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terça-feira, 24 de novembro de 2009

José Serra X Ahmadinejad

A função desse blog é falar das polêmicas culturais e, se possível, provocá-las. José Serra, político do PSDB e "disseminador do bem", criticou em um artigo na Folha de São Paulo o líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acusando-o de banalizar o mal, estando Serra claramente inspirado em Hannah Arendt (especificamente, no livro Eichmann em Jerusalém).

A posição de Ahmadinejad foi turbinada pela imprensa, embora penso que desejasse mesmo bater de frente com o Ocidente nesse ponto, uma vez que ele defende os palestinos (e, por isso mesmo, não jogará uma bomba em Isral, pois prejudicaria os palestinos).

Inicialmente, ele dizia que o holocausto um mito. Um mito não representa necessariamente uma mentira. A rigor, todas as nações constroem-se com base em mitos, narrativas, fatos históricos interpretados dentro de um determinado prisma.

Depois, afirmou que existiriam historiadores contra o holocausto, mas que eles foram presos. Estou apenas traduzindo a wikipedia em inglês. Agora, para William Waack da Globo, ele apenas questionou porque o povo palestino precisa pagar por crimes cometidos na Europa (aí a questão fica melhor colocada).

Serra aproveita a chegada (com repercussões negativas) de Ahmadinejad para fazer uma crítica a seus inimigos do governo Lula. Suas estratégias discursivas são: 1) comparar Ahmadinejad e o Irã com o nacionalismo nazista. No entanto, desde sempre quem teve apoio dos colonizadores europeus foram os judeus nacionalistas de direita que fundaram o estado de Israel, os chamados sionistas. 2) Criticar em bloco a política externa de Lula a partir do episódio da visita de Ahmadinejad. Pelo que pude observar, essa estratégia do artigo era, como se fosse combinada, repetida por toda a imprensa ligada indiretamente aos demo-tucanos, ou seja, toda a grande imprensa.

A partir da chegada de Ahmadinejad, Serra prega a aproximação com o governo golpista de Honduras, pois Ahmadinejad seria tão ditador quanto Micheletti. No entanto, embora as eleições que deram o poder a Ahmadinejad possam ser questionadas, Micheletti não enfrentou as urnas e sim tomou o poder juntamente com os militares, expulsando o presidente democraticamente eleito. Ahmadinejad é fruto da revolução islâmica, rebelião popular de fundo nacionalista e religioso que reafirmou a cultura iraniana no final dos anos 70, expulsando o Xá imposto em 1953 pelo Ocidente com a deposição do nacionalista laico Mossadegh. A revolução islâmica derrubou um ditador e possui, sim, mais legitimidade popular do que o regime golpista de Micheletti. O discurso de Serra é estratégia política. Aliás, Ahmadinejad não pode ser acusado de "burocrata dobrado pelo desejo de obedecer" como foi a argumentação de Arendt com relação a Eichmann. Ele é um nacionalista religioso leigo que diz besteiras no que diz respeito aos homossexuais, sim, mas um discurso não-científico que praticamente todas as religiões fazem.

Sou a favor da separação Igreja/Estado, mas não aplico esse princípio ao Irã sem tentar entender o que se passou lá. O estado era monstruosamente corrupto antes da revolução islâmica, assim como antinacional. Ahmadinejad, fruto dessa revolução, não irá atirar uma bomba nos palestinos. Seu discurso foi no sentido de que a política de Israel, de anexar e colonizar novos territórios, não tem futuro a longo prazo. Segundo a Wikipedia, a melhor tradução para a frase que ele disse não seria "varrer Israel do mapa" e sim "o governo de Jerusalém vai ser varrido pelo tempo". Há razões para duvidar do futuro de uma nação muito dependente de uma superpotência como Israel depende dos USA, e com uma relação muito inamistosa com todos os vizinhos mais populosos.

O artigo de Serra, por flertar com os golpistas de Honduras, levanta a mesma dúvida que levantou o artigo de Fernando Henrique Cardoso: diante das péssimas perspectivas de poder para o PSDB nas próximas eleições, será que os pensamentos a respeito de golpe estão ressurgindo nesse partido?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Reflexões Filosóficas Motivadas Pela Vinda de Ahmadinejad

Não vejo problema algum na presença de Ahmadinejad no Brasil. Se ele não vier, não poderemos apresentar a ele nossas críticas ao tratamento dos gays e outras minorias no Irã.

