quinta-feira, 27 de julho de 2023

Prestes, o Cavaleiro do Oportunismo

 

“O Partido Comunista do Brasil comemora este ano, o 50º aniversário de sua existência e o 10º aniversário de sua reorganização baseada no marxismo-leninismo. A reconstituição do partido se deu através do desenvolvimento de acirrada luta interna dos marxistas-leninistas contra os renegados do comunismo, à frente dos quais estava Luís Carlos Prestes. Os marxistas-leninistas não se dobraram nem diante da reação e do oportunismo de Prestes, nem diante de seus aliados e patrões, Kruschov e Brezhnev. Travando uma luta de princípios em defesa do Partido contra o avassalamento do revisionismo contemporâneo, os comunistas tornaram-se legítimos herdeiros das tradições revolucionárias do heróico povo brasileiro”.[1]

Chega até ser triste ver alguns camaradas tratando a figura de Luís Carlos Prestes como “herói”, mas isso porque não conhecem completamente a história política de Prestes, conhecem apenas o Prestes das revoltas tenentistas e do levante de 1935, se soubessem o que Luís Carlos Prestes fez a partir dos anos 50, teriam o maior repúdio e não o chamariam mais de “cavaleiro da esperança”, mas sim de “cavaleiro do oportunismo”.
Apesar de ter sido uma figura importante no Brasil dos anos 20 e 30, ele apresentou concepções errôneas ao comandar o levante popular de 1935.
Os camaradas soviéticos que foram enviados ao Brasil como gesto de internacionalismo proletário por parte do PCUS aos camaradas do PC do Brasil avaliaram a situação do Brasil e aconselharam que o levante revolucionário deveria ocorrer como na China: uma guerra popular prolongada através do campo em direção às cidades, o conselho era correto, mas o capitão Prestes acreditando dispor de bastante prestígio adquirido dentro do exército após os tempos da Coluna Prestes, optou por um levante que deveria ocorrer dentro das fileiras do Exército Brasileiro, ou seja, seria um golpe militar, mas, que infelizmente acabou fracassando, mas teve sua glória, pois, foi a primeira tentativa em construir um governo popular no Brasil. Alguns remanescentes do levante foram para o campo onde travaram guerra de guerrilha contra o exército de Vargas, mas não foi dada importância a essa corretíssima linha. Com isso, o levante resultou derrotado e vários membros do Partido foram presos e torturados, e o partido só voltaria a tomar fôlego em 1943.
De 1948 em diante, o partido que chegou ter em torno de 200 mil membros, passou a participar das eleições burguesas, mas foi colocado em ilegalidade pelo presidente fascista, o general Eurico Dutra, os parlamentares que pertenciam ao PC do Brasil tiveram seus mandatos cassados, e a polícia chegou a matar alguns militantes do PC.
Então, durante os anos 50, o partido se voltou por continuar participando da democracia burguesa, até que a partir de 1956 a luta entre linhas dentro do partido começou tornou-se mais aguda devido ao XXº Congresso do PCUS, que serviu para consolidar o revisionismo na URSS.
Prestes ao invés de continuar a defender o caminho revolucionário, ficou ao lado dos revisionistas soviéticos, portanto adotou a tese pacifista e a negação de Stalin como grande continuador do marxismo-leninismo.
Quando a situação ficou inviável, a corja revisionista foi expulsa do PC do Brasil em 1962, e se reorganizaram como Partido Comunista Brasileiro, servindo de capanga do social-imperialismo soviético, e cruzando os braços quando os militares tomaram o poder em 1964.
Quando os militares desferiram o golpe em 1964, Prestes declarou que não haveria condições dos militares permanecerem no poder, e que logo eles cairiam, pois bem, os militares ficaram no poder até 1985, e Prestes fugiu para URSS em 1969, mesmo ano em que tropas soviéticas ameaçavam uma guerra nuclear contra o povo chinês, e como se sabe, em 1969 China e Albânia serviam de baluarte para os comunistas de todo o mundo.
Nesse caso, em hipótese alguma Luís Carlos Prestes poderia ser comunista porque:

1º- A URSS em 1969 era um país social-imperialista, não mais servia de baluarte ao movimento comunista internacional como tinha sido nos tempos de Lênin e Stalin.

