Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
terça-feira, 19 de maio de 2009
POEma do Onze de Setembro
Existe poesia após Auschwitz?
O corvo...j´ai perdu mon Euridice...
Gerald Thomas tudo viu e chorou
chapado de rivotril.
Tantas vítimas inocentes.
Existem inocentes?
Os niilistas russos e suas bombas:
Sartre
NINGUÉM É INOCENTE!
Gluck, Orfeu, Obama, Bush
Afe-ga-ni-ser-tão.
Bao tamem na bandeira de Minas
Escrito por dupla breganeja.
A volta dos bravos é tão banal
Os bombeiros morreram soterrados.
Eu ia chorar no final do filme
Aí veio Taleban e a última etapa do capitalismo
E Lênin e coisa e tal.
E chorei chorando.
Não chove mais. A rocha vermelha
No poema não era como o Francis falou.
A revolução. Ah, a crítica.
Maio não é um mês cruel não.
A morte de inocentes virou performance?
Pergunto ao fantasma de Stockhausen
E ao poeta Sebastião Antunes.
É preciso derrubar as torres de novo?
Pergunto ao Ramiro-filosofix
Se as torres estavam na Bíblia.
Estava escrito, estava escrito.
Henrique Hemídio, na bunda do mosquito.
É inverno, minha pele
Guimaraesrosianamente se arrupêia
Penso em escrever à la Mallarmé
Mas é outra besteira.
Os livros são uma carne triste
E estão todos comidos.
Guantánamo é uma instalação moderna.
Ninguém fugiu de lá, não é mesmo,
Partido republicobama?
John, HelpWay!
O corvo preto Groza:
Anu preto, ânus nosso.
Quando eu vou ver o rosto de Lenore?
O corvo disse
Never more.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Hamletmídio, Francis, Kantor, Pinter, Beckett, Pondé e eu
No mais, tou lendo as barbaridades que o Francis de Waaaal dizia de Beckett (não passava nada), Kantor (desbunde narcisista) e finalmente, Pinter (é para poucos, linguagem entre dentes, dentre outros elogios...)
E leio na coluna do Walter Navarro/Paulo Navarro que, depois da prisão das dasluzetes e da Eliana Tranchesi (que poderiam criar a banda As Perseguidas), o xadrez tá vindo com força total nesse inverno! kkk
E no filme do Sam Mendes, Beleza Americana, que vi na TV por esses dias, tinha uma frase profética dita pelo republicano mini-Bush em plena era Clinton (Kevin Spacey é democrata, é cool, é pinton, tem suíngue, fuma um):
"THIS COUNTRY IS GOING STRAAIGHT TO HELL!"
Lindo. E quem levou foi ele mesmo. É como se ele tivesse sido sugado por seu próprio cu falante como em Almoço Nu de William Burroughs. Fazendo amor com seu ego!
E meu tio mineiro-americano, Paulinho, mon tati américan, uma época estava transando umas de olhar casa de milionário e vinha com um papo de papai Bush/Lacerdaudenista. Temos mesmo que sobreviver, né? O tati américan nos filmes franceses era um Deus ex-machina, era o que explicava o fato do protagonista poder viver sem trabalhar: ele tinha ganho um dinheiro do tio americano, uma herança!
E hoje eu li na Discutindo Filosofia que tem o Pondé & eu que a coisa é ainda pior do que eu imaginava e ele defende o intelectual Ratzinger, um conservador por colocar a moral antes da política e de tudo, uma vez que para Pondé a moral é um hábito, como o de tomar banho ou escovar dentes. Diz ele que é mais para Darwin que para Kant e que a moral não transa legal com a razão. E o politicamente correto é fascista. Mas ele não é contra o casamento gay. Ele levanta a questão de que, se Deus está morto, tudo é possível --problematizada no próprio Dostoiévski em diálogos com o Ivã, que diz isso. Logo em seguida, alguém, não sei se Dimitri, diz que com a ética da virtude não se precisa de Deus. Pondé diz que, sem Deus, corremos o risco de niilismo.