O governo Lula e a nossa diplomacia são bastante pragmáticos e penso que, se fosse apenas provocação aos USA, ele não viria, não. A questão que move essa visita é que existem negócios a fazer com o Irã. Quem pode com o pragmatismo econômico, não é mesmo?

Penso que, se ele tiver mesmo a bomba atômica, isso equilibra o cenário internacional e fará com que o Irã não seja invadido a partir do Iraque, Israel ou do Afeganistão. Parece especulação, mas o complexo industrial-militar não se prende a um liberal como Obama. Age quase que por moto contínuo. Se for interessante que invadam o Irã, o complexo mobilizará seus recursos para invadi-lo; se a escassez de petróleo forçar, ocorrerá uma invasão.

Esse tipo de questão poderia ser pensado com a filosofia política; no entanto, a filosofia política de nosso tempo está viciada, absolutamente alienada ao repetir clichês de Hannah Arendt tais como o conceito de totalitarismo. Meu professor, José Chasin, escreveu um artigo revendo esse conceito, mas sem sucesso. Trata-se de uma praga: a última Veja tachou até mesmo Robespierre de "inventor do totalitarismo". Esse conceito confuso faz com que seja necessário atacar a obra de Hannah Arendt em bloco: detratadora sofisticada do marxismo, tal como provei em um artigo chamado Observações sobre a crítica de Marx em Hannah Arendt, Arendt também me parece equivocada ao ver banalidade em Eichmann. Ela parece ter tolamente acreditado que Eichmann era um burocrata dobrado pelo desejo de obedecer e que qualquer um de nós, cidadão comum, pode de repente tornar-se "MAL". Ora, Eichmann era um nacionalista absolutamente fanático! Como pode Arendt ter acredito em sua defesa naquele tribunal? Até mesmo Eli Wiesenthal não concorda com ela. Aliás, que negócio é esse de mal em si? Deve-se tentar ir para além do bem e do mal!

Outra enorme confusão: desde então, usa-se os conceitos de Arent assim: a Espanha de Franco era autoritária, a Inglaterra é democrática, a URSS era totalitária. Imperialismo, para Arendt, foi só no século XIX. Para Edward Said, Arendt foi teórica comprometida com o imperialismo, pois ela eximia as democracias imperialistas de hoje em dia de qualquer continuidade daquilo que fizeram no século XIX; para ela, imperialismo não era "etapa superior (e parece, insuperável) do capitalismo"...

Em primeiro, façamos um desvio nietzschiano. O que Nietzsche diria desse contexto? Devemos abstrair Heidegger, para quem Hannah Arendt tornou-se morada do ser, na acepção ginecológica do termo. Nietzsche diria que os judeus deixaram a moral dos escravos e de vítimas do imperialismo alemão hitlerista e adquiriram a moral dos senhores, bebendo o leite de loba dos USA e da Inglaterra, aprendendo que o bom é ser amigo do imperador. E Israel fez-se base americana e inglesa no Oriente Médio. O difícil será cair se o império cair. O que é horrível mesmo é que as ex-vítimas, ao desejarem proximidade com o império, viram verdugos: os israelenses construíram muros para cercar as regiões habitadas pelos palestinos, muros que deram a essas regiões aspectos de...guetos! Os próprios palestinos escrevem nesses muros: bem-vindos ao GUETO!


Aliás, hoje se pergunta para quê o julgamento de Eichmann. Nos anos 90, os multiculturalistas afirmaram que toda nação é comunidade imaginária, construída com base em mitos e ficções, entre as quais as respectivas literaturas nacionais. E se aplicássemos essa teorização a Israel, quais seriam seus mitos fundadores? Um deles seria a narrativa bíblica. O outro seria o fato histórico da Shoah interpretado de uma determinada maneira, daí a necessidade do julgamento de Eichmann, praticamente um dos atos fundadores.

Mas vamos refletindo. Enquanto isso, bem-vindo Ahmadinejad, viva a revolução islâmica!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Todos a postos para a guerra contra o demônio iraniano?