2º- Um comunista tem o GLORIOSO dever de dar a vida quando for preciso, ao partido e à revolução, pois sem sacrifícios não pode haver vitória.

3º- O ÚNICO meio de lutar contra qualquer governo que defenda a ordem burguesa e imperialista, seja ele um governo “democrático”, seja uma ditadura militar, é através da guerra popular sob o comando do partido.

Prestes voltou do exílio em 1979 depois da anistia, mas, o PCB já pelego, influenciado por teses revisionistas do eurocomunismo e com suas “divergências internas” (como o próprio Prestes falou em uma entrevista em 1986) resultou na saída de Luís Carlos Prestes em 1980, que ficou sem partido algum, ora apoiando Lula, ora apoiando Brizola.
Prestes até o fim da sua vida ficou como apoiador do social-imperialismo soviético, desde Kruschov até Gorbatchov. Sempre apoiando o anti-stalinismo, o aventureirismo militarista soviético e as reformas capitalistas que serviu de golpe derradeiro à União Soviética.

Fora o fato de Prestes ter fugido da batalha no momento em que o povo brasileiro mais precisou de forças progressistas que afrontassem as forças retrógradas dos milicos nos anos 60, Prestes também tem uma visão distorcida do que vem a ser o marxismo-leninismo, e desconhece alguns de seus princípios básicos:

“Então, fui examinar o passado do nosso partido. Encontrei, logo em 45, o erro que eu já me referi. Em que nós negávamos a possibilidade do capitalismo no Brasil. Mas isso tem origens também. E as origens eu fui descobrir no 6º Congresso da Internacional Comunista, em 1928. Esse congresso cometeu muitos erros. Entre eles, elaborou uma tese, um documento que tem esse título "Teses para o desenvolvimento da luta dos povos coloniais e semicoloniais". E esse documento foi aplicado dogmaticamente em toda a América Latina, com exceção de Cuba, que foi o único país que se livrou disso. Os outros todos aplicaram isso. Estão aplicando ainda, até hoje. O PCB aplica ainda esse documento. Isso é um absurdo, porque o Brasil não é mais um país colonial desde quando? Desde o princípio do século passado que se libertou da colônia portuguesa”. [2]

É fato que o Brasil se libertou de Portugal em 1822, mas isso não quis dizer que o nosso país se viu independente na questão econômica, o Brasil sempre esteve dependente das potências, fato é que até o aço que o Brasil consumia até os anos 40 vinha dos Estados Unidos. Até hoje o nosso país necessita do capital estrangeiro, se as empresas estrangeiras entram em derrocada, conseqüentemente os empregados são dispensados e a produção diminui, as vendas diminuem, é como se fosse um efeito dominó, o que acontece lá, é sentido aqui, “a marolinha” da crise pode virar um “tsunami” no Brasil.
Quanto a Cuba, Kruschov aplicou com êxito um de seus planos: transformar países socialistas em satélites da URSS. Cuba durante muitos anos dependeu da URSS, não tratou de desenvolver a indústria pesada, ficou no mesmo sistema semicolonial característico dos tempos de Fulgêncio Batista: exportar o açúcar em troca de petróleo e outros bens industrializados, quando Cuba poderia muito bem ter sua indústria automotiva (e resolver o problema da frota de carros velhos e dos ônibus), Cuba no final dos anos 70, tinha a maior reserva de cromita do mundo, mas essas reservas não haviam sido exploradas.
Ao invés do governo cubano ter gastado dinheiro e forças com a criação de indústria pesada aproveitando a parceria com a URSS, Cuba preferiu gastar enviando soldados para aventuras na Etiópia, Angola, Granada, Congo, e Iêmen do Sul.

Aqui, tem outra declaração de Prestes feita em 1986:

“Mas, o marxismo é Marx, Engels e Lênin” [3]

E Stalin. Mas, cadê Stalin? Será que Prestes se esqueceu da importantíssima figura que foi Stalin para o marxismo-leninismo, para a URSS, e para os povos do mundo? Não, ele não se esqueceu, e até lembrou-se de Stalin em outra entrevista em 1988:

“Stalin, através da violência e do arbítrio, matando muita gente, como diz o camarada Gorbatchev, crimes imperdoáveis”.[4]

Além de apoiador de Gorbatchev, era apoiador do revisionista polaco Wladislaw Gomulka, que foi removido do poder no começo dos anos 70, depois que o povo polonês se rebelou contra a sua “ditadura revisionista” [5]:

O revisionista Gomulka
“Chegou a ser feita a reforma agrária na Polônia, mas criou um problema gravíssimo, político. Um choque com o Vaticano. Quando o camarada Gomulka assumiu o governo, ele verificou que esse era o problema principal que ele tinha que enfrentar. Anulou a reforma agrária, para entregar a terra aos pequenos camponeses e eles ficaram para resolver os problemas políticos da relação do Estado polonês com a igreja”. [6]

Mas que “camarada” é esse que deixa o Vaticano intervir nos assuntos internos da Polônia? Esse recuo perante a reacionária igreja católica serviu para preparar terreno para o surgimento do sindicato Solidariedade, tendo como líder sindical o reacionário Lech Walesa, apoiado pelo papa João Paulo II.







Com certeza muita gente pode se zangar com esse artigo, pois bem, a “unanimidade só existe em cemitérios”, mas, o que foi apresentado aqui não são intrigas lançadas por algum opositor do PCB ou por algum agente da CIA. As palavras de Prestes, foram ditas por ele mesmo, os vídeos da entrevista completa ao programa Roda Viva estão disponíveis no site youtube, a entrevista realizada em 1988 com o jornalista Sidney Resende está disponível no site Marxists Internet Archive, e o artigo publicado no jornal A Classe Operária está disponível em PDF no site da Fundação Maurício Grabois.

NOTAS:

[1]: Artigo inicialmente publicado no jornal Bandeira Vermelha, órgão do CC do Partido Comunista da Polônia, e re-publicado no jornal A Classe Operária, em julho de 1972;

[2]: Entrevista ao programa de televisão Roda Viva, realizado em 1986;

[3]: Ibidem;

[4]: Luís Carlos Prestes em entrevista realizada em 1988 com o repórter Sidney Resende;

[5]: Retirado do artigo: Crise do revisionismo, publicado no jornal A Classe Operária de janeiro de 1971;

[6]: Entrevista ao programa de televisão Roda Viva, realizado em 1986. 

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Jones manoel X PCB

Comentários acerca do relatório da Assistência do CR–PE.

Camaradas, Fabio Bezerra, membro do CC e da CPN, veio solicitar uma reunião comigo acerca da última reunião do CR de Pernambuco. A conversa teria como base um relatório de autoria do camarada Messias sobre a reunião do organismo de Pernambuco. Solicitei o acesso ao relatório antes de qualquer conversa. O camarada Messias acompanhou a reunião longa de forma online. Por essa condição objetiva, de pronto, retiro qualquer intencionalidade dos diversos erros, omissões, equívocos e relatos imprecisos. Acredito na boa vontade do camarada e sei das dificuldades de acompanhar a reunião online.  

O camarada começa seu relatório citando as críticas que fiz sobre a ausência total de qualquer política de segurança. Primeiro e antes de tudo, fiz esse debate no organismo da direção estadual. Ao contrário do comentário malicioso e maldoso feito por Edilson na última reunião presidencial do CC, não foi um comentário feito na internet. O militante do PCB, segundo o estatuto da organização, tem o direito de fazer as críticas e os debates nos espaços corretos. E meu organismo regional, o CR de Pernambuco, é um desses espaços. Nunca é demais lembrar que milito em Pernambuco e que a segurança dos militantes do PCB de Pernambuco é tema pertinente para a direção do partido em… Pernambuco. 

Se o Comitê Central não tem NENHUMA POLÍTICA DE SEGURANÇA, é óbvio que isso sobrecarrega o CR, que será o único responsável por pensar uma política para tal assunto. Para o bem e para o mal - e pelo que é visível para o desgosto de muitos - sou um dos militantes do PCB com mais visibilidade pública. O que coloca minha vida e da minha família em risco. Desde sempre cuido sozinho da minha segurança e na única vez que fiz uma cobrança aberta pela ausência do básico de política de segurança (não só para mim, como todo complexo partidário), fui atacado e recebi a insinuação de que eu seria policial - e claro, zero autocrítica por esse tipo de fala irresponsável e leviana. 

