terça-feira, 16 de abril de 2024

O Dilema Cubano

O DILEMA CUBANO Problemas com o “socialismo” de Castro Por Sahij Singh Aulakh Editado por Michael Introdução A questão de saber se Cuba sob Fidel Castro ou nos tempos modernos é um estado socialista, é um grande debate dentro da comunidade marxista. Trotskistas, Dengistas, Kim Il-Sungistas e alguns “anti-revisionistas” apoiaram Castro como Marxista-Leninista e Cuba como Estado socialista. O objectivo deste ensaio é desmascarar a noção de “socialismo” cubano e fornecer uma análise detalhada e bem fundamentada sobre esta questão. Cuba nunca foi um Estado socialista e Fidel Castro nunca foi marxista. Não devemos negar o direito de Cuba à autodeterminação ou apoiar o embargo de tipo genocida contra os cubanos, mas é importante notar que o revisionismo não pode ser apoiado. Este artigo será escrito a partir da perspectiva da divisão do Marxismo-Leninismo e do Anti-Revisionismo pré-1976. História de Cuba O primeiro assentamento humano em Cuba começou há quase 10.000 anos. Antes da chegada de Cristóvão Colombo, os nativos Guanajatabey, Ciboney e Taino habitavam Cuba. Cristóvão Colombo chamou a ilha de “Isla Juana” e logo os primeiros assentamentos espanhóis chegaram no início do século XVI. Os espanhóis foram implacáveis na sua ocupação, escravizando as populações nativas e matando muitos com doenças. Como resultado desta colonização, quase toda a população nativa de Cuba foi exterminada, sendo substituída principalmente por europeus brancos de língua espanhola (alguns misturando-se com os nativos locais). Os espanhóis também trouxeram escravos de África, o que resultou numa grande comunidade negra em Cuba (mais de 30 por cento da população da Cuba moderna é negra ou mulata). Após séculos de opressão, em 1895 começou a guerra pela independência, que durou até 1898. Em 1902, os Estados Unidos da América culparam o governo espanhol pelo afundamento do USS Maine (supostamente afundado pela própria América) e declararam guerra à Espanha. Pouco depois de Cuba ter conquistado a sua independência de Espanha, no mesmo ano tornou-se um parque de diversões para o imperialismo americano. Cuba foi uma neocolónia açucareira útil para os EUA. A América construiu casinos e hotéis enquanto escravizava os habitantes locais nas plantações de açúcar. Cuba era um destino comum para o turismo (incluindo, infelizmente, o turismo sexual). As dificuldades do neocolonialismo americano ainda afetavam a população cubana quando, na década de 1950, os Estados Unidos apoiaram Fulgencio Batista, um cruel general militar que oprimiu o povo cubano. A revolta contra o regime de Batista começou em 26 de julho de 1953 e terminou em 1º de janeiro de 1959, derrubando com sucesso Batista. Cuba começou a desenvolver um “estado socialista” depois de numerosas tentativas apoiadas pela CIA para derrubar o governo Castro. Isto acabou por levar à crise dos mísseis cubanos, um acontecimento que envolveu directamente o conflito entre o imperialismo americano e soviético. Cuba ainda sofre sanções americanas que duram décadas. Embora o regime de Castro tenha feito grandes avanços em Cuba, o povo de Cuba ainda sente as dificuldades das sanções que causaram pobreza em massa e desvantagens tecnológicas. Depois disso, não aconteceu muita coisa em Cuba, o colapso da URSS em 1991 impactou a economia devido à maior parte das exportações comerciais indo para lá, mas o governo cubano encontrou novos parceiros na China. Cuba passou por algumas mudanças desde a presidência de Castro. Fidel Castro liderou o país de 1959 a 2015, Raul Castro liderou de 2015 a 2019 e hoje Miguel Canal Diaz de 2019 até o presente. A Revolução Cubana A revolução cubana começou no famoso 26 de julho de 1953, foi uma revolução anti-imperialista que libertou o povo cubano das cadeias do imperialismo americano e do sanguinário regime de Batista, a revolução terminou em 1 de janeiro de 1959. Reunião de Castro com autoridades dos EUA (1959) É importante notar que a Revolução Cubana original de 1959 não foi comunista, mas sim uma guerra de libertação contra os imperialistas norte-americanos que apoiaram uma ditadura sob Fulgêncio Batista. O próprio Castro observou que a revolução cubana não tinha afiliação ao marxismo ou ao comunismo. Três meses e meio após o fim da Revolução Cubana, em 18 de abril de 1959, Castro fez uma declaração aos entrevistadores diante das câmeras, Castro disse em inglês: “Eu não sou comunista. Não concordo com os comunistas.” 1 “Não há comunismo ou marxismo nas nossas ideias, a nossa filosofia política é a democracia representativa com justiça social, numa economia bem planeada. Não há comunismo ou marxismo em nossas ideias” 2 Alguns dizem que isto não foi uma prova de que Castro não era comunista, mas sim uma tentativa de enganar a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos da América. No entanto, tem sido tradição no movimento comunista desde os tempos de Marx operar abertamente, tornando isto improvável. “Os comunistas desdenham ocultar as suas opiniões e objetivos. Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados através da derrubada forçada de todas as condições sociais existentes. Deixemos as classes dominantes tremerem perante uma revolução comunista. Os proletários não possuem nada a perder a não ser suas correntes. Eles têm um mundo para ganhar. Trabalhadores de todos os países, uni-vos!” 3 Castro deixou claras as suas intenções iniciais e não fez nenhuma declaração sobre se realmente queria enganar a Agência Central de Inteligência. Em 1959, durante a sua visita aos EUA, ele também declarou: “Afirmei clara e definitivamente que não somos comunistas… As portas estão abertas para o investimento privado que contribui para o desenvolvimento de Cuba.” 4 Castro mencionou especificamente o investimento privado em Cuba, o que é muito estranho para um chamado “comunista disfarçado”. As tentativas revelaram-se inúteis, pois os Estados Unidos e várias empresas não estavam convencidos de que Castro era um anticomunista. Do Anti-Imperialismo à Submissão ao Social-Imperialismo Durante o ano de 1961, Cuba fez tentativas de reforma agrária, as reformas geralmente visavam atacar as grandes empresas açucareiras sediadas nos Estados Unidos. O governo dos Estados Unidos ficou alarmado e imediatamente fez tentativas para derrubar Castro e manter o domínio do monopólio do açúcar em Cuba. A invasão da Baía dos Porcos foi lançada em 17 de abril de 1961, sendo a força de invasão composta por 1.500 exilados cubanos treinados pela CIA. A invasão terminou numa derrota embaraçosa para os Estados Unidos e fez disparar as tensões entre Cuba e os EUA. Em 1962, a URSS enviou uma delegação comercial a Cuba e o próprio Khrushchev disse a Castro que enviaria mísseis para defender Cuba. Agora, depois de todo este tempo, Castro afirmou que era de facto um marxista-leninista, um comunista e um aliado da União Soviética. “Sou marxista-leninista e serei marxista-leninista até aos últimos dias da minha vida.” 5 Pouco depois da crise dos mísseis cubanos, a União Soviética fez um acordo com Cuba denominado Acordo de Venda de Açúcar. Foram concedidos milhares de milhões de dólares em empréstimos, em troca Cuba compraria maquinaria agrícola à URSS a preços inflacionados. A razão? Triplicar a produção de cana-de-açúcar para exportação à URSS. Desde a implementação do plano em 1964, a produção de açúcar em Cuba aumentou de 3.400.000 toneladas de cana-de-açúcar para 10.000.000 toneladas de cana-de-açúcar planeadas em 1970. Quase 30% do total da economia foi investido na expansão da produção de cana-de-açúcar. Moinhos, fazendas, máquinas, ferrovias foram construídas para facilitar esta enorme indústria. O governo cubano retirou trabalhadores de todas as suas indústrias, 6 deixando para trás casas semi-construídas. Depois de toda esta frustração, em 1970 a produção de cana-de-açúcar aumentou em 8 milhões de toneladas e o governo cubano queimou todo o seu dinheiro, máquinas e homens, investindo-os na produção de açúcar. No ano seguinte, a produção de cana-de-açúcar caiu para o nível mais baixo da história de Cuba e o país devia à URSS 10 milhões de toneladas. 7 Isto levou a uma diminuição maciça na produção de gado, aves, aço, carvão e a uma redução de 20% da produção agrícola não açucareira. O governo cubano devia à URSS quase 2 mil milhões de dólares (cerca de 16 mil milhões de dólares em 2023) e teve a sua agricultura completamente arruinada pelo Plano do Açúcar. Em 1974, Cuba devia outros 5 mil milhões (cerca de 30 mil milhões de dólares em 2023) no total à URSS após o plano do açúcar. 8 Trabalhadores açucareiros indo para uma plantação (1960) Castro anunciou… que toda a sua nova política económica se baseava num aumento espectacular da produção de açúcar, com o objectivo de atingir 10 milhões de toneladas em 1970. A diversificação agrícola retrocedeu em vez de avançar. Por exemplo, a produção de arroz avançou para um ponto alto de 181.000 toneladas em 1957, dois anos antes de Castro, e caiu para 95.400 toneladas em 1962, após três anos de Castro. Cuba foi forçada a reorganizar toda a sua economia. 9 Em 1972, Castro intermediou outro acordo permitindo que o preço do açúcar fosse aumentado em 11 centavos por libra-peso. No entanto, este acordo fez com que Cuba nunca pudesse comercializar qualquer açúcar com outro país. Cuba dependia fortemente do comércio de açúcar com a URSS, que era a fonte de mais de 70% do seu rendimento, 10 levando à sua subjugação pelo imperialismo soviético. A ideologia de Cuba Castrismo A ideologia de Cuba é oficialmente chamada de “Marxismo-Leninismo”, no entanto isto não é uma afirmação dos ideais Marxistas-Leninistas mas sim uma mentira branca do governo. Castro tinha inúmeras crenças falaciosas e anti-marxistas, não se pode esquecer a quantidade de vezes que Fidel Castro admitiu apoiar a ideologia revisionista. O Castrismo é, simplesmente, a prática do “Marxismo-Leninismo” para as condições de Cuba, a ideologia do Castrismo contém as seguintes crenças (exclusivas); Foco ou Foquismo Uma tática de guerrilha originalmente desenvolvida por Che Guevara, mas também uma componente do Castrismo. Argumenta que em vez de um partido liderar a revolução, o povo deve pegar em armas nas zonas rurais e usar ações espontâneas contra os imperialistas. As principais figuras seriam “heróis” da revolução. 11 Foco tem sido criticado pelas suas posições idealistas. Foco afirma que os soldados guerrilheiros podem ter sucesso em quase qualquer lugar e separa as massas do partido. 12 Bolivarianismo O bolivarianismo é uma ideologia baseada nas ideias de Simón Bolívar criada na década de 1990, que defende a democracia representativa, um estado de bem-estar social (auto-descrito como socialista), o pan-latino-americanismo, o anti-imperialismo e o anti-feudalismo. Simon Bolívar foi um líder independentista na América do Sul e o primeiro presidente da “Grande (grande ou maior) Colômbia”. Simón Bolívar é comumente referido como uma figura da libertação nacional na América do Sul, mas isto é falso. Marx escreveu uma crítica a Simón Bolívar, retratando-o como um traidor. Mas o que havia de errado com Bolívar? Ele prometeu proibir a escravidão em nome do Haiti, mas traiu os haitianos no último segundo, liderou uma campanha militar contra os espanhóis, mas nunca substituiu os antigos aristocratas coloniais espanhóis e proprietários de terras que oprimiam o povo da América do Sul, Bolívar foi um assistente de o genocídio dos nativos americanos. Bolívar foi realmente uma fraude e a sua chamada atividade revolucionária na América do Sul é exagerada. 