quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Maoismo: uma explicação do professor Mateusão (tirada do blog Grande Dazibao)


Tratamos aqui em explicar o porquê em defendermos de forma incansável, e ferrenha a imposição do marxismo-leninismo-maoísmo no movimento revolucionário mundial e principalmente entre o proletariado brasileiro.

Entendemos que o maoísmo é a terceira e superior etapa da filosofia revolucionária do proletariado, é terceira etapa, precedida obviamente por outras duas, desse modo, o marxismo de Marx e Engels é a primeira etapa desta grandiosa filosofia e conjunto de leis baseadas no desenrolar das civilizações, principalmente a sociedade capitalista contemporânea.

Bolcheviques marchando em Moscou.

A segunda etapa consiste no leninismo, desenvolvido por Vladmir Ilitch Ulianov “Lenin” à frente da fração revolucionária bolchevique. Uns dizem que o leninismo é uma “deformação” do marxismo, consideram um “revisionismo”. Esse problema não é atual, e se estende desde que Lenin iniciou o trabalho no partido bolchevique em despertar as massas para a construção de um novo poder na Rússia czarista. Os ataques contra a figura do nosso companheiro partiram de diversas correntes: czaristas, social-democratas, trotskistas, anarquistas, e liberais. 
O leninismo tornou-se marxismo-leninismo não apenas pelo pensamento leninista ter sido capaz de guiar a consolidação da “primeira ditadura do proletariado”, porém, o trabalho de Lenin serviu para fortalecer os princípios da filosofia marxista, quer dizer, Lênin preencheu algumas lacunas deixadas pelos marxistas do século XIX, que serviu para traçar uma linha muito clara entre os verdadeiros marxistas e os social-democratas que usurparam a IIª Internacional. Entre estes princípios, ou melhor, entre esses novos aportes podemos citar a contribuição do pensamento de Lenin para a compreensão do imperialismo que segundo o próprio Lenin era a “fase agonizante do capitalismo”, o trabalho dirigido por Lenin também serviu para mostrar e comprovar a necessidade e eficiência da organização do proletariado para tomar o poder, que só pode ser conquistado através da luta armada e não através do cretinismo parlamentar como pensavam e continuam a pensar os social-democratas e toda a ralé oportunista. O desmantelamento da linha oportunista de esquerda também foi outra contribuição, pois, segundo Lenin,  “o esquerdismo é a doença infantil no comunismo”.
Assumindo o a liderança da primeira ditadura do proletariado, a Rússia soviética em fase de reconstrução tornou-se o primeiro baluarte da revolução proletária mundial.
A organização da uma nova Internacional Comunista, a IIIª Internacional de 1919 serviu como base de apoio para a expansão do movimento proletário e revolucionário em todo o mundo, assim, nos próximos anos a Rússia e demais países que faziam parte do antigo império czarista uniram-se formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Entre os anos de 1919 e 1922 estouraram revoluções na Hungria, Polônia, Alemanha e Mongólia, esta última bem sucedida, tornando-se a segunda república popular no mundo.
No ano de 1924 o grande camarada Lenin morreu, porém, seu pensamento continuou vivo e as metas estabelecidas por Lenin foram continuadas e até superadas sob a liderança de outros bolcheviques como Kalinin, Zhdanov e Stalin.
Nas décadas seguintes a URSS seria exemplo para revolucionários de todo o mundo, partidos e organizações revolucionárias seriam formadas em países opressores e oprimidos, revoluções estourariam na Bulgária, Indonésia, China, Brasil, Espanha, Lituânia, Letônia, Estônia, Indochina, Malásia, Filipinas, Birmânia, Grécia, Albânia, Itália, Bélgica, França, Iugoslávia, Coréia, Romênia, Paraguai... Tudo isto em um período que vai desde 1924 até 1959, sendo que a maioria dos levantes revolucionários ocorreu entre meados dos anos 30 até o final dos anos 40.
Entre os anos de 1917 a 1956, a União Soviética mostrou-se fortaleza do socialismo e da revolução proletária, esta fortaleza infelizmente acabou desmantelada devido a certos problemas ideológicos, gerando certa confusão entre os membros do Comitê Central após a morte de Kalinin, Zhdanov e Stalin. Essa confusão ideológica abriu a guarda para que elementos mal-intencionados pudessem tomar o poder e tentar desmantelar o movimento revolucionário desde cima até em baixo, influenciando partidos em todo o mundo. Ainda assim, outros partidos resistiram e puderam dar novos ares para o movimento revolucionário, após a ruptura partidária entre o Partido Comunista da China e o Partido Comunista da União Soviética.
Com a realização dos XXº Congresso do PCUS em 1956 onde Kruschov apresenta um documento contendo mentiras a respeito da figura de Stalin, seguido da demissão da cúpula revolucionária do PCUS (entre eles Jukov, Kaganovich entre outros), e a reabilitação de antigos inimigos do socialismo que se encontravam dentro e fora do PCUS. 
Utilizando da influência e do prestígio que a URSS ainda dispunha, Kruschov e seu bando fizeram de tudo para influenciar outros partidos a assumirem uma linha revisionista baseada na difamação da figura de Stalin e seus defensores e nas teses revisionistas de “Estado e partido povo”,  “transição pacífica, coexistência pacífica e competição pacífica”. Esta tese ficou conhecida como “dois todos e três pacíficas”, uma estúpida tentativa de barrar o avanço da revolução proletária mundial.
É a partir dos primeiros anos da década de 1960 que a China surge como novo baluarte da revolução proletária mundial. Junto com o Partido do Trabalho da Albânia rompem com o pacifismo e submissão aos interesses da União Soviética que naquela altura havia se convertido em potência social-imperialista.
Até meados dos anos 60, o Partido Comunista da China sob o comando de Mao Tsé Tung moveu intenso debate com os comunistas soviéticos na tentativa de frear o avanço do revisionismo na União Soviética. Apesar de o avanço revisionista ter continuado, os debates onde o PCCh levantaram bem alto as bandeiras vermelhas da revolução deram coragem para que os comunistas revolucionários de todo o mundo rompessem com a linha oportunista e reorganizassem as forças revolucionárias, que de fato aconteceu nos anos seguintes, inclusive dentro dos países que haviam assumido o revisionismo como aconteceu na Polônia em 1964, onde o histórico dirigente Kazimieriz Mijal junto com outros dirigentes revolucionários remanescentes, organizaram o Partido Comunista da Polônia.
O lídero do Partido Comunista da Polônia com o presidente Mao e o camarada Kang Sheng, 1964.
A reação soviética foi imediata, acusando os comunistas chineses de “fraccionistas” e “hegemonistas”, quando na verdade os hegemonistas eram os próprios revisionistas soviéticos sob a batuta de Kruschov e Brezhenev.
Foi então a partir da década de 1960 que os comunistas de todo o mundo passaram a reconhecer Mao Tsé Tung como continuador do trabalho revolucionário desenvolvido por Marx e Engels em 1848.
A partir daquela época as teses de Mao Tsé Tung muito mais do que mostrar eficácia, mostraram seu caráter de validade universal, superando erros, lacuna e pormenores do marxismo-leninismo. Não fui uma tentativa de se contrapor ao trabalho de Marx à Stalin como falam os oportunistas, ao contrário, deu novos ares ao marxismo-leninismo, afiou a “espada da revolução”.
Porém, os camaradas menos entendidos no assunto devem estar se perguntando: que inovações são essas que o pensamento Mao Tsé Tung trouxe ao marxismo-leninismo e à revolução proletária mundial? Vários, como explicaremos a seguir.
Primeiramente, devemos compreender que o “pensamento Mao Tsé Tung” foi adotado pelo Partido Comunista da China em 1935, quando a linha esquerdista de Wang Ming foi derrotada. Esta linha pseudo-revolucionária foi defendida por Enver Hoxha quando Mao Tsé Tung morreu. O que Hoxha se esqueceu de dizer foi que Wang Ming, e seus cúmplices que se autodenominavam “bolcheviques” passaram o resto de seus dias na União Soviética de Brezhnev, soltando maldições ao socialismo chinês e à liderança de Mao Tsé Tung, Chen Bo Da, Lin Piao e Kang Sheng.
Naquela época, o pensamento de Mao Tsé Tung era a análise das contradições da sociedade chinesa e a forma de resolvê-las sob a luz do marxismo-leninismo, o que muita gente não sabe, ou melhor, o que o PCdoB, PCR, PCB e o PCML brasileiro não sabem é que a partir de então esse pensamento forjado no calor da revolução traria inovações ao marxismo-leninismo ao longo dos anos em que foi ideologia do Partido Comunista da China (1935-1976) até tornar-se a Terceira Espada do comunismo.
As concepções revolucionárias de Mao Tsé Tung foram inicialmente sintetizadas por Chen Bo Da no início da década de 50 em um livreto intitulado “Mao Tsé Tung na revolução chinesa”, depois as obras de Mao Tsé Tung foram compiladas em quatro volumes ao longo dos anos 50 e 60, chamados de “Obras Escolhidas” com o número respectivo de cada livro. Com base nestas obras, 1966 o camarada Lin Piao transcreveu trechos das obras para um livreto que ficou conhecido mundialmente como “Livro Vermelho”, onde de forma bem simples e clara mostrava as concepções revolucionárias formuladas por Mao Tsé Tung desde 1926 até 1965.
O comandante Lin Piao.
Tanto o camarada Lin Piao como o camarada Chen Bo Da foram difamados pelos revisionistas que tentavam dominar o partido durante a ofensiva da Revolução Cultural Proletária. Tendo estes revisionistas semeado confusão através de intrigas dentro do Partido Comunista, não tardou muito para que inclusive grandes dirigentes revolucionários acabassem iludidos pelas intrigas que visavam de toda a forma derrotar a ditadura do proletariado na China.
Exército Popular de Libertação em 1949.
Mao Tsé Tung foi um dos primeiros a defender a concepção revolucionária de que “o partido manda no fuzil e jamais deve ser o contrário”. Junto a esta concepção está a idea de que “o poder político surge a partir do cano de um fuzil”. Tomando estas duas concepções revolucionárias, elas dão mais força a duas concepções de Lenin:
- a de que o partido comunista é a organização máxima do proletariado
-que só os cretinos acreditam na tomada do poder pelo proletariado através das urnas
Entenda-se que as concepções de Mao não um plágio das concepções de Lenin, porém, são o desenvolvimento, fruto da aplicação do marxismo-leninismo. 
Compreendendo a função do exército do proletariado e a função de vanguarda do partido comunista, Mao Tsé Tung no calor da batalha também desenvolveu o modo como a tomada do poder deveria ser feita, como seria a guerra popular.
Assim  Mao Tsé Tung compreendeu a necessidade de uma guerra popular prolongada. Parece apenas uma simples questão de estratégia, porém, serviu para mostrar o caminho a ser seguido para a tomada do poder tendo o proletariado como classe vanguarda. Tornou-se totalmente claro que a revolução proletária não precisaria depender de algum golpe de estado, nem ser empreendida por tropas rebeladas do exército burguês. O povo junto ao Partido Comunista poderia organizar seu próprio braço armado. 
Como o próprio nome sugere, a idea de Mao era uma guerra popular de caráter prolongado, onde partia-se para ações mais simples, como a guerra de guerrilhas até chegar o momento de uma guerra regular de movimentos. Para a China dos anos 30 e a nos países dominados da época e da atualidade, a guerra popular consistia em ações a partir das zonas rurais até atingir primeiramente cidades pequenas, mais tarde as médias e por último as grandes cidades.
A sobrevivência do exército guerrilheiro popular depende do apoio das massas, ou seja, Mao também ensinou que “a guerra popular é uma guerra de massas”, ou seja, a vitória só poderia ser obtida contasse com o apoio de amplas massas. Para isso, Mao Tsé Tung também enfatizou sobre a questão de criar um exército culto, quer dizer, soldados e camaradas que tivessem cultura, que aprendessem a ler, escrever, que falassem de modo educado, que fossem respeitosos e que servissem as massas incondicionalmente. 
Muito mais que tratar educadamente o povo, deveriam ter um apoio forte, para isso foram criadas bases de apoio, quer dizer, zonas libertadas, administradas pelo proletariado junto ao partido comunista, criando assim um poder popular paralelo ao poder do governo opressor. 
Guerrilheiros do EGPL, Índia.
A concepção revolucionária da guerra popular prolongada logo mostrou a sua capacidade e sua universalidade em diversos países desde os anos 30 até a presente década do século XXI. Esta linha teve maior força durante a segunda guerra mundial, quando os partidos comunistas do Vietnã, Birmânia, Filipinas, Indonésia e da Malásia colocaram em prática esta concepção revolucionária, obtendo êxito especialmente na Malásia (onde além dos comunistas malaios terem expulsado os japoneses, também comprometeram seriamente o domínio britânico), a mesma coisa também ocorreu na Indonésia aonde chegaram a criar um governo de coalizão com os nacionalistas, e no Vietnã a região norte foi completamente libertada em 1954. A linha revolucionária da guerra popular prolongada continua a influenciar os revolucionários de todo o mundo, tomando os exemplos da guerra popular na Índia, Filipinas, Peru e Turquia.
