | Assuntos: antonio cicero, Bagno, cânone, carnaval
21/02/2009 5:00 am
Um dia escrevi aqui: “Os linguistas contribuem com sugestões utilizáveis quando se fizer um bom projeto de educação básica no Brasil. Mas no momento esses militantes fazem também um pouco de demagogia nociva, provavelmente sem o saber.” Heloisa comentou desta maneira: “Caetano, gostei da forma cuidadosa e moderada desse comentário. Isso me basta, por enquanto”. Lembro que em outro lugar ela pediu paciência a Luedy, que ele esperasse eu ler Bagno diretamente. Algo assim. Pois bem. Li “A norma oculta” e não mudei um milímetro. Ali ainda pesavam mais os vícios da esquerda autocongratulatória.
Encontrei Luedy pessoalmente. Ele veio com uma professora de linguística irresistível. Ela falava bem e era paciente quando eu a interrompia. Luedy quase não falava. Paquito, o amigo músico que nos apresentou, às vezes puxava o assunto para longe do tema central. Quase nunca concordávamos mas todos gostávamos de ouvir uns aos outros. Eu tinha apenas olhado as primeiras páginas de “Preconceito linguístico“. Depois que Luedy, Paquito e Tânia (esse é o nome da moça) foram embora, fui lê-lo. Heloísa tinha sido profética. A leitura realmente mudou minha disposição em relação ao combativo professor da UnB.
Não sei se o texto que Bagno publicou na Caros Amigos em resposta a minhas opiniões é mais ou menos agressivo do que o que ele mandou aqui para o blog (e depois pediu a Hermano para não publicar: Hermano, que, sendo antropólogo, está mais pros Bagnos do que pros Cipros, tinha me mandado o irado comment, perguntando se não seria o caso de evitarmos publicação de texto tão aguerrido e vulnerável - e eu tinha respondido optando pela publicação: não queria me proteger nem facilitar a vida de Bagno). Seja como for, o texto que li era violento o suficiente para aumentar minha má vontade. Não foi sem má vontade que li “A norma oculta”; não foi sem má vontade que comecei a leitura de “Preconceito linguístico”. Não foi sem alegria que vi minha disposição mudar. Viva Heloisa.
“A norma oculta” me deixou com as mesmas más impressões da entrevista à Caros Amigos: demagogia, ar de quem descobriu a pólvora, malevolência em relação aos consultores de gramática dos meios de comunicação, sobretudo um argumento central que não me balança: a tese do nascimento da gramática normativa há cerca de 2.000 anos como um mal do qual só o heróicos sociolingüistas do século 20 nos salvariam. Mas em “Preconceito linguístico” encontrei o que já nem buscava: razão, alguns argumentos sólidos, apreciações justas. Será que nada disso havia no outro livro – nem na entrevista? Será que nada havia no eco da campanha dos lingüistas? Claro que há coerência entre essas fontes e “Preconceito lingüístico.” Mas ao ler este fui posto em condição de ver o que há de bom mesmo onde eu não tinha visto antes.
Seria preciso contar a história da minha vida. Não posso fazê-lo aqui. Mas o fato é que sempre me excitaram observações como a do Padre Antenor, diretor do Colégio Estadual Teodoro Sampaio, de Santo Amaro, que dizia não podermos considerar errado o “entonce” do matuto do recôncavo, que é português correto mas antigo e não atual e errado. Comentários como esse me prometiam mais do que as nomenclaturas das análises lexicais e sintáticas. É verdade que tive mais sorte do que Luedy: me ensinaram as “categorias gramaticais” no curso primário; a análise sintática só começou no ginásio – e começou devagar: primeiro as orações simples, só mais tarde estudamos períodos compostos. Primeiro os “por coordenação” e depois os “por subordinação”. Se havia quem achasse chato, esses não eram em maior número do que os que não agüentavam história ou geografia – sem falar em matemática. Mas a mera insinuação da etimologia feita pelo padre me acenava com um mundo maravilhoso. Eu queria entender mais o que era a língua que falávamos, como se formara, como continuaria em sua trajetória. Em suma, eu tenderia mais para um linguista do que para um gramático. Embora as sutilezas das regras de concordância me apaixonassem. E até hoje eu ame o entendimento da crase e sofra com o mito de que ela é difícil, um fenômeno inescrutável, um capricho desarrazoado dos professores e da própria língua portuguesa.
Entre a faculdade de filosofia e a música popular, minha admiração por Godard, pelos Beatles, pelos pintores pop e pelos poetas concretos me aproximou de Saussure e Jakobson, dos estruturalistas e pós, não dos gramáticos e filólogos. Entre 67 e 68 eu, além de já estar careca de saber que a língua muda, li “Tristes Trópicos”, Saussure, Jakobson, “As palavras e as coisas”, McLuhan, Oswald de Andrade (“a contribuição milionária de todos os erros”) – e nada de Napoelão Mendes de Almeida. De Antonio Houaiss, só a tradução do Ulisses de Joyce.
O artigo de Antonio Cicero na Ilustrada de 8/2/2009 expõe claramente a natureza de minha atitude contra a euforia dos lingüistas ao “desmascararem” o desejo de manter privilégios escondido por trás de toda paixão pela gramática. Leiam-no em http://antoniocicero.blogspot.com/. Chama-se Os Estudos Literários e o Cânone. Cicero diz, basicamente, que o cânone não é, como quer Eagleton, uma suspeita seleção feita a partir de interesses particulares, mas, ao contrario, algo que foi construído na luta das idéias e cuja força reside em não parar de ser qüestionado. A reação de certa esquerda ao cânone é semelhante à reação dos sociolingüistas à norma culta. Não que eles sejam a mesma coisa. Apenas, naquilo que têm em comum, suscitam reações parecidas nos meios que sonham com a revolução. Em ambos os casos essas reações me parecem tolas. A criação de um “paideuma”, de um recorte do cânone que nos obriga a revê-lo, é, explícita ou implicitamente, necessária à criação de algo relevante na história de uma arte e mesmo na construção de um estilo individual. Agusto de Campos pode dizer que John Donne e Sá de Miranda estão acima de Shakespeare e Camões. Ezra Pound detestava Gertrud Stein. John Cage queria livrar-se de Beethoven. Bergman detestava Orson Welles e Godard. Marcelo Nova pode desprezar João Gilberto. João ostentou gostar tão pouco de Noel que isso era uma espécie de escândalo silencioso. Mas tudo isso é diferente de querer-se desautorizar todo cânone. Muitas vezes em nome de reinvidicações de raça, gênero, classe e “orientação sexual”. Os panfletos de Bagno sempre me pareceram mais aparentados a essa tendência do que à decisão de contribuir para a vitalização da educação no Brasil. Além disso, me causa repugnância a facilidade com que se quer descartar mesmo a mais remota possibilidade de haver algo aproveitável na particularidade da história brasileira. Bagno vocifera contra a baixa estima que resulta de dizer-se que os brasileiros não falam certo ou que não sabem português. Mas faz coro com Marilena Chaui contra a celebração do descobrimento e não vê senão vergonha no fato de a nossa independência ter sido proclamada pelo príncipe da metrópole.
