domingo, 29 de agosto de 2021

Da New Wave ao Grunge

 

A Nova Onda (Parte 2)   lucio@bdonline.com.br          "<b>O Gótico</b>

 

 

Os primeiros anos 80 estavam ligados na moda dark. O brilho sombrio, todo mundo ligado na depressão gótica. A partir de 88 as trevas foram saindo de moda. A pose de “entediado” foi largada e a ordem virou um ritmo mais “quente”e “prá cima”. Em suma o que há é o punk gótico, surgido nos fins dos 70 com o punk tipo The Clash e Sex Pistols. A receita é a guitarra distorcida no limite, melodias simples, seção percussiva mesclando peso e primitivismo. A turma se vestia de preto, as letras descreviam imagens que ficariam bem num filme B. A rainha das trevas foi Siouxsie Sioux. Peter Murphy e os Bauhaus foram sua corte. A concepção dark básica veio dos Bauhaus. Murphy fazia os vocais e letras, Daniel Ash tocava guitarra e David joy e Kevin Askins se ocupavam da cozinha “das trevas”. A música teria que emblematizar o tédio existencial, enumerar os pesadelos, os horrores da mente e da alma, tinha que remeter a Edgar Allan Poe. O nome Bauhaus veio da escola funcionalista alemã Bauhaus e o som se inspirou no punk e nos “decadentes”dos anos 70: David Bowie, Lou Reed, Marc Bolan e T. Rex , incluindo o antigo grupo de Lou , o Velvet Underground e Iggy Pop. O Bauhaus começou em 79 e acabou em 83. O Filme “Fome de Viver”abriu com “Bella Lugosi is Dead”, single que estabeleceu o culto aos Bauhaus. Bella Lugosi foi ator de filmes soturnos à la Boris Karloff, e chegou a se acreditar vampiro na vida real, de tanto representar os mortos-vivos.

 

Dos quatro discos do Bauhaus, só o de 81 saiu por aqui. Em 88 saiu um àlbum duplo com os principais singles, cobrindo o período 79/83. Em 88 os darks já não eram mais moda. Os pós- moderninhos já buscavam novas ondas. A telenovela De Corpo e Alma, da globo, já teve um personagem com este visual. Numa coincidência no mínimo mórbida, a filha da autora da novela, a atriz Daniela Perez, foi assassinada durante as gravações por um ator também global, Guilherme de Pádua.

Após o Bauhaus, Murphy segue solo com os àlbuns The World Fail to Fall Apart(87)e Love Histeria(88), enquanto os demais montaram outra banda, Love and Rockets, mas as trevas ficaram mesmo para trás. Em ambos os casos.

 

 

<b>The Cure</b>

 

 

O Cure hoje já deixou de ser culto de poucos. Já são uma superbanda que vende milhões de cópias de seus discos e excursiona pelo mundo todo. Já vieram inclusive ao Brasil, em Março de 87. A história da “Cura” do dr. Smith começa em 1976, quando Robert resolveu entrar no mundo da música, graças à influência dos punks, como The Clash. O primeiro registro em vinil data de 79. Era editado o compacto “Killing An Arab”, uma letra inspirada no livro “O Estrangeiro”,de Albert Camus, que dizia:

 

“Sou o estrangeiro/Matando um árabe/Sinto o botão de aço pular/Macio em minha mão/Olhando para o mar/Olhando para a areia/Olhando para mim mesmo/Refletido nos olhos /No homem morto na praia/Estou vivo/Estou morto/Sou o estrangeiro/Matando um árabe”.

 

O disquinho saiu pela Fiction Records. A Polydor recusara uma demotape, um pouco antes. E hoje é a gravadora do Cure. Depois do compacto veio a estréia em LP,chamado Three Imaginary Boys, ainda em 79. A capa tinha geladeiras, abajur e aspirador de pó para enfatizar a falta de uma imagem da banda. O LP tinha as ótimas “10.15 Saturday”e “Fire In Cairo”, em meio a um clima pesadamente gótico, mas não estava incluída “Killling An Arab”, já uma canção famosa. Nos EUA, em 79 saiu o àlbum Boys Don’t Cry, versão de Three Imaginary... com músicas inéditas. Reuniu “Killing An Arab”e o hit “Jumping Someone Elses Train”. O segundo àlbum, Seventeen Seconds,de 1980 foi marcado pela frieza. Em meio à tanto gelo, se destacou “A Forest”. Faith e Pornography seguiram neste sentido, formando a tríade dark do Cure. Faith, de 81, tinha uma intenção de ser mais positivo, mas acabou saindo mórbido. Tinha os pontos altos em “Primary”e “Doubt”, além da faixa “Faith”, uma das preferidas de Robert Smith. Pornography tem um excelente trabalho de guitarra, e foi sucesso em 82 com o single “The Hanging Garden”. Esta era a fase “cold”do Cure. Robert Smith mudou o panorama com The Top, de 84. Mas já em Japanese Whispers, de 83, o som é mais leve, com pérolas como “Love Cats”e “Let’s go Bed”.

 

Com The Top, de 84, o Cure consolidou sua imagem e sucesso junto ao grande público. Tem maravilhas como “Caterpillar”e “Shake Dog Shake”. O disco tinha toques de psicodelia para amenizar a atmosfera sombria e a voz angustiada de Robert Smith. The Concert é o primeiro disco do Cure no Brasil, em 85. Os hits são interpretados com eficiência no palco. A partir do disco seguinte, Head On the Door, de 85, Cure vira superbanda. São notáveis “Inbetween Days”, “Close To Me”e “Kyoto Song”. A coletânea Standing On a Beach, editada em 86-e a edição nacional da fita trouxe várias faixas bônus-dá uma idéia do legado do Cure e sua marca no mundo pop. Kiss Me Kiss me(87) era uma tentativa de resgatar o clima gótico dos primórdios da banda com uma salada pop-funk que saiu meio desigual neste disco duplo, mas que tem turmalinas como “The Catch”e “Why Can’t I Be You”. O àlbum seguinte foi menos inspirado, mas assim mesmo fez imenso sucesso nos EUA. Irregular,o LP tem “Fascination Street”com um ótimo trabalho de guitarra. Nesta época a banda era formada por Robert, Simon Gallup, Porl Thompson, Lol Tolhurst e Boris Williams. O Cure passou por um período de letargia. Em 90 saíram onze faixas famosas do Cure, num remix dance.Cheira a comercialismo, mas tem bons momentos artísticos e dançantes.

 

Em 89 a banda chegou à beira da desintegração mas Fat Bob resolveu convidar Lol Tolhurst a deixar a banda. Só em 92 saiu o novo disco do Cure, Wish. Mais leve o Cure prova ainda conseguir produzir hits de sucesso, como “Friday I’m in Love”. Robert já disse: “Só há duas canções no disco que são realmente depressivas”. O guitarrista hoje também já é outro, Perry Bamonte, ex-roadie. Wish foi gravado nos estúdios Manor, uma mansão típica do século 13 com o estúdio anexo, na àrea rural de Oxfordshire, Inglaterra. E desde Kiss Me Kiss Me os membros da banda começam cada disco juntando suas fitas demo individuais, sendo que o Cure não é uma ditadura de Robert Smith. E numa das canções do último LP Robert canta: “Por favor parem de me amar/ Eu não sou nada destas coisas”, reagindo à idolatria que se formou em torno de sua figura e de seu visual. Ele declarou recentemente sobre esta música: “End”(a música referida) “é uma forma de lutar, de dizer que não é realmente deste modo”. Se o Cure hoje já não é como nos 80, pelo menos ainda tem muito caminho pela frente. E os fãs continuam comparecendo aos shows de cara tristonha e roupas pretas...

 

 

<b>Hip Hop</b>

 

 

O início do século 20 assistiu à explosão de jazz e blues nos EUA. O seu final é temperado por novas formas de música, arte e dança negras. A música é o Hip-Hop, a arte é o grafite e a dança é o break. As raízes do hip-hop estão ligadas a uma cidade-New york-e a um bairro, o Bronx, a partir de 59. Até esta época, o bairro era habitado pela classe média imigrante, composta de italianos, alemães e judeus. Neste ano de 59, porém, o bairro foi afetado pela construção de vias expressas que deixaram a região em ruínas, abandonada pela classe média que o habitava. Vieram os negros e os hispânicos e com eles, a sujeira, a violência e as drogas.

 

Em 1968, quando ecoava pelo mundo a revolta dos Black Panthers, os habitantes do Bronx deram projeção de sua revolta nas Street Gangs. Eram organizações de rua, formadas por jovens e adolescentes que aterrorizavam o bairro. Os garotos das gangs desenvolveram um estilo bem próprio de se vestir, como as

jaquetas Lee gravadas com desenhos e o nome da turma -- as mais famosas eram a Black Savages e Spade Skulls. Seu reinado durou até 73, quando a polícia reprimiu as gangs após uma delas ter promovido o estupro de uma garota. Então os garotos abandonaram a violência e criaram outras formas mais pacíficas de expressão, na forma de uma subcultura, à margem da cultura WASP americana. Quando veio a onda disco, nos fins dos 70, os disc-jóqueis das festas de hip-hop transformavam a pasteurizada discoteca em algo diferente. O primeiro grande Dee-jay hip-hop foi Kool Herc, um negro jamaicano que, em vez de tocar músicas inteiras, começou a animar festas rolando apenas pequenos segmentos de meio minuto, ajuntando os hits do momento enquanto os Djs repetiam frases ao microfone, para animar o público. James Brown teria sido a maior influência deste canto/fala. Porém, as influências se estendem, atingindo a poesia oral negra , as chamadas poesias toast e geradas em prisões, versando sobre roubo, rebelião, crime, abusos sexuais e violência. E foi em 1973 que Jalal Uridin, inspirado em James Brown, Sly Stone e nas poesias toast, lançou o alicerce do rap atual, o LP Hustler’s Conventions. O rap permaneceu evoluindo. Hoje em dia, nos 90, surgiu nos 90, até o folk-rap, com instrumentos acústicos. Mas nas fases iniciais foram os Deejays quem introduziram as inovações. Grandmaster Flash inventou a mixagem colando trechos de músicas, grudando um caco no outro. Depois, Theodore Rockwell criou o scratching , arranhando com a agulha da vitrola os discos que tocavam em público.

