Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
sábado, 20 de setembro de 2025
Krepe e o "socialismo" não-soviético
Krepe e o “socialismo” não-soviético
Causou polêmica recente, em meu canal do youtube, a minha contestação da fala de Frederico Krepe, um trabalhista platônico ligado ao PDT lulista e ao cirismo ao mesmo tempo. Ele reiterou, em debate recente, que a URSS de Stálin mandou um espião para matar Tito. No entanto, não encontrei evidências ou provas materiais para isso até hoje. A fala circula como piada e como memória oral.
Num vídeo recente, onde reformistas de linguagem marxista confrontavam os social-fascistas trabalhistas, os social-fascistas pegaram o anticomunista Jones ao escolher justamente a linha maoista como seus alvos: Stálin, Pol Pot, revolução cultural. A solução de Jones é negar tudo, alegar que Pol Pot foi apoiado por Thatcher e Reagan, ou seja, ele estaria à esquerda de Pol Pot, o que é falso, visceralmente.
Mas o importante não é esse ponto, é que Frederico Krepe criou, a partir dessa piada, todo um castelo nas nuvens: a ideia de que a URSS não aceitou outras experiências socialistas. Ele toma o exemplo de Tito e outros dois: o da Tchecoslováquia e da Hungria. E Kruschev, em vídeo, sai elencando outros argumentos anticomunistas, pinçados aqui e ali: 1) Krepe manifesta-se contra a dissolução da Assembleia Constituinte em 1918; algo desmistificado pelo próprio Lênin e que é defesa da ditadura capitalista sobre a forma da democracia burguesa; 2) repete as posições de Rosa Luxemburgo contra os bolcheviques em 1918, já bastante desmistificadas, pois Rosa estava mal informada e na clandestinidade na época; 3) retoma a carta ao stalinismo de Lukács, um texto bastante ruim em que Lukács retoma, na prática, conceitos como o “stalinismo” de lavra trotskismo.
Che, num texto inédito da revista Praga, que tem uma frase que Fausto Arruda, fundador do jornal A Nova Democracia, comentou comigo aqui em Bom Despacho na única conversa que tivemos quando de uma rápida visita desse grande sociólogo aqui em minha cidade:
E por exemplo, aquela coisa tão interessante, que o companheiro Kruschev havia dito na Iugoslávia, que inclusive, mandou gente para estudar ali. que o companheiro Kruschev havia dito na Iugoslávia e que lhe pareceu tão interessante, nos Estados Unidos está muito mais desenvolvido porque é capitalista (...).. Mas isto acontece na Iugoslávia. Na Polônia, vai-se pelo caminho iugoslavo, claro, retira-se toda uma série de coletivizações, retorna-se à propriedade privada da terra, estabelece-se toda uma série de sistema de trocas especiais, tem-se contato com os Estados Unidos. Na Tchecoslováquia e na Alemanha Oriental já se começa a estudar também o sistema iugoslavo para aplicá-lo (GUEVARA, 1998, p. 126).
Ou seja: o próprio Che já considerava que o bloco socialista já estava retornando ao capitalismo. E Krepe não sabe isso até hoje. Ele idealiza os acontecimentos da Hungria em 56, que são contrarrevolução, bem como a Primavera de Praga. Paul Sweezy, citado no artigo de Che acima, mostra como é bobagem completa o que diz Frederico Krepe, tanto sobre a Iugoslávia quanto a Tchecoslováquia:
«O capital ocidental assegurou-se de uma importante testa de ponte na Jugoslávia e contribui para transformar o que outrora não passava de um país principalmente agrícola num novo Estado industrial.
Investimentos efectuados por empresas tão diversas como a Fiat, o gigante italiano do automóvel, e a Printing Developments, Inc., de Nova Iorque, uma sucursal de Time Inc., são característicos, ao mesmo tempo, das imperiosas necessidades que o capital tem de novos mercados e dos objectivos conscientes de um país comunista que aceita a economia de mercado e a maior parte das suas consequências.
Conversas com os representantes oficiais de Belgrado que se especializam nas actividades económicas demonstram a sua firme convicção de que esta via será seguida pelos outros países da Europa Oriental.
Para eles, a Jugoslávia desempenha um papel pioneiro no Leste e constitui uma vitrina de exposição para o capital ocidental. As sociedades ocidentais que atuem na Jugoslávia disporão de enormes vantagens ao nível da concorrência a partir do momento em que se abrirem mercados noutros países da Europa Oriental.
Após as reformas que deslocaram a direcção das empresas, do Estado para as próprias empresas, e que introduziram a disciplina do mercado livre e o estímulo do lucro, a Jugoslávia promulgou uma lei igualmente revolucionária, no decurso do último ano, a fim de atrair o capital estrangeiro.
Esta lei não deixou de encontrar uma forte oposição nos que temiam que o capital ocidental viesse dominar os sectores-chave da economia.
Para precaver uma tal eventualidade, estipulou-se que o capital estrangeiro não tem o direito de adquirir uma participação superior a 4% numa empresa jugoslava.
As companhias jugoslavas são dirigidas pelos seus trabalhadores através dos conselhos operários, que, por sua vez, designam um conselho de especialistas, tais como contabilistas ou engenheiros da produção, para gerir a sua empresa. De início, as sociedades estrangeiras hesitaram em comprometer-se, temendo que a regra que lhes impunha posições minoritárias as impedisse de controlar directamente os seus investimentos.
Durante um seminário realizado neste país para homens de negócios ocidentais, os jugoslavos esforçaram-se por demonstrar que existem numerosas maneiras de contornar esta regulamentação, por exemplo, confiando ao investidor estrangeiro o controlo dos custos de produção.
Os estrangeiros têm o direito de transferir lucros para fora do país na condição de manterem 20 % desses lucros sob forma de depósito num banco jugoslavo. Podem vender a sua participação a outras companhias estrangeiras na condição de começarem por oferecer essa participação à companhia jugoslava, que pode então resgatá-la.
Esta lei produziu já resultados surpreendentes.
A Fiat, que fornece as técnicas e a maior parte dos equipamentos produtivos de uma grande fábrica soviética de automóveis, investiu dez milhões de dólares numa companhia jugoslava, a Crvena Zastava (Bandeira Vermelha), que fabrica automóveis Fiat sob licença.
A sociedade americana, segundo informações publicadas na Jugoslávia, lançou-se numa empresa comum com a Beogradski Graficki Zavod (Sociedade Gráfica de Impressão de Belgrado) para efectuar impressão a cor utilizando novos equipamentos excepcionalmente rápidos provenientes dos Estados Unidos.» (SWEEZY
Assim, nota-se que Krepe está tomando a nuvem por Juno, como todo idealista faz.Krepe é a ala esquerda do trabalhismo, ou seja, uma ala que flerta com o trotskismo. Ele também flerta com a ala direita, próxima do fascismo, que é Aldo Rebelo. E essa foi a trajetória de Krepe: ele esteve próximo do PSTU e do PSOL, formando sua forma altamente sofisticada de trotskismo. E são os trotskistas que verifiquei repetindo essa história dos espiões querendo matar Tito, ainda que sem evidências materiais.
Bibliografia
Checoslováquia Capitalismo e Socialismo. >
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário