Revista Cidade Sol
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quarta-feira, 16 de julho de 2025
O Náufrago do Socialismo
O livro Náufrago da Utopia (editora Geração Editorial), publicado em 2005 pelo ex-integrante da Vanguarda Popular Revolucionária de Lamarca, Celso Lungaretti não tem um título muito bom, pois ele não é um náufrago do socialismo utópico, não é “utopia” e sim ciência, mas do socialismo cientifico. Os pontos mais interessantes do livro estão na parte especificamente da militância revolucionária do autor, bem como suas considerações sobre teoria e prática. Se sua reconstrução como jornalista dos monopólios é pouco interessante, sem dúvida nesse livro ele provou um ponto, uma obsessão: a área da guerrilha rural teria sido entregue para ele, enquanto ele entregou aos militares, sob tortura, apenas uma área desativada, mas que, por azar, tinha voltado a ser utilizada por Lamarca. Por mais que Celso tenha fraquejado ao passar informações e aceitar o arrependimento público, de forma alguma creio que é justificável a atitude de Lamarca de dar entrevista para a imprensa estrangeira condenando a ele e a Massafumi. Trata-se de uma grotesca confusão entre frustrações pessoais e os interesses do grupo revolucionário. O fato é que há lições históricas a tirar dessa situação. Justiça seja feita, Lungaretti acertou ao prever nos anos 90 que Lula no poder desembocaria em um golpe militar (ainda que frustrado, por hora). Lungaretti tem o mérito de ter continuado na esquerda, o que não aconteceu com muitos de seus contemporâneos, como, por exemplo, o economista burguês Pérsio Arida.
Depois da fase revolucionária, a voltagem do livro baixa e Celso passou a trabalhar em antros como O Estado de São Paulo, foi chamado de “traidor da revolução” em partidos oportunistas e eleitoreiros, esteve em agências de publicidade vendendo porcarias, perdeu-se nas drogas em comunidades alternativas onde delirava com conspirações contra ele por parte de um “Stálin” imaginário, entre outras trapalhadas e desastres. Altamente desastroso é Lungaretti, além de defender sua inocência, defender a de Trotsky (conforme pesquisas do professor Grover Furr, comprovadamente um traidor). Em outros textos, ele vai além, elogiando um Hermínio Sachetta, figura suspeita e elogiada até por Boris Casoy (que na revista O Cruzeiro saiu como um integrante do Comando de Caça aos Comunistas, mau jornalismo, segundo Casoy, que processo Lungaretti por bafejar essa matéria ainda hoje). A parte mais valiosa e atual, que são as discussões numa organização revolucionária, é importante porque apresenta dilemas que até hoje não enfrentamos e resolvemos.
Em determinado momento, Lungaretti queixa-se de que Lamarca “não sabia o beabá do marxismo”. Mas será que Lungaretti não falha nesse mesmo ponto, exatamente? Leia-se o seguinte:
Se percebesse onde desemboca o conceito de ditadura do proletariado, decerto ficaria conflitado. Mas, acredita que a posição marxista seja exatamente a defendida por Lênin no mais libertário dos seus textos, sem imaginar que a prática do mestre tenha sido bem diferente nos primeiros anos da URSS (LUNGARETTI, 2008, p. 67).
Lungaretti, como Gabeira, parece o tempo todo investir na ideia de ter tido uma “visão” de que a luta armada estava perdida, o marxismo ortodoxo era apenas a saída disponível, etc. Mas onde desemboca esse conceito de ditadura do proletariado? Lungaretti parece pensar que camarilhas como a de Castro, Kruschev e Brejnev são na verdade produto do conceito de ditadura do proletariado. Aí existe a ideia de que: 1) Lênin seria contra a ditadura do proletariado em O Estado e a Revolução e que esse texto seria passível de uma leitura anarquista, propondo o fim do estado após a revolução; 2) a prática de Lênin nos primeiros anos da URSS (1917-24) seria diferente de sua teoria (no mau sentido, no sentido de traí-la). Lungaretti elencou O Estado e a Revolução ao lado de Fantasma de Stálin de Sartre e A Rússia Depois de Stalin, de Isaac Deutscher, dois livros trotskistas e antileninistas, misturando alhos e bugalhos. Sartre tinha acabado de voltar da URSS, onde diz ter experimentado “total liberdade de expressão”, mas por oportunismo, dizendo que sua filosofia é situacional, escreveu um livro trotskista e rompeu com o PC francês. E a partir daí ele prosseguiu: “De Deutscher a Sartre vem a visão de como o Estado se desvirtuara na União Soviética, subjugando a classe operária em vez de libertá-la. Júlio percebe que a URSS antevista nesses livros é tão odiosa quanto o ogro norte-americano” (LUNGARETTI, 2008, p. 67).
O erro acima é situar em que momento histórico o estado tornou-se estado burguês; Lungaretti erra ao situar no período Stálin, pois foi a partir do revisionismo de 56 com Kruschev; só que justamente quando isso aconteceu o discurso antistalinista de Deutscher e Sartre chegou ao poder, ainda que não atribuído a eles; um discurso bastante semelhante. Lungaretti afirma que a VPR foi a primeira organização brasileira a considerar a União Soviética uma potência imperialista. No entanto, não avançou na compreensão de que Cuba era linha soviética também.
Lamarca adaptou o foquismo, mas não fez a crítica necessária da teoria cubana original. Os quadros permaneceram nas cidades, onde a repressão é sempre maior. Sem essa guerrilha, talvez não tivéssemos nem o efêmero milagre brasileiro. Sem resistência, o neoliberalismo veio nos anos 90 e enraizou-se no poder, estando até hoje.
Ele demonstrou saber que a vitória não advém de um grupo de guerrilheiros armados, salvadores da pátria, mas da convergência de todas as lutas, não da guerrilha rural em si, que ele pensava como algo móvel tal como o cangaço ou coluna Prestes. No entanto, surgem vários problemas, tais como qual seria a base de apoio dessa coluna, já que ele não pensa em “embasamento na região” –ele menosprezou, então, como no foquismo, as bases de apoio. Outros erros estão em pensar que o Brasil é país capitalista avançado e não existem relações feudais no campo. São erros fatais inspirados por um não- marxista chamado Gunder Frank e outros da nociva “teoria da dependência”, pois levaram a deixar os quadros nas cidades, não atacando o já doente semifeudalismo, a serem esmagados onde a repressão sempre era maior. Esse debate não deixou de ser atual, pois o país mais e mais se reprimarizou e está nas mãos de latifundiários, fazendo nascer reflexos macabros como o oito de janeiro. Outro momento rico é o debate entre militaristas e massistas, no qual ocorre o péssimo manejo da luta das duas linhas, resolvida com o racha. Lungaretti associou-se aos militaristas, os que desejam fazer a guerrilha rural e abandonar o trabalho de massas, trabalho esse bastante fraco e que poderia fazer cair todo o restante da organização. Não entregou comida de nenhum supermercado sequer, nem lutou ao lado dos que lutavam pela terra no campo. Seus gestos eram espetaculares, mas sem resultados efetivos para a continuidade da luta.