No segundo parágrafo do relatório, o camarada Messias diz: “O camarada Jones também mencionou não concordar com as críticas recebidas durante a última reunião do CC, no que toca a avaliação de como ele conduziu a campanha”. A premissa está errada. Não conduzi nada sozinho. Na reunião do CR falei abertamente, e é uma pena o camarada Messias não ter colocado isso no relatório, que circula uma mentira canalha, divulgada por vários membros do CC, que “mando em Pernambuco”, que é o “meu CR” e que decido “tudo”. Quem faz política como feudo, tratando o CR do seu estado como propriedade privada, só pode imaginar o outro fazendo o mesmo. Toda e qualquer crítica à condução da campanha em Pernambuco deve considerar: a) meu papel como candidato; b) a ação do organismo dirigente de Pernambuco; c) a relação do CR com o CC na cobrança, monitoramento e direcionamento da campanha.

É sintomático, por exemplo, que durante toda a campanha o CC não tenha mandado um único documento para o CR de Pernambuco orientando sobre eventuais erros, falhas e correção de rumos da campanha. Se algo foi feito de errado, e esse CC nada disse, no mínimo do mínimo, temos um erro compartilhado (a única crítica, feita em reunião presencial em São Paulo, no sindicato dos médicos, foi sobre a ausência de fotos de Sofia Manzano no material de pré-campanha. No panfleto de campanha, a foto, o logo e o número estavam lá. Logo, a ÚNICA CRÍTICA foi respondida positivamente).

Na sequência, o camarada Messias escreveu que “Colocou que não houve elogios dos membros do CC aos resultados e ao trabalho eleitoral de Pernambuco”. Isso está completamente ERRADO. Não tenho carência de elogios, camaradas. O que coloquei foi que (e divido por pontos para ficar didático):


  • É impossível ter uma avaliação objetiva da nossa tática eleitoral no plano nacional quando no CC temos um grupo muito bem formado com opiniões pré-estabelecidas e não em poucos momentos atuando como tendência. 

  • Que não importa o quão bom fosse o resultado em Pernambuco, só teria ataques, espantalhos e falsas questões. 

  • Que pelo clima de grupismo dentro desse CC, não existe possibilidade de avaliação científica dos nossos resultados. 

  • E que o exemplo desse grupo é a ausência quase total de críticas aos resultados eleitorais da Bahia e Rio de Janeiro. 


Gostaria de me deter nesse último ponto como exemplo. Em 2010, na eleição para governador, lançamos chapa pura no Rio de Janeiro. Tivemos 11.299 (0,14% do eleitorado do estado). O candidato foi o camarada Eduardo Serra. De 2010 até 2022, temos 12 anos, crescimento da população brasileira e nesse meio tempo, Serra foi pró-reitor da UFRJ, a maior universidade federal do país e do Rio de Janeiro.

Em 2022, com o mesmo Eduardo Serra candidato, tivemos 10.852 votos (0,13% do eleitorado). A votação diminuiu em termos absolutos e proporcionais. E o camarada Eduardo Serra disse, sem ser contestado por ninguém, que isso foi efeito do “voto útil” em Marcelo Freixo. Uma explicação simples, enganosa e facilmente derrubada. Esse argumento não explica como a candidata da UP, lançada na boca da eleição, teve quase três vezes mais votos que o PCB e pegou 0,33% do eleitorado. E tudo isso ficando apenas nos números, sem entrar no mérito político da campanha, como falas complicadíssimas do camarada Serra sobre segurança pública (alguém com um histórico mais que problemático sobre o tema, como sua defesa da PM no campus da UFRJ quando era pró-reitor). 