13 O papel educativo da vanguarda Estaline também falou sobre algo inicialmente semelhante à teoria de Castro chamada “reforma democrática”, que implicava a separação do partido do Estado para que os trabalhadores tivessem mais controlo sobre o Estado e eliminassem a burocratização. 14 No entanto, é evidente que Castro tinha pouco respeito por Estaline como comunista, como será discutido mais tarde. Castro tinha uma opinião bastante negativa sobre Estaline (a sua análise é bastante liberal), pelo que esta teoria provavelmente não se baseou na de Estaline, mas sim em Khrushchev. Brezhnev ou desenvolvido de forma independente. Nacionalismo Cubano e José Martí A Constituição cubana declara abertamente José Martí uma figura da libertação nacional em Cuba, isto é verdade. José Marti foi um revolucionário nacional anticolonial em Cuba, inspirando grandemente o nacionalismo cubano moderno. O nacionalismo pode de facto ser uma força progressista, o nacionalismo para nações e países oprimidos é perfeitamente bom e útil nas lutas de libertação nacional. Contudo, ao mesmo tempo, o nacionalismo não deixa de ser uma ideologia burguesa, e o nacionalismo nos países imperialistas ou na libertação pós-nacional é prejudicial e do lado imperialista pode ser chauvinista. 15 Castro apoiou o nacionalismo anos depois da revolução, o que o tornou num nacionalismo injustificado. ( 16 )( 17 ) Castro poderia estar insinuando aqui o patriotismo socialista, mas mais uma vez a teoria do patriotismo socialista foi promulgada por Estaline, de quem Castro tinha uma análise liberal, tornando isto improvável. Anti-stalinismo Comentários de Castro sobre JV Stalin: “cometeu erros graves – todos sabem do seu abuso de poder, da repressão, e das suas características pessoais, do culto à personalidade” “expurgar o Exército Vermelho devido à desinformação nazista” 18 Apoio de líderes/estados revisionistas Foto da reunião de Castro (esquerda) e Khrushchev (direita) Embora Khrushchev e Castro tivessem disputas entre si, Castro parecia ter respeito e admiração genuínos por Khrushchev, chegando ao ponto de elogiar o discurso secreto de Khrushchev. Comentários de Castro sobre Nikita Khrushchev: O líder da revolução cubana falou muito sobre as suas impressões sobre o seu reuniões com Khrushchev. Discutimos extensivamente diferentes problemas, ele disse. Este é um homem excepcionalmente inteligente, enérgico e gentil. O camarada Khrushchev é um organizador cuidadoso e bom. Ele tem um tremendo experiência na luta revolucionária e profundo conhecimento teórico enriquecido pela prática. Ele percorreu um longo caminho desde um mineiro até o líder do estado proletário. Khrushchev, disse Fidel Castro, mostra profunda preocupação com questões internas e problemas internacionais, particularmente para a questão da unidade do acampamento socialista. Este é um homem que trabalha muito e pensa no futuro. Ele está profundamente preocupado com os problemas de protecção da paz e do luta contra a corrida aos armamentos e contra uma guerra termonuclear. Khrushchev, Fidel Castro declarou, é um grande líder e um inimigo resoluto de imperialismo. 19 Brejnev Uma atitude semelhante é retratada em relação a Brejnev; Fidel Castro, que foi recebido com uma tempestade de aplausos, dirigiu-se ao reunião. Disse que os comunistas cubanos, que chegaram à URSS, fiquei tremendamente impressionado com o 26º Congresso do PCUS, com a vivacidade e profundo relatório, que foi apresentado no congresso pelo Secretário-Geral do Comité Central do PCUS, destacado internacionalista-leninista e fervoroso lutador pela paz, Leonid Brezhnev. O congresso do PCUS, disse Fidel Castro, é uma prova convincente da desenvolvimento confiante da economia da União Soviética, do elevado poder político consciência e firmeza ideológica do grande partido leninista. O relatório do Comité Central do PCUS foi o brilhante trabalho de Leonid Brezhnev contribuição para a causa da paz. Ele contém novos construtivos iniciativas, que já obtiveram resposta mundial. O fórum de comunistas soviéticos confirma mais uma vez que a URSS aparece como o grande campeão da paz e da liberdade. 20 Gorbachev Comentários sobre Mikhail Gorbachev (anotar após o colapso da URSS); “Não posso dizer que Gorbachev tenha desempenhado um papel consciente na destruição da União Soviética, porque não tenho dúvidas de que o objectivo de Gorbachev era lutar para aperfeiçoar o socialismo.” 21 “[Merlo] Você considera Gorbachev um traidor? [Castro] A história pronunciará o julgamento final sobre ele. Não quero ser o juiz de Gorbachev. Só posso dizer que durante o tempo em que o conheci ele se comportou de maneira amigável comigo. Ele parecia querer melhorar o socialismo, mesmo que o resultado final fosse diferente. Ele também o escreveu no seu livro “Perestroyka”, deixando claro que não era contra o socialismo, na verdade, queria mais socialismo. Parece-me, contudo, que agora há menos socialismo do que nunca na ex-URSS – e na verdade a URSS nem sequer existe mais. Alguém disse uma vez que o caminho para o inferno está cheio de boas intenções.” 22 China e Xi Jinping Comentários de Castro sobre Xi Jinping (um social-imperialista chinês). 23 “Se quisermos falar sobre socialismo, não esqueçamos o que o socialismo conseguiu na China. Houve uma época em que era a terra da fome, da pobreza e dos desastres. Hoje não há nada disso. Hoje a China pode alimentar, vestir, educar e cuidar da saúde de 1,2 mil milhões de pessoas.” 24 “Xi Jinping é um dos líderes revolucionários mais fortes e capazes que conheci na minha vida.” 25 Apoio aos líderes fascistas/imperialistas Castro tinha relações muito boas com o líder fascista Francisco Franco da Espanha, quando Franco morreu, Cuba realizou um memorial de 3 dias para ele. Após a morte de Franco, o correspondente da Agência Efe em Havana enviou um despacho repercutido em alguns dos jornais mais prestigiados do mundo, que dizia o seguinte: “Poucas horas depois da notícia da morte do General Franco, o Governo Revolucionário de Cuba decretou luto oficial por três dias. Desde quinta-feira as bandeiras estão hasteadas a meio mastro em todo o território cubano. [Traduzido do original em espanhol] 26 Cuba na década de 1980 também colaborou fortemente com o Derg etíope, um grupo de reaccionários fascistas que perseguiu revolucionários genuínos e cometeu atrocidades contra as massas no Corno de África. 27 O Derg fez-se passar por “Marxista-Leninista”, mas na prática era completamente o oposto. 28 Soldados cubanos se preparando para disparar fogo de artilharia contra soldados somalis (1977) Cuba enviou 50 conselheiros militares para treinar tropas do Derg e mais de 17.000 soldados cubanos para travar a guerra contra a luta de libertação nacional do povo somali na região de Ogaden. 29 Também ajudou o Derg contra a luta de libertação nacional da Eritreia. Ao contrário de Franco, Castro estava literalmente a ajudar os fascistas que cometiam terror em massa contra os povos da Etiópia. A Cuba moderna, além de apoiar o imperialismo chinês, também apoia a invasão russa da Ucrânia. Em 2014, Cuba reconheceu a Crimeia como parte da Rússia. 30 Em 2022, Cuba afirmou que os EUA criaram a guerra na Ucrânia e apoiaram a “autodefesa” da Rússia contra a expansão da NATO. 31 Política de Cuba Ditadura do Proletariado? Cuba não é uma ditadura do proletariado, a chamada ditadura cubana do proletariado é na verdade uma variante da ditadura burguesa nacional. Cuba, como todos os países capitalistas, é uma ditadura da burguesia, mas como exactamente? Primeira reunião do Congresso dos Sovietes A ditadura da burguesia é, em suma, o oposto da ditadura do proletariado. Lénine refere-se habitualmente a elas como “democracias burguesas”, mas o que separa uma ditadura do proletariado de uma democracia burguesa? A ditadura do proletariado é a continuação da luta de classes sob o socialismo, em oposição à teoria bukharinista de que a luta de classes “morre” ou cessa sob o socialismo. Lenine explica em “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky” que uma ditadura de classe é um estado em que a democracia foi abolida para as classes que são governadas ou restringidas, ou seja, uma forma de abolição. 32 Mas quem é a nova classe dominante? Quem é a nova classe oprimida? Através da ditadura de classe , o próprio proletariado é a nova classe dominante do Estado, a classe oprimida é a burguesia que controlava o Estado anterior. Para existir uma ditadura do proletariado, os funcionários do Estado devem ser democraticamente eleitos pelo proletariado e o Estado deve suprimir a burguesia, quer através da violência, quer através de meios não violentos, como a tributação ou a expropriação da propriedade privada. 33 Por que é importante entender isso? Embora alguns possam interpretar a nacionalização das indústrias na década de 1960 como um meio claro de expropriar a propriedade burguesa, surge um problema – o capitalismo de Estado como entidade não é socialismo. Em Cuba foi discutido anteriormente neste ensaio como o objectivo destas nacionalizações era, em primeiro lugar, conceder maior controlo das empresas estatais ao social-imperialismo Soviético, o objectivo dessas nacionalizações era expandir as forças produtivas para a crescente indústria açucareira. financiado pela URSS. Os líderes da revolução cubana de 26 de Julho eram representantes da burguesia nacional, embora possa ter havido elementos proletários nos exércitos guerrilheiros (como Ernesto Che Guevara, discutido mais adiante neste ensaio), foi no geral uma revolução burguesa. A Economia de Cuba Declínio durante a era da URSS É um mito comum que a economia esmagadoramente dominada pelo açúcar trouxe prosperidade a Cuba. O oposto é demonstrado pelo facto de ter surgido escassez de mão-de-obra e a produtividade ter diminuído na década de 1970. “A indicação mais clara de que algo estava errado foi a epidemia de absentismo em todo o país. O próprio Castro observou que, em Agosto e Setembro de 1970, cerca de 20% da força de trabalho estava ausente num determinado dia, enquanto em Oriente, em Agosto de 1970, 52% dos trabalhadores agrícolas não compareciam ao trabalho. . . . Os baixos níveis de produtividade indicavam também que os incentivos morais não estavam a funcionar e que muitos trabalhadores já não respondiam aos constantes apelos ao patriotismo. . . . Além disso, parecia que os serviços gratuitos que o regime agora prestava nos cuidados de saúde, educação, transportes, segurança social e até chamadas telefónicas locais não eram suficientes para compensar a falta de bens nas lojas e os desconfortos da vida quotidiana. Em 1970. . . ficou claro que este modelo político não estava funcionando bem. Os sinais mais evidentes foram o absentismo generalizado e os baixos níveis de produtividade registados”. 34 Cuba colocou-se numa posição muito má em meados da década de 1980, envolta em tantas dívidas e miséria que o empréstimo de dinheiro forçou uma menor qualidade de vida aos cidadãos cubanos. “Em meados dos anos 80. . . um declínio acentuado (no produto social global –Ed.) era evidente. . . . Em 1986, Cuba tinha um défice recorde de mais de 199 milhões de dólares. . . . Além disso, o crédito do Ocidente caiu devido à incapacidade de Cuba de pagar a sua dívida acumulada de mais de 6 mil milhões de dólares. Em meados dos anos 80, um sentimento generalizado de descontentamento espalhou-se especialmente entre a população urbana e começou a reflectir-se de forma um tanto cautelosa em sectores da imprensa”. 