Tropas do Exército Popular Anti-Japonês da Malásia.
Há certo engano quando dizem que a guerra popular prolongada inicia-se apenas em zonas rurais para poder chegar às cidades. O caráter principal é o tempo de duração da guerra, não importando exatamente (isso vai depender de cada país onde esta brilhante estratégia for aplicada) aonde deve começar. Temos dois grandes exemplos de guerras populares que iniciaram em zonas urbanas, citamos a ação das Brigadas Vermelhas na Itália, e a ação da Fração do Exército Vermelho na Alemanha Ocidental, ambos os grupos estavam sob a luz do maoísmo (pensamento Mao Tsé Tung na época).
Poster das Brigadas Vermelhas
Depende do partido comunista de cada país formular uma linha correta para desferir a guerra popular.
 As leis da contradição também foram outra grande contribuição dada por Mao Tsé Tung ao movimento revolucionário, especialmente com a publicação “sobre a contradição”, de 1937. 
Enfatizando sobre a necessidade da prática acompanhada com a teoria, Mao desenvolveu outra concepção: o método de prática->teoria->prática, ou seja, a partir da prática pode-se compreender os erros, e avanços, sintetizando-os, gerando uma teoria que deve ser posta em prática a fim de continuar o seu desenvolvimento.
Sobre a questão da contradição, devemos entender segundo Mao que um todo abriga em si dois contras, quer dizer, nesse momento de união existe uma contradição não-antagônica. Quando esses contras começam a lutar entre si, essa contradição se torna uma contradição antagônica e por isso se dividem, ao contrário da tese social-democrata que apenas a união deveria prevalecer. Essa é a regra que rege todo o universo, inclusive a dialética materialista, onde uma unidade abriga dois contras que quando desenvolvem o antagonismo, dividem-se, assim sucessivamente. 
Compreendendo  a unidade e luta de contrários, Mao também compreendeu a forma de resolvê-los, tendo cada tipo de contradição um meio apropriado para ser resolvido. 
Em uma contradição não-antagônica, como por exemplo, divergências de certas opiniões dentro do partido ou do movimento não podem ser resolvidas meramente com expulsão ou eliminação física dos divergentes, como sendo não antagônica, essa contradição deve ser resolvida com método brando, que é através do debate e da prática.
Agora, se um grupo divergente tenta sabotar o movimento revolucionário, a liderança e as bases, desrespeitando as normas de conduta, então, essa contradição passa a ser antagônica, não havendo mais condições de continuarem unidos, estes contras se separam.
A “luta entre duas linhas” também foi outra descoberta importante, já que esta representa uma contradição inicialmente não-antagônica que aparece no seio do partido e do movimento revolucionário. Essa contradição, ou melhor, essa luta entre linhas em seu caráter não-antagônico pode e deve ser resolvida através do debate e da prática. Quando assume um caráter antagônico, esse tipo de contradição só pode ser resolvido de forma radical: com a expulsão e devida punição aos quadros indisciplinados. A idea da luta entre duas linhas, reforça ideologicamente as forças revolucionárias e destrói a tese errônea da organização de caráter “monolítico”, já que, uma vez expulsos os dissidentes, outros surgirão até a organização acabar enfraquecida. Hoxha foi um dos maiores propagadores dessa idea errada, aconteceu que logo após a sua morte, o Partido do Trabalho da Albânia acabou desmantelado pelos próprios membros.
Na questão política a unidade e luta de contrários se estende até a chegada do comunismo, portanto contradições antagônicas e não-antagônicas continuarão a existir enquanto existir a luta de classes, que também é uma contradição.
A linha de massas foi outro aporte de grandiosa importância desenvolvido por Mao Tsé Tung à frente do Partido Comunista. A linha de massas se baseia no apoio total às grandes massas de trabalhadores, pois são as massas que podem realizar grandes feitos, são os donos do mundo. Baseando-se nas aspirações e anseios das grandes massas de trabalhadores, o partido comunista deve buscar compreender esses desejos, sintetizá-los e devolvê-los ao povo como forma de diretrizes. Resumindo em uma bela frase do próprio Mao Tsé Tung: COM A LINHA CORRETA TEMOS AS PESSOAS E OS FUZIS.
Com base na correta linha de massas, foi possível o desenvolvimento econômico e cultural da República Popular da China nos anos 50, como durante o Grande Salto à Diante e o Movimento das Cem Flores, que será explicado a seguir.
A necessidade do máximo desenvolvimento da economia socialista é fundamental e foi reiterado por Lenin. O presidente Mao e o Partido Comunista apoiados pela poderosa força das massas iniciou na segunda metade dos anos 50 uma poderosa linha de desenvolvimento do socialismo, investindo pesado na indústria e incentivando a criação de comunas populares, ou melhor, grandes fazendas coletivas e autônomas.
Entre os anos de 1956 a 1960, houve um grande salto na indústria e na agricultura, diferente das mentiras propagadas pelos inimigos do marxismo-leninismo-maoísmo. Para se ter uma idea, a partir de 1956 iniciou-se a produção de automóveis e motocicletas com base em protótipos desenvolvidos entre os anos de 1950 e 1953. Em 1958 a China além de iniciar a primeira transmissão de televisão também iniciou a produção dos próprios aparelhos. Maquinaria suíça foi comprada para a produção de relógios, além da produção agrícola ter batido recordes a cada ano. Nos anos seguintes também foram produzidos tratores, toneladas e mais toneladas de aço, máquinas de lavar roupas, geladeiras “Snow Flake”, turbinas de hidrelétrica, prensa hidráulica, e até computadores. Assim, o Partido Comunista sob a luz do pensamento Mao Tsé Tung foi capaz de transformar um país que até pouco tempo atrás era semifeudal em potência e baluarte da revolução proletária mundial até 1976.
Porém, a burguesia continuava infiltrada dentro do Partido Comunista, sendo respaldada pelos revisionistas soviéticos e seus capangas. Agindo com total cinismo, gente como Deng Xiaoping, Kao Kang, e Liu Shao Qi auxiliaram na sabotagem do Grande Salto à Diante, como por exemplo, na falsificação dos resultados obtidos durante as colheitas, provocando assim uma grave crise na distribuição de alimentos. A União Soviética pouco fez, enviou quantidade insuficiente de alimentos, obrigando a China a importar milho da Austrália e Nova Zelândia em 1960.
A sabotagem revisionista não parou por aí, tentaram corromper funcionários públicos, visando impor um modelo de administração burguesa, tanto nas fábricas, como nas fazendas e nas escolas, tudo isso respaldaria uma restauração capitalista que estava para ocorrer em meados dos anos 60.
Esta restauração capitalista a cada dia estava dia após dia corroendo as estruturas do socialismo e da Nova Democracia, visava aproximar-se de Kruschov e Brezhnev, transformando assim a ditadura do proletariado em uma ditadura da burguesia nacional, que consequentemente conduziria a uma restauração capitalista ainda na década de 60. Vários  quadros destacados do Partido Comunista (principalmente os que ocupavam postos dirigentes) estavam se corrompendo ou já haviam sido corrompidos pelo revisionismo de Liu Shao Qi, que na época era presidente da República Popular da China. 
Um pouco antes, mais exatamente durante os debates que se seguiram entre o Partido Comunista da China e o Partido Comunista da União Soviética no início dos anos 60, Mao Tsé Tung compreendeu os erros e os avanços do socialismo na União Soviética durante o período de Lênin e Stalin até a derrocada socialista iniciada por Nikita Kruschov e seus seguidores.
Assim, ele compreendeu que não bastaria destruir a burguesia apenas no domínio econômico, porque a burguesia tem a capacidade de se camuflar em outro sistema além de contar com um apoio internacional, que é o capital estrangeiro. Portanto, a burguesia fora do poder poderia subsistir como pensamento, costumes, ideas, portanto, as influências burguesias e feudais deveriam ser desmascaradas e aniquiladas.
No final de 1965, motins de estudantes e operários contra dirigentes burocratas começaram a ganhar força, mostrando mais uma vez a força e a sabedoria das massas, em reconhecer seus verdadeiros líderes e desmascarar os impostores. Esse ato revolucionário dos estudantes teve apoio dos revolucionários do Partido Comunista, incluindo o próprio presidente Mao, que no ano seguinte, lançaria a Grande Revolução Cultural Proletária.
Em 1966, foi publicada uma carta de 16 pontos onde Mao Tsé Tung e o Partido Comunista lançavam as diretrizes da Revolução Cultural, que adiaria a restauração capitalista em 10 anos, mostraria ao mundo todo a universalidade do “pensamento Mao Tsé Tung” e fortaleceria a China como baluarte da revolução proletária mundial.
Multidão de jovens, proletários e guardas vermelhos em 1966.
Assim, Mao Tsé Tung confiando na capacidade revolucionária da juventude e do proletariado dirigiu a ofensiva revolucionária contra as influências burguesas. Camponeses, operários, intelectuais, muita gente, especialmente os jovens aderiram às milícias populares, que ficariam conhecidos mundialmente como “Guardas Vermelhos”, defensores do pensamento revolucionário de Mao Tsé Tung.
Quando a delegação militar albanesa estava na China, Mao Tsé Tung perguntou aos camaradas albaneses se eles sabiam qual era o propósito da revolução cultural proletária. Eles responderam que o propósito da revolução cultural era desmascarar os corruptos. 
Porém, o grande timoneiro explicou que o propósito ia mais além, a Revolução Cultural serviria para destruir toda a influência burguesa, que se camuflava na ideologia, e nos costumes entre o povo.
Como o nome já sugere, a Revolução Cultural se tratava de uma REVOLUÇÃO, ou seja, ali se travava uma dura luta de classes, onde não tardou muito para que dirigentes burgueses também criassem seus próprios “guardas”, alguns inclusive anti-maoístas, que logo foram atirados no lixo da história.
Essa Grande Revolução Cultural Proletária atingiria de modo positivo todo o sistema socialista da China, começando desde baixo até os altos escalões. Vários dirigentes burgueses foram rechaçados pelo povo, e condenados pelos seus atos contra o povo e contra o socialismo, como Deng Xiaoping e Liu Shao Qi.
A história burguesa em coro com os revisionistas pós-76 tratam de dizer que a revolução cultural estagnou a economia da China, quando na verdade houve apenas uma leve queda entre 1966 e 1968, aumentando a partir de 1969 até 1979, quando a economia teve um retrocesso por causa da restauração capitalista.
É importante ressaltar que durante o período da revolução cultural a China lançou seu primeiro satélite artificial (1970), produziu a primeira TV em cores (1970), bomba de hidrogênio (1973), o arroz híbrido que aumentaria a produção em até 30% (1974). Ainda no ano de 1974, quase 100% (para ser mais exato, 98,5%) da produção total do país vinha do setor socializado, portanto, a República Popular da China avançava no socialismo.
Nessa época, vários partidos comunistas do mundo todo passaram a levantar bem alto a bandeira do marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsé Tung, levando o proletariado a obter importantes vitórias sob essa linha revolucionária, como em Moçambique, Kampuchea Democrática e na Colômbia, onde o PCML -C estava construindo a República Popular da Colômbia, superando os pseudo revolucionários do M-19, ELN e FARC.
Apesar do socialismo chinês e a Revolução Cultural Proletária terem sido derrotados após a morte de Mao, esse tempo serviu para adquirir experiência na revolução cultural, serviu para aprender os métodos corretos, para aprender o que deve e o que não deve ser feito. 
Nos anos seguintes à morte do Presidente Mao, Enver Hoxha, que outrora havia sido um importante aliado da revolução proletária mundial passou a tecer críticas no mínimo estúpidas contra Mao Tsé Tung, e ao contrário de comandar uma onda da revolução proletária, os partido comunistas que aderiram ao marxismo livresco de Enver Hoxha passaram a capitular, como o próprio PCML da Colômbia, que em 1984 iniciaria o processo em depor as armas.
Os partidos comunistas que seguiram apoiando Deng Xiaoping teriam o mesmo fim, passariam a capitular ao longo da década de 80, como o Partido Comunista da Tailândia, Malásia e Myanmar.
Algumas organizações proletárias e revolucionárias continuaram com a guerra popular sob a luz do pensamento Mao Tsé Tung, como TKP-ML, o PC das Filipinas e o PCML da Índia, porém, o final dos anos 70 abriria uma nova era para a revolução proletária mundial, que ficaria muito mais claro na década seguinte.
Guerrilheiros peruanos do Ejercito Guerrillero Popular em 2011.

