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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Carta ao povo brasileiro, por Cesare Battisti





Carta ao povo brasileiro, por Cesare Battisti*

Data: 19/11/2009 - 20/11/2009


AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL SUPREMO MAGISTRADO DA NAÇÃO BRASILEIRA

"Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda". (O homem em revolta - Albert Camus)

Se olharmos um pouco nosso passado a partir de um ponto de vista histórico, quantos entre nós, podem sinceramente dizer que nunca desejou afirmar a própria humanidade, de desenvolvê-la em todos os seus aspectos em uma ampla liberdade. Poucos. Pouquíssimos são os homens e mulheres de minha geração que não sonharam com um mundo diferente, mais justo.

Entretanto, frequentemente, por pura curiosidade ou circunstâncias, somente alguns decidiram lançar-se na luta, sacrificando a própria vida.

Minha história pessoal é notoriamente bastante conhecida para voltar de novo sobre as relações da escolha que me levou à luta armada. Apenas sei que éramos milhares, e que alguns morreram, outros estão presos, e muito exilados.

Sabíamos que podia acabar assim. Quantos foram os exemplos de revolução que faliram e que a história já nos havia revelado? Ainda assim, recomeçamos, erramos e até perdemos. Não tudo! Os sonhos continuam!

Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo foram conquistadas graças ao sangue derramado por esses companheiros da utopia. Eu sou fruto desses anos 70, assim como muitos outros aqui no Brasil, inclusive muitos companheiros que hoje são responsáveis pelos destinos do povo brasileiro. Eu na verdade não perdi nada, porque não lutei por algo que podia levar comigo. Mas agora, detido aqui no Brasil não posso aceitar a humilhação de ser tratado de criminoso comum.

Por isso, frente à surpreendente obstinação de alguns ministros do STF que não querem ver o que era realmente a Itália dos anos 70, que me negam a intenção de meus atos; que fecharam os olhos frente à total falta de provas técnicas de minha culpabilidade referente aos quatro homicídios a mim atribuídos; não reconhecem a revelia do meu julgamento; a prescrição e quem sabe qual outro impedimento à extradição.

Além de tudo, é surpreendente e absurdo, que a Itália tenha me condenado por ativismo político e no Brasil alguns poucos teimam em me extraditar com base em envolvimento em crime comum. É um absurdo, principalmente por ter recebido do Governo Brasileiro a condição de refugiado, decisão à qual serei eternamente grato.

E frente ao fato das enormes dificuldades de ganhar essa batalha contra o poderoso governo italiano, o qual usou de todos os argumentos, ferramentas e armas, não me resta outra alternativa a não ser desde agora entrar em "GREVE DE FOME TOTAL", com o objetivo de que me sejam concedidos os direitos estabelecidos no estatuto do refugiado e preso político. Espero com isso impedir, num último ato de desespero, esta extradição, que para mim equivale a uma pena de morte.

Sempre lutei pela vida, mas se é para morrer, eu estou pronto, mas, nunca pela mão dos meus carrascos. Aqui neste país, no Brasil, continuarei minha luta até o fim, e, embora cansado, jamais vou desistir de lutar pela verdade. A verdade que alguns insistem em não querer ver, e este é o pior dos cegos, aquele que não quer ver.

Findo esta carta, agradecendo aos companheiros que desde o início da minha luta jamais me abandonaram e da mesma forma agradeço àqueles que chegaram de última hora, mas, que têm a mesma importância daqueles que estão ao meu lado desde o princípio de tudo. A vocês os meus sinceros agradecimentos. E como última sugestão eu recomendo que vocês continuem lutando pelos seus ideais, pelas suas convicções. Vale a pena!

Espero que o legado daqueles que tombaram no front da batalha não fique em vão. Podemos até perder uma batalha, mas tenho convicção de que a vitória nesta guerra está reservada aos que lutam pela generosa causa da justiça e da liberdade.


