domingo, 25 de dezembro de 2016

Trotsky, o Traidor Revelado


Agora, numa escala global, Trotsky procede para o desenvolvimento dessa técnica de propaganda, empregada por ele originalmente contra Lênin e o Partido Bolchevique. Uma quantidade imensurável de artigos ultra-esquerdistas foi empregada violentamente para esse propósito, livros, panfletos e discursos, Trotsky começou a atacar o regime soviético e clamar por sua deposição violenta – não por isso ser algo revolucionário; mas por que era, como ele havia dito, um ato “contrarrevolucionário” e “reacionário”.

Durante a noite, muitos dos cruzados anti-bolchevistas mais antigos abandonaram sua posição pró-czarista e sua linha de propaganda abertamente contrarrevolucionária, adotando uma nova roupagem trotskista para atacar a Revolução Russa “pela Esquerda”. Nos anos seguintes, tornou-se algo aceitável que pessoas como Lord Rothermere[2] ou William Randolph Hearst[3] fizessem acusações contra Joseph Stálin, chamando-o de “traidor da Revolução”.

O primeiro grande trabalho de propaganda de Trotsky para introduzir essa nova linha anti-soviética à contrarrevolução internacional foi sua autobiografia melodramática e semifictícia, intitulada “Minha Vida”. A obra foi primeiramente publicada por ele como uma série de artigos anti-soviéticos em jornais europeus e estadunidenses, seu objetivo com o livro era o de vilificar a figura de Stalin e da União Soviética, aumentar o prestígio do movimento trotskista e apoiar o mito de Trotsky como “o revolucionário mundial”. Trotsky retratou a si mesmo em “Minha Vida” como o verdadeiro inspirador e organizador da Revolução Russa, como alguém que havia sido enganado e destronado de seu lugar de direito como líder russo, traído por figuras de oponentes “astutos”, “medíocres” e “asiáticos.

Leia mais aqui aqui

domingo, 11 de dezembro de 2016

Réquiem Para Gullar

Eu vi o poeta Gullar
Numa conferência na Avenida Santos Dumont.

Agora o poeta não existe mais.

Eu vi o poeta Ferreira Gullar em Ouro Preto.

Ele flanava pela cidade.

Agora não flana mais.

Gullar disse que Menotti Del Picchia.

Não era poeta modernista.

De Picchia comparava-se ao Gedeão do Modernismo.

De Picchia sobreviveu até 1988.

Quando vi Gullar
Sua aparência era de alguém torturado por ditadura militar.

Mas jogando o cabelo com charme e falando seus poemas

Gullar brilhava e se mostrava inteligente.

A poesia de Gullar era a superação de sua feiúra.

A poesia transformava o homem anão Gullar num gigante.

Mao Realmente Disse Isso

 O presidente Mao denunciou: "A União Soviética atualmente está sob a ditadura da burguesia, ditadura da grande burguesia, ditadura de tipo fascista alemão, ditadura de tipo hitleriano".

Outras análises estão aqui . 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Protocolos do Sábio de Liubliana

Para Alphonse Van der Worden, nom de plume de Molly Klein, Zizek é uma pegadinha e muita gente está caindo.

Ela conta que ele era um ativo defensor do fim da Iugoslávia, tomando partido das políticas da USA para seu antigo país. Era ligado aos Democratas Liberais, grupo de falsa esquerda, mas também foi ligado ao suprematista branco Franjo Tudjman. No entanto, ele se reinventou "marxista" para o mundo anglo-saxão a partir do final dos anos 90. Já criticado amplamente por sua leitura de Lacan, misteriosamente prosseguiu com prestígio acadêmico, graças principalmente a filmes e documentários da mídia mainstream.

O texto pode ser lido aqui





domingo, 4 de dezembro de 2016

Lin Piao Estaria Planejando Um Golpe?

Escrevi um artigo contrapondo esse artigo aqui na Revista Cidade Sol. O meu artigo que se opôs ao de Rivaldo defende que Lin Piao planejou um golpe. Já Rivaldo defende que Lin Piao era quem radicalizava para a esquerda e foi golpeado --pelo próprio Mao, inclusive.

Essa organização, a "Luz Guia" fica falando em terceiro-mundismo, mas nunca vi a contribuição do pensamento gonzalo discutida a sério em seus artigos. Menciona-se "os peruanos", mas nunca vi debate ou diálogo a sério.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Os Cadernos Inéditos de Guevara