E nunca é demais lembrar que estamos falando do segundo maior colégio eleitoral do Brasil (tomando as capitais como referência). E no segundo maior colégio eleitoral, em um dos estados politicamente mais importantes do Brasil, não tivemos as nossas maiores votação para deputado estadual (esse lugar fica com Pernambuco), federal, governador ou presidente (tanto em termos proporcionais como absolutos). E esse resultado eleitoral - sem entrar no mérito político da campanha, friso - não recebe nenhuma crítica, questionamento ou avaliação negativa, apenas um autoelogio do seu protagonista

Agora vamos ao exemplo da Bahia. Em 2010, o PCB saiu com chapa pura para o governo do estado. Recebe 4969 votos, ou seja, 0,08% do eleitorado. Em 2022, 12 anos depois, temos o seguinte resultado eleitoral: 5951 votos, conquistando 0,07% do eleitorado. Em 12 anos, conquistando mais mil eleitores (uma média de 83 novos apoiadores/simpatizantes/eleitores do PCB por ano) e REDUZIMOS A VOTAÇÃO em termos proporcionais. Isso sem falar do caráter político da campanha na Bahia. De longe, a pior do Brasil, recheada de memes, fotos engraçadas, ausência do básico da nossa linha política e com o candidato a vice-governador, ao final do pleito, em “sindicância” (???), segundo fala do próprio Milton Pinheiro. 

Poderia citar outros exemplos. Mas só esses dois bastam. O que afirmei na reunião do CR de Pernambuco é que nesse CC, não existe análise científica da nossa prática política, mas panelinhas, grupismo, espantalhos. Por qual motivo a campanha em Pernambuco foi alvo de tantas críticas e ataques e Bahia e Rio de Janeiro - lembro: poderia citar outros exemplos - não tiveram a mesma atenção?

Alguém pode dizer que o centro das críticas foi a campanha em Pernambuco para Sofia Manzano, candidata do PCB à presidência. O argumento é que fizemos pouca campanha, que Sofia ficou “escondida”, que teve poucos votos em Pernambuco se considerado a votação no estado. Poderia fazer diversas considerações POLÍTICAS sobre a força do lulismo em Pernambuco e como nesse estado, diferente de outros como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará, não existe, desde 1989, candidato presidencial progressista ou de esquerda para ganhar de Lula ou no mínimo beliscar boa fatia do seu eleitorado. Mas vou me manter na dimensão dos números. 

Sofia Manzano, no Brasil inteiro, teve uma média de 0,03 a 0,06% da votação presidencial nos estados. Em nenhum estado, não importa o quão boa foi a campanha, Sofia teve mais que 0,06%, e em nenhum estado, não importa o quão ruim ou fraca foi a campanha, Sofia teve menos de 0,02%. O nome disso, camaradas, é uma média nacional. É o espaço político geral que a candidatura do PCB teve no Brasil, com o nível, qualidade e forma da campanha puxando essa média para cima ou para baixo. Vejamos alguns exemplos da votação de Sofia nos estados.

Rio de Janeiro: 4.458 (0,05%)
Bahia: 2.423 (0,03%)
Pernambuco: 1.419 (0,03%)
Minas Gerais: 4.431 (0,04%)
São Paulo:  14.943 (0,06%)
Paraná: 2.744 (0,04%)
Ceará: 1.579 (0,03%)
Maranhão: 727 (0,02%)
Rio Grande do Sul: 2399 (0,04%)
Alagoas: 482 (0,03%)
Paraíba: 634 (0,03%)
Sergipe: 364 (0,03%)
Rio Grande do Norte: 606 (0,03%) 

A votação de Sofia em Pernambuco está perfeitamente dentro da média nacional e Sofia teve, em Pernambuco, a mesma porcentagem de votos que na Bahia, estado com colégio eleitoral muito maior - a Bahia boicotou a campanha, dela, foi?! Vale destacar também que se olharmos a média da votação de Sofia no Nordeste, ela é IGUAL, praticamente exata, em todos os estados: 0,03%. E isso para os estados com campanha do PCB para governador, como Ceará, e para os sem campanha estadual, como Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe. Acredito que ninguém sério vai dizer que isso é apenas coincidência. 

