segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um trabalho pioneiro sobre Orwell

Um trabalho de relevância, penso eu, mundial:

http://www.republicasocialista.blogspot.com.br/2012/12/ficcao-e-historia-em-revolucao-dos.html

sábado, 15 de dezembro de 2012

Libertarianos tentam difamar professor Grover Furr


O professor Grover Furr, de Montclair State University, está sendo objeto de difamação em um vídeo que tem circulado, principalmente, entre os seguidores de Von Mises, os chamados "libertarianos".

No vídeo, um debatem (ocorrido em fins do mês passado, novembro 2012) da juventude promovido pela juventude de ultra-direita norte-americana, envolvendo um "liberal" (Grover Furr), um conservador e um "libertariano", mostra o professor Furr, do departamento de Inglês, polemizando em público com um estudante. Furr foi o liberal convidado pelos organizadores do debate.

"Os Estados Unidos têm o mais baixo nível de vida de todos os países industrializados e todos eles têm um sistema de saúde gratuito, e vocês deveriam ter direito a isso também", diz o professor no vídeo.

Grover Furr é professor há 43 anos em Montclair. Leciona História do Jornalismo, Literatura e História Mundial e Língua Inglesa.

O vídeo (disponibilizado no youtube e com linque aqui) envolve não suas aulas, mas suas pesquisas sobre Stálin. O aluno pergunta sobre as bilhões de mortes provocadas por Stálin. Primeiro Furr diz que esse não é o assunto do debate, que aquilo não deveria ser debatido ali. Mas o estudante insiste e fala no Relatório Kruschev. Alguém lembra ao estudante que o professor escreveu um livro chamado "Kruschev Mentiu".  Logo, Furr perde a paciência: "Você fala merda." O aluno grita: "Então essa é uma grande mentira bem sucedida?" O professor também grita: "Isso é que é a mentira bem sucedida. Tentei encontrar pelo menos um crime que Stálin tenha sucedido, pelo menos um". Depois disso, os organizadores retomam a palavra, reafirmam o consenso de que Stálin provocou milhões de mortes e ainda citam a frase que seria de Stálin: "uma morte é uma tragédia, milhões são uma estatística". Furr ainda foi ao microfone questionar onde é que essa frase foi citada por ele, pois é de autoria duvidosa.

Essa resposta fez com que os libertarianos postassem o vídeo, que já tem mais de 40 0000 visitas, sob a legena de "professor louco diz que ninguém foi morto por Stálin", que não corresponde à verdade do que foi dito no debate. Furr trabalha com evidências e fontes primárias e não achou evidências de que tenham ocorrido os tais crimes.

Professor Furr no dia da polêmica
 Depois da repercussão nacional do vídeo, o advogado e descendente de ucranianos Arthur Belenduik ligou para Montclair pedindo esclarecimentos a respeito, dizendo que sua família foi vítima de prisão nos gulags. O departamento de Inglês apenas informou que Furr está apoiado na primeira emenda da Constituição Americana, a que garante liberdade de expressão. Belenduik, assim ocomo os ultra-direitistas que comentam, em sua maioria, no vídeo, afirmam que Furr ensina "stalinismo" aos alunos. Eles reclamam a expulsão de  Furr em uma reforma universitária que estão propondo. Obviamente, eles (como os tucanos e ultra-direitistas brasileiros) responsabilizam a nós, professores com ideias progressistas ou de esquerda, por seus fracassos eleitorais, causados principalmente por suas políticas impopulares e conceitos falsos, como a ideia de que o mercado pode sobreviver sem o estado.

No entanto, com seu espírito advindo da ditadura militar e do macartismo, querem nos perseguir e culpar por seus erros e fracassos.

O vídeo tem sido comentado em jornais conservadores com a mesma visão que é epidêmica nesses meios --e no Brasil: a universidade seria um ambiente liberal onde, às custas dos contribuintes, os jovens são doutrinados com ideologias de esquerda.  "Eles nunca viram uma aula minha, nem conversaram com meus alunos", disse o professor Furr em resposta.

No entanto, o coordenador do deparmento de Inglês, Dr. Emily Sachs, comentou que não recebeu nenhuma queixa a respeito das aulas de Inglês nesse semestre.





sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sobre a resenha de um gramsciano contra Hoxha




Lendo a resenha antiga do livro do gramsciano Luiz Sérgio Henriques sobre o livro Imperialismo e Revolução, de Enver Hoxha, disponível abaixo:

http://www.materialismo.net/2012/11/luiz-sergio-n-henriques-no-marxismo-de.html


Faço algumas observações. Em primeiro, Henriques, como gramsciano e organizador do site Gramsci e o Brasil, com certeza ele se vê retratado nos togliattistas que ali são chamados de revisionistas e renegados. Daí sua absoluta má vontade com  a "versão de quinta categoria da codificação staliniana" do pensamento de Marx e Lenin. Assim, Henriques impinge seu vocabulário "marxiano" até a Stálin.

Será que Henriques conhece codificações de "primeira categoria" da codificação staliniana? Ele acusa Hoxha de diminuir a riqueza e a diversidade da obra de Marx, ou seja, acusa-o de caricaturá-lo. Mas não se trata apenas de Marx aqui, como repetem com ânimo dogmático os gramsci-lukácsianos que ficam "escavando" a obra de Marx. Trata-se de Lênin e de seu fiel seguidor, Stálin.

A revisão do marxismo que fazem e que gera o marxismo "marxiano" só é pluralista no sentido de dialogar com as vertentes que renegam o marxismo bolchevique. Quando se trata de reconhecer a óbvia continuidade entre Marx, Lênin e Stálin, acaba o amor ao pluralismo e vemos, então, a verdadeira face desses burocratas de partido e catedráticos autoritários.  Brotam, então, os argumentos de autoridade e o tom doutoral dos José Paulo Netto da vida.

Ainda que Hoxha exagere ao renegar até mesmo o maoísmo como revisionista, Henriques não argumenta, vitupera e injuria: "religioso", "franciscamente pobre", etc.  Pode ser que Hoxha tenha errado quando escreveu que não se deve particularizar o marxismo-leninismo. Se essa argumentação teve então um papel  descolonizador na sociedade semi-colonial chinesa, de fato, posteriormente, isso abriu para que se argumente, com a autorização do maoísmo, que a China assumiu um "socialismo com características chinesas", na verdade um revisionismo que começou em 1976, com o afastamento dos antigos maoístas.

Mas absolutamente inaceitável é a argumentação final de Henriques, dizendo que a teoria de Hoxha não merece lugar porque não "enriquece" a "sociedade civil" na democracia [burguesa] que se está construindo naquele período (final da ditadura militar, quando esse livro foi publicado pela primeira vez). Aí Henriques está fazendo o que diz que Hoxha faz: não tolera e proíbe de uma interpretação do marxismo diferente da dele. Ele denuncia essa interpretação como totalitária, como se existisse outra alternativa senão o totalitarismo da burguesia ou o totalitarismo do proletariado. É claro que Henriques com sua "sociedade civil", que não é mais do que a ideologia da pequena-burguesia sob um nome bonito, está ao lado do totalitarismo disfarçado da burguesia e deseja marginalizar e excluir qualquer um que proponha o totalitarismo do proletariado. Como sua classe, Henriques também é totalitário.

E pelo que se vê pelo Brasil hoje em dia, os gramscianos obtiveram muito, mas muito sucesso em sua empreitada!











terça-feira, 27 de novembro de 2012

Carta ao camarada Marcelo Caldeira

Camarada Marcelo:

Essa postagem visa responder alguns de seus questionamentos que estou há muito para responder. Irei respondê-los com o máximo de brevidade.


1--Você me perguntou se a candidatura de Bertolinho (PMDB) não seria mais apropriada a um comunista. E qual seria a candidatura apropriada, uma vez que a direção do PC do B aqui se encontra nas mãos da oligarquia? Suponho que você imagina que é a candidatura, agora vitoriosa, de Fernando Cabral (PPS-PT-PC do B). No entanto, eu preferi votar em um partido, o PMDB, que é melhor organizado aqui, tendo militantes históricos. Eu voto em partidos. Sobre o PMDB ser elitista, note que também dentre a vertente pela qual você optou existe, por exemplo, quem tenha optado por Serra em 2010, no segundo turno, assim como quem usa o termo "ideologia" para dar nome à esquerda. Sinceramente, creio que a esquerda socialista têm mais o que se preocupar do que simplesmente se preocupar com as eleições no atual sistema político-eleitoral. Eu jamais aceitaria uma boquinha em um governo aqui, ao contrário do que você insinuou. Prefiro ficar na planície para analisar o poder. Não me julgue com parâmetros oportunistas e carreiristas. Eu fundaria uma revista e um jornal, não me candidataria a nada.

2--Quanto ao "stalinismo" no PCB, partido chamado por você de extremista. O PCB tem militantes que defendem o marxista-leninista que foi Stálin. Esse é um debate da esquerda socialista onde os dois lados (Trotsky e Stálin) têm bons argumentos. Eu opto pelos argumentos a favor de Stálin.Quanto ao PCB ser extremista, depende do extremo onde você estiver. Se você estiver na extrema-direita, sim, o PCB é extremista (de esquerda).

3--Quanto à classe trabalhadora estar desaparecendo: essa é uma argumentação que tem sido repetida por aí, por FHC, Hobsbawn, etc. Mas veja o artigo de Paulo Passarinho sobre os dados da SAE no jornal Correio Cidadania: o governo federal tem considerado classe média todo mundo que ganha R$ 246 ao mês. Não existe, então, ascensão da classe média. Temos agregado um parte dos trabalhadores ao mercado consumidor. Assim, eles passam a ter carro na garagem, TV de plasma, mas moram num moquifo e são vítimas de chacinas.

4--Quanto às ONGs e o tal terceiro setor terem tornado o Marx ultrapassado. ONgs são reformistas, não vão superar o capitalismo. A discussão de Marx não é essa.

Espero com esses pontos ter contribuído para a retomada de nosso diálogo, interrompido por seu bloqueio no feicebuque.

Abs do Lúcio Jr.




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

universo de gerald thomas: peça ruim

Muito engraçado esse vídeo que faz propaganda da Peça Ruim, peça da Companhia do Bife Seco, de Curitiba, Paraná. Impagável e hilário o diretor (a) imitando os gestos de Gerald Thomas ao dar entrevista. Muito interessante o tom de comédia e os personagens tirados do universo do diretor: o cisne de Terra em Trânsito, a figura cuja cabeça é cortada em The Flash and the Crash Days, as pessoas dependuradas como na blognvela Kepler the Dog, a gozação com a mania de citar autores (no vídeo cita-se Faulker). Que vontade de estar em Curitiba para assistir.