 

E nos anos 80, em especial 81, o break dance tornou-se o novo frisson novaiorquino. O jornal Village Voice, mais “ligado”, lançou para a mídia aquela dança competitiva, que substituíra a violência nas ruas -- e a cultura de massa logo absorveu o rap no seu caldeirão. Naquele ano de 81, boates de Manhattan dedicaram noites inteiras ao rap, que foram freqüentadas pelas estrelas da época. Vários grupos de rap, como Soul Il Soul, fazendo rap para as FMs e Neneh Cherry, sofisticando e misturando rap e jazz, começaram a vender bem e fazer contratos milionários.

 

E a subcultura hip-hop, que nasceu em berço nada esplêndido, passou a centralizar o cenário cultural a partir de 88, principalmente. Os desbocados do Public Enemy, interpretando o grito das subclasses marginalizadas, fazem parte da trilha de Faça a Coisa Certa, de Spike Lee e obtêm espaço na mídia. Seu protesto é radicalmente a favor dos negros e assume facetas violentas e machistas, horrorizando a classe média americana.

 

E no Brasil o rap brasileiro foi introduzido ao grande público por Fausto Fawcett, na música “Kátia Flávia”, em 87, e que vendeu 80.000 cópias. Nos 90 surgem outros rappers brasileiros, com o egocêntrico(chegando ao ponto de se dizer inspirado em Geraldo Vandré) Gabriel O Pensador abrindo espaço na mídia para outros rappers como os ótimos Racionais MC’s, iniciando um verdadeiro boom do gênero.

 

 

<b>R.E.M. </b>

 

 

O nome do conjunto foi tirado de um tema da psicanálise, o movimento rápido dos olhos (Rapid Eyes Movement) que designa a etapa do sono em que a pessoa mergulha nos sonhos. Nada melhor para definir o som de um grupo capitaneado pela poesia ora passional, ora amrga de Michael Stipe e pelas camadas e mais camadas de guitarras executadas por Pete Buck, o guitarrista que-segundo a lenda-sabe mais de 400 cifras de clássicos do pop.

 

Os músicos vem de Athens, Georgia. Em menos de uma década, o conjunto saiu do circuito de shows por universidades e botecos da Georgia para uma tour mundial. As raízes do som do grupo estão no country e no psicodelismo dos 60, de bandas como Troggs e Byrds. Mas há elementos inovadores no som e nas letras.

 

A banda começou quando o baixista Mike Mills e o baterista Bill Beny, conhecidos dos tempos de colégio, onde tocavam covers dos Doobie Brothers, vieram para Athens e conheceram Michael Stipe, um rapaz introspectivo, entusiasta de literatura e artes plásticas, chegado na New Wave novaiorquina. O guitarrista Pete Buck era fã de discoteca e era, como Stipe, completamente inexperiente. Os primeiros covers incluíam de Everly Brothers até Sex Pistols. Tocavam rápido: “nós éramos thrash porque tínhamos receio de tocar lento. Acreditávamos que só podíamos tocar bem do jeito mais rápido possível”, diz Stipe.

 

Quando se aprimorou musicalmente, o R.E.M. foi se aproximando de uma concepção mais “limpa”: a de Peter contrapunha riffs poderosos a delicados dedilhados, fazendo a moldura ideal para as pinceladas expressionistas de Stipe e sua voz melódica. O primeiro single foi “Radio Free Europe/Sitting Still”, de 81, para o minúsculo selo local Hib Tone. A independente I.R.S. incluiu então a banda em seu cast. O primeiro disco, Murmur, de 1983, trazia a banda numa ótima estréia. Os produtores do primeiro foram também os mesmos de Reckoning, de 84, que não teve o mesmo pique. A seguir a banda iria para Londres, onde entraria em fase de transição e gravaria o àlbum Fables of Reconstrution, com Joe Boyd , que já tinha produzido o grupo de folk-rock Fairport Convention. O disco foi feito em clima tenso, mas mesmo assim mesmo tinha bons momentos, como “Green Grow the Rushes”. O título “Fábulas da Reconstrução” parecia uma referência à reconstrução do sul derrotado na guerra civil americana do século passado. O R.E.M. sempre gostou de manter a imagem de conjunto de rock sulista por excelência. O àlbum Lifes Rich Pageant, produzido por Don Gehman, tentou em vão equilibrar o som da banda. Mesmo assim, o álbum conseguiu disco de ouro. Document, de 87, repetiu a façanha, agora numa melhor fase, com o produtor Scott Litt. A banda revisitou o passado em Dead Letter Office, “O Escritório das Letras Mortas”, onde brilham covers de Pylon, Aerosmith e Velvet Underground se misturavam a outtakes e lados B de singles.

 

O sucesso viria na transferência para a Warner e o lançamento de Green, em 88. As letras ficaram mais accessíveis, mas a qualidade se manteve. Como disse Peter Buck sobre o sucesso estrondoso da banda: “Nós não queremos ser como o U2 e Bruce Springsteen. Queremos ser uma grande cult band.” O comportamento habitual do R.E.M. nos shows inclui Stipe despindo progressivamente várias camadas de roupa, uso parcimonioso da luz, retroprojeção de filmes domésticos e imagens psicodélicas.

Michael Stipe é considerado um vocalista/poeta, ao lado de Morrissey, Ian Curtis e Jim Morrison.  Out of Time começou a ser gravado depois da excursão de 89. Levou um ano para ficar pronto. E o grupo abandonou a “muralha de guitarras”, em parte, para fazer experimentalismos inusitados. A faixa de abertura, Radio Song , faz um violento ataque à péssima programação das rádios e tem os backing vocais de KRS-1, um rapper novaiorquino. Em outras três faixas (Me in Honey, Shinny Happy People e Near Wild Heaven),o vocalista cantou acompanhado com Kate Pierson, dos B-52s. O disco tem a soturna “Low” e seu clip com pinturas renascentistas, a bela “Losing my Religion”, executada bastante pelas rádios. O disco tem canções pop sinceras e trabalhadas que raramente surgem no rock atual. Stipe analisa a decadência da sociedade americana e do próprio pop/rock com força incomum, desvendando o desgaste da cultura ligada ao rock e avisando que já está começando a descrentar. O àlbum seguinte, Automatic for the People(93),com seu título inspirado numa placa de um bar em Athens, investiu mais no lado acústico e com arranjos orquestrais, e numa das músicas(Drive) o rock and roll é uma pessoa perdida, que não sabe se balança ao redor das horas ou procura heroína e crack para preencher a ausência que sente.

Em 94 Stipe planejava até gravar algo em colaboração com Kurt Cobain, do Nirvana, mas ele suicidou-se em Abril. Nos fins do ano o R. E. M. lançou o àlbum Monster, com uma sonoridade mais puxada para o punk, sem instrumentos acústicos como nos anteriores.O álbum entrou nas paradas com a música “What’s the Frequency, Kenneth”, que fala de uma pessoa mais velha tentando desesperadamente entender um jovem da chamada Geração X.

 

 

<b>New Order</b>

 

Na vertente technopop, o New Order surgiu unindo várias tendências do início dos 80, com a união do sintetizador e das técnicas de estúdio com a discoteca, o New Order se tornou uma das grandes bandas dos 80. A banda se originou das cinzas do Joy Division, após o suicídio de Ian Curtis em Maio de 80, com 24 anos incompletos. O Ian foi chamado de “Kleist do technopop”devido à sua veia poética romântica e depressiva-uma de suas canções começava com a frase: “Lá vem os jovens, com pesados fardos em suas costas”. Seu suicídio ocorreu após Ian assistir Strozsek, de Murnau, um filme em preto e branco de um diretor ligado ao expressionismo alemão. O filme acabava com um homem enforcado e uma galinha dançando. Ian foi para casa, ouviu Iggy Pop e se enforcou. Após sua morte todos os componentes ficaram desorientados. Decidiram que Bernard Summers assumiria o seu lugar,após analisarem quem poderia cantar melhor. Gillian, amiga dos rapazes, entraria nos teclados. Gillian já substituíra Bernard uma vez, quando alguém lhe deu uma garrafada numa das mãos, pouco antes de um show. Com os ensaios de Curtis gravados em fita reaproveitaram duas músicas nas quais ele estava trabalhando na semana de seu suicídio(“Ceremony” e “In A Lonely Place”) e tocaram o barco com o nome de New Order. Acabava o Joy, restava o mito. Eles gravavam em seu selo próprio, a Factory. Em 83 conseguiram obter sucesso e reafirmar a nova formação do grupo com o disco Power, Corruption & Lies, que trazia o hit “Blue Monday”. Suas canções têem boa qualidade apesar da voz de Bernard ser fraca em relação à de Curtis. Summer no entanto garante as melodias e letras melancólicas. A banda reinou nos 80 com músicas como “Bizarre Love Triangle”, “Run”e “All The Way”.