Guerrilheiros do Partido Comunista da Turquia (ML).
Em 1980 o Partido Comunista do Peru, sob o comando do presidente Gonzalo iniciou a guerra popular, a primeira guerra popular prolongada iniciada depois da morte do presidente Mao. Indo totalmente contra a ofensiva revisionista que os hoxhaístas lançavam, o PCP junto com outros partidos comunistas lutaram pela imposição do marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsé Tung no movimento revolucionário. Dois anos depois, o PCP lançaria a consiga marxismo-leninismo-maoísmo, lutaria pela adoção do maoísmo como terceira e superior etapa do marxismo-leninismo principalmente quando  surgiu o Movimento Revolucionário Internacionalista, organização revolucionária e internacionalista que reúne vários partidos comunistas revolucionários desde 1984.
Prisioneiras de guerra homenageando o presidente Gonzalo e o verdadeiro PCP.
O depois do Partido Comunista da China, o Partido Comunista do Peru foi o partido que mais se destacou em desenvolver e divulgar a linha revolucionária do presidente Mao.
Os aportes do presidente Mao Tsé Tung não se encaixam mais ao termo “pensamento Mao Tsé Tung”, porque o pensamento é o resultado da análise e compreensão das condições de determinado país sob a luz do marxismo-leninismo. Atualmente o os aportes de Mao Tsé Tung são a nossa linha guia, que serve de base para criarmos um pensamento revolucionário.
Portanto, o marxismo-leninismo-maoísmo desde muito tempo vem mostrando a sua universalidade, as descobertas e desenvolvimentos do presidente Mao servem como linha guia para que partidos e organizações revolucionárias de todo mundo possam resolver suas contradições, seja a contradição interna, contradição externa, ou ambas.
Texto extraído do Blog Grande Dazibao