Os cadernos inéditos de Che Guevara

Michael Lowy

Mantidas em sigilo por décadas, estão disponíveis as Notas em que ele aponta as desigualdades do socialismo real, ironiza os “calhamaços soviéticos” que “não deixam pensar” e começa a compreender a necessidade de democratizar o poder revolucionário
Michael Löwy
Pouco a pouco, Ernesto Che Guevara distanciou-se de suas ilusões iniciais sobre a URSS e o marxismo de tipo soviético. No ano de 1965, em carta ao amigo Armando Hart, então ministro da Cultura de Cuba, ele critica duramente o “continuísmo ideológico” que se manifesta na ilha com a edição dos manuais soviéticos para ensino do marxismo – um ponto de vista convergente com o defendido, na mesma época, por Fernando Martínez Heredia, Aurélio Alonso e seus amigos do Departamento de Filosofia da Universidade de Havana, editores da revista Pensamiento Critico. Esses manuais – chamados por ele de “calhamaços soviéticos” – “têm o inconveniente de não deixarem pensar: o Partido já fez isso por você e você deve digeri-lo” [1].
De forma cada vez mais explícita, percebe-se a busca de um outro modelo, de um método diferente de construção do socialismo — mais solidário, igualitário e radical.
A obra de “Che” não é um sistema fechado, um argumento acabado, com resposta para tudo. Para muitas questões — a democracia socialista, a luta contra a burocracia — sua reflexão permanece incompleta, já que foi interrompida pela morte prematura, em 1967. Mas, em relação a esse aspecto, Martínez Heredia está certo ao ressaltar: “O caráter inacabado do pensamento de Che também apresenta aspectos positivos. O grande pensador está lá presente, assinalando problemas, exigindo que seus camaradas pensem, estudem, combinem a teoria e a prática. Torna-se impossível, quando se assume realmente o seu pensamento, dogmatizá-lo e convertê-lo em um baluarte especulativo de frases e de receitas” [2].
Em um primeiro momento — 1960-1962 —, Guevara depositou muita esperança nos “países irmãos” do chamado “socialismo real”. Mas, após algumas visitas à União Soviética e aos países do Leste Europeu, e após ter vivido a experiência dos primeiros anos de transição para o socialismo em Cuba, ele se mostra cada vez mais crítico. Suas divergências são expressas publicamente em várias ocasiões, especialmente durante o célebre Discurso de Argel [3], em 1965. Mas é a partir de 1963-1964, durante o grande debate econômico realizado em Cuba, que aparecem suas tentativas de formular uma abordagem distinta do socialismo.
Um combate contra o “socialismo de mercado”
Tal debate opõe os partidários de uma espécie de “socialismo de mercado” — com autonomia das empresas e busca da rentabilidade, nos moldes soviéticos — e Guevara, que defende o planejamento centralizado, baseado em critérios sociais, políticos e éticos. Muito mais do que bonificações pelo rendimento e preços fixados pelo mercado, ele propõe que alguns bens e serviços sejam gratuitos. No entanto, há uma questão que permanece não muito clara nas intervenções de Che: quem toma as decisões econômicas fundamentais? Em outras palavras, como ele trata a questão da democracia no planejamento?
A respeito desse tema, e de vários outros, os documentos inéditos de Guevara, recentemente publicados em Cuba, oferecem novas perspectivas. Trata-se de suas Notas Críticas ao Manual de Economia Política: uma reflexão sobre o famoso texto da Academia de Ciências da URSS – um desses “calhamaços” que ele criticava na carta dirigida a Hardt. Foram redigidas durante sua estada na Tanzânia e, principalmente, em Praga, em 1965-1966. Não é um livro, nem mesmo ensaio, mas uma coleção de trechos da obra soviética, seguidos de comentários freqüentemente ácidos e irônicos [4].
Há muito tempo, esperava-se a publicação do documento. Durante décadas, esse permaneceu “fora de circulação”: no máximo foi permitido a alguns pesquisadores cubanos consultá-lo e citar certas passagens [5]. Graças a Maria Del Carmen Ariet Garcia, do Centro de Estudos Che Guevara de Havana, que o organizou, agora ele está à disposição dos leitores interessados. Essa edição ampliada contém, aliás, outros materiais inéditos: uma carta de Fidel Castro, de abril de 1965, que serve de prólogo ao livro; notas sobre os escritos de Marx e de Lênin; uma seleção de anotações das conversas de Guevara com seus colaboradores do ministério das Indústrias, em 1963-65 (já publicadas, parcialmente, na França e na Itália, na década de 1970); cartas a diversas personalidades (Paul Sweezy, Charles Bettelhein); trechos de uma entrevista ao jornal egípcio El-Taliah (abril de 1965).
A obra é, ao mesmo tempo, um testemunho da independência de espírito de Guevara, de seu distanciamento crítico em relação ao “socialismo real”, e de sua busca de uma via radical. E mostra também os limites da sua reflexão.
Visão limitada do stalinismo, crítica ácida ao bloco “socialista”
Comecemos pelos limites: Che, naquele momento (não se sabe se sua análise a esse respeito avançou em 1966-1967), não compreendeu a questão do stalinismo. Ele atribui os impasses da URSS na década de 1960 à Nova Política Econômica (NEP) [6]] pós-de Lênin! Certamente, pensa que se Lênin tivesse vivido mais tempo (“Ele cometeu o erro de morrer”, observa com humor) teria corrigido os seus efeitos mais retrógrados. Permanece convencido de que a introdução de elementos capitalistas pela NEP conduziu às tendências nefastas, indo no sentindo da restauração do capitalismo, que observava na União Soviética de 1963.
Mas nem por isso suas críticas à NEP são sem importância. Elas coincidem, às vezes, com aquelas formuladas pela oposição de esquerda da URSS, em 1925-1927. Por exemplo, quando constata que “os quadros se aliaram ao sistema, constituindo uma casta privilegiada”. Mas a hipótese histórica que torna a NEP responsável pelas tendências pró-capitalistas da URSS de Leonid Brejnev é decididamente pouco operacional. Não que Guevara ignorasse o papel nefasto de Stálin. Em uma de suas notas críticas, encontramos esta frase precisa e surpreendente: “O terrível crime histórico de Stálin” foi “o de ter desprezado a educação comunista e de ter instituído o culto ilimitado da autoridade”. Mesmo que ainda não represente uma análise do fenômeno stalinista, já é uma rejeição categórica.
