Lúcio Jr.
Há grande interesse midiático em
torno da Coreia do Norte ultimamente, que se manifesta numa campanha de
difamação. As grandes potências (USA e seus aliados) precisam resolver o
problema da superprodução de mercadorias e precisam aumentar a atividade
econômica a qualquer custo, nem que se seja mediante guerras. E a imprensa
segue os poderosos do mundo, preparando a guerra através de notícias
distorcidas.
Como uma dessas foi publicada no Jornal de Negócios, na coluna de meu
amigo Ítalo Coutinho, sugiro a ele que olhe o outro lado quando se tratar desse
assunto, pois é a própria paz mundial que está em jogo. A primeira parte de
sua nota diz:
No final da Segunda Guerra, dizem as más línguas (...), que os
americanos ficaram com os cientistas de Hitler e os russos com os projetos e
protótipos, tudo isso relativo a foguetes e a bombas de alto poder destrutivo.
Isso é bastante inexato. Os americanos passaram a usar redes de
espionagem de Hitler e reaproveitar agentes nazistas contra os comunistas, isso
sim. Ficou provado que a rede de Reinhard Gehlen teve um grande papel na
Hungria em 56. E a URSS não dispunha da bomba atômica quando a guerra acabou. Quando
você escreve:
O Brasil tem projetos de foguetes, já lançou
alguns e até 2025 vai colocar um satélite em órbita.
Como você tem tanta certeza? Já ocorreu um acidente em Alcântara, com
vários cientistas mortos, pouquíssimo investigado pela mídia, justamente ao
tentarmos lançar um satélite. Sim, precisamos de foguetes para lançar um
satélite. A Coreia do Norte, graças ao socialismo, está bem adiante de nós
nesse campo.
Os USA bombardearam Hiroshima justamente para pressionar a União
Soviética. Também quando você diz:
A Coreia do Norte realizou na manhã do dia 12 de fevereiro seu terceiro
teste nuclear, num claro desafio à comunidade internacional e a seu principal
aliado externo, a China. O Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) fará
uma reunião de emergência para decidir como reagir ao novo movimento do regime
mais isolado do mundo.
Você não é claro aqui e faz muitas inversões. O teste é, claramente, um
aviso aos Estados Unidos e seus aliados de que, se bombardearem a Coreia do
Norte, também serão bombardeados. Isso é direito básico de autodefesa. A
hostilidade dos USA é em relação ao lançamento do satélite da Coreia, que é um
ato soberano, mas o faz pressionar por mais sanções contra esse país, que não
se isola, mas sim é vítima de provocações e agressões. Leia lá no blog solidariedade com a Coreia popular:
Na história de mais de 60 anos da ONU, se realizaram na Terra mais de 2
mil testes nucleares e mais de 9 mil lançamentos de satélites, mas não houve
qualquer resolução do Conselho de Segurança que proibisse fazê-los.
Assim, eu sugiro que você olhe também o outro lado antes de redigir essas
notas, visitando o blog Solidariedade
com a Coreia Popular (solidariedadecoreiapopular.blogspot.com) antes de redigir
essas observações equivocadas, inexatas e desatentas. Faça bem feito o trabalho
que você está se propondo a fazer!
Outro texto que merece menção (mais breve, porém), é o texto O Amigo
Norte-Coreano, da repórter da Folha Juliana Cunha. Na verdade, é um texto que
relata sua visita à Coreia do Norte, um país que ela considera obviamente
inimigo de seus patrões da Folha e de outros. Possivelmente abriram uma brecha
para Juliana no “regime mais fechado do mundo”, não é mesmo?
E ela não deixou por menos. A imagem que adorna o artigo traz a legenda:
“se for atacar primeiro, atire sem piedade” e mostra um soldado coreano
explodindo a Casa Branca. No primeiro
parágrafo, Juliana transcreve a tradução que o seu guia coreano Che (versão ocidental de seu nome coreano) fez do texto do
cartão postal para ela: “Se nos atacarem, faremos uma aniquilação impiedosa”.
Juliana deve ter habilidades lingüísticas primorosas, pois parece ter aprendido
coreano ao ponto de poder traduzir por sua própria conta a frase no cartão
postal...Ou quem sabe ela não está de má fé, embarcando na inversão da imprensa
ocidental, apresentando a Coreia, que é o agredido, como o agressor? Eu aposto
nessa segunda alternativa.
O texto de Juliana seria para falar da primeira turma de português de
Pyongyang, mas trata muito rapidamente disso, apenas para desqualificar: “não
inclui lingüística nem literatura”. Ela curiosamente se revela quando vai ao
balé de Pyongyang tendo Che como guia e vê uma passagem da peça onde a heroína
nacional, Kim Jong Suk ergue as mãos amarradas com cordas para o alto, até
conseguir romper os grilhões que prendiam os coreanos. Ao ver essa cena,
Juliana, dá uma manota monumental e pergunta: “não seria engraçado se a luz
acabasse justamente nessa cena?” Ao ouvir essa frase em que a bolha da repórter
se mostra desrespeitosa e debochada, simplesmente desejando que os coreanos
fossem escravos dos japoneses até hoje, o guia simplesmente ignorou a piada de
péssimo gosto da jornalista e olhou para outro lado.
No final do artigo, Juliana lamenta que Che e ela não tenham se
aproximado mais e sai afirmando que ele não tem e-mail, desconhece o google,
não sabe o que é rede social, etc. Mas porque ele gostaria de manter contato
com alguém que escreveu que ele “é a versão socialista do Quim Recadeiro,
personagem de Guimarães Rosa” e ainda insultou-o, dizendo que deveria continuar
sendo capacho, escravo? E ainda terminou dizendo bobagens sobre rede social. A
julgar pela sua prosa brega e suas manotas, Juliana, você não serve para
personagem de Guimarães Rosa. No máximo, uma versão jornalística moderna da
Bolha do desenho animado Tu-Tubarão.
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