Claro, ninguém “não sabe” a língua que ouve desde que começou a viver. E nenhuma língua é incapaz de resolver os problemas de comunicação que seus falantes enfrentam. Mas, se esse aspecto da questão é evidente, o mesmo não se pode dizer da confusão que causa afirmar ao mesmo tempo esse grau de independência do fenômeno lingüístico e denunciar como mitológica a língua “ideal” dos gramáticos. De novo, sei que não se trata da mesma instância, mas se temos de definir como projetaremos o ensino da língua no Brasil precisamos ser claros justamente quanto ao que transcende (gostou, Heloisa?) a matéria bruta da fala diária e o corpo dos textos escritos existentes. Se seguimos a Marilena do panfletinho contra a celebração do descobrimento, como podemos clamar pela elevação da autoestima de uma nação tão monstruosamente formada – e apenas através da ligüística? Vê-se que há uma lacuna no pensamento. E vê-se que ela é aterrada com o entulho das variedades mais ingênuas das crenças em vanguardas revolucionárias.
O que, então, é bom em “Preconceito lingüístico”? Em primeiro lugar, aqui Bagno freqüentemente mira os alvos certos. O livro de Josué Machado não precisa ser lido por inteiro: as citações escolhidas por Bagno justificam a crítica que este lhe faz. O verbete do “Dicionário Sacconi da língua portuguesa” é tão grosseiro quanto as explicações dadas por Bagno sobre rotacismo e vocalização do “lh” são claras e bem articuladas. Os erros que este aponta nos livros daqueles merecem ser destacados. E a vulgaridade agressiva do estilo deles deve ser combatida. O projeto de lei de Aldo Rebelo é ridículo. Sou amigo de Pasquale Cipro Neto (e admirador confesso do trabalho que ele faz), mas das palavras depreciativas que ele usou contra os lingüistas apenas “deslumbrados” é de fato adequada.
Além disso, Bagno aqui dá um esboço de programa que já é contribuição efetiva para um plano inteligente de educação de massa no Brasil. Ele não está sendo simplesmente o militante de um comando antigramatical. Na verdade, as propostas concretas que ele apresenta soam muito menos demagógicas do que os “Parâmetros curriculares nacionais”. Esse documento oficial (surgido, não se sabe como, no supostamente horrendo governo Fernando Henrique) parece mais um brado de protesto contra humilhações sofridas por falantes pobres, enquanto o próprio Bagno propõe “acionar nosso senso crítico toda vez que nos depararmos com um comando paragramatical e saber filtrar as informações realmente úteis, deixando de lado (e denunciando, de preferência) as afirmações preconceituosas, autoritárias e intolerantes”. Aí ele está elevando o nível de exigência em relação aos que desejam ensinar a norma a tanta gente que tem sede de ter acesso a uma. E o mesmo texto em que ele diz essas coisas é o exemplo da língua culta padrão, da norma – que não está no texto dos grandes ficcionistas nem dos poetas, muito menos na fala coloquial: é o português que Bagno usa (e as regras de que se vale para criticar o conhecimento de gramática de jornalistas e professores, com maior ou menor razão), o português das argumentações teóricas, do texto oficial, da produção acadêmica, e não o dos poetas e ficcionistas, que está mais perto dessa entidade que não pode ser reduzida à materialidade da língua móvel dos usuários: a língua ideal. O fato de Bagno usar pronomes no caso reto em função de objeto direto é mais do uma exceção que confirma a regra: é a exemplificação de uma proposta de regra nova que ele já põe, a sério, em prática (ele não usaria “menas”, “nós vai”, “três pastel” etc.: haveria o risco do texto ficar menos inteligível – e (o que é crucial) menos respeitável. Nenhum padrão é idêntico à pluralidade de entes reais que ele representa. Por que a língua teria de se resumir às falas concretas dos falantes? Mas é o Bagno que sabe disso que diz que ensinar português é ensinar a ler e escrever - numa norma padrão.
A distinção entre ensinar a língua e ensinar sobre a língua procede. Mas isso não pode ir além de meramente enfatizar o treino do uso em vez da análise do funcionamento. As comparações com a diferença entre dirigir automóvel e entender a mecânica do motor é simplista demais. Ainda bem que ele reconhece que numa certa altura tem-se que aprender algo sobre a mecânica da língua: afinal, de onde sairiam os gramáticos, os lingüistas, os técnicos? Há um continuum entre o aluno e o professor, não há uma linha igual à que separa o motorista amador do mecânico de oficina. Claro que Possenti está certo, no trecho citado por Bagno, quando diz que “saber usar as regras é uma coisa e saber explicitamente quais são as regras é outra”. Mas há grande alegria em ver revelado o processo que se dá dentro da gente quando efetivamos o uso da regra. Essa alegria não é igual à alegria do motorista que descobre o que é que faz o carro andar. Justamente por no caso da língua revelar-se algo que está dentro de nós. Não é tudo (acredito que há pensamento sem palavras) mas é muito, é mesmo quase tudo o que somos.
É essa alegria genuína que levou Pasquale a reverenciar Napoleão quando este morreu, não o pedantismo que fazia dele uma figura cômica. Porque uma coisa é certa: se há uma esfumaçada miragem de norma culta, português correto, reverência à maneira lusitana de falar e escrever – essa miragem é pisoteada alegremente pelos brasileiros de todas as classes – e bem possivelmente pelas classes mais remediadas e urbanas. Os jornalistas riem dos gramáticos e da Academia, toda a gente ri de Portugal. A defesa quixotesca da língua culta é um cachorro morto nas ruas do Brasil. Temo que os sociolingüistas o chutem com demasiado prazer. O ódio aos Pasquales se deve a eles representarem um surpreendente sinal de vida no cadáver desse cão. Suspeito que Luedy adivinha que Bagno e Possenti não gostariam do Psirico porque o que correspondente ao Márcio Victor não é o “menas” mas o Pasquale: os “comandos paragramaticais” é que são brega. Se há um país onde regras de gramática são tradicionalmente (e mesmo saudavelmente) desprezadas é o Brasil. Comparemos o que se passa entre nós e o que se passa na França, na Espanha. Os argentinos têm o “vos” e resquícios de uma conjugação referente a esse pronome. Mas quem for filho de alguém que saiba ao menos ler, saberá todas as regras de uso de pronomes que há no castelhano. A rigidez normativa da língua francesa não tem igual. Já disse que sou contra o projeto de lei de Aldo Rebelo. Mas na França, onde a Academia realmente dita a moda (com a contribuição de ninguém menos que Lévy-Strauss, que foi de quem primeiro ouvi que não há línguas mais capazes que outras, que não há línguas primitivas, que não há hierarquia possível entre línguas), as ações de defesa da língua têm muito mais peso do que aqui. Vivi na Inglaterra: na cidade de Londres, as diferenças de pronúncia, vocabulário, sintaxe e tom entre as classes sociais (e a importância que é institivamente dada a elas por todos os ingleses) é maior do que entre as regiões do Brasil, por mais distantes que sejam umas das outras, por maior que seja a disparidade de poder aquisitivo. Dizia-se em Londres que o inglês da BBC era a melhor tentativa de padrão. O mito da homogeneidade do português brasileiro não é meramente um mito: é também a realidade de uma língua transplantada, língua de colônia, em que grupos diferentes de pessoas tiveram de passar a falar uma língua só.
Os lingüistas deveriam ficar felizes pela oportunidade. Na verdade acho que estão felizes. Não apenas o livro do Bagno está na 50a edição: a própria ciência lingüística encontra terreno tão fértil aqui quanto a psicanálise na Argentina. Bagno prefere repetir Marilena na cantilena da formação que não pode ser festejada, mas a colônia em que o príncipe da metrópole declarou a independência é tão original que, mesmo tendo ficado séculos atrasada em relação às outras colônias ibéricas quanto à instituição de universidades – e que exibe ainda a cicatriz desses descompassos e esquisitices nos resultados dos exames de aprendizado dos seus estudantes – produziu o maior romancista latinoamericano do século 19 (Machado) e o maior romancista latinoamericano no século 20 (Rosa) – pelo menos no dizer de Rodrigues Monegal, o grande teórico hispanoamericano de literatura.
Uma empreitada de familiarização da maioria dos brasileiros com as letras já agradece a contribuição que lingüistas como Bagno e Possenti vêm dando. Eu teria preferido me manter como o espírito de porco que, mesmo sem ser estudioso formal da matéria, toma a defesa dos comandos paragramaticais e escarnece dos esquerdismos triunfantes. Mas a leitura de “Preconceito lingüístico” mudou meu mood. Agora prefiro festejar o sucesso desse grupo tão intolerante quanto generoso. Acompanhar o aproveitamento das contribuições que ele traz. Claro que eles podem, como Tom Zé, recusar minha aprovação. Não faz mal. Seguem podendo ser bons para o que interessa.
Minha adesão aos lingüistas tem preço. É preciso que eles ouçam este leigo com a mesma isenção que ele os ouviu e pensem ao menos nas questões seguintes. 1) O cientificismo é, em muitos meios, considerado um preconceito. 2) As regras são sim filhas do uso real da língua pelos falantes e, tal como os próprios lingüistas detectam agora, sempre vieram de “baixo” para “cima”. 3) O fato de a gramática normativa poder datar de cerca de 2.000 anos atrás não diz nem que gramáticos tenham imposto os caminhos seguidos pelas línguas nem que eles não entrem na história da formação destas. 4) Os resultados de uma bem sucedida ação de letramento da massa brasileira poderão supreender esses seus proponentes: “tendências” poderão mudar porque 5) A escrita influencia a fala.
Continuo gostando do sucesso de Bagno, Pasquale, Maria de Lourdes, Possenti e Psirico.
149 comentários » | Assuntos: antonio cicero, Bagno, cânone, carnaval
Marcadores:
Caetano Veloso,
linguistica,
obra em progresso
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Zizek, Caetano, Gatão de Meia Idade, etc
Ouvi Zizek falar na TV Cultura ontem e gostei, achei muito instigante. Caetano hoje falou que nem gosta tanto de Zizek, queria mesmo é ironizá-lo ao falar dele no blog.
A Revista Piauí, há algum tempo, trouxe uma matéria com Zizek no Rio e registrou que seu discurso oscila e com frequência ele dá uma volta em torno de si mesmo, o que foi criticado, aí pela web, no meu amigo e excelente jornalista Laerte Braga. E que, normalmente, jamais faz isso: os textos dele são diretos como o punho de Cohn em The Sun Also Rises.
Zizek é lacaniano e marxista e um apaixonado intelectual e por isso ele passa paixão. Isso é importante: os alunos, ao nos verem entusiasmados ou apaixonados, correm o risco de se apaixonar, ainda que, muitas vezes, seja um risco remoto.
Estar apaixonado para mim é diferente das certezas revolucionárias vibratórias com as quais se deleitou, nos anos rebeldes, o Ferreira Gullar, por exemplo. Esquerda, volver, Gullar! Tem de ter cuidado, pois discurso conservador assim o Jorge Bornhausen também faz. E os integralistas brasileiros, que agora não usam mais a sigma verde e sim um cruzeiro do sul azul e branco. Tudo muda, até o integralismo!
O filósofo esloveno vê tudo quanto é filme, desde o Clã das Adagas Voadoras até Clube da Luta. Ele diz que, se a pessoa falar que Clube é fascista, ele é um liberal. O filme é um bom teste, segundo Zizek. E ele acha que nossas telenovelas tais como Escrava Isaura e os filmes chineses de luta mostram que "outra indústria cultural" é possível. Eu morri de rir em outra passagem, quando ele diz que, se seu pai te proibir de namorar, isso não é problema. Mas se ele te disser: que tipo de homem vc é, não pegou mulheres? Isso é meio caminho andado para vc virar impotente. Ele comenta a cena de Clube da Luta onde o protagonista se martiriza: gozar implica em algum prejuízo. Devemos lutar contra o imperativo do inconsciente de gozar, gozar sempre, pois para o Zizek a ideologia está é aí. Acho que aí é um bom ponto de vista para se analisar a indústria cultural brasileira, a Axé Music, por exemplo. Ela sempre proclama: GOZA BRASIL!
O poder é afrodisíaco. Sem tesão, como dizia Roberto Freire, não há solução.
Outro ponto que me chamou a atenção foi a posição dele em relação a Stálin: ele relativiza esse comunista, que virou unanimidade entre liberais, direita, esquerda e extrema-direita: um "canalha" a quem sempre alguém se refere. No entanto, Zizek defendeu Stálin do conceito de totalitarismo de Hannah Arendt, onde cabe tudo: nazismo, comunismo, imperialismo. Edward Said, por exemplo, julga Arendt teórica do imperialismo. Francis gostava de Arendt. Há ruído aqui....Sinceramente, já escrevi um artigo para mostrar que esse conceito foi retirado do vocabulário do marxismo, para significar as filosofias da totalidade e virou algo grotesco, monstruoso: totalitarismo.
Zizek exemplifica que os prisioneiros do Gulag escreviam, obrigatoriamente, um telegrama de felicitações no aniversário de Stálin. Alguém já imaginou judeus em Auschwitz enviando um telegrama a Hitler? Dá para sentir a diferença?