35 A economia e os meios de subsistência dos cubanos caíram tristemente em 1987. “O Banco Nacional de Cuba, de propriedade estatal. . . informou que a dívida externa global do país aumentou em 672 milhões de dólares durante 1987 e . . totalizaram US$ 5,57 bilhões” 36 “Para reduzir os subsídios estatais, as tarifas de autocarro foram aumentadas em 100% e as tarifas de electricidade em 40%”. 37 TODOS OS ALIMENTOS SERÃO RACIONADOS, TODOS OS CUBANOS DEVEM SACRIFICAR, como disse Castro em seus discursos. Oitenta e cinco por cento de todo o comércio foi com a URSS e o bloco oriental, a maior parte da ajuda veio do COMECON. O próprio Raul Castro reconheceu que sem a URSS, Cuba estaria à beira da falência. “Sem a assistência soviética, Cuba enfrentaria um 'desastre económico e falência' com a sua 'sequência de pessoas famintas e centenas de milhares de desempregados'” 38 “Um total de 85% do comércio exterior de Cuba desmoronou em questão de meses”. 39 A dependência da URSS era tão grande que em 1992 um jornal italiano entrevistando Fidel Castro noticiou; Os nossos problemas básicos são o bloqueio económico e o desaparecimento do campo socialista. Cerca de 85% do nosso comércio foi com esses países. O valor do nosso açúcar de facto equilibrou o custo do petróleo que obtivemos da URSS… Esse comércio quase desapareceu com o desaparecimento dos países socialistas. Tivemos que nos voltar para novos mercados. Perdemos importações, crédito e tecnologia, e procurámos combustível, matérias-primas e medicamentos noutros lugares. 40 Após a Queda da URSS Cuba tornou-se uma marionete do imperialismo chinês e russo, ao mesmo tempo que decidiu recorrer à indústria do turismo. Da mesma forma, o governo cubano ainda insiste em investimentos para a maior parte das suas receitas, como demonstra a zona especial de desenvolvimento de Mariel. 41 Cuba, como resultado destes planos de investimento contínuos, mesmo após a queda da URSS, deve mais 26 mil milhões de dólares em dívida externa. Cuba iniciou lentamente um caminho de reformas neoliberais. As chamadas “empresas democráticas” É uma premissa falsa que Cuba tenha “empresas socialistas de propriedade democrática”, que de alguma forma as empresas em Cuba sejam na verdade controladas democraticamente pelos trabalhadores. Em primeiro lugar, porém, estas empresas foram inicialmente criadas pela União Soviética e não pelo governo cubano. Em segundo lugar, as empresas em questão actuam numa questão capitalista; Um novo sistema de gestão e planeamento económico de estilo soviético foi gradualmente introduzido na segunda metade da década de 1970. . . . O novo sistema económico utiliza instrumentos de mercado. . . · As empresas estatais foram descentralizadas. . . e desfrutar de mais independência para contratar e despedir trabalhadores, solicitar empréstimos e tomar decisões de investimento. Junto com isso, eles são responsabilizados. . . gerar lucro. A eficiência das empresas cubanas é medida por um conjunto de indicadores, sendo o lucro o principal deles. 42 Uma coisa adicional a notar é que os gestores do Estado não são eleitos directamente, mas sim indirectamente eleitos pelo Estado, um Estado com representantes burgueses revisionistas no poder. Torna-se cada vez mais claro que a economia cubana, 80% da qual é ditada pelo Estado, também é ditada por potências estrangeiras. Na década de 1970, as chamadas empresas estatais tinham autonomia suficiente para contratar e despedir trabalhadores e contrair empréstimos. O objectivo aqui era copiar as Reformas Kosygin da URSS. “Um novo sistema de gestão e planeamento económico ao estilo soviético foi gradualmente introduzido na segunda metade da década de 1970. . . . O novo sistema económico utiliza instrumentos de mercado. . . · As empresas estatais foram descentralizadas. . . e desfrutar de mais independência para contratar e despedir trabalhadores, solicitar empréstimos e tomar decisões de investimento. Junto com isso, eles são responsabilizados. . . gerar lucro. A eficiência das empresas cubanas é medida por um conjunto de indicadores, sendo o lucro o principal deles”. 43 Sempre que um país imperialista pede a Cuba algo como o açúcar, Cuba abandona tudo para o financiar. As empresas estatais em Cuba não valem nada se o proletariado não estiver no controle do seu próprio governo, as empresas estatais não são iguais ao socialismo, o que separa o capitalismo de estado do socialismo é que no socialismo o proletariado é quem dita e suprime o burguesia, e não o contrário, como mostrado em Cuba. Propriedade Agrícola em Cuba O próprio Castro admite a propriedade privada na indústria agrícola: “Não existem regimes ou sistemas totalmente puros. Em Cuba, por exemplo, temos muitas formas de propriedade privada. Temos centenas de milhares de proprietários de fazendas. Em alguns casos, eles possuem até 110 acres. Na Europa seriam considerados grandes proprietários de terras. Praticamente todos os cubanos possuem casa própria e, além disso, acolhemos com satisfação o investimento estrangeiro”. 44 Apesar de afirmar ter nacionalizado a maioria das explorações agrícolas, ainda existem centenas de explorações agrícolas privadas e, no entanto, existem muito poucas explorações colectivas. Maior neoliberalização da economia cubana Na década de 2000, o mercado do açúcar entrou em colapso total, metade de todas as usinas de açúcar fecharam e foram transformadas em locais turísticos. No entanto, o governo cubano ainda insiste firmemente em comprar a saída desta situação através de empréstimos das potências imperialistas. A China, a Rússia, os membros das nações do Clube de Paris, o México e outros ofereceram dezenas de milhares de milhões de dólares a Cuba.( 45 )( 46 )( 47 )( 48 ) Cuba tem então as dívidas “perdoadas”, o que implica que já foram investidas em diversas indústrias, o que como sabemos é uma característica do imperialismo. (3) a exportação de capitais, distinta da exportação de mercadorias, adquire uma importância excepcional; As principais esferas de investimento do capital britânico são as colónias britânicas, que são muito grandes também na América (por exemplo, Canadá), para não mencionar a Ásia, etc. , de cuja importância para o imperialismo falarei mais tarde. No caso da França a situação é diferente. As exportações de capital francês são investidas principalmente na Europa, principalmente na Rússia (pelo menos dez mil milhões de francos). Trata-se principalmente de capital de empréstimo, empréstimos governamentais e não de capital investido em empreendimentos industriais. Ao contrário do imperialismo colonial britânico, o imperialismo francês pode ser denominado imperialismo da usura. No caso da Alemanha, temos um terceiro tipo; as colónias são insignificantes e o capital alemão investido no estrangeiro é dividido de forma mais equitativa entre a Europa e a América. A exportação de capital influencia e acelera enormemente o desenvolvimento do capitalismo nos países para os quais é exportado. Embora, portanto, a exportação de capital possa tender, até certo ponto, a travar o desenvolvimento nos países exportadores de capital, só o poderá fazer expandindo e aprofundando o desenvolvimento do capitalismo em todo o mundo. 49 Em 2011, Raul Castro proclamou publicamente “devemos mudar de rumo”, o sexto congresso do Partido Comunista de Cuba explicou que a economia cubana iria ser ainda mais neoliberalizada, 50 as reformas incluíam: Abertura do emprego não estatal para o trabalho autônomo Maior autonomia para empresas estatais Arrendamento de empresas estatais a trabalhadores independentes Legalização da compra e venda de casas e carros Mudanças no emprego E mais 51 Miguel Diaz Canel, que se tornou o novo presidente da república cubana em 2019, afirmou que a constituição cubana seria revista posteriormente para incluir ainda mais “liberalização” que começou em 2011. O projecto de constituição trouxe muitas coisas, mas principalmente concedeu maior liberdade para empresas privadas.( 52 )( 53 ) Outras reformas e preocupações bastante menores: Cuba assina dois tratados de direitos da ONU. 54 Cuba permite que os agricultores comprem equipamentos. 55 Cuba planeja descentralizar o setor agrícola. 56 As fazendas cubanas podem ter salários ilimitados. 57 Cuba paga aos trabalhadores com base no desempenho, diz que Karl Marx estava errado. 58 Cuba vai descentralizar projetos de construção. 59 O presidente Raul Castro concede direitos à terra aos agricultores. 60 FONTES: Notícias da NBC. “Arquivos MTP75 - Fidel Castro: 'Não sou comunista'”, 5 de novembro de 2022. https://www.youtube.com/watch?v=FHuFutpq-3Q . ↩︎ Descuderovalle. “FIDEL CASTRO Mintiendo 'Não sou comunista nem ditador' (7 ocasiões)”, 31 de dezembro de 2017. https://www.youtube.com/watch?v=ZiVXFQILh0I . ↩︎ Karl Marx e Frederico Engels. “Manifesto Comunista (Capítulo 4),” 1848 https://www.marxists.org/archive/marx/works/1848/communist-manifesto/ch04.htm . ↩︎ Relatório Hispano-Americano, maio de 1959. ↩︎ Discurso no aniversário do desembarque do Granma (2 de dezembro de 1961) ↩︎ “Castro Speech Data Base – Latin American Network Information Center, LANIC,” nd http://lanic.utexas.edu/project/castro/db/1968/19680314.html. ↩︎ Carmelo Mesa-Lago “Cuba na década de 1970”, 1974 https://www.google.com/books/edition/_/I0hqAAAAMAAJ?hl=en&gbpv=0. ↩︎ Tsokhas, Kosmas. “A economia política da dependência cubana da União Soviética.” Teoria e Sociedade 9, não. 2 (1º de março de 1980). https://doi.org/10.1007/bf00207281 . ↩︎ Arquivo da Internet. “Castroísmo, teoria e prática: Draper, Theodore, 1912-2006: download gratuito, empréstimo e streaming: arquivo da Internet”, 1965. https://archive.org/details/castroismtheoryp0000drap . ↩︎ Pollitt, Brian e Brian Pollitt. “Do açúcar aos serviços: uma visão geral da economia cubana MR Online.” MR Online , 13 de fevereiro de 2019. https://mronline.org/2010/10/06/from-sugar-to-services-an-overview-of-the-cuban-economy/ . ↩︎ Che Guevara “Guerrilha” CheGuevara.Org (1961) https://www.cheguevara.org/Guerrilla-Warfare.pdf ↩︎ Lenny Wolff “Guevara, Debray e o Revisionismo Armado” Bannedthought (1985) https://www.bannedthought.net/Cuba-Che/Guevara/Guevara-Debray-Wolff.pdf ↩︎ Marx. “Karl Marx na Nova Enciclopédia Americana 1858,” https://www.marxists.org/archive/marx/works/1858/01/bolivar.htm . ↩︎ Grover Furr “Stalin e a luta pela reforma democrática” 2005 http://web.archive.org/web/20180318131306/http://marxism.halkcephesi.net/Grover%20Furr/index.htm Pt 2: http:// web.archive.org/web/20180606230142/http://marxism.halkcephesi.net/Grover%20Furr/stalin_1.htm Zona Especial de Desenvolvimento Mariel. “Zona Especial de Desenvolvimento Mariel”, 31 de agosto de 2021. https://www.zedmariel.com/en. ↩︎ (Carmelo Mesa-Lago: op. cit.; p. 29-30). ↩︎ (Carmelo Mesa-Lago: op. cit.; p. 29-30). ↩︎ “FBIS-LAT-94-003-A Relatório Diário 5 de janeiro de 1994 ANEXO Cuba” https://web.archive.org/web/20230315121815/http://lanic.utexas.edu/project/castro/db/1994/ 19940105.htm l ↩︎ MOSENDZ, Polly. “Putin anula 32 mil milhões de dólares das dívidas de Cuba à Rússia.” The Atlantic , 12 de maio de 2022. https://www.theatlantic.com/business/archive/2014/07/russia-writes-off-32-billion-in-cuban-debt/374284/ . ↩︎ Raposa, Kenneth. “A China perdoou quase 10 mil milhões de dólares em dívidas. Cuba é responsável por mais da metade.” Forbes , 29 de maio de 2019. https://www.forbes.com/sites/kenrapoza/2019/05/29/china-has-forgiven-nearly-10-billion-in-debt-cuba-accounts-for-over -metade/ . ↩︎ Equipe, Reuters. “O México afirma que renunciará à maior parte da dívida de 487 milhões de dólares de Cuba.” EUA , 1º de novembro de 2013. https://www.reuters.com/article/mexico-cuba-idUSL1N0IM15320131101 . ↩︎ Thomas, Marc Frank Leigh. “Exclusivo – Acordo da Dívida de Cuba: Termos Fáceis, mas Penalidades Severas se Atrasar Novamente.” EUA , 15 de dezembro de 2015. https://www.reuters.com/article/us-cuba-debt-exclusive-idUSKBN0TY23C20151215 . ↩︎ Vladimir Llyich Lenin, “Imperialismo, o Estágio Mais Alto do Capitalismo Um Esboço Popular” Arquivo marxista na Internet (1917) https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1916/imp-hsc/imperialism.pdf Pg 66 e 47 ↩︎ Partido Comunista da Índia (marxista). “Raul Castro no 6º Congresso do PC Cubano”, 2 de fevereiro de 2012. https://cpim.org/content/raul-castro-6th-congress-cuban-cp . ↩︎ Google Livros. “Desenvolvimento Econômico e Social Cubano”, e https://books.google.ca/books?id=liaWuAAACAAJ&redir_esc=y . ↩︎ “Constituição de Cuba 2019 – Constituir”, nd https://www.constituteproject.org/constitution/Cuba_2019 . ↩︎ COHA. “Constituição Cubana de 2019”, 21 de novembro de 2019. https://coha.org/cuban-constitution-of-2019/ . ↩︎ EDITH M. LEDERER “Perez Roque assina dois tratados de direitos humanos da ONU | Jornal Havana.” Reuters, (2008) https://web.archive.org/web/20191209042024/http://havanajournal.com/politics/entry/perez-roque-signs-two-un-human-rights-treaties/ . ↩︎ Marc Frank “Cuba permitirá que agricultores comprem equipamentos agrícolas | Jornal Havana.” Reuters, (2008) https://web.archive.org/web/20191208174029/http://havanajournal.com/business/entry/cuba-to-allow-farmers-to-buy-farm-equipment/ . ↩︎ Marc Frank “Setor agrícola descentralizado de Cuba” | Jornal Havana.” Reuters, (2008) https://web.archive.org/web/20191212110134/http://havanajournal.com/forums/viewthread/823/ ↩︎ http://www.msnbc.msn.com/id/23907266/ (link atualmente fora do ar) ↩︎ WILL WEISSERT “Depois de 50 anos, Cuba finalmente começa a perceber que Karl Marx estava errado | Jornal Havana.” Havana Journal, 11 de junho de 2008. https://web.archive.org/web/20191209180713/http://havanajournal.com/business/entry/after-50-years-cuba-finally-starting-to-realize- aquele-karl-marx-estava-errado/ . ↩︎ https://web.archive.org/web/20221206230303/http://havanajournal.com/business/entry/cuban-government-to-decentralize-construction-projects (link atualmente desativado) ↩︎ ———. “Presidente Raul Castro permitirá concessões de terras agrícolas a Cuba por 10 anos | Jornal Havana.” Havana Journal, 21 de julho de 2008. https://web.archive.org/web/20191209022432/http://havanajournal.com/business/entry/president-raul-castro-to-allow-cuban-farm-land- subsídios por 10 anos/ . ↩︎

Jones Manoel: Erros Férteis, Acertos Estéreis? Lúcio Emílio do E. S. Júnior

Jones Manoel: Erros Férteis, Acertos Estéreis? Lúcio Emílio do E. S. Júnior Ao analisar o texto do ativista e professor Jones Manoel sobre a estratégia nacional-libertadora do PCB, encontramos essa estratégia utilizada entre 1933-1964 como sendo um “erro fértil”, conceito em si bastante infeliz. Na bibliografia a respeito da obra do historiador pernambucano, nota-se as seguintes características errôneas de seu pensamento: 1) tudo é marxismo, nada é revisionismo; 2) a prática é liberal, FINGE que “todos são bons”. 3) Associa de forma errônea Rui Marini e Lênin. Na obra de Lênin não há as distinções criadas por Marini, tais como subimperialismo (também inventado pelos dependentistas trotskistas e inexistente em Lênin), bem como um diferente conceito para país dependente e país semicolonial. Os conceitos, na obra leniana, equivaliam-se. Para Jones, Brasil é dependente e Burkina Faso, semi-colonial. A conceituação parece dar a entender que um país é mais avançado do que o outro. Como alguém em São Paulo, em Buenos Aires, na USP, poderia imaginar que está num país tão atrasado como Burkina Faso? 4) sobrevivências trotsquistas, tais como a ideia da revolução sem etapas, direto ao socialismo. Embora ele dialogue com o “Ontocast”, a marxologia acadêmica, dialoga também com o trotsquismo do PSTU (com uma assombração que repete blá blá blás eleitoreiros), em especial sua variedade acadêmica. De forma bem sintomática, Jones recusa-se a permanecer em grupos em redes sociais que não são de sua linha, mas permanece junto a Valério Arcary, segundo suas próprias palavras, em vários grupos. E justamente próximo ao Arcary que, junto de Sean Purdy, disseminaram na mídia a pecha de stalinista para cima de Jones. Jones não é de forma alguma marxista-leninista-stalinista, no sentido de reconhecer que Stalin desenvolveu e aplicou o marxismo-leninismo em sua época e que o trotsquismo foi dissidência do leninismo. Em entrevista recente, no entanto, ele ridicularizou a linha albanesa. Ao tratar do PC do B, uma tendência externa do PT na atualidade, associa o nacionalista de direita Aldo Rebelo à origem teórica e prática do PC do B, citando o maoismo e hoxhaísmo. Só faltou supor que Aldo Rebelo apoiaria a guerrilha do Araguaia. Nessa mesma conversa, Jones se autoelogia, dizendo-se “a cara do povo brasileiro”. No entanto, na verdade, ele é a cara do academicismo marxólogo brasileiro, que demonstra esse desprezo com a linha albanesa e essa associação nefasta do reacionário Aldo Rebelo ao PC do B maoísta e horrendo mesmo para a degeneração hoxhaísta posterior. O primeiro é chamar de PCB o que está analisando. O nome oficial do partido que ele analisou é Partido Comunista do Brasil, Seção da Internacional Comunista. Jones, partindo de uma simpatia por Fidel Castro e Chávez no início de sua trajetória, teve contatos com o trotskismo morenista, como PT e optou em passar para a influência da “geração que superou o stalinismo no PCB”: fez um estudo sobre o pensamento de Carlos Nelson Coutinho, expoente do revisionismo soviético pós-62. Mas porque Jones Manoel realizou essa longa exposição sobre a estratégia nacional-libertadora dos comunistas e considerou-a errada e fértil ao mesmo tempo? Errada porque não é ele que a implementou. Fértil porque Jones Manoel tem obtido sucessos ao prescrevê-la falando em Chávez, Lula, Clóvis Moura, Reinaldo Azevedo, Evo Morales, Mamãe Falei, Valério Arcary, Kim Kataguiri, Fidel Castro, Marini, Mao Tsé, Florestan, Trotsky, Bambirra, Fanon, Brizola, Stálin, Losurdo, etc. Felizmente, Mauro Iasi e Sofia Manzano foram excluídos desse panteão... Por fim, o pensamento de Jones está sempre oscilando entre dois polos: trotsquismo (ontocast, pstu) e reformismo nacionalista (Castro, Chávez, etc.). Errou novamente, redondamente, ao chamar Vargas de “burguesia industrial”. Somente o bom entendimento do maoismo permite entender que Vargas é expoente maior, no país, do capitalismo burocrático. E esse erro rotundo esteve no centro desse artigo de Jones Manoel. Ao artigo falta a revolta de Trombas e Formoso, bem como a guerrilha de Dianópolis. O revolucionário Jones só quer saber de eleição e nada de revolução, sonha com a viabilidade eleitoral de um “reformismo forte”, enquanto apodrece impotente nas franjas do lulismo. Só há espaço para política eleitoral. Jones, na prática, ilude-se com a ideia de que estavam, nos anos 60, estavam caminhando para uma revolução brasileira. Desde 1945 a direita já depôs Vargas violentamente, inspirada pelos seus antigos aliados, o capitalismo yankee, ao qual ele é tão fiel que nem nomeia na sua Carta Testamento. E afinal, ao fim de toda exposição de Jones, chegamos a 64, como não deixar de concluir que estamos no mesmo dilema de 64? Há ameaça de golpe, mas a esquerda não consegue responder com a resistência armada, não tem estratégias efetivas de como resistir se acaso ele vier. A confiança da “esquerda institucional (na verdade, direita liberal) é na Globo que apoiou golpes em 54 e 64, é em magistrados midiáticos, etc. Vivemos a eterna transição do regime de 64 para a democracia. Um erro, uma vez fértil, poderá reproduzir novos erros. Com isso ele quer dizer que é um erro, mas que mesmo assim deu resultados que ele admira. Na segunda parte do texto ele aborda um tema com o qual ele tem evidente má vontade, o tal “stalinismo”. Para tratar do tema, ele primeiro elogia o papel progressista de Stálin e logo a seguir, ataca: Dito isso, compreendemos como stalinismo, enquanto fenômeno mundial fora da URSS, a tendência ao taticismo e suas consequências derivadas como o empobrecimento do marxismo e dinâmicas de monolitismo teórico. A estratégia é o objetivo final e a tática os diversos “passos” até que se alcance o objetivo estratégico. Teoricamente, a estratégia conduz a tática, e a análise teórica – o fundamento de ambos – deve ser usada constantemente para corrigir rumos equivocados. O taticismo é uma inversão dessa relação, onde as diversas táticas vão se sucedendo sem coerência teórica (grifo nosso) e com a estratégia; e a estratégia torna-se uma justificativa a posteriori para as diversas ações políticas – tudo isso no quadro de um empobrecimento geral do marxismo e de relativa burocratização das estruturas de organização política (MANOEL, 2024). Haveria, então, um stalinismo como fenômeno interior da URSS e outro fenômeno EXTERNO. Um mais aceitável, interno, benigno e outro mais nefasto, o que atinge de fato o Brasil. Felizmente Jones considera a burocratização apenas relativa, pois verificamos, posteriormente, qual são de fato as consequência de um burocrata no poder e o empobrecimento da discussão com a simples introdução de ideias liberais no lugar do marxismo. E ele vai mais longe, secundado sempre pelo revisionista Lukács: Não quer e não posso aqui abordar toda a questão, mas é certo que Stálin, nos anos que se seguiram, prosseguiu de fato (ainda que não na argumentação) na linha de Trotski e não na linha de Lênin. Assim, se mais tarde Trotski acusou Stálin de ter-se apropriado do seu programa, pode-se dizer que neste ponto, em muitos aspectos, ele tinha razão. Aquilo que hoje consideramos despótico e antidemocrático na época staliniana tem ligações estratégicas bastante estreitas com as idéias de Trotski (grifo nosso) (MANOEL, 2024) A descoberta de que Trotsky X Stálin é falsa polêmica, narcisismo das pequenas diferenças, porque afinal, um tomou o programa do outro tranquilamente, sendo ambos não-leninistas autoritários, é o cúmulo da mistificação jonesiana. Mas há mais, há mais. Para poder identificar que nem Trotsky e nem Stálin são leninistas, ESSE OLHAR DE LUKÁCS E JONES MANOEL tem de ser a verdadeira linha leninista, que Trotsky e Stálin não foram capazes de enxergar, mas LUKÁCS e JONES MANOEL foram!!! Incrível, não? A seguir, Jones define que no período em que Stálin dirigiu o partido comunista, o partido, quase se de forma mística e irreal, também obtinha vitórias ao cometer “erros férteis”, possivelmente praticando o “taticismo”. No entanto, ele não está descrevendo o que ocorreu no período Stálin e sua própria falta de coerência teórica. Ele não está falando de Stálin e sim do oportunismo. E justifica-se com teorizações forçadas aqui que de fato der certo na prática. E a prática é algo bem comezinho. Então, justifica-se, por