Em Discurso de Argel, Che exigia dos países que se diziam socialistas que pusessem fim a sua “cumplicidade tácita com os países exploradores do Ocidente”, prática traduzida em relações de troca desiguais com os povos em luta contra o imperialismo [7]. Essa questão é retomada várias vezes nas Notas críticas ao manual soviético. Enquanto os autores dessa obra oficial elogiam “a ajuda mútua” entre países socialistas, o revolucionário argentino é obrigado a constatar que isso não corresponde à realidade: “Se o internacionalismo proletário presidisse os atos dos governos de cada país socialista, seria um sucesso. Mas o internacionalismo foi substituído pelo chauvinismo (de grande potência ou de pequeno país) ou pela submissão à URSS. Isso fere todos os sonhos honestos dos comunistas do mundo.”
Algumas páginas adiante, em comentário irônico sobre a exaltação que o manual faz à divisão do trabalho entre os países socialistas, fundada numa “colaboração fraternal”, Guevara observa: “O balaio de gatos que é o Comecon [8] desmente tal afirmação na prática. O texto se refere a um ideal que “somente poderia se estabelecer pela verdadeira prática do internacionalismo proletário, mas que está, lamentavelmente, ausente hoje em dia”. Na mesma linha, outra passagem constata (com amargura) que, nas relações entre os países que se diziam socialistas, encontram-se “fenômenos de expansionismo, troca desigual, concorrência, até certo ponto de exploração e certamente de submissão dos Estados fracos aos fortes”.
Uma tentativa de articular planejamento com democracia
Por fim, quando o manual fala sobre a “construção do comunismo” na URSS, Che comenta: “O comunismo pode ser construído em um único país?”. Uma outra observação segue o mesmo raciocínio: Lênin, observa o revolucionário, “afirmou claramente o caráter universal da revolução, coisa que a seguir foi negada” – crítica explícita ao “socialismo em um só país” [9].
A maior parte das críticas de Guevara ao manual soviético corresponde de perto aos seus escritos econômicos de 1963-1964: defesa do planejamento central contra a lei do valor e as fábricas autônomas, que funcionam segundo as regras do mercado; defesa da educação comunista contra os estímulos materiais individuais. Ele também se preocupa com o recebimento de uma parte dos benefícios pelos dirigentes das fábricas, o qual considera um princípio de corrupção.
Che defende o planejamento como eixo central do processo de construção do socialismo, porque ele “libera o ser humano de sua condição de coisa econômica”. Mas reconhece – em carta a Fidel – que em Cuba “os trabalhadores não participam da elaboração do plano”.
Quem deve planejar? O debate de 1963-1964 não havia respondido à questão. Os avanços mais interessantes que encontramos nas notas críticas de 1965-1966 são sobre tal assunto: algumas passagens apresentam de forma clara o princípio de uma democracia socialista, na qual as grandes decisões econômicas são tomadas pelo próprio povo. “As massas”, escreve Che, “devem participar da elaboração do plano, ao passo que sua execução é um assunto puramente técnico”. Na URSS, em sua opinião, a concepção do plano como “decisão econômica das massas, conscientes do seu papel” foi substituída por um placebo no qual as alavancas econômicas determinam tudo. As massas, ele insiste, “devem ter a possibilidade de dirigir seu destino, decidir quanto vai para a acumulação e quanto vai para o consumo”. A técnica econômica deve operar com esses números – decididos pelo povo – e “a consciência das massas deve garantir a sua realização”.
Reflexão sobre democracia, interrompida por morte prematura
O mesmo tema é retomado em várias ocasiões: os operários, o povo em geral, “decidirão sobre os grandes problemas do país (taxa de crescimento, acumulação/consumo)”, mesmo se o próprio plano for obra de especialistas. Essa separação, por demais mecânica, entre as decisões econômicas e sua execução é discutível, mas, por meio de tais formulações, Guevara se aproxima consideravelmente da idéia de planejamento socialista democrático. Ele ainda não extrai disso todas as conclusões políticas (democratização do poder, pluralismo político, liberdade de organização), mas não se pode negar a importância dessa nova visão da democracia econômica [10].
Tais notas podem ser consideradas uma etapa importante no caminho de Che para uma alternativa comunista/democrática ao modelo soviético. Um caminho brutalmente interrompido, em outubro de 1967, pelos assassinos bolivianos a serviço da CIA (a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos).
[1] Tal carta, durante muito tempo inédita, é reproduzida por Nestor Kohan em Ernesto Che Guevara. Otro mundo es posible (Buenos Aires, Nuestra America, 2003, pp.156-158).
[2] Martínez Heredia: “Che, el socialismo y el comunismo”, em Pensar el Che, Centro de Estudios sobre América (Havana, Editorial José Marti, 1989, tomo II, p. 30).
[3] Fragmentos do Discurso de Argel estão disponíveis, em espanhol e formto “pdf”, na página web do Centro de Estudos Manuel Rodríguez, do Chile
[4] Ernesto Che Guevara: Apuntes criticos a la economia politica (Havana, Ocean Press, Editorial de Ciencias Sociales, 2006).
[5] Conforme Carlos Tablada: El pensamiento economico de Ernesto Che Guevara (trinta edições desde 1987, a última pela Ruth Casa Editorial, Panamá, 2005). E também Orlando Borrego: El camino del fuego (Havana, Imagen Contemporánea, 2001).
[6] Política iniciada a partir de 1922, após o fracasso da onda estatista que se seguiu à revolução de 1917, e que ficou conhecida por “Comunismo de Guerra”. A NEP, vista por Lênin como um recuo necessário, devolveu parte dos meios de produção a seus antigos proprietários, ou permitiu que fossem administrados em moldes capitalistas. Nota de edição brasileira
[7] Ernesto Che Guevara, Obras 1957-1967. Paris: François Maspero, 1970, tomo II, p. 574.
[8] Espécie de mercado comum dos países do “socialismo real”.
[9] Em contradição com os preceitos “internacionalistas” antes defendidos por Lênin, a teoria política, defendida por Stálin, em 1924, foi adotada pelo XIV Congresso do Partido Comunista da União Soviética em dezembro de 1925.
[10] É interessante observar que, nas discussões com seus colaboradores do ministério da Indústria, publicadas no mesmo volume, várias vezes encontramos a defesa, por Guevara, do princípio da livre discussão. Dessa forma, em um debate de dezembro de 1964, ele insiste: “Não é possível destruir uma opinião pela força, isso bloqueia o livre desenvolvimento da inteligência”.
desenvolvimento da inteligência”.
Le Monde Diplomatique – (outubro de 2007)
O romantismo revolucionário de Maio 68
Justiça para Luiz Eduardo Merlino (1948-1971)!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Verbete sobre Fidel Castro