E Zizek parecia estar se dirigindo a Caetano e à sua defesa da Axé Music quando falou: "detestou carnaval. O Gulag foi um grande carnaval, uma inversão da ordem. Um dia você é ministro, outro é espião, um dia você é banqueiro, outro prisioneiro mendigando comida. Eu quero ordem". Maria Rita Kehl, Vladimir Safatle e outros são brilhantes mas, a meu ver, foram ofuscados por esse intelectual brilhante que é o Zizek.
Pior do que o balaio de gatos insuportável do totalitarismo, é mania dos filósofos de chamar quem eles não concordam de irracionalista, tal como Afonso Romano de Sant´Anna a respeito dos que defendem Battisti. Ah, sim o Enigma Vazio...vou ler a resenha de Marcelo Coelho. Mas o título me parece "Elvira, a Morta Virgem". A gente já sabe quem morre no final. A arte contemporânea é um enigma, ou seja, algo que pede decifração; mas, para Afonso, não é preciso, é fátuo, decifrar essa arte. A arte contemporânea, poderia dizer ele num paradoxo wildeano, é uma esfinge sem segredo. Para fazer o que ele quer fazer, acho que o crítico deveria dizer: não gosto de Duchamp, mas gosto de Maria Martins, e a partir de agora vou lutar pela consagração e canonização de Santa Maria Martins, a escultora e mulher de um diplomata que amou Duchamp em todos os sentidos.
Caetano voltou a discutir o debate na Folha Ilustrada. Contrera falou sobre isso em seu blog: para ele, foi como ver o caderno Mais! ao vivo. Mas era a Ilustrada, Contrera! Há muito não vejo o triunvirato Cacá/Gullar/Caetano no Mais! Contrera é muito cansado e entediado para debater esse grupo de nordestinos enérgicos de maneira pertinente. Que o deixassem subir ao palco. Aí veríamos. O poder não corrompe: com ele, as pessoas se revelam...show man por show man, Ferreira Gullar é bom mas acho que prefiro Gerald Thomas. O Thomas é desvinculados da baixa política escrota do Brasil, como mostrou em sua última postagem no blog e jamais cogitaria apoiar Roseana Sarney para presidente. O encontro dos cinquenta anos de Ilustrada era mais uma celebração de quem venceu e por isso não cabia muito a crítica e a teoria de uma Maria Rita Kehl, por exemplo.
Uma crítica cultural séria no Brasil começará de onde Gilberto Vasconcellos a deixar. O insight dele de que o cinema de Glauber é uma resposta ao Adorno e suas críticas ao cinema é GENIAL. Realmente, os adornianos precisam ver e analisar Glauber: alô alô Rodrigo Duarte & Douglas Garcia!
Vi um filme de madrugada esses dias e era assim: Gatão de Meia-Idade. Há uma referência no filme ao teatro do Gerald: o cara de meia idade chama uma moça mais nova para ver um pornô, mas ela quer ir ver a peça do GT. Um diálogo memorável do filme. quando o gatão transou uma super-executiva. Transcrio livremente. Minutos antes, ele perguntara pelo "size" do pênis:
--Eu tenho que ir.
--Outro homem.
--Rodrigo. Reinaldo. José. Fábio.
--Quatro?
--Marido e três filhos.
--Você não me disse que era casada.
--Muda algo?
--Eu faria fantasias com a dissolução da família brasileira.
--Só porque sou casada, não posso trepar com qualquer um?
--Eu sou qualquer um?
Isto posto, transcrevo algumas frases que me chamaram a atenção essa semana:
"Seja a diferença que você quer ver no mundo".
"O futuro é uma velha desdentada tomando milk-shake".
A Revista Piauí, há algum tempo, trouxe uma matéria com Zizek no Rio e registrou que seu discurso oscila e com frequência ele dá uma volta em torno de si mesmo, o que foi criticado, aí pela web, no meu amigo e excelente jornalista Laerte Braga. E que, normalmente, jamais faz isso: os textos dele são diretos como o punho de Cohn em The Sun Also Rises.
Zizek é lacaniano e marxista e um apaixonado intelectual e por isso ele passa paixão. Isso é importante: os alunos, ao nos verem entusiasmados ou apaixonados, correm o risco de se apaixonar, ainda que, muitas vezes, seja um risco remoto.
Estar apaixonado para mim é diferente das certezas revolucionárias vibratórias com as quais se deleitou, nos anos rebeldes, o Ferreira Gullar, por exemplo. Esquerda, volver, Gullar! Tem de ter cuidado, pois discurso conservador assim o Jorge Bornhausen também faz. E os integralistas brasileiros, que agora não usam mais a sigma verde e sim um cruzeiro do sul azul e branco. Tudo muda, até o integralismo!
O filósofo esloveno vê tudo quanto é filme, desde o Clã das Adagas Voadoras até Clube da Luta. Ele diz que, se a pessoa falar que Clube é fascista, ele é um liberal. O filme é um bom teste, segundo Zizek. E ele acha que nossas telenovelas tais como Escrava Isaura e os filmes chineses de luta mostram que "outra indústria cultural" é possível. Eu morri de rir em outra passagem, quando ele diz que, se seu pai te proibir de namorar, isso não é problema. Mas se ele te disser: que tipo de homem vc é, não pegou mulheres? Isso é meio caminho andado para vc virar impotente. Ele comenta a cena de Clube da Luta onde o protagonista se martiriza: gozar implica em algum prejuízo. Devemos lutar contra o imperativo do inconsciente de gozar, gozar sempre, pois para o Zizek a ideologia está é aí. Acho que aí é um bom ponto de vista para se analisar a indústria cultural brasileira, a Axé Music, por exemplo. Ela sempre proclama: GOZA BRASIL!
O poder é afrodisíaco. Sem tesão, como dizia Roberto Freire, não há solução.
Outro ponto que me chamou a atenção foi a posição dele em relação a Stálin: ele relativiza esse comunista, que virou unanimidade entre liberais, direita, esquerda e extrema-direita: um "canalha" a quem sempre alguém se refere. No entanto, Zizek defendeu Stálin do conceito de totalitarismo de Hannah Arendt, onde cabe tudo: nazismo, comunismo, imperialismo. Edward Said, por exemplo, julga Arendt teórica do imperialismo. Francis gostava de Arendt. Há ruído aqui....Sinceramente, já escrevi um artigo para mostrar que esse conceito foi retirado do vocabulário do marxismo, para significar as filosofias da totalidade e virou algo grotesco, monstruoso: totalitarismo.
Zizek exemplifica que os prisioneiros do Gulag escreviam, obrigatoriamente, um telegrama de felicitações no aniversário de Stálin. Alguém já imaginou judeus em Auschwitz enviando um telegrama a Hitler? Dá para sentir a diferença?