exemplo, o ataque a Ciro Gomes em prol do apoio ao lulismo. É difícil fundamentar, mesmo em um texto de Lênin como O Esquerdismo, uma atitude passional de marxistas em época de eleições. Mesmo naquele período já superado, uma vez que estamos no período do desmoronamento do imperialismo, eleições eram, para marxistas, apenas para educar o povo e exibir os pontos de vista do marxismo às massas. Jamais disseminar ilusões e fazer da disputa entre projetos de diferentes setores burgueses algo que desperte paixões no proletariado. Na época de eleições, tanto Jones quanto Ian Neves e Humberto Matos adotaram essa posição passional. Para Ian, Ciro era chamado de “cringe gomes” e Humberto Matos entrava em devaneios, dizendo que se alguém era “rico” (mesmo dono de padaria) estava assumindo bolsonarismo e as moças que ali atendiam, eram “petistas”. A luta de classes, burguesia x proletariado, ESTARIA ALI posta na disputa lulismo x bolsonarismo. NÃO! Nada mais deseducativo para as massas, nada mais “má-infuencer” e “emburrencer”. No entanto, os ganhos efetivos oriundas da posição de puxador de voto do lulismo é que justificam-se com a teoria de cortina de fumaça das teorizações. É Lukács que teoriza essa qualificação do período Stálin como “taticismo”. No entanto, podemos dizer que é Lukács que efetivamente fez isso, mudando de posição e reajustando as teorias para, na prática, estar sempre de acordo com a linha predominante no Comitê Central: é o “mago da linha justa”. Embora Stálin também tenha cometido erros férteis, Jones considera que a oposição Trotsky x Stálin é uma falsa polêmica. Talvez Trotsky comenta erros férteis ou, quem sabe, numerosos erros, por sua vez, estéreis. Colocando em pratos limpos, não há sentido algum nessas especulações de Lukács: por exemplo: se o objetivo era derrotar Japão e Alemanha nazista, a estratégia era não lutar em duas frentes, derrotar um inimigo de cada vez, a tática era firmar um pacto provisório com Hitler, enquanto buscava-se vencer a guerra no Oriente, com o Japão. E assim foi feito, quebrou-se o eixo. E nisso o PC dirigido por Stálin foi muito bem sucedido. Houve acerto, simplesmente. Não foi mobilizada teoria alguma para justificar o pacto provisório com a Alemanha nazista. Não se afirmou que “Hitler era mais revolucionário do que a Inglaterra”, o que seria deseducar as massas e constituiria um absurdo. Mas Jones prossegue: O conteúdo da teoria fica restringido por sua instrumentalização, transformando em práticas acessórias os processos de busca do conhecimento e de pesquisa. A teoria, assim, corre o risco de perder o seu caráter de cientificidade (grifo nosso), quando a ausência de críticas às premissas teóricas utilizadas na política passa a ser um pressuposto. As diversas disputas no PCUS, especialmente após a morte de Lênin, a confrontação fratricida entre o grupo que dirigiu a revolução – sendo a disputa entre Trotski e Stálin a mais famosa, mas de modo nenhuma a única –, o cerco da União Soviética, as diversas viradas na política interna (como a passagem da Nova Política Econômica, a NEP, até a coletivização forçada e a industrialização acelerada) e a perseguição a intelectuais, artistas e outros pensadores, especialmente a partir da segunda metade de 1930, criaram uma dinâmica de mudanças teóricas, táticas e estratégicas bruscas, não debatidas sob nenhum fundamento, e naturalizadas como se tudo sempre tivesse sido assim (MANOEL, 2024, grifo nosso). Como uma teoria corre o risco de perder até seu caráter científico e não perde, obtendo acertos e não erros férteis? Ou uma teoria é científica ou não é, não há como expor a risco e não perder. Se não vai existir crítica às premissas, alguém vai decidir por todos, um ditador personalista e caprichoso. É isso que Jones está dizendo. A disputa entre Trotsky e Stalin nunca foi fratricida, Trotsky nunca foi bolchevique, entrou no partido em julho de 1917 e em outubro de 1927 já esteve inspirado um levante armado contra o partido. O cerco da União Soviética passou a ser um elemento elencado, de forma nonsense, ao lado da coletivização, como se fosse uma alternativa sofrer cerco ou não. As tais “diversas viradas na política interna” são vistas como erros, mas a NEP é do tempo de Lênin, apenas foi encerrada por Stálin. O erro seria de Lênin e não de Stálin. Igualmente, Lênin advogou a coletivização no campo. As mudanças, mesmo bruscas, feitas por um ditador, sem ser debatidas, forçadas, aceleradas, mesmo assim não impediram que as fomes periódicas fossem erradicadas, o país derrotasse o nazismo e, numa “virada brusca”, virasse potência mundial. O acerto torna-se erro, erro não tão fértil. O festival de besteira que assola a nós, o povo soviético, continua: Era comum nos tumultuados anos 30 afirmar, por exemplo, que a Inglaterra e a França não se diferenciavam, em substância, do nazifascismo, dado seu domínio colonial e, pouco tempo depois, falar o exato contrário sem explicar a radicalidade da mudança; ou então, em 1933 um líder ser considerado uma grande referência do proletariado e no ano seguinte, um traidor excomungando. O PCUS construiu (e ajudou a exportar para outros partidos comunistas) uma cultura política com tendência a ver a ciência como uma questão de segurança de Estado, a teoria como justificação da prática, as obras de Marx, Engels e Lênin como a fonte de legitimidade da política do momento. Em suma, uma prática teórico-política estaticista (MANOEL, 2024). O problema aqui é explicar porque a Inglaterra e França foram aliadas da URSS, uma vez que são potências imperialistas. Por que se tornaram aliadas? Alguém em sã consciência disseram que deixaram de ser imperialistas e colonialistas? Por que os soviéticos foram atacados e elas também, quem sabe? Ou alguém iria supor que, se a União Soviética aliou-se a França e Inglaterra, já não eram mais imperialistas e colonialistas. Porque tinham em comum a ideia de democracia, de Iluminismo, quem sabe. No final dos anos 30, artistas e intelectuais não foram perseguidos SIMPLESMENTE por serem artistas e intelectuais, mas por serem envolvidos com levantes, espionagem, sabotagem. Existiu um poder judiciário, essas pessoas foram julgadas. As obras de Marx, Engels e Lênin deveriam ser refutadas como fonte de legitimidade de uma... política marxista-leninista, afinal! Aqui insinua-se que a política NÃO era marxista-leninista, ou seja, só pode ser burguesa e liberal, o que é falso, visceralmente. Quem enuncia essas palavras, Lukács e, logo, Jones Manoel, que as referencia como orientação, é quem é na verdade orientado por um pensamento burguês liberal e não marxista. Jones Manoel, bem como Lukács, tendem a ser burgueses liberais, social-democratas de linguagem marxista. Aí sim! Em 1933 um líder era considerado uma referência do proletariado e no ano seguinte, traidor excomungado. Aqui, cremos que ele está referindo-se a Bukharin, que defendeu os grandes fazendeiros da coletivização, tornando-se oposição e, em 37 (não no ano seguinte), foi julgado por traição, mas com evidências. Aqui, o “stalinismo” já não é problema apenas externo, mas é erro fértil de exportação do partido da União Soviética. A sua cultura política vê ciência como questão de segurança de estado. Vejamos de onde Jones está tirando isso, a “clássica” Carta Sobre o Stalinismo onde Lukács “explicou”: Começo por uma questão de método, aparentemente muito abstrata: a tendência staliniana é sempre a de abolir, quanto possível, todas as mediações, e a de instituir uma conexão imediata entre os fatos mais crus e as posições teóricas mais gerais. Precisamente aqui, aparece claramente o contraste entre Lênin e Stálin. Lênin distinguia com clareza entre a teoria, a estratégia e a tática, estudando-as sempre com o maior cuidado e levando em conta todas as mediações existentes entre elas e que frequentemente as relacionam de modo muito contraditório (…) A autoridade pessoal de Lênin resultara das grandes ações e importantes realizações teóricas a ele devidas, tornando-se algo que chamaríamos de ‘natural’; Stálin, que não dispunha da mesma autoridade que Lênin, achou um modo de dar uma justificação imediatamente evidente de todas as suas medidas, apresentando-se como a consequência direta e necessária da doutrina marxista-leninista (grifo nosso). Para conseguir isso, precisou suprimir todas as mediações e estabelecer ligações imediatas entre a teoria e a prática. Por esta razão, tantas categorias de Lênin desaparecem do horizonte de Stálin; o próprio recuo aparece neste como um avanço” (LUKÁCS, 1977, p. 6, apud: MANOEL, 2024). No entanto, o próprio Lukacs escrevera que Stalin desenvolveu e aplicou o marxismo-leninismo. Como se dava, na prática, algo como Lukács está explicando? Para ele, existiu uma necessidade de mediação entre fato cru e posições teóricas mais gerais. Então, se existe o fato cru de que Lênin propõe mobilizar massas camponesas, aliança proletário-camponesa, deveríamos pensar na “mediação” quando notamos que esse ponto separa o pensamento de Lênin e o de Trotsky? Ou aí estaríamos abolindo as mediações? A mediação seria dizer que não, não existe diferença entre o pensamento de um e de outro nesse ponto? Ora, ora, isso é mais um erro infértil mesmo, mais um nonsense saído da pena de Jones Manoel do que qualquer outra coisa. Por que Stálin não dispunha da mesma autoridade que Lênin? Subiu num golpe militar? Matou Lênin com veneno? Impediu Trotsky (esse sim tinha autoridade?) de assumir o cargo enquanto caçava patos na Geórgia? E ao final, quando argumenta que Stálin apresentava suas medidas como consequência do marxismo-leninismo, ele parece querer negar que Stálin sistematizou o leninismo em Fundamentos do Leninismo. Lukács, de forma enganosa, pressupõe que suas medidas não são consequência direta do marxismo-leninismo, são algo diferente, são emanadas de forma errônea por um ditador que rompeu com Marx e Lênin e criou o abstruso e monstruoso “stalinismo”. Seguindo o raciocínio acima, como os “fatos” mudam muito rápido, a “teoria” vai os acompanhando, variando sem muita coerência, sempre proclamando uma fidelidade formal à estratégia. Lukács não trabalha com a visão muito difundida na atualidade de uma abordagem personalista e demonizadora de Stálin. Considera as condições objetivas que formaram o stalinismo, tratando-o como um sistema, não nega méritos prático-políticos e teóricos ao líder da URSS e desconsidera Leon Trótski como uma alternativa crível ao marxismo staliniano[7] (MANOEL, 2024). Na realidade, Lukács esteve chamando Stalin e o partido em seu tempo daquilo que ele era: pragmático sem princípios, oportunista. E, embora não chame Stálin de Belzebu, o que seria muito estranho para um marxista, personaliza, sim, em Stálin e exime a responsabilidade do partido; apontou Stálin como ditador, ao abolir as mediações, ao colocar suas propostas sem crítica e, embora não assuma Trotsky como opção explícita, na prática já está mergulhado no pântano infértil desse pensamento e seus conceitos errôneos. Muito embora ele trate o “stalinismo” como um sistema (soviético?), é muito estranho que alguém errando tanto consiga acertar. Seria então preciso falar em acertos estéreis. Conclusões Ao analisar o texto de Jones Manoel sobre a estratégia nacional-libertadora do PC do Brasil, verificamos que tem as mesmas deficiências que, em linhas gerais, percorrem tudo o que Jones produz: o ranço acadêmico marxológico trotsquista; o revisionismo eleitoreiro do PCB de linha revisionista soviética criado em 62 e seus blá blá blás. No caso desse texto, Jones aparentemente busca justificar sua tendência ao nacional-reformismo tipo Chávez, Castro e Brizola, tendência essa que foi desde sempre seu berço teórico e que não supera – e nem sequer critica de forma suficiente-- de jeito nenhum. Some-se a isso disseminar, deliberadamente, confusões sobre Lênin, Stálin e Trotsky apoiado em equívocos do revisionista Lukács. Bibliografia: <>. MANOEL, Jones. A Estratégia Nacional-Libertadora. <>. <>. SOUZA, David. >.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Uma Profunda Crítica a Jones Manoel