Parabéns à Bife Seco pelo achado...na dramaturgia de Gerald Thomas, o único grande personagem é ele mesmo, o diretor histriônico e midiático. Não tenho como ver, mas pelo visto dele ser uma comédia muito interessante pela brincadeira com o teatro (ela é uma peça dentro de uma peça):


http://www.gazetadopovo.com.br/videos/o-universo-de-gerald-thomas-na-peca-ruim/

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Marxiano, volte para o seu planeta: contra Erik Haagensen Gontijo





Resolvi ler uma tese marxiana, a tese de Erik Haagensen. Fiquei surpreso: os marxianos estão aí só para atrapalhar. Essa tese poderia ser jogada no lixo. Agindo como braço de um sistema capitalista, a nossa pomposa UFMG aceita lixo antimarxista a propósito de dissertações de mestrado, como essa sobre a Natureza, Sociedade e Atividade Sensível na Formação do Pensamento Marxiano. Logo de início, ele tem a coragem de afirmar:

Assim, o comunismo, enquanto idéia histórico-filósofica (decorrente de uma necessidade lógica), ou talvez menos, como uma mera aspiração com bases éticas, humanitárias, etc, destituídas de possibilidades reais, apesar da nobreza de seu idealismo, não ultrapassa o devaneio voluntarista, totalmente ao largo da realidade e, portanto, perfeitamente indiferente para o desenvolvimento prático (HAAGENSEN, p. 24)

           Embora sustente essa posição, entretanto, o que se pode concluir é que,  pelo contrário, ele salpica citações de Lukács aqui e ali, dando a entender até que é um leninista. No entanto, não pode ser, pois Lênin negou o tal ponto problemático que Erik cita logo no começo, no qual Lukács se irmana com Kant: “o ser mesmo (o ser em si) foi concebido por Kant, na teoria do conhecimento, como incognoscível por princípio” (p. 12).
No entanto, o atrasado Erik aceita isso esquece de que, para ser um marxista nessa altura da história, precisava definir que o fenômeno coincide com a coisa em si, senão ele abre as portas para o idealismo, ou seja, para idéias ultrapassadas (que permearam toda a dissertação e a comprometem).
Toda a dissertação de Erik gira em torno da terminologia hegeliana usada por Lukács, que nunca se convenceu de que o fenômeno (a imagem mental de uma coisa) e coisa em si (a realidade material) coincidem: a ciência penetra profundamente, podendo alterar a essência. Não há uma coisa em si incognoscível, misteriosa. Ao permanecer pensando que aquilo a que temos acesso é a consciência, o fenômeno, Lukács pensa, contra Lênin, que a revolução irá acontecer quando a proletariado atingir consciência de classe (já seria o bastante!), enquanto Lênin afirmava que é preciso verificar a conjuntura geral, se as classes dominadas não conseguem viver do jeito antigo e se as classes dominadoras também não conseguem dominar da forma anterior. Mas ele finge ser leninista até o final, vejamos seu último escrito:

A tarefa atual dos marxistas só pode ser trazer de volta à vida o método autêntico, a ontologia autêntica de Marx, principalmente para, com sua ajuda, não apenas possibilitar cientificamente uma análise histórica fiel do desenvolvimento social desde a morte de Marx – o que até hoje ainda não foi bem feito e nem completamente – como também para compreender e apresentar o ser em sua totalidade, no sentido de Marx, como processo histórico (irreversível) em seus fundamentos. Esse é o único caminho teoricamente viável para apresentar intelectualmente, sem qualquer transcendência, sem qualquer utopia, o processo de humanização do ser humano, o devir da espécie humana. Só assim essa teoria pode readquirir aquele pathos prático, sempre terreno-imanente, que havia no próprio Marx e que mais tarde – em parte ignorando o interlúdio leninista – se perdeu largamente, tanto na teoria como na prática (LUKÁCS, APUD: HAAGENSEN, 2007).

            O vocabulário empolado de Lukács remete a Hegel e Kant e nem tanto a Marx, que ele nunca digeriu totalmente. A mistificação está quando ele finge consideração pelo tal “interlúdio leninista”. Aliás, Stálin é continuador de Lênin, assim como Mao Tsé Tung. Na verdade, o tal “retorno a Marx” de Lukács só o levou aonde ele nunca saiu (ou mal chegou).
            Mas Erik se entrega aos devaneios voluntaristas e masturbatórios, autoengendrando um Marx só seu, tendo por trás a chancela medusina e petrificante da cátedra. Mas o marxiano vai mais além, seu interesse é ser o filósofo, que se colocando como marxista, coloca em seu embornal idéias que circulam no pensamento de direita atual.
Erik ataca a “teoria da ideologia”. Ele sintetiza, utilizando a tática da burguesia de inverter: “a teoria da ideologia é a ideologia alemã”. Nessa altura, cai a máscara e Erik faz papel de ideólogo burguês, ao consolidar a tática que ela tem assumido de fingir não ter ideologia, naturalizando sua dominação e buscando mantê-la invisível. É a teoria da ideologia [de Marx e Engels] que é considerada falsa aqui. Quem apresentar explicações motivadas pela falsa consciência, mentiras, é que está falando a verdade, então. Claro que o discurso de Erik vale é para ele mesmo. Ele é que busca vender mentiras como verdades e crê que nisso está sendo anti-ideológico. Na verdade, parece que ele se diverte com esse expediente de transmitir um Marx que deixa perplexo quem entende um pouco de Marx, pois participa de movimento estudantil, elabora canções, dá entrevistas na mídia, etc. Ou seja: ele é um disseminador de sua teoria e por isso precisa ser combatido. Está aí só para atrapalhar.
Ele prossegue, atrevido, invertendo tudo: “Em suma, basta interpretar o mundo de outra forma (a 11ª. Tese ad Feuerbach é fartamente ilustrada ao longo de todo o texto), tarefa que cabe a uma certa pedagogia crítica qualquer, e o mundo experimentará uma reviravolta em direção aos “verdadeiros humanos”. A “crítica” seria uma arma contra a “ideologia” que “organiza” o estado de coisas.” Para Haagensen, contestar verbalmente idéias falsas não combateria a alienação, uma vez que a alienação decorre exclusivamente da prática. Assim ele desvaloriza a argumentação e o debate. A teoria correta é um primeiro passo para uma prática acertada.
Aqui, ele simplesmente inverte o que diz a décima primeira tese de Feuerbach. Marx anuncia que uma nova teoria tem de ser levada para a prática para transformar o mundo. Erik entende que ele está propondo que uma nova teoria já bastaria e seria o critério último para transformar o mundo, ou seja, Marx seria um idealista. Erik então prossegue escrevendo que Marx não quer combater a falsa consciência, mas sim aos grilhões reais que estão presentes na vida prática dos indivíduos. Erik dissocia teoria e prática, inclusive colocando isso como dogma marxiano, “antipoliticista”, ou seja, derrotista, pessimista. O que será que Erik diria de uma carta de Marx como a seguinte, como numa carta escrita a Weydemeyer (1818-1866), datada do dia 05 de março de 1852, Marx é ainda mais claro:

    Não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna, nem a luta de classes entre si (...) O que fiz de novo foi:

    1) demonstrar que a existência das classes só está ligada a fases de determinado desenvolvimento histórico da produção;

    2) que a luta de classes CONDUZ NECESSARIAMENTE à ditadura do proletariado e
    3) que essa ditadura constitui apenas a transição para a abolição de todas as classes.
    (o grifo é meu) (em Karl Marx, F. Engels, Études Philosophiques, Paris, Éd. Sociales, 1951, p. 125).

E assim o barco vai, nessa toada, para o atoleiro. Para Erik, o discurso que busca verdades no lugar das falsas ideais que organizam é coisa de “padrecos que se pretendem reis” (p. 27). Mas o tom dele é justamente do padreco que engoliu um rei e seu método é o de pinçar citações e exibi-las como troféu. Aqui ele combate o marxismo bolchevique com sua terminologia bobalhona.
Mais adiante, ele afirma que “Marx nunca foi feuerbachiano”. Ora, ora. Quem disse isso? Como mutila o marxismo da dialética, Haagensen não entende que Marx nega uma parte e aceita uma parte do pensamento de Feuerbach. Talvez a parte mais divertida de sua dissertação seja o ataque a um marxiano que foi orientando de Adorno, Alfred Schmidt. Como falam a mesma língua, Erik mostra as patacoadas do alemão, mas é cego para as próprias. Feuerbach escreveu que “pensa-se diferente num castelo e numa choupana”. Marx formulou de outra maneira, mais precisa: nossa consciência é reflexo do mundo material. Não se trata, então, de pensar diferente num lugar e noutro, o que poderia levar a pensar numa determinação geográfica do pensamento.

                                         Erik Haagensen Gontijo

Toda a dissertação é um vocabulário exaltado de jovem hegeliano rebelde e sarcástico. Sua teoria é trocista (ou será trotsquista???) e seu “marxismo” não passa de uma província tumultuada do hegelianismo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fausto Arruda X PCB

 

Abro aqui um debate que julguei muito interessante. Concordo com Arruda em três pontos: 1) condição semi-feudal e semi-colonial do País. 2) O Brasil não é um país desenvolvido. 3) O trotsquismo realmente está bem presente no PCB, como por exemplo na figura de José Paulo Netto. Aliás, o marxismo universitário no Brasil  pode muito bem ser denominado de trotsquismo acadêmico e adjacências. O trotsquismo é uma teoria comprometida. É preciso encontrar outro lugar para fazer a reflexão, a academia melou.

Divirjo no seguinte ponto: o fato de tentar participar de eleições talvez não seja a chave de todas as nossas derrotas, mas com certeza não é o ponto onde os partidos e movimentos deveriam focar suas parcas forças. Creio que a esquerda socialista brasileira está numa confusão tal que é melhor ela se organizar em torno de jornais e revistas primeiramente, fazendo uma rede de solidariedade e discutindo teoria.