 

Em 94 a banda quebra o silêncio em que estava desde 89, estando com novo disco na praça. Barney e Hooky já se aproximam dos quarenta, a banda permanece na ativa. Barney define: “Acho que sobrevivemos devido à tecnologia. Ela vai evoluindo e nós atrás.”A Factory quebrou em fins dos anos 80. Voltou agora como selo da Polygram. A acid house, as raves, os Stone Roses(grupo este que, embora parecesse ser a salvação do rock inglês, lançou apenas um disco em 89 e promete um segundo para 95) se criaram em volta da Hacienda, casa noturna pertencente à gravadora em Manchester. O New Order foi uma retomada parcial das idéias que norteavam o Joy, só que com uma queda mais forte para o Pop. Já como New Order eles chegaram a fazer um comercial para o refrigerante Sunkist, algo impensável no tempo de Ian Curtis. Da banda cultuada e impecável que fora o Joy Division, nasceu uma banda de sucesso massivo, mas que mantinha uma qualidade que dava coesão ao trabalho e o tornava apetecível até para quem não apreciava technopop e dance music. Contrapondo-se à frieza robótica dos teclados, baterias e efeitos eletrônicos, estava a voz desencantada de Barney, que não chega a passar o efeito da voz de Ian, mas dá algo como um calor humano que é necessário em meio à parafernália eletrônica.

 

Em 95, uma biografia de Ian Curtis está para ser lançada. Sua esposa à época de seu suicídio aparece fazendo revelações, decidida a destruir o mito em torno de seu marido. Ela diz que Curtis se suicidou devido a problemas amorosos -- e não devido às questões existenciais expostas nas músicas -- e conta que Curtis tinha uma amante, que levava aos shows, enquanto ela era obrigada a ficar em casa e cuidar da filha, então pequena, do casal.

 

A história toda destoa tanto do mito que cerca até hoje Curtis e o cultuado Joy Division que provalvelmente vai render ainda muita polêmica com os fãs do rapaz que soube tão bem encarnar a imagem do roqueiro inglês, e do artista atormentado, enfim. Uma coisa percebo enquanto fato, e isto dói: Ian era jovem e talentoso, uma das grandes promessas do rock para os anos 80. O fato deste processo criativo ter se autodevorado é lamentável e sempre será.

 

 

<b>Milli Vanilli, O Grunge e a Farsa do Showbizz</b>

 

 

Foi a farsa do século. Fabrice Morvan e Rob Pilatus provaram que se pode fazer sucesso sem saber tocar, na era da MTV. A comissão do Grammy os elegeu os melhores estreantes de 89. Eles venderam 10.000.000 de cópias de um LP que na verdade tinha a voz de um cantor de estúdio. Eles apenas balançavam as madeixas e dançavam. E se diziam mais talentosos que Mick Jagger, Bob Dylan ou Paul McCartney. E usaram a mesma gravação de bateria em”Girl You Know Is True”e outro de seus sucessos. E eles chegaram a se tornar um símbolo da cultura de massa norte-americana tão forte quanto as bonecas Barbie. Mas eles eram mesmo umas barbies para a geração que cresceu assistindo à MTV. E, depois das denúncias do empregado de estúdio que cantou para os dois farsantes sem talento, a dupla acabou caindo no esquecimento, pois os anos 90 chegaram e trouxeram a moda grunge, cuja faceta pop foi encarnada por um surfista(Eddie Vedder, do Pearl Jam) que tentava-e tenta-provar que não é só um rostinho bonito e que se tornou um excelente manequim para as novas roupas que as boutiques indicam:camisa xadrez de flanela, “mosca” abaixo do lábio, coturnos, gorros, cabelos compridíssimos, bermudão. De repente, explodiram em vendas de discos “bandas de garagem”até então desconhecidas, reciclando o som pesado dos anos 70. E, diferente dos movimentos beatnik, hippie e punk, a mídia-que já exercera papel importante no processo de absorção e diluição dos movimentos anteriores-assumiu o controle daquilo que antes era somente uma subcultura da juventude dos subúrbios americanos, e que floresceu nos anos 80 em contraponto aos yuppies, transformando esta maneira de vestir, este som e esta atitude desleixada em um bom negócio. “Não tô nem aí” é a frase-chave deste niilismo pop. Esta era a nova moda a ser seguida por todos os que quisessem estar “por dentro”, usando “aquilo que se está usando”, fossem jovens ou não.

Aqui no Brasil as roupas “grunge”são quentes, tórridas, inadequadas para serem usadas num clima tropical, mas os jovens consumidores de classe média compram-nas furiosamente. Isso os distingue do subdesenvolvimento que grassa ao redor, são provas de que eles são “antenados “ com o que ocorre ao redor do mundo, que são extremamente bem informados e modernos, parte do Primeiro Mundo também, mas exilados dos EUA e da mãe Europa ocidental, por infortúnio, numa republiqueta latino-americana. Num concerto promovido pela Hollywood, multinacional de cigarros, perguntava-se a estes jovens qual era o melhor disco de rock já feito. Eles respondiam que era “o último dos Red Hot Chili Peppers”, “o último do Nirvana”-assim mesmo, sempre o último-e de um dos conjuntos presentes no festival. Ora, quando dizem isso, é como confessassem que têm memória curta, pois com certeza compram discos freqüentemente. Se o mesmo fosse perguntado aos componentes das bandas citadas quais os melhores discos de rock já feitos, eles dificilmente incluiriam seus últimos discos. Os garotos foram ganhos para o discurso publicitário, que precisa sempre vender o novo, o último modelo, de qualquer modo.

 

Pego no centro deste turbilhão, o líder do Nirvana, Kurt Cobain, natural de Aberdeen, Oregon, vendeu nove milhões de discos com sua banda, mas acabou suicidando-se em 6 de Abril de 94. Dois dias depois, quando foi achado o corpo, sua morte começou a se mostrar tão lucrativa para a indústria musical quanto a de Elvis. Cobain era um “filho do divórcio”: seus pais haviam se separado quando ainda criança. Morou então com os avós a partir daí. Com dezoito anos, o pai o procurou para forçá-lo a fazer o serviço militar. O rapaz acabou fugindo e viveu debaixo da ponte em Seattle, até arranjar amigos e passar a ganhar uns trocados tocando em bares. Chris Novoselic, baixista, o acompanhou desta época até o megaestrelato com o Nirvana. Fã de punk rock e quadrinhos, Cobain gravou o primeiro disco como guitarrista do Nirvana em 89, com o título “Bleach”. O segundo, de 91, Nevermind, tinha mais apelo pop e foi lançado no momento certo: levou-os a condição de superbanda, de fama inernacional. Só que a vida de Cobain descontrolou-se, com seu casamento indo aos trancos e barrancos, drogas e bebida usadas em doses cavalares e constante assédio da imprensa mundial. Choveram polêmicas quando Cobain e Courtney Love, sua esposa, passaram aqui no Brasil; outros escândalos envolvendo a banda estouraram: uma garota americana foi estuprada por dois garotos que cantavam “Polly”, fato que deprimiu Cobain, que declarou-se surpreso por saber que havia gente assim entre seu público. Sua esposa, também cantora e compositora na banda ultra feminista Hole, estampou numa capa de disco dois pulsos recém-cortados. E, grávida, foi acusada de drogar-se com heroína pela revista Vanity Fair, o que motivou “pessoas horríveis”, segundo Cobain, a tentarem tomar a garota do casal, assim que ela nascia. A garota, que recebeu o nome de Francis Bean, em homenagem a uma atriz das preferidas de Cobain, nasceu saudável, mas só depois de três meses Cobain e Courtney ficaram seguros de que poderiam viver com ela. Cobain estava preparando o quarto disco da banda (o terceiro foi uma coletânea de covers e lados B de singles) e que seria o também controverso In Utero(93), disco que trazia músicas como “Rape Me”(estupre-me),” Pennyroyal Tea”, referência a um chá abortivo e “I Hate Me and Wanna Die”, (Eu Me Odeio e Quero Morrer), canção tirada do àlbum por sugestão de Chris, que advertiu Kurt de que outras bandas já haviam sido processadas por terem ficado ligadas a suicídios de adolescentes, como o Black Sabbath, por exemplo, ainda nos anos 70. A música acabou servindo-lhe de epitáfio, pois ele terminou por confirmá-la na vida real, aos vinte e sete anos, em seu apartamento em Seattle, com um tiro na própria cabeça. Foi o marco do fim do Grunge, como atitude, estilo ou mero comércio. Sua mulher, Courtney Love, que também toca numa banda, o Hole, virou celebridade depois da morte do marido. Sua banda se chama Hole devido a uma fala da tragédia Medéia, onde Medéia fala do furo (hole, em inglês) que ela sentia na alma. A morte de Cobain, pouco tempo depois da de outro artista da mesma geração, River Phoenix, provocou um comentário de uma fã do Nirvana: “sinto que minha geração está toda morrendo. Primeiro River Phoenix, agora Kurt Cobain.” Quando da vigília em homenagem a Kurt, Courtney compareceu e fez um comentário de extrema lucidez: “Os baby-boomers não podem mesmo entender. Houve uma descontinuidade entre gerações e as pessoas de mais de 32 anos não podem entender. Eles rejeitam esta geração, pois não querem envelhecer.”