No entanto, Deus não faz julgamentos, não prende nem celebra missas. Quem impedirá a antropofagia e o bundalelê total e delirante serão, então, sacerdotes, juízes, policiais, todos em ligação a um poder temporal. Pondé quer fumar e não quer nos poupar de seu cheiro. Isso me faz lembrar o romance de Roberto Drummmondo O Cheiro de Deus. Pondé não nos quer poupar do cheiro de Deus e do sexo dos anjos. O filósofo é padre sem paróquia nesse Brasil onde professores de História é que assumem as parcas aulinhas de Filosofia & Sociologia que o honrado José Alencar nos concedeu entre uma especulação sobre o terceiro mandato de Lula e uma citação filosófica de um Protógenes qualquer, ou será Diógenes, o Cínico?
Mas não me queijo. Eu gostava do Digestivo Cultural até o momento em que Júlio Daio Borges, esse Jorge Luís Borges que, junto com Andrew Keen, quer salvar nossa cultura do amadorismo e instalar a belle époque do jornalismo cultural franciniano, falou que a inclusão digital vai fazer com que vivamos o hoje como um E o Vento Levou... no futuro,afinal, quem bloga hoje seria parte da elite e outros blá blá blá aristocráticos. Aí eu passei a só dar uma passada de olhos no Digestivo.
Aliás, Vampiro de Curitiba, tudo menos criticar a inclusão digital desse jeito, hein, pois...eu fiz a inclusão digital do Lula aqui na minha cidade! Tenho até o diplominha e tudo! Mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa. Eu poderia citar outras expressões em latim como Drácula, in illo tempore, mas agora não. Pôxa, não entra nesse trip tipo E os bárbaros da inclusão digital levaram não, senão eu vou falar do Ipod usado que o Obama deu de presente para a Rainha da Inglaterra, hein!
Para cantar com a melodia do refrão violento de Hapiness is a Warm Gun: "Nelson Rodrigues jumps the gun! Nelson Rodrigues jumps the guuun!"
Gerald Thomas é o Nelson Rodrigues de nosso mundo. Mundo Luso, quer dizer, lúcio, quer dizer, lúcido. Rush Lumbagh é o Ratinho dos USA e Law and Order era um slogan da era Reagan e que virou série americana. Dessa só vi e gostei de Twilight Zone, com a qual o professor Capuzzo fez uma tese que virou livro e o nome da série em português esqueci. Mas a série Friends, por exemplo, tem aquela risadinha horrível do Zorra Total, que praticamente chama a gente de idiota pois ensina a hora de rir! E o que tem de milionário porco e lambão por aí não tá no gibi!
O blog Obra em Progresso acabou e Caets deixou comments off para não ser provocado. Se eu fosse um empresário da cultura jamais acabaria com meu blog, pois ele seria um canal de informações importantes para meus negócios nas colônias...Durante um tempo, o intelectual brasileiro culto e viajado foi meio muambeiro, ele saía e trazia a tais idéias fora do lugar ou como disse a Eneida Maria de Souza, ele fazia o papel de intermediário entre a colônia e a metrópole, entre a roça e a city cité cidade. Agora isso está acabando...A decadência se faz em luz and sound surround & parfois...ia citar Glauber, mas esqueci. Vergessen.
Mas se eu fosse Denny Yang abandonaria o blog como um satélite. Satelite of love. Ou faria um drama ou mise en scène antes de fazer um blogcídio para trazer uns comentários...
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Nietzsche no Digestivo
Começou, quem sabe devido à contraposição do meu artigo do Honneth com a entrevista do Pondé, uma cruzada contra o politicamente correto de Júlio Daio Borges e de Samir Thomaz.
O artigo de Júlio sobre Nietzsche nada trouxe de novo para mim, é um artigo de divulgaçao. O que me espanta é ele pensar que Nietzsche começou Teologia por influência paterna (o pai dele morreu quando ele tinha nove anos) e que imagine que foi Nietzsche quem inventou essa coisa de criticar a pessoa não por seus argumentos, mas por sua personalidade, ou seja, os argumentos ad hominem.
