Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Micheletti é o homem mais poderoso da Terra, Obama só serve a cerveja
Laerte Braga
A embaixada do Brasil está sob ataque de bombas químicas fornecidas por Israel. A mulher do presidente Zelaya, Xiomara, enviou diversas fotos de bestas/militares lançando artefatos contra o prédio da legação brasileira.
Interior da embaixada do Brasil, um dos abrigados passa mal com hemorragia nasal.
Arnaldo Jabor chamou o golpe contra a legalidade constitucional de “golpe democrático”. Em 1964 as bestas/militares que derrubaram João Goulart usavam a mesma expressão.
Terrorista do exército de Honduras lança bombas contra a embaixada do Brasil. Como todo besta/militar está encapuzado. Vídeos das ações terroristas estão sendo enviados à ONU e há necessidade de socorro médico aos que estão no interior da embaixada. Alguns capuzes servem para encobrir que os terroristas são agentes norte-americanos ou israelenses.
Jabor é em si e por si uma fraude. Seu maior feito, segundo ele, foi ter transado com Janis Joplin, em Salvador, quando da visita da cantora ao Brasil. Não contou a história por inteira. Joplin acordou em meio a convulsões, havia cheirado tudo (uma alma sensível tragada por gente como Jabor), vomitando e depois de ser atendida por médicos, perguntou se alguém tinha um caco de telha para tomar banho. Estava se sentindo imunda por conta da noite anterior.
Roberto Michelleti, laranja dos interesses norte-americanos e das elites hondurenhas, garantido pelas bestas/militares que derrubaram Zelaya, é o homem mais poderoso do planeta. Obama colocou avental novo para servir-lhe uma cerveja de fabricação caseira, inacessível ao mercado dos mortais comuns.
A exceção do apoio explícito da GLOBO, dos seus principais porta-vozes e da chamada grande mídia, o golpe contra Zelaya está condenado em todos os cantos e Michelleti permanece no poder.
Prendem, torturam, estupram, matam, censuram a mídia e Jabor chama isso de “democrático”.
Em www.radiouno830.es.tl é possível escutar – é uma rádio hondurenha gerida por trabalhadores – a reação popular ao golpe. Tomar conhecimento da barbárie das bestas/militares contra o povo.
A mulher do presidente Zelaya informou que há necessidade de atendimento médico às pessoas que estão na embaixada do Brasil. As bombas israelenses causam dores de ouvido, desequilíbrio, vômitos, alguns inclusive vomitando sangue.
Em qualquer lugar do mundo Miriam Leitão, Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor, William Bonner e outros, por serem agentes estrangeiros, estariam sendo processados e julgados por crime de traição.
Uma semana antes de Jabor transar com Janis Joplin a cantora havia pulado de roupa e tudo na piscina do hotel Copacabana Pálace, no Rio de Janeiro. O detalhe: a piscina estava vazia e Joplin necessitou de atendimento médico.
Por incrível que possa parecer Joplin era uma figura delicada, tímida e decente. Decente sim, por que não?
Já Jabor...
Quando Paulo Francis morreu a GLOBO achou que Jabor poderia suprir a sua falta. Há um a diferença abissal entre eles. De inteligência e cultura. Francis era uma exceção, um superdotado. Jabor um serviçal de quinta categoria.
Francis se impunha à GLOBO. Jabor cumpre um papel que lhe é dado e transformou o sucesso de seus disparates, no esquema Homer Simpson, em auto-ajuda democrática, piegas e muito bem remunerada.
É outro que acha que o pré-sal deve ir para as mãos do dono da Cervejaria Casa Branca.
O “golpe democrático” segundo Jabor. O décimo terceiro dele chegou antes de dezembro.
Resistentes no interior da embaixada do Brasil em Honduras denunciam que está sendo construído um túnel de fora para dentro. O objetivo é facilitar uma eventual invasão, já denunciada por Zelaya.
A ONU determinou, através do Conselho de Segurança, a suspensão do cerco das bestas/militares à sede da embaixada do Brasil.
Um comunicado dos golpistas pede ao povo que compareça em massa às eleições marcadas para novembro. Querem legitimar a farsa através de outra farsa. Há o receio que a população deixe de ir às urnas e com isso fracasse a manobra. A mobilização popular está sendo, no entanto, agora, em direção a Tegucigalpa, para a defesa da volta de Zelaya.
Organizações de Direitos Humanos começam a denunciar que servidores públicos, funcionários de empresas hondurenhas e estrangeiras no país, já começam a ser ameaçados, inclusive com demissão e outras sanções caso não compareçam aos locais de votação. Um mês e meio antes das eleições. É o pânico das bestas militares diante da reação popular ao golpe de estado.