 

 

<b>Conclusão</b>

 

Para encerrar, confesso que há omissões. Em primeiro lugar, só me propus a analisar o cenário internacional. Só que falar do Rock nacional e da juventude urbana dos anos 80 é ainda difícil. Há pouco material sobre tais fenômenos. Em relação ao cenário exterior, procurei me limitar ao mais representativo. Então, coloquei Madonna e não Michael Jackson, foi porque ela foi tema de um livro de ensaios de Camille Paglia. Sobre Jackson direi o seguinte: sua vida e obra são Pop. Assim, com letra maiúscula mesmo. Como escreveram Caetano e Gil na capa de Tropicália 2, “em matéria de popismo, faz Madonna parecer mera teórica.” Ora, Jackson praticamente nasceu sobre as luzes da ribalta. Desde criança é astro, com canções nas paradas do mundo. Sua vida cotidiana, com o passar do tempo, se mistura às fantasias do showbusiness. Michael tinha o talento, os meios, as táticas de marketing, o vento dos anos 80 soprou a seu favor e ele chegou ao megaestrelato, dominando a linguagem do videoclipe e fazendo música de consumo com perfeição;seu disco Thriller(83), divulgava uma nova dança, o break, e foi o apogeu da carreira de Michael. Ele não atinge sucesso tão estrondoso, mas consegue vendagens altíssimas, tendo conquistado especialmente crianças e adolescentes. Só que, com o tempo, talvez o próprio Michael já não saiba distinguir o que é sério e o que é pose em sua vida pessoal. Outro fato é que Michael não assume uma postura de artista negro, ou seja, oriundo de uma minoria discriminada. Ele embranquece artificialmente e se torna mais branco que os brancos. A comparação de uma foto do popstar na infância e na maturidade é tragicômica. Jackson utiliza-se da tecnologia para alterar a si mesmo conforme sonhos confusos. E se torna uma criatura disforme, descaracterizada e assexual. Seu egocentrismo se exacerba cada vez mais, enquanto sua produção artística não justifica tantas viagens ao redor do próprio umbigo. Custo a acreditar na permanência da obra de Michael como músico. Mas não tenho absolutamente nenhuma dúvida de que irá permanecer a figura de showbizz --e novos escândalos poderão se suceder-talvez quando acabar seu duvidoso casamento com a filha de Elvis Presley, por exemplo.

 

Quero ir também avisando que muita coisa criativa e interessante ficou distante da atenção da mídia brasileira anos 80 afora. Cito três exemplos: Os Replicantes, Fellini e Violeta de Outono. Outro que merece que lhe façam jus é Júlio Barroso, líder e mentor da Gang 90 & Absurdettes, que acabou morrendo após cair do décimo primeiro andar do prédio onde morava em Junho de 84; sua obra (um disco de estréia e um póstumo) anda há tempos fora de catálogo, mas sua contribuição para a geração 80 ainda não foi suficiente estudada. Interessante notar que tanto Júlio quanto Carlos Gerbase (baterista dos Replicantes) e Cadão Volpato (letrista do Fellini) tinham uma relação estreita com a literatura. A irmã de Júlio editou um livro póstumo, A Vida Sexual do Selvagem, onde reúne cartas, poemas, artigos de jornal. Gerbase lançou um livro de contos (Comigo Não, Ed. L&PM) no início dos anos 80 e em 95 Volpato lança seu livro Ronda Noturna, também de contos.

 

Nas gerações passadas, alguns escritores passaram da palavra escrita à cantada: Vinícius de Moraes, Jorge Mautner e nos anos 80, Arnaldo Antunes. Entre 1982 e 1985 surgiram em Belo Horizonte três conjuntos que também estabeleceram esta ligação: O Último número, a Divergência Socialista e o Sexo Explícito. Escolhi para encerrar este trabalho alguns trechos de suas músicas:

Carmen Miranda em Auschwitz

En las touradas de Madrid

Campo minado de Kamikazes

Sabores, camisas de força

Você resolve me telefonar

Me procurar depois da noite

Em Sodoma, em qualquer sabbah

(Voodoo Chile Número 56, Divergência Socialista)

“Há tantas coisas feitas

Para serem abandonadas

Edifícios na cidade,

Filhos, altas velocidades

(...)

Os amores e as estátuas

Que enfeitavam as estradas”

(Museu do Mundo, O Último Número)

E a canção Cuidado com Nixon, do Sexo Explícito, de onde saiu John, atual guitarrista do Pato Fu, que já está fazendo sucesso com seu segundo disco:

“Segurar o que ainda tinha que poderia ir

Me deixou esperando encomenda de lixo

Unam-se os três em um e entrem na corrente do meu sangue

Tem gente presa dentro dos livros

E os rascunhos estão em luta contra Nixon

(...) Cuidado! Nixon vive!”

Finalizando, quero citar trechos da entrevista de Maurício Kubrusly à revista Mosaico em Abril de 89, onde ele delineia aspectos da música brasileira nos anos 80:

(...) Não me lembro de nenhuma outra época que tenha havido uma diversidade tão grande como nós temos hoje. A gente teve depois de 85, ou seja, do Rock In Rio, um crescimento muito grande do Rock no Brasil mas ele já entrou em declínio.(...)Talvez isso seja feito de uma maior amplitude dos meios de comunicação. Porque se você pegar as rádios e TVs que fazem o veio principal, uma rádio FM de sucessos do eixo Rio-São Paulo é imitada pelo Brasil inteiro. Elas tocam 50 a 70 faixas por 24 horas. O índice de repetição é muito grande, e normalmente são músicas de baixa qualidade, descartáveis, são sucessos importados. O que é um sucesso nos EUA eles importam e repetem tantas vezes, é um circuito muito viciado onde existe o jabá, corrupção, etc.(...) Eu acho que compete a nós todos que gostamos de uma produção artística no Brasil ficarmos atentos. A tentação de uniformizarmos é muito grande. O compositor que mora em Belém do Pará é tentado a fazer uma música que entre na trilha da novela. Para ele seria maravilhoso entrar num disco da Som Livre. Ele ganharia uma puta grana e tocaria no Brasil inteiro, se tornaria sucesso. Ele não percebe que esse lance é descartável. Onde foi parar o Ednardo do Pavão Misterioso? Ele foi a abertura da Saramandaia, o Brasil inteiro cantou o Pavão Misterioso, e acabou. Não que ele tenha feito sua carreira apenas para entrar nessa novela. Mas os discos de trilha de novela são o supra-sumo da diluição, da uniformidade, da massificação. Depois que o fenômeno Rock se instalou no Brasil, as trilhas sonoras de novelas têm a maioria das faixas com músicas de Rock. Era uma coisa inteiramente inconcebível em 85. Os grupos de rock começaram a existir a partir do trabalho da Fluminense FM no Rio, e em São Paulo do trabalho do Guia Paulistano, da Bandeirantes, da Excelsior -- aquela rádio na qual eu atuava.(...) Eu me lembro quando entrou na moda o conjunto The Smiths. Quantos Smiths nós tivemos no Brasil? Quando aqueles da linha deprê inglesa começaram a chegar aqui no Brasil, como tinha grupos brasileiros vestidos de preto, com olhar triste e tal.”

 

O recado fica dado. O que é importante é que haja a diversidade. E é bom lembrar que além dos mais vendidos, mais poderosos, muita coisa pode sobreviver e florescer sem mais nem menos; basta fazer como Oswald de Andrade e ver com olhos livres.

 

 

 

 

 

 

 

 

<b>Bibliografia: </b>

 

-Revista Bizz: de Junho de 89, de Fevereiro de 93, Novembro de 90, Novembro de 92.

-Somtrês, de Setembro de 88.

-Top Metal Band, letras traduzidas, história, fotos inéditas do U2.

-Enciclopédia do Rock, da Somtrês, de Roberto Mugiatti.

-Revista Veja: 16 de Setembro de 92, 12 de Agosto de 92.

-Istoé: 31 de Janeiro de 90, 3 de Janeiro de 90, 15 de Maio de 91.

-Hoje em Dia, 16 de Outubro de 91.

-Folha de São Paulo, 17 de Março de 92.

-Revista Hot!, número 1.

-Mosaico, Revista do DCE-UFMG, Abril/89"          25/11/2007

Da New Wave ao Grunge

 

150      Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior          A Nova Onda (Parte 1)            lucio@bdonline.com.br          "No fim dos anos 70, com o fim do domínio da discoteca e do punk, surgiu uma New Wave, a  Nova Onda que agitou a cena Pop. O rótulo abrange grupos como U2, Talking Heads, Culture Club e tudo o que se quiser colocar nesta lista, contanto que seja Postpunk Pop Avantguarde. Os grupos em geral renegam os rótulos, mesmo a denominação de New Wave.

 

Os new wavers são profundamente conscientes do quanto importa a imagem no rock e debatem e pensam profundamente sobre detalhes como o nome do grupo, sua roupa, sua maquiagem, sua ""filosofia"" e a de suas músicas, sua promoção através de videoclipes e rádios. Esta sensibilidade para o marketing se consolidou nos anos 70, com David Bowie, Marc Bolan, Kiss e os Rolling Stones, entre outros, usando dos mais variados truques para conseguir espaço na imprensa, nas rádios, e congêneres. Os New Wavers são seus descendentes notórios,com muita sensibilidade publicitária. Os conjuntos tendiam, no início dos 80, a reciclar o rockabilly, o topete, a brilhantina, como os Stray Cats. Havia uma notória tendência a retomar o rock and roll dos anos 50.