O debate das Teses do Jamil, de autoria do professor Ladislau Dowbor, levantou um ponto interessante: mesmo a luta por nacional-desenvolvimentismo no Brasil sempre será barrada e será colocada a questão do desenvolvimento no socialismo. Em suma, estado de bem-estar social brasileiro, seja inspirado em Vargas ou Saint-Simon, sempre será um fracasso e ficará numa encruzilhada: ou radicaliza para o socialismo ou retrocede aderindo a perspectiva de apenas gerenciar a situação colonial, negando sua natureza reformista em ambos os casos. Uma vez ao assumir como gerente semicolonial, o nacional-desenvolvimento será barrado; o período Vargas foi uma exceção histórica com data de vencimento.
O texto de Lungaretti valeu, então, por trazer à luz pontos ainda hoje não resolvidos no pensamento marxista brasileiro: a inviabilidade do nacional-desenvolvimentismo, que fatalmente evoluirá, diante das circunstâncias, para um socialismo ou abrirá mão de seu programa por inaplicável. Lungaretti confunde leninismo com trotskismo, sem saber que mesmo Sartre também mudou de uma posição simpática à URSS para uma próxima dos trotskistas; ele jamais chega a avaliar que trotskismo é errôneo e o faz descrer do marxismo e o levou a um anarquismo muito ultrapassado. A teorização equivocada de “Brasil feudal” e “capitalista completo” é equivocada, mas o debate que introduz, de militaristas (que queriam guerrilha rural) e massistas (queriam luta de massa nas cidades), trouxe uma questão chave, fora a necessidade de manejo da luta entre duas linhas. Igualmente importante é assinalar a desconfiança que Brizola deve sempre inspirar na esquerda revolucionária, nunca se iludindo que o trabalhismo possa ser vanguarda numa luta da esquerda revolucionária, nunca se deve acreditar neles tomando a dianteira. A formulação da guerrilha rural, ao ser abordada por Lungaretti, deixou totalmente de lado a questão do latifúndio e da condição semifeudal. O foquismo foi criticado de forma insuficiente: não se sabia que era a linha soviética mesmo assim que se estava seguindo, acreditou-se ingenuamente numa “linha cubana” — e estava-se também ligando-se a uma potência capitalista tão detestável quanto o imperialismo yankee. Os métodos de Lamarca eram ruins, como dar entrevistas expondo chagas internas da guerrilha, seu manejo da luta de duas linhas, insuficiente.
terça-feira, 15 de julho de 2025
A Campanha das Cem Flores: Educação e os Intelectuais na China entre 1951-57
A Campanha das Cem Flores: Educação e os Intelectuais na China entre 1951-57
Bruna Barbara Silva Basílio
Resumo
Esse artigo busca debater a educação e os intelectuais na China nos anos 50, período anterior ao Grande Salto Adiante. O artigo irá debater a relação controversa e entre o Partido Comunista Chinês e os intelectuais, em especial, em relação a escritores: Wu Xun, Yu Pingbo e Hu Feng, escritores que acabaram combatidos pelo partido e associados ao liberalismo. Esses escritores chineses foram combatidos por campanhas do partido. Wu Xun é hoje considerado o pioneiro da educação pública chinesa. Igualmente, iremos falar sobre como essa Campanha ficou ligada à chamada Campanha dos Cem Flores (conhecida na China como Campanha da Retificação), seguida pela Campanha Antidireitista. Especialmente interessante é a trajetória dos indivíduos criticados pelo partido, tais como Wu Xun. Ele é um dos símbolos do liberalismo chinês e por isso é um filme inspirado em sua vida foi o primeiro filme proibido na República Popular da China. Há todo um contexto envolvendo essa radicalização, como a participação da esposa de Mao e de Mao mesmo no processo. Wu foi pioneiro da educação pública chinesa e hoje teve sua reputação restaurada, após um período de banimento durante a revolução cultural chinesa. A ´partir daí, podemos entender como formou-se a moderna pedagogia chinesa.
Palavras-chave: China, educação, escritores, intelectuais, pedagogia
Summary
This article seeks to discuss education and intellectuals in China in the 1950s, the period before the Great Leap Forward. The article will discuss the controversial relationship between the Chinese Communist Party and intellectuals, especially in relation to writers: Wu Xun, Yu Pingbo and Hu Feng, writers who ended up being fought by the party and associated with liberalism. These Chinese writers were opposed by party campaigns. Wu Xun is now considered the pioneer of Chinese public education. Likewise, we will talk about how this Campaign became linked to the so-called Campaign of the Hundred Flowers (known in China as the Rectification Campaign), followed by the Anti-Rightist Campaign. Especially interesting is the trajectory of individuals criticized by the party, such as Wu Xun. He is one of the symbols of Chinese liberalism and so it is a film inspired by his life, it was the first film banned in the People's Republic of China. There is a whole context surrounding this radicalization, such as the participation of Mao's wife and Mao himself in the process. Wu pioneered Chinese public education and has now had his reputation restored after a period of banishment during the Chinese Cultural Revolution. 'From there, we can understand how the modern Chinese pedagogy was formed.
Keywords: China, education, writers, intellectuals, pedagogy
1.Introdução
O interesse desse período chinês e o dessa pesquisa deve-se ao fato de que existe muito pouco material em português. Nesse período surgiram grandes campanhas de caráter educativo, campanhas essas que marcam a política educativa do estado chinês até hoje, daí a importância em estudá-las.
A educação chinesa da República Popular da China foi marcada pelas grandes campanhas populares de caráter educativo. Campanhas como essa existem até hoje, mas em menor escala. Hoje em dia o cidadão é menos estimulado a criticar autoridades. Na história da China, a tendência é ocorrer uma abertura de crítica ao sistema e, logo a seguir, um fechamento. O último movimento nesse sentido ocorreu nos anos 80. O sistema, no entanto, não estimulou tanto a crítica ás autoridades como nos anos 60.
Testadas em menor escala nos anos 50, com a Campanha de Retificação e a Campanha Antidireitista, as grandes campanhas educativas, com grande participação da população, mostraram a vitalidade e a capacidade dos socialistas chinesas de conseguirem grandes feitos. De certa forma, as campanhas dos anos 50 foram um embrião da Grande Revolução Cultural Proletária que ocorreu a partir dos anos 60.
2. Campanha Contra Wu Xu
A primeira controvérsia na década de 50 foi em torno de Wu Xu, educador chinês que viveu entre 1838 e 1896. O livro A Vida de Wu Xu, filme lançado em 1950, contou a vida desse educador e fez grande sucesso na China. Inicialmente, as recepções foram calorosas.