Leiam meu verbete sobre Fidel Castro no Geacb. Está disponível aqui. Relendo, vejo que há alguns erros (ele governou entre 1959 e 2008) e no final do artigo parece ser entre 1967 e 2008.


sábado, 19 de novembro de 2016

Leon Trotsky Sobre Nietzsche

O jovem Trotsky escreveu um texto correto sobre Nietzsche. Difícil é concordar com o Trotsky maduro. Notemos que Trotsky considera Nietzsche um pensador sistemático:




Porém, o culto do sofrimento não constitui senão uma parte – e não a mais característica – do sistema filosófico de Nietzsche, parte essa que foi, de modo imponderado, colocada no primeiro plano por alguns críticos e exegetas de nossa filosofia.
eixo social de seu sistema (se é que se permite que ofendamos os escritos de Nietzsche com um termo tão vulgar para os olhos de seu autor quanto o é o termo « sistema »)  é o reconhecimento do privilégio concedido a alguns “eleitos” de gozar livremente de todos os bens de existência : esses felizes eleitos estão dispensados não só do trabalho produtivo, senão também do “trabalho” de dominação.

O restante do artigo pode ser lido aqui



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Gerard Lebrun X Roberto Schwarz

 A polêmica entre Gerard Lebrun e Roberto Schwarz ocorreu nos anos 70, mas ainda é atual. A crítica de Lebrun ao livro Pai de Família e Outros Estudos, de autoria de Schwarz, pode ser lida aqui. A resposta de Roberto Schwarz está nesse outro linque

A Revolução Cultural Faz 50 Anos


A revolução cultural chinesa prossegue um assunto muito atual aos cinquenta anos de seu aniversário.

Verifiquei que o assunto foi procurado na web e chegaram a meu blog, pois escrevi detalhadamente sobre o filme A Chinesa, de Jean-Luc Godard.

Indico, então, alguns sites e linques:

Celebrar os 50 anos da Grande Revolução

A Classe Operária Deve Dirigir Tudo

Começa a GRCP

Augusta Luz Foi Preso

Augusta Luz, da Organização Comunista Luz Guiadora, foi há alguns meses preso em Denver. Chamado "Comandante Campo Flamejante", Augusta Luz deve fica preso ao menos uma década. Não consegui saber os motivos e nem a OCLG os revela, o que dizem é que são perseguidos por atuarem em Bangladesh. Possivelmente foi enquadrado na legislação antiterrorismo norte-americana. Para quem está numa organização armada, Augusta se expunha muito.

Leia uma entrevista do Comandante.

A OCLG não está fazendo campanha para libertá-lo, mas curiosamente, fazia muito culto dele enquanto líder.


 O Comandante Campo Flamejante é famoso por elogiar Lin Piao e criticar duramente Mao. É filósofo e escritor com textos e entrevistas em grande parte inéditas em português. Um exemplo de seus textos:




Revolucionários de verdade amam o povo. Dedicamos toda nossa energia ao povo. Colocamos os interesses do povo acima dos nossos interesses pessoais. Quando eles se machucam, nós nos machucamos. Quando nos chamam, nós respondemos. Nós e o povo somos um só. É por ele que vivemos e morremos. Pro povo, tudo, a Terra, e a verdade! Os revisionistas, ao contrário, são pessoas que revisam a Revolução pra fora do movimento. Tendo consciência disso ou não, os revisionistas traem o povo. Sabotar é uma das formas mais mesquinhas de revisionismo. Um sabotador é um sujeito que conscientemente e voluntariamente divide e trai movimentos revolucionários ou anti-imperialistas. É por isso que sabotadores são revisionistas, mas nem todo revisionista é sabotador. Tem uns tipos de revisionista que tem um coração muito dedicado ao povo, mas eles têm umas diferenças genuínas que colocam eles contra a Revolução. A diferença deles pro movimento revolucionário é baseada em diferença política genuína. As ações deles podem prejudicar o movimento, mas não são de uma maldade consciente. Eles podem (e isso é muito frequente) até sentir verdadeiro amor pelas massas oprimidas, mesmo fazendo coisas que vão contra elas.



Leiam o restante no linque da OCLG




                                       
                                         Augusta Luz com bandana vermelha, à esquerda

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Cambodja Antes da Invasão Vietnamita


Uma reportagem feita por jornalistas norte-americanos no Cambodja mostra o quanto Fidel Castro mentiu sobre o Cambodja para justificar a horrenda invasão vietnamita.

Vejam no scribd aqui

domingo, 13 de novembro de 2016

"Esse era o maoismo na prática", disse Fidel sobre o Cambodja de Pol Pot

Segue abaixo impressionante justificativa de Fidel Castro para a invasao do Cambodja em 1979. Curioso como Castro repete ataques que são feitos no mesmo tom e teor que são feitos a ele também: genocida, ditador que distorce o socialismo, que controla a vida privada, etc. 