CAPÍTULO 0: AVISOS Este escrito não objetiva ofender, diminuir ou atacar pessoalmente Jones Manoel. Isso porque é prática de liberais e revisionistas e de outros inimigos do povo em geral — práticas que antagonizam com os princípios do autor que vos escreve. O objetivo principal deste escrito é elucidar os equívocos de Jones Manoel, com a meta de apresentar ao público a autêntica visão marxista-leninista-maoísta sobre os assuntos abordados. Tendo dito isso, comecemos. CAPITULO 1. Tudo é Marxismo, Nada é Revisionismo. “Na verdade, coloca até o stalinismo num patamar ético, moral e de violência maior. Eu não sou stalinista. Stalinismo é uma leitura do marxismo que tem três pilares: desconsiderar qualquer crítica, colocando erros ou até tragédias na conta de mentiras burguesas, ou da CIA; considerar que o modelo da URSS é o único possível e que qualquer coisa fora disso seria revisionismo; e fazer uma leitura do Stálin como uma continuidade direta e uma elevação da obra de Marx, Engels e Lenin. Não me encaixo em nada disso.”[1] Jones Manoel, assim como seu Ex-Partido (O PCB), aceita a categoria “stalinismo”, categoria falsa, caluniosa e que não tem nenhuma validez científica. Além disso, Jones busca equiparar e igualar autores marxistas com autores revisionistas, colocando todos em pé de igualdade (apesar das “pequenas diferenças) tais como o traidor Trotsky e o revisionista Togliatti. Há também muitos outros exemplos, como a conciliação de Manoel com revisionismo juche, soviético, chinês, cubano, vietnamita e etc. com aqueles que seguiram verdadeiramente a ideologia científica do proletariado (Marx, Engels, Lenin, Stalin e o Presidente Mao Tsé-Tung). (Nota: anexei acima nos revisionismos links de artigos e livros que explicam os motivos pelos quais são revisionismos) Voltando, essa prática de Jones Manoel denota uma tentativa de agradar a todos, de moderar ou omitir as críticas sobre tais figuras que representam as ideias revisionistas e suas ideias propriamente. Dessa forma, Jones comete a sexta forma de liberalismo, que o Presidente Mao Tsé-Tung define como: “Escutamos opiniões erradas sem elevarmos uma objecção e deixamos até passar, sem informar sobre elas, expressões contrarrevolucionárias, ouvindo-as passivamente, como se de nada se tratasse. É uma sexta forma de liberalismo.” Aliás, o próprio Camarada Lenin sempre fez o debate ideológico quando necessário para refutar e desmascarar ponto a ponto os oportunistas (de direita e esquerda) e o revisionistas de seu tempo. Isso é natural. Isso porque uma vez que Lênin aprendeu, no próprio curso da revolução que dirigiu, a necessidade ímpar de tal luta e o iminente aborto da revolução no caso de descumprimento dessas tarefas. Lenin nunca se posicionou a favor de práticas escorregadias de princípios. Isso é notável em dois trechos de suas obras: Tendo nas próprias fileiras os reformistas, (…) não se pode fazer triunfar a revolução proletária, não se pode defendê-la. Isto é evidente do ponto-de-vista dos princípios. Isto foi confirmado luminosamente pela experiência da Rússia e da Hungria (…) E também: Antes de unificar-se e para unificar-se é necessário começar por deslindar os campos de um modo resoluto e definido. O Presidente Mao Tsé-Tung, um autêntico marxista-leninista, escreveu em sua obra “Contra o Liberalismo”, argumentando a favor do combate ideológico em sua própria situação: Nós somos pela luta ideológica ativa porque é uma arma para se alcançar a unidade interna do Partido e das demais organizações revolucionárias, em benefício do nosso combate. Cada membro do Partido Comunista, todo o revolucionário, deve empunhar essa arma. O liberalismo, porém, rejeita a luta ideológica e preconiza uma harmonia sem princípios, o que dá lugar a um estilo decadente, filisteu, e provoca a degenerescência política de certas entidades e indivíduos, no Partido e nas outras organizações revolucionárias. Jones renega o combate ideológico proposto pelo Pdt Mao e o deslinde feito por Lenin. Sua prática não é marxista, mas sim liberal. Além disso, é no mínimo curioso que esse sujeito tenha dito que admira e reinvidica Mao, mesmo que na prática não aplique suas ideias. Sua atitude visa omitir os antagonismos existentes entre o Marxismo e o Revisionismo. Sendo assim, é uma prática de conciliação dos contrários(revisionista), que por sua vez leva a derrotas no caminho da revolução. CAPITULO 2: Teoria Antimarxista da Dependência O Sr. Jones Manoel tenta mesclar os delírios revisionistas de Ruy Mauro Marini com as autênticas análises de Vladimir Ulianov Lenin. Ora, o dirigente revolucionário russo não reconhecia “países dependentes” como uma categoria diferente e única, mas colônias e semicolônias que possuíam características econômicas que ligavam suas economia atrasadas aos países imperialistas. Ademais, longe de indicar uma “dependência” causada pela “divisão internacional do trabalho”, ou o “monopólio da tecnologia das nações centrais”, como prega Ruy Mauro, Ilitch aponta a natureza objetiva do atraso nos países coloniais e semicoloniais, indicando aos marxistas revolucionários de seu tempo (e posteriores), consequentemente, a necessidade da revolução democrática ininterrupta ao socialismo em colônias e semicolônias — caminho tentado e efetivado de fato pelo Presidente Mao Tsé-Tung. Para provar o que digo, cito um trecho do texto de Lenin “Para o Quarto Aniversário da Revolução de Outubro”: “Mas para consolidar para os povos da Rússia as conquistas da revolução democrático-burguesa, nós devíamos ir mais longe, e fomos mais longe. Resolvemos as questões da revolução democrático-burguesa de passagem, como um «produto acessório» do nosso trabalho principal e verdadeiro, proletário revolucionário, socialista. Sempre dissemos que as reformas são um produto acessório da luta revolucionária de classe. As transformações democrático-burguesas — dissemo-lo e demonstrámo-lo com factos — são um produto acessório da revolução proletária, isto é, socialista. Digamos de passagem que todos os Kautskys, os Hilferdings, os Mártovs, os Tchernovs, os Hillquits, os Longuets os MacDonalds, os Turatis e outros heróis do marxismo «II 1/2» não souberam compreender esta correlação entre a revolução democrático-burguesa e a revolução proletária socialista. A primeira transforma-se na segunda. A segunda resolve de passagem os problemas da primeira. A segunda consolida a obra da primeira. A luta, e só a luta, determina até que ponto a segunda consegue ultrapassar a primeira.” E agora cito dois trechos das teses da Internacional leninista sobre a questão de países coloniais e semicoloniais: A verdadeira industrialização do país colonial — em particular a construção de uma indústria que promova o desenvolvimento independente das forças produtivas, é impedida e desencorajada pela metrópole. Esta é a essência da escravização imperialista: o país colonial é obrigado a sacrificar os interesses do seu desenvolvimento independente e a transforma-se em apêndice económico (agrário, de matérias-primas, etc.) do capitalismo estrangeiro… E um pouco mais adiante: (…) há uma possibilidade objetiva de um caminho não-capitalista de desenvolvimento das colónias atrasadas — e essa possibilidade traduz-se na transformação da revolução democrático-burguesa na revolução proletária e socialista com a ajuda da ditadura proletária vitoriosa. No contexto das condições objectivas favoráveis, esta possibilidade será convertida em realidade, e o caminho para o desenvolvimento é determinado apenas pela luta. Consequentemente, a defesa teórica e prática deste caminho e a luta por ele são dever de todos os comunistas… As teses da III Internacional Comunista apoiadas no Leninismo contradizem linha por linha todos os delírios dependentistas sobre uma Revolução Imediatamente Socialista no Brasil, ou mesmo o tipo de fala que nega o objetivo atraso material nacional que vivemos. Para uma exposição mais completa sobre a Teoria (Anti)marxista da dependência, deixo aqui a apostila do Grupo de Estudos ao Povo Brasileiro anexada. Voltando ao texto, essas teses leninistas da III Internacional são autênticas — opostas ao Falso Leninismo dependentista que o Sr. Jones tanto defende! CAPÍTULO 3: CONCLUSÃO Jones Manoel é produto do PCBrasileiro e o revisionismo atroz ali existente. Ainda que hoje Jones Manoel tenha sido expulso pelos revisionistas burocratas do CC. Uma cisão entre os revisionistas de fato! O PCB hoje é apenas mais um dos expoentes do Falso Leninismo no Brasil. De boca afirmam o defender, na prática jogam suas ideias no lixo! Tendo dito tudo isso, fecho com um trecho da carta de saída de uma militante do PCBrasileiro e outro trecho, só que dessa vez de um militante que saiu do PCB-RR. Em relação o falso leninismo nada resta, exceto continuar o combate teórico, almejando deslindar o caminho de modo resoluto e — quem sabe — até colocar um pouco de razão na mente dos honestos progressistas e democratas hoje organizados sob o lamaçal de revisionismo que é o PCBrasileiro e sua continuidade no PCB-RR: É preciso então que nos organizemos, não há tempo a perder. Existem organizações sérias e combativas. Procurem as da sua cidade e, não existindo, não se acanhem, estudem o maoismo através dos instrumentos de propaganda existentes, aprofundem a forja ideológica e política, estudem os clássicos e se lancem mesmo a construir seus próprios movimentos em torno dessa obra hoje aparentemente difusa, porém comum: reconstituir o Partido Comunista como um verdadeiro partido marxista-leninista-maoista preparado, em termos ideológico, político e orgânico, para a luta de classes. Como dissera Brecht, “o Partido tem mil olhos” e o legítimo saberá encontrar os seus melhores filhos e dar-lhes abrigo. Esse é o chamado que faço, de todo o coração. E agora vem o trecho da carta do ex-militante do PCB-RR: Como resultado de todo meu processo de elaboração e sistematização das divergências com relação ao PC Brasileiro e sua juventude, não há outra conclusão prática que não a de denúncia do oportunismo e do revisionismo, em todas as suas manifestações — as que tratei acima são somente algumas delas, naturalmente. Mas esse é o aspecto negativo da conclusão. Qual seu aspecto positivo? A construção firme e coerente do processo reconstituição do Partido Comunista do Brasil, adotando este, como ideologia, a atual e mais elevada etapa de desenvolvimento da Ciência Proletária, o marxismo-leninismo-maoísmo, principalmente maoísmo, aportes de validez universal do Presidente Gonzalo. Entretanto, mesmo sendo tal conclusão um passo importante — e imprescindível –, ela não é suficiente. Sempre acompanhado ao que fazer deve vir o como fazer. E é sobre isso que trato neste último tópico Bibliografia: [1]https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/stalin-nao-foi-reencarnacao-de-lucifer-e-nao-sou-guru-de-ninguem-diz-jones-manoel/ Anti Revisionism Maoism Critique

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Jones Manoel e o Falso Leninismo

Jones Manoel e o Falso Leninismo David Souza David Souza · Seguir 6 minutos de leitura · 22 de dezembro de 2020 61 2 I. Avisos Este escrito não pretende ofender, diminuir ou atacar pessoalmente Jones Manoel, visto que é essa a prática de liberais e revisionistas, além de traidores da causa do povo em geral — práticas que antagonizam, portanto, com os princípios do autor desse ensaio. Contrariamente, o objetivo aqui é elucidar os equívocos ditos por Jones Manoel, com a meta de apresentar a visão autêntica marxista (leninista e maoista, uma vez que tais são os desenvolvimentos do marxismo revolucionário até o momento) sobre os assuntos envolvidos. Qualquer ofensa, caso ocorra, será acidental, e imediatamente suprimida quando constatada por leitores e leitoras. Com isso em mente, começamos. II. Tudo é marxismo, nada é revisionismo Jones, assim como seu Partido (o PCBrasileiro), aceita a categoria “stalinismo”, categoria essa falsa, caluniosa e — sob muitos aspectos — refutada pelo próprio Domenico Losurdo que o Sr. Para além disso, Jones busca equiparar e igualar autores marxistas e revisionistas, colocando todos em pé de igual validade (apesar de “pequenas diferenças”), tais como o traidor Trotsky e o revisionista Togliatti . Sobre isso, não há como limpar a barra: é uma tentativa de agradar a todos, falar sobre o “favoritinho” de cada um, já que essas “pequenas diferenças” jamais são agudizadas, criticadas e levadas adiante de maneira consequente. O ponto é: essa é uma atitude leninista? Lênin mesmo pode responder a essa pergunta, em dois trechos de suas obras : Tendo nas próprias fileiras dos reformistas, (…) não se pode fazer triunfar a revolução proletária, não se pode defendê-la. Isto é evidente do ponto-de-vista dos princípios. Isto foi confirmado luminosamente pela experiência da Rússia e da Hungria (…) E também : Antes de unificar-se e para unificar-se é necessário começar por deslindar os campos de um modo resoluto e definido. Em outras palavras, Lênin não era nada favorável a esse balé escorregadio de princípios, esse “tudo é permitido”, “todos são bons”. Ao contrário, Vladimir Ilitch, por toda sua vida, fez questão de esmiuçar e refutar ponto por ponto dos adversários e deformadores do marxismo (desde os mais próximos mencheviques, até os mais reacionários cadetes). Isso é natural, uma vez que Lênin aprendeu, no próprio curso da revolução que anteriormente, a necessidade ímpar de tal luta e o iminente aborto da revolução no caso de descumprimento dessas tarefas. Um autêntico leninista, observando a necessidade do combate ideológico em sua própria situação, escreveu : Nós somos pela luta ideológica ativa porque é uma arma para alcançar a unidade interna do Partido e das demais organizações revolucionárias, em benefício do nosso combate. Cada membro do Partido Comunista, todo revolucionário, deve empunhar essa arma. O liberalismo, porém, rejeita a luta ideológica e preconiza uma harmonia sem princípios, o que dá lugar a um estilo decadente, filisteu, e provoca a degenerescência política de certas entidades e indivíduos, no Partido e nas outras organizações revolucionárias. Jones renega esse combate ideológico proposto pelo Pte. Mao, rejeitou o deslinde proposto por Lênin. Prefira homenagear a todos e nunca agudizar as contradições com revisionistas e traidores. Portanto, concluímos esta seção afirmando que a atitude de Jones Manoel em relação aos vários autores que deturpam o marxismo não é de um leninista, mas de um liberal. Sua atitude visa omitir qualquer antagonismo, aproveitar “o melhor de cada”, ignorando que tal coisa é incompatível com o rigor do marxismo revolucionário — ignorando, enfim, que o marxismo é uma ciência, cujos “aproveitamentos” que devem ser feitos são os que não abortam revoluções ou conciliam interesses com os inimigos. III. A Teoria da Dependência Muitos são os autores e acadêmicos brasileiros interessados ​​em promover Ruy Mauro Marini para a leitura da situação brasileira. Contudo, poucos ousam ir tão longe, e atacar o próprio Lênin, nesse percurso quanto Jones Manoel. O Sr. Manoel tenta, constantemente, mesclar as análises de leninistas autênticos com os delírios de Marini, naturalmente, — pensamos — esquecendo que as teses opostas às do “capitalismo dependente” foram formuladas pelo próprio Lênin. Agora, o dirigente revolucionário russo não reconhecia “países dependentes” como uma categoria diferente e única, mas colônias e semicolônias, com características econômicas que ligavam suas economias atrasadas aos países imperialistas. Além disso, longe de indicar uma “dependência” causada pela “divisão internacional do trabalho”, ou o “monopólio da tecnologia das nações centrais”, como prega Ruy Mauro, Ilitch aponta a natureza objetiva do atraso nos países coloniais e semicoloniais, queda aos marxistas revolucionários de seu tempo (e posteriores), consequentemente, a necessidade da revolução democrática ininterrupta ao socialismo em colônias e semicolônias — caminho tentador revolucionários como Ho Chi Minh, Kim Il Sung e, de fato efetivado, por Mao Tsetung. Para provar o que dizemos, vejamos dois trechos das teses do Internacional leninista sobre a questão de países coloniais e semicoloniais: A verdadeira industrialização do país colonial – em particular a construção de uma indústria que promova o desenvolvimento independente das forças produtivas, é impedida e desencorajada pela metrópole. Esta é a essência da escravização imperialista: o país colonial é obrigado a sacrificar os interesses do seu desenvolvimento independente e a transformá-lo em apêndice económico (agrário, de materiais-primas, etc.) do capitalismo estrangeiro… Mais adiante: (…) há uma possibilidade objetiva de um caminho não-capitalista de desenvolvimento das colónias atrasadas – e essa possibilidade traduz-se na transformação da revolução democrática-burguesa na revolução proletária e socialista com a ajuda da ditadura proletária vitoriosa. No contexto das condições objetivas desenvolvidas, esta possibilidade será convertida em realidade, e o caminho para o desenvolvimento é determinado apenas pela luta. Consequentemente, a defesa teórica e prática deste caminho e a luta por ele são dever de todos os comunistas… Essas teses contradizem, linha por linha, todos os delírios dependentes de uma Revolução Socialista no Brasil, ou mesmo o tipo de fala que nega o objetivo de atraso material nacional que vivemos. Essas teses, enfim, são autênticas máximas leninistas — opostas ao que o falso leninismo dependente de Jones Manoel defende. 4. Conclusão Jones Manoel é, por excelência, mais um dos tantos produtos do PCBrasileiro e o revisionismo peçonhento ali existente. O Partido cripto-trotskista relatou coleciona desvios liberais em sua militância, permite toda sorte de “tendência” e “corrente” interna, (conforme já aqui) faz coro com a ocorrência acreditando em “stalinismo”, advoga ativa pelo revisionismo de Marini e a tosca “Teoria da Dependência”, etc. Numa palavra, é uma organização expoente e organizadora do falso leninismo — porque, reivindicando o mesmo leninismo, faz todos esses ataques teóricos e práticos ao Grande Lênin e seus ideais. O Sr. Manoel, assim, é apenas mais uma célula desse organismo, uma das partes do todo, sendo escolhido como título desse ensaio meramente por ser uma “face” de todos os problemas teóricos do revisionismo do PCBrasileiro. Por esta razão, desde o início, insistimos que a questão aqui não é ofender Jones Manoel ou atacar sua dignidade pessoal, todavia, somente as bandeiras que erguem. Com isso tudo aqui, concluímos rememorando um trecho da carta de saída de um militante do PCBrasileiro, visto que sobre o falso leninismo nada resta, exceto continuar o combate teórico, almejando deslindar o caminho de modo resoluto e — quem sabe — até colocar um pouco de razão na mente dos honestos progressistas e democratas hoje organizados sob o lamaçal de revisionismo que é o PCBrasileiro: É preciso então que nos organizemos, não há tempo a perder. Existem organizações seriais e combativas. Procurem as da sua cidade e, não existindo, não se acanhem, estudem o maoísmo através dos instrumentos de propaganda existentes, aprofundem a força ideológica e política, estudem os clássicos e se lancem mesmo a construir seus próprios movimentos em torno dessa obra hoje aparentemente difusa , porém comum: reconstituir o Partido Comunista como um verdadeiro partido marxista-leninista-maoista preparado, em termos ideológicos, políticos e orgânicos, para a luta de classes. Como disse Brecht, “o Partido tem mil olhos” e o legítimo saberá encontrar os seus melhores filhos e dar-lhes abrigo. Esse é o chamado que faço, de todo o coração.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Elzenir Apolinário: Releituras de Mundo

Elzenir Apolinário: Releituras de Mundo Nesse Dia Internacional da Mulher, quero apresentar um talento de poeta que talvez vocês não conheçam: minha amiga e colega de trabalho Elzenir Apolinário. De origem humilde, Elza, como nós a chamamos no dia a dia, combina de forma rara o talento de gestora, professora e poeta. Ela fala de forma muito terna e maravilhosa sobre as mulheres. Talentosa e chique com ela só, Elza escreveu esse texto originalmente em francês (excelente aluna que ela é de Brigitte Paredaens, essa professora tão chique quanto discreta), mas gentilmente colocou a tradução em seu blog: Canção das mulheres As mulheres são belas como rosas elas encantam silenciosas os caminhos por que passam mesmo as flores selvagens sob seus grossos espinhos que lhes protegem de que elas sejam colhidas perfumam o ar. Suas almas carregam seus sonhos tão azuis seus olhos às vezes tão tristes escondem os sofrimentos que somente uma mulher sente seus tênues sorrisos brilham para esconder suas solitárias noites Seus lábios não dizem as palavras porque o mundo não as compreende e não respeita elas seguem o curso do tempo que também é seu antagonista ninguém quer saber de seus desejos E elas caminham apesar das dores que fere seus corações porque elas são muito fortes, elas são mulheres!!! Há alguns anos Elza contou-me, com certo pudor, que tinha um blog onde escreve textos e poemas, mas não passou o endereço. Nesse dia internacional da mulher, é com muitíssimo prazer que encontrou seus textos e recomendo a vocês, pois trazem importantíssimas reflexões, como nessa postagem Elas Usam a Cor Púrpura, com data de 8 de março de 2015, mas ainda muitíssimo atual. Não resisto a reproduzir a crônica na íntegra: Você já terminou? Ouviu a menina que se dividia entre as atividades da escola, o choro do irmão caçula e os afazeres domésticos enquanto seu irmão se divertia em frente à televisão. A mãe acreditava que o menino não deveria se envolver com as tarefas do lar, pois poderia afeminar-se causando a tragédia da família. Assim, cresciam as meninas em tempos remotos e a história se repete hodiernamente. O sexo feminino se acua entre a família e a sociedade machista e não avista a saída para a sua ascensão pessoal e profissional. Estamos no século XXI e ainda se veem mulheres bem sucedidas que se acorrentam a relações tóxicas por submissão ou dependência emocional. O olhar