Um comentário:

Fonte: blog do professor Mateus

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Konder: "Relatório Kruschev é fofoca"

Essa postagem é apenas pontuando o falecimento do filósofo marxiano Leandro Konder. Numa entrevista vista no youtube, ele diz algo divertidíssimo, do meu ponto de vista: seu pai, Valério Konder, afirmou: "os sucessos econômicos da União Soviética serão mais importantes do que o Relatório Kruschev. O relatório Kruschev é fofoca."

Ora, ora, não é que Konder tinha razão? O Valério Konder, o pai, militante do partido comunista, não o filho filósofo revisionista.

Aliás, ele confunde revisionismo com desenvolvimento criativo da teoria e da prática. Revisionismo é ficar tirando tudo que é revolucionário, ficar retirando coisas da teoria e proibindo a prática. É fazer como Lukács que fala em "retorno a Marx".

Sobre a China, ele simplesmente diz que "tem medo"...É para ter medo mesmo. Não há sentido falar em marxismo sem falar em maoismo hoje em dia.


Racionalização da Produção e do Trabalho : Porque a Tendência de Trotsky Desembocaria Necessariamente Em Bonapartismo Foi Necessário Destroncá-la Inexoravelmente ANTONIO GRAMSCI


[Razionalizzazione della Produzione e del Lavoro.] La tendenza di Leone Davidovi era strettamente connessa a questa serie di problemi, ciò che non mi pare sia stato messo bene in luce. 

[Racionalização da Produção e do Trabalho.] A tendência de Leone Davidovi (i.e. Trotsky) estava estreitamente conectada com essa série de problemas, o que não me parece tenha sido bem colocado à luz.

Il suo contenuto essenziale, da questo punto di vista, consisteva nella « troppo » risoluta (quindi non razionalizzata) volontà di dare supremazia, nella vita nazionale, all’industria e ai metodi industriali, di accelerare, con mezzi coercitivi esteriori, la disciplina e l’ordine nella produzione, di adeguare i costumi alle necessità del lavoro.

O seu conteúdo essencial, partindo desse ponto de vista, consistia na vontade « demasiadamente » resoluta (portanto não racionalizada) de dar supremacia, na vida nacional, à indústria e aos métodos industriais, de acelerar, com meios coercitivos exteriores, a disciplina e a ordem na produção, de adequar os costumes às necessidades do trabalho.

Data l’impostazione generale di tutti i problemi connessi alla tendenza, questa doveva sboccare necessariamente in una forma di bonapartismo, quindi la necessità inesorabile di stroncarla.

Dada a colocação geral de todos os problemas conectados à tendência, esta devia desembocar necessariamente em uma forma de bonapartismo, daí a necessidade inexorável de destroncá-la.