Wu originalmente era Wu Qi. Nasceu em Wuzhuang, hoje parte do condado de Guan. Depois da morte de seu pai, Wu ficou só e muito pobre, sem poder frequentar a escola local. Wu, então, passou a defender publicamente a educação gratuita universal. Ele pedia contribuições, vivendo como um mendigo sem endereço fixo. No entanto, mesmo assim, estudou por contra própria e reuniu algum dinheiro e mostrou grande talento para empreendimentos comerciais. Tornou-se, então, um empresário. Ao tornar-se grande fazendeiro, criou suas próprias escolas, todas beneficentes, voltadas para a caridade. O nome Xun foi uma homenagem da corte imperial a ele (dinastia Quing), ocorrida posteriormente.
Wu Xun foi venerado com um templo memorial no condado de Guan e ele foi celebrado como um herói adepto das ideias do sábio chinês Confúcio. O espírito de Wu Xun virou sinônimo de ideal de progresso através da educação, bem como as ideais tradicionais de serviço confucionistas.
Após recepção positiva, surgiram críticas ao filme sobre a vida de Wu Xun, que foi tida como contrarrevolucionária por intelectuais do partido. A esposa de Mao, posteriormente uma líder que presidiu o país, iniciou uma campanha contra o filme e contra o reformismo burguês representado por Wu Xu. Mao, inspirado por Jiang Qing, foi denunciado como promotor da cultural feudal. Os críticos ligados ao Partido Comunista Chinês diziam que a história tinha sido falsificada e que Wu era, na verdade, um latifundiário que estava sendo mistificado, o que resultava na promoção da cultura feudal. Por fim, o filme acabou proibido. Na Revolução Cultural, houve novamente uma tentativa de destruir o culto de Wu. Ele foi julgado como contrarrevolucionário e seus restos mortais, queimados publicamente pelos Guardas Vermelhos. Depois da morte de Mao e da derrubada da esposa em 1976, a reputação de Wu foi restaurada. O jornal Diário do Povo tocou no assunto em 1985, ajudando Wu a recuperar seu prestígio como educador e ídolo do liberalismo chinês. Na atualidade, com a reputação de Wu restaurada, o filme foi exibido em sessão privada em 2005 lançado em DVD em 2012.
Mao Tsé pessoalmente criticou Wu como sendo um liberal em cujo programa de alfabetização considerava-se que a revolução não era necessária. Foi o primeiro caso de uma campanha contra um filme na República Popular da China, e isso depois do filme ter entrado entre os dez melhores filmes daquele ano de 1950.
A partir daí, o partido passou a interferir na indústria do cinema chinesa. A reputação do filme e de Wu Xun só foram completamente restauradas em 1986.
3. Campanha contra Yu Bingbo
Outro caso de uma campanha ocorreu contra Yu Pingbo (1900-1990), um ensaísta, poeta, historiador e crítico literário. Foi um estudioso seguidor de Hu Shih, que não era apoiador do comunismo, o que comprometeu Yu Pingbo posteriormente, pois Hu Shih chegou a escrever contra os comunistas.
Depois da revolução de 49, quando Yu Pingbo estava como professor em Pequim, a ordem era reinterpretar os clássicos do pensamento e da cultura chinesa com as ideias de Marx e do materialismo histórico.
Em 1923, Yu publicou uma crítica a Sonho do Quarto Vermelho, dando força à interpretação de que os primeiros oitenta capítulos do original Sonho do Quarto Vermelho tinham sido escritos por Cao Xuegin e os demais por Gao. Ele estabeleceu, então, um novo campo de estudo que, basicamente, reforçou o movimento de Nova Cultura que substituiria a antiga cultura chinesa por uma versão ocidentalizada. O texto Águas de Primavera, publicado ao lado de “Diário de um Louco” de Lu Xun no jornal A Juventude, foi considerado uma das primeiras composições a serem escritas em vernáculo chinês contemporâneo.
Uma crítica ao estudo de Li Pingbo foi promovida por Mao Tsé Tung de dois estudantes recém-formados para poder criticar o idealismo de Hu Shih, grande mestre de Pingbo. Mao escreveu pessoalmente uma carta aos dois estudantes, elogiando sua coragem ao criticar uma autoridade estabelecida, “uma grande peruca burguesa”, no entender de Mao. A Revolução Cultural Chinesa foi muito marcada por atitudes como essa: alguém, mesmo num estrato inferior, numa perspectiva hierarquicamente mais baixa, sem efetivamente estar consolidado profissionalmente e sendo jovem, podia ativamente criticar uma autoridade estabelecida. O critério da origem de classe e da necessidade da classe operária dirigir tudo era muito levado em conta, para além dos meros critérios técnicos.
Para o entendimento pedagógico maoísta, que influencia o moderno sistema educacional e pedagógico chinês, como se pode ver no filme Rompendo com Velhas Ideias (1976) e no Livro Vermelho de Mao Tsé, a teoria não pode ser dissociada da prática, ambas sempre devem andar juntas.
Uma grande intensidade dramática é o que podemos encontrar em Rompendo com Velhas Ideias, um filme da República Popular da China -que foi um país socialista até 1976- e cuja filmagem ocorreu durante o Grande Proletariado Revolução Cultural daquela nação (1966-1976), liderada pelo ex-presidente Mao Tse Tung. Lançado em 1975, sob a direção de Wenhua Li, é considerado uma das poucas obras cinematográficas que ampliou a visualização da importância de transformar o antigo ensino em uma educação proletária, científica a serviço do povo. No decorrer da história, destaca-se o tema central, a reforma da educação e em seu caráter essencial e peremptório pôr fim aos problemas da classe trabalhadora da cidade e do campo, onde esta última é a que apresenta com mais dificuldades, que são muito diversas, tanto para aquele contexto quanto para o momento atual.
Resistir na busca por métodos populares de ensino para construir tijolo por tijolo a nova sociedade foi a missão dos líderes, que apesar das incessantes barreiras impostas pela burguesia, levantaram essa luta aplicada unindo a teoria à prática. Ressaltando o título deste filme, segue-se que devemos romper com velhas ideias.
4. Campanha contra Feng Xuefeng
Feng Xuefeng (1903-1976) foi um escritor e ativista chinês que, após ter contribuído significativamente para a crítica literária socialista, era membro importante do partido comunista chinês, era também especialista no escritor Lu Xun, mas foi acusado de contrarrevolucionário e passou o final da vida sob perseguição.
