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quarta-feira, 1 de julho de 2009

RA é maisl iberal que Antônio Cícero

Nunca imaginei que, algum dia, o poeta e ensaísta Antônio Cícero se mostraria mais reacionário do que...Reinaldo Azevedo! Marcelo Coelho está certo quando coloca RA como sendo um parâmetro: "até ele..."

Pois, ora vejam, Reinaldo não é contra a proibição da burca! Até ele sabe que esse tipo de proibição é contraproducente, é bobagem. Ele não é um pessimista sombrio, como insinuou o Marcelo Coelho. Ele gira, gira e tenta nos convencer que o estado atual das coisas é o melhor possível. É o Pangloss pós-moderno, não tão otimista, portanto. Pangloss agora precisa combater; não basta o conformismo, é preciso ser crítico.

Comecei a ler O Mundo Desde o Fim, por recomendação de Caetano Veloso, mas realmente ele é o extremo oposto de José Agrippino de Paula, que queria viver a obra de Oswald de Andrade. Ora, não posso viver Serafim Ponte Grande. Como seria isso? Vou a uma palestra na Flip e tentar enrabar alguém lá chamando-o de "Pinto Calçudo?" Vou peidar e dizer que meu blog acabou, que saí do blog? Tentar viver a arte seria algo próximo do fim da razão, da loucura mesmo.

Cicero não quer viver a arte, quer trazer as luzes do Iluminismo para todos os âmbitos: arte, principalmente. Ele teoriza com poesias logocentricamente, sem teoria da literatura, com silogismos. Há algum tempo li As Razões do Iluminismo do Roaunet, mas logo vi que estava diante de um "dono da razão". Quem discorda do absoluto acaba virando irracionalista.

O Mundo Desde o Fim me pareceu um texto que precisava de uma metáfora como a da minhoca. A minhoca não tem fim. A boca e o ânus se assemelham. Antonio Cicero pode estar começando antropofagicamente por abocanhar a modernidade, mas pode também estar absolutizando a razão, no momento mesmo em que ela serve para Auschwitz, o Gulag, os atentados contra as Torres Gêmeas. Ou pelo menos um tipo de razão, a instrumental. Mas não vi nada de cisão nas teorias de Cícero. Não. A razão é absoluta, é dogma.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Ainda no blog do Cicero sobre a burca

Penetralia,

Não sou eu, mas você que confunde o “projeto de poder do Ocidente” com a razão. Eu, ao contrário, diferencio a razão de qualquer projeto de poder. A razão não pode se confundir com coisa nenhuma, porque ela é, em primeiro lugar, crítica, e “crítica” quer dizer “separação”. A razão – e só a razão – é o que nos permite criticar todos os projetos de poder.

É claro que as potências imperialistas gostariam de confundir os seus projetos com a razão. Mas é impossível. Tanto que a crítica mesma a esses projetos – a crítica ao imperialismo – foi feita pela razão: e só pode ser feita por ela.

Toda tentativa de reduzir a razão a uma cultura particular acaba levando a autocontradições. Foi o que aconteceu com Foucault e alguns outros filósofos contemporâneos, como demonstrei no artigo a que alude.

“Mulheres vestidas de um lindo azul”? Isso me lembra Marx, que falava de arrancar as flores que enfeitam as cadeias dos oprimidos. “Livres pela burca de serem mulheres-objetos”? Mais objeto – embrulhado – do que essas mulheres, é impossível. Logo você estará propondo introduzir a burca no Ocidente, obrigando as mulheres, para deixarem de ser mulheres-objetos, a se cobrirem da cabeça aos pés; ou, quem sabe, obrigando-as a usar máscaras?

Racista, Penetralia, é confundir as superstições e os costumes retrógrados de uma corrente religiosa qualquer com a “raça” das pessoas que são oprimidas por esses costumes, crenças e superstições: dizer, por exemplo, “Fulana é árabe, logo é certo que ela apanhe do marido”. Ou: “Fulano é árabe, logo a razão – que é ocidental – não lhe diz respeito”. Nada é mais etnocêntrico e pró-imperialista do que pensar que a razão é ocidental.

Hirsi Ali, uma mulher somali que conseguiu se libertar das superstições e dos costumes retrógrados que imperavam em sua tribo, explica que o fez porque a razão lhe mostrou que:

É errado subordinar as mulheres aos homens;
É errado executar pessoas por serem homossexuais;
É errado matar apóstatas;
É errado chicotear e apedrejar as mulheres até a morte;
É errado amputar as mãos dos ladrões;
É errado dizer que quem morre lutando pela sua religião terá o paraíso;
etc.

Concordo com ela. A Idade Média ocidental também foi terrível. Tolice é pensar que ela era menos opressiva do que a modernidade.
Não posso pôr a minha antipatia por Sarkozy ou considerações táticas à frente dos meus princípios. Esse tipo de coisa, aliás, sempre foi o erro de grande parte da esquerda.

Pense bem.


O debate todo tá no antoniocicero.blogspot.com