Le sue preoccupazioni erano giuste, ma le soluzioni pratiche erano profundamente errate : in questo squilibrio tra teoria e pratica era insito il pericolo, che del resto si era già manifestato precedentemente, nel 1921.

As suas preocupações eram justas, mas suas soluções práticas eram profundamente erradas : nesse desequilíbrio entre  teoria e prática estava ínsito o perigo que, de resto, já se havia manifestado precedentemente, em 1921.

Il principio della coercizione, diretta e indiretta, nell’ordinamento della produzione e del lavoro è giusto (cfr. il discorso pronunziato contro Martov e riportato nel volume Terrorismo) ma la forma che esso aveva assunto era errata : il modello militare era diventato un pregiudizio funesto e gli eserciti del lavoro fallirono

O princípio da coerção, direta e indireta, no ordenamento da produção e do trabalho é justo (cf. o discurso pronunciado contra Martov e relatado no volume Terrorismo), porém a forma que esse princípio havia assumido era errada : o modelo militar havia-se tornado um preconceito funesto e os exércitos de trabalho faliram[2].  


 Para mais textos de Gramsci, acesse:<<http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP5.htm>>

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Anita Prestes X Mao Tsé Tung




Estranho o pensamento de Anita Prestes: com esse artigo, ela quer chegar ao ponto de atribuir à influência de Mao Tsé Tung a vitória do reformismo no PCB em 58. É muita distorção! Mao Tsé Tung inspirou justamente o contrário: a ruptura daqueles que ainda propunham um caminho revolucionário. Essa ruptura se efetivou em 1962, com a criação do Partido Comunista do Brasil, PC do B.

O problema, a meu ver, não está em acreditar ou não na existência de etapas. O problema está em apostar na via eleitoral e pacífica para o socialismo. Esse foi o ponto em que o partido chinês criticou as ideias dos kruchevistas já em 56: isso seria volta a um pensamento socialista utópico, seria voltar a Bernstein, Kautsky, etc. A partir desse ponto que houve o desenrolar da polêmica entre os chineses e soviéticos.
O PCB de hoje não acredita mais em etapas, mas entre 2002-2005 participou do governo Lula, acreditando que esse estava realizando uma etapa nacional e democrática. No entanto, o governo Lula nada mais é do que um governo onde estiveram os mesmos gerentes de sempre: empresários que usam o estado para lucrar, grandes latifundiários, capital estrangeiro não-produtivo, especulativo, que lucra com os juros altos que lhe são pagos aqui.

Sendo assim, o PCB confunde burguesia burocrática, que se alia a resíduos feudais e pré-capitalistas, assim como potências estrangeiras, com uma burguesia nacional.

E Anita julga Mao antidialético. O que ouço dizer sobre ela é que usa o velho truque de ficar com um pé dentro do partido, outro fora. Ela tem mesmo que detestar os maoístas, pois eles denunciam que Prestes, depois de 56, virou o cavaleiro do oportunismo.

Igualmente, a respeito da dialética, Mao desenvolveu-a.  Para ele, não existe só uma contradição, uma simples aniquilação dos elementos contrários. Eles podem conviver, existe contradição antagônica e não antagônica. É um avanço, não um pensamento antidialético.




A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO ANTIDIALÉTICO DE MAO TSE-TUNG NA ESTRATÉGIA POLÍTICA DO PCB (“DECLARAÇÃO DE MARÇO” DE 1958, RESOLUÇÕES DO 5º E 6º CONGRESSOS)



REVISTA DE HISTÓRIA COMPARADA, Rio de Janeiro, 5-2: 94-106, 2011. 94 PARA O ESTUDO DA MEMÓRIA DO PCB

  Anita Leocadia Prestes


Resumo: A partir da análise e da comparação do pensamento antidialético de Mao Tse-Tung sobre as contradições com as teses da dialética materialista enunciadas por C.Marx, F.Engels e V.Lenin, é abordada a influência das concepções do líder da Revolução Chinesa na estratégia política do PCB, expressa, a partir de 1958, em seus principais documentos. Palavras-chave: Mao Tse-Tung, Lenin, contradições, dialética marxista, PCB.

Nos escritos de Mao Tse-Tung ocupam um lugar de destaque suas teses sobre a contradição, entendidas pelos seguidores do líder revolucionário chinês como uma contribuição significativa para o desenvolvimento da teoria marxista-leninista e, em particular, para o aprofundamento das concepções filosóficas dos clássicos do pensamento marxista, C. Marx, F. Engels e V. Lenin.

A comparação cuidadosa das concepções filosóficas presentes nos escritos de Mao Tse-Tung com as desenvolvidas nas obras dos clássicos do marxismo nos revela, entretanto, algo distinto. Para Mao, a contradição é entendida como uma simples contraposição de tendências opostas, uma descrição simplista e empírica de elementos opostos, esvaziando a dialética materialista (marxista) do seu verdadeiro sentido, definido por Marx, Engels e Lenin.

Mao não percebeu que a luta dos contrários não só condiciona o movimento de todos os fenômenos como garante o processo de desenvolvimento, que se dá não apenas através da transformação da quantidade em qualidade, como de um movimento em espiral. Em outras palavras, da luta dos contrários surge algo novo, que não é uma simples afirmação de um dos contrários ou daquele contrário novo e mais avançado, mas uma síntese inovadora, que, em certa medida, conserva elementos de ambos os contrários do fenômeno em questão.

 Trata-se da negação da negação. Mao nega a lei da dialética da negação da negação, afirmada por Marx, Engels e Lenin. Como muitos críticos da dialética marxista, identifica a lei da negação da negação com a tríade (tese, antítese e síntese) de Hegel, esta, sim, uma concepção idealista. Como veremos, recorrendo aos clássicos, a lei da negação da negação na dialética marxista tem caráter materialista e, portanto, expressa a reviravolta realizada por Marx na dialética hegeliana.

Como é sabido, Marx, a partir da dialética idealista de Hegel, fundou a dialética materialista. Mao rejeita abertamente a lei da negação da negação. Chega a dizê-lo explicitamente, declarando sua discordância com Engels: Engels falou sobre as três categorias, mas eu não acredito em duas delas. (A unidade dos contrários é a lei mais básica, a transformação mútua de qualidade e quantidade é a unidade dos contrários qualidade e quantidade, e a negação da negação não existe.)

A justaposição, no mesmo nível, da transformação da qualidade e quantidade uma na outra, da negação da negação, e a lei da unidade dos contrários é “triplicismo”, não monismo. A coisa mais básica é a unidade dos contrários. A transformação de qualidade e quantidade uma na outra é a unidade dos contrários qualidade e quantidade. (MAO, 2008, p.225; grifos meus)

Observe-se que Mao está se contrapondo à explanação de Engels, noAntiDühring, da lei da dialética materialista da negação da negação. Para Mao, os contrários, ao interagirem entre si, um liquida o outro, e aquele que é o novo e o vitorioso, vai constituir a nova unidade de contrários. Mao desmente a dialética materialista, que, conforme os clássicos do marxismo, se caracteriza pelo fato de a luta dos contrários num determinado fenômeno constituir o processo de transformações quantitativas, que, num determinado momento, leva a um salto de qualidade, cujo resultado é o surgimento de um outro fenômeno com características distintas do primeiro, mas que não é simplesmente a repetição (e/ou a vitória de um dos contrários) do fenômeno anterior, mas um novo fenômeno que repete algumas características do anterior, ou seja uma nova síntese.