*Cesar Battisti é escritor e ativista político italiano

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

SVP=FDP, Battisti, Mitre, Casoy, Jean Wyllys, Fórum Social, Venus de Willemdorf, Kate Moss

A novela Battisti continua. Leio no blog do Caetano que existe um tal Bragaglia em Ilhabela que cometeu crimes de extrema-direita e poderá ser extraditado. Uma tal Cristina, a mesma que protagonizou um barraco com o Gerald lá no blog dele, está lá no Caetano e comentou essa do direitista de Ilha Bela. Será amigo dela?

Crimes de extrema-direita costumam ter certa simpatia de partes do aparelho do estado. Um exemplo é o da Paula, advogada brasileira atacada por suíços de extrema-direita. A Europa está ficando cheia de neofascistas violentos, essa é a face mais perversa da globalização por lá. A polícia diz que os acontecimentos não estão muito claros e a mídia reproduz isso. Um jornal suíço, protegendo o SVP, União Democrata Cristã ou coisa que o valha: na verdade, um bando de xenófobos. SVP=FDP. Eles são os verdadeiros abutres que devoram a Suíça e a Europa. E ela, como na versão maluca dos suíços para ficarem bem com o poder, tiver se auto-flagelado? E se isso virar moda e Reinaldo Azevedo aparecer com um "PT" tatuado em pleno auto-flagelo católico no bumbum? Bem fashion, não? Eu tinha simpatia pelo Direto da Redação, mas hoje, como um cara que escreve na Suíça lá, um tal Rui Martins, bancou essa versão do poder e mandaram como título do newsletter, acho que Gerald deve estar certo a respeito deles e "alguém do DR deve ter problemas".

Badan Falhares é um estado de espírito, hein? Baixou nos suíços! E ninguém vai ser condenado pela morte do mineiro Jean Charles. Scotland Yard sucks! Schweitzer SVP, du bist schrecklich!

O Terceiro Mundo precisa explodir essa hegemonia do norte. Mas nós continuaremos indo para lá, pois eles estiveram aqui como colonizadores.

Sinceramente, como Netantahu, com o russo ou com, como a mídia pronuncia, "Zíper Livre", o futuro de Israel me parece sombrio. O país apostou tudo no apoio americano. Se o apoio americano se tornar anti-econômico, não duvido que os USA abandonarão Israel à própria sorte. Daí ouviremos falar da "Faixa de Haifa" ou coisas que tais. Mas por enquanto, embora a Igreja Católica esteja santificando padres franquistas que tombaram às dezenas, ainda pelo menos obriga o padre antissemita a pedir desculpas.

E o caso Battisti ainda dá o que falar. Casoy, para reforçar suas verdades, chamou lá no SBT o Fernando Mitre e um professor universitário cujo nome esqueci. Ficaram com uma conversa que não enfrentou os fatos a respeito do caso e ficou repetindo o caso dos boxeadores cubanos (Caetano já voltou atrás e retirou essa comparação, no que foi muito sensato; talvez Tarso Genro tenha lhe telefonado). Casoy tinha algo de escultura, de estátua, de pedra, de retorno ao chão. Ele parece uma estátua de si mesmo, uma talking head de mármore. Mitre era mais humano, mais eros do que tanathoscasoy, mas mesmo assim com uma barbicha histriônica acentuava sorrindo "verdades" levianas televisivas. Tinha para tudo o aval do profe, que sempre repetia que o Proletários Armados pelo Comunismo era um grupo criminoso comum, que Battisti precisa ir para Itália senão estamos falando mal da DEMOCRACIA italiana, que está sendo conspurcada em sua pureza burlescômica. Hard Times in Bello Paese, como escreveu John Hemingway, acentuando que Burlesconi é tão xenófobo com os ciganos da Itália quando outros partidários modernos da expulsão dos imigrantes.

A coisa foi muito diferente na Record, quando um jovem entrevistador confrontou um jovem representante do governo italiano e um defensor dos Direitos Humanos. Falou-se em Mitterrand (que perdoou Battisti), no fato de que o grupo de Battisti era político, incontestavelmente, dentre outros argumentos, deixando o defensor de Bushesconi em maus lençóis. Os argumentos dos caras se desfazem num diálogo sério.