Todos a postos para a guerra contra o demônio iraniano?

por Paul Craig Roberts,

Counterpunch

Tradução: Coletivo Política para Todos

Que atenção merecem, da mídia dos EUA, eleições no Japão, na Índia, na Argentina, onde for? Quantos norte-americanos e jornalistas norte-americanos algum dia ouviram falar de que há vida eleitoral em outros países além de Inglaterra, França e Alemanha? Quem sabe dizer o nome de algum político importante da Suíça, da Holanda, do Brasil, do Japão ou, mesmo da China?

Pois é. Mas milhões de norte-americans conhecem o presidente do Iran, Ahmadinejad. A razão é óbvia. O presidente do Iran é diariamente demonizado pela mídia dos EUA.

A demonização de Ahmadinejad pela mídia dos EUA é, ela própria, prova da ignorância da imprensa e dos cidadãos norte-americanos.

O presidente do Iran manda muito pouco. Não é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. Não tem poder para definir políticas próprias. É simples executor de políticas definidas pelos aiatolás. Os aiatolás, esses, sim, estão decididos a impedir que a revolução popular democrática iraniana seja arrendada pelo dinheiro dos EUA e convertida em algum tipo de 'sub-revolução' codificada pela CIA em tabelas em tons degradés de vermelho.

Os iranianos têm experiência muito amarga com governos dos EUA. A primeira eleição democrática iraniana, depois de o Iran ter sobrevivido à ocupação e à colonização, nos anos 50, foi desqualificada, de fato, foi destruída pelo governo dos EUA. Em lugar do candidato legítima e democraticamente eleito, os EUA impuseram um ditador que torturou e assassinou dissidentes cujo único 'crime' foi lutar por um Iran independente, que não fosse mais um fantoche norte-americano na Região.

O 'superpoder' que governa os EUA jamais perdoou os aiatolás islâmicos pelo sucesso da revolução democrática iraniana dos anos 70s, que derrubou aquele governo fantoche lá instalado e tomou como reféns o pessoal diplomático na embaixada dos EUA, definida como "covil de espiões", enquanto estudantes iranianos desenterravam, dos cofres daquela embaixada, todos os documentos necessários para provar que os EUA trabalhavam dia e noite para destruir a democracia iraniana.

A mídia corporativa controlada pelo governo dos EUA é um perfeito Ministério da Propaganda, respondeu à reeleição de Ahmadinejad com uma tempestade de noticiário sobre os 'violentos protestos' contra eleição que teria sido fraudada.

A fraude eleitoral que não houve foi apresentada como fato, mesmo sem haver uma única evidência de qualquer fraude. Durante o governo de George W. Bush/Karl Rove, a única resposta da mídia dos EUA a eleições comprovadamente fraudadas foi ignorar todas as evidências de fraude real em eleições roubadas.

Líderes fantoches na Inglaterra e na Alemanha alinharam-se imediatamente à operação de guerra psicológica liderada pelos EUA. O muito desacreditado secretário de Relações Exteriores da Inglaterra, David Miliband, resfolegava, de tanta pressa para manifestar "sérias dúvidas" sobre a vitória de Ahmadinejad, num encontro de ministros da União Europeia em Luxembourg. Miliband, é claro, não recebe informações de fontes independentes. Sempre, e só, repete instruções que recebe de Washington e confia no que diga o candidato derrotado nas urnas, no Iran, mas preferido do governo dos EUA.

Angela Merkel, Chanceler alemã, também foi dominada; dobraram-lhe o braço. Mandou chamar o embaixador iraniano e disse que exigia "mais transparência" nas eleições.

Até a esquerda norte-americana endossou o golpe de propaganda do governo dos EUA. Em seu blog nem The Nation, Robert Dreyfus reproduziu as frases histéricas de um dissidente iraniano, como se ali falasse a voz da verdade sobre "eleições ilegítimas" que levariam a um "golpe de Estado".

Qual, afinal, é a fonte das informações que a mídia nos EUA e em todos os Estados fantoches repete sobre as eleições iranianas? Fonte? Não há fonte. Todos só fazem repetir os discursos do candidato derrotado, que os EUA 'prefeririam' ver eleito.

Houve pelo menos uma pesquisa séria, independente, conduzida no Iran, antes das eleições. Ken Ballen, do Center for Public Opinion, organização sem fins lucrativos; e Patrick Doherty, da New America Foundation, também sem fins lucrativos, comentaram os resultados de suas pesquisas, ontem, 15/6, no Washington Post.