Nietzsche, ora, não inventou isso, que deve ser antigo, mas deu cidadania ao argumento psicológico: se a pessoa diz isso, tem relação com quem ela é. A genealogia pergunta não tanto "o quê" e sim "quem". Logo a seguir, Júlio dá o exemplo de Paulo Francis, que para ele é sinônimo de "nossos polemistas". Ora, bolas. Júlio parece só ter lido o Paulo Francis do final da vida, o Francis insultoso da época do Dicionário da Corte, que é um livro interessante, pois Daniel Piza realmente escolheu o melhor de sua produção nos anos de 1980/90.
A relação entre Francis e Nietzsche existe e creio que vem via H. L. Mencken. Mas não sei se Júlio dá conta de fazer um artigo estabelecendo essa relação: não me parece ter treino ou competência filosófica para tanto.
E vale a pena ressaltar -- lendo o artigo de Samir Thomaz sobre o charme da esquerda --que existem países que são ditadura desde 1945 e ninguém reclama, como por exemplo a Birmânia. Por que? Porque são ditaduras favoráveis ao Ocidente. Já as ditaduras do proletariado que restaram, que são Cuba e Coréia do Norte, são muito atacadas, pois são um desafio à política externa dos EUA e da Europa.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Sobre o Cabeça: Lula é Jerônimo?
Carlos:
Claro que eu me lembro dessa cena. Mas ela tem um sentido interno ao filme: ela é uma crítica à forma idealizada através da qual certos setores idealizaram o povo no pré-64. Augusto Boal reagiu a essa cena, diz a lenda, distribuindo panfletos contra. Vianinha também reagiu contra esse filme, dizendo que o Brasil não era assim tão ruim.
E ela já foi comentada também pelo professor Gilberto Vasconcellos nesse sentido que você vê, de profecia do que seria o Lula, o Jerônimo no poder. O sindicalista no filme fala, balbucia algo como: "estaremos do lado do governador, estaremos aí na luta das classe". Naquele momento, é a posição dita ingenuamente, ou seja, ele não sabe o que diz. Mas o único, no filme, que poderia resistir ao Diaz era o governador Vieira. Estava certo apoiá-lo, seria uma determinada interpretação da luta de classes, de que os trabalhadores precisam apoiar a facção da burguesia que se mostrar mais progressista.
E isso não é trotsquismo, evidentemente. Para eles até Chávez é burguês e conciliador de classe.
A intenção de Glauber, no filme, era outra, mas o lance ficou valendo para o futuro, mas em parte. Se Lula resguardasse e ainda utilizasse pelo menos o termo "luta de classe" já era alguma coisa.
Mas o problema, com Lula, é o inverso do Jerônimo do filme, manipulado por intelectuais e líderes políticos. Lula é excessivamente pragmático, é inteligente. É ele que tem jogado com os intelectuais, com forças políticas e, com base ora num certo obreirismo, ora fazendo concessões aos liberais, consegue chegar ao poder e manter-se nele.
Lula é o Jerônimo pragmático. Jerônimo com Richard Rorty instintivo. Não tem cultura política marxista e nem conhece em detalhes a história do Brasil, mas sabe articular aliados, gerenciar o orçamento e entende o poder, fazendo o que pede cada momento e remodelando-se, reiventando-se sem grandes viradas. Se não liga para a luta de classe, sabe suficientemente politicamente sinalizar que concilia e alia capital e trabalho e colocou como vice um empresário.
Por fim, Jardel/Jabor teriam uma surpresa com esse nosso anão Jerônimo, menos letrado que outro anão, Vargas, mas bem mais treinado para o poder. Lula não entendia de marxismo como Francis, mas pode derrotar o partido comunista brasileiro, como o fez.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Cabeça de Dinossauro: Uma Análise de um Romance de Paulo Francis
Com o lançamento recente do romance inédito Carne Viva, de Paulo Francis, fica mais importante analisar sua ficção imediatamente anterior, o livro Cabeça de Negro, publicado originalmente em 1979. Nele se poderão assinalar as bases onde se assenta esse Carne Viva que já nasceu póstumo.