E Zizek parecia estar se dirigindo a Caetano e à sua defesa da Axé Music quando falou: "detestou carnaval. O Gulag foi um grande carnaval, uma inversão da ordem. Um dia você é ministro, outro é espião, um dia você é banqueiro, outro prisioneiro mendigando comida. Eu quero ordem". Maria Rita Kehl, Vladimir Safatle e outros são brilhantes mas, a meu ver, foram ofuscados por esse intelectual brilhante que é o Zizek.
Pior do que o balaio de gatos insuportável do totalitarismo, é mania dos filósofos de chamar quem eles não concordam de irracionalista, tal como Afonso Romano de Sant´Anna a respeito dos que defendem Battisti. Ah, sim o Enigma Vazio...vou ler a resenha de Marcelo Coelho. Mas o título me parece "Elvira, a Morta Virgem". A gente já sabe quem morre no final. A arte contemporânea é um enigma, ou seja, algo que pede decifração; mas, para Afonso, não é preciso, é fátuo, decifrar essa arte. A arte contemporânea, poderia dizer ele num paradoxo wildeano, é uma esfinge sem segredo. Para fazer o que ele quer fazer, acho que o crítico deveria dizer: não gosto de Duchamp, mas gosto de Maria Martins, e a partir de agora vou lutar pela consagração e canonização de Santa Maria Martins, a escultora e mulher de um diplomata que amou Duchamp em todos os sentidos.
Caetano voltou a discutir o debate na Folha Ilustrada. Contrera falou sobre isso em seu blog: para ele, foi como ver o caderno Mais! ao vivo. Mas era a Ilustrada, Contrera! Há muito não vejo o triunvirato Cacá/Gullar/Caetano no Mais! Contrera é muito cansado e entediado para debater esse grupo de nordestinos enérgicos de maneira pertinente. Que o deixassem subir ao palco. Aí veríamos. O poder não corrompe: com ele, as pessoas se revelam...show man por show man, Ferreira Gullar é bom mas acho que prefiro Gerald Thomas. O Thomas é desvinculados da baixa política escrota do Brasil, como mostrou em sua última postagem no blog e jamais cogitaria apoiar Roseana Sarney para presidente. O encontro dos cinquenta anos de Ilustrada era mais uma celebração de quem venceu e por isso não cabia muito a crítica e a teoria de uma Maria Rita Kehl, por exemplo.
Uma crítica cultural séria no Brasil começará de onde Gilberto Vasconcellos a deixar. O insight dele de que o cinema de Glauber é uma resposta ao Adorno e suas críticas ao cinema é GENIAL. Realmente, os adornianos precisam ver e analisar Glauber: alô alô Rodrigo Duarte & Douglas Garcia!
Vi um filme de madrugada esses dias e era assim: Gatão de Meia-Idade. Há uma referência no filme ao teatro do Gerald: o cara de meia idade chama uma moça mais nova para ver um pornô, mas ela quer ir ver a peça do GT. Um diálogo memorável do filme. quando o gatão transou uma super-executiva. Transcrio livremente. Minutos antes, ele perguntara pelo "size" do pênis:
--Eu tenho que ir.
--Outro homem.
--Rodrigo. Reinaldo. José. Fábio.
--Quatro?
--Marido e três filhos.
--Você não me disse que era casada.
--Muda algo?
--Eu faria fantasias com a dissolução da família brasileira.
--Só porque sou casada, não posso trepar com qualquer um?
--Eu sou qualquer um?
Isto posto, transcrevo algumas frases que me chamaram a atenção essa semana:
"Seja a diferença que você quer ver no mundo".
"O futuro é uma velha desdentada tomando milk-shake".
Marcadores:
Cacá Diegues,
Caetano Veloso,
critica cultural,
Gullar,
Zizek
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Caetano escreveu sobre linguística; análise de Possenti
Ele, Caetano, falou de lingüística
Sírio Possenti
De Campinas
Há algumas semanas, em seu blog, Caetano Veloso falou de lingüística. O título do texto do dia era "lingüistas" (o tom parecia com os associados usualmente a expressões negativas, como quem diz "mulheres" ou "petistas" para ressaltar características que um homem ou um tucano acham típicas, e que lhes soam negativas).
É difícil discutir todos os aspectos do texto. E sei que destacar algumas passagens de certa forma descaracteriza o pronunciamento. Mas vou fazer isso, apesar dos riscos, porque há aspectos claramente destacáveis (pelo menos do ponto de vista de um lingüista; de um tipo de lingüista, pelo menos).
Primeiro, registre-se que as opiniões de Caetano têm algum lustro: leu certos textos e freqüentou certos meios (os concretistas, que liam Jakobson, que citava e era citado etc.). E, obviamente, ele não é bobo. Nem totalmente preconceituoso... Mas esse tipo lustro nem sempre favorece.
Vamos, pois, aos comentários de algumas passagens do post dele.
Quanto à lingüística propriamente dita, li Saussure (aquelas aulas) no início dos anos 70. Li somente porque os poetas concretos falavam dele... todos falavam de Jakobson, que falava dele.
Aquelas aulas? Pois é. Aulas sobre Saussure têm sido pequenos desastres. Em geral, ele passou para a história (em cursos de letras e de comunicação) como o cara da dupla face do signo, o significante e o significado. Mas, de fato, isso não é próprio do Saussure. Nem a arbitrariedade dessa relação. Saussure é o pensador do sistema, dos valores, da diferença (ler sobre as entidades lingüísticas, por favor). E foi assim que ele passou para a história da lingüística.
O que disse sobre o significante ser a imagem acústica é certamente relevante, porque põe o fonema, por exemplo, num espaço psicológico específico (se tivesse sido compreendido nesse particular, não leríamos os Sacconi da vida dizendo que fonemas são os sons da língua, nem haveria ditados fonêmicos em escolas de medicina ou de fonoaudiologia). É mais ou menos como achar que a relatividade é o relativismo. Pessoalmente, prefiro os "erros" da tradição às achegas parciais a propostas novas. Um bom Newton é melhor que um Planck mal digerido.
Fiquei maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes: a língua é falada, a escrita seria apenas uma notação convencionada a posteriori, como as pautas musicais.
"Práxis dos falantes", obviamente, não é Saussure. O tempo é, para ele, a categoria fundamental para explicar a mudança. Vago? Acho que sim, mas esse é Saussure. Práxis é marxismo ("sério" ou de boteco, pouco importa). Importante: se essa tese de Saussure chamou tanto a atenção de Caetano, aposto que foi porque tinha sido levado a pensar, ou porque talvez estivesse pensando, que as línguas são mais ou menos imutáveis (o que, de fato, de vez em quando, volta com força no post dele, não à toa, eu achei. Gostou da idéia, mas não "conseguiu" incorporar).
Nunca vou esquecer sua observação de que o francês é a única língua ocidental que tem uma palavra cuja grafia não guarda nem um só dos valores fonéticos originais das letras que a compõem: "oiseaux".