Fico feliz pelo Fórum Social no Pará e fico satisfeito em ver que em Davos assumiram que o papel do estado é importante. Já a Revista Veja se sentiu pessoalmente desacatada. Davos virou marxista?

Jean Wyllys atacou Patrícia Kogut por uma nota que dizia que ele se negou a dar entrevista no Globo Repórter. O único que me interessava na história toda era ele, um professor universitário intelectual que vivia citando Caetano Veloso. Caets, que eu saiba, nunca citou o nome dele. O blog dele era simpático e ele até me respondeu um e-mail que mandei a respeito do programa e de um texto meu sobre Oswald e a tropicália. Mas o blog do Jean, aí por 2006, era como o myspace da Nina Hagen: comandado por outros, oxe, pois Jean tinha mais o que fazer...

Wyllys fez uma grande jogada política assumindo ser gay na TV e ganhou a disputa. A partir da aprovação do público à sua pessoa, ele ficou imune no programa e conspirar contra ele virou ataque politicamente incorreto ao público e a uma minoria. E, diga-se de passagem, eu acho o politicamente incorreto importante e é algo que deve ser pensado. Em geral, é positivo. Eu simpatizo com Jean, mas no caso da Kogut, ele quis se defender, na verdade, da Globo. Foi ela que disse que ele se negou a dar entrevista para o Globo Repórter, numa postura vingativa. Ele simplesmente estava de férias. Mas as organizações querem não só o corpo dos bróderes, querem suas almas. Jean se negou, pois foi curtir o paraíso baiano e baiano não tem a ética protestante do trabalho, graças a Deus e aos orixás.

Outro dia vi uma entrevista de Kate Moss, a "cocaine Kate" dos tablóides ingleses. Um artista fez dela uma escultura dobrada com seu peso: cinquenta quilos. Kate é o modelo da mulher moderna, magra por cobrança do padrão. O meu padrão é a Vênus de Willemdorf.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Os Guerrilheiros contra os herdeiros de Mussolini na Itália

Releio um artigo de José Antonio Pinheiro Machado sobre sua estadia na Itália de 1979 onde ocorreram os crimes pelos quais Battisti agora é perseguido. O contexto agora é obscuro e a tendência é de até mesmo intelectuais e jornalistas respeitáveis tais como Afonso Romano de Sant´Anna fazem discursos iguais aos de integralistas de extrema-direita a respeito desse assunto, reclamando toscamente de "irracionalismo ideológico"... Portanto, nesse momento grave é preciso algum esclarecimento.
Nos anos 70 italianos, com o PC italiano relativamente burocratizado, acomodado e participando da legalidade política, e, quem sabe, fazendo como o PC brasileiro de um Ferreira Gullar fazia nos anos 70, segundo as cartas ao mundo de Glauber Rocha: um partido arcaico que ficava negociando os dissídios da classe trabalhadora. Pasolini, por exemplo, prosseguiu naquele antro de “jogadores de bocha” insistindo para que os jovens o renovassem, daí o sentido do poema O PCI aos jovens!
O eixo do artigo de Pinheiro Machado “ a nova barbárie que invadiu a Itália” é a identificação da extrema-esquerda à extrema direita. Os atos da extrema-esquerda eram parte de uma “estratégia de tensão” que acabavam por favorecer a direita. Ele não entra em detalhes, mas a extrema-direita italiana também cometeu atos de terrorismo na Itália dos anos 70. Os principais grupos que estavam em luta armada eram as Brigadas Vermelhas e a Autonomia Operária. Os brigadistas seqüestraram o primeiro-ministro da democracia cristã Aldo Moro em 1978 e o assassinaram, o que funcionou a favor da direita. A estratégia, segundo Pinheiro Machado, seria levar o poderoso PCI de volta para os trilhos revolucionários através do fortalecimento da direita no poder. O lema dos brigadistas era “transformar a farsa eleitoral em luta de classe”, frase escrita pelos brigadistas ao destruírem com bombas a sede da DC em Roma. Num momento mais compreensivo onde deixa de simplesmente fazer invectivas contra os “novos bárbaros” e “terroristas”, Pinheiro Machado escreveu:

Os partidos de esquerda repetem sempre que há anos vem exigindo, sem resultado, a reforma e o reaparelhamento da polícia para proteção do estado democrático, e que a DC, desde o pós-guerra, tem tido o monopólio absoluto do Poder (inclusive na época em que compôs o governo de centro-esquerda, com os socialistas em situação subalterna), controlando a polícia e os serviços secretos. São mais de trinta anos de desgoverno DC, que se refletem também na polícia, opinava antes das eleições um senador comunista.

Pinheiro Machado não tratou do minúsculo grupo Proletários Armados pelo Comunismo, de Cesare Battisti, mas registrou a origem comum dos grupos mais importantes:

A Autonomia Operaria é a evolução da antiga organização, Potere Operário, surgida das lutas estudantis de 68 na Itália. Desta, teriam saído dois troncos distintos: a Autonomia e as Brigadas Vermelhas (...). O líder dos autômonos é o professor Antonio (Toni) Negri, da Universidade de Padova, autor de vários livros onde teoriza a violência das massas. Ele foi preso em abril e continuava até julho organizando a formalização do processo, por suspeita não só de ter teorizado, como também dirigido pessoalmente a operação de seqüestro e assassinato do deputado Aldo Moro.

Pinheiro Machado citou acima outro caso duvidoso, o de Antonio Negri, que é grande teórico e crítico social e também teve de seguir para o exílio numa época posterior a essa citada aí em cima (1979). Pessoalmente, penso que a luta armada em tempos de democracia liberal é algo fadado ao fracasso, mas o contexto em que a DC monopolizava o poder e a situação dos jovens levou a essa situação. Deve se levar em conta o contexto, portanto hoje a gente fica pensando como gente tão inteligente entrou numa fria daquelas. O artigo do Pinheiro que citei acima, na já finada revista Oitenta, foi especialmente moderado e identificado com as vítimas da DC, mas devemos levar em conta que em 79 o Brasil acabava de sair de experiência semelhante e igualmente traumática.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Battisti, o homem isca

Impressionante como um ex-guerrilheiro, escritor de romances policiais, polarizou toda uma sociedade e toda a imprensa. Trata-se da personalização da política: Berlusconi e a Itália neofacista de consumo e mafiosa querem sua isca. Afinal, o que pode um militante pobre e derrotado contra o governo de um país com tropas no Iraque e Afeganistão?

Eu apoiaria a extradição de Battisti se fosse para uma democracia não-viciada (os canais de TV são de Berlusconi) para um julgamento com direito à defesa e que levasse em conta o tempo passado e as agressões e prisão sofridas no Brasil.


Já o texto do nickname Vamp no blog do Gerald merece algumas considerações: 1) como Vamp se aproxima do estilo de Thomas (que é muito bom por sinal), fazendo pastiche, o texto, pela web, será atribuído ao GT. Cabe ao Vamp ser um moderador um pouco mais moderado do blog. Sinceramente, acho tosco alguém se liberar para atacar Deus e o mundo atrás de um nickname no blog de um artista famoso por sua genialidade, mas que aposta arriscando muito em política. Não é aconselhavel radicalizar no conservadorismo agora, justamente quando o estado de bem-estar social e as políticas de esquerda entrarão em pauta no mundo inteiro.

A aproximação do caso Dilma é pura provocação e acusações como "asssassina", "assaltante" podem render processos. Lembre da lição do Paulo Francis, Vamp! Não coloque o grande artista que é o Gerald numa fria.

E 2) para quê tentar repor, ao estilo Pacheco, a versão da direita sobre a ditadura militar? A reprodução da foto de Dilma é provocação pura e inócua. O efeito será o contrário do que ele espera, dando argumentos para a esquerda e para quem acha que Gerald Thomas é "chato de galochas" e "artista de direita". Por que? Por que?