Contudo, falta um ponto. A desproporção de votos que o PCB teve para o governo de Pernambuco e para presidência no estado. É uma ótima questão. Começo, novamente, com números. Em 2014, o PCB teve candidatura própria ao governo do estado, obtendo 2892 votos (0,07% do eleitorado). Em 2022, camaradas, tivemos 33,931 mil votos (0, 69% do eleitorado). Isso dá um crescimento de mais de 11 vezes na votação (mais de 1000% de crescimento). Em nenhum outro lugar do Brasil, o PCB cresceu tanto seu número de votos. Aliás, desde a reconstrução revolucionária do PCB, nunca tivemos um crescimento tão grande de votos em um estado! O camarada Túlio Lopes, na reunião do CC, disse que aumentamos o número de votos para governador do estado. Esqueceu de dizer, porém, que isso se deve em maior medida a Pernambuco (e em segundo lugar, para São Paulo). Se o PCB em Pernambuco, assim como Bahia, Rio, Minas Gerais e muitos outros estados, tivesse mantido a mesma média de votos que teve em 2010 e 2014, o resultado teria sido outro. Vale lembrar que na eleição de 2022, tivemos 140,607 mil votos para governador de estado no total. Quase 1/4 disso é só de Pernambuco.

Só em Recife, capital de Pernambuco, tivemos votação maior que todos os outros candidatos do PCB ao governo do estado, à exceção de São Paulo. Rio e Minas, entre os maiores colégios eleitorais do Brasil, tiveram no total 10,852 e 12,514, votos respectivamente. Só em Recife, tivemos mais de 14 mil votos! Era uma surpresa essa votação? Não. Por uma série de razões que não convém debater aqui, era um resultado esperado. O que fez a direção da campanha de Sofia Manzano? Buscou atrelar a campanha nacional a de Pernambuco para buscar capitalizar esses votos? Não. Um pequeno exemplo. 

Indo no Twitter de Sofia Manzano (rede social de maior repercussão da candidata durante toda eleição), usando a barra de busca (@ do perfil + as palavras Recife ou Pernambuco), temos como resultado apenas 13 citações para toda a eleição! Dessas 13 citações, uma foi em março, no aniversário do PCB, 3 em maio, 1 em agosto e todas as outras durante a ÚNICA visita de Sofia em Pernambuco (boa parte delas, divulgando agenda de atividades). Sofia, seja em suas redes ou entrevistas, NÃO DEBATEU os problemas fundamentais de Pernambuco; nada do que o estado produziu de conteúdo foi incorporado no discurso da candidata e ela veio ao estado apenas uma vez

Uma viagem para Pernambuco sem planejamento, sem organização e sem o mínimo de tato político. Sofia, basicamente, fez atividades em espaços 100% petistas (ou alguém acha que os camponeses da CPT vão votar em Sofia Manzano, candidata que viram uma vez na vida, e não em Lula? ) ou panfletagem arrumadas de improviso para preencher buraco na agenda. A coordenação de campanha de Sofia simplesmente não funcionava, não pensava e planejava nada, e o mesmo serve para a coordenação de campanha do PCB-PE. 

O camarada Fabio Bezerra, no mínimo três vezes durante a campanha, veio falar comigo sobre aspectos da campanha de Sofia em Pernambuco. Talvez Fabio não saiba, mas o secretário político do PCB-PE é Roberto Arrais, o secretário de organização é Kim Taurida e eu não era membro da executiva da coordenação de campanha. Nunca, durante toda campanha, tivemos qualquer documento ou comunicação formal para integrar a comunicação das campanhas, posts conjuntos em redes, coordenar intervenções temáticas e afins. A coordenação de campanha de Sofia Manzano, DURANTE TODO PROCESSO ELEITORAL, não traçou nenhuma estratégia para se aproveitar do potencial eleitoral do PCB-PE e reduzir a força do lulismo em Pernambuco. 

Ao que parece, sem nunca comunicar ao CR de Pernambuco, o esperado é que a campanha para governador, percebendo que teríamos em Pernambuco em média mais votos que o PCB nos demais estados, deveria fazer um esforço adicional para fazer uma transferência a mais de votos. Contudo, nunca houve uma orientação, um diálogo, uma apresentação de TÁTICA ELEITORAL para fazê-lo. Como se estivessem em negação, ou criando uma armadilha, a ideia foi não fazer nada, esperar que a votação para governador fosse muito maior que a para presidente, e no final dizer: Jones não fez campanha para Sofia!!! Tenho certeza que se Sofia tivesse feito em Pernambuco a quantidade de atividades que fez em São Paulo, por exemplo, sua votação seria maior. Mas passando apenas três dias e meio no estado, participando só de atividades internas ou em espaços 100% petistas, e falando do estado menos de 10 vezes em TODA CAMPANHA, devo considerar que o resultado foi muito satisfatório. 