Trata-se de um movimento em espiral, que caracteriza justamente o desenvolvimento de acordo com a dialética materialista. Dando continuidade à sua crítica de Engels, Mao escreve: Não existe a negação da negação. Afirmação, negação, afirmação, negação... No desenvolvimento das coisas, cada elo na cadeia de eventos é ao mesmo tempo afirmação e negação. A sociedade escravista negava a sociedade primitiva, mas com referência à sociedade feudal ela constituía, por sua vez, afirmação. A sociedade feudal constituía a negação em relação à sociedade escravista, mas era por sua vez a afirmação com referência à sociedade capitalista. A sociedade capitalista era a negação em relação à sociedade feudal, mas é, por sua vez, a afirmação em relação à sociedade socialista. (Idem, p.225; grifos meus)

Neste trecho transparece a concepção distorcida da dialética marxista apresentada por Mao. Assim, ele não reconhece, por exemplo, que a sociedade capitalista, embora resulte das contradições presentes no feudalismo, não é uma simples negação deste último, mas uma nova síntese, em que estão presentes aspectos das sociedades anteriores, mas transformados, num nível distinto, num movimento em espiral, que justamente se dá de acordo com a lei da negação da negação. O simplismo de Mao evidencia-se, por exemplo, quando ele escreve a respeito da síntese: O que é a síntese? Todos vocês presenciaram como os dois contrários, o Koumintang e o Partido Comunista, foram sintetizados no campo. A síntese ocorreu assim: os exércitos deles vieram, e nós os devoramos, pedaço a pedaço. Não foi o caso de dois se combinando em um (...) Uma coisa comendo a outra, o peixe grande comendo o peixe pequeno, isso é síntese. (...) (Idem, p. 222, 223) Numa palavra, uma devora a outra, uma derruba a outra, uma classe é eliminada, outra surge, uma sociedade é eliminada, outra aparece. (Idem, p.226)

Pode-se perceber que, para Mao, a luta dos contrários significa que um deles liquida o outro e, dessa maneira, vai determinar o fenômeno novo com novos contrários. Mao não percebe a interação dialética entre os contrários, interação esta que acarreta transformações quantitativas no fenômeno em questão, as quais, num determinado momento provocam uma mudança de qualidade, um salto qualitativo. Surge, então, um novo fenômeno com novos contrários, mas este fenômeno novo preserva aspectos do anterior, mas em um novo nível: é o desenvolvimento em forma de espiral, é a negação da negação.

A leitura de outros textos de Mao revela essa concepção distorcida da dialética marxista, mas de forma menos explícita, o que, por vezes, dificulta sua observação. Em Sobre as contradições, Mao escreve: O que significa o aparecimento de um novo processo? A velha unidade, com seus contrários constituintes, cede lugar a uma nova unidade, com seus contrários constituintes, em que um novo processo aparece para substituir um antigo. O velho processo termina e o novo começa. O novo processo contém novas contradições e começa sua própria história do desenvolvimento das contradições. (Idem, p. 93)

Engels, no Anti-Dühring, dedica todo um capítulo à negação da negação, onde, por sinal, cita amplamente Marx em O Capital. Entre outras citações de Marx: O regime capitalista de produção e de apropriação, ou, o que vem a significar a mesma coisa, a propriedade privada capitalista, é a primeira negação da propriedade privada individual, baseada no trabalho do próprio produtor. A negação da produção capitalista surge dela própria, pela necessidade imperiosa de um processo natural. É a negação da negação. (ENGELS, 1990, p.114; grifos meus)

Engels escreve sobre a negação da negação: É uma lei extraordinariamente geral e, por isso mesmo, extraordinariamente eficaz e importante, que preside ao desenvolvimento da natureza, da história e do pensamento; uma lei que, como já vimos, se impõe no mundo animal e vegetal, na geologia, nas matemáticas, na história e na filosofia. (Idem, p.120) A seguir, rebatendo argumentos dos metafísicos (e pareceria que respondendo a Mao), Engels escreve: Negar, em dialética, não consiste pura e simplesmente em dizer não, em declarar que uma coisa não existe, ou em destruí-la por capricho. (...) Não se trata apenas de negar, mas de anular novamente a negação.

Assim, a primeira negação será de tal natureza que torne possível ou permita que seja novamente possível a segunda negação. (Idem, p. 120- 121; grifo do autor) Engels dá alguns exemplos e acrescenta: Mas é evidente que não pode sair nada de um processo da negação da negação que se limite apenas à puerilidade de escrever num quadro negro um A, e logo depois apagá-lo, ou a dizer que uma rosa é uma rosa para, logo em seguida, dizer que não é. Somente se poderia provar, dessa forma, a idiotice de quem se entrega a tais divagações. (...)

Hegel nada mais fez que formular nitidamente, pela primeira vez, esta lei da negação da negação, lei que atua na natureza e na História, como atuava, inconscientemente, em nossos cérebros, muito antes de ter sido descoberta. (Idem, p. 121; grifo do autor) Lenin, em Quem são os “amigos do povo” e como lutam contra os social-democratas? (1894), com base no Anti-Dühring de Engels, escreve: “Todo aquele que tenha lido a definição e a descrição do método dialético que oferece Engels (...) ou Marx (...) terá visto que em absoluto não se fala ali das tríades de Hegel” (LENIN, 1975, v.1, p.165), afirmando ainda : “(...) como é absurdo acusar o marxismo de dialética hegeliana” (Idem, p.175) 1 .

Da mesma forma, Lenin, em Um passo adiante, dois passos atrás (1904), ao examinar a luta de tendências que se desenrolava no POSDR (Partido Operário SocialDemocrata Russo), afirmava: Nada podrá entender-se en nuestra lucha sin estudiar las condiciones concretas de cada batalla. Y, al estudiarlas, veremos bien claro que, en efecto, su desarrollo sigue la via dialéctica, la via de las contradicciones: la minoria se convierte em mayoria, la mayoría en minoria; cada beligerante pasa de la defensiva a la ofensiva y a la inversa: “se niega” el punto de partida de la lucha ideológica (artículo primero), cediendo su puesto a las querellas, que lo llenan todo, pero luego empieza “la negación de la negación”, y “congeniando” mal que bien, en los diversos organismos centrales, con la mujer que Dios le ha dado a uno, volvemos al punto de partida de la lucha puramente ideológica. Pero esta “tesis” está ya enriquecida por todos los resultados de la “antítesis” y se ha elevado a síntesis superior, cuando el error aislado y casual del artículo primero se ha convertido em un casisistema de concepciones oportunistas sobre el problema de organización, cuando para todo el mundo es cada vez más evidente la relación que guarda este fenómeno com la división fundamental de nuestro partido en ala revolucionaria y ala oportunista. En una palabra, no sólo crece la cebada a lo Hegel, sino que los socialdemócratas rusos luchan entre si también a lo Hegel. (LENIN,1961, t.1, p. 461-462)

