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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Algumas anotações

Se eu registrasse seria Amanuense Belmiro estragado. Karnal na TV Cultura: a ciência faz Hiroshima e penicilina, a religião, Auschwitz e Capela Sistina. Pondé com seu óculos de "modernidade covarde" apareceu, Teologia, Pascal e Dostoiévski também. Metaforologia, Die Sorge Geht Uber die Fluss.

Minha professora Angélica Sátiro está na Espanha. Coisas estranhas se passavam no te-a-tro & a conversa é toda muito break, blow, burn.

Cláudio: uns toques, ideias plásticas: No Limite é Survivor, Big Brother é da Endemol, é tudo versão de programas norte-americanos, holandeses, etc. A velha questão da cultura aqui ser postiça, que fala Schwarz. Na Globo é verdade porque a Globo é espuma flutuante, fútil, colonizada. No entanto, Milton cantando no Criança Esperança me comoveu, teve homenagem a Villa-Lobos e a Guignard, que a Angélica não sabe pronunciar, infelizmente, etc, mas deu alguma esperança. Mas não vou doar, pois não se consegue isenção fiscal e, afinal, quem vai declarar esse dinheiro no imposto de renda? A Globo? A UNESCO? Todo mundo pedindo. A trupe pedindo grana.

Glauber reagiu violentamente a Schwarz quando ele disse isso do tropicalismo (que era versão da arte pop): senão o Cinema Novo viraria versão complexa e cabocla da Nouvelle Vague e por aí vai. Hélio Oiticica, diante da Rolling Stone de 1972 também reagiu assim: por que precisa ser cópia da daqui, se tem tanta gente talentosa em design no Brasil? Voltando: Glauber esculhambou Schwarz: os tropicalistas eram anti-Beatles, anti-Rolling Stones.

Também combato essa ideia de que tudo no Brasil é versão de algo da metrópole, mas às vezes tem coisa que...tem uns bozos da vida, né? E tem Papai Papudo, Vovó Mafalda e o Socialismo Brasileiro de Televisão faz aniversário, como dizia meu amigo escritor Dênis Reis.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Capitu é Pop

Pessoal: adorei o sucesso da minissérie Capitu com Michel Melamed: Luiz Fernando Carvalho é um diretor muito interessante e que merece ser bem sucedido.

Melamed é um ator e teatrólogo que Gerald Thomas sempre apresenta como revelação da nova geração. E com razão. Gerald é profeta mais uma vez! Quem quiser saber mais sobre a adaptação deve ir ao endereço abaixo:


http://capitu.globo.com/

De agora em diante não vou postar nesse blog textos da imprensa independente. Ela algumas vezes simplesmente inverte o que se passa na mídia: Israel vira organização terrorista, Cuba não tem prisioneiros políticos, etc. Não. Minha posição é clara: Israel tem direito de existir, Cuba precisa melhorar em termos de democracia, abrindo-se a uma maior liberdade. Precisa deixar de ser ditadura do proletariado, ou de um grupo que representa o proletariado. Ou diz representá-lo.

Eu já vi Fidel falar lá no Mineirinho. E saí certo de que é uma velha esquerda oficial que deve ser combatida também. Não reconheço autoridade nenhuma nele para criticar nenhum blog.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

"MARCO ZERO", DE OSWALD DE ANDRADE, É RELANÇADO


Romance social do mais experimental dos modernistas brasileiros é relançado em edição revista

O romance Marco zero, de Oswald de Andrade, foi concebido como um conjunto de cinco livros. Deveria constituir, nas palavras do próprio autor, um mural, um afresco, um mosaico e um comício de idéias: enfim, uma síntese da história do Brasil na primeira metade do século XX a partir de São Paulo. Dos cinco livros projetados, porém, apenas dois foram escritos: Marco zero I - A revolução melancólica e Marco zero II - Chão, agora relançados em edições revistas, sob supervisão editorial de Jorge Schwartz e fixação de texto de Gênese Andrade, contando com uma abrangente bibliografia a cargo de K. David Jackson e com uma detalhada cronologia por Orna Messer Levin.

Marco zero I - A revolução melancólica tem apresentação de Di Cavalcanti e prefácio de Maria de Lurdes Eleutério. O primeiro volume da projetada pentalogia brasílico-paulistana, datado de 1943, a partir do fracasso da revolução de 1932 referida no título, traz um panorama de São Paulo: "O escritor mapeia o espaço paulista percorrendo a capital, o interior, o litoral. Viajamos pela geografia do Estado de São Paulo [...]. Também no tempo histórico empreendemos viagem, visto que Oswald está constantemente a inquirir a história. [O livro] revela o périplo oswaldiano por São Paulo, observando falas, contextos, inquietações de um numeroso e significativo contingente populacional de variada origem e condição social. Oitenta cadernos de anot ações foram elaborados para compor os tipos e as situações que integram o romance [...] Oswald é hábil em nos fazer ir da sede da fazenda para a casa do bairro do Jardim América. Ou então, estando no bairro proletário do Brás, voltamos à Jurema, a pequena cidade 'morta entre latifúndios'". Uma de suas marcas estilísticas é, portanto, o registro de vários falares regionais e sociais.