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ecletismo do PCB

Já a sigla PCB (Partido Comunista Brasileiro) ou o que restou do Partidão kruschovista/eurocomunista após a sua transformação em PPS e saída de trânsfugas para o malsinado PCdoB, se assemelha mesmo é a um rebocador de navios que gasta todo seu vapor no apito. Na melhor das hipóteses uma agremiação cripto-trotskista que predica um socialismo eclético e de pura retórica. Sua análise da história do movimento comunista internacional não é nada mais que o contrabando de toda propaganda anticomunista e antistalinista . Para esta agremiação não existiram os golpes revisionistas na URSS (1956) e na China (1976) senão que a correção de rumo desviado por extremistas esquerdistas; para quem a restauração capitalista na URSS só se deu em 1990 e a China continua socialista "ao seu modo". Ou seja, onde há revisionismo e oportunismo vêem socialismo , onde há revolução e ideologia proletária enxergam aventureirismo, esquerdismo e dogmatismo.
Sobre tal base, evidentemente, nada pode se esperar com respeito a todo significado da tenaz luta de que se ocupou toda sua vida o grande Lenin contra o oportunismo e o revisionismo, contra o bernsteinismo e o kautskismo, contra o bukarinismo e o trotskismo. E claro, coerentemente, não poderiam se dar conta do maior embate ideológico de todos os tempos que foi a confrontação do Partido Comunista da China sob chefatura de Mao Tsetung contra o revisionismo moderno de Kruschov, nos bastidores de 1956 a 1963 e neste ano desencadeada publicamente. Sobre a Grande Revolução Cultural Proletária então, maior movimento de massas revolucionário da história, em que centenas de milhões se mobilizaram em defesa do poder para o proletariado, não podiam mais que repetir o velho cacarejo da reação classificando-o de "auge do esquerdismo na China".
Mas vejamos um pouco mais, agora quanto a luta de classes em nosso país. Romper com o gerenciamento de Luiz Inácio e depois apoiá-lo no segundo turno da reeleição é colocado como um ato de coerência, assim como ajustar-se às novas regras eleitorais que não exigem o registro de todos os militantes no Cartório Eleitoral e, ainda, subsidiar o seu "projeto revolucionário " com as verbas do fundo partidário.
E o oportunismo não poderia ser menor ao analisar o que, com desfaçatez, considera o seu passado, ou seja, a história do Partido Comunista do Brasil fundado em 1922 até a Declaração de Março de 1958 (repetindo: período histórico em se lutou por assimilar o marxismo-leninismo, por uma linha revolucionária até acometer-se gravemente pelo reformismo e revisionismo consagrados pela Declaração de Março de 1958 e consolidado pelo V Congresso) e a partir do V Congresso (1960) (daí em diante sim, a verdadeira história da agremiação em questão, o Partidão), após o qual a agremiação que dele resultou integrou-se completamente ao velho Estado brasileiro, adotando a denominação de Partido Comunista Brasileiro, não constando de seus estatutos e programa qualquer menção aos fundamentos do marxismo como violência revolucionária e ditadura do proletariado.
De qualquer forma, sua abordagem sobre os primeiros 38 anos do Partido Comunista do Brasil, pretende escamotear os sérios desvios de direita, pinçando uma tímida crítica a um episódio de "ilusões eleitorais". De sua real história, ou seja, do Partidão (do V Congresso, de 1960 em diante) de trajetória reformista, direitista e revisionista , nada tem a dizer a não ser ressaltar que em 1992 ocorrera um racha em que se separaram dos " liquidacionistas ". Ora pois! Sobre a posição capitulacionista e covarde frente ao golpe militar-civil de 1964, nada a dizer; e sobre seu papel provocador em atacar os revolucionários que se levantaram em armas contra o fascismo acusando-os de agentes da CIA, também nada a registrar, claro.
Mais uma vez tergiversando sobre o passado como mera retórica a cata de incautos, diz defender todas as formas de luta e chega a citar o Levante Popular de 35 e a guerrilha de Trombas e Formoso, só para afirmar que em sua "revolução socialista" não existe uma forma de luta principal. É típico do oportunismo não deixar claro e patente suas formulações, mas ir, como bem disse Lenin de forma sinuosa e tortuosa. Durante os anos de 1980 e mesmo de 1990, anos marcados pela renegação no campo da esquerda, era muito comum os subterfúgios oportunistas de se afirmar que consistia num erro definir a forma de luta principal e de que sim, era necessário combinar todas as formas. Assim, já há décadas, afundaram-se no mais crasso oportunismo eleitoreiro, deixando quem acreditou no conto da combinação à espera das outras formas de luta que nunca vieram.
Mas como todo reformista que quer se fazer passar por revolucionário e para tal se utiliza do jogo de palavras para enganar incautos, nossos revisionistas crêem piamente que declarar-se socialista e definir como socialista a etapa atual da revolução brasileira lhes assegura o título de marxistas e revolucionários , enquanto se ensebam na prática mais oportunista com suas táticas reformistas.
Para não deixar de citar algo de sua lavra própria, tomemos de suas resoluções o que afirma o PCB: "Nossa primeira constatação é a de que o Brasil se tornou um país capitalista completo, ou seja, trata-se de uma formação social capitalista na qual predominam as relações assalariadas, a propriedade privada burguesa dos meios de produção, as formas de produção e acumulação ampliada de capitais que completaram seu caminho até a formação do monopólio, chegando a agir de maneira interligada e inseparável da forma imperialista que hoje determina as relações econômicas mundiais. Mais do que um ponto através do qual o imperialismo opera sua reprodução ampliada da acumulação capitalista, o Brasil desenvolveu um parque industrial monopolista, setores de infra-estrutura de mineração, energia, armazenagem, transporte, portos e aeroportos, malhas urbanas, um comércio nacional e internacional, capitalizou o campo, gerou o monopólio moderno da agricultura, um sistema financeiro moderno e interligado ao mercado financeiro mundial, estruturou uma malha logística de serviços e ações públicas necessárias à reprodução das relações burguesas de produção." Provavelmente e pelo visto numa segunda ou próxima constatação, esta seria a de que o Brasil tornou-se uma potência imperialista.
É mesmo de se perguntar: Como podemos ter uma sociedade burguesa completa sem que tenha acontecido uma revolução burguesa no país? A quem, efetivamente, serve todo este "desenvolvimento" capitalista e toda a sua infra-estrutura? Qual proveito se obteve deste desenvolvimento, e não vamos aqui nos referir às condições de vida das massas exploradas e oprimidas (o que deveria ser a primeira questão para quem diz ser representante do proletariado), mas em benefício de se completar a formação da nação brasileira e sua real independência? Basta que se compare com os países que realizaram uma revolução burguesa para se chegar à conclusão que este capitalismo no brasil, engendrado pelo imperialismo contando como parceiros a burguesia compradora e o latifúndio e usando o Estado como principal alavanca, constitui um complexo de contradições que vão além da contradição capital e trabalho centralmente existente onde a burguesia derrotou a nobreza, demoliu suas instituições, varreu seu Estado e estabeleceu sua república com revoluções violentas.
Todas estas formulações não se amparam no materialismo histórico e dialético, e sim em concepções mecanicistas e ecléticas. E não é uma particularidade do PCdoB e PCB, na verdade vem encomendado pela verborragia ultra-radical que o trotskismo e demais revisionistas cunharam sobre um suposto " etapismo ", sempre apresentado como a essência do "reformismo stalinista". Segundo tal concepção a revolução em etapas é reformismo (como uma revolução pode ser uma reforma?) e a dialética materialista, cujas leis regem todo movimento por etapas e saltos, foi assassinada.

O verdadeiro caminho da revolução brasileira

Diferentemente de tais proezas analíticas, as leis universais do materialismo histórico e dialético explicam que no processo de desenvolvimento de nossa formação econômico-social, desde que surgiram os elementos capitalistas não ocorreu nenhum salto qualitativo (senão que acumulação quantitativa de elementos de um capitalismo burocrático) ficando pendente e por concluir a revolução democrática, a qual na época do imperialismo só pode se realizar como revolução democrática de novo tipo, e por decorrência dirigida pelo proletariado em aliança com o campesinato . Como em todos os países atrasados, quando da passagem do capitalismo de sua etapa de livre concorrência à dos monopólios, aqui o imperialismo, através da exportação de capitais e da política colonial, se assentou sobre a semifeudalidade e estabeleceu uma condição semicolonial com a qual submeteu todas as classes impondo sua associação com a grande burguesia e o latifúndio, engendrando o capitalismo burocrático para a opressão nacional e superexploração das massas trabalhadoras.
Ao contrário da verborragia socialisteira, que quer fazer crer que a revolução socialista surgirá de todo esse monturo que constitui a prática do oportunismo eleitoreiro e seu bla-bla-blá sindicaleiro , a revolução socialista em nosso país, como a história comprova, terá que ser preparada no curso de sucessivas batalhas duras e sangrentas, único caminho possível para se coesionar e forjar a força social capaz de demolir todo o aparelho de Estado reacionário e edificar outro sobre suas cinzas. Terá que construir a hegemonia do proletariado para impor sua autoridade política e moral. Ou será que a aliança operário-camponesa surgirá espontaneamente, ou os camponeses se unirão com os operários por mera simpatia ou porque está escrito nos textos marxistas? Não, terá de ser construída de forma tal que o proletariado ganhe as massas camponesas para essa aliança, e isto não se obterá com promessas generosas e declarações de boas intenções. Terá de ser construída na luta decidida do partido comunista autêntico que se aliando aos camponeses pobres ajudando-os, organizando-os e dirigindo-os na luta pela terra, destruindo o latifúndio e por seus direitos, o que só será possível (uma vez mais, como comprovado pela história) através da guerra revolucionária, da revolução agrária.
Isolar as classes latifundiárias, a grande burguesia e o imperialismo é a chave para derrotar a contra-revolução parte por parte e fazer triunfar a revolução. Tal tarefa exige defender os interesses das demais classes exploradas, oprimidas e prejudicadas pela sua dominação e é isto que quer dizer construir a frente única revolucionária com base num programa que, obviamente não pode ser um programa socialista de imediato (e menos ainda arremedos de socialismo que prevêem a existência da propriedade privada de meios de produção como as da pequena e média burguesia como preconiza PCdoB e PCB entre outros ultra-socialistas eleitoreiros). Mas sim um programa democrático-revolucionário que ao lado de confiscar o latifúndio, a grande burguesia e o imperialismo e colocar todos esses recursos em benefício das massas populares e do progresso da nação, defenda e proteja a pequena e média burguesias. E nas condições de nosso país, confiscar o latifúndio, a grande burguesia e o imperialismo significa confiscar o grosso das terras e dos capitais (tarefas democráticas agrária e antiimperialista). No entanto, o pequeno e médio capitais deverão ser assegurados até que a revolução estabeleça seu novo poder em todo país para passar à luta pela supressão da propriedade privada, ou seja saltar à construção socialista.
Por isto mesmo, a revolução em nosso país só pode ser a revolução democrática de novo tipo ininterrupta ao socialismo. É revolução democrática, porém de novo tipo, porque tal revolução só pode ser realizada se dirigida de forma absoluta pelo proletariado revolucionário através de seu autêntico partido comunista, baseado na aliança operário-camponesa como núcleo de uma frente de classes revolucionárias. Frente única revolucionária e não frente popular eleitoreira com seu cacarejo de ocupação de "espaços democráticos " no Estado reacionário e de "acumulação fria". Frente, não para concorrer aos cargos de gerenciamento do velho Estado burguês-latifundiário e pedir votos na corrida corrupta, demagógica e populista pelos " lugarzinhos rendosos", como diria o velho Lenin, no putrefato parlamento burguês. Mas para apoiar a revolução e sustentar a guerra revolucionária. Frente, não para administrar o velho Estado e perpetuar suas podres instituições e as ilusões constitucionais sobre as massas, mas para cercar os inimigos do povo, isolá-los e esmagá-los. Frente para destruir o velho Estado genocida e edificar um novo Poder e um novo Estado, uma nova economia, uma nova democracia e a construção da sociedade socialista. E é por etapa mesmo, cavalheiros!
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1. Declaração de Março de 1958 — Documento político lançado nessa data pelo grupo de Prestes aprofundando a orientação reformista do PCB e estabelecendo o revisionismo moderno de Kruschov como sua base ideológica, posições que se consolidariam com o V Congresso de 1960. 




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 Resposta do PCB Guarulhos:
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 O jornal A Nova democracia, com o artigo de Fausto Arruda (A partir de agora, tratado como FA)"PCdoB e PCB, variantes eleitoreiras do mesmo revisionismo", critica os programas dos dois partidos, que realizaram seus congressos em 2009.
Num primeiro momento, o artigo concentra sua crítica no PCdoB, explicitando fatos e problemas que já conhecemos, acerca da sua subordinação ao governo, o que caracteriza um tremendo erro teórico, ou uma demonstração clara de oportunismo político.
Em seguida, há uma análise conjuntural de situações históricas, trazendo-as à síntese que é o atual PCdoB, remetendo-o ao revisionismo;à teologia da libertação, ao reformismo democrático-popular, hoje já um social-liberalismo sem perspectiva estratégica socialista.


Consideramos, ao analisar o documento escrito pelo camaradas Igor Grabois e Edmilson Costa, a saber, "as diferenças entre PCdoB e PCB", que o grande problema do PCdoB não foi a mudança de linha política, que é comum se se analisar dialeticamente a realidade, mas a ausência de auto-crítica ao realizar essas mudanças, um grande erro na conduta revolucionária leninista. Por exemplo, "mais de 10 anos depois da linha traçada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), no VI Congresso, de 1967, o PC do B conseguiu chegar a conclusões semelhantes. Mas, para se manter fiel às suas oscilações políticas, a partir de 1978 o PC do B começou o rompimento com o Partido Comunista Chinês, sem sequer uma linha de autocrítica. Como é de costume, os companheiros procuraram rapidamente apagar da memória os tempos em que considerava o PC Chinês a vanguarda do proletariado mundial. Rapidamente, o PC do B se alinhou ao Partido do Trabalho da Albânia, do líder Enver Hoxha, e passou considerar a Albânia o 'farol do socialismo' da mesma forma que considerava anteriormente Mao Tse Tung o maior marxista da humanidade."
Isto é, a falta de auto-crítica , que marcou a transição posterior, à estratégia democrático-popular, ficou marcada na história dessa organização.