Como Feng era um militante antigo e consagrado do partido comunista chinês, redigiu editoriais críticos ao governo e, a seguir, foi rotulado de contrarrevolucionário. Foi, então, pego na Campanha Antidireitista e obrigado a passar por reeducação pelo trabalho. Posteriormente, em 61, foi absolvido. Não conseguiu, no entanto, terminar o romance que ambicionava escrever sobre a Longa Marcha. Viveu até 1976, quando morreu de câncer no pulmão. Igualmente, o escritor e crítico literário Hu Feng (1902-1985), militante histórico do Partido Comunista, tinha uma teoria literária própria e que recusava as formas nacionais, consideradas historicamente ligadas ao confucionismo. Nisso, ele entrava em choque com Mao Tse Tung e outras autoridades. Ele foi, no entanto, reabilitado parcialmente em 1980 e, postumamente, totalmente reabilitado em 1988.
5. Campanha da Retificação ou das Cem Flores
O nome da campanha foi tirado de uma fala histórica, ainda do tempo da monarquia, quando foi proclamada a liberdade de pensamento e de religião e, por fim, prevaleceram o confucionismo e o taoísmo.
Depois das campanhas contra escritores e intelectuais em geral, pode-se dizer que o partido viu que foi longe demais e proclamou que todos apresentassem suas críticas. Muitas eram apresentadas nas escolas em grandes murais chamados dazibaos. Os intelectuais estavam, devido ás campanhas anteriores, muito afastados do partido. Como as críticas foram ganhando força, o partido lançou, logo a seguir, a Campanha Antidireitista, que prendeu e processou muitos intelectuais, educadores e escritores entre 1957-59. Mao, ao abrir a Campanha das Cem Flores, fez uma alusão ao período da história chinesa chamada período dos reinos combatentes.
A Campanha Antidireitista direcionou-se muito contra as críticas que supostamente não eram construtivas. Afetaram muito os educadores chineses que tinham estudado e permanecido ligado a instituições ocidentais. Muitos deles foram processados e punidos, por vezes reenviados para campos de reeducação no campo. Por essa época, Mao Tsé Tung afirmou, em frase posteriormente recolhida no Livro Vermelho:
A única via para resolver as questões de natureza ideológica ou as controvérsias no seio do povo é o uso do método democrático, da discussão, da crítica, persuasão e educação, e nunca o uso de métodos de coerção ou repressão (MAO TSE TUNG, 2004, p. 49).
Como explicou Mao, a educação do povo tem que ter em vista que surgem contradições entre os comunistas e o povo, mas que devem ser resolvidas de forma que os comunistas possam distinguir entre si mesmos e a burguesia, bem como entre a verdade e o erro. Pode-se dizer que, se não forem sanadas, essas contradições tornam-se, de não-antagônicas, em antagônicas. Essa era a explicação de Mao para o fenômeno do levante popular contra um governo de democracia popular como a Hungria em 1956: essas contradições não haviam sido identificadas e tratadas a tempo.
A explicação que Mao deu é que, mesmo nas sociedades socialistas, apresentam-se as ideias burguesas e pequeno-burguesas. O dilema passa ser entre continuar com a ditadura do proletariado ou restaurar o capitalismo e a burguesia. A resposta dada, e que norteou as campanhas e a educação chinesa dos anos 60 até 1976, mas ainda com reflexos hoje em dia, foi a necessidade do debate democrático. A ideologia burguesa não deveria ser impedida de manifestar-se, deve ser dada a oportunidade, para então ser combatida com argumentos e críticas apropriadas. As ideias errôneas são como as ervas daninhas, devem ser arrancadas e, para isso, deve ser usado o método dialético, com análise científica e argumentação convincente.
6. Conclusão
Pode-se dizer que, através dessa pesquisa, ficamos sabendo mais sobre uma tema a respeito do qual há muito pouco material em português: as campanhas movidas contra intelectuais considerados contrarrevolucionários no período 1951-57. Especialmente interessante para nossa área de atuação foi a história da vida de Wu Xu, educador chinês considerado o ídolo dos reformistas burgueses e liberais chineses, filme proibido em 1950 na República Popular da China. Posteriormente, nos anos 80, Wu Xu teve sua reputação restaurada e o filme saiu em DVD e passou a passar em sessão privada na China.
As questões envolvendo a educação, literatura e pedagogia chinesas, como pudemos observar nessa pesquisa, envolvem a opção realizada por grandes campanhas nacionais de caráter educativo desde os anos 50. Aqui foi analisada a primeira dessas campanhas, a campanha de Retificação, conhecida também como Campanha das Cem Flores. Ela foi seguida pela Campanha Antidireitista. Os intelectuais acima citados foram todos criticados e punidos na Campanha Antidireitista. A Campanha dos Cem Flores evocava uma raiz histórica, um período onde floresceram várias linhas de pensamento no tempo da monarquia. Há também a hipótese de que Mao e seu grupo desejavam, com isso, saber quem eram os inimigos do comunismo. Sendo assim, deixar as cobras saírem de suas tocas seria um objetivo dessa campanha, daí a punição logo a seguir. No entanto, através dos dazibaos (grandes cartazes com jornais) sem dúvida a crítica chegou às massas. O período da Campanha Antidireita coincide com a leitura do Relatório Kruschev na URSS e o levante húngaro de 1956, eventos que o partido julgou ameaçadores. No entanto, houve um consenso de que havia contradições no seio do povo e que deveriam ser resolvidas através da educação e não da repressão. A Revolução Cultural, ocorrida nos anos 60, foi um desdobramento que gerou novas grandes campanhas educativas, campanhas que existem até hoje. Essas campanhas marcam uma grande diferença entre o socialismo tecnocrático da União Soviética e o socialismo chinês. Os chineses sempre convocavam as massas para suas realizações.
7. Referências:
AUDREY, Francis. China: 25 anos, 25 séculos. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976.
BUENO, André. A visão chinesa do passado em Beltrão, Cláudia (org.) A busca do antigo. Rio de Janeiro: Nau, 2011, p.19-23.
LINK, Perry. 23 de julho de 2007. Legado de uma injustiça maoísta. O Washington Post . pág. A19.
MA, Ron. Art for Politics’ Sake: The Reasons and Progress of the Criticism Campaign Against The Life of Lu Xun. >. <>,
MITTER, Rana. China Moderna. Porto Alegre: L&PM, 2011.
SHU, Sheng. Os intelectuais e a China maoísta. Curitiba: Apris, 2019.
SINOBABBLE. Let the Hundred Flowers Blossom? >. <>,
SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
TUNG, Mao Tsé. O Livro Vermelho. São Paulo: Martin Claret, 2004.
segunda-feira, 14 de julho de 2025
Cuba: Contrapunto al Mito
Cuba: contrapunto al mito
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
Cuba: contrapunto al mito
Primera edición - 2025
Escrito por: Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
Revisión: Lúcio Emílio do Espírito Santo Junior
Proyecto gráfico: Gabriel Dos Anjos
Diseño: Gabriel dos Anjos
Para mi madre, mi padre y amigos Márcio, Gabriel y los demás del grupo de estudio del profesor Lúcio Junior.