Mais recentemente, quando Teng Siaoping morreu, Castro disse que Siaoping era uma pessoa sábia, mas cometeu um erro. Disse nos USA que Cuba tinha que ser castigada. Mas no discurso abaixo, disponível no linque, Castro chama Siaping de mentecapto, fantoche, sem vergonha, dentre outros ataques. Castro estava repudiando o ataque dos chineses aos vietnamitas em retaliaçao da invasão ao Cambodja. Foi nesse ínterim que Teng Siaoping, sem responder os insultos, disse que Cuba e Vietnã tinham que ser castigados, pois eram como crianças mal criadas. E, como ele disse isso nos USA, foi entendido por Castro como um convite: "castiguem Cuba vocês, como nós castigamos o Vietnã". De resto, a guerra entre China e Vietnã acabou dentro de pouco tempo. Seguem as mentiras de Castro contra Pol Pot. As cidades foram evacuadas porque não havia ajuda humanitária estrangeira e elas estavam superlotadas e famintas. As pessoas foram retiradas para cooperativas onde passaram a produzir e se alimentar. No depoimento de uma equipe de jornalistas ao Cambodja, o regime de Pol Pot não permitia os casamentos arranjados mais, ou seja, é o contrário do que cacareja Castro. E outra: era o Cambodja que só podia contar com a China e alguns poucos não-alinhados como a Iugoslávia como sendo seus aliados. Eram eles que estavam cercados. E podemos dizer que Pol Pot e seus seguidores aplicaram o marxismo ao Cambodja, inspirados pelo maoismo. Se um regime não podia se assentar sobre essas bases, porque o Vietnã precisava invadir. Não foram genocidas, foram vítimas de um genocídio causado por bombardeios norte-americanos, pela ditadura militar de Lon Nol e pela crise humanitária causada pela invasão do Vietnã. 



Que fizeram ali? Bom, pois em nome da revoluçao, em nome do socialismo, estabeleceram um dos regimes mais monstruosos que se tem conhecido nos ultimos tempos; desalojaram as cidades na ponta das baionetas. Isto não quer dizer que uma cidade não possa ser evacuada em um momento, em uma situacao, em uma necessidade. Um método revolucionário é a persuasao com o povo, com as massas, quando existe uma necessidade real de tipo militar ou de qualquer tipo que resulte imprescindível. Evacuaram as cidades na ponta de baionetas. Separaram os membros das famílias uns de outros, organizaram gigantescos campos de concentracao. Chegaram até mesmo a estabelecer o matrimonio por...nao sei se por decreto. Não, nao, coisas raras, raras. Diziam a alguem a quem casar. Matrimonios obrigatorios. Por outro lado separaravam os homens das mulheres, os filhos da familia, e liquidaram praticamente todos os tecnicos do país, cometeram massacres inacreditaveis. Isso todo mundo sabe. Isto não é coisa nova, ao extremo se diz que morreram 3 milhoes de pessoas em dois anos e meio ou tres anos. Esse era o maoismo na pratica, um maoismo que os chineses nao aplicaram nem na China, aplicaram no Cambodja. Foi um verdadeiro genocídio. Não havia governo que pudesse se manter sobre essas bases. Era absolutamente impossível. Era uma política de extermínio por um lado, de cerco a Vietnam por outro lado; estimulavam os fascistas cambojanos a fazer agressoes contra o Vietna. As agressoes comecaram na fronteira do Cambodja. Por aqui estao os documentos onde se refletem os massacres de dezenas de milhares de vietnamitas. Homens, mulheres, crianças. Um dos governos mais brutais, mais criminosos, mais genocidas que se tem conhecido. 


Leiam o restante desse impressionante

discurso de Fidel

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Para Marilena Chauí, Autocrítica é Stalinismo e Inviabilizaria o PT! Por isso sou stalinista! Sou Autocrítico

Disse: “Fico uma fera quando dizem que o PT precisa fazer autocrítica. Essa expressão foi inventada pelos tribunais do estado”.
Referia-se ao estado soviético, embora sem mencionar o nome da extinta pátria do socialismo. Lembrou apenas que “autocrítica” foi a palavra-chave na farsa dos julgamentos de Trótski, Bukhárin e outros bolcheviques dos anos 30.
Assim, para a ex-discípula e psicógrafa do filósofo libertário francês Claude Lefort, a mera ideia de um partido discutir seus erros numa democracia remete ao terrorismo totalitário dos Processos de Moscou.
Sua conclusão, porém, foi digna de um apparatchik da corte de Stálin: “Não podemos cobrar aquilo (a autocrítica) que inviabilizaria (o partido)”. Assunto encerrado.


O restante do texto é interessante, mas não concordo com tudo. Leia mais aqui

A ALN voltou?

A ALN voltou?

Leiam um trecho do manifesto:


Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes. Não somos capachos que dependem de votos ou de outras pessoas para realizar sua obrigação revolucionária.


O restante está aqui aqui. Será pegadinha?

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Verbete de Che Guevara no Grupo Cipriano Barata

Guevara acreditava e vivia o sonho do igualitarismo socialista. Morou durante muito tempo em uma casa em ruínas na Bolívia, casa cuja mobília era somente um prego na parede onde ele colocava suas roupas. Em Cuba, morou em uma mansão praticamente sem nada na parede e sem mobília: desprendido, ele passava tudo adiante para pessoas pobres. A esposa lhe pedia um carro oficial, mas ele mandava que ela fosse às compras de ônibus “como uma pessoa qualquer”.

O restante do verbete está aqui 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dilemas Fáusticos: Crítica do Texto Reconstruir a Esquerda

O texto Reconstruir a Esquerda, de Ruy Fausto, a meu ver ajudou pouco nessa reconstrução. O texto, a meu ver, tem passagens que eu gostaria de ressaltar em itálico:


"A campanha contra o impeachment no Brasil foi um importante movimento, a ser sempre saudado e comemorado, embora tenha sido feito sob a hegemonia de um partido que não é propriamente um modelo " (FAUSTO, 2016, p. 44).


