Contardo Calligaris, em artigo a respeito da sórdida polêmica César Benjamin/Lula, citou hoje Pier Paolo Pasolini em artigo na Folha de São Paulo. O artigo é para fundamentar o argumento "a boçalidade não é prerrogativa de classe", compartilhado até por um Reinaldo Azevedo, ou melhor, desculpa para um Reinaldo Azevedo rebater críticas a Lula que seriam dirigidas a toda uma classe social.
Calligaris queria dizer que não só a burguesia é boçal, mas o operário também pode ser, ou a classe operária; Lula, apesar da origem operária, pode agir como um boçal, dizendo numa piada que, em carência sexual, traçaria qualquer um, mesmo à força, esse é o argumento de Calligaris, utilizado em diálogo com os leitores. Uma tentativa rasa de psicanalisar o episódio e ajudar a Folha a não ser "enrabada" junto aos leitores. Ao tentar tirar o seu reto da reta, Calligaris faz com que a baixaria renda ainda mais; o assunto fede. Mas precisamos enfiar a mão na merda, mas depois tem recompensa, tem poesia. Vejamos.
Aliás, o que diria Pasolini de um episódio assim? Ele poderia psicanalisar Lula. Lula queria "enrabar" simbolicamente Benjamin com essa piada, pois Benjamin é bonito e Lula não é, mas acabou, agora, muitos anos depois, "enrabado" politicamente por ele, de surpresa, em seu momento mais feliz, aquele em que ele está construindo uma estátua de si.
Para mim, o escândalo não está no fato em si, na tentativa de estupro em si, que, pesquisada, não rendeu, não se confirmou, mas no episódio particular tornado arma política. Lula merece essa "enrabada" simbólica? Talvez ele sinta agora, como um personagem de Jabor em seus filmes, "um macho canalha morrendo dentro de mim". Ou não!
Pasolini talvez dissesse que a boçalidade do burguês é algo muito mais profundo, estrutural e sistêmico do que a estupidez ou a grosseria do proletário. Lula é um espetáculo repugnante aos olhos de um olhar que tome o ponto de vista da classe operária: um ex-operário que é tão irresponsável com os interesses da classe trabalhadora quanto a crítica infeliz de César Benjamin, que só tem o mérito de abrir o debate sobre O Filme Filho do Pai dos Pobres do Brasil, mais nada.
Depois de debater esses "fragmentos de um discurso horroroso", passemos para um poema do livro citado por Calligaris:
03 Novembro 2008
pier paolo pasolini / as cinzas de gramsci
IV
O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;
traidor da condição paterrna
- em pensamento, numa sombra de acção –
a ela me liguei no ardor
dos instintos, da paixão estética;
fascinado por uma vida proletária
muito anterior a ti, a minha religião
é a sua alegria, não a sua luta
de milénios: a sua natureza, não a sua
consciência; só a força originária
do homem, que na acção se perdeu,
lhe dá a embriaguez da nostalgia
e um halo poético e mais nada
sei dizer, a não ser o que seria
justo, mas não sincero, amor abstracto,
e não dolorida simpatia…
Pobre como os pobres, agarro-me
como eles a esperanças humilhantes,
como eles, para viver me bato
dia a dia. Mas na minha desoladora
condição de deserdado,
possuo a mais exaltante
das poses burguesas, o bem mais absoluto.
Todavia, se possuo a história,
também a história me possui e me ilumina:
mas de que serve a luz?
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
Cesar Benjamin, Lula, Caetano, Filhos da Pátria que os Pariu
Algumas observações sobre esses assuntos recentes. A polêmica César Benjamin versus Lula: a pior posição é a esquerda independente, dizia o Glauber Rocha: apanha da esquerda oficial e da direita.
Benjamin é esquerda independente. Há muito vem criticando o governo Lula com bons argumentos, mas agora que fez uma observação pessoal na Folha, levantando a hipótese de Lula ter tentando forçar um garoto do Movimento da Esquerda Proletária na prisão em 1979, é que ele obtém repercussão. A mídia vende é com o escândalo, a baixaria é que é comentada. Triste, mas Benjamin vai continuar como importante crítico da esquerda pela esquerda. Lula já disse absurdos sobre a luta armada, dizendo que os guerrilheiros não deram conta nem de umas muriçocas. Ninguém se importou. Agora, Cezinha fez um ataque particular que pôs em polvorosa a militância petista e a base governista; ele fez despertar o fantasma da ex-mulher de Míriam em 1989, que com seu ataque pessoal devastou a campanha de Lula, assim como arrasou Lula psicologicamente, a olhos vistos.