ÍNDICE
1. Introducción: Socialismo ficticio ............................................................... 8
2. La dolorosa lección de Cuba ................................................................. 13
3. Del focismo al bolivariismo .................................................................... 51
4. ¿Qué nos proporciona Youvarismo ....................................................... 58
4.1-Cuál es la teoría del guevarismo? ............................................ 59
4.2-¿Cuáles son las enseñanzas? .................................................. 60
4.3-¿Qué dicen tus seguidores? ..................................................... 62
4.4-¿Quién hace la revolución? ..... ................................................ 65
4.5-Las fuerzas del movimiento ...................................................... 68
4.6-Idealismo y verdades eternas.................................................... 68
4.7-Fochismo: "Eje principal" de la lucha armada ........................... 71
4.8-El focismo no tiene nada en común con la guerra Popular ........ 73
4.9-¿La organización de la vanguardia armada o de clase? ........... 75
5- Pluralismo ideológico o hegemonía proletaria? ...................................... 78
6- sobre el estado: ¿Quién? Anarquistas o Revisionistas? ........................ 80
6.1- Los "creadores marxistas" ................................................................... 82
6.2- Pequeño internacionalismo burgués o Internacionalismo proletario.... 84
6.3- Nacionalismo como programa ..............................................................89
7- Economía política: la dulce forma del neocolonialismo ........................ 118
7.1- La concentración del poder político……………………………………. 121
7.2- Cómo el imperialismo soviético mantiene a Cuba en la línea............ 126
7.3- La composición social del Partido………………………………………137
7.4- ¿Dónde están las mujeres? ¿Dónde están los negros? ................... 140
7.5- El papel de los trabajadores en la planificación y la gestión141
7.6- Cuba: arma alquilada para imperialismo social Soviet ..................... 145
7.7- El papel de Cuba en Etiopía ............................................................. 151
7.8- más cerca de casa: Cuba y los sandinistas ...................................... 157
8- Inversión estratégica en Cuba: Castro aumenta La tapa.......................161
8.1- Castro apoya a los fascistas argentinos .......................................... 163
8.2- El neocolonialismo del imperialismo social Soviet ............................ 233
9- La transformación del camino socialista de la liberación nacional En una ruta capitalista................................................................................................... 241
10-La humillación de Cuba por ser un apéndice para el Social-Imperialismo .................................................................................................................... 243
11-Conclusión ............................................................................................ 251
12- Bibliografía ........................................................................................... 254
13-videografía .............................................. 259
"No creemos nada más que ciencia, significa que no es necesario tener mitos. Ya sea para los chinos o extranjeros, son los vivos y los muertos, lo que es justo es justo, lo que está mal está mal, de lo contrario tienes el mito.
Mao tsetung
Introducción: socialismo ficticio
En julio del 2021, se publica por primera vez en televisión, la presencia de una izquierda, demostraciones de protesta cubana en las calles, engran parte, jóvenes pidiendo "libertad" y resultó ser noticia el arresto de varias de ellas. La manifestación había escalado en violencia y terminó en el desfalco de algunas tiendas.
El blog de uno de los prisioneros nombrado “El blog Comunista” publicó que en 2023 hubo una migración de 90 000 cubanos, en su mayoría jóvenes, la mayor migración desde 1981. Es a esta coyuntura que este libro busca responder, criticando la línea cubana por la línea china. Cuba respondió mejor que la mayoría de los países a Coronavirus Public Health Wires-Cov-2, que se originó en China en diciembre de 2019. Sin embargo, cuando Cuba cerró las puertas a los turistas como con la propagación del virus potencialmente mortal, su economía ya asombrosa salió de las vías y el PIB se desplomó 11 por ciento para 2020, según datos gubernamentales.
Para empeorar las cosas, a fines de 2020, la administración Trump impuso nuevas sanciones económicas, incluidas las limitaciones en el uso del dinero de los Estados Unidos, un elemento clave para su economía. A pesar de que tienen estos tiempos inciertos, Raúl Castro siguió siendo fiel a su palabra y renunció como el Secretario General del Partido en el octavo Congreso del Partido Cubano en abril de 2021, diciendo que se estaba retirando con la sensación de "cumplir su misión y seguro en el futuro de la patria". Fue reemplazado como Secretario General por Díaz-Canel. En 2021, varios factores se combinaron con una tormenta perfecta en Cuba: Trump evitó el dinero de Cuba, la pandemia y la falta de turismo durante dos años comprometieron la economía del país: el desempleo, la escasez de alimentos, entre otros temas, mostraron que el problema no es solo el embargo estadounidense.
Los jóvenes, por su parte, muestran actitudes de jactancia hacia el régimen, ya que se producen los géneros primarios y los recortes de energía frecuentes. ¿Cómo llegaron a esta situación?; las exportaciones de Cuba son productos principales.
Esto manifiesta una situación semi-colonial. ¿Cómo se puede transitar del semicolonialismo a una revolución supuestamente socialista?. En Cuba, miles de jóvenes asocian la ideología comunista con represión y pobreza. Paradójicamente, la propaganda de la burguesía burocrática estatal cubana ha sido efectiva para hacer que las personas crean que el desastre económico actual y la política represiva contra todos los tipos de disidencia es parte del socialismo. Desafortunadamente, incluso frente a estos hechos, un sector considerable de la juventud cubana está decidido a asumir una postura neoliberal frente a este escenario, con la esperanza de que después de eso habrá tiempos de abundancia. "Nada puede ser peor que esto", es una frase común entre los jóvenes cubanos que les resulta imposible existir una Cuba con una crisis económica de megamagnitud y un gobierno peor. La prohibición expresa de otras organizaciones, la imposibilidad de difundir físicamente la propaganda política y crítica, de reunirse legalmente para articular propuestas independientes, o ejercer críticas en medios abiertos: periodistas privados de medios privados para los medios oficiales, se exponen a una fuerte presión y acoso por los mecanismos estatales, los mecanismos estatales, significa que cualquier intento de lucha revolucionaria contra el supuesto socialismo dominante, se produce en un escenario clandestino.