Segundo Jabor, um “golpe democrático”. Daqui a pouco a GLOBO vai começar a justificar a tortura, as prisões, os assassinatos, a barbárie como um todo, praticados pelos terroristas disfarçados de defensores da democracia. Não é a primeira vez. Fez isso durante a ditadura militar de 1964 no Brasil.
A Rádio Uno, citada acima está transmitindo em condições precárias, mas enfrentando a censura e os constantes golpes como cortes de energia. Cercados em seus estúdios, não vacilam em desafiar os golpistas. É o “golpe democrático” segundo Jabor.
É o que os caras da Cervejaria pensam do resto do mundo. É o recado que mandam.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Metáforas e Metonímias Oficiais
Sírio Possenti* - O Estado de S.Paulo
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- Quase ao final do Roda Viva de 30/03/2009, um entrevistador perguntou ao vice-presidente, José Alencar, se é possível que ele e Lula apoiem candidatos diferentes em 2010. Em resposta, Alencar contou uma longa história que envolvia quatro antigos jornalistas esportivos do Rio, torcedores do Flamengo, do Fluminense e do Botafogo. Haveria um jogo entre Vasco e Bangu, nos dias seguintes e a única chance de um dos três clubes ser campeão era a derrota do Vasco. Discutiram longamente a possibilidade de isso acontecer e, não tendo chegado a um acordo, foram ouvir Neném Prancha. Expuseram-lhe o "problema". Ele pensou, pensou, pensou e, finalmente, disse: "Em sendo a bola redonda, tudo é possível". O vice riu, a bancada gargalhou.
Se a história tivesse sido contada por Lula em resposta a pergunta análoga, não faltaria quem dissesse que ele só fala por metáforas (análise errada, consagrada desde as menções ao tempo que jabuticabeira leva para produzir jabuticabas) e em geral as busca no futebol. Mas, sendo Alencar, louvar-se-á a habilidade mineira diante de uma pergunta incômoda.
Uns podem, outros não. É uma velha regra, que permite a Obama dizer "esse é meu chapa" e a Michelle abraçar a rainha, mas não vale para Lula. Lula erra, Obama faz estilo. Lula é ignorante, Obama é informal. A mesma coisa é outra, conforme se trate de um ou de outro cidadão. Levada ao extremo, a regra se enuncia todos os dias e está em música (imperdível) de Ary Toledo: rico correndo é atleta, pobre correndo é ladrão.
Que Lula não é letrado já sabemos. Não há razão para esperar que cite Montaigne ou Weber. Mas é bom analisar um pouco melhor o que diz e o estilo de que se vale, se se quiser entender melhor - se interessar, para combatê-lo - se o conjunto revela suas posições, estratégias diversas para públicos diferentes, possíveis contradições, se são eleitoreiras ou uma forma de governar, se isso é bom para a democracia, etc. Mas esqueçam um pouco a gramática (aliás, o Manual de Redação), por favor!
A questão do ajuste às diversas plateias, aparentemente um bom problema, é hoje menos relevante, já que falas de governantes, sejam proferidas onde forem, se destinam à mídia. Uma coisa é o repórter ou o cidadão que o ouve nos palanques. Bem outra é o verdadeiro destinatário, que o verá e ouvirá nos jornais.
Suas metáforas são insuportáveis? Pode ser. Eu posso não gostar, frequentemente não gosto, posso achar repetitivas ou simplórias, mas quem disse que ele fala para mim? A queixa esconde duas expectativas: a) ele deveria falar conosco, mas prefere falar com eles; b) um presidente deveria ser mais fino. Nos tempos de Collor x Lula, uma jornalista declarou preferência por Collor porque não envergonharia o Brasil em recepções oficiais. Referia-se ao uso de guardanapos!
Mas há algo de insuportável nesse assunto, que se repete há anos: as falas de Lula são genericamente classificadas como metáforas. Até Alencar fez isso, na mesma entrevista. Claro, deve haver muitas (o linguista Roman Jakobson mostrou que metáfora e metonímia são as leis básicas da língua), mas o que se classifica aqui de metáfora quase sempre foi outra coisa.
Talvez se devesse começar por um esboço de classificação das falas de Lula. Simplificando muito: há pequenas "parábolas", gafes, quebras de etiqueta (ou sinceridade inusitada) e passagens que podem lembrar metáforas, mas são mais propriamente comparações (como agora mesmo, no G-20, quando disse, pela enésima vez, que estamos num barco que faz água e temos que jogar a água fora e consertar o barco, senão afundamos). É bem menos chique do que febre de consumo e economia sadia... E, sim, eventuais metáforas.