 

A New Wave americana tinha seu QG em Manhattan. Lá, invocavam influências que iam de Yoko Ono ao Velvet Underground. Surgiram também grupos regionais como os B-52s, da Georgia e os Cars, de Boston. Destacou-se o sexteto novaiorquino Blondie, tendo como destaque a sex- simbol Debbie Harry, compondo e interpretando. Na Inglaterra o rótulo New Wave também foi generosamente usado, mas para o “positive punk”, englobando aí conjuntos pouco expressivos. Ainda como parente da New Wave surgiu o rótulo New Romantic, uma tendência que marcou mais a glamourosa moda inglesa do que a música. Adam & the Ants, uma das bandas mais famosas desta vertente, desapareceu após 85, quando a New Wave ficou demodeé. Seu principal componente, “Adam Ant”, hoje ganha a vida como ator, sem a maquiagem pesada que usava nos tempos em que foi famoso.

 

Vamos falar agora do “punk chique”:Blondie. Das bandas que pintavam na toca noturna que viu nascer Talking Heads, Television, Patti Smith Group e outros, o Blondie foi a que mais se destacou, obtendo o sucesso rápido.Comandando os músicos vestidos de ternos refinados estava uma garota de curvas generosas, Deborah Harry. Foi um grupo pop por excelência, com todos os clichês do rock americano dos 50 e 60, inclusive as baladas...Debbie Harry era uma ex-coelhinha da playboy, e cantava desde o final dos anos 60, onde começou num grupo à base de violoes acústicos e flower power. Depois passou um tempo como garçonete do Max’s Kansas City, bar onde andavam Lou Reed, Iggy Pop, Lennon e Yoko e outras figuras, no início dos 70. Seu primeiro álbum, Blondie, não vendeu muito. A canção In the Flesh chamou a atenção da Chrysalis, um selo de gravação bem maior daquele onde a banda estava, o Private Stock. Passaram a ter distribuição mundial pela RCA e logo os compactos “Denis” e “I’m Touch by your Presence” emplacaram na Europa. O passo seguinte seria o álbum Parallel Lines, com o produtor inglês Mike Chapman. O Blondie conquistou os EUA com a canção dançante Heart of Glass. Seu arranjo é calcado nas embalagens eletronicas produzidas por Giorgio Moroder para Donna Summer. Aqui no Brasil, Heart of Glass entrou em trilha de novela , nosso “glorioso” substituto para o compacto. Continuaram este rumo nos álbuns Eat to the Beat, de 79 e o ambicioso Autoamerican, de 80. Debbie foi assunto nas colunas sociais em 1980, foi capa de revistas, tirou fotos ao lado de Truman Capote e Andy Warhol como uma Superstar, foi elogiada e paparicada. A partir deste auge, porém, o conjunto entrou em recesso, com os integrantes ou pulando fora ou mais ocupados com projetos individuais. Ao voltarem à ativa em 82, fracassaram com o disco the Hunter, cancelando a excursão inglesa devido à pouca venda de ingressos. Pouco depois a banda acabou após sete anos de existência. Ninguém do conjunto conseguiu reviver os bons tempos, nem Debbie. Em 94 ela amargou a venda de apenas 14.000 cópias de seu último álbum, venda que para o mercado americano é baixíssima. A moça acabou sendo mandada “ir passear” pela sua gravadora. Um triste fim. Agora, em 95, Debbie Harry ressuscita o Blondie. E explica que quem hoje está fazendo algo pelo Pop são as mulheres e os gays. Coroada de razão.

 

Outra banda dessa geração eram os Talking Heads. Foram, por volta de 85, o “quente”do momento. Eram um grupo excêntrico, que no início vestia roupas simples, despojadas, com um toque cool que encantava os modernos, os chiques, a crítica. Seguiram, sem premeditação, a frase de Frank Zappa:”A áfrica é o flower power dos 80.”Com suas guitarras incisivas e o canto de David Byrne, monocórdico, eles demoraram a gravar. Nos primeiros anos 70, David Byrne, escocês fixado desde os três anos nos EUA, estudava design em Rhode Island. Seu primeiro álbum, intitulado “77”, foi muito elogiado, mas não teve bom desempenho comercial. Foi gravado em meio à hostilidade entre Byrne e o produtor imposto pela gravadora, mas mesmo assim tinha ótimos momentos. Só fizeram sucesso após seu segundo disco, do qual saiu a balada “Take me to the River” que passou pela parada de compactos americana. No disco de 79, Fear of Music, as músicas vieram com os arranjos elaborados por Brian Eno e títulos como “Ar”, “Animais”, “Cidades”,”Drogas”. Os Heads mergulharam na epidemia afro-funk, com Remain In Light( 80), sendo que Byrne tramou com Eno o disco My Life in the Bush of Ghosts, lançado em 81. Este disco é hoje uma espécie de bíblia da World Music.

 

Em 82, o disco The Name of This Band is Talkig Heads pegará os rapazes se transformando em superbanda afro-funky. Este disco ao vivo registra a turnê mundial da banda, indo até o Japão. Depois disso, os quatro também se envolveram em projetos individuais. Tina e Chris fundaram o Tom Tom Club, usina de pop dançante que logo emplaca “Genius of Love” e “Wordy Rappinghood”como hits no mundo todo. Houve ainda discos como o do filme de Byrne, True Stories, e outros, como Mr Jones(87) e Naked(88) até a banda acabar, em 89. A partir daí o maior destaque entre os membros foi mesmo Byrne, que veio ao Brasil buscar inspiração e gravou o disco Rei Momo, iniciando sua fase solo, decididamente mais para a World Music. Redescobriu para o mercado exterior o músico Tomzé, marginalizado pelo showbusiness brasileiro, em seus passeios pela Bahia. Em 94 lançou um disco sombrio, introspectivo e muito pessoal, onde exorciza fantasmas pessoais, na linha de Magic and Loss, de Lou Reed.

 

Mas para muita gente o espírito New Waver encarnou mesmo foi em Athens, na pele dos cinco integrantes do B-52’s. Eles espremeram todos os filmes B de ficção científica e terror dos anos 50 e 60 e catástrofe dos anos 70, conservando somente a essência do mau gosto americano. O clima era criado pelo pop dançante dos anos 50 e os 60 pré-Beatles. O guarda-roupa era neo-retro, as perucas “bolo de noiva”, tudo em meio a danças destrambelhadas, moda do sintético-aberrante,o supra-sumo da então todo-poderosa New Wave. O primeiro LP,que trazia “Rock Lobster”, grande hit que impulsionou a venda do disco, que chegou a 500.000 cópias sem tocar nas rádios americanas. Após outros LPs bem sucedidos, Wild Planet(80), Mesopotamia(82),Whammy(83), eles vieram ao Rock and Rio, mas perderam Ricky Wilson, guitarrista e arranjador, para a Aids, em Outubro de 85. Abalados, eles lançaram o LP Bouncing Off The Satellites somente em 87. Fracasso total. Afinal, Ricky era irmão de Cindy(vocais) e cérebro musical dos B-52’s. Numa espetacular volta por cima, estouraram em 89 com Cosmic Thing , emplacando hits como “Love Shack” e “Roam”. Hoje prosseguem como trio, sem Cindy, e tocaram Meet the Flinststones no filme de Spielberg adaptado do antigo desenho animado dos anos 60. “Depois que Ricky se foi, passamos um período de lamentação. Não tínhamos certeza se queríamos ou não prosseguir sendo uma banda. Cindy não tinha certeza se deveria continuar sem Ricky. Foi um período muito difícil para ela. Para todos nós, porque perdemos uma pessoa que amávamos muitíssimo.” Assim Keith Stricland, baterista da banda, define a fase posterior à perda do amigo. Na nova fase Keith assumiu a responsabilidade sobre a guitarra, pois ele conhecia muito bem o estilo de Ricky. O clima de comuna hippie dá o tom nos B-52’s, onde ninguém toma drogas, bebe ou fuma, a homeopatia e a astrologia imperam, todos são vegetarianos, exceto Cindy. Mas é Cindy quem explica: “protestar tem que ser divertido, senão não vale a pena.” E finaliza: “nosso lema é: diversão, mas com um propósito.”

 

 

<b>As Novas Garotas do Rock</b>

 

Uma das características dos anos 80 foi a emergência de bandas de garotas, até então pouco presentes no rock. As mulheres estavam mais presentes como objetos de desejo, fãs ensandecidas, groupies. Com a nova consciência feminina surgiu toda uma nova safra de cantoras: Björk e os Sugarcubes, Chrissie Hynde, dos Pretenders, Cindy Wilson e Kate Pierson com os B-52’s e Nina Hagen, direto da Alemanha Oriental, fazendo um rock performático que devia muito a David Bowie fase Ziggy Stardust e Frank Zappa. Laurie Anderson veio de New York com todo um aparato multimídia e uma um humor ferino contra o American Way of Life. Siouxsie Sioux virou diva gótica, ela se destacou do movimento punk dirigindo-se para um lado mais sombrio, junto com sua banda, os Banshees. A saxofonista italiana Jo Squillo apresentava-se com os seios à mostra, e com isso conseguiu imediata notoriedade. Sobre seus dotes musicais...hã...é melhor esquecer o assunto. A final, ela própria já foi esquecida -- depois dela já fizeram coisas mais chocantes. Pobre Jo Squillo, ela agora me parece ingênua.

 

Entre estas estava uma garota de Michigan que parecia destinada a esgotar rapidamente seus quinze minutos de fama. Sua voz era limitadíssima, seus dotes como compositora e instrumentista inexistiam. Seu nome: Madonna Louise Ciccione.