A campanha contra o impeachment, Fausto, foi deprimente, pois implicava em sair às ruas defendendo pessoas comprovadamente corruptas. E, por fim, foi abandonada pelo próprio Lula e pelo PT, que preferiu jogar politicamente no parlamento.


"Tudo considerado, contudo, o tipo de violência de esquerda que se tem assistido há alguns anos na USP é propriamente lamentável. Que a esquerda não se engane: seus efeitos são negativos. Pode levar à destruição da universidade." (FAUSTO, 2016, P. 45).


Fausto, Fausto, se a ocupação era justamente contra o sucamento da universidade, contra as salas de aula superlotadas, com a diminuição das verbas, etc. Foi exatamente o contrário: a ocupação buscou preservar a universidade!


O balanço da experiência totalitária de esquerda é o de muitas dezenas de milhões de mortos, sendo os pontos altos desse massacre a fome stalinista dos anos 30.

Segue-se uma peroração que mistura O Grande Salto para Frente de Mao Tsé Tung, o grande terror dos anos 30, A Revolução Cultural Chinesa e a façanha de Pol Pot, a quem ele atribui ter matado 2 milhões de mortos, mais ou  menos um quarto da população do Cambodja. 

Fausto, você deveria criticar Trotsky e Gramsci que são a base teórica do PT e não Mao, Stálin e Pol Pot.  Isso que você elenca como derrotas são justamente os sucessos do socialismo. A coletivização dos anos 30 acabou com a fome. Mesmo o livro Perestroika de Gorbachev registrava isso. Igualmente, o tal grande terror expurgou a quinta-coluna da URSS e os oportunistas do partido, possibilitando a vitória contra Hitler. O Grande Salto formou as bases da industrialização que faz da China uma grande potência hoje. A Revolução Cultural Chinesa foi uma experiência de democracia direta, com os jovens assumindo efetivamente parte do poder com as Guardas Vermelhas. Possivelmente gerou um alicerce e um aprendizado que ajudou a manter o partido comunista encabeçando a China até hoje em dia. Ainda que cometendo erros, sem dúvida fez avançar o marxismo. Igualmente Pol Pot e seu partido não mataram um quarto da população do Cambodja. A partir do momento em que os USA exportou a guerra do Vietnã e bombardeou o Cambodja, foi responsável pelo genocídio. Aliás, a acusação de genocídio contra Pol Pot começou quando os cambojanos passaram à embaixada da Alemanha Oriental a informação de que a ditadura militar apoiada pelos USA no Cambodja e os bombardeios estadunidenses, teriam sido responsável pelo genocídio de um milhão de cambojanos.

E outra: existem artigos acadêmicos a respeito, Fausto???



Sobre os processos por corrupção no Brasil, ele afirma que: "a situação geral, guardadas as proporções, é mais ou menos inversa à dos processos stalinistas" (FAUSTO, 2016, p. 46).


Não, Fausto, a situação é semelhante. Diga-se de passagem que essa é a melhor parte de seu artigo, quando você nota que, por medo do totalitarismo, Marilena Chauí nega-se a fazer autocrítica. Mas podemos dizer que, tanto no caso dos processos contra os petistas quanto contra Bukharin e Kamenev, há evidências de que fizeram o que eram acusados de fazer, exageros e injustiças à parte. O pior do artigo vem a seguir.



"Isso não quer dizer que toda intervenção americana seja necessariamente condenável. É discutível se não teria sido melhor, para os norte-americanos e para o mundo, ter ousado atacar o ditador sírio Bashar Al-Assad, por exemplo, em vez de recuar e se omitir" (FAUSTO, 2016, p 51)


NAO, FAUSTO, MIL VEZES NÃO! Os USA só não atacaram a Síria porque Rússia, China e Irã se mobilizaram e não deixaram. De forma alguma teria sido melhor, pois teria aberto para o ISIS, para a desagregação do estado e para crise humanitária. Teria sido melhor a III Guerra Mundial, Fausto! Não, mil vezes não! Não venda a alma ao diabo, Fausto!!!

Fora a crítica a Chauí, há de interessante também sua crítica ao  populismo, que deveria ter sido melhor atrelada ao castrismo.  O castrismo é erroneamente agrupado nos totalitarismos e vc chega a dizer que se o castrismo chegasse ao poder você iria para uma embaixada.

No entanto o castrismo hoje apoia os populismos como de Lula. E apoiou o sistema pluripartidário na Nicarágua, assim como a economia mista. Você não tem muito a temer o governo Temer, se você apoiava Dilma em algum grau. Foi trocar seis por meia dúzia. Pois você é, no fundo, também um reformista, Fausto.

Você acredita no mito dos milhões de mortos do socialismo, Fausto! Então você é inspirado em Hitler, pois Minha Luta foi a primeira obra, em 1923, a trazer essa explicação.