Vejamos ainda o que Lenin escreve, em Carlos Marx (1914), sobre a idéia do desenvolvimento, da evolução, formulada por Marx e Engels: Es un desarrollo que parece repetir las etapas ya recorridas, pero de outro modo, sobre una base más alta (la “negación de la negación”); un desarrollo que no discurre en línea recta, sino em espiral, por decirlo así; un desarrollo a saltos, a través de catástrofes y de revoluciones, que son otras tantas “interrupciones en el proceso gradual”, otras tantas transformaciones de la cantidad en calidad;impulsos internos del desarrollo originados por la contradicción, por el choque de las diversas fuerzas y tendencias que actúan sobre um determinado cuerpo o en los limites de um fenómeno concreto, o en el seno de una sociedade dada; interdependencia e íntima e inseparable concatenación de todos los aspectos de cada fenómeno (con la particularidad de que la historia pone constantemente de manifiesto aspectos nuevos),concatenación que ofrece un proceso único y lógico universal de movimiento: tales son algunos rasgos de la dialéctica, doctrina del desarrollo mucho más compleja y rica que la teoria corriente. (Idem, v. 1, p. 31-32; grifo do autor) Lenin em Sobre a questão da dialética (1915), ao expor sinteticamente a dialética marxista (materialista), assinala: O conhecimento humano não é (...) uma linha reta, mas uma linha curva, que se aproxima infinitamente a uma série de círculos, a uma espiral. Todo fragmento, segmento, seção dessa linha curva pode ser transformado (unilateralmente transformado) em uma linha reta autônoma, inteira, que (se por trás das árvores não se enxergar o bosque), leva então ao pântano, ao obscurantismo clerical (em que ela é consolidada pelo interesse de classe das classes dominantes). (LENIN, 1977, v.29, p. 322; 1º grifo meu; 2º grifo do autor) 2

Ao compararmos os escritos de Mao sobre as contradições com os dos clássicos, evidencia-se sua concepção antidialética da filosofia marxista, uma vez que o dirigente chinês não parte da compreensão materialista dialética do processo de desenvolvimento de todos os fenômenos e, em particular, dos fenômenos sociais. Vale lembrar que Marx, Engels e Lenin escreveram sobre classes antagônicas e não sobre contradições antagônicas. Consultando, por exemplo, as Obras Completas de Lenin, encontramos referências a “classes antagônicas” (v.1, p. 138), ao “antagonismo do regime capitalista”, (v.1, p. 465), ao “aguçamento e ampliação” das contradições do capitalismo (v.2, p. 180), à “natureza antagônica” do capitalismo (v.3, p. 599), ao “antagonismo de classe entre o proletariado e outras classes” (v.4, p. 332), ao “antagonismo entre a burguesia e o proletariado” (v. 25,. p. 264) 3 .

 Mas, nas obras dos clássicos do marxismo, não encontramos a separação e, inclusive, a hierarquização das contradições sociais, conforme postula Mao Tse-Tung. Na realidade, as diversas contradições estão sempre profundamente entrelaçadas entre si, sendo impossível separá-las, com o intuito de resolvê-las por partes, por etapas, segundo o pensamento de Mao, para quem as contradições podem ser subdivididas em antagônicas e não antagônicas, principais e fundamentais, assim como não fundamentais, etc. (Cf. MAO, 2008, “Sobre a contradição”).

Um bom exemplo desse entrelaçamento das contradições presentes numa estrutura social pode ser o existente na realidade brasileira. No Brasil, ao lutar-se contra o imperialismo se está lutando contra o capitalismo e também contra todo tipo de relações pré-capitalistas ainda existentes. Apreciar as contradições da sociedade brasileira separadamente seria artificial e não contribuiria para o desenvolvimento do processo revolucionário. Este certamente irá transcorrer através da transformação quantitativa dos diversos conflitos presentes na sociedade até que seja possível o salto qualitativo (a revolução), que superará tais conflitos, gerando outros. Será a negação da negação. Tentar separar e hierarquizar as contradições para resolvê-las por etapas é cair na metafísica, significa, em nome da dialética, tentar justificar uma determinada política (em geral reformista).

O pensamento de Mao é tautológico, limita-se à descrição de uma série de conflitos, à afirmação de truísmos, sem, entretanto, explicar o processo de desenvolvimento dos fenômenos sociais, o processo materialista-dialético. O exemplo brasileiro é significativo. Devido à enorme repercussão da Revolução Chinesa nos países do Terceiro Mundo, nos anos 1950/60, a influência generalizada do pensamento de Mao Tse-Tung contribuiu decisivamente para que o PCB adotasse uma estratégica política baseada na separação e na hierarquização das contradições da sociedade brasileira, de acordo com as concepções antidialéticas do líder chinês.

Quando se compara a “Declaração de Março” de 1958 (PCB, 1980), aprovada pela direção do PCB, com alguns dos seus mais importantes documentos anteriores, como as Resoluções do 4º Congresso (1954) e o Programa do partido (PRESTES, 1954; PROGRAMA DO PCB, 1954), percebemos que tal preocupação com a classificação REVISTA DE HISTÓRIA COMPARADA, Rio de Janeiro, 5-2: 94-106, 2011. 101 das contradições da sociedade brasileira, ausente em 1954, adquire grande destaque após a realização do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, ocasião em que seu prestígio ficou profundamente abalado, provocando grave crise no movimento comunista internacional.

Surgiam assim as condições propícias para que as teorias advindas do líder de um processo revolucionário vitorioso como o chinês adquirissem especial aceitação. Na “Declaração de Março” de 1958 afirmava-se: Como decorrência da exploração imperialista norte-americana e da permanência do monopólio da terra, a sociedade brasileira está submetida, na etapa atual de sua história, a duas contradições fundamentais. A primeira é a contradição entre a nação e o imperialismo norte-americano e seus agentes internos. A segunda é a contradição entre as forças produtivas em desenvolvimento e as relações de produção semifeudais na agricultura. O desenvolvimento econômico e social do Brasil torna necessária a solução dessas duas contradições fundamentais. (PCB, 1980, p. 12-13; grifos meus)

A separação das contradições e a sua hierarquização levava o PCB a justificar uma etapa específica dentro do processo revolucionário brasileiro, nos marcos da qual deveriam ser eliminados dois supostos obstáculos ao desenvolvimento da sociedade brasileira: o imperialismo norte-americano e as “relações de produção semifeudais na agricultura”.

Reconhecia-se ainda a presença de uma terceira contradição, “entre o proletariado e a burguesia, que se expressa nas várias formas da luta de classes entre operários e capitalistas”. Mas, a seguir, declarava-se que “esta contradição não exige uma solução radical na etapa atual. Nas condições presentes de nosso país, o desenvolvimento capitalista corresponde aos interesses do proletariado e de todo o povo.” (Idem, p. 13) A partir de semelhante análise, marcada pelas concepções antidialéticas do pensamento maoista sobre as contradições, o PCB traçava sua estratégia política: A revolução no Brasil, por conseguinte, não é ainda socialista, mas anti imperialista e antifeudal, nacional e democrática.

A solução completa dos problemas que ela apresenta deve levar à inteira libertação econômica e política da dependência para com o imperialismo norteamericano; à transformação radical da estrutura agrária, com a liquidação do monopólio da terra e das relações pré-capitalistas de trabalho; ao desenvolvimento independente e progressista da economia nacional e à democratização radical da vida política. (Idem, p. 13; grifos meus)

Dessa forma, justificava-se uma estratégia baseada na ideologia nacionallibertadora, ou nacional-desenvolvimentista, de acordo com a qual seria viável um capitalismo autônomo no Brasil. Não se percebia que a burguesia industrial brasileira havia se associado, em posição subordinada, aos grupos monopolistas estrangeiros, tornando inviável, como os acontecimentos posteriores acabariam mostrando, qualquer aposta em um desenvolvimento independente para o Brasil (PRESTES, 2010, p.151).

No mesmo documento, afirmava-se ainda que “a contradição entre a nação em desenvolvimento e o imperialismo norte-americano e os seus agentes internos tornou-se a contradição principal da sociedade brasileira”. Considerava-se, portanto, que entre as duas supostas contradições fundamentais uma seria principal. A conclusão disso decorrente era formulada da seguinte maneira: “O golpe principal das forças nacionais progressistas e democráticas se dirige, por isto, atualmente, contra o imperialismo norteamericano e os entreguistas que o apóiam” (PCB, 1980, p. 13).