A pesquisa foi financiada pelo Rockefeller Brothers Fund e conduzida em Farsi, "por empresa de pesquisas que opera na região para as redes ABC News e BBC e já premiada com um prêmio Emmy" (Washington Post, 15/6/2009, "Pesquisa Ballen-Doherty, http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/06/14/AR2009061401757.html?nav=rss_opinion/columns).

Os resultados dessa pesquisa, a única fonte de informação confiável que há hoje, indicam que o resultado eleitoral manifesta o desejo dos eleitores iranianos. Dentre outras informações interessantíssimas que a pesquisa revela, lê-se:

"Muitos especialistas têm repetido que a vitória do atual presidente Máhmude Ahmadinejad teria sido resultado de fraude ou manipulação, mas a pesquisa de opinião pública que fizemos em todo o Iran, três semanas antes da eleição, já mostrava que Ahmadinejad podia esperar ser eleito no primeiro turno, com maioria significativa, e, de fato, pelos nossos resultados, com diferença ainda maior do que a que se constatou na apuração final dos votos".

Ao mesmo tempo em que todos os noticiários ocidentais com notícias de Teeran repetiam que haveria crescimento nas expectativas eleitorais a favor de Mir Hossein Moussavi, todos os nossos resultados de pesquisa, com dados recolhidos em todas as 30 províncias do Iran, já mostravam enorme diferença a favor de Ahmadinejad nas intenções de voto.

A acentuada preferência dos eleitores pelo candidato Ahmadinejad já era muito evidente desde nossas primeiras pesquisas. Durante a campanha, por exemplo, Moussavi esforçou-se por identificar-se como "Azeri" (o segundo maior grupo étnico na composição populacional do Iran, depois dos persas), com vistas a atrair o voto dos Azeri. Nossa pesquisa mostrou claramente que também entre os Azeri, Ahmadinejad venceria Moussavi, também com mais que o dobro dos votos.

Também falou-se da juventude iraniana e da Internet como fatores decisivos nas eleições. Nossa pesquisa mostrou que menos de 1/3 dos iranianos têm acesso a internet, o que é insuficiente para que a internet possa ser considerado fator decisivo; e que o grupo dos jovens (18-24 anos) é, dentre todos os grupos etários, o que manifesta mais acentuada diferença a favor de Ahmadinejad.

Os únicos grupos sociodemográficos no quais a pesquisa identificou preferência mais significativa pelo candidato Moussavi (embora nem aí Moussavi apareça em primeiro lugar em todos os subgrupos) são o grupo identificado como "estudantes universitários e profissionais liberais" e o grupo identificado como "mais alta renda nacional".

Quando nossa pesquisa foi realizada, quase 1/3 dos iranianos declararam-se indecisos. Mesmo assim, todas as tendências que traçamos, por procedimentos estatísticos regulares e conhecidos, espelham os resultados finais apresentados pelas autoridades iranianas (todos esses procedimentos podem ser auditados e confirmados, a partir dos dados do relatório da pesquisa), o que confirma que os resultados eleitorais apresentados sejam rigorosamente autênticos, sem que se justifique qualquer suspeita de fraude."

Vários jornais e jornalistas têm insistido em noticiar que haveria em andamento um plano para desestabilizar o Iran. Há quem fale de os EUA financiarem ataques terroristas, bombas e assassinatos no Iran. Parte da mídia nos EUA usa esses informes como ilustração de autopromoção do poder dos EUA para controlar e manter sob 'rédea curta' países 'dissidentes'; essa parte da mídia favorece o terror como política admissível contra esses países 'dissidentes'. Outra parte da mídia, na maioria a mídia estrangeira, vê esse tipo de noticiário como evidência da inerente imoralidade do governo norte-americano.

Ex-comandante militar paquistanês, o general Mirza Aslam Beig, disse à Rádio Pashtum, na 2ª-feira, 15/6, que o serviço secreto paquistanês tem provas irrefutáveis de que os EUA trabalharam para tentar alterar o resultado das eleições no Iran. "Há provas de que a CIA gastou 400 milhões de dólares em território iraniano para fazer eclodir uma revolução 'pacífica', 'colorida', contra o governo dos aiatolás, imediatamente depois das eleições."