Para terminar esse ponto, cito um exemplo final. Todos sabem o histórico do PCB em Paulista, a força do partido na cidade e as ações do Escambo cultural. Por total falta de planejamento da coordenação de campanha e do CR-PE (e vejam, não acho que essa falta de planejamento foi um boicote proposital contra mim. É possível ver as coisas de forma objetiva!) , fui em Paulista apenas duas vezes em toda campanha (em uma delas, fui fazer panfletagem sozinho). Em Paulista, Sofia Manzano teve apenas 74 votos (temos mais ex-militantes do PCB em Paulista do que Sofia teve de votos). Essa votação, mesmo com o longo trabalho do partido em Paulista, e quase sem campanha para governo do estado na cidade, é de minha responsabilidade também? Talvez eu também tenha matado John Kennedy, crucificado Jesus ou seja o responsável pelo 7x 1 no jogo Brasil e Alemanha.  

Passando agora para outro ponto. O camarada Messias, no seu relatório, diz “Que não ficou para a sequência da última reunião do CC no domingo, por ter se sentido ofendido/incomodado com a forma como o pleno do CC o abordou no sábado”. Não foi isso que falei. Disse que não tinha condições psicológicas de me manter naquela reunião depois de eu ter relatado riscos físicos a mim e minha mãe, a única resposta foi ataques, grosserias e insinuações (como dizer que tinha postura de P2). Para evitar qualquer explosão, não participei da reunião. 

Aproveito para reafirmar o que falei na reunião: não serei uma nova Marielle para meu nome, depois de morto, virar propaganda do partido. Se por total desorganização - que é de responsabilidade do CC e da CPN - ou até mesmo propositalmente não existe nenhuma política de segurança, não me peçam para encarar com serenidade e tranquilidade os riscos à vida da minha família. E caso aconteça alguma coisa comigo, garanto que a ausência total de política de segurança do PCB e as reações a essa cobrança serão conhecidas pelo mundo. Não virarei símbolo na mão de pessoas que não perdem a oportunidade de mentir, perseguir e me boicotar - como os que na boca do Congresso do PCB de 2021, diziam que eu era funcionário de Marcio França, que ele assinava os cheques com meu pagamento pelos textos no portal Socialismo Criativo. 

Por fim, cabe duas considerações. A primeira é que o Estatuto desse Partido, tão desprestigiado nos últimos tempos, diz no III Capítulo, letra c), que é do direito do militante “criticar, fraternal e construtivamente, no âmbito do partido tudo que lhe parecer incorreto nos atos ou conduta de qualquer organismo ou militante”. E na frase “qualquer organismo”, está incluído o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro. No capítulo V, letra d), está escrito “A liberdade de discussão nos organismos e instâncias partidárias” e no artigo 20 do capítulo V, para finalizar, também diz que “Todo militante pode discutir livremente nas reuniões do partido, para expressar suas opiniões sobre qualquer problema, direito que emana da democracia interna”. 

Críticas não significam romper a unidade de ação ou a unidade interna dessa organização. E quando a crítica diz respeito, por exemplo, à AUSÊNCIA DE POLÍTICA DE SEGURANÇA com um militante que sofre ameaças diárias, é um absurdo reacionário dizer que tenho que ficar calado, esperando que aconteça algo comigo. Tenho direito estatutário de fazer as críticas que fiz, reafirmo que no Comitê Central do PCB de hoje existe grupismo, articulações subterrâneas e práticas que ferem o básico da ética comunista - como excluir o camarada Ivan Pinheiro de todas as homenagens nos 100 anos do Partido, talvez buscando deixar o camarada mais triste e matá-lo de forma mais rápida. Morto não tem opinião política, afinal!  (gostaria, inclusive, de firmar desde já um compromisso. Em caso de eventual morte do camarada Ivan, não deixarei, sob hipótese alguma, que os que buscam boicotá-lo e apagar sua história no PCB, façam homenagens cínicas e protocolares). 