A afirmação acima fecha seus comentários sobre o que Saussure teria dito sobre a escrita. Ficou a anedota, como freqüentemente ocorre. E o exagero (a única língua ocidental: ou o professor "acrescentou", ou foi no bar; sempre um bom lugar, aliás). As poucas páginas de Saussure sobre a escrita são extremamente lúcidas e seriam revolucionárias ainda hoje (se fossem lidas). Continua válida inclusive sua reclamação de que os lingüistas "não têm vez em capítulo" - quando as questões de escrita são discutidas - e por isso, ele acha, "a forma escrita tem, quase sempre, superioridade" (Curso, pg. 36). "Oiseau" (singular, no Curso) é um excelente exemplo, claro (como a pronúncia é wazô, nenhum dos sons é representado na escrita), mas é do tipo que fica na memória por seu caráter anedótico, não pelo efeito que deveria produzir como exemplo crucial das teses de Saussure sobre o tema.
Caetano conta que, quando veio a Campinas para um show, ganhou um livro de uma professora sobre diferenças entre português do Brasil e de Portugal. Comentários postados garantem que se trata de um livro de Charlotte Galves. Se for, quase todos os comentários de Caetano estão errados. Ele deve ter esquecido também de algum outro livro que leu. Mas, mesmo que tenha lido outro, duvido (mas essa é uma aposta) que alguém tenha escrito o que ele diz que recorda - sobre tu/você etc. Ah, acrescenta que o livro "era escrito num português excelente". O que ele esperava?
Depois ele discute uma entrevista de Marcos Bagno à revista Caros amigos. O que escreve sobre isso exigiria longas considerações, porque tanto há mal-entendidos, se, de fato, o que Saussure teria dito o impressionou, quanto discordâncias ideológicas a serem discutidas em detalhe.
Na semana seguinte, comentando mensagens de leitores, acrescentou, por exemplo, que "as pessoas que dizem 'grobo' são as mesmas que têm vocabulário menor, menos acesso aos conhecimentos, menos poder". Menos poder, sim. Vocabulário menor é coisa que se pode discutir. Já que citou Lévi-Strauss, ouso sugerir que leia O pensamento selvagem. Talvez mude de opinião. Pensando bem, acho que não mudaria, porque a questão é fortemente atravessada por ideologia, que argumentos "objetivos" dificilmente afetam.
Mais: diz, por exemplo, a propósito de conjugações como "tu vai":
... a resposta racional é que se conjugo o verbo sempre na terceira perco o direito de prescindir do pronome sujeito (é verdade: se a conjugação se "simplifica", isso afeta a sintaxe; o inglês funciona assim: algum problema? Mas por que essa é uma resposta racional?); ouço com prazer os "tu é" dos cariocas e os "tu vai" dos gaúchos, mas sei que há um empobrecimento de possibilidades do uso da língua (empobrecimento? É difícil de demonstrar: perde-se aqui, ganha-se lá, como se verifica se não houvesse possibilidades como as mencionadas, que são enriquecedoras, porque novas, diferentes das outras); de todo modo, não há porque não ensinar às pessoas como funcionam as conjugações, tendo em vista o pronome pessoal escolhido (mas as conjugações funcionam assim, exatamente como funcionam; ou ele quer dizer "como funcionavam", com "vós" e tudo? Nada contra, se fossem assim, mas por que não as de hoje?).
Aliás, amei ler no texto "medieval" de Maira "aa" em lugar de "à". Isso porque há anos digo que seria legal se escrevêssemos "aa", como feminino de "ao": ficaria bonito e não teríamos esse rolo da crase (que adoro mas vejo que é um sofrimento para muitos).
Sei que é uma bobagem, que pode parecer picuinha, mas duvido que Caetano cometa em música um erro tão banal quanto dizer que aa é o feminino de ao. Ou que, em espanhol, al é o masculino de a la. Puxa! O Pasquale lhe diria o que é isso!
Depois de discutir - a meu ver com alguns equívocos, a partir da entrevista de Bagno à Caros amigos - questões de norma culta versus variedades menos valorizadas, e de comentar criticamente a tradução de um título de Proust (no que concordo com ele), dispara:
O que isso tem a ver com os lingüistas, a língua falada, a norma culta, a norma oculta, a demagogia e a mania de pensar que o melhor modo de resolver o problema das favelas é destruir o sistema de esgoto de que desfrutam as "elites"? Tudo.
Bem, se ele entendeu que "defender" variedades lingüísticas populares, mesmo que sejam aceitas como "corretas", por serem empregadas em textos "cultos", determinadas construções ainda condenadas (como vende-se flores etc.) equivale a defender que não se leiam textos "clássicos" ou que se critiquem formas em franco desuso, então, de fato ele não entendeu nada (ou não pode entender). E não se trata de deficiência mental, que disso ninguém pode acusar Caetano. Trata-se mesmo de ideologia. Da qual, aliás, não é difícil descobrir traços em outros domínios sobre os quais Caetano opina como cidadão e também como artista ou homem-show.
Também acho que ele podia ter se poupado de gravar "Ou você me ama, ou não está madura", mas e daí? Dizendo isso, acho que estou elogiando Caetano. Mas concedo que não entendo nada de música, nem do circuito empresarial.
Sírio Possenti
De Campinas
Há algumas semanas, em seu blog, Caetano Veloso falou de lingüística. O título do texto do dia era "lingüistas" (o tom parecia com os associados usualmente a expressões negativas, como quem diz "mulheres" ou "petistas" para ressaltar características que um homem ou um tucano acham típicas, e que lhes soam negativas).
É difícil discutir todos os aspectos do texto. E sei que destacar algumas passagens de certa forma descaracteriza o pronunciamento. Mas vou fazer isso, apesar dos riscos, porque há aspectos claramente destacáveis (pelo menos do ponto de vista de um lingüista; de um tipo de lingüista, pelo menos).
Primeiro, registre-se que as opiniões de Caetano têm algum lustro: leu certos textos e freqüentou certos meios (os concretistas, que liam Jakobson, que citava e era citado etc.). E, obviamente, ele não é bobo. Nem totalmente preconceituoso... Mas esse tipo lustro nem sempre favorece.
Vamos, pois, aos comentários de algumas passagens do post dele.
Quanto à lingüística propriamente dita, li Saussure (aquelas aulas) no início dos anos 70. Li somente porque os poetas concretos falavam dele... todos falavam de Jakobson, que falava dele.
Aquelas aulas? Pois é. Aulas sobre Saussure têm sido pequenos desastres. Em geral, ele passou para a história (em cursos de letras e de comunicação) como o cara da dupla face do signo, o significante e o significado. Mas, de fato, isso não é próprio do Saussure. Nem a arbitrariedade dessa relação. Saussure é o pensador do sistema, dos valores, da diferença (ler sobre as entidades lingüísticas, por favor). E foi assim que ele passou para a história da lingüística.