Em seguida, FA irá centrar-se no PCB. É importante notar uma espécie de desconhecimento acerca das resoluções do último congresso do partidão, acerca de suas deliberações estratégico táticas e analítico-conjunturais, tampouco sobre o caráter e o objetivo desse congresso. Por conseguinte, tece comentários, ou infundados, ou provocadores, afinal, não constituem verdade factual, aliás, parecem, por vezes, provocações manipuladas e direitosas.
Logo na abertura de seu artigo, o autor faz uma retomada da fase histórica do PCB Kruschevista e do PCB Euro-comunista dos anos 80, além de criticar o seu alinhamento com a URSS. Ora, não temos vergonha de nosso passado. Sim, alinhamo-nos durante toda a vida política da União soviética, a ela, não nos arrependemos, afinal, a URSS, mesmo cometendo erros, como a linha do XX congresso do PCUS, que são apontados em nossas resoluções, tem de ser considerada no campo do concreto, no campo material, numa perspectiva dialética, numa conjuntura internacional, que era favorável ao movimento comunista internacional, principalmente após a fase de dogmatismo estratégico-tático dos tempos da terceira internacional. Além disso, na conjuntura da ditadura militar no Brasil "o PCB construía uma outra linha política no seu VI Congresso, realizado em 1967. Nessas resoluções o PCB ( aplicando a linha do XX congresso do PCUS) identificou a ditadura como um governo de longa duração e propôs a formação estratégica de uma ampla Frente Democrática, com o objetivo de reunir todas as forças sociais e políticas que estivessem dispostas a organizar um amplo movimento nacional, para acumular forças até a derrota da ditadura. O PCB preconizava a entrada de todos aqueles que estivessem contra a ditadura no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ao mesmo tempo em que buscava acumular força nos movimentos operário e juvenil." "A vida demonstrou que a linha política desenvolvida pelo PCB no Congresso de 1967 fora vitoriosa, uma vez que foi exatamente o movimento democrático amplo que pôs fim aos 21 anos de ditadura militar no País". Diferentemente das guerrilhas maoístas, heroicos lutadores populares, mas leitores mecânicos da conjuntura da época.

É verdade que o partido teve grande influência direitosa nos anos 80, no entanto é importante lembrar da crise do movimento comunista internacional - que trouxe à tona o fenômeno político do liquidacionismo, como aconteceu na Europa Ocidental, em que os PCs se dissolviam ou se transformavam em partidos reformistas e liberais - que derrocaria na queda da experiência de construção do socialismo no Leste Europeu. Além disso, a emergência do fim da ditadura - que já havia matado boa parte da militância e do comitê central - trazia uma conjuntura e uma correlação de forças críticas ao Partidão.
No entanto, apesar de o PCB estar cumprindo, na época, papel de conciliador de classe, os verdadeiros revolucionários do Partido sempre estavam resistindo na luta interna no Partidão, embora quase sempre em minoria. Como exemplo, em seu 8º congresso, que defendia a estabilidade política , o governo Sarney e a democracia burguesa em ascensão - como detalhes das resoluções - os comunistas "conquistaram", numa batalha interna, críticas à lei de segurança nacional e do apoio do presidente Sarney ao bloco fisiológico chamado de centrão. O PCB visava retomar sua influência e a vitalidade dos movimentos sociais e sindical, embora tenha cometido o erro de não tenha apoiar a fundação da CUT , em seu início.

Quando FA diz que o Partido é eclético e retórico, entendo que esteja dizendo que negamos princípios - nas resoluções do XIV Congresso - básicos do socialismo, como a revolução, a luta de classes, ou a mudança histórica e revolucionária dos modos de produção.
Sim, seria verdade, se estivéssemos em 1991-1992, quando da crise de cisão do PCB, no entanto, o partido permaneceu existindo, ou seja, influenciando na luta de classes, está do lado do proletariado, e não tem nada a ver com o PPS, hoje aliado da direita fascista do PSDB-DEMO.

Ao chegar ao seu XIII congresso, em 2005, o PCB rompe com a estratégia democrático-popular, que já havia convertido-se em social-liberalismo, expresso no governo Lula, rompe também com a CUT, pois esta central sindical já cumpriu seu papel no movimento sindical, e é hoje um instrumento de conciliação de classe.
Também, como fruto de uma científica análise político-econômica de nosso país, rompemos com qualquer ilusão etapista, identificando o processo revolucionário brasileiro como socialista.

Após os grandes avanços do XIII congresso, ao chegar ao XIV em 2009, o PCB aprofunda sua leitura do Capitalismo Brasileiro como completo, isto é, maduro para o socialismo.
Rompemos com a superestrutura da UNE, subordinada ao governo, logo, do Capital, mas não paralelizamos burocraticamente o Movimento Estudantil, como fizeram alguns setores ao criar uma nova entidade. Propomos a reconstrução do ME na base.

Assim, demonstrando a incoerência de FA, que nos classifica no campo eleitoreiro, defendemos uma frente anticapitalista e antiimperialista, que não se confunda com uma coligação eleitoral, e que aglutine as lutas do proletariado, construindo efetivamente a hegemonia proletária e socialista, concretizando , de baixo para cima, o Bloco Revolucionário do Proletariado, construtor prático do poder popular.

É importante ressaltar as declarações de rompimento com as políticas eleitoreiras do PSOL, o que inviabilizou a frente de esquerda, que é só uma coligação eleitoral. O PCB, ao contrário do que afirma o autor, não pretende financiar a revolução com fundo eleitoral, isso seria ridículo. o PCB não tem, e nem busca ter, grande influência na institucionalidade burguesa, além de ser um partido mantido materialmente pelos próprios militantes, o que demonstra a provocação cotrarrevolucionária do autor.

Além disso, a não dissolução da INTERSINDICAL - instrumento de luta e organização da classe trabalhadora , na CONLUTAS, o que seria uma subordinação do movimento operário à institucionalidade burguesa - o que não inviabiliza a unidade de ação com tais setores, que querem construir, mesmo que apressados, um movimento sindical classista - demonstra nossa coerência.


O PCB, em suas teses, ao contrário do que diz o artigo, no que tange ao movimento comunista internacional, relaciona a propaganda antistalinista com a propaganda anti-urss, que , segundo as resoluções, são tidas como contrarrevolucionárias, ou incoerentes ideologicamente. Assim, defendemos criticamente, naquela conjuntura específica, pois somos materialistas histórico-dialéticos, a aplicação do modelo defendido por Stalin. Por entendermos que a concepção trotskista poderia acelerar o processo de Guerra mundial, encurtando a vida da URSS. É importante lembrar que não desmerecemos nenhum teórico marxista revolucionário, até mesmo discutimos certos conceitos de Trotsky, como o desenvolvimento desigual e combinado. No entanto, também apresentamos como acrítica, a visão ortodoxa, manualística , fundamentalista e dogmática do marxismo, algo presente no péssimo artigo de FA, nas antigas teses do PCB. Essa concepção ortodoxa do marxismo foi política institucional da URSS  e da Comintern durante décadas, o que foi um grande desserviço à cientificidade do materialismo dialético e histórico, como método de investigação da conjuntura material e cultural de uma sociedade. FA nega, omitindo nosso texto de maneira oportunista, nossa crítica ao revisionismo de Deng Xiao Ping e a nossa atribuição de diversos problemas chineses à abertura econômica capitalista.

O autor também considera nosso apoio crítico de 2006 à candidatura do PT como eleitoreiro, é importante lembrar que não participamos da chapa do PT em 2006 e não fomos "recompensados" por tal atitude, pois estávamos na frente de esquerda. Agimos assim, devido à nossa leitura conjuntural, muito bem expressa por ivan Pinehro em entrevista ao Pravda:"podemos dividir a América Latina em três grupos: um primeiro grupo é mais à esquerda, mais representativo dessas mudanças sociais, como é o caso de Cuba, que inspirou e possibilitou outros processos revolucionários.Temos aí também neste grupo os casos da Venezuela, Bolívia e, em menor medida, do Equador. Por outro lado, tem um grupo de países que nós chamamos de governos sociais liberais, especialmente no cone-sul do Brasil, e ai nós estamos falando de Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina. São experiências reformistas, mas dentro da lógica do capital. Esses governos não têm nenhum interesse em participar de uma articulação continental antiimperialista, como é o caso da ALBA. E, finalmente, na América Latina tem três países cujos governos são alinhados ao imperialismo americano: México, Peru e Colômbia."

O que é considerado coerente, não é o apoio a X ou Y, mas a independência política do partido, que nos permite realizar a leitura concreta da realidade concreta.



O Dogmatismo Anacrônico de Fausto Arruda

Após realizar as críticas, o autor pretende definir o verdadeiro caminho para a revolução.
Ora, se há um caminho verdadeiro, esse é o da construção dialética da luta e do movimento dos contrários, numa atividade de pôr-se-a-si-mesmo. Isto é, afirmar o caminho, que é a atividade que uma classe irá realizar em uma conjuntura objetiva, que, como diz Marx, é a síntese de muitas determinações, é fazer uma afirmação metafísica, dogmática e idealista.

Além do subtítulo dogmático, há uma tentativa fanática de introduzir a conjuntura chinesa à brasileira, substituindo nossa verdadeira estrutura de classes e superestrutura política.Ora, FA, Marx já nos disse: “os homens fazem sua história, mas não como querem e sim sob determinadas circunstâncias herdadas e transmitidas pelo passado”.  
E não passará de especulação metafísica essa sua avaliação ,em que são encontradas, como determinantes no modo de produção, características semifeudais na estrutura brasileira, erro que o PCB cometeu no passado, antes da ditadura civil-empresarial-militar.
Sim, pode ser que algumas relações sociais de produção no campo tenham características que remetam a algo parecido com o feudalismo, às vezes até escravistas, assim como uma relação social de produção fabril é despótica. No entanto, isso não caracteriza o modo de produção, que é essencialmente burguês, voltado para o lucro. Forma de produção não é o modo de produção.
Por isso, ao contrário do que o autor afirma, a burguesia nacional, que não se distingue mais da internacional, em parceria com o latifúndio, realiza um monopólio capitalista da terra, expresso no agronegócio. Isso prova que a reforma agrária, conceitualmente, já foi feita, mas nos moldes burgueses, isto é, não é mais uma tarefa democrática em atraso, mas uma luta que se choca diretamente com o Capital.

No entanto, afirmar que a burguesia nacional não se distingue da internacional não significa afirmar que o Brasil é imperiaista, mas um sócio-menor do imperialismo. Ao contrário do que o autor acusa o PCB de afirmar.

O dogmatismo metafísico e anacrônico de FA confunde conjunturas com leis universais, tenta, inclusive, defender o etapismo no Brasil. Pensando estar na China, em 1949, o autor defende a manutenção dos capitais nacionais, defendendo a união com a burguesia progressista nacional e fases democráticas a serem alcançadas.

FA comete erros teóricos que empobrecem sua análise e , lembrando-nos dos jovens hegelianos, tece uma crítica crítica, isto é, uma crítica pela crítica. Fanática, dogmática, religiosa, metafísica, idealista, sem ligação com a matéria. Binária, isto é, não dialética, inconsistente , típica de seitas sem ligação prático-material com a classe, o que o tira do campo da revolução e insere no campo do teoricismo ortodoxo.



sábado, 29 de setembro de 2012

Entrevista com Adamir Gerson (Lúcio --III)

Lúcio - III


Lúcio Junior Espírito Santo. Tenho feito uma análise entre essa questão da volta da Teologia ao fundamento, da sua volta a Cristo, e tenho visto que ela se acha em conflito com o seu trabalho profético e missionário. Quer dizer, até onde pude entender essa volta ao fundamento é literalmente apartar, afastar a Teologia do Marxismo. É os cristãos criarem um caminho próprio completamente desligado do Marxismo deixando-o se debatendo sozinho sobre seu futuro. Ou, numa hipótese otimista, se for permitido que a Teologia prossiga com seus laços com o Marxismo já será numa visão bem diferente, em que a Teologia é a essência e o Marxismo, acidente. O Marxismo passaria a ser cauda e perderia a condição de cabeça. E, todavia, naquilo que pude ler dos seus escritos, tenho observado que você trabalha numa direção completamente oposta, ligar o Marxismo à Teologia numa forma ainda mais radicalizada do que feito pela Teologia da Libertação.