As repetidas explicações de Lula para o que não acontecia em seus primeiros meses de governo - sobre o tempo que uma jabuticabeira leva pra dar jabuticabas ou uma mulher para dar à luz - não são metáforas. São comparações. Ambas têm efeitos parecidos, mas uma coisa é dizer "o país acaba de engravidar" e outra é dizer "um governo é como uma gravidez". Gente sábia deveria saber... Exigir um pouco de precisão de nós mesmos - não só dele (s) - seria um bom começo.
Dizer da capital da Namíbia que é uma cidade limpinha é uma enorme gafe, e revela uma representação absolutamente estereotipada da África, mesmo que fosse verdade, como disseram alguns auxiliares, que ele queria combater o estereótipo. De qualquer forma, uma análise mais fina não faria mal.
Há expressões que estão no limite entre um discurso e outro. Quando disse que d. Marisa engravidou na primeira noite porque pernambucano não deixa por menos, foi pura gabolice besta. Ver aí machismo é superinterpretação. Só foi pouco fino. Pelo menos, ninguém falou em metáfora (embora "primeira noite" seja uma). É um ganho.
Chegou-se a ver racismo na declaração de Lula culpando brancos de olhos azuis pela atual crise. Não há um discurso racista, uma memória racista, que pretenda basear-se na suposta incapacidade de brancos, por serem brancos, de gerir instituições financeiras. O sentido da declaração é "parem de acusar os habitantes do Hemisfério Sul (ou "não os culpem pelo menos desta vez"), ora por causa do clima, ora por causa "das raças", de serem, por isso, incapazes de se governar, ou de serem, por isso, mais corruptos. E, definitivamente, "brancos de olhos azuis" não é uma metáfora. É uma metonímia - parte pelo todo, já que nem todos os de lá são brancos de olhos azuis.
"Tsunami" e "marolinha" são metáforas (enfim!): uma palavra por outra, melhor ainda, uma palavra de um campo por outra de outro campo. Dita por um francês ou por um acadêmico, é uma figura de linguagem. Por um brasileiro, ex-operário, é vício de linguagem. Ah, as gramáticas e os manuais!
Certamente, as falas de Lula são "populares" - em mais de um sentido. Nos palanques, lembra os animadores de auditório. Profere comparações e expressões do dia a dia, avaliadas negativamente em função da imagem que temos da figura presidencial. "Sifu", forma destinada a evitar um palavrão, foi analisada como se fosse um. Sua última fala "chocante" desapareceu, soterrada por Obama falando de Lula como se fosse um companheiro de quadra. Caso contrário, teria alcançado repercussão bem maior e negativa sua declaração de que, numa reunião como a do G-20, "você não faz negociação com o pé na parede, dá ou desce, existe uma negociação". Expressão informal? Grosseira? Pode achar. Mas não é uma metáfora.
Acho que o segredo de Lula é que usa terno e macacão ao mesmo tempo. Ora sua roupa de baixo é o terno, ora o macacão. Às vezes, o macacão aparece quando está de terno. E vice-versa.
Creio que isso seja uma metáfora.
*Professor do Departamento de Linguística/Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp
terça-feira, 30 de junho de 2009
Ainda no blog do Cicero sobre a burca
Não sou eu, mas você que confunde o “projeto de poder do Ocidente” com a razão. Eu, ao contrário, diferencio a razão de qualquer projeto de poder. A razão não pode se confundir com coisa nenhuma, porque ela é, em primeiro lugar, crítica, e “crítica” quer dizer “separação”. A razão – e só a razão – é o que nos permite criticar todos os projetos de poder.
É claro que as potências imperialistas gostariam de confundir os seus projetos com a razão. Mas é impossível. Tanto que a crítica mesma a esses projetos – a crítica ao imperialismo – foi feita pela razão: e só pode ser feita por ela.
Toda tentativa de reduzir a razão a uma cultura particular acaba levando a autocontradições. Foi o que aconteceu com Foucault e alguns outros filósofos contemporâneos, como demonstrei no artigo a que alude.
“Mulheres vestidas de um lindo azul”? Isso me lembra Marx, que falava de arrancar as flores que enfeitam as cadeias dos oprimidos. “Livres pela burca de serem mulheres-objetos”? Mais objeto – embrulhado – do que essas mulheres, é impossível. Logo você estará propondo introduzir a burca no Ocidente, obrigando as mulheres, para deixarem de ser mulheres-objetos, a se cobrirem da cabeça aos pés; ou, quem sabe, obrigando-as a usar máscaras?