O sucesso dos EUA ao financiar outras revoluções 'coloridas' na Georgia e Ucrânia e em outras partes do ex-império soviético tem sido tema muito repetido na mídia dos EUA. Para a mídia norte-americana, todos esses 'feitos' seriam manifestação da onipotência 'natural', do direito 'natural' dos EUA, como principal potência do mundo ocidental. Para parte da mídia estrangeira, seriam sempre evidência de que os EUA jamais deixaram de tentar intervir nos assuntos internos de outros países.

No campo objetivo das probabilidades estatísticas, é mais provável que Mir Hossein Moussavi seja mais um fantoche alugado para servir a interesses inconfessáveis dos EUA, do que tenha sido vítima de alguma espécie de fraude eleitoral.

Sabe-se que o governo dos EUA sempre usou instrumentos de guerra psicológica tanto contra os próprios norte-americanos como contra estrangeiros, nos EUA ou fora dos EUA. Em todas essas operações de guerra psicológica a mídia sempre foi instrumento privilegiado, nos EUA e em outros países. Há inúmeros estudos sobre isso.

Consideremos a eleição iraniana do ponto de vista do bom-senso do cidadão comum. Nem eu nem a enorme maioria dos leitores de jornal ou dos públicos telespectadores somos especialistas em Iran.

Alguém supõe que, se meu país vivesse sob constante ameaça de ser atacado (sob ameaça também de ataque nuclear e, isso, sem falar das sanções econômicas!), e se a ameaça viesse de dois países muito mais fortemente armados que o meu (como é o caso do Iran – que vive sob eterna ameaça de ser atacado ou pelos EUA ou por Israel ou por ambos!)... alguém supõe que eu ou você desistiríamos de tentar defender nosso país... para eleger algum candidato que aparecesse... e que interessasse aos EUA, a Israel ou a ambos?!

Passa pela cabeça de alguém que a maioria do povo iraniano teria votado para eleger um candidato que a maioria do povo vê como fantoche dos EUA e de Israel... e que a maioria do povo vê como interessado em converter o Iran em mais um Estado-fantoche dos EUA e de Israel?

A sociedade iraniana é antiga e sofisticada. Os intelectuais são, na maioria, seculares. Uma pequena fração da juventude foi fisgada pelos 'ideais' ocidentais de culto obcecado da satisfação pessoal, do interesse individual, da auto-dedicação aos interesses pessoais. Essas pessoas podem muito facilmente ser organizadas mediante o sempre abundante dinheiro dos EUA para esse tipo de operação 'especial', para fazer oposição ao governo eleito e ao pensamento social islâmico que, sim, impõe limitações ao comportamento individual.

Os EUA estão usando esses iranianos ocidentalizados como base de manobra para, a partir deles, desacreditar as eleições iranianas e o governo legitimamente eleito pela maioria dos iranianos.

Dia 14/6, o McClatchy Washington Bureau, que várias vezes até tenta investigar a fundo as próprias notícias, cedeu também à guerra de propaganda de Washington e publicou: "O resultado das eleições no Iran dificulta ainda mais a já dificílima tarefa de Obama." O que aí se vê são os primeiros movimentos do que, adiante, será a feia caratonha de um "fracasso da diplomacia", que abrirá caminho para uma 'inevitável' intervenção militar. Já aconteceu outras vezes.

(...) O grande poder super-macho está decidido a recuperar a hegemonia que teve sobre o Iran e os iranianos; será a revanche com que os EUA sonham contra os aiatolás que, sim, derrotaram completamente os EUA em 1978.

O script é esse. Para assistir aos capítulos, basta acompanhar, minuto a minuto a televisão nos EUA.

Não faltarão 'especialistas' para explicar o script. Por exemplo, um, colhido ao acaso dentre muitos, lá estava Gary Sick, ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional, atualmente professor na Universidade de Columbia:

"Se tivessem sido mais modestos e anunciado vitória de Ahmadinejad com 51% dos votos" – disse Sick –, os iranianos desconfiariam, mas acabariam aceitando. Mas o governo dizer que Ahmadinejad venceu com 62,6% dos votos? Não, não é crível."

"Parece-me", continuou Sick, "que estamos realmente num ponto de virada decisivo na Revolução Iraniana, de uma posição em que se dizia que a legitimidade da revolução estava no apoio popular, para uma posição que depende cada vez mais da repressão. A voz do povo está sendo ignorada."