Por otro lado, décadas de burocratización política y los factores enumerados anteriormente desmovilizaron a la clase trabajadora cubana, causando el crecimiento de la apatía y el miedo a cualquier propuesta de oposición. Existe la hipótesis de que la razón principal por la cual Cuba no es socialista (y nunca lo fue) radica en que nunca se regía por un proletariado revolucionario decidido a transformar la economía del capitalismo en el comunismo. Es decir, la importancia de este aspecto (o principio) de lo que realmente es el socialismo, este principio maoísta. Por supuesto, las condiciones objetivas significaban que una transformación completa para el comunismo solo en Cuba estaba fuera de discusión. (Por lo general, los marxistas creemos que esto solo puede completarse en todo el mundo). Sin duda, muchos más pasos en esta dirección podrían haberse tomado. La oposición de Castro a la gran revolución cultural proletaria en China y su apoyo al capitalismo estatal soviético habla por sí mismos. Y todos los cambios en la sociedad cubana apuntan a la dirección del capitalismo monopolístico de estilo occidental, nunca en el comunismo. En nuestro libro debatimos algunos tabúes sobre Cuba: ¿cómo fue el proceso de aprobar la revolución democrática a la revolución socialista en Cuba, si el socialismo desaparecía desde 56 en la Unión Soviética? Nuestra hipótesis es que esta transición no sucedió. Suponemos que la revolución cubana era un embrión de una revolución democrática, sí, pero de tipo antiguo, es decir, que no pasó al socialismo. Esto contradice la comprensión de casi todo hegemónico que queda en Brasil. ¿Cómo explicar? Nuestra hipótesis es la del presidente Gonzalo: Cuba es un estado burgués más evolucionado donde un paso de la revolución democrática (no se completó) por lo que no es socialismo. Y también debemos una explicación de cómo el revisionismo cubano ha pasado de la teoría de los pies al bolivariismo.
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El presidente Gonzalo es el seudónimo de la cabeza del partido Comunista de Perú, que fue reconstituido por él en 1978-1979. Abimael Guzmán Reynoso [nombre original] ha sido responsable de la deposición de elementos directitas y revisionistas del Partido Comunista del Perú desde 1960, cuando el revisionismo soviético ha aumentado al poder, predicando el cretinismo parlamentario y el desglose de la lucha revolucionaria. Además, en su viaje revolucionario incluso visitó la China maoísta de la época de la gran revolución cultural proletaria para tomar un curso de formación político-ideológico. Incluso asume que el marxismo-leninismo pensó que Mao Tsetung como la mayor expresión del marxismo de esa época. Más tarde, definirá el maoísmo como la "tercera etapa nueva y superior del marxismo-leninismo". De hecho, demostró la universalidad del maoísmo en la guerra popular prolongada peruana, que ocurrió en la década de 1980-1990, enfrentando el estado reaccionario peruano y contó como el apoyo incluso de la URSS socialista, Alemania Oriental y Corea del Norte con armas, suministros y mucho más. - NE.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Rosemberg Rodrigues de Castro: “Todo Anjo é Terrível”
Rosemberg Rodrigues de Castro: “Todo Anjo é Terrível”
Eu, infelizmente, tive pouco contato com essa curiosa figura, Rosemberg, falecido em março passado aos 64 anos de pneumonia, curiosamente pouco tempo antes do amigo Célio Luquini. Esse amigo tão bem definido por essa frase de Rilke, citada pelo poeta hondurenho Fabricio Estrada: “todo anjo é terrível”. Célio e Rosemberg parecem ter combinado a partida. Rosemberg foi uma figura que faz lembrar Pantagruel, o gigante comilão da peça de Rabelais, como o amigo Laender, também já falecido. Triste isso. A gente vai envelhecendo e os amigos vão morrendo. É como Millôr Fernandes falou: “caminho aflito: tantos amigos já granito”. Anos atrás, em 2009, quando o presidente de Honduras, pequeno país da América Central, foi deposto num golpe e escondeu-se na embaixada do Brasil, criando uma crise diplomática para o presidente Lula, indiquei ao Rosemberg um blog da resistência ao golpe em Honduras, o “Bitácora del Párvulo”. Rosemberg reproduziu postagens desse blog, de autoria do poeta Fabricio Estrada, ativista “melista” (o nome do presidente era Mel Zelaya). Algum tempo depois, o presidente Zelaya saiu do país, mas tempos depois voltou e sua esposa Xiomara é hoje a presidenta do país. O poeta e dono do blog mandou o seguinte recado para mim nessa ocasião, no ano de 2009: “Lúcio: Quanto mais espalharmos a nossa voz, mais conseguiremos resistir. O Brasil precisa entender perfeitamente que Honduras é seu litoral mais próximo, um território livre que busca se aproximar a cada dia de uma América Latina praticamente fragmentada.”
Rosemberg era radialista autodidata e personalidade destacada da diminuta esquerda local. Ele no passado foi do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) junto com Célio Luquini e atualmente era lulista. Durante muito tempo trabalhou na prefeitura junto ao meu tio Bil, no tempo do Célio, bem como na rádio Difusora. Tínhamos muitas diferenças. Revendo seus vídeos e blog lembro-me que Rosemberg era apaixonado por Bom Despacho e sua política, ele a vivia intensamente. Rosemberg criticava-me dizendo que eu não tinha a paixão pela política de Bom Despacho como ele, ficava mais interessado na revolução na Nicarágua. O que não deixa de ser excelente observação! Eu retruquei chamando Rosemberg de “Montanha”, pois em alemão seu nome significa “Montanha de Rosas”. Eu queria fazer um blog que fosse Observatório da Imprensa local, assumindo o papel da odiada figura do “ombudsman”. Obtive muitas reclamações de muita gente. Ele puxou-me a orelha. Rosemberg, então, contou-me que existia uma regra de ouro de comportamento não escrita no jornalismo local: eu poderia fazer qualquer coisa, menos criticar ou fazer alguma coisa que contrariasse o professor Tadeu de alguma forma (!)
Rosemberg tinha uma forma muito curiosa de escrever. Ele fazia umas enumerações assim: “Lúcio + Tadeu + Roberta – Vander =Jornal de Negócios”. Nosso querido “Montanha de Rosas” queixou-se a todo mundo no PT, em esfera estadual, que eu falava só no imperativo, dando ordens. Rosemberg me deu o mesmo apelido de Fidel Castro, o “comandante”. Em 2015, nosso amigo, então jornalista da Câmara, gravou uma participação minha lá e falou de mim como se eu fosse vereador. Na época, por incrível que pareça, estávamos discutindo a vereança gratuita em cidades de menos de 100 mil habitantes, proposta então presente no Plano de Aceleração do Crescimento de Dilma Rousseff. Diante dos acontecimentos recentes, a proposta agora pareceu-me incrível.
A participação a favor da vereança gratuita, muito oportuna, continua no youtube (pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=LZio7O3MCyQ). Curiosamente, colegas de escola mandaram mensagens extasiadas comentando que “cheguei à vereança”, equivocados com a legenda amalucada do vídeo –colocada, como sempre, pelo amigo Rosemberg!