 

 

<b>Madonna</b>

 

 

Seu primeiro hit sairia em 82, e chamava-se “Everybody”. Antes, ela tentara tocar bateria numa banda à la the Police, The Breakfast Club. Havia testado suas músicas em discotecas e via que o público aprovava. Seu cabelo pintado, suas poses à la Marilyn Monroe e seu visual “provocante” lhe garantiram espaço na mídia. Tinha sido dançarina e acompanhara o astro da discoteca Patrick Hernandez até Paris, quando ainda não era famosa. Sua família de origem ítalo-americana pouco apoio lhe dera, depois que se mudara para New York, nos fins dos anos 70. Trabalhara de garçonete, modelo para jovens artistas -- seu corpo musculoso era fácil de desenhar -- e morara num bairro pobre. Na sua primeira fase posava com lingeries sobre as roupas, pulseiras, crucifixos, colares e se dizia uma “material girl”. Mostrou-se uma diluidora por excelência, aproveitando tudo o que pudesse na cultura underground americana para pasteurizar e vender às massas americanas. Madonna precisa sempre de novos truques, para servir como kitsch e vender muito. Madonna, podemos concluir, é muito escândalo com uma trilha sonora para as rádios FM. Ela é uma esperta estrategista de marketing e por isso chegou onde está. Seu casamento com o ator Sean Penn serviu para encher colunas socias, suas brigas viraram notícia, sua separação, tudo foi um lance inteligente. E rendoso. Ela diluiu a dança Vogue, até então restrita à comunidade gay novaiorquina. Tentou carreira no cinema, apesar dos nulos recursos como atriz. Mas conseguiu chamar atenção ao fazer papéis como o de missionária virgem em Surpresas em Xangai e “roqueira maluquinha” em Procura-se Susan Desesperadamente. Só consegue fazer papel dela mesma, mas ainda assim criticou os roteiristas destes filmes. Trocando de visual como trocava de roupa, tentou ser chique em Dick Tracy, de Warren Beatty, seu namorado na época. De 88 até 94, seguiu ao sabor das modas, dançando e beijando um santo negro no clip de Like a Prayer -- que foi apresentado até no programa eleitoral de um obscuro “Partido Humanista”, aqui no Brasil, sem que ninguém desse a mínima para este fato absurdo. O clip também valeu protestos do Vaticano que devem ter deixado Madonna exultante. Em tempos de AIDS, Madonna fez da pornografia multimídia um rico filão, explorado por ela em Na Cama com Madonna, seu filme mais narcisista. No caríssimo livro onde expõe suas fantasias sexuais, Sex, Madonna vulgarizou o sadomasoquismo. Em Corpo em Evidência ela até deitava sobre cacos de vidro com o ator Willem Dafoe. Madonna ampliou suas riquezas, e hoje é uma empresa altamente lucrativa, o conglomerado Madonna S.A. Ela já rendeu nada menos do que 1,35 bilhões de dólares à Warner.

 

Já em plenos anos 90, Madonna, loira aeróbica e saudável, “a cara dos anos 80”, está decaindo progressivamente de popularidade. E já está mudando outra vez, tentando manter o status de símbolo sexual. Após vulgaridades e baixarias incontáveis, ela diz que quer ter um filho. Participou do filme “Olhos de Serpente”, do polêmico Abel Ferrara, tentando fazer “arte”também no cinema, largando os antigos filmes “comerciais”. Seu novo disco, Bedtime Stories(94), tenta ligar Madonna ao acid jazz, com composições cheias de instrumentos acústicos e bases dançantes, tudo baseado em clássicos do jazz que a loirosa dilui, repetindo antigos processos. Em suma, Madonna não nos deixa solução, quem não a ama, a odeia. Virou até objeto de estudos “acadêmicos”, como o livro “Personas Sexuais”, de Camille Paglia. Criou-se a Madonna apocalíptica, baudrillardiana, mas há também a lacaniana e a freudiana; enfim, parece que o que estes eruditos americanos queriam é pegar carona no espetáculo da cultura de massa, recheando a conta bancária, como afirmou um crítico mais impiedoso (Robert Hughes, em seu livro A Cultura da Reclamação).

 

 

<b>The Smiths</b>

 

 

Junto com o The Cure, formam as duas maiores bandas dos anos 80. A banda foi formada em Manchester, por Morrissey, um ex-bibliotecário, e Johnny Marr. Morrissey escrevia poemas, era fã de New York Dolls, Roxy Music, David Bowie, T. Rex. Era apologista de uma tradição britânica que ia de Petula Clark à Copa de 66(a última vencida pelos ingleses, que aliás deram a este esporte sua feição atual). Morrissey encontrou em Marr o parceiro ideal, que traduzia em música as imagens melancólicas de seus poemas. E Johnny encontrou um novo alento para sua banda, que do contrário seria inexpressiva por falta de boas letras. Manchester era uma cidade do norte industrial e decadente. O clima lá, para os jovens de 1983, era de tédio. O amargor daqueles jovens dos subúrbios industriais e conjuntos habitacionais se condensou na música da banda. Seu título “Os Silvas”, era dedicado àqueles desconhecidos, aquela massa para a qual os Smiths foram um espelho sincero.

Em seus anos de existência, de 83 a 87, lançaram apenas quatro discos, reunindo os singles na coletânea Hatfull of Hollow e uma apresentação ao vivo (o disco Rank). Fizeram belos videoclipes, chegando a trabalhar com o diretor de vanguarda Derek Jarman, morto de AIDS neste ano de 1994. Os rapazes chegaram a ser chamados de “Beatles dos anos 80”. A crítica, em especial a inglesa, os elogiou muito, e uma legião de fãs doentios se formou.

 

Morrissey se destacava pelas suas qualidades como vocalista-poeta, que o colocam ao lado de Ian Curtis e Jim Morrison. Era leitor de Oscar Wilde,citando-o em uma letra(Cemetry Gates, do álbum the Queen is Dead,1986), do seguinte modo : “Keats e Yeats estão do seu lado/Mas você perde/porque Wilde está ao meu”. Joana D’arc também é citada no mesmo disco, em “Bigmouth Strikes Again”:

 

“E agora eu sei como Joana D’arc se sentiu, /quando as chamas roçaram seu nariz romano/ E seu walkman começou a derreter.”Em “Panic”, Morrissey pede que enforquem o DJ, porque “ a música que ele toca constantemente não me fala ao coração”. Em “There’s a Light that Never Goes Out”, uma de suas canções mais tocadas, Morrissey canta:

 

“Passeando no seu carro/Eu nunca, nunca penso em ir para casa/ Porque não tenho uma casa/ Me leve para sair hoje/ porque eu quero ver pessoas e quero ver luzes./Passeando no seu carro, por favor não me leve para casa/porque não se trata da minha casa/ é a deles e lá não sou bem-vindo nunca mais”.

 

Quando surgiram em 1983, os Smiths foram apontados pela crítica especializada como o grande futuro do rock inglês. E do rock mundial. Em 1987, após apenas quatro anos de pleno sucesso, a banda anunciou o seu fim.

 

Johnny Marr, antes de formar os Smiths, trabalhava numa loja de discos em Manchester. Nas horas vagas tocava guitarra com seus amigos Andy Rourke(baixo)e Mike Joyce( bateria) e compunha belas melodias, inspirando-se no farto material de raridades da discoteca de seu chefe. Música bela-vocais e letras capengas. Faltava um precioso ingrediente para que a fórmula funcionasse. A figura se chamava Stephen Morrissey, rapaz que passara boa parte de sua adolescência vendo filmes/fotos de James Dean e livros de Oscar Wilde. E além disso era fanático pelo grupo de glitter-rock americano New York Dolls. Tal currículo demonstra a paixão de Morrissey pelo diferente, marginal. Sem a banda, estaria condenado a recitar poemas para uns gatos pingados.

 

Logo, o quarteto foi descoberto por um tal de Geoff Travis, que era responsável por um selo independente, o Rough Trade, fundado em 1976 e po um tempo não passou de uma lojinha na área oeste de Londres, na época uma sociedade entre Travis e o norte-americano Ken Davidson. Produzindo e vendendo fanzines, a Rough Trade acabou se tornando um endereço quente para que bandas desconhecidas e ditas “alternativas” mandassem suas demo tapes. Quando Travis abraçou o movimento punk, nos idos lde 77, Davidson resolveu abandonar o barco e rompeu a sociedade. Mau negócio, pois naquele verão a loja receberia os integrantes de um grupo chamado Metal Urbaine-algo como um Sex Pistols francês-Travis gostou tanto do som que produziu o primeiro vinil do grupo-e da sua própria gravadora-e, aproveitando a empreitada,Geoff Travis fundou a distribuidora Rough Trade, driblando o problema de distribuição que assolava os selos independentes. O fato coincidiu com a fundação do The Cartel, uma organização de distribuidores independentes que reforçou a atuação indie na Inglaterra. O selo Rough Trade entrou na década de 80 lançando diversas e importantes bandas como Cabaret Voltaire, The Fall e Aztec Camera, reforçando sua importância no mercado e provando que independente não queria dizer baixa qualidade. Sem dúvida, a “aquisição” dos Smiths comprovou a força do circuito independente.

 

Assim, em 83, após a febre disco e a anarquia punk surgiu o single “This Charming Man”, uma bela canção apoiada no esquema guitarra-baixo-bateria, de melodia instigante e letra sensível. Depois vieram os singles “Hand in Glove”e “What Diference Does It Make?”, dois outros embrulhos sonoros de qualidade superior.O semanário inglês New Musical Express rasgava infinitas sedas e atirava toneladas de confete na novidade vinda de Manchester. Clubes noturnos adotavam o som do grupo e público reagia com adoração. Em fevereiro de 1984, saía o álbum mais aguardado do ano, The Smiths. Na capa, Joe Dalessandro, ícone homo-másculo de Andy Warhol. No vinil brilhavam outras pérolas, como “Still Ill” e “Reel Around The Fountain”.O LP entrou em segundo lugar nas paradas locais e a banda acabou sendo consagrada como a mais popular naquele ano na Inglaterra.