Tendo como pano de fundo o Brasil da ditadura militar e o mundo da Guerra Fria como seu eixo de discussão, Cabeça de Negro envelheceu tão mal que até mesmo Lucas Mendes, amigo de Francis, declarou recentemente que Francis não será lembrado enquanto romancista, a propósito da péssima recepção de Carne Viva na Folha de São Paulo.
No entanto, encontro pelo menos uma virtude em meio ao desleixo estético e ambivalência ideológica do romance: a introdução do personagem do neoconservador em nossa literatura. Em Cabeça, o neoconservador é Hugo Mann, nada tendo a ver com Thomas Mann. No início do livro, o leitor poderia se iludir que está diante de um intelectual que vai fazer a denúncia de sua classe, a burguesia da zona sul carioca. No entanto, pouco a pouco fica claro que seu enfoque é outro. Ele pretende se acomodar e obter o maior número de benesses possíveis dessa burguesia nascida do regime militar: a estratégia nascente é criticar a esquerda que se reorganiza e renasce com a abertura.
Para esse intento ele focaliza seu alvo e objeto de desejo, “Maria”, uma adepta da luta armada perdida em meio a um contexto de 1979 onde o narrador deveria, pelo menos, chamá-la de ex-guerrilheira. O episódio, eivado de racismo, onde Maria mata um negro anônimo que tentou assaltar seu apartamento, torna-se o mote dos comentários de Hugo Mann, chamado para ajudar a moça a resolver a situação. “Maria” então reage como se fosse a esposa do Capitão Nascimento em Tropa de Elite, propondo, apavorada, que ambos simplesmente jogassem o corpo anônimo na favela do Vidigal. A atitude é alvo de sarcasmo e mote dos comentários entediados de Hugo Mann sobre o Brasil. Em seus diálogos onde não deixa falar os argumentos contrários, Hugo Mann histericamente dá o recado da nova direita: é preciso preparar-se para matar, para o estado de exceção, pois a horda de bárbaros está chegando. As citações eruditas disfarçam sua real intenção (que posteriormente será a intenção realizada do autor empírico, Paulo Francis) de criar um novo conservadorismo para uso na democracia liberal então nascente.
A fala prolixa de Mann, então, contamina os demais personagens, numa prosa que não possui claras relações com a fina prosa de Thomas Mann. A repercussão de Francis, hoje, parece ser, em boa parte, devida a esse pioneirismo em inventar uma forma de ser conservador que a imprensa brasileira pudesse seguir, sem repetir nem o nacionalismo ufanista dos militares nem os lemas de tradição, pátria e família dos integralistas. O moralismo golpista contra a esquerda, sim, enraíza-se cada vez mais e toma forma de uma traição do meio de onde Hugo Mann, afinal protagonista, saiu. Paulo Hesse é outro intelectual sempre lembrado na narrativa, mas, assim como a crença de Hugo Mann no marxismo, assim como a pose de trotsquista e vítima do regime militar, morreu.
O atrito e a atitude esnobe de Mann para com seus pares, que insistem em dar aulas, criar filhos e manter as posições nacionalistas ou marxistas, ainda por cima mantendo hábitos chiques tais como ler revistas da nova esquerda norte-americana, aumenta sua depressão arrivista e feroz, gera cada vez mais perplexidade e mal-estar entre os que estão em torno de seu círculo, e que, apesar disso, continuam a tolerá-lo heroicamente.
Chapado pelo uísque liberal norte-americano, o neocon Hugo Mann vai se preparando para no futuro ser o guru da Veja, do Estadão, da Globo. Ele toma ainda alguns cuidados: ataca o pseudonacionalismo das estatais em nome dos pobres, disfarça em discursos sobre a Tchecoslováquia de Dubcek e a russificação de qualquer debate o seu racismo, assim como em ataques a Álvaro Vieira Pinto a sua homofobia. Vinte anos depois, o próprio autor e boa parte da imprensa brasileira serão variantes de Hugo Mann e Paulo Francis terá se tornado esse seu personagem.