Adamir Gerson. Certamente e devo dizer que estou fazendo este trabalho já como sendo fiel à Palavra de Deus. Veja bem, encontramos no livro do profeta Isaías, capítulo 65, o vaticinio sobre o aparecimento futuro na cena da história de uma nação completamente paradoxal: esta nação não iria invocar o nome de Deus, não iria dobrar seu joelho diante de Deus, todavia seria esta nação quem faria a vontade de Deus. Não é nação de Israel com seus reis e com seus sacerdotes, mas seria uma nação estranha que por razões desconhecidas não teria ao menos formalmente ligação com a Palavra de Deus. Mais tarde encontramos agora Jesus repetindo o mesmo juízo e vaticínio de Isaías sobre esta nação paradoxal. Ele dirige-se aos sacerdotes dos seus dias e lhes diz que o reino de Deus lhes será tirado e dado a uma nação que produza os seus frutos – ver Mateus 21.43.
Quem é esta nação que aparece nos escritos proféticos de Isaías e de Jesus? Com toda a certeza trata-se da nação socialista. Lançando mão do silogismo de Aristóteles o resultado só pode ser a nação socialista.
Acontece, porém, que Isaías, depois de vaticinar o aparecimento futuro desta nação, trará um segundo momento agora apresentando Deus tirando o véu que o separa desta nação e se dando a conhecer a ela. Vejamos: E certamente vereis, e vosso coração forçosamente exultará, e os vossos próprios ossos florescerão como a tenra relva. E a mão de Javé há de ser dada a conhecer aos seus servos, mas ele verberará realmente os seus inimigos, Isaías 66.14.
Não só Isaías, mas também Jesus. Depois de no verso 43 do capítulo 21, livro de Mateus, encontrar-se Jesus se dirigindo aos sacerdotes dos seus dias e lhes dizendo que o reino de Deus lhes seria tirado e dado a uma não que produziria seus frutos, no capítulo 25 verso 40 deste mesmo livro de Mateus encontramos Jesus dialogando com este povo e procurando esclarecê-los sobre a sua natureza e missão divinos.

Lúcio Junior Espírito Santo. O que tenho, então, deduzido é que enquanto muitos sacerdotes estão trabalhando para afastar da Teologia o Marxismo, talvez com a pretensão de dizer, em nome de Cristo: Afastai-vos de mim, vós os que tendes sido amaldiçoados, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos, o vosso trabalho reserva um futuro diferente para os marxistas.

Adamir Gerson. Perfeitamente. Apesar de que muitos estão com a certeza que vão se dirigir aos marxistas para pronunciar sobre eles esta maldição constante no texto de Mateus, na verdade eles vão, por aquele que tem o direito legal, ouvir coisa diferente. Ou seja: vinde, vós os que tendes sido abençoados por meu Pai, herdai o reino preparado por vós desde a fundação do mundo. Pois fiquei com fome e vós me deste algo para comer; fiquei com sede, e vós me deste algo para beber. Eu era estranho, e vós me recebestes hospitaleiramente; estava nu, e vós me vestistes. Fiquei doente, e vós cuidastes de mim. Eu estava na prisão, e vós me visitastes

Lúcio Junior Espírito Santo. Alguém já disse com muita razão que se espantava de que os acontecimentos narrados na Bíblia são uma recorrência ao longo de toda a História. Estão sempre se repetindo, e às vezes em situações completamente diferentes. No caso que estamos tratando, esse futuro que aguarda o povo marxista, não se está diante de uma situação idêntica àquela vivida pelo judeu Mordecai? Afinal o príncipe Hamã, com trânsito ao rei, tramou a morte do judeu Mordecai unicamente por maldade porque Mordecai não se curvou diante dele. Mas Mordecai não estava sozinho. Na corte do rei Assuero ali tinha alguém especial com ligação umbilical a Mordecai, a rainha Ester. Resumindo, a história deu uma reviravolta e o madeiro que o príncipe Hamã erigiu para enforcar o judeu Mordecai o rei ordenou que Hamã fosse enforcado nele. Estes homens que estão se reunindo e produzindo documentos com a clara intenção de afastar a Teologia de qualquer contato com o Marxismo não podem estar possuído pelo espírito do príncipe Hamã?

Adamir Gerson. Realmente a história envolvendo Mordecai, a rainha Ester e o malfadado príncipe Hamã é uma história interessante e bonita. E mais ainda porque sabemos que foi um fato real. Certamente que estamos diante de uma história muito bonita, recompensadora e, mais do que isto, que trás reflexão para nossos dias. As reviravoltas que o caso foi tendo, com Hamã então vestindo Mordecai das vestes reais, colocando-o no cavalo do rei e andando com ele pela praça pública clamando diante dele: assim se faz ao homem em cuja honra o rei se agradou, deve mesmo servir de reflexão para todos nós. Os marxistas podem até ser este Mordecai do livro de Ester, contudo não cabe nenhuma dedução de que estes sacerdotes envolvidos com o caso de frei Clodovis Boff e empolgados com a sua coragem e mea-culpa sejam o Hamã da história. Estão reunidos e até decidindo pela expulsão do Marxismo do universo teológico, mas embasados em algum fato concreto. De que é indevida a ligação da Teologia com o Marxismo. Certamente que não há consenso entre eles sobre uma decisão final. Muitos estão reconhecendo que realmente há incompatibilidade de muitos aspectos do Marxismo com a Teologia e com o cristianismo. E estes, no entanto, estão dizendo que é preciso olhar os grãos. O que significa dizer que eles reconhecem no Marxismo algo de fundamental com pertença à Teologia e que estes grãos não podem simplesmente ser descartados, mas recolhidos ao celeiro da construção do Reino. São tijolos que ajudarão na construção do seu edifício. Como são homens que se reúnem iluminados pela luz do Espírito Santo, certamente que chegarão a um consenso que o Marxismo devidamente filtrado pode sim atuar numa frente com os cristãos para a construção de um mundo melhor e mais feliz. Mesmo porque nem mesmo entre os marxistas os seus pressupostos fundantes seja consenso. Isto é, quando olhado em totalidade.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ENTREVISTA COM ADAMIR GERSON, O SUPER-HOMEM DE NIETZSCHE

Lúcio Junior Espírito Santo. Um dos erros da Teologia da Libertação apontado por frei Clodovis Boff foi que ela, ao ter colocado o pobre no lugar de Deus como fundamento teológico, por deriva acabou cometendo um erro capital qual seja de ter instrumentalizado a fé para fins políticos de libertação. Estou abordando esta questão porque no meu entendimento, primeiro, não há fé que seja vazia de uma política, segundo, o passado histórico e quiçá presente mostrou todas as teologias explícito ou implícito engajadas politicamente, e terceiro, no meu entendimento nisto está uma dose de hipocrisia muito grande, pois o que há de fato é que querem tirar a Teologia de estar a serviço da causa libertadora para estar a serviço da causa não libertadora.

Adamir Gerson. Concordo plenamente com o seu juízo. Como não existe teologia neutra, esvaziada de uma ação política, ao impedir a Teologia de ser braço religioso do Marxismo certamente que a irão colocar como braço religioso do anticomunismo. Ela deixará de estar a serviço da causa socialista para estar a serviço da causa não socialista. Pouco importa se é a serviço da causa não socialista exacerbada, capitalismo selvagem, como eles chamam, ou, entre aspas, democrática.

Lúcio Junior Espírito Santo. Porque você aspou a palavra democracia?

Adamir Gerson. Porque estes mesmos que querem tirar a Teologia de ser braço religioso da libertação colocam a democracia como contraponto aos dois extremos, o socialismo e o capitalismo. Se como Deus não estivesse em nenhum destes extremos, mas na democracia. Ou, então, se como Deus não aprovasse estar nos dois extremos, mas aprovaria sim estar na democracia. Ora, a democracia não representa em hipótese alguma uma terceira via, um meio termo, que garante o social do socialismo e as liberdades individuais do capitalismo. Na democracia as cartas já estão marcadas aprioristicamente, quem irá vencer e quem irá perder, porque tudo está exposto e é decidido pelo mesmo vício.

Lúcio Junior Espírito Santo. Assisti na TV Cultura uma missa celebrada em Aparecida na qual o Bispo celebrante teceu críticas tanto ao comunismo como ao capitalismo; dizendo ele que era preciso se encontrar uma terceira via que conciliasse a liberdade do capitalismo com o social do socialismo. Ele foi claro de que a razão da queda do comunismo foi que nele não havia liberdade para o indivíduo; que tudo era decidido pelo Estado. Daí ele propugnar por uma terceira via que conciliasse as liberdades individuas com justiça social.

Adamir Gerson. O que é liberdade individual? O que é liberdade condicionada pelo Estado? Os indivíduos no socialismo não tinham liberdade, mas agiam em função das necessidades do Estado? Ora, liberdade é algo puramente pessoal. Mesmo que no meio condicionante, a liberdade é algo pessoal. O pesquisador age pelos seus próprios impulsos. O compositor e o criador de artes agem pelos seus próprios impulsos. O contador de piada age pelos seus próprios impulsos. A criação emana da subjetividade. Mas irão dizer: agem pelos seus próprios impulsos, mas condicionados pela ideologia do Estado e pelas suas necessidades. Mas isto acontece em todos os sistemas seja ele qual for. A criatividade é teleguiada em todos os sistemas. Um indivíduo que monta um comércio ele está condicionado pela necessidade dos consumidores. Então basicamente é que a liberdade no socialismo está condicionada pela necessidade coletiva, ao passo que no capitalismo pelo dinheiro. E como as necessidades coletivas são infinitas, o Estado não as prescreve, mas atende as suas demandas, logo a liberdade individual no socialismo é um fato concreto. Não há nada que impeça a liberdade individual, do indivíduo extravasar os seus dons e sentimentos. O que acontece de fato é que no socialismo a liberdade foi expurgada do pecado original e se tornou cristã de fato, para o próximo, para ajudar o próximo. A sua satisfação e recompensa está em ver o próximo feliz, ao passo que no capitalismo a sua satisfação e recompensa está no acumulo do capital com o qual poderá usufruir de tudo que a mão alcança.

Lúcio Junior Espírito Santo. É importante salientar que no socialismo a liberdade é para todos, todos são chamados e tem a oportunidade de manifestar os seus dons e os seus sentimentos e os colocar para usufruto de todos. Mas, no capitalismo nem todos tem estas possibilidades. Aqueles que têm o poder econômico são livres para manifestar os seus dons e os seus sentimentos, mas quem não tem poder econômico acabam tendo os seus dons e os seus sentimentos sufocados e impedidos de se manifestarem.

Adamir Gerson. O que havia dito, o que difere a liberdade no socialismo e no capitalismo é que no socialismo a liberdade foi liberta do pecado original, ao passo que no capitalismo ela se acha presa a ele e na sua dependência. Então este Bispo celebrante da missa precisa rever seus conceitos e modos de juízo porque em última instância, fornecendo a ele um juízo justo, para ele liberdade é consubstancial à propriedade. Ao ter. Ao possuir. Porque se cria uma terceira via e para esta se leva a estrutura econômica do socialismo automaticamente se leva também a sua estrutura espiritual. A estrutura econômica do socialismo não permite espaço para a liberdade conforme está no capitalismo. E como a estrutura econômica do socialismo é inseparável da sua forma de liberdade, uma terceira via que não tenha a liberdade que se acha no socialismo, mas tenha a liberdade que se acha no capitalismo, logo esta terceira via também não tem a estrutura econômica do socialismo. Logo esta terceira via é literalmente o capitalismo. Nesta terceira via não há nada ligado ao socialismo.