domingo, 23 de outubro de 2016

Verbete de Barravento


Leiam o meu texto sobre Barravento no Geacb. O linque está aqui

sábado, 22 de outubro de 2016

Trotsky: Exílio e Morte de um Revolucionário: Resenha de Uma Biografia




            A recente biografia Trotsky, Exílio e Morte de Um Revolucionário, de Bernard Patenaude, tem elementos em comum com o texto de Alejandro Padura (O Homem e os Cachorros), assim como com o filme de Joseph Losey, O Assassinato de Trotsky (1972). A história da vida de Trotsky é contada como se fosse um thriller. Ela inicia-se como assassinato do biografado e aí então retrocede para contar a história de vida do político.
         O que se encontram atualmente são biografias de Trotsky: seus livros não são reeditados. Ele não é lido de forma crítica pelos trotsquistas, que tendem a fazer o culto de sua personalidade.
            O enfoque da biografia são mais os fatos polêmicos que o envolvem o político do que sua produção intelectual. Trostsky não gostava de ser criticado e sim cultuado, tinha em sua maioria admiradores jovens e não amigos, o que prejudicou consideravelmente sua articulação política; não se importava muito em beber e comer bem, nem ficava muito tempo em jantares sociais. Não gostava de beber ou fumar e detestava “vestidos longos” e conversar coisas comezinhas, fúteis. A comida em sua casa era insossa e sua esposa, alguém muito triste. Há um grande contraste, nesse ponto da comida, entre ele e Stálin, alguém que apreciava pratos apimentados. Os georgianos são os baianos da União Soviética, como observou Glauber Rocha.
            A vida de Trotsky foi, conforme essa biografia, totalmente marcada pelo confronto com Stálin, a quem ele atribuía todas as suas desgraças, assumindo claros indícios de paranoia. O biógrafo considera que Trotsky era um “herdeiro natural” de Lênin, mas quando menciona Gorbachev observa que o líder soviético nunca reabilitou Trotsky, considerado pelo responsável pela perestroika um grande crítico do leninismo. Para Patenaude, Stálin “passou a perna” em Trotsky. Ora, como pode uma “mediocridade” enganar um “gênio político”. Essas e muitas questões ficam em aberto.
O suicídio da filha de Trotsky foi atribuída ao stalinismo, mas a filha não se dava bem com Trotsky, que não a tratava com afeto e não lhe escrevia cartas, mesmo ele sabendo que ela estava em depressão --e tendo lhe suplicado que o fizesse. A operação de apendicite que matou o filho de Trotsky em Paris em um hospital russo também teria sido armada pela polícia política. O texto alega que o Sergei Trotsky era vigiado por um amigo espião soviético, Mark Zborowski, mas a seguir se pergunta: por que matariam Sergei, se ele os municiava com informações e não desconfiava de Zborowski?
O tom nebuloso cerca também a figura de Jacson Monard, o assassino de Trotsky. Ele conviveu durante muito tempo na casa de Trotsky e chegou a dizer, depois do ataque dos comunistas, que a polícia política usaria, nos novos ataques, outras táticas. Jacson frequentou a casa de Trotsky durante anos, foi namorado da trotsquista Silvia, prestando-lhe inúmeros favores e escrevendo artigos que Trotsky comentava. Perguntando a respeito do ataque de Orozco, não respondeu quais seriam. Não seria um erro muito primário para um agente que tramava matar Trotsky? Patenaude também registra, discretamente, que Jacson jamais admitiu ser agente soviético. A biografia deixa totalmente de lado a hipótese de crime passional: Trotsky era contra o casamento dos dois.
Para Patenaude, “ondas de choque” da II Guerra chegariam até a URSS, onde as massas proletárias se uniriam para derrubar a “burocracia stalinista”. Com isso contava Trotsky, pois nesse momento ele e seus seguidores seriam convidados a liderar a luta para liderar a democracia dos trabalhadores na União Soviética. Mas uma rebelião dessa, depois da chegada de Hitler ao poder, não abriria as portas do país para uma invasão alemã? Igualmente, se essas ondas de choque eram esperadas, explica-se a repressão de Stálin frente a uma possível revolta. No entanto, nega-se que qualquer revolta na URSS tenha tido apoio de Trotsky. Ele é sempre visto como vítima, quase um Cristo, alguém que jamais revidou a todas as perseguições, nem tramou atentados, etc.
A biografia levantou um questionamento interessante quanto aos Processos de Moscou: “Eles estavam causando dano à reputação internacional de Moscou num momento de grande perigo internacional, por que então iria Stálin optar por encená-los, a menos que a conspiração trotsquista fosse legítima? (...) Será que Stálin teria mesmo sido capaz de arriscar tudo, sabendo que um dos malfadados homens poderia decidir no último instante surpreender o traidor Vishinki e deixar sua marca na história, soltando a verdade?” (PATENAUDE, p. 42-46). Boa pergunta: se era uma encenação, por que correr o risco diante da imprensa internacional? Por que permitir, como foi permitido, que os acusados negassem algumas das acusações? Trotsky alegava que todos estavam muito interessados em sobreviver e que suas famílias mesmo sofriam ameaças ou estavam reféns.
Uma vez no México, Trotsky enfrentou críticas de liberais como John Dewey, que simpatizava com sua causa, no sentido de aproximar a prática de Trotsky no tempo do partido bolchevista ao reprimir a base naval de Krondstadt à repressão que ele mesmo sofria. Ele deveria, no entender desses liberais, renunciar ao “mito de outubro”. O próprio Patenaude, embora claramente simpático a Trotsky, tende a propor essa renúncia, pois passa como gato sobre brasas por temas que poderiam comprometê-lo, quais suas divergências profundas com Lênin e Stálin. Nos anos 30, era bem mais ressaltada a continuação entre bolchevismo e  Stálin do que agora. Patenaude observa a situação difícil em que ficava Trotsky nesse caso, obrigado a criar o termo “stalinismo” e a inventar uma suposta burocratização que teria ocorrido a partir de 1929 como forma de condenar o partido bolchevique.
Resta também saber porque Trotsky teria aventado hipóteses absurdas, tais como a possibilidade de que a guerra da URSS contra a Finlândia em 1940 pudesse desencadear uma guerra civil na Finlândia, hipótese amalucada que provocou divergência entre os trotsquistas. Será que Trotsky estava colaborando com os nazis e os japoneses secretamente e apoiando da boca para fora a URSS? Patenaude não chega a aventar tal hipótese.
Trotsky, sem dúvida exímio orador e eloquente escritor, fracassava de forma retumbante em lidar com as pessoas e mediar os conflitos dentro dos grupos trotsquistas. Confrontado com argumentos contrários, enfurecia-se.
Patenaude amenizou: 1) os choques com Lênin e seu teor, pois Trotsky negou o partido de vanguarda, assim como a possibilidade de construir o socialismo na URSS sem uma revolução na Europa. Trotsky não aceitava o centralismo democrático. Em minoria, queixava-se de estar sendo esmagado e cerceado, em maioria, buscava calar os adversários. E não o aceitou, na prática, depois de julho de 1917, quando entrou no partido bolchevique. Mesmo perdendo internamente, seu grupo insistia em adotar suas próprias decisões, como num partido de tendências como o PSOL e o PT. 2) A tentativa de exportar a revolução para a Polônia, um desastre inspirado pela teoria da revolução permanente de Trotsky; 3) Divergências entre Lênin e Trotsky em Brest-Litovsky, quando Trotsky negou a ideia do acordo de paz de Lênin, e, graças a boatos que diziam que Lênin era agente alemão, propôs que não se faria nem a paz e nem a guerra, o que resultou em desastre.
A trajetória de Trotsky foi coalhada de derrotas: foi derrotado ao optar pelo partido menchevique; foi derrotado novamente ao entrar no partido bolchevique; foi derrotado finalmente nos anos 30, quando sua política despertou a desconfiança de que estivesse secretamente a serviço da Alemanha nazista, tal como quando foi intransigente contra a aliança entre os trotsquistas e a frente popular na Espanha, não atendendo aos apelos e análises dos próprios trotsquistas espanhóis, a quem tratou de expulsar e atacar nessa ocasião. Ficou bem evidente que ele colocava como prioridade absoluta derrotar Stálin e voltar para URSS, pagando o preço que fosse necessário, mesmo que tivesse que sacrificar a Espanha aos nazistas. Viveu boa parte da vida escondido dentro de casa, vendo inimigos por todos os lados: na prática como um prisioneiro.
            A parte mais fascinante da biografia não é a parte política, a meu ver, e sim sua movimentada relação com diversos artistas, dos maiores do século XX: a amizade e o rompimento com Diego Rivera, seu caso com Frida Kahlo, seus diálogos com André Breton, que furtou ex-votos em uma igreja, enfurecendo Trotsky, a quem o surrealismo cheirava a religiosidade. Rumoroso e impressionante também foi o suposto ataque do pintor Orozco e dos comunistas contra a casa do líder russo. O ataque foi tido pela polícia como uma farsa armada por Trotsky, tal a inabilidade que demonstraram os atacantes, que atiraram em tudo, menos em Trotsky.
            Patenaude fez uma biografia em que evita os temas mais espinhosos para Trotsky, mas ao mesmo tempo podemos notar que não é trotsquista: ele chama da revolução de outubro de 1917 de “golpe de outubro!”