O romance, portanto, foi um traque que explodiu, tornou-se profecia realizada. Existem aqui e ali alguns rompantes muito curiosos para serem lido hoje em dia: entusiasmado pelo marxismo de primeiro mundo, que Hugo Mann debate e importa como um índio deslumbrado com espelhinhos e miçangas, ele sente muita repulsa pelo mundo árabe que, com a revolução iraniana, rejeita tanto o marxismo pervertido pela invasão do Afeganistão quanto a cocaína do liberalismo americano e fica com Maomé, que é “deles”. O neocon Hugo sente um interesse dúbio por Lula, então emergindo em meio às oligarquias de direita e de esquerda, forças dominantes no Brasil de então, no seu entender, mas Mann aconselha prontamente distância dele, utilizando o “brilhante” argumento de que ele não é elitizado culturalmente. Diga-se de passagem que, tendo em mente o que aconteceu depois, não deixa de ser um elogio. Hugo Mann, assim como Paulo Francis, para uns é um frasista, para outros é um fascista. A definição vai depender apenas do lado em que o leitor se situar. No entanto, do romance Cabeça de Negro em diante, foram diminuindo a qualidade das frases...
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (Bom Despacho/MG)
Enfim, o sucesso. J. D. tivera seu primeiro livro lançado em Paris. J. D. chegava finalmente à França. Na juventude, em Minas, era amigo de Roberto Drummond e papeava sobre literatura em bares no bairro da Savassi, mas afastou-se de Roberto por associar sempre a sua figura à do palhaço Bozo.
Pouco depois de chegar a Paris, ele quis ir ao cinema. Primeira decepção com Paris: descobriu que Godard é contra o imperialismo cultural americano. Dégoutant. J. D. era colunista elitizado de uma revista de classe média decadente e autor de um blog de sucesso na internet: “Entre Tapas e Gargalhadas”. Ao ligar a TV em Paris, viu uma atriz da Globo entre os negros do subúrbio parisiense de Clichy, dançando e cantando o funk da pi-pi-pi-ri-gueeeete! Que abuso daquela “crioulada”, estragando suas seqüências parisienses!
Dias depois, J. D. foi ao supermercado Bon Marché. Em Paris, ele não podia pagar empregadas domésticas para irem ao supermercado para ele. Quando escutou a música que tocava, um arrepio de pavor: tocava Axé Music no Bon Marché! Ele queria descansar do Brasil, mas aquele paisinho porcaria o perseguia.
De pernas bambas, deitou no sofá em seu apartamento num dos mais chiques arrondissements e arriscou a TV novamente, sem acreditar no que estava vendo: as videocassetadas também existem na França! Doente, tossindo muito, acamado, J. D. era só ajudado por um vizinho de apartamento, o comunista Jean Phillipe Noiry. “Comunistas, gauche caviar, nem aqui estou livre dessa raça”, pensava ele, enquanto pedia para que Noiry lhe trouxesse copos d´ água e remédios. Em seu blog, J. D. jamais publicava comentários dos petistas, que ele chamava “petelhos” e “burros”, inspirado em Paulo Francis. Detestava “Marxilena Xuxaí” e se dizia arrogantemente golpista e macartista. Desesperado, ligou para a mulher, que deixara na cidade de Arapiraca:
--Genalva, vem me buscar que eu estou odiando.
No entanto, um som alto de música breganeja soava ao fundo, impedindo que ele ouvisse o que Genalva estava dizendo. Genalva, livre dele, escutava o que não podia escutar a seu lado. Suas piores suspeitas foram confirmadas. Bateu o telefone: lágrimas de esguicho.
Quando parava de soluçar, sentiu uma vertigem terrível e tombou fulminado. O raio de seu amigo comunista colocara um disco, não da Internacional Comunista, mas dos Mamonas Assassinas, que ele “conhecera numa revista francesa quando eles morreram”. Naquela noite, o Paris Connection teve todos seus integrantes trajando luto. E foi o mais formal deles, um mineiro, quem deu o boa noite, dizendo: “adeus, J. D. !”