Lúcio Junior Espírito Santo. Então você estaria afirmando peremptoriamente que não existe espaço no mundo da política e da economia para uma terceira via que concilie socialismo e capitalismo? Mas, pessoas que propugnam por uma conciliação entre os dois sistemas dão como exemplo prático de sua exeqüibilidade os regimes nórdicos. Eles seriam exemplo de como é bem sucedido uma experiência assim, entre os dois sistemas antagônicos.

Adamir Gerson. Inegavelmente nos países nórdicos se conseguiu aquilo que é tido bem próximo de uma terceira via. O bem estar social destes países corresponde ao bem estar social que há no socialismo. O capitalismo nestes países age em função deste bem estar social. Mas isto não significa terceira via. O sistema econômico é capitalista e não socialista. Bem pagas, somado como o auxílio social do Estado, todavia estas massas estão numa relação em que vendem a sua força de trabalho. Sentem que indivíduos externos a si estão se locupletando na sua força de trabalho. E isto reduz a sua dignidade humana. As tornam cidadãos de segunda classe.

Lúcio Junior Espírito Santo. Então você estaria afirmando ser impossível uma terceira via que concilie capitalismo e socialismo. Definitivamente ou é o sistema socialista ou é o sistema capitalista?

Adamir Gerson. Não nego que possa haver uma terceira via. Mas entre socialismo e cristianismo. Uma terceira via assim não subtrai a liberdade que há no socialismo, e não subtrai o desejo de ser para o próximo dos cristãos. Uma terceira via assim tem o poder de sepultar definitivamente o capitalismo e dar a vitória definitiva ao socialismo, porque agora ela produz uma soma, entre os condicionamentos de um Estado socialista e os condicionamentos da fé cristã. Completamente despotencializados do pecado original, toda a sua tendência é para o bem, para servir.

domingo, 16 de setembro de 2012

Lúcio Junior Espírito Santo entrevista Adamir Gerson


Quem sou eu? Sou Lúcio Junior Espírito Santo, formado em filosofia pela UFMG e atualmente leciono esta disciplina na cidade de Bom Despacho, Minas. Atualmente sou simpatizante do PCB e sempre me causou interesse a Teologia da Libertação. Tendo tido acesso ao Blog A Nova Teologia da Libertação e observado que as postagens nele, não obstante manter certa relação com a Teologia da Liberação, no que diz respeito ao Marxismo, todavia o mesmo tem me surpreendido por trazer aspectos impossíveis de serem encontrados em qualquer teólogo da Libertação, ora, por isso me senti compelido a tomar a iniciativa de me dirigir ao proprietário do Blog para que ele explicasse com mais detalhes o que é essa Nova Teologia da Libertação e o que a difere da tradicional, que ganhou fôlego a partir do Concílio Vaticano II. O meu objetivo, claro, é compartilhar com membros do PCB e de outras correntes de esquerda o conteúdo desta resposta, pois, até aqui, naquilo que pude ler e analisar, esta Nova Teologia da Libertação alarga ainda mais os caminhos pelos quais cristãos e marxistas podem se unir e trabalhar conjuntamente para a criação de uma nova sociedade. Mais do que isto que a emancipação da sociedade só pode vir na razão direta desta união. Abaixo segue as perguntas que formulei a Adamir Gerson, proprietário do Blog, e as respostas que o mesmo deu.

Lúcio Junior Espírito Santo. Adamir Gerson, eu gostaria que você me explicasse qual a diferença que há entre esta Nova Teologia da Libertação e a atual Teologia da Libertação.

Adamir Gerson. Para uma compreensão do que seja esta Nova Teologia da Libertação, ou simplesmente Teologia do Reino, são muitos os caminhos de sua explicação e compreensão. Acredito que o começo se faz necessário reportarmos ao teólogo Clodovis Boff de 2007, com as suas críticas contundentes à Teologia da Libertação, com as réplicas e a sua tréplica. Numa análise crítica e imparcial do embate que o teólogo e frei Clodovis Boff travou nos anos de 2007 e 2008 certamente que irá aflorando o que é esta Nova Teologia da Libertação.

Lúcio Junior Espírito Santo. Você está se referindo ao artigo que ele publicou neste ano na REB – Revista Eclesiástica Brasileira, com o título “Teologia da Libertação e volta ao fundamento”, no qual ele apontou desvios fundamentais na Teologia da Libertação e pretendeu retomá-la ao projeto originário onde, na sua visão, ela teria se afastado.

Adamir Gerson. Certamente. As críticas de frei Clodovis Boff à Teologia da Libertação foram feitas em vários níveis. Como era de se esperar surgiram réplicas – Luiz Carlos Susin, Érico Hammes, Leonardo Boff, Sandro Magister – e chama à atenção que as réplicas, não obstante a sua lógica esclarecedora, não sensibilizaram frei Clodovis Boff que na tréplica repetiu tudo que havia dito, e agora de forma ainda mais radical, pois então já se entendia como alguém já fora da Teologia da Libertação e que não havia mais necessidade de economizar palavras.

Lúcio Junior Espírito Santo. O que você quis dizer com lógica esclarecedora por parte destes teólogos que responderam a Clodovis Boff?

Adamir Gerson. Uma das críticas que frei Clodovis Boff endereçou à Teologia da Libertação, e que as réplicas tomaram como principal questionamento, embora tenham havidos outros questionamentos também de suma importância, foi que a Teologia da Libertação tinha colocado o pobre no lugar de Deus como fundamento da Teologia. Deus teria sido relegado a um segundo plano. No entanto a resposta que estes teólogos deram a frei Clodovis Boff foi satisfatória. Argumentaram de que não existe uma teologia pura, neutra, mas que toda teologia chega ao publico mediada. E é um fato. Toda teologia sofre a mediação do sujeito que a faz, a mediação do tempo cultural e histórico, e da temática que suscita. É impossível uma teologia tratar de Deus tal como ele é. E nisto é uma verdade o Isaías de 4.1. De modo que cabe à crítica isto sim descobrir qual o grau de aproximação que uma teologia tem com a Palavra de Deus. E a Teologia da Libertação ter colocado o pobre como fundamento teológico, o lugar onde se encontra Deus, com certeza ela se insere no rol das teologias que mais se aproximaram de Deus.  Afinal vaticinou Isaías que Deus reside no alto e no lugar santo, mas também com o quebrantado e o humilde no espírito, para reavivar o espírito dos humildes e para reavivar o coração dos que estão sendo esmigalhados (Isaías 57.15). Deus é encontrado nos pobres sim, e quando um crente e um não crente extravasam de gozo ao ver o pobre saltitando de felicidade, correndo de um canto a outro sem as algemas, este gozo é literalmente a presença de Deus. É Deus gozando porque libertou, e é Deus gozando porque foi libertado.

Lúcio Junior Espírito Santo. Se as respostas que os teólogos citados deram a frei Clodovis Boff foram esclarecedoras, porque na tréplica ele continuou insistindo nas mesmas críticas, reforçando a sua argumentação por novamente dizer e realçar que a Teologia da Libertação abandonou o fundamento e que é preciso retornar a ele? Clodovis Boff que teve participação decisiva na construção do fundamento que gerou a Teologia da Libertação teria, então, se revelado um teólogo infantil, como se deduz nas réplicas?

Adamir Gerson. A Palavra de Deus prima pelo mistério e ela está sempre envolta em mistérios. Em mistérios ela é concebida e em mistérios ela chega a nós. Não é a toa que as ferramentas da hermenêutica e da exegese estão na posse de todos os crentes.  Quando o assunto é a Palavra de Deus a comunidade dos crentes já sabe estar diante de um mistério. E é preciso descobrir porque um teólogo do quilate de frei Clodovis Boff tenha num repente extravasado infantilidade. De modo que é mais crível crer que ele esteja em mistério e esconda-se em mistério. Há nele um mistério que quer se revelar. E que mistério seria este que tanto insiste que a Teologia da Libertação se afastou do fundamento e é preciso retornar a ele? Que a Teologia da Libertação não é Jesus, mas Moisés; não está alicerçada na cruz, mas no êxodo. E como há um desnível entre o nome invocado de Jesus e a sua prática real, o repente que teve frei Clodovis Boff naquele ano de 2007 só pode ser entendido como anúncio da Divindade à Teologia da Libertação que tem chegado para ela novo tempo. Tempo novo que é realmente tempo de Jesus.

Lúcio Junior Espírito Santo. Uma vez que você acabou de dizer que a Teologia da Libertação está em Moisés e não em Jesus, então frei Clodovis Boff foi verdadeiro quando disse que a Teologia da Libertação tinha se afastado do fundamento e que é preciso voltar a ele? Porque para toda teologia o fundamento dela é Deus, e para os cristãos em particular, Jesus?

Adamir Gerson. Temos de ler nas entrelinhas o que foi que quis dizer com afastamento do fundamento. A questão posta do pobre não pode ter sido. Não houve afastamento nenhum. Se esta teologia que colocou o pobre como fundamento foi afastamento o que teria sido a teologia que ganhou corpo a partir do século IV e que colocou reis e príncipes na missão da construção do Reino, trabalhando conjuntamente com eles? Então descobrimos nas entrelinhas que a Revelação chegou a ele de que a Teologia da Libertação iria mudar de lugar e entendeu tal como a Teologia da Libertação estando fora de lugar entregou a revelação deste fato real segundo o seu entendimento. E como o mistério é de Deus e não do homem, cabe a nós, e já não mais a frei Clodovis Boff que entregou o recado e já não há mais mister dele, dar as razões reais daquilo que frei Clodovis Boff entendeu como afastamento do fundamento teológico.  E começamos dizendo que o fato da Teologia da Libertação estar em Moisés e não em Jesus, estar fundada no exemplo do êxodo e não no exemplo da cruz, isto de modo algum foi afastamento do fundamento. Jamais foi estar fora do fundamento. Pelo contrário, ela nasceu e esteve no fundamento.  Porque o fundamento tem duplo alicerce, a lei e a graça. Alicerces não parados no tempo e no espaço, mas alicerces que se movimentam dialeticamente de forma progressiva. Em uma palavra, o alicerce nasce na lei, mas se destina á graça. E a graça só se revela quando se esgota as potencialidades e as possibilidades da lei. Jesus foi possível por causa de Moisés, que não veio negá-lo, mas completá-lo. Então frei Clodovis Boff de 2007 e de 2008, irado, faz lembrar em muito, e em muito mesmo, ao irado João Batista que apontava para o povo judeu e com o dedo em riste lhes dizia que um novo tempo estava prestes a se revelar.

Lúcio Junior Espírito Santo. Em termos práticos, o que significa a Teologia da Libertação passar de Moisés para Jesus?

Adamir Gerson. Ora, a práxis da Teologia da Libertação foi de opção única aos pobres. Como foi opção única aos escravos a práxis de Moisés. Como Moisés não teve acordo com Faraó, mas se engalfinhou com ele em luta mortal pela libertação dos escravos, assim foi toda a práxis da Teologia da Libertação que não teve interesse pelos ricos e pelos poderosos senão que pelos pobres. Em uma palavra, dos pólos da contradição ela tomou lado, e o lado dos pobres. Mas, convenhamos, Jesus não foi o mesmo Moisés. Jesus repetiu Moisés na forma, não, porém, no conteúdo.  Jesus voltando do Egito para Israel realmente repetiu a volta que Moisés fez para o Egito. Mas Jesus não veio tomar o lado dos judeus contra Roma, como teria feito Moisés, mas, transcendendo-os, conhecedor dos limites de sua natureza, ofereceu-lhes um novo paradigma, um novo relacionamento, que posto em prática com certeza iria dirimir a dor e o sofrimento, fazendo feliz não só romanos e judeus, mas a todos, gregos e gentios, escravos e livres. Jesus não veio restabelecer as linhas demarcatórias das fronteiras de Israel, mas remover toda e qualquer barreira, as que separavam as nações, os indivíduos e as raças. O inimigo a ser vencido não era Roma, mas a Serpente Original que tinha arruinado o plano original de Deus e exercia o seu domínio por então estar em tudo e em todos.  De modo que Jesus ao não tomar o lado dos judeus contra Roma não o fez porque fosse apolítico, mas porque conceitos caros aos judeus como de nação, de pátria, de território para ele era secundário. O que para ele era importante era o indivíduo, era a pessoa humana. E Jesus sabia que se Israel fosse liberta do domínio de Roma recuperando a sua identidade de nação isto não era garantia alguma de que o povo de Israel estava liberto. Pelo contrário, Jesus entendia que eles iriam deixar de ser governados e explorados pelos césares de Roma para agora serem governados e explorados pelos reis de Israel. Por isto ele disse: o meu reino não é deste mundo. O meu reino não é disto. É do céu. Mas ele vem a este mundo para acabar com isto. Por isso orou: Pai nosso que estais no céu; Santificado seja o Teu nome; Venha a nós o teu reino; E seja feito a tua vontade; Assim como é no céu, também na terra.