Estamos diante de uma teorização consagradora da visão etapista da revolução brasileira, de acordo com a qual não se percebia algo que havia sido levantado ainda no final da década de 1920 por José Carlos Mariátegui: o caráter socialista da revolução na América Latina, embora o revolucionário peruano registrasse a necessidade de considerar as peculiaridades do capitalismo em cada país do nosso continente e defendesse a luta por um socialismo que não fosse “nem cópia nem decalque, mas sim invenção heróica” dos nossos povos (MARIÁTEGUI, 2008, p.153).

A respeito, escrevia Mariátegui: Sin prescindir del empleo de ningún elemento de agitación antiimperialista, ni de ningún medio de movilización de los sectores sociales que eventualmente pueden concurir a esta lucha, nuestra misión es explicar y demonstrar a las masas que sólo la revolución socialista opondrá al avance del imperialismo una valla definitiva y verdadera. (Idem, p. 51)

Sem negar que a revolução socialista constitui um processo, que em cada país terá suas particularidades, Mariátegui verificara que, no século XX, o imperialismo penetrara profundamente e se articulara estreitamente com as diversas relações de produção existentes em cada nação do continente latino-americano. Tornara-se, portanto, impossível derrotar o imperialismo sem avançar no caminho da revolução socialista.

 O problema era, e continua sendo, como, na prática, empreender tal caminho sem desviar-se para o etapismo e o consequente reformismo, de acordo com o qual a solução revolucionária acaba sendo abandonada (BORON, 2010). As principais teses presentes na “Declaração de Março” de 1958 seriam reafirmadas no 5º Congresso do PCB, realizado em 1960, e no seu 6º Congresso, realizado em 1967.

Na Resolução Política do 5º Congresso, repetia-se, com ligeiras mudanças, o que se afirmava em 1958: A sociedade brasileira encerra duas contradições fundamentais que exigem solução radical na atual etapa histórica de seu desenvolvimento. A primeira é a contradição entre a Nação e o imperialismo norteamericano e seus agentes internos. A segunda é a contradição entre as forças produtivas em crescimento e o monopólio da terra, que se expressa, essencialmente, como contradição entre os latifundiários e as massas camponesas. (PCB, 1980, p.47-8; grifos meus)

Nessa Resolução Política, destacava-se, como supostamente “principal, dominante” a uma das duas contradições fundamentais nomeadas: “a contradição entre a nação brasileira e o imperialismo norte-americano e seus agentes internos”. (Idem, p. 49; grifos meus) Mas considerava-se que “a contradição antagônica entre o proletariado e a burguesia, inerente ao capitalismo, é também uma contradição fundamental da sociedade brasileira”.

Dessa forma, afirmava-se a presença de três contradições fundamentais, sendo que a terceira não exigiria “solução radical e completa na atual etapa da revolução, uma vez que, na presente situação do País, não há condições para transformações socialistas imediatas”. Como conclusão, reafirmava-se a estratégia política definida em 1958: “Em sua atual etapa, a revolução brasileira é antiimperialista e antifeudal, nacional e democrática.” (Idem, p. 48; grifos meus)

Na Resolução Política do 6º Congresso do PCB (1967), as teses sobre as contradições da sociedade brasileira, ligeiramente reformuladas, são reafirmadas: A contradição fundamental entre as necessidades de desenvolvimento e o sistema de dominação imperialista e a exploração latifundiária deve ser resolvida para possibilitar o avanço progressista da sociedade brasileira. O maior empecilho à solução dessa contradição é a aliança política entre o imperialismo e a reação interna. (PCB, 1980, p. 172; grifos meus)

Também é reafirmada a estratégia da revolução brasileira: A revolução brasileira, em sua presente etapa, deverá liquidar os dois obstáculos históricos que se opõem ao progresso da nação: o domínio imperialista e o monopólio da terra. Ela é, assim, nacional e democrática. Devido à preponderância do fator nacional, a direção do golpe principal está voltada contra o imperialismo, particularmente o norte-americano, e seus agentes internos. (Idem, p. 172; grifos meus)

A influência do pensamento antidialético de Mao Tse-Tung nas formulações dos documentos partidários, a partir de 1958, contribuiu para a afirmação do reformismo nas fileiras do PCB, o qual “se explicitava, principalmente, por meio da ideologia do nacional-desenvolvimentismo e da concepção da revolução em etapas” (PRESTES, 1980, p.162, 55-9). Como advertiu E. Hobsbawm, “o perigo real para os marxistas é o de aceitar o nacionalismo como ideologia e programa, ao invés de encará-lo realisticamente como um fato, uma condição de sua luta como socialista” (HOBSBAWM, 1980, p.310). FOR THE STUDY OF THE MEMORY OF PCB (BRAZILIAN COMMUNIST PARTY): THE INFLUENCE OF MAO ZEDONG’S ANTI-DIALECTIC THINKING IN THE POLITICAL STRATEGY OF THE PCB (“MARCH DECLARATION” OF 1958, RESOLUTIONS OF THE 5th AND 6 th CONGRESSES) Abstract: Based on the analysis and comparison of the anti-dialectic thinking of Mao Zedong on the contradictions of the materialistic dialectic thesis of C. Marx, F. Engels and V. Lenin, the influence of the concepts of the leader of the Chinese Revolution on the political strategy of the PCB is addressed, as expressed in its principal documents since 1958. Keywords: Mao Zedong; Lenin; contradictions; Marxist dialectics; PCB.

Referências bibliográficas

BORON, Atílio. Estudio introductorio. In: LUXEMBURGO, R. Reforma social o revolución? Buenos Aires: Ediciones Luxemburg, 2010. ENGELS, Friedrich. Anti-Dühring. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. HOBSBAWM, Eric J. Nacionalismo e marxismo. In: Pinsky, J. (Org.). Questão nacional e marxismo. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1980, p.294-323. LENIN, V.I. Obras Completas. (Em russo). 5ª edição. Moscou: Editora de Literatura Política, 1975, v.1; 1977, v.29. ___. Obras Escogidas en tres tomos. Moscú, Editorial Progreso,1961, t.1. MAO, Tse-tung. Sobre a prática e a contradição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. ___. Sobre a contradição. In: Mao Tse-Tung, Sobre a prática e a contradição. Op. cit., p.83-126. ___. Sobre a prática: sobre a relação entre conhecimento e prática, entre saber e fazer. In: Mao Tse-Tung, Sobre a prática e a contradição. Op. cit., p.64-82. ___. Sobre o modo correto de lidar com as contradições em meio do povo. In: Mao Tse-Tung, Sobre a prática e a contradição. Op. cit., p.161-203. ___. Conversa sobre questões de filosofia. In: Mao Tse-Tung, Sobre a prática e a contradição. Op. cit., p.207-30. MARIÁTEGUI, José Carlos. Escritos fundamentales. Buenos Aires, Acercándonos Ediciones, 2008. PCB: vinte anos de política, 1958-1979 (documentos). São Paulo, LECH – Livraria Editora Ciências Humanas, 1980. PRESTES, Anita Leocadia. Os comunistas brasileiros (1945-1956/58): Luiz Carlos Prestes e a política do PCB. São Paulo, Ed. Brasiliense, 2010. PRESTES, Luiz Carlos. Sobre o Programa do PCB (Informe ao Pleno do CN, dez./1953). Problemas, n. 54, fevereiro de 1954, p.29 a 43. PROGRAMA DO PCB. Problemas, n.64, dezembro de 1954, p.19 a 46. Notas 1 Tradução do russo feita pela autora do artigo. 2 Tradução do russo feita pela autora do artigo. 3 Tradução do russo feita pela autora do artigo. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.