domingo, 14 de fevereiro de 2021

Poemas Sobre o Amor (Ou Não)

 

Poemas Sobre o Amor (ou Não)

 

            O livro Poemas Sobre o Amor (Ou Não), de Saulo Mazagão, com ilustrações de Ideraldo (Literatura em Cena, 2019) desperta muitíssimo meu interesse. Penso que é muito importante fazer o que ele faz nesse livro, retomar os poemas como rimas e com métrica. Ele é um poeta que mais diz sim à vida, do que veleja os mares do não.

            Nesse livro, de certa forma, Saulo passa naquilo que sua grande admiração mineira, Carlos Drummond de Andrade, chamou “serviço militar da métrica”, algo indispensável. É preciso resgatar a dicção parnasiana, como dizia Paulo Leminski.  Afinal, os parnasianos dominavam a forma. Isso só não basta, mas é muito importante.

            Para falar do amor, foi preciso que ele falasse do corpo, é há um bom poema e bem representativo de sua produção com esse nome. Tomemos uma sequência de frases que tomo das estrofes: “O corpo é um ambiente sagrado (...). O corpo é minha morada (...). E com ele, abraço minha amada”. É muito boa essa sonoridade, essa musicalidade que Saulo conseguiu atingir. Os poemas rimam, mas o ritmo é bastante singular, é um ritmo pessoal que Saulo busca para conquistar a própria voz.

            Ele também faz o elogio da escultura, dos quadros, da arte em geral. O poema Quadros diz: “São molduras de madeira de pinheiro, feitas para enfeitar a vida, com fotografias do momento que é passageiro, que retrata, relembra e me agrada esse vivenciar, encanto de sentimentos contido em um papel” (MAZAGÃO, 2019, p. 74).

É um diálogo muito necessário entre as artes. O escultor é apresentado como escritor: “Hoje é o dia do escultor! Escultor? Sim! Escultor de significados. Ele pega a palavra bruta, e transforma em obra prima, nas curvas e nas linhas, ressignifica palavras, faz o que for, transforma o pecado em alegria, ódio em amor, sentimentos em poesia, descreve o conto, a crônica e a poesia, diz de teoremas, sobre os sentimentos, diz de ciência, política e magia, ilustra os momentos. A caneta ou lápis, seus instrumentos são. Mas não posso ser careta e esquecer o principal: o coração. Da entonação ao pensamento, faz comédia do morrer, e descreve sobre seu descontentamento, faz tragédia do ato de existir ou viver” (MAZAGÃO, 2019, p. 54).

Saulo bem reflete sobre seu fazer poético em Tarde da Noite: “Tarde da noite/são quando as pessoas dormem,/É, eu escrevo cansado,/E meus olhos e dedos já sofrem/Mas meu cérebro respira aliviado. Mais letras, vomito para fora, cansado de transmutar, coisas que não sei se são de agora”. A transmutação ocorre com mais freqüência quando ele está em solidão. Para ele, como para Glauber Rocha, a morte é invenção da direita: “É inútil, Sr. Satã, sou ateu./E só vou morrer depois do fim”.

 Ele finaliza cantando tanto o aconchego da velha cabana quanto o vestido da amada. São ambos lugares do aconchego, do acolhimento, lugares que ele não deixa de desejar.

 

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