Bullshit. Opinionismo sem qualquer fundamento. A única referência confiável, de pesquisa séria que há sobre as eleições iranianas, é a pesquisa citada acima, que o Washington Post publicou. A pesquisa demonstrara, três semanas antes das eleições, que Ahmadinejad era o candidato preferido de mais da metade do universo de eleitores.

Mas nenhuma pesquisa séria interessa. Reinam as regras da propaganda e da mentira. Nada tem a ver com fatos. Reinam as regras da hegemonia que os EUA sempre viveram de impor a outros povos.

Consumidos por esse vício de aspirar cada vez mais ao poder hegemônico, os EUA atropelam qualquer equilíbrio, qualquer moralidade. A democracia que se dane! E assim prosseguirão o script e as ameaças contra todo o mundo, até que os EUA afundem-se, eles mesmos, cada vez mais, para o fundo do poço: falidos, quebrados, no plano interno; e isolados, no plano internacional, universalmente desprezados.

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*Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do Tesouro no governo Reagan. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions.

O texto original em inglês está aqui: http://www.counterpunch.org/roberts06162009.html

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Blognovela Penetrália 12: blogando em Cuba

(Cenário: uma lan-house para turistas em Cuba. Os turistas brasileiros do barco Vampiro de Curitiba ocuparam-na totalmente, para perplexidade de cubanos e outros turistas).

Denny Yang: pessoal, o meu blog não acabou.

Henrique Hemídio: eu vim no barco também. Olha, Lúcio, o quê você acha da Filosofia Clínica?

Lúcio: Filosofia cínica? Adoro! Tem o Sloterdjik com a Crítica da Razão Cínica...

Hemídio: Não, é Clínica.

Lúcio: aquela do meu xará, Lúcio Packter? Ah, dizem que ele é um Gugu Liberato filósofo. Mas do jeito que o nível tá baixo, vou fazer três anos de psicanálise e clinicar.

Crítico de Arte: vocês gostam do Freddy?

Hemídio: que Freddy, o Krueger?

Crítico de Arte: não, o Freddy Nietty, o filósofo.

Lúcio: quanta intimidade! Gosto de Schopp Hause também.

Fantasma de Francis: vem cá, Lucianta! São dois metros e trinta, é pouco, mas é tudo para você!

Luciana: não, Francis, no meu Paco Rabane, não!

Lúcio: pessoal, vamos para a aula de Filologia com a Yoani. Cadê o John Hemingway? Foi comido pelos tubarões?

Gerald: estava justamente falando sobre isso agora...Ele está em Salzburgo vendo a Ópera H.

Denny: essa blognovela demora ainda? É longa?

Lúcio: essa blognovela, Denny, é toda de improviso...

Walter Greulach: Vou contar como conheci um tal Gerald: o sol ameaçava cair, mas a tarde, impávida, se esforçava muito pouco em evitar. Três ou quatro turistas, de barriga para cima, aproveitavam os últimos raios de luz em uma praia da Flórida. Eu me encontrava em minha rotina de arrumar os quartos na praia de National. Tirava toalhas e cobertores sujos e os colocava num saco preto, ao mesmo tempo em que repassava mentalmente os rótulos que tive durante meus quarenta e poucos infrutíferos anos: filho em Mendoza, estudante em Córdoba, locutor em Entre Ríos, cozinheiro em Aruba, agora morando em Miami e atendente na praia. Nada muito recompensador para quem aos dezessete anos se imaginava o sucessor de Borges ou pelo menos um pouco de Cortázar...


Lúcio: eu fui ver a novela e conferir a atuação do chimpanzé em Poucas e Boas. Gostei! Excelente ator!

Crítico de arte: os quadros dele eram um jogo dramático entre a forma e a essência...

Jô Soares: a dança da tartaruga, meu amor. Eu sou o ladrão de Bagdá, lá na Bahia comi vatapá.

Lúcio: as novelas combatem o abstracionismo. Mas para mim, o código realista não é "o" código. Mas o que eu queria mesmo era estar naquele barraco lá em Genebra, aquela palestra animada do "Jade". Ahmadine-Jade. Um Jade desmancha-rodinha e que não sabe dançar a dança do ventre.

Jô: eu tô doidão, eu tô doidão, eu tô doidão, de batida de limão!