Lúcio Junior Espírito Santo. Tive a oportunidade de ler um artigo postado na Internet assinado pelo Professor Felipe Aquino. Não conheço a sua posição a fundo. Mas tenho suspeitado de que a sua posição vem confirmar uma esperança manifesta do Professor Felipe Aquino sobre o futuro da Teologia da Libertação. Isto que você chama de passagem de Moisés para Jesus grosso modo vai de encontro ao que espera o Professor Felipe Aquino será doravante a Teologia da Libertação. Vou transcrever o que ele disse e depois gostaria que você explicasse essa talvez ligação: “Deus queira que a sua voz seja ouvida no seio dos seguidores de Gutierrez, L. Boff, Jon Sobrino, etc, de modo a se criar uma teologia da libertação como aquela que pediu o Papa João Paulo II, “necessária”, a serviço dos pobres e oprimidos, desvalidos e excluídos, mas sem usar o veneno marxista da violência e do ódio de classes como meio de revolução e de mudança. Se o grito de Boff for ouvido poderemos ter uma TL boa e “necessária””

Adamir Gerson. Em primeiro lugar é preciso fazer uma distinção entre Adamir Gerson e o Professor Felipe Aquino. Pode até parecer que na forma sejam idênticos – daí a sua suspeita de serem parecidos – mas com certeza no conteúdo são completamente distintos. Ora, atrás eu disse que Moisés e Jesus, a lei e a graça são partes do mesmo processo. Que o Deus que veio estar na graça, estar em Jesus, antes esteve na lei, esteve em Moisés. Fez ali a obra necessária ao seu tempo. De modo que fui claro que o fundamento da Teologia antes de estar na graça e em Jesus esteve na lei e em Moisés. Passou-se para aquele depois que esgotou as suas potencialidades neste. Então qualquer rejeição ao Marxismo é uma rejeição do fundamento da Teologia. Toda e qualquer teologia é feita a partir do fundamento da Palavra de Deus. E a Palavra de Deus carrega como conteúdo o Marxismo no conjunto de sua obra. Tanto a obra teórica de Marx, como a obra insurrecional de Lênin, bem como a obra edificadora do socialismo de Stálin. O que o Professor Felipe Aquino, no alto de sua sabedoria, chama de “veneno marxista da violência e luta de classes” se trata do mesmo veneno com o qual Deus feriu Faraó e seus primogênitos e que no livro de Jó (20) se achou reservado para a escatologia, para novamente ser destilado: “(...) Seus próprios filhos buscarão o favor dos de condição humilde, E suas próprias mãos restituirão as suas coisas valiosas. Seus próprios ossos estiveram cheios de seu vigor juvenil, mas com ele se deitará no mero pó. Se aquilo que é ruim tiver sabor doce na sua boca, Se ele o deixar dissolver debaixo da sua língua, Se tiver compaixão dele e não o abandonar, E se o retiver no meio do seu paladar, Seu próprio alimento se transformará nos seus próprios intestinos; Será dentro dele o fel de najas. Engoliu riqueza, mas ele a vomitará; Deus a desalojará do próprio ventre dele. Sugará o veneno das najas; a língua duma víbora o matará. Nunca verá os cursos de água, Os rios torrenciais de mel e manteiga. Restituirá a sua propriedade adquirida e não a engolirá; Como a riqueza proveniente do seu intercâmbio, mas com a qual não se regalará. Pois tem esmagado, tem abandonado os de condição humilde; Tem arrebatado a própria casa que não passara a construir. Porque certamente não conhecerá tranqüilidade no seu ventre; Não escapará por meio das suas coisas desejáveis. Não lhe sobra nada para devorar; Por isso é que não perdurará seu bem-estar. Enquanto a sua fartura está no auge, sentir-se-á aflito; Todo o poder do próprio infortúnio virá contra ele. Ocorra então que, para encher-lhe o ventre, Envie sua ira ardente sobre ele E a faça chover sobre ele, pra dentro das suas vísceras. Fugirá do armamento de ferro; Um arco de cobre o retalhará. Uma arma de arremesso até mesmo lhe sairá pelas costas, e uma arma lampejante, pelo fel; Objetos aterradores. Toda a escuridão será reservada para as suas coisas entesouradas; Será consumido por um fogo que ninguém abanou.; Irá mal ao sobrevivente na sua tenda. O céu revelará o seu erro E a terra estará em revolta contra ele. Um forte aguaceiro levará a sua casa de roldão; Derramar-se-ão coisas no dia da sua ira. Este é o quinhão do homem iníquo, da parte de Deus”. Portanto quando falo da Teologia da Libertação como estando em Moisés, mas que vai se levantar em Jesus, iniciar uma nova caminhada em sua existência, de modo algum é na perspectiva do Professor Felipe Aquino, confessar publicamente que quando lutou para libertar os pobres com as armas do Marxismo esteve laborando em erros e afastado do fundamento. Mas, ao contrário, é reconhecer que esteve no caminho certo, posta ali não por homens, mas pelo próprio Deus. Portanto, se até aqui nenhum teólogo da Teologia da Libertação o fez, hoje Adamir Gerson proclama que qualquer palavra proferida contra o Marxismo, para desqualificá-lo como coisa do homem ou mundanismo político produzido pelo secularismo, doravante é blasfêmia contra Deus. Porque o Marxismo no conjunto de sua obra, no conjunto dos seus acertos e erros, tem origem unicamente em Deus, como o judaísmo no conjunto de sua obra, nos seus acertos e erros, teve origem unicamente em Deus. E se o ato de blasfêmia é um mal que se carrega para sempre, e o quer evitar, então se cale e espera em Deus que é misericordioso para esclarecer seu caminho. Porque certamente os tempos da ignorância estão passando.   

Lúcio Junior Espírito Santo. O Professor Felipe Aquino foi claro, em sua explanação, ele fala de uma nova Teologia da Libertação completamente esvaziada do Marxismo. Gostaria que você também tivesse a mesma clareza e dissesse se nesta passagem de Moisés para Jesus a Teologia da Libertação, leva consigo o Marxismo, de modo a trabalhar com as suas ferramentas de luta de classe e de violência revolucionária.

Adamir Gerson. Ora, uma vez que disse que o Marxismo pertence ao sagrado. É Deus. E a Teologia da Libertação em sua existência esteve umbilicalmente ligada a ele, ora, esta passagem de Moisés para Jesus na vida da Teologia da Libertação ela vai dar-se também no Marxismo. Esta mudança é porque Deus decidiu mudanças no Marxismo. Em modo algum Deus vai reciclar a Teologia da Libertação e deixar o Marxismo abandonado à própria sorte para que continue a ser pisado pelos homens como um moribundo. Portanto não só a Teologia da Libertação, mas também o Marxismo dever-se-ão estar antenados para grandes mudanças que se aproximam em suas vidas. Por estarem agora em Jesus irão abandonar o instrumento de luta de classe? Ora, o instrumento de luta de classe tem função pedagógica. Sem ele é impossível se adquirir a consciência real da libertação. Como a consciência da libertação não foi abandonada, mas, pelo contrário, aprofundada, agora não só a sociologia, mas também a metafísica, o instrumento da luta de classe é, pois, inabondonável. É uma espada que se carrega à bainha. Mesmo porque se descobriu que o mesmo faz parte e é conteúdo da Palavra de Deus. Quanto à violência revolucionária todos terão de se conscientizar que neste novo tempo as novas forças que estarão chegando serão guardiães fieis da Democracia. Se por acaso grupos se articularem para impedir a despotencialização do mal que impregna as instituições e as relações e que está sendo levado a cabo, para que funcione mais harmonicamente, mais próximo ao ideal de harmonia que havia no Paraíso, ora, as novas forças que estão em Jesus, como guardiães da Democracia, e na sua defesa, terão de tomar medidas eficazes para que a Democracia seja preservada, porque é sua guardiã. E a Democracia, vitoriosa, deverá prosseguir em sua caminhada até fazer que todos no país sejam de uma só fé e de uma só alma. Já não tendo mais indivíduos gozando privilégios a expensas de outros, mas todos usufruindo, dos mesmos direitos e dos mesmos deveres. Há incoerência no que foi falado de que a Teologia da Libertação está deixando para trás o seu tempo de Moisés e ingressando no seu tempo de Jesus e, no entanto, levando consigo ferramentas do Marxismo? Não, porque embora Jesus não tenha tomado o lado dos judeus contra Roma, tinha para eles novo paradigma, todavia em todas as situações concretas em que se envolveu Jesus tomou o lado sim, dos marginalizados socialmente, dos famintos, dos doentes, e até o lado de uma sociedade em que ela não tem a presença dos que detém riquezas, quando prescreveu ao jovem rico o que era necessário fazer para se tornar seu seguidor.

Lúcio Junior Espírito Santo. O Professor Felipe Aquino parece tem um juízo semelhante, pois não aponta para a Teologia da Libertação e diz que ela tem de abandonar os pobres, mas sim, que ela tem de voltar ao fundamento que é Jesus e, então, a partir de Jesus libertar os pobres.

Adamir Gerson. Ora, no presente tempo em que estamos vivendo falar da libertação dos pobres e excluir as ferramentas marxistas é reduzir esta libertação ao mero campo da caridade. O peso do tempo atual não suporta isto. A caridade não tem fim em si mesmo, mas foi meio. Foi de suma importância quando não se conheciam as ferramentas da libertação. Mas hoje, com o progresso alcançado no campo tecnológico, e a inserção e obrigação do Estado no social, e a clara disposição das ferramentas de libertação, a caridade não é mais objeto da Teologia.

Lúcio Junior Espírito Santo. Tal como ocorreu com o judaísmo que serviu de aio para o cristianismo, assim, então, ocorreu com a caridade em relação à libertação?

Adamir Gerson. A analogia é correta. A lei foi de suma importância enquanto a graça não veio. Mas quando se manifestou a libertação, a lei se tornou obsoleta. A lei significava a não emancipação do indivíduo, mas a sua proteção. Havia uma moral e uma ética estabelecidos que falavam pelo indivíduo e asseguravam as suas relações. E uma vez que a graça assegurava ao indivíduo a sua própria emancipação, no plano da salvação, só podemos entender que a lei tornou-se obsoleta. O que por extensão se estende à caridade.

Lúcio Junior Espírito Santo. No seu blog encontrei uma postagem onde você narra uma entrevista que frei Clodovis Boff teve com o jornal Folha de São Paulo na metade da década de 90. E na entrevista é abordado um fracasso que teria tido frei Clodovis Boff por não ter logrado êxito no seu projeto de criar um partido revolucionário. Teve o azar de no período ter aparecido Lula e as Cebs em bloco se decidiram pelo Lula e pela criação do PT, não sobrando espaço para o Partido Cristão de frei Clodovis. O que aconteceu em 2007 não foi que frei Clodovis Boff teve um repente de retomar o seu projeto de final da década de 70 e início da década de 80? Afinal no seu projeto partidário o mesmo estava alicerçado em Jesus e Jesus era o seu fundamento e guia, de modo que quando acusou a Teologia da Libertação de ter se afastado do fundamento estava sendo coerente com todo o seu passado.