O que disse sobre o significante ser a imagem acústica é certamente relevante, porque põe o fonema, por exemplo, num espaço psicológico específico (se tivesse sido compreendido nesse particular, não leríamos os Sacconi da vida dizendo que fonemas são os sons da língua, nem haveria ditados fonêmicos em escolas de medicina ou de fonoaudiologia). É mais ou menos como achar que a relatividade é o relativismo. Pessoalmente, prefiro os "erros" da tradição às achegas parciais a propostas novas. Um bom Newton é melhor que um Planck mal digerido.
Fiquei maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes: a língua é falada, a escrita seria apenas uma notação convencionada a posteriori, como as pautas musicais.
"Práxis dos falantes", obviamente, não é Saussure. O tempo é, para ele, a categoria fundamental para explicar a mudança. Vago? Acho que sim, mas esse é Saussure. Práxis é marxismo ("sério" ou de boteco, pouco importa). Importante: se essa tese de Saussure chamou tanto a atenção de Caetano, aposto que foi porque tinha sido levado a pensar, ou porque talvez estivesse pensando, que as línguas são mais ou menos imutáveis (o que, de fato, de vez em quando, volta com força no post dele, não à toa, eu achei. Gostou da idéia, mas não "conseguiu" incorporar).
Nunca vou esquecer sua observação de que o francês é a única língua ocidental que tem uma palavra cuja grafia não guarda nem um só dos valores fonéticos originais das letras que a compõem: "oiseaux".
A afirmação acima fecha seus comentários sobre o que Saussure teria dito sobre a escrita. Ficou a anedota, como freqüentemente ocorre. E o exagero (a única língua ocidental: ou o professor "acrescentou", ou foi no bar; sempre um bom lugar, aliás). As poucas páginas de Saussure sobre a escrita são extremamente lúcidas e seriam revolucionárias ainda hoje (se fossem lidas). Continua válida inclusive sua reclamação de que os lingüistas "não têm vez em capítulo" - quando as questões de escrita são discutidas - e por isso, ele acha, "a forma escrita tem, quase sempre, superioridade" (Curso, pg. 36). "Oiseau" (singular, no Curso) é um excelente exemplo, claro (como a pronúncia é wazô, nenhum dos sons é representado na escrita), mas é do tipo que fica na memória por seu caráter anedótico, não pelo efeito que deveria produzir como exemplo crucial das teses de Saussure sobre o tema.
Caetano conta que, quando veio a Campinas para um show, ganhou um livro de uma professora sobre diferenças entre português do Brasil e de Portugal. Comentários postados garantem que se trata de um livro de Charlotte Galves. Se for, quase todos os comentários de Caetano estão errados. Ele deve ter esquecido também de algum outro livro que leu. Mas, mesmo que tenha lido outro, duvido (mas essa é uma aposta) que alguém tenha escrito o que ele diz que recorda - sobre tu/você etc. Ah, acrescenta que o livro "era escrito num português excelente". O que ele esperava?
Depois ele discute uma entrevista de Marcos Bagno à revista Caros amigos. O que escreve sobre isso exigiria longas considerações, porque tanto há mal-entendidos, se, de fato, o que Saussure teria dito o impressionou, quanto discordâncias ideológicas a serem discutidas em detalhe.
Na semana seguinte, comentando mensagens de leitores, acrescentou, por exemplo, que "as pessoas que dizem 'grobo' são as mesmas que têm vocabulário menor, menos acesso aos conhecimentos, menos poder". Menos poder, sim. Vocabulário menor é coisa que se pode discutir. Já que citou Lévi-Strauss, ouso sugerir que leia O pensamento selvagem. Talvez mude de opinião. Pensando bem, acho que não mudaria, porque a questão é fortemente atravessada por ideologia, que argumentos "objetivos" dificilmente afetam.
Mais: diz, por exemplo, a propósito de conjugações como "tu vai":
... a resposta racional é que se conjugo o verbo sempre na terceira perco o direito de prescindir do pronome sujeito (é verdade: se a conjugação se "simplifica", isso afeta a sintaxe; o inglês funciona assim: algum problema? Mas por que essa é uma resposta racional?); ouço com prazer os "tu é" dos cariocas e os "tu vai" dos gaúchos, mas sei que há um empobrecimento de possibilidades do uso da língua (empobrecimento? É difícil de demonstrar: perde-se aqui, ganha-se lá, como se verifica se não houvesse possibilidades como as mencionadas, que são enriquecedoras, porque novas, diferentes das outras); de todo modo, não há porque não ensinar às pessoas como funcionam as conjugações, tendo em vista o pronome pessoal escolhido (mas as conjugações funcionam assim, exatamente como funcionam; ou ele quer dizer "como funcionavam", com "vós" e tudo? Nada contra, se fossem assim, mas por que não as de hoje?).
Aliás, amei ler no texto "medieval" de Maira "aa" em lugar de "à". Isso porque há anos digo que seria legal se escrevêssemos "aa", como feminino de "ao": ficaria bonito e não teríamos esse rolo da crase (que adoro mas vejo que é um sofrimento para muitos).
Sei que é uma bobagem, que pode parecer picuinha, mas duvido que Caetano cometa em música um erro tão banal quanto dizer que aa é o feminino de ao. Ou que, em espanhol, al é o masculino de a la. Puxa! O Pasquale lhe diria o que é isso!
Depois de discutir - a meu ver com alguns equívocos, a partir da entrevista de Bagno à Caros amigos - questões de norma culta versus variedades menos valorizadas, e de comentar criticamente a tradução de um título de Proust (no que concordo com ele), dispara:
O que isso tem a ver com os lingüistas, a língua falada, a norma culta, a norma oculta, a demagogia e a mania de pensar que o melhor modo de resolver o problema das favelas é destruir o sistema de esgoto de que desfrutam as "elites"? Tudo.
Bem, se ele entendeu que "defender" variedades lingüísticas populares, mesmo que sejam aceitas como "corretas", por serem empregadas em textos "cultos", determinadas construções ainda condenadas (como vende-se flores etc.) equivale a defender que não se leiam textos "clássicos" ou que se critiquem formas em franco desuso, então, de fato ele não entendeu nada (ou não pode entender). E não se trata de deficiência mental, que disso ninguém pode acusar Caetano. Trata-se mesmo de ideologia. Da qual, aliás, não é difícil descobrir traços em outros domínios sobre os quais Caetano opina como cidadão e também como artista ou homem-show.
Também acho que ele podia ter se poupado de gravar "Ou você me ama, ou não está madura", mas e daí? Dizendo isso, acho que estou elogiando Caetano. Mas concedo que não entendo nada de música, nem do circuito empresarial.
Marcadores:
Caetano Veloso,
linguística,
Sírio Possenti
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
O Homem Elefante, Caetas, etc
Uma dica de blog:
http://ohomemelefante.blogspot.com/
Gostei muito desse blog do Henrique. Recomendo.
Hoje vi uma polêmica do Reinaldo Azevedo com o Marcelo Coelho. Ou melhor, o Reinaldo querendo briga com o mineiro Coelho.
Quem nao brigar com o Reinaldo, nao o conheceu. Se até mesmo o brigao Mirisola achouo com cara de abutre da web! E, se Marcelo estiver mesmo pedindo a cabeça de Joao pedro Coutinho e Pondé, acho até que tem razão. Os dois sao fraquinhos, fraquinhos. Coutinho entrou numa de Bush, velha europa, antiga europa, aquele papo chato e furado. Marcelo gozou um pouquinho a cara dos bushitas Reinaldo, Pondé, Coitinho, etc. No fundo foi isso. Com Obama, os neocons e neolibs falcoes passam a ficar mais na deles, ou deveriam. Os juros caíram hoje. Evoé.
Acho que vou mandar currículo para o Marcelo Coelho. As cabezas de Pondé e Coutinho, unglauber...Será que GT fechará o blog desta vez? Não FECHE, GERALD, NAO FECHE!
Escreva para quem te ama e azar para os trolls! blog é para o artista interagir com o seu público. Ninguém gosta muito de polêmica em blog, exceto os sacanas e chatos e malucos da web. E quanto mais vc polemiza, Gerald, mais eles chegam esculhambando! Essa de Israel e do Brasil, então...Ainda bem que tudo foi amenizado com a carta para a Mileny.
Viva Obama! Reinaldo Azevedo nao quer o fim de Guantánamo, pois diz que os terroristas são do mundo. E não poder ir ao mundo, logo devem ficar em Cuba, Guantánamo. Mas os terroristas têm pátria, sim. O motorista de Bin Laden está lá, por exemplo, mais por ser o motorista do homem do que por qualquer outra coisa.
Enquanto isso, no blog de Caetano Veloso, continua a briga com os linguistas. Caetano chama quem diverge dele de demagogo e me associou a Giba, o adorniano Gilberto Vasconcellos. Ele continua colocando os gramáticos como coitadinhos e vítimas e o Luedy é o único interlocutor que ele respeita e responde. Ao mandar uma carta para a Folha apoiando os críticos dele e citando Bagno, a coisa começou. A carta tá nesse blog. Ele chamou Bagno de um crítico de nome italiano que me agrediu.Realmente ele levou uma lavada do Bagno e agora dialoga com o Possenti, arriscando-se a levar outra. Vejamos as cenas dos próximos capítulos dessa novela. Entendo porque acham Caetano chato. Ele tem mania de professor de gramática que fica corrigindo a fala toda a hora, obcecado com seu poder. Ele tá certo de criticar o Alexei e abrir uma polemica, mas poderia fazer isso menos vagamente. A imprensa carioca dar atenção à poesia é uma boa. O texto aí em cima, Moreira, não é meu, é de um tal de Leandro Jardim.
Eu estou mais para concretista do que romântico à la Alexei.
Por falar em novela, ela nos faz pensar em nosso sistema de castas, né? O Caminho das Indias...Nietzsche numa onda errada apoiou esse sistema, conforme li em Safranski. O mito é interessante e bonito, mas aplicado para explicar a ordem social fica danoso.
http://ohomemelefante.blogspot.com/
Gostei muito desse blog do Henrique. Recomendo.
Hoje vi uma polêmica do Reinaldo Azevedo com o Marcelo Coelho. Ou melhor, o Reinaldo querendo briga com o mineiro Coelho.
Quem nao brigar com o Reinaldo, nao o conheceu. Se até mesmo o brigao Mirisola achouo com cara de abutre da web! E, se Marcelo estiver mesmo pedindo a cabeça de Joao pedro Coutinho e Pondé, acho até que tem razão. Os dois sao fraquinhos, fraquinhos. Coutinho entrou numa de Bush, velha europa, antiga europa, aquele papo chato e furado. Marcelo gozou um pouquinho a cara dos bushitas Reinaldo, Pondé, Coitinho, etc. No fundo foi isso. Com Obama, os neocons e neolibs falcoes passam a ficar mais na deles, ou deveriam. Os juros caíram hoje. Evoé.
Acho que vou mandar currículo para o Marcelo Coelho. As cabezas de Pondé e Coutinho, unglauber...Será que GT fechará o blog desta vez? Não FECHE, GERALD, NAO FECHE!
Escreva para quem te ama e azar para os trolls! blog é para o artista interagir com o seu público. Ninguém gosta muito de polêmica em blog, exceto os sacanas e chatos e malucos da web. E quanto mais vc polemiza, Gerald, mais eles chegam esculhambando! Essa de Israel e do Brasil, então...Ainda bem que tudo foi amenizado com a carta para a Mileny.
Viva Obama! Reinaldo Azevedo nao quer o fim de Guantánamo, pois diz que os terroristas são do mundo. E não poder ir ao mundo, logo devem ficar em Cuba, Guantánamo. Mas os terroristas têm pátria, sim. O motorista de Bin Laden está lá, por exemplo, mais por ser o motorista do homem do que por qualquer outra coisa.
Enquanto isso, no blog de Caetano Veloso, continua a briga com os linguistas. Caetano chama quem diverge dele de demagogo e me associou a Giba, o adorniano Gilberto Vasconcellos. Ele continua colocando os gramáticos como coitadinhos e vítimas e o Luedy é o único interlocutor que ele respeita e responde. Ao mandar uma carta para a Folha apoiando os críticos dele e citando Bagno, a coisa começou. A carta tá nesse blog. Ele chamou Bagno de um crítico de nome italiano que me agrediu.Realmente ele levou uma lavada do Bagno e agora dialoga com o Possenti, arriscando-se a levar outra. Vejamos as cenas dos próximos capítulos dessa novela. Entendo porque acham Caetano chato. Ele tem mania de professor de gramática que fica corrigindo a fala toda a hora, obcecado com seu poder. Ele tá certo de criticar o Alexei e abrir uma polemica, mas poderia fazer isso menos vagamente. A imprensa carioca dar atenção à poesia é uma boa. O texto aí em cima, Moreira, não é meu, é de um tal de Leandro Jardim.
Eu estou mais para concretista do que romântico à la Alexei.
Por falar em novela, ela nos faz pensar em nosso sistema de castas, né? O Caminho das Indias...Nietzsche numa onda errada apoiou esse sistema, conforme li em Safranski. O mito é interessante e bonito, mas aplicado para explicar a ordem social fica danoso.
Marcadores:
Caetano Veloso,
castas,
chatice,
Felipe Moreira,
gramática,
polemica
Assinar:
Postagens (Atom)