Por fim, nunca esqueçam, camaradas, que essa organização tem estatuto e programa político tirado em congresso. As perseguições, processo disciplinares ilegais e expulsões (tão em moda pelas bandas do sudeste) não vão ser normalizadas por mim. Sou militante do PCB e tenho direitos e deveres como tal. 


Um abraço, camaradas! 


terça-feira, 11 de julho de 2023

Gilson Lucas: Um Decano do Direito Bom-despachense

 

Gilson Lucas: Um Decano do Direito Bom-despachense

 

            Sou grande admirador do Dr. Gilson Lucas hoje em dia. É um dos meus melhores amigos. É um amigo herdado do meu pai, como foi, por exemplo, o Fernando Gonzaga, editor do Penetrália, meu primeiro livro.

            Vou, nessa crônica, dar-lhe um doutorado e chama-lo de “Dr”. É uma licença poética. Minha mais antiga lembrança do Dr. Gilson é muito curiosa. Janaína, sua filha, minha amiga de infância na Praça São José, é da minha idade. Há anos ele mora na região da Praça São José, local onde planeja construir um centro de estudos unindo Psicologia e Direito. Lembro-me de estar dançando junto a ela em um carnaval no Clube Social. Éramos pré-adolescentes e, curiosamente, quando ele chegou fiquei envergonhado e afastei-me. Hoje a amiga Janaína voltou a morar aqui perto dele, tornou-se minha colega no Wilson Lopes, voltou de Brasília. O netinho Heitor demonstra gostar muito do vovô Gilson e agora ambos estão mais próximos.

            De origem humilde, Gilson lutou muito para melhorar na vida. Ele fez o caminho do estudo. Com afinco, formou-se em Direito na Fadom, aqui na vizinha Divinópolis. Foi tudo conquistado com muita luta, muito sacrifício.

            Primeiro, Gilson conseguiu entrar para a Polícia Militar de Minas Gerais. Não sentiu, no entanto, tanta vocação. Estávamos em plena ditadura militar e a lida era dura. Passou, então, para o magistério, lecionando Geografia no colégio Tiradentes. Lá, foi colega de minha tia Elizabeth, que então lecionava francês. A partir do salário de professor, conseguiu terminar a faculdade de Direito (a Fadom é particular). Conquistou, então, o trabalho de Defensor Público. Teve um papel destacado nesse cargo. Igualmente, ajudou a construir a maçonaria em Bom Despacho. Galgando passo a passo a carreira jurídica, conseguiu aposentar-se, tendo, nesse ínterim, construído uma linda família.

            Gilson é hoje uma referência na área de Criminalística na cidade e região. Ele comentou que é fascinado em estudar a mente criminosa. Impressionante a capacidade de trabalho desse amigo, gostaria de ser viciado em serviço, “workaholic” como ele.

            Hoje, depois de “sênior”, continua a trabalhar intensamente. Estudou Psicologia na UNA e agora está fazendo pós na mesma área. Já está atendendo na Santa Casa, reunindo já muitos clientes. Relatou sentir muito prazer em trabalhar nessa área de Psicologia. Outro dia ajudei o amigo a gravar um podcast. O podcast é gravado através de um aplicativo baixado da internet. Torna-se, então, uma espécie programa de rádio, com gravação de vozes para serem escutadas em computadores, nessa nossa era da internet. Hoje, na universidade, os trabalhos exigidos são: fazer um podcast sobre um assunto, realizar um vídeo sobre aquele outro. Fica praticamente impossível para quem não fez a transição para o digital. Como o podcast é uma gravação ao estilo do rádio, só com a voz, Gilson Lucas saiu-se muito bem, falando muito bem, com segurança, com sua voz grave séria e madura. É sempre um prazer as palavras desse nosso decano do Direito em Bom Despacho.

            Agora, para trabalhar um pouco menos, ou com mais conforto, Gilson comprou uma roça e agora está tendo o trabalho de mobiliá-la, organizar a obra e coordenar pedreiro e serventes. Quando descansa, esse meu amigo carrega pedras.

            Agora eu e Gilson estamos amadurecendo a ideia de escrever um livro a quatro mãos, partindo do meu contato com ele ao contar suas incríveis histórias. Eu poderia ficar horas escutando-o, mas vamos deixar esses casos para o livro que vai nascer.