quarta-feira, 28 de abril de 2021

Composição para Quadrilíneas


 [Esta é a orelha que escrevi para o livro

de poemas do meu amigo Ramon Maia, ainda a sair, chamado Quadrilíneas, texto dedicado ao grande artista plástico Amílcar de Castro.]



Composição para Quadrilíneas: há, neste novo livro de Ramon Maia, a palavra gemendo, a palavra-gema, no sentido mineral-visceral. O corte é seco... Dobrando, retirando mais do que pondo, esculpe nas palavras o valor, ao abrigo da corrosão do tempo. Fala substantiva, a fala de Amílcar, concreta diante dos belorizontes. As linhas cabralinas. A fala dos que comem pelas beiradas. Sem se prender a predicado. Por isso, Quadrilíneas tem seu precipício no princípio. Toda arte é uma força de vida. As Minas verbivocovisuais que cava não são covas rasas nem superficiais. Afinal, trazem coisas louçãs, finas, e fluem como águas de rio. Em seus espaços colhemos os lírios do campo (e os do contracampo). A praça Sete é um nome hirto, não tem setembros. A praça possui apenas o seu próprio traço, na foz das quase-ruas em transe. Nestes textos, em relação aos dois livros já publicados pelo autor, há “marrons mais claros, escuros,/Pretos mais graves e agudos,/(...)/ Morenos claros, escuros,/ negros mais negros e puros.” Depois da embriaguez da gênese no Pluriverso & de Quiasmin (Ler-Minski), novas cores. E os tons agora são sóbrios. Antes as primeiras palavras se alçavam a títulos. Agora os poemas traçaram seu norte nas folhas. E, como gel fixador de asteriscos, desponta o risco dos pontos finais.

A musicalidade dos poemas destaca-se? O poeta garimpa. Como viver depois que a música acaba? Ramon prossegue parindo vocábulos.

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