Mostrando postagens com marcador Trostsky. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Trostsky. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sobre o Cabeça: Lula é Jerônimo?

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Sobre Cabeça de Dinossauro": Pois é, Lúcio, eu estou _pensando_ em ler _Carne Viva_, mas para alguém que doou à biblioteca pública seu exemplar autografado de _Cabeça de Papel_ quando o Francis chamou o Lula de besta quadrada, fica difícil se decidir...Eu tenho uma certa hesitação em atribuir a ambiguidade ideológica do "Cabeça" a uma intenção prévia do Francis, como você o faz; prefiro lembrar uma cena famosa de _Terra em Transe_, que o Francis certamente conhecia e que seu epigono-mor Jabor cita repetidas vezes: a do discurso tatibitate do sindicalista Jerônimo, que tem sua boca tampada pelo intelectual Paulo Martins, que olha para a câmara e diz: "viram o que é o povo? Um imbecil, analfabeto, despolitizado...Já imaginaram Jerônimo no poder?". Vi esta cena com o Lula já na Presidência e ela me pareceu uma tremenda profecia do Glauber quanto aos intelectuais dos anos 60 diante da redemocratização dos anos 80 e do seu caráter populista, muito mais abrangente do que o que existia no governo Jango, e que, por isso mesmo, colocou os intelectuais de classe média numa situação delicada, de apoiarem a entrada das massas na política nos seus próprios termos, e não nos deles...não a toa tantos acabaram finalmente caindo no reacionarismo neoliberal em suas várias versões (collorido, psdbista, etc.).Quanto a incapacidade do Francis de ser nacional (o que aliás era um produto do seu trotskismo enviesado, coisa que o Claudio Abramo, cria da LCI do Mário Pedrosa / Lívio Xavier, percebeu bem na orelha), concordo plenamente. ass.Carlos Rebello (crebello@antares.com.br)


Carlos:

Claro que eu me lembro dessa cena. Mas ela tem um sentido interno ao filme: ela é uma crítica à forma idealizada através da qual certos setores idealizaram o povo no pré-64. Augusto Boal reagiu a essa cena, diz a lenda, distribuindo panfletos contra. Vianinha também reagiu contra esse filme, dizendo que o Brasil não era assim tão ruim.

E ela já foi comentada também pelo professor Gilberto Vasconcellos nesse sentido que você vê, de profecia do que seria o Lula, o Jerônimo no poder. O sindicalista no filme fala, balbucia algo como: "estaremos do lado do governador, estaremos aí na luta das classe". Naquele momento, é a posição dita ingenuamente, ou seja, ele não sabe o que diz. Mas o único, no filme, que poderia resistir ao Diaz era o governador Vieira. Estava certo apoiá-lo, seria uma determinada interpretação da luta de classes, de que os trabalhadores precisam apoiar a facção da burguesia que se mostrar mais progressista.
E isso não é trotsquismo, evidentemente. Para eles até Chávez é burguês e conciliador de classe.

A intenção de Glauber, no filme, era outra, mas o lance ficou valendo para o futuro, mas em parte. Se Lula resguardasse e ainda utilizasse pelo menos o termo "luta de classe" já era alguma coisa.

Mas o problema, com Lula, é o inverso do Jerônimo do filme, manipulado por intelectuais e líderes políticos. Lula é excessivamente pragmático, é inteligente. É ele que tem jogado com os intelectuais, com forças políticas e, com base ora num certo obreirismo, ora fazendo concessões aos liberais, consegue chegar ao poder e manter-se nele.

Lula é o Jerônimo pragmático. Jerônimo com Richard Rorty instintivo. Não tem cultura política marxista e nem conhece em detalhes a história do Brasil, mas sabe articular aliados, gerenciar o orçamento e entende o poder, fazendo o que pede cada momento e remodelando-se, reiventando-se sem grandes viradas. Se não liga para a luta de classe, sabe suficientemente politicamente sinalizar que concilia e alia capital e trabalho e colocou como vice um empresário.

Por fim, Jardel/Jabor teriam uma surpresa com esse nosso anão Jerônimo, menos letrado que outro anão, Vargas, mas bem mais treinado para o poder. Lula não entendia de marxismo como Francis, mas pode derrotar o partido comunista brasileiro, como o fez.