No facebook, a atuação de Rosemberg era destacada, era novamente o gigante guloso: quando curtíamos algo que ele postava, prontamente ele dominava nossa rede, ele nos marcava em tudo. O nosso facebook passava a ser praticamente dele, só dava ele. Rosemberg tinha tanta admiração pelo Papa Francisco que seu retrato na rede era o Papa dando uma boa risada. Bem a propósito, certa feita enviei a Rosemberg uma entrevista do antigo cardeal Bertone (publicado no site eleconomistaamerica.com.br em 2013) onde o futuro Papa, ainda cardeal Jorge Mario Bergoglio, dizia: “O império da dependência criada por Hugo Chávez, com falsas promessas, mentindo para eles ajoelharem-se diante de seu governo. Dando-lhes o peixe sem deixá-los pescar. Se alguém aprende a pescar na América Latina, é punido e seus peixes confiscados pelos socialistas. Liberdade é punida. A região é controlada por um bloco de regimes socialistas, como Cuba, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Nicarágua. Quem os salvou dessa tirania?” O companheiro Rosemberg até sapateou de raiva, mas eu prezo por perder o amigo, mas não a piada. O tempo dos blogs passou, o do amigo Rosemberg também, mas fica a saudade. O poeta do Bitácora del Párvulo, do qual tanto gostou Rosemberg e até fez postagens a partir dele em seu blog, fez um belo poema que eu reproduzo em homenagem ao amigo falecido, Sou um Homem Morto:
Muito bem: como é um homem morto?
Quem é que vê e prefere ver um homem morto?
Sou um homem morto.
Um poeta aniquilado.
Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato)
Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram.
Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode.
Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio.
Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo.
Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides.
Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão.
Sou um homem morto.
E ninguém acredita.
terça-feira, 13 de maio de 2025
Dona Sebastiana
O documentário A Filha de São Sebastião (Caturra digital, disponível no youtube no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=6nHORCY-EEE), datado de 2013, focalizou Dona Tiana (Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva) matriarca do Quilombo “Carrapatos da Tabatinga”, falecida há alguns anos (2019), na fase madura de sua trajetória. A equipe que realizou o filme foi: Juliana Braga, Luciana Katahira, Larissa Cardoso, José Francisco Duarte e Ana Paula Ferreira de Lima. O documentário contou também com a colaboração de Sandra Maria da Silva, Gabriela Gois, bem como de toda a comunidade Carrapatos da Tabatinga.
Em Bom Despacho existem três matrizes afro-brasileiras: Dona Fiota (já falecida) e Marquinhos Bacará com a Língua do Negro da Costa (pesquisada mais a fundo por Benício Cabral e Sônia Queiroz), a matriz de Tiana, Sandra e Graça Epifânio e a de Zé Geraldo. Um dos indicativos de que existiu um quilombo aqui na região é a presença, bastante rara, da Língua do Negro da Costa, a chamada “língua da Tabatinga”. Anos atrás, eu, Tânia Nakamura e equipe da antiga UNIPAC (hoje grupo UNA) e colocamos Dona Tiana em contato com a Fundação Palmares, que já existia desde 1988. Foi uma sintonia maravilhosa, com a comunidade seguindo adiante com suas próprias pernas e prescindindo de nós pesquisadores e intelectuais para travar suas próprias lutas. Sandra, em especial, está organizando um museu em homenagem a Tiana, já foi candidata a deputada pelo PSOL e foi objeto de estudo de dissertações. A Fundação Palmares parte do pressuposto de que todo lugar onde há resistência negra pode ser chamado de quilombo. Desde 2008 ela reconheceu a região da Tabatinga como um território quilombola. Uma das dissertações que enfocou a comunidade é a de Ana Carolina Oliveira Teixeira Vertelo em sua dissertação O Processo de Constituição Identitária dos Moradores do Quilombo Carrapatos da Tabatinga.
Em 1966, convidada por Dona Elisa Queiroz, chegou em Bom Despacho no longínquo ano de 1966, em uma das antigas “jardineiras” (antigos ônibus). Ela tinha vindo fazer trabalho de assistência social e sentiu carência de eventos culturais. Passou a morar aqui e montou peças teatrais e grupos de dança. Fundou o corte de reinado Moçambique de São Benedito, bem como uma escola de samba que em 1988 obteve o primeiro lugar no carnaval de Bom Despacho.
Esta mulher chamava-se Sebastiana Geralda Ribeiro da filha de São Sebastião, sincretizado na umbanda como orixá Oxóssi. Oxóssi é o grande orixá das florestas e das relações entre o reino animal e vegetal. Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar os corações dos cristãos, enfraquecidos diante das torturas. Por volta do ano 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas, que se tornaram símbolo constante na sua iconografia.
Dona Sebastiana recebeu o seu nome em homenagem ao guerreiro mártir, foi batizada pelos seus avós como filha de Oxóssi. Ela era também capitã da guarda de Moçambique, posto que, segundo ela, era apenas ocupado por homens. Dona Sebastiana era mãe-de-santo, revelava verdades sem meias palavras. A fé e a terra eram fontes de força para o dia-a-dia da sua comunidade, que hoje ainda vive com poucos recursos financeiros.
Sua primeira atitude foi construir a casa para abrigar seu santo de proteção: São Sebastião, ou Oxóssi, senhor das matas. Dona Tiana alegou que precisou ir até o bispo em Belo Horizonte para poder participar da festa de Reinado local da Igreja Católica (tudo indica, motivado pelo fato de que ela fundou o seu próprio centro espírita de orientação afro), conforme ela alegou em seu depoimento no documentário. Quem teria enfim revertido a situação teria sido Dom Serafim Fernandes de Araújo, que finalmente deu a autorização para que ela pudesse rezar onde queria. A ideia do documentário foi recolher histórias como essa e mostrar a cultura do povo de Tiana através da luta política e assistência social, além da religião, canto e dança.
O filme mostrou como Dona Sebastiana aprendeu e criou táticas de sobrevivência para enfrentar a sociedade à sua volta. Ela apresentava-se como líder de comportamento polêmico. Tratava-se do equilíbrio entre alegria, angústia e lutas constantes. Tiana definiu-se como “nêga véia de senzala”. Era uma alma plural, múltipla, que representava um universo curioso de sabedoria. O filme marcou ao mostrar, com bela fotografia, as danças, cantigas, rezas, bençãos, entre tantos outros elementos da cultura popular afro-brasileira.
A figura desta mulher inspirou o equilíbrio entre a fé nos milagres, bem como e a triste luta da vida sem esperar por eles. O dilema entre a sabedoria dos santos e a realidade de nunca ter tido a oportunidade de aprender a ler e escrever, retomando aquele debate de Dona Fiota no documentário Eu Tenho a Palavra: Tiana tinha a palavra, o belo discurso e o conhecimento da tradição, mas não tinha o domínio da cultura letrada.