Marco zero II - Chão tem apresentação de Roger Bastide e prefácio de Antônio Celso Ferreira. O segundo e afinal último volume da pentalogia inacabada (1945), apesar do subtítulo, não trata, como outros romances da época, da terra e suas questões, mas ao contrário. "É essencialmente urbano. [...] Onde está ela [a terra]? Está nas carteiras dos banqueiros, nas letras de câmbio dos capitalistas. Chão é o momento da crise em que o valor da terra deixa de ser um valor de produção para ser um valor de troca. A esse fato sociológico corresponde um fato psíquico: o fator telúrico cede lugar à saudade da propriedade, a uma decomposição dos sentimentos e a uma desorganização moral na alma dos velhos proprietá rios. Verdadeiramente, o título é muito bem achado na sua ironia! [...] Já se notou que os escritores brasileiros gostam muito de misturar discussões de idéias aos seus romances [...]. Não devemos, pois, considerar como idéias de Oswald de Andrade as idéias dispersas em Chão. São pontos de vista e, para ficarmos mais perto da técnica oswaldiana, digamos que são tomadas de vista cinematográficas da realidade paulista através de mentalidades diferentes de integralistas, comunistas, revolucionários cristãos, ou, ainda, da arte através de doutrinadores da arte pura e da arte utilitária a serviço do povo".

A apresentação de Roger Bastide toca na questão central da própria concepção de Marco zero. Oswald de Andrade viveu no fogo cruzado de várias revoluções: a segunda revolução industrial; a revolução dos costumes derivada da urbanização; a revolução modernista das artes; a revolução política impulsionada desde a URSS. A própria revolução modernista, de que seria um dos impulsionadores, daria conta das duas primeiras, ao sintonizar a arte ao mundo contemporâneo. Mas a quarta das grandes revoluções dessa época conturbada, o início do século XX, foi, desde o princípio, um problema difícil para os artistas revolucionários em todo o mundo.

A começar por essa mesma definição: um artista é revolucionário por revolucionar a arte ou por apoiar a revolução? E qual a melhor forma de um artista apoiar a revolução: fazendo arte revolucionária ou arte popular? Enfim: revolução na arte ou arte na revolução? As opções são excludentes, porque a revolução na arte é sinônimo de complexidade, enquanto a arte na revolução deve ser sinônimo de comunicabilidade.

O que fazer, afinal? Adequar a arte ao gosto popular e trair a revolução artística? Trair a revolução artística é relevante face às demandas da revolução política? Oswald de Andrade, depois de se dedicar por décadas à revolução na arte, a partir de sua filiação ao Partido Comunista em 1931 decide ser hora de se dedicar à arte na revolução. Marco zero, romance social, é a materialização dessa opção.

A mesma questão que Oswald enfrenta quando concebe Marco zero nos anos 1930, e que envolveria de Maiakovski (e sua famosa tentativa de síntese: "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária") a Picasso ("Guernica"), passando pelos muralistas mexicanos, reapareceria nos anos 1950, em função da Guerra Fria - levando, no caso da nova vanguarda concretista, ao "salto participante" de uns e ao abandono da arte experimental pela popular de outros (Ferreira Gullar). Marco zero é o "salto participante" de Oswald.

E se, à diferença dos concretos, não tenta simplesmente dar conteúdo engajado à arte experimental, tampouco faz a opção de Gullar, de abandonar totalmente a complexidade pela comunicabilidade. Marco zero é, enfim, um salto participante oswaldiano. Assim, enquanto Antonio Candido vê nele uma "antinomia entre concepção e realização", ou entre a técnica "pontilhista" e o propósito de romance mural, Mário da Sílvia Brito vê uma técnica "simultaneísta e cinematográfica" que possibilitou ao autor cobrir "vasto tempo e vasto espaço [...], todo um processo de debates dos grandes temas do nosso tempo e do nosso país [...] inserido nas coordenadas da inquietação mundial e condensado em páginas desorden adas e caóticas como a própria realidade de que foram arrancadas".

Por falar em Candido, um dos charmes desta edição é a o texto de Di Cavalcanti, de 1943 ("O drama de Marco zero") que serve de apresentação ao volume I. O pequeno artigo é, ele mesmo, uma espécie de marco zero da crítica contemporânea. Pois antes de abordar o livro, registra a emergência de uma então nova geração de críticos, representada pelo "moço" Antonio Candido, geração essa que "é a primeira de técnicos de literatura que o Brasil conhece, [de] moços saídos das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, [todos] técnicos compenetrados". A crítica, até então, era feita por amadores, nos dois sentidos, mas principalmente no primeiro, de amantes da literatura. Di Cavalcanti, nesse mesmo texto, representa p ortanto a antiga crítica, em que o saber não se separava do sabor. O que é bastante oswaldiano.

O AUTOR:

Oswald de Andrade (São Paulo, SP, 1890), como tantos outros literatos da época, formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco. E, como tantos outros integrantes da elite nacional, fez diversas viagens à Europa.

Ficha técnica:

Título: Marco zero I (A revolução melancólica) e Marco zero II (Chão)

Autor: Oswald de Andrade

Prefácios: Di Cavalcanti e Maria de Lurdes Eleutério (A revolução melancólica); Roger Batisde e Antonio Candido (Chão)

Gênero: Romance

Preço: R$ 53,00 (Marco zero I) e R$ 54,00 (Marco zero II)

Número de páginas: 408 (Marco zero I) e 468 (Marco zero II)

Formato: 12,5 cm x 20,7 cm

ISBN: 978-85-250-4576-8/978-85-250-4577-5


Eu fiz um texto a respeito dos fragmentos inéditos do Marco Zero de Oswald na Cronópios. Quem quiser ler e comentar, pode ir ao blog do texto na revista:


http://www.cronopios.com.br/blogdotexto/blog.asp?id=2734#coments