 

Antes de acabar 1984, a Rough Trade lançou, em Novembro, o álbum Hatfull of Hollow, que reunia singles e outtakes, como as Peel Sessions da rádio BBC. O LP trazia 16 músicas e foi um enorme sucesso de vendas e críticas. Hatfull foi também a estréia da banda no Brasil-apesar de lançado aqui apenas em 1985. Além da qualidade musical, os discos dos Smiths se destacavam pela excelente acabamento da produção gráfica, onde brilhavam encartes com as letras e capas de muito bom gosto. Já seus shows nunca foram grandiloqüente de bandas como U2 e Simple Minds, mas quem viu garante, era diversão genuína. Nos shows Morrissey usava ramalhetes de flores nos bolsos das calças e camisões estampados que cascateavam pelo seu esquálido corpo terminando por mostrar seu ombro nu, pálido e ossudo. Em plena época de ascensão da MTV,os Smiths se recusavam a fazer clips-Morrissey estava traumatizado pela péssima montagem que a Warner fizera para divulgar a música “How Soon Is Now” nos EUA.

Muito do mito em torno dos Smiths era devido à Morrissey. Ela sabia se cercar com uma aura de mistério e dor que atingia em cheio os anseios da juventude dos anos 80. A maioria das músicas descrevia não só o tormento de ser diferente como desventuras do homossexualismo masculino. E às vezes as mensagens eram explícitas, como a apologia da pedofilia gay em “Reel Around The Fountain”, e “How Soon Is Now” clama o direito de viver sua preferência e chora a angústia da espera do amor que todos necessitam; Still Ill fala diretamente de quando a mente não consegue controlar as vontades do corpo;e “William It Was Really Nothing” execra um tal de William que trocou o cantor por uma “garota gorda e que só pensa em casar”. Em Fevereiro de 1985 chegava ao mercado o LP Meat is Murder, que entre mil deprês trazia o libelo vegetariano “carne é assassinato”. Este álbum também teve uma grande aceitação pública. Mas muito da arte desta banda estava nos singles, dos quais muitos nunca saíram em álbuns, mas que tinham capas e acabamento comparáveis aos álbuns. Até aqui no Brasil, onde o mercado de compactos foi sepultado, entrou na onda e lançou dois clássicos do grupo( The Boy With The Thorn in his Side e Panic).

 

“The Boy With a Thorn in his Side” acabou se tornando uma das músicas mais famosas da banda. Mais uma vez, um quase hino gay tornava-se coqueluche entre jovens de várias tribos. Morrissey finalmente cedeu à tentação e surgiu o primeiro clip dos Smiths, simples, com Morrissey sassaricando choroso entre microfones e velas. Virou um must da época. Em Junho de 1986, o grupo lança o magistral The Queen is Dead, onde claras posiçoes políticas já reveladas em outros trabalhos e frases àcidas em entrevistas se manifestaram já no dúbio título “A Rainha Está Morta”tanto podia se referir à soberana da Grã-Bretanha, que Morrissey despreza ad nauseam-quanto à então conservadora primeira-ministra Margareth Thatcher que Morrissey odeia com fervor. As outras canções cutucam a igreja (“Vicar In a Tutu”), o mundo feminino(“Some Girls are Bigger than Others”), a loquacidade ferina do próprio Morrissey ( “Bigmouth Strikes Again”) e a já falada vontade de fugir e morrer(“There’s a light That Never Goes Out”) e “I Know It’s Over” fala da solidão extrema , do mundo que parece estar desabando nas nossas cabeças e de quando nos sentimos sem ninguém e pior, que não tivemos ninguém nunca.

 

Em fevereiro de 87, três anos após o lançamento do primeiro LP, a Rough Trade lançou a coletânea The World Won’t Listen, que trazia novamente 16 músicas, compreendendo singles e lados B. Excelente seleção, o LP trazia pérolas como “Panic”e “Asleep”, “Half a Person”e “London”.

 

Nos EUA, a mesma coletânea foi lançada em LP duplo, com o nome de Louder Than Bombs e, obviamente, com mais músicas. No Brasil foram lançados ambos. Strangeways Here We Come é um bom disco, mas a banda inicia uma tentativa de trilhar novos caminhos, mudando um pouco o estilo, mas as pressoes da indústria fonográfica já os deixaram exaustos. Havia canções maravilhosas, como “A Rush And a Push”, “Girlfriend in a Coma”, “Death of a Disco Dancer”, mas Marr implorava por férias e queria se distrair, viajando para os EUA e dedicando-se a alguns projetos particulares de tocar com outras pessoas. Morrissey não aceitava a reinvindicação do companheiro e forçou a barra antes e durante as gravaçoes de Strangeways. Andy e Mike assistiram impotentes. Marr então viajou para Los Angeles para o tão esperado descanso. E na New Musical Express, um mês antes do lançamento de Strangeways, saiu uma chamada de capa que se baseava em boatos e fofocas-e que acabou derrubando de vez o frágil equilíbrio que ainda mantinha reunida a banda. Morrissey se ofendeu com a matéria na revista e não procurou nem Marr nem os demais membros da banda para esclarecer a situação. Na semana seguinte, o NME publicava uma entrevista com Marr dizendo por que ele havia saído dos Smiths. O que era apenas um mal-entendido virando realidade, por intervenção da imprensa musical interessada em causar impacto e vender bem. Hoje em dia Morrissey admite que foi orgulho besta, mas já é tarde demais. O último trabalho de Marr foi o duo Eletronic, com Bernard Summers, do New Order. Ficou mais para New Order do que para Smiths, como comentou depois o próprio Bernard.

 

A Rough Trade lançou Strangeways em setembro de 87, já em clima de funeral. Em 88, voltou à carga para aproveitar o culto ao grupo e lançou Rank, o único registro oficial do conjunto. Mike Joyce e Andy Rourke ainda fizeram parte da banda Adult Nest. Joyce hoje toca bateria nos Buzzcocks e Rourke caiu no ostracismo. Em Viva Hate(88), Morrissey lançou um LP muito aguardado e muito criticado, mas que tem momentos inspirados. Morrissey continua excelente letrista,mas ressente-se da falta de Marr. Bonna Drag (90), provoca má impressão, mas ainda é inspirado se comparado ao autoindulgente KillUncle(91). Para compensar Morrissey fez Your Arsenal com Mick Ronson, ex-guitarrista da Spiders From Mars de Bowie e que fez neste disco um de seus últimos trabalhos, morrendo em 93. Azar de Morrissey, pois “Ronno” se mostrou o parceiro ideal para ele, injetando energia no entediado Morrissey, que neste disco flerta com o rockabilly, estilo do qual já vinha se aproximando. Fala do ciúme em “We Hate Our Friends When They Became Sucessfull” e dá um tom ultranacionalista às suas letras, sendo acusado até de simpatizar com os skinheads, os brutais caretas -- que dificilmente aceitariam Morrissey em suas fileiras sexistas e racistas. Neste mesmo disco há “I Know It’s Gonna Happen Someday”, onde Morrissey canta à la crooner de cabaret, feito Bowie em Station to Station. E em Beethoven Was Deaf , um registro ao vivo de Morrissey solo, ele prova que está recuperado e que vai continuar com sua verve aguçada anos 90 afora.

Alguns exemplos das frases venenosas ou pungentes do “Sr. Angústia”: “Eu acho que a dance music destruiu tudo. Eu desprezo o advento do remix de 12 polegadas, do multi-mix, do dance-mix, do etcetera-mix. Tudo isso é apenas outro prego no caixão do pop”e “Madonna representa tudo que há de mais absurdo e ofensivo. Ela está mais perto da prostituição organizada do que qualquer outra coisa.”, “A princesa Diana nunca balbuciou na vida algo que tenha sido útil para qualquer membro da raça humana”e esta última pérola: “Já pensei em me suicidar pelo menos 183 vezes. Eu realmente respeito o suicídio porque ele é uma forma de ter controle sobre sua própria vida. E o ato mais forte que uma pessoa pode realizar.”

 

Em 94 Morrissey lançou o disco Vauxhall and I, produzido por Steve Lillywhite. E mostrou que  está segurando a barra e lançando bons discos, apesar dos infortúnios.

 

 

U2-

 

 

A idéia de formar um grupo de rock partiu do baterista Larry, quando aos 16 anos colocou um anúncio no mural da escola Mount Temple-a primeira escola “progressista liberal”da Irlanda-procurando músicos. Definidos os membros, percebeu-se que o baixista Adam Clayton era o único que tinha participado de outra banda (The Max Quad), de onde fora expulso por indisciplina. Larry tocava bateria e Dave Evans já sabia guitarra. Só não estava definido o que o jovem Paul Hewson faria na banda. Ele afirmara que sabia tocar guitarra, mas não ia além de alguns acordes. Foi colocado para cantar-e os colegas lhe apelidaram de Bono Vox(boa voz, em latim).

No cenário da época(1978), em que eles começavam ali em Dublin, Irlanda, o movimento punk fazia furor. O U2 resolveu assimilar um pouco do punk, mas recorrendo às melodias dos 50/60, especialmente o também irlandês Van Morrisson. Começaram a tocar na zona norte de Dublin, em alguns clubes. Logo surgiu Paul Guiness, empresário artístico que os avisou para não se exporem em público sem ter desenvolvido a própria música. Os rapazes levaram a sério e só em 79 voltaram a fazer shows, agora no centro de Dublin. O Hot Press, jornal musical local, passou a publicar matérias falando da banda. No mesmo ano a banda ganhou um concurso de música e gravar o míni-LP U23, lançado apenas na Irlanda.