Crítico de arte: seu papagaio de piratas do Caribe!

Lúcio: eu sou papagaio e Gerald Thomas é o pirata?

Crítico de arte: Nem me fale em Gerald, ele já citou Ahmadine-Jade em Porto Alegre e eu não fiquei nada alegre.

Contrera: e eu, sou o "Alex"? Sou o "mordomo chileno" e o Gerald é Jô?

Lúcio: eu adoraria ver aquela palestra. Jade, falar no Jade é dar polêmica.

Gerald: eu fui falar nele em Porto Alegre, me arrependi.

Lúcio: é, mas quem eram aqueles caras vestidos de palhaço com umas cores de arco-íris na cabeça, dando chilique na platéia? Eram gays protestando contra a posição anti-gay do Jade?

Crítico de Arte: eu achei linda aquela loira saindo...queria tomar um café com ela.
Aqueles europeus saindo altivos, tanta gente bonita...

Lúcio: foi animado demais! E aquele pessoal gritando das galerias! E berrando "change" para o Jade na saída! Te pego na saída, velho grito de guerra! E o Jade tinha que lembrar que existe racismo contra muçulmanos em Israel e racismo na Suíça? A Paula que o diga. Fez aquele "body-art" só para ganhar uns trocados...

Crítico de arte: É, o Jade não dança a dança do ventre, mas quer ver Cuba, Coréia do Norte e Irã lançar foguete. Quer ver Cuba lançar e balançar os USA. Ele é do mal mesmo, ele negou o holocausto, ele quer destruir Israel, ele. Enfim, enfim, o Jade é pop, o Jade é pop, cantem com a melodia daquela canção dos Engenheiros do Havaí.

Lúcio: que coisa mais cafona! Você comeu siri bosta? Vá ter um filho com o Lugo-gostoso. E-z-i-r, no nosso Hamlet, você seria a mãe de Ham-let e nos deixaria p-i-r-a-d-o-s.

James: minhaliteraturaagora.blogspot.com. Vocês viram Vik Muniz no JÔ ontem? Levei vinte e dois anos para fazer sucesso do dia para a noite! ÓTIMA FRASE! VIVA VIK!

Alberto Guzik: Lúcio, vc fez um post chamado Francis, Kantor, o escambau e você? Aff. Não achei poderoso, não. Achei...vou inventar um conceito. Alô, alô, Mirisola, Bin Laden dos frustrados! lembrando, pessoal, o Monóloga da Velha Apresentadora continua em cartaz em...


Lúcio: Falando sobre Tiradentes, adoro a cena final de Os Inconfidentes, do Quincas: Tiradentes ia ser enforcado, daí começam palmas e é uma encenação em 1972, com imagens de documentário mostrando que a ditadura militar também celebrava o militar Tiradentes...

Mirisola: A minha fanfarronice nada tem a ver com o texto que o Guzik está falando... já faz mais de dois meses que a Velha entrou em cartaz e até agora a peça não foi criticada num veículo de massa. Por quê? As pessoas tem que saber o que está acontecendo. Cadê o público? Por que eu só ouço falar no filme da Lília Cabral e no tornozelo fraturado do Rogério Ceni?


Lúcio: oi, oi, Guzik, merchan não rola, mas quem tá aí com vc...Caetano Vilela! Vc não deveria estar em Salzburgo? Manaus? Na selva amazônica?

Caetano Vilela: na guerra e no rock, estou com GT!

Alziro Patafísico: e eu tô sentindo um desespero, eu tô cada vez mais sarapatético e patafísico...ah, a ciência das verdades absurdas e ridículas, cada vez mais atual e tão renegada!

João Paulo do Estado de Minas: Os blogs são os olhos de um furacão de inconsequência e burrice eleito por Andrew Keen em O CULTO DO AMADOR. Quem lê um bom jornal está numa praça pública de pessoas decentes que querem vencer pela razão, não consolar pela concordância. Quem vai aos mesmos blogs se sente confortado em ver que há gente com quem sempre concorda.

Lúcio: JP, concorrente a gente trata com estriquinina, né? Deve ser esse o primeiro blog que você vê...E eu quero pedir desculpas publicamente para a Mariana Berger, que me pagou na Revista Discutindo Filosofia e eu nem vi...obrigado, Mariana! Beijos infinitos!

(Continua...)