Pena que ele não criticou a estética do filme do Lula, totalmente devedora da Globo e de suas telenovelas. Fora o anacronismo de colocar Zezé Di Camargo e Luciano como trilha sonora de acontecimentos dos anos 70. E isso, por sugestão política de gente do PT. Enquanto Dilma bate na Globo em seu blog, chamando os jornalistas da grande rede de tucanos, o filme de Lula transmite a mensagem contrária: produto audiovisual só dá certo com o melodrama sem distanciamento crítico algum da telenovela, filme nacional só dá certo copiando a estética subroliúde da Globo. É, Lula, as imagens falam por si!
Deve-se criticar Lula e seu filme: qual o legado teórico de Lula? Existe um certo obreirismo no PT, como subsequente mitificação da figura do operário? Que valores ou antivalores Lula representa? O filme ensina ao povo o quê, objetivamente, que ensinamento ele dá às massas? Ele simplesmente apela para que se mitifique um político, mostrando-o como um super-homem, dando a entender que se deve segui-lo e eleger a Mulher Maravilha que o Superman apontar?
Para fazer essa crítica tão necessária, deve-se evitar tanto o ataque particular de Cezinha (que, pelo menos, abre o debate sobre o filme de Lula) quanto o ataque boboca e confuso de Caetano Veloso, que insiste em dizer besteiras, agora dizendo que Lula não sabe conjugar "substantivos e artigos" (deveria falar em concordância nominal, conjugação é para verbos) e o pior, em Portugal. Caetano: não são os linguistas brasileiros que idealizam a fala de Lula, é você que idealiza, com a cabeça colonizada, o português de Portugal, desejando impô-lo aos brasleiros como o mais bonito, o mais chique, o mais elegante...
Benjamin é esquerda independente. Há muito vem criticando o governo Lula com bons argumentos, mas agora que fez uma observação pessoal na Folha, levantando a hipótese de Lula ter tentando forçar um garoto do Movimento da Esquerda Proletária na prisão em 1979, é que ele obtém repercussão. A mídia vende é com o escândalo, a baixaria é que é comentada. Triste, mas Benjamin vai continuar como importante crítico da esquerda pela esquerda. Lula já disse absurdos sobre a luta armada, dizendo que os guerrilheiros não deram conta nem de umas muriçocas. Ninguém se importou. Agora, Cezinha fez um ataque particular que pôs em polvorosa a militância petista e a base governista; ele fez despertar o fantasma da ex-mulher de Míriam em 1989, que com seu ataque pessoal devastou a campanha de Lula, assim como arrasou Lula psicologicamente, a olhos vistos.
Pena que ele não criticou a estética do filme do Lula, totalmente devedora da Globo e de suas telenovelas. Fora o anacronismo de colocar Zezé Di Camargo e Luciano como trilha sonora de acontecimentos dos anos 70. E isso, por sugestão política de gente do PT. Enquanto Dilma bate na Globo em seu blog, chamando os jornalistas da grande rede de tucanos, o filme de Lula transmite a mensagem contrária: produto audiovisual só dá certo com o melodrama sem distanciamento crítico algum da telenovela, filme nacional só dá certo copiando a estética subroliúde da Globo. É, Lula, as imagens falam por si!
Deve-se criticar Lula e seu filme: qual o legado teórico de Lula? Existe um certo obreirismo no PT, como subsequente mitificação da figura do operário? Que valores ou antivalores Lula representa? O filme ensina ao povo o quê, objetivamente, que ensinamento ele dá às massas? Ele simplesmente apela para que se mitifique um político, mostrando-o como um super-homem, dando a entender que se deve segui-lo e eleger a Mulher Maravilha que o Superman apontar?
Para fazer essa crítica tão necessária, deve-se evitar tanto o ataque particular de Cezinha (que, pelo menos, abre o debate sobre o filme de Lula) quanto o ataque boboca e confuso de Caetano Veloso, que insiste em dizer besteiras, agora dizendo que Lula não sabe conjugar "substantivos e artigos" (deveria falar em concordância nominal, conjugação é para verbos) e o pior, em Portugal. Caetano: não são os linguistas brasileiros que idealizam a fala de Lula, é você que idealiza, com a cabeça colonizada, o português de Portugal, desejando impô-lo aos brasleiros como o mais bonito, o mais chique, o mais elegante...
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