duro da sociedade ainda as espreita minando seus sonhos e elas fingem que estão felizes, mas seus olhos são tristes como os dos pássaros cativos. Recolhem-se em sua fatídica condição de serem mulheres neste mundo de homens e se resignam à espera de que algumas delas, em atitude de coragem, possam reverter este quadro ou mesmo acreditam ser sua sina irreversível e seguem sem esperanças. Fala-se em emancipação feminina, mas na calada da noite, em cantos escuros, meninas, mulheres são violentadas e agredidas em sua integridade física e moral como se fossem apenas um pedaço de carne ou desvalorizadas em sua capacidade mesmo proferindo belos discursos vestidas com seus taillers. Não importam suas considerações, estão fadadas ao desrespeito por sua condição de mulher, é o fardo que terão que carregar em todos os meios sociais. Quando agraciadas pela beleza, tornam-se objeto de desejo sexual masculino e perdem ainda mais seu vínculo com o cordão umbilical da humanidade. São bonecas de luxo para se apresentar ao mundo, são seres vazios que apenas sorriem superficialmente escondendo um traço de amargura e ressentimento por não terem voz, por se aprisionarem na bela aparência que esconde o que se revolve em seu coração. São também escravas de padrões rígidos que determinam que elas têm um prazo de validade. Moramos em um país que machuca suas mulheres e as relega à cultura de inoperância e baixa autoestima. Cresceram sob a égide de uma educação castradora que limitou sua crença em seu próprio poder de decisões e escolhas. Certamente temeram seu potencial e as educaram para serem como os seres rastejantes, quando poderiam voar. Recearam sua potencialidade, pois estas saberiam guiar-se tanto pela inteligência, quanto pela emoção. Mulheres, ergam suas cabeças e lutem contra este sistema que faz uma execução sumária de suas vontades, enfrentem esta sociedade limitante, saíam desta submissão velada e assumam seu verdadeiro poder, o poder que existe em cada uma de nós e que pode transformar uma realidade, mudar o tom púrpura que nos colore as faces e nos deixa um traço de descontentamento com a vida. Firmem os passos em direção a um futuro glorioso para o sexo forte. Convido, então, vocês para conhecerem o blog dessa mulher maravilhosa que é Elzenir Apolinário: releiturasdemundo.blogspot.com

Uma Crônica de Futebol Bom-Despachense

Uma Crônica de Futebol Bom-Despachense Através do amigo Júlio Campos, “Júlio arquiteto”, recebi uma simpática crônica de autoria de Eduardo, o Dudu da Cambuá. Só faço dois adendos, golkeeper hoje é goleiro (quem sistematizou as regras do esporte foram os ingleses) e o Lucinho Bom-despachense aí não sou eu, pois sou perna de pau. Vamos ao texto: Marlúcio x Reinaldo, babys craques. No Brasil geralmente e sempre nossos ídolos não são valorizados como deveriam ser. Aqui em Bom Despacho segue a mesma regra. Falo do Mário Lúcio Quirino Costa, nosso popular Marlúcio, Lucinho para os íntimos. Na década de 70, precisamente 1974, o time de futebol de salão, hoje futsal, da Brahma foi convidado para jogar contra o Ponte Nova, MG. O time da Brahma era um timaço e familiar: Marlúcio e seu irmão Rona e os primos Gui e Mó. Goleiro!? Que nada, o time era tão bom que dispensavam um goleiro fixo. Onde iam convidavam um qualquer. Tem até um episódio interessante que merece registro: certa vez chegando pouco antes da partida tiveram dificuldade de encontrar um golkeeper, quase em cima do começo da partida e nada. O Gui viu que tinha um cego sentado na arquibancada. Correu até ele e o convenceu de jogar para o Brahma. Venceram por 4x0, pasmem, com um goleiro cego. Esse caso inusitado deve ser único no esporte mundial. O craque da companhia era sem qualquer dúvida e merecidamente nosso querido Mó, Mozinho para os mais chegados e familiares. Jogava demais, muito próximo da genialidade herdada do seu pai, o incrível centroavante Tio Quinzinho. Mas se o craque era o Mó, o ídolo era o Marlúcio. Artilheiro nato, excelente estatura e complexão física, ambidestro com chute fortíssimo e exímio cabeceador. Se não tinha a genialidade do Mó, sobrava-lhe ser um matador inqualificável e fenomenal. Nessa época o querido e exemplar Professor Calais era o Cônsul Vitalício do Galo aqui em Bom Despacho, hoje substituído pelo não menos querido, nosso José Carlos Gontijo, o Caiô, atleticano de quatro costados e ainda de lambuja irmão do lendário cracaço da Associação Bondespachense, o eterno ídolo Onório Antônio Gontijo, o inigualável Nonóia. O Professor Calais com seu olhar e faro de lince já descobrira o talento do nosso craque comunicando com a diretoria do Galo em Belo Horizonte e solicitando que os olheiros do clube o observasse in loco. Pois bem, o Brahma foi convidado para jogar contra o Ponte Nova, MG e coincidiu que o juvenil do Galo estava por aquelas paragens. Avisados, Barbatana e Zé das Camisas foram ao ginásio observá-los (Marlúcio e o tal José Reinaldo de Lima). Ginásio lotado, começa a partida e com um gol relâmpago aos 16 segundos esse Reinaldo faz 1x0 Ponte Nova. Aos 17 minutos o mesmo Reinaldo faz 2x0. O time da Brahma, nervoso, não se encontrava na quadra. Com o passar dos minutos o time bom-despachense foi reorganizando e refazendo-se e com 1 minuto faltando para o término do primeiro tempo gol do Brahma. Gol não, golaço do Marlúcio. Chapelou o zagueiro e da meia lua com a perna esquerda, um balaço, um canhão. A bola bateu no travessão, o ginásio tremeu, antes de entrar chicoteou nas costas do guarda-metas que teve que ser substituído por não suportar a dor da bolada. 2x1 placar do primeiro tempo. Na etapa final o Brahma colocou o Ponte Nova na roda. Logo aos 6 minutos, Marlúcio fez 2x2 de cabeça depois de um cruzamento mamão com açúcar do Mó pela direita. O jogo foi seguindo e Reinaldo e o Ponte Nova viram que o visitante era muito forte. Aliás, Reinaldo sumiu da quadra. O Brahma cada vez mais se agigantava e aos 11 minutos o hat-tric do garoto Marlúcio, desta vez com uma caneta no seu marcador e na saída do goleiro um debochado giro de 180 graus e meteu de letra. Frenesi total!!! Todo ginásio gritando freneticamente: Marlúcio, Marlúcio, Marlúcio.... Barbatana e Zé das Camisas boquiabertos não acreditavam no que seus olhos viam. Juntaram-se aos gritos com a alegria de ver o despertar de tão promissor e jovem talento. Eles que tinham a maior expectativa de observar o José Reinaldo ficaram extasiados com o desempenho e a performance do jovem bondespachense. Faltando 2 minutos para o término da partida, em um rápido contra-ataque, Rona toca rápido para o Gui, este inteligentemente, de primeira lançou a bola na área, Marlúcio dividiu e ganhou pela esquerda, dribla 1,2,3, mas perdeu o ângulo. Faz um giro, com uma ginga de corpo um quarto estatela-se na quadra, avança rápido dá um lençol no guarda metas e agora faz um giro humilhante de 360 graus e de calcanhar dá um toque modorrento na pelota que mansamente ultrapassa a linha do gol para o desespero e esforço hercúleo do golkeeper adversário, não evitando assim o histórico placar de 4x2, quatro golos do nosso genial craque, nosso Lucinho bondespachense. Terminando a partida, Barbatana corre ao vestiário com o contrato na mão para nosso menino craque assinar e de quebra também contrata o José Reinaldo. Os destinos opostos desses dois craques serão contados em uma próxima crônica. Aguardem.

O Triunfo de Maria Celeste e do Vovô Índio

O Triunfo de Maria Celeste e do Vovô Índio A inauguração das luzes de natal é sempre um momento mágico na nossa cidade. Não foi diferente esse ano. Minha filha fez uma linda foto no Flora Photos, mostrando o reflexo das luzes no chão molhado pela chuva. Papai Noel também fez sua aparição. Meu amigo Lucas “Lobera” comentou comigo que o Papai Noel esteve ano esteve na Praça da Matriz vestido de verde e amarelo, evitando o vermelho e suas associações políticas. Fui procurar uma foto e vi que de fato ele veio com cor dourada, mas assim mesmo ainda tinha a cor vermelha e não tinha o verde. A fantasia de Lucas me fez pensar, por negação, em um curioso programa escrito por um policial civil carioca chamado Rivaldo, que conheci na internet e que por volta de 2018 elaborou com ideias inovadoras assim, ainda que em uma vertente de pensamento totalmente oposta, um programa para um partido que ele queria legalizar, tal como por exemplo: “Fundação da empresa pública Mc Lenin, que será uma rede de restaurantes vegetarianos distribuídos pelo país a fornecer hambúrgueres e lanches nutritivos adaptados à culinária local” e também uma outra bem inovadora: “Criação do Exército Popular Brasileiro, simbolizado pela Onça Pintada, Marinha Popular Brasileira, representada pelo Tubarão e Aeronáutica Popular Brasileira, simbolizada com uma Harpia”. Particularmente vanguardista achei o seguinte ponto: “Substituição da velha bandeira positivista pela bandeira vermelha da Vitória dos Trabalhadores [em obras]”. Ainda bem que ele colocou “em obras”. Nossa bandeira nunca será vermelha, quem diria? Isto posto, sugeri a ele a substituição do Hino Nacional pela nossa Marselhesa, a canção Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré... Este ano fui também ao recital de natal organizado pelo coral Voz e Vida. Curiosamente minha mãe sabia “todas as letras”. Mamãe cantou o tempo todo a versão de Flávio Venturini para o Ariosto de Bach e a versão de Vinícius de Morais para Jesus Alegria dos Homens, de João Sebastian Bach. Quando mamãe foi transferida de Uberaba para Belo Horizonte, ainda como uma professora de Português, foi lotada num bairro periférico chamado Céu Azul. Ela ficou indignada, mas eu completei: “mãe, lugar de Maria Celeste é no Céu Azul”! Esse tipo de proposta fez com que eu me lembrasse da tentativa fracassada, nos anos 30, da vertente política que originalmente propôs como lema “Deus, Pátria e Família” (agora reciclada) de substituir o Papai Noel pelo Vovô Índio. Consta que até Getúlio Vargas apoiou. Em uma das versões, o Vovô Índio nascia diretamente de um Pau-Brasil. Inspirado nessas considerações, a respeito transcrevi o poema abaixo que encontrei num site: Triunfo do Vovô Índio, de Sylvia Patrícia Esse ano, o velhinho estrangeiro para as neves longínquas fugiu Porque esse ano no Brasil inteiro vovô índio triunfante surgiu Vovô índio é belo, é moreno e o sol sua pele tostou Vovô índio se veste de penas, qual as aves das nossas florestas, onde sempre com elas morou Vovô Índio não vem de outras terras, ele é nosso, bem nosso, é daqui Tem arco e flexa, sabe mil histórias, do caipora, do boto e saci Vovô Índio não é dos países onde morrem de frio os pequeninos Ele é dessa terra formosa onde há sol e calor o ano inteiro Onde as folhas, as cigarras boêmias cantam hinos Onde nascem no chão as esmeraldas, como nascem as flores num canteiro Vovô Índio é bom e ingênuo, porque longe dos brancos viveu Ele gosta das crianças e dos pobres, dos bichos lá da mata onde nasceu E no Natal quando vem à cidade, não procura do luxo o brilho falso Vovô Índio às palhoças também vai um brinquedo levar E os meninos que não tem sapato, não precisam chorar Vovô não crê em lendas europeias, chaminés e sapatos para quê Vovô Índio sorri dessas ideias Se natureza sempre lhe deu frutos Se os ramos sempre lhe deram sombra E Vovô índio sempre andou descalço Vovô Índio com penas de cores mil Vovô índio, você é o mais lindo mito Porque você é o Brasil É o triunfo de Vovô Índio e de Maria Celeste.