 

Mas devido à pouca divulgação, a banda passou para a Island Records, com o apoio de Paul McGuiness. A gravadora já tinha Bob Marley, Grace Jones e Steve Winwood. A gravadora oferecia uma relação bem próxima com seus artistas e na época era bem pequena. “11 O’Clock Tick Tock”foi o primeiro single do U2 lançado pela Island. A canção não deixava definido o som do grupo e após uma pequena turnê pela Inglaterra, no outono de 1980 eles se trancaram no estúdio com o produtor Steve Lillywhite para finalmente gravarem seu primeiro àlbum.

 

Surgiu então o disco Boy. Lillywhite bolou sons incomuns e ruídos para incrementar o som do grupo e dar uma sensação de mistério, distância e profundidade. Isso funcionou em músicas como “I Will Follow”,”The Eletric Co.”e “Into The Heart”. A crítica aprovou e eles formaram logo fãs fiéis.

 

A partir do sucesso na Inglaterra, o U2 conquistou os americanos com suas performances “dramáticas”. Em Londres, depois de tocarem no Hammersmith Palais foram cumprimentados no camarim por Bruce Springsteen.

 

No verão de 1981, voltaram à Dublin para um segundo álbum, ainda com Lillywhite. Mas antes de começarem a gravar, o livro onde Bono escrevia as letras foi roubado e ele teve que começar tudo de novo enquanto eles tocavam no estúdio. Desorientados com o sucesso e com as turnês, eles cometeram um àlbum fraco, que assim mesmo conseguiu boa posição nas paradas e foi arrasado pela crítica. As vendas foram menores que a do anterior, mas “Gloria”, um rock que saía bem ao vivo e tinha “inclinação religiosa”, contribuiu para o ainda exíguo repertório do U2.

 

Mas o conjunto se esforçou em manter a fama em turnês na Inglaterra, EUA e na própria Dublin, onde reuniam 5.000 pessoas num concerto e ganhavam prêmios aos montes do jornal Hot Press em 1982.

 

Com Lillywhite ajudando-os, voltaram para o estúdio e em Março de 83 lançaram War, que entrou logo na semana de lançamento na parada de sucessos. As letras panfletárias garantiram a notoriedade da banda. Causas como a do sindicato polonês Solidariedade foram abraçadas. “New Years Day” se inspirava em Lech Walesa. “Sunday Bloody Sunday”-não confundir com a música de mesmo nome de John Lennon, embora ambas tenham o mesmo nome e o mesmo tema-era baseada num massacre de civis ocorrido na Irlanda do Norte em 72. Dizia:

“Garrafas quebradas sob os pés das crianças/Corpos espalhados numa rua sem saída/Mas eu não vou atender ao chamado da batalha/Ele me coloca, ele me coloca na parede”.

 

A reação da crítica foi mista. Muitos execraram aquele panfletarismo pop, mas houve quem elogiasse e mitificasse a banda. Chegou-se a de chamar “Sunday Bloody Sunday”de “hino de uma geração”. Eles então ascenderam para um disco de ouro nos EUA, com shows em grandes estádios, tocando para 10.000 pessoas por show. Em Agosto de 83, o U2 se juntou a Eurythmics, Simple Minds e Big Country para um show em Dublin, com público de 25.000 pessoas. Depois disso lançaram Under a Blood Red Sky, o primeiro registro ao vivo das performances do grupo em disco.

Mas depois disso a banda entrou em recesso por quase dois anos. Em 84 os rapazes romperam com Lillywhite. Passaram a trabalhar com Daniel Lanois(produtor canadense com grande know-how de técnicas e engenharia de gravação) e Brian Eno-saído do Roxy-Music e que já havia produzido David Bowie em sua trilogia berlinense. O disco de 84 tinha seu título tirado de uma exposição de quadros de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, The Unforgettable Fire, “o Fogo Inesquecível”tinha os “climas etéreos” dos primeiros dois Lps mais o panfletarismo pop, como em “Pride”, uma homenagem a Martin Luther King, que dizia:

 

“De manhã cedo, 4 de Abril/Um tiro no céu de Memphis/Finalmente livre, eles tiraram sua vida/Mas não conseguiram tirar seu orgulho.”  E “MLK”era outra homenagem ao líder negro americano. Aliás, neste disco o U2 fala sobre Elvis e a América, em “Elvis Presley and America”e “4th of July”.O àlbum entrou nas paradas logo de cara e aumentou as vendagens do grupo.

 

Em Março de 1985 até a Rolling Stone publicou uma foto da banda na capa e os elegeu a maior banda de rock dos anos 80. Naquele ano eles tocaram no Live Aid, promovido por Bob Geldof -que vive Pink no filme The Wall-para socorrer os famintos da Etiópia. E neste concerto Bono dançou abraçado com uma fã que tirou da platéia durante o show, que foi visto por um bilhão de pessoas pela TV, e que garantiu a popularidade do grupo mundo afora.

 

O U2 passou então a uma espécie de paladino pop dos fracos e oprimidos, participando de shows como “Sun City:Artistas Contra o Apartheid” e shows a favor da anistia internacional. Ficaram sem gravar mais três anos. Voltaram então com The Joshua Tree, ainda no estilo rock-militante que os alçara à condição de superbanda. O nome do conjunto se referia ao tipo de cacto que ilustra ao fundo uma das fotos do álbum. Em Abril eles saem na capa da Time, e antes deles só Beatles e The Who haviam ilustrado a capa da revista. “With or Without You” era uma balada que começava assim:  “Vejo a pedra nos seus olhos/Vejo o tormento no seu rosto/Espero por você/Num passe de mágica muda-se o destino/Numa cama do pregos ela me faz esperar/E eu espero...sem você”.

 

A política aparece em “Mothers of The Disappeared”, que fala das madres e abuelitas na plaza de Mayo, que perderam seus filhos na ditadura argentina, “Bullet Blue Sky” fala sobre a América Central e “Running to Stand Still”fala da vida de uma viciada em heroína e “In God’s Country”Bono cantava as delícias da América, este “País Divino”, onde “o sono vem como uma droga”. Mas “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” foi outra música elevada a “hino de uma geração” e dizia, com fervor pop quase religioso:

 

“Acredito na chegada do Reino/Daí todas as cores sangrarão numa só/Mas, sim, ainda estou correndo/Você soltou as algemas/ Soltou as correntes/ Você carregou a cruz da minha vergonha.” The Joshua Tree vendeu 14 milhões de cópias no mundo todo. No dia 2 de Março de 88, o U2 ganhou dois grammys (maior prêmio de música norte-americana ), como melhor grupo de rock e melhor àlbum de 1987, batendo até mesmo o novo disco de Michael Jackson, Bad, que era o favorito da noite. A turnê do disco passou por 15 países, durou 264 dias e foi assistida por três milhoes de pessoas.

Depois desta turnê eles lançaram o filme dirigido por Phil Joanou, o documentário “U2-Rattle and Hum”,que tinha cenas dos shows da turnê americana e momentos do grupo na estrada. Este é um dos mais pretensiosos fimes de rock, pois não tem sequer uma história, como por exemplo “Help”, dos Beatles e o clássico”200 Motels”, de Frank Zappa. O àlbum que era a trilha sonora do filme também veio e vendeu bem, e, apesar de ter duetos com Bob Dylan e B. B. King teve de ser preenchido com covers de “All Along The Watchtower” e “Helter Skelter” às quais o U2 só acrescentou seus trejeitos, sendo bem inferiores às originais. Aliás o U2 tem essa sina de só tocar clássicos como “Paint It Black” e “Are You Lonesome Tonight” em versões bem mais fracas do que suas gravações originais, com Rolling Stones e Elvis Presley no caso das duas últimas citadas.

 

No final de 91, com o àlbum Achtung Baby, a banda voltou a ter Brian Eno, Daniel Lanois e de quebra, Steve Lillywhite. E eles abandonaram o messianismo e os temas americanos para ir gravar em Berlim e aproveitar para colocar um embalo mais dançante em faixas como “Zoo Station”e “Mysterious Ways”. As letras se concentram no assunto amor, mas mais elaboradas, como em “So Cruel”e “Who’s Gonna Ride Your Wild Hourses”.Mas a música mais interessante do àlbum é “Until The End of The World”, que sinaliza o que viria no àlbum de 1994, Zooropa, e foi feita para o filme de Win Wenders, Até o Fim Do Mundo.

 

Zooropa saiu em 94 com um forte aparato de marketing , e é um àlbum cheio de ruídos bizarros e, segundo Bono, inspirado em livros como Neuromancer, de William Gibson, inovador da ficção científica nos 80 e William Burroughs, de Junkie e Almoço Nu -- e que tem pelo menos uma faixa inspirada nas escatologias/bebedeiras do escritor Charles Bukowski, “Dirty Day”. Tem atrativos, como a canção que Bono compôs para o veterano Johnny Cash e que é a melhor faixa do àlbum. Este disco teve menor aproveitamento nas rádios do que o anterior, que produziu vários hits. Uma das mais tocadas é “Lemon ”. A partir deste disco o U2 difere radicalmente dos discos dos anos 80. E Bono posou em fotos travestido, entre outras surpresas para os fãs antigos. O U2 parece hoje acreditar que o que está mudando o mundo é a tecnologia, computadores, TV a cabo, etc. E investe nisso. Veremos no que vai dar."          25/11/2007