Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Rosemberg Rodrigues de Castro (1960-1980): “Todo Anjo é Terrível”
Rosemberg Rodrigues de Castro (1960-1980): “Todo Anjo é Terrível”
Eu, infelizmente, tive pouco contato com essa curiosa figura, Rosemberg, falecido em março passado aos 64 anos de pneumonia, curiosamente pouco tempo antes do amigo Célio Luquini. Esse amigo tão bem definido por essa frase de Rilke, citada pelo poeta hondurenho Fabricio Estrada: “todo anjo é terrível”. Célio e Rosemberg parecem ter combinado a partida. Rosemberg foi uma figura que faz lembrar Pantagruel, o gigante comilão da peça de Rabelais, como o amigo Laender, também já falecido. Triste isso. A gente vai envelhecendo e os amigos vão morrendo. É como Millôr Fernandes falou: “caminho aflito: tantos amigos já granito”. Anos atrás, em 2009, quando o presidente de Honduras, pequeno país da América Central, foi deposto num golpe e escondeu-se na embaixada do Brasil, criando uma crise diplomática para o presidente Lula, indiquei ao Rosemberg um blog da resistência ao golpe em Honduras, o “Bitácora del Párvulo”. Rosemberg reproduziu postagens desse blog, de autoria do poeta Fabricio Estrada, ativista “melista” (o nome do presidente era Mel Zelaya). Algum tempo depois, o presidente Zelaya saiu do país, mas tempos depois voltou e sua esposa Xiomara é hoje a presidenta do país. O poeta e dono do blog mandou o seguinte recado para mim nessa ocasião, no ano de 2009: “Lúcio: Quanto mais espalharmos a nossa voz, mais conseguiremos resistir. O Brasil precisa entender perfeitamente que Honduras é seu litoral mais próximo, um território livre que busca se aproximar a cada dia de uma América Latina praticamente fragmentada.”
Rosemberg era radialista autodidata e personalidade destacada da diminuta esquerda local. Ele no passado foi do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) junto com Célio Luquini e atualmente era lulista. Durante muito tempo trabalhou na prefeitura junto ao meu tio Bil, no tempo do Célio, bem como na rádio Difusora. Tínhamos muitas diferenças. Revendo seus vídeos e blog lembro-me que Rosemberg era apaixonado por Bom Despacho e sua política, ele a vivia intensamente. Rosemberg criticava-me dizendo que eu não tinha a paixão pela política de Bom Despacho como ele, ficava mais interessado na revolução na Nicarágua. O que não deixa de ser excelente observação! Eu retruquei chamando Rosemberg de “Montanha”, pois em alemão seu nome significa “Montanha de Rosas”. Eu queria fazer um blog que fosse Observatório da Imprensa local, assumindo o papel da odiada figura do “ombudsman”. Obtive muitas reclamações de muita gente. Ele puxou-me a orelha. Rosemberg, então, contou-me que existia uma regra de ouro de comportamento não escrita no jornalismo local: eu poderia fazer qualquer coisa, menos criticar ou fazer alguma coisa que contrariasse o professor Tadeu de alguma forma (!)
Rosemberg tinha uma forma muito curiosa de escrever. Ele fazia umas enumerações assim: “Lúcio + Tadeu + Roberta – Vander =Jornal de Negócios”. Nosso querido “Montanha de Rosas” queixou-se a todo mundo no PT, em esfera estadual, que eu falava só no imperativo, dando ordens. Rosemberg me deu o mesmo apelido de Fidel Castro, o “comandante”. Em 2015, nosso amigo, então jornalista da Câmara, gravou uma participação minha lá e falou de mim como se eu fosse vereador. Na época, por incrível que pareça, estávamos discutindo a vereança gratuita em cidades de menos de 100 mil habitantes, proposta então presente no Plano de Aceleração do Crescimento de Dilma Rousseff. Diante dos acontecimentos recentes, a proposta agora pareceu-me incrível.
A participação a favor da vereança gratuita, muito oportuna, continua no youtube (pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=LZio7O3MCyQ). Curiosamente, colegas de escola mandaram mensagens extasiadas comentando que “cheguei à vereança”, equivocados com a legenda amalucada do vídeo –colocada, como sempre, pelo amigo Rosemberg!
No facebook, a atuação de Rosemberg era destacada, era novamente o gigante guloso: quando curtíamos algo que ele postava, prontamente ele dominava nossa rede, ele nos marcava em tudo. O nosso facebook passava a ser praticamente dele, só dava ele. Rosemberg tinha tanta admiração pelo Papa Francisco que seu retrato na rede era o Papa dando uma boa risada. Bem a propósito, certa feita enviei a Rosemberg uma entrevista do antigo cardeal Bertone (publicado no site eleconomistaamerica.com.br em 2013) onde o futuro Papa, ainda cardeal Jorge Mario Bergoglio, dizia: “O império da dependência criada por Hugo Chávez, com falsas promessas, mentindo para eles ajoelharem-se diante de seu governo. Dando-lhes o peixe sem deixá-los pescar. Se alguém aprende a pescar na América Latina, é punido e seus peixes confiscados pelos socialistas. Liberdade é punida. A região é controlada por um bloco de regimes socialistas, como Cuba, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Nicarágua. Quem os salvou dessa tirania?” O companheiro Rosemberg até sapateou de raiva, mas eu prezo por perder o amigo, mas não a piada. O tempo dos blogs passou, o do amigo Rosemberg também, mas fica a saudade. O poeta do Bitácora del Párvulo, do qual tanto gostou Rosemberg e até fez postagens a partir dele em seu blog, fez um belo poema que eu reproduzo em homenagem ao amigo falecido, Sou um Homem Morto:
Muito bem: como é um homem morto?
Quem é que vê e prefere ver um homem morto?
Sou um homem morto.
Um poeta aniquilado.
Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato)
Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram.
Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode.
Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio.
Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo.
Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides.
Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão.
Sou um homem morto.
E ninguém acredita.
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