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Impeachment: golpe ou política democrática



Enfim, concordo totalmente com Erik Hg! Parabéns, Erik! Segue um artigo de Erik Hg sobre impeachment ou golpe.

Dizem por aí que a política brasileira é uma farsa. Que não dá mais pra acreditar nela. Que o partido popular enganou o povo. Que as elites deram um golpe e que o golpe ainda está acontecendo. Que a Constituição foi rasgada e democracia acabou. Etc.
A política brasileira é uma farsa? O que ela devia ser, senão… política?
Política não é igreja, é guerra.
Aos crentes da política celestial dos anjinhos, cabe dizer algumas coisas.
Pra começar, a Dilma não precisa se preocupar. O Collor, quem diria? e sendo quem é, conseguiu se eleger senador depois de sofrer um “golpe” muito pior. E também porque o PT não enganou ninguém. Os desiludidos é que nutriram esperanças e ilusões ingênuas sobre ele (e agora por coisas piores). Mas vamos ao que interessa.
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O PT não foi apeado do poder por meio de um golpe.
Não houve ruptura institucional, a Constituição não foi rasgada e a democracia não acabou.
Ao contrário, estamos em plena e puríssima vigência da democracia do Estado de Direito burguês, e a Constituição continua firme e forte a serviço do capital. Não houve golpe, mas sim uma manobra política – no sentido mais íntegro da palavra, ainda que seu conteúdo não o possa ser.
Todas as medidas “golpistas” do atual governo, bem como sua própria entronização, passam por sobre um tapete vermelho no Congresso eleito pelo povo e “para o povo” – onde, aliás, o PT permanece enquanto oposição e, tal como no caso do próprio PMDB na ditadura militar, contribui para legitimá-lo.
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É claro que há quem ache estranho, imoral e inadmissível – por achar que se trata de uma legitimação do impeachment – que eu diga que o tal golpe “contra a democracia” nada mais foi que pura política operando em perfeitos marcos democráticos.
Eu não legitimo política alguma, e política alguma requer minha aprovação. Me interessa é dizer o que as coisas são, tais como elas são.
O tal golpe “contra o Estado Democrático de Direito”, muito antes pelo contrário, em nada atentou contra esse mesmo Estado.
Aliás, pondo os pingos nos is, tal manobra política não passou da mera demissão do PT do cargo de serviçal da burguesia.
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Longe de querer enfraquecer as lutas contra o governo Temer, a minha preocupação é justamente chamar a atenção para o efeito prático desmobilizador do uso do termo.
Quando o PT vende a tese do “golpe” e todo um varejo passa a distribuí-la, nada mais fácil para a direita que contra-golpear