Saulin du Corte: A Importância de Apoiar Nossos Jovens
Saulin du Corte: A Importância de Apoiar Nossos Jovens
Recentemente, tivemos e ainda teremos fatos relevantes para a cultura bom-despachense. Estou fazendo aulas de pintura com Carlos Madeira e estarei expondo e vendendo meus quadros em uma exposição no Espaço do Hipermercado Fidélis São José nos dias 10, 11, 12 e 13 de abril. Bem como o lançamento do livro “Doce Vida” de Toninho Saudade, dia 10 de abril, 19 horas, na Biblioteca Pública local. Nos dias 11 e 12 de abril, uma feira literária no Mineirão da Praça da Matriz. Estou otimista com a abertura de novos espaços como Coliseu (antigo Austin), Oie, pizzaria Maragon, bem como ocorreu uma festa preparatória para a Parada LGBTT de Bom Despacho na STA Floricultura: a Parada desse ano promete. Os organizadores afirmaram que a Parada desse ano promete. Nessa conjuntura, é muito importante dar apoio a novos estabelecimentos e iniciativas dos jovens.
Há anos dei uma entrevista para o amigo Gustavo Menezes no youtube, muito antes de que eu tivesse um canal nesse meio de comunicação como tenho agora (canal Professor Lúcio Júnior). Nele eu falei dos nomes curiosos de alguns estabelecimentos comerciais em Bom Despacho: a barbearia do Leninho (escreve-se Lênin, o que faz pensar numa homenagem ao revolucionário russo, mas na verdade é apenas um diminutivo carinhoso), a finada “Borracharia do Amor”, dentre outros. E eis que surge o “Saulin du Corte” que é uma barbearia fundada por um jovem barbeiro: Saulo César de Paula Mendonça nasceu em 30 de maio de 2007. O pai chama-se Washington Couto e é mecânico, a mãe chama-se Elaine Silva. Saulo começou em casa a cortar cabelo sozinho. Os pais apoiaram a ideia da barbearia. O primeiro curso foi o que fez com Gleisson Junio Silva, “Sô Gleisson”, barbeiro do São José (Arraial). O curso chamava-se “Fade pigmentação freestyle tesoura e finalizações. O barbeiro educador foi esse mesmo Gleisson, a quem Saulo admira muito. Depois fez curso em Nova Serrana, com Mateus Nogueira. Foi um workshop: “barbearia, um negócio de sucesso”, ministrada por Matheus, Lucas Andrade, Renato Silva, realizado em dezembro de 2023.
Saulinho é muito criativo e a barbearia tem uma página no instagram. Gostei bastante de um “reel” de humor que Saulinho fez com um amigo sobre os pensamentos contraditórios do barbeiro e de seu cliente adolescente, o barbeiro quer cobrar um preço que julga baixo e o adolescente acha muito caro e o “reels”, que teve mais de 4000 visualizações, mostra de forma muito bem humorada esse conflito. E fizeram uma produção “ficcional” bem sucedida nessa rede social. A barbearia de Saulin, mais do que um local de prestação de serviços, tornou-se um ponto de encontro. A maioria dos clientes de Saulo são jovens. Saulo sabe fazer os cortes de cabelo da moda, com riscos e desenhos na sobrancelha. A primeira barbearia foi no Jardim dos Anjos, próxima da cadeia. E a segunda, a atual, está no Shopping Assunção.
A toda comunidade: apoiar a luta de nossos jovens, apoiar novos estabelecimentos é fundamental. A esse meu jovem amigo, todo sucesso em sua empreitada!
sábado, 8 de março de 2025
O Arquiimperialismo: O Novo Paradigma do Imperialismo
O professor César Aprile da Silva Aprile definiu, nesse livro publicado pelo próprio autor em 2023, um conceito que julgo muito importante: o arquiimperialismo. O livro, editado pelo próprio autor e que comprei na internet, traz reflexões extremamente necessárias.
A tese dele é que, depois da Segunda Guerra Mundial, o que emergiu não foi meramente um império convencional do capital, mas algo mais complexo e abrangente, que expandiu a definição do imperialismo, a fase superior do imperialismo. É uma forma de imperialismo nunca antes vista. É um arquiimperialismo, um imperialismo que comanda os outros imperialismos. Isso não acontecia no tempo de Lênin e mesmo no de Stálin não foi identificado com essa intensidade, pois Stálin temia uma revanche de Japão e Alemanha ainda depois da II Guerra Mundial. Curiosamente, o arquiimperialismo impediu que isso acontecesse e inclusive mantêm até hoje tropas yankees nesses dois países. A situação de um imperialismo depender de outra potência imperialista é inédito. Os Estados Unidos não se unem a outros imperialismos para dividir o mundo, são autossuficientes, o que é intrigante.
Igualmente César avança bastante ao caracterizar a China como social imperialista usando autores chineses que caracterizaram a União Soviética dessa forma. Ele explica o papel de Cuba em aterrorizar os militares latino-americanos com o perigo do comunismo, focando no exemplo de Cuba, que aliás é bastante eficaz por ter surgido de uma conjuntura aparentemente ingênua de populismo e terminou numa aliança com o social-imperialismo soviético. Cuba é caracterizada como capitalismo burocrático pintado de vermelho. Laos e Vietnã teriam menos conflito com o arquiimperialismo. Coreia Popular seria país de capitalismo burocrático vermelho com uma relação de dependência semicolonial em relação ao capital chinês.
César Aprile desmistifica os Brics, explicando que estão, em diversos graus, ainda submetidos ao arquiimperialismo. A Rússia ainda tem contradições internas ligadas ao capitalismo burocrático. O debate sobre a desdolarização ganha relevância, mas não é uma ameaça real para a hegemonia norte-americana. Além da pressão que os Estados Unidos podem fazer ao dominar o dólar, eles também têm um aparato repressivo internacional que exerce poder sem recorrer a uma forma direta.
Em determinada altura, Aprile chega a conclusões opostas às de Jabbour: a China ainda não está pronta para eclipsar os EUA como maior economia do mundo em breve. Para superar a hegemonia norte-americana, ela precisaria tornar-se um arqui-social-imperialismo. A China ainda não é uma superpotência no entender de Aprile. Ela também obedece ao arquiimperialismo, aceitando implantar sanções contra Coreia do Norte, prejudicando seus próprios interesses, mas satisfazendo o arquiimperialismo norte-americano. Um conflito entre os USA e a China terminaria em prejuízo econômico para os dois países, mas para a China especialmente. A superação dos Estados Unidos pela China é uma tarefa monumental e incerta. Jabbour, ao exaltar essa situação iminente, foca apenas em dados econômicos e cai no revisionismo. Exalta que a URSS produziu Kruschev, mas a China produziu Deng Siaoping (para ele, esse último seria um salto de qualidade incomparável, um desenvolvimento admirado por ele do revisionismo). Jabbour defende o modelo de capitalismo de estado degenerado chinês como a única saída.
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