Racista, Penetralia, é confundir as superstições e os costumes retrógrados de uma corrente religiosa qualquer com a “raça” das pessoas que são oprimidas por esses costumes, crenças e superstições: dizer, por exemplo, “Fulana é árabe, logo é certo que ela apanhe do marido”. Ou: “Fulano é árabe, logo a razão – que é ocidental – não lhe diz respeito”. Nada é mais etnocêntrico e pró-imperialista do que pensar que a razão é ocidental.
Hirsi Ali, uma mulher somali que conseguiu se libertar das superstições e dos costumes retrógrados que imperavam em sua tribo, explica que o fez porque a razão lhe mostrou que:
É errado subordinar as mulheres aos homens;
É errado executar pessoas por serem homossexuais;
É errado matar apóstatas;
É errado chicotear e apedrejar as mulheres até a morte;
É errado amputar as mãos dos ladrões;
É errado dizer que quem morre lutando pela sua religião terá o paraíso;
etc.
Concordo com ela. A Idade Média ocidental também foi terrível. Tolice é pensar que ela era menos opressiva do que a modernidade.
Não posso pôr a minha antipatia por Sarkozy ou considerações táticas à frente dos meus princípios. Esse tipo de coisa, aliás, sempre foi o erro de grande parte da esquerda.
Pense bem.
O debate todo tá no antoniocicero.blogspot.com
terça-feira, 2 de setembro de 2008
A Norma Oculta: Livro que Caetano Citou
Olha aí, pessoal, a Norma Oculta é do Marcos Bagno! Caetano tá ruim de memórias para nomes ou será que ele acha que simplesmente falar o nome de uma pessoa já vira marketing pessoal?
II. Livros Técnicos e Didáticos
A norma oculta - língua & poder na sociedade brasileira
São Paulo, Parábola, 2003.
Não existe preconceito lingüístico!
Esta é a frase que muitos gostariam de ler, especialmente se estampada num texto do autor do muito difundido Preconceito lingüístico. E é o que leremos aqui, com todas as letras.
Como pode Marcos Bagno, em seu novo livro, vir se desdizer? Vamos com calma, vamos por partes:
A norma oculta aprofunda o estudo das relações entre língua e poder no Brasil e avança para a afirmação de que o preconceito lingüístico na sociedade brasileira é, na verdade, um profundo e entranhado preconceito social.
Bagno lança um olhar inquiridor sobre a história da constituição das línguas para desvendar nossa realidade sociolingüística. Seu recurso à história se funde com a pesquisa sociolingüística e a crítica corajosa do rótulo de "erro", sempre aplicado com rigor, mas segundo critérios bem relativos, por aqueles que se consideram sacerdotes da classe letrada, incumbida de defender a pureza estática da língua. Exemplo candente disso são as reações de expoentes da imprensa nacional ao modo de se expressar do primeiro operário nordestino eleito para a presidência da República. É ilustrativo enxergar, seguindo a análise do autor, o peso do preconceito social travestido de aniquilamento da língua do outro, quando não se enxerga este outro como interlocutor válido.
A norma oculta desvenda o jogo ideológico por trás da defesa de um conjunto padronizado de regras lingüísticas, retira o disfarce lingüístico de uma discriminação que é, de fato, social, ao demonstrar que a própria negação da existência do preconceito lingüístico é a prova mais do que eloqüente de que as coisas não podem seguir como estão.
Para entender nossa língua temos de assumir a concretude histórica, cultural, a condição de atividade social da língua, sempre sujeita às circunstâncias, às instabilidades, às flutuações de sentido, à própria opacidade da experiência humana.
Trata-se aqui, mais uma vez, de expor e de reafirmar as bases do imperativo de incorporar à educação em língua materna uma concepção dinâmica que nos leve a abandonar a inútil busca de estabilidade e de homogeneidade, típicas do modo tradicional e redutor de encarar as relações dos seres humanos entre si e consigo mesmos por meio da linguagem.
A história das línguas e das sociedades nos revela que para haver alguma mudança nos conceitos de língua "certa" e língua "errada" é preciso que também haja, ao mesmo tempo, uma grande e radical transformação das relações sociais.
No campo lingüístico, transformação significativa será o estabelecimento de uma possível gramática do português brasileiro, a ser preparada pelos pesquisadores que há bem mais de trinta anos estão engajados na investigação criteriosa da nossa realidade lingüística.