Adamir Gerson. O que você fala tem sentido. Afinal uma idéia e um projeto só morrem quando são postos em prática e a prática o exclui por não necessário ou descabido. De modo que seja impossível que frei Clodovis Boff tenha abandonado o seu projeto de transformação revolucionária. É possível que sim. Mesmo porque as condições objetivas vieram lhe estar favoráveis. Por um lado o esgotamento revolucionário do PT, e por outro o esgotamento revolucionário do Marxismo. É possível que ele tenha enxergado que com um só cajado pudesse golpear duas situações distintas. Ou seja, ter o apoio dos setores tidos conservadores e o apoio da Teologia da Libertação.

Lúcio Junior Espírito Santo. Faz sentido porque ele não fala em acabar com a Teologia da Libertação, mas trazê-la de volta ao fundamento e refunda-la em novas bases. Em novas bases que seriam aceitáveis pelos conservadores.

Adamir Gerson. É claro que frei Clodovis Boff labora em ambigüidades. O que seria a Teologia da Libertação ter abandonado o fundamento? O que seria fazê-la retornar ao fundamento? Se uma referência direta a Teologia da Libertação o ponto de partida deve estar focado no período do seu nascimento. Focando o seu nascimento no encerramento dos trabalhos do Concílio Vaticano II só podemos entender que ela nasceu sendo o que é. Não nasceu diferente do que é. Mesmo porque o seu nascimento se deu no momento em que por toda a Europa, contagiada pelos resultados de aberturas do Concílio Vaticano II, nasciam teologias políticas, tácito e explícito tendo o Marxismo como ponto de referência e mediação de suas elucubrações políticas. Por que a Teologia da Libertação seria diferente? Portanto para ser coerente não cabe a ele falar em refundação da Teologia da Libertação, mas, sim, apresentar uma nova Teologia que teoricamente se revele mais atrativa e mais embasada teologicamente, se é que entende ser fraco o embasamento teológico da Teologia da Libertação.

Lúcio Junior Espírito Santo. Não pode ter sido que frei Clodovis Boff não obstante fazer parte da plêiade de teólogos que criaram a Teologia da Libertação ele, no entanto, já era uma figura diferente. Já trazia em si uma reserva teológica e política que o iria fazer diferente dos demais? Apenas para facilitar a compreensão, ele seria a águia que na parábola que se conta na Alemanha foi criada entre galináceos, mas que um dia teve o seu ser de águia revelado? Não pode mais ficar entre galináceos?

Adamir Gerson. Analisando frei Clodovis Boff de final da década de 70 e início da década de 80 realmente destoava dos demais. Entendia que os cristãos podiam sim construir um projeto político-partidário de transformação da sociedade exclusivo e imanente ao cristianismo. Entendia que o Marxismo não detinha o monopólio da libertação, mas que ela também estava presente na Palavra de Deus. O erro, e volto a afirmar, foi excluir o Marxismo do fundamento da Teologia. É possível sim que frei Clodovis Boff tenha sido a águia da parábola, não, porém, aquele momento em que ela, levada ao alto do penhasco e mergulhada no vazio, ziguezagueando conseguiu chegar ao alto da montanha. Ainda uma águia pelo vício ciscando o chão.

Lúcio Junior Espírito Santo. Entendendo o assunto pelo espírito, segundo os mistérios do espírito, não pode ser que frei Clodovis Boff seja uma figura teológica e pastoral singular e privilegiada? O Deus que irrompe na terra fazendo com que os reinos do mundo se transformem em reinos de Deus; que esmigalha a estátua reduzindo-a a pó, e que entendemos seja o fim e queda do imperialismo. Em uma palavra, o Deus que se manifesta em Majestade, vindo com poder e grande glória para imponentemente governar todas as nações, não pode ser que o mesmo se ache em espera do seu momento na alma de frei Clodovis Boff, e que no ano de 2007 ele teria se agitado no seu nascimento? Afinal, isto vai de encontro ao projeto claramente messiânico que no final da década de 70 e início da década de 80 então ostentava? Afinal já li algo assim em um dos seus escritos onde você liga a figura de frei Clodovis Boff à figura de Che Guevara; de que os dois estariam inseridos no mesmo processo.

Adamir Gerson. Esse trabalho onde emparelhei frei Clodovis Boff com Che Guevara, os dois apareceram como parte de um mesmo processo, pode sim explicar o Clodovis Boff de 2007. E que trabalho foi este? De que Che Guevara deixando Cuba e indo para a Bolívia para começar a revolução mundial fora o primeiro momento do conceito. A revolução mundial em Che Guevara então se iniciou unicamente que com as armas do Marxismo. Numa das mãos o fuzil e na outra o livro O Capital. Adormecida em Che Guevara algum tempo depois o espírito quis novamente re-começar a revolução mundial. E agora o seu artífice sendo frei Clodovis Boff. Já sofre metamorfose. Já numa outra perspectiva. Agora se manifesta em antítese, como convém ao movimento do espírito. Em completa negação ao Marxismo, e totalmente baseada em motivos cristãos.

Lúcio Junior Espírito Santo. E qual a explicação do porque da revolução mundial tanto em Che Guevara como em frei Clodovis Boff não terem ultrapassado o campo do pessoal, sem a adesão e participação externa, somente Che Guevara e frei Clodovis Boff estando envolvidos com ela?

Adamir Gerson. Porque na verdade a revolução acontecia no espírito de Deus. Era no seu ventre que ela se gestava. De modo que o esforço de Che Guevara e de frei Clodovis Boff para que acontecesse era o seu crescimento no ventre de Deus. Certamente que iria chegar o tempo em que a revolução mundial iria acontecer e ter a total adesão externa, e agora não mais conduzida por apenas um líder, mas uma multidão absorta e envolvida com ela. E neste terceiro momento o líder que a empunharia certamente que iria resgatar tanto Che Guevara como frei Clodovis Boff. Se em Che Guevara ela se manifestou em motivos inteiramente marxistas, e em frei Clodovis Boff em motivos inteiramente cristãos, certamente que neste terceiro momento o seu líder e todos os que estarão com ele empunharão numa das mãos o Marxismo e na outra o Cristianismo.

Lúcio Junior Espírito Santo. Então o fato da revolução mundial não ter decolado nem em Che Guevara e nem em frei Clodovis Boff, não tendo saído jamais do seu círculo pessoal e subjetivo, foi justamente por causa desta construção no espírito divino? Tinham somente uma asa

Lúcio Junior Espírito Santo. Isto que você fala de que a revolução mundial em Che Guevara e em frei Clodovis Boff serem acontecimentos que se desenrolavam no ventre de Deus, com as ações isoladas de Che Guevara e de frei Clodovis Boff sendo a sua manifestação externa, ora, quando o profeta Isaías vaticinou eis que o dei como líder e como testemunhas para os povos, e no livro do Apocalipse, reiteradas vezes ali há a descrição de um personagem com a missão de governar as nações, então podemos dizer que tanto Che Guevara como frei Clodovis Boff quando quiseram começar um movimento revolucionário de cunho mundial, para libertar totalmente a terra do domínio imperialista e de outras forças funestas, na verdade eles agiram por inspiração divina? Era literalmente o Deus Dialético começando a realizar a idéia de domínio universal?

Adamir Gerson. Certamente que sim. Apenas que completaria, de libertação universal. E diria mais, que o fato da revolução mundial não ter decolado nem em Che Guevara e nem em frei Clodovis Boff, é porque na sua construção dialética tinham apenas uma asa. Separadas, como tese e antítese. Che Guevara possuía apenas a asa do Marxismo, e frei Clodovis Boff, a asa do Cristianismo. Certamente que no terceiro momento o Artífice iria ligar as duas asas ao corpo. E então a revolução mundial iria decolar e ser uma verdade na terra, para espanto e medo do domínio imperialista.

Lúcio Junior Espírito Santo. Voltando à questão da águia, seria então este o momento em que ela iria finalmente se destacar dos galináceos, realizando o seu vôo como águia, até que, ziguezagueando, iria então pousar a planta dos pés no alto da montanha.

Adamir Gerson. A idéia da revolução mundial sempre esteve presente no movimento revolucionário. Todos os revolucionários acalentavam ver o dia em que em toda a terra a exploração foi banida. Mas a revolução laborava em dificuldades, externas e internas. De modo que as dificuldades impunham a ela limites à sua ação. De modo que a idéia de revolução mundial pode sim ser a águia da parábola contada na Alemanha que foi criada no meio de galináceos. E podemos dizer que tem chegado o dia glorioso em que ela irá, então, voar e pousar as plantas dos pés no alto da montanha.

Lúcio Junior Espírito Santo. Começo a perceber importância em você ter relatado esses fatos relacionados a frei Clodovis Boff totalmente desconhecido não só do grande público como também de grande parte da militância da Teologia da Libertação. Visto pelos teólogos da Teologia da Libertação como trapalhão, fazendo o papel de bobo da corte, no entanto você trouxe à superfície o Clodovis Boff real, um homem totalmente nos planos de Deus. De modo que tem chegado o tempo de compreendê-lo na sua inteireza, a sua grandeza e importância na sua ligação metafísica com Che Guevara. De modo que as suas trapalhadas foram muito mais porque representava o segundo momento do espírito, inacabado. Não estava na clareza do terceiro momento. Mas, como você acha que irão reagir os conservadores que o elegeram em 2007 como o seu mais novo campeão? O oportunismo claro de então dará lugar a uma reflexão séria? É possível uma reflexão séria por parte dos conservadores, em especial sobre o Marxismo, ser ele tão-somente a ação divina?

Adamir Gerson. As dificuldades existirão dos dois lados. Pelo lado da ortodoxia cristã em compreender o Marxismo como sendo a ação de homens, mas inspirados por Deus, e pelo lado da ortodoxia marxista em reconhecer que são instrumentos vivos nas mãos deste mesmo Deus. Que o projeto que executam como sendo seus na verdade é parte de um projeto maior de Deus. O bom senso e a humildade com certeza serão meio caminho andado. E é certo que tanto a ortodoxia cristã como a marxista poderão sim traçar conjuntamente planos e caminhos pelo qual o Reino de Deus será construído no curto, médio e longo prazo. Como aconteceu com a Renovação Carismática que no início foi julgada pelos conservadores como invasão protestante do catolicismo, e aceita porque transformada em instrumento de luta contra a invasão marxista. Os tidos conservadores poderão sim, diante de nova luz sobre o real fundamento da Teologia, olhar com novos olhos tanto aos evangélicos como aos marxistas. Que não se trata de subtração do Reino de Deus, mas, pelo contrário, do seu crescimento. O importante é que as massas se manifestem nas ruas com alegria no coração sobre este novo porvir. As massas nas ruas farão os homens recobrarem a razão. De modo que estas três forças, católicos, evangélicos e marxistas, representantes diretos de Deus, poderão sim sentar-se na mesa e traçar um plano dialético de construção do Reino. Carismáticos e evangélicos, amolecendo os corações de pedra com o poder do evangelho, serão de suma importância. O que não se pode, repito, é deixar que a condução do mundo esteja nas mãos de uma nação que tem a certeza do seu domínio por confiar no poder das armas que construiu. O nem por poder e nem por força militar mas pelo poder da Palavra de Deus pode sim ser o interlocutor válido pelo qual estas três forças de Javé traçarão a construção do Reino no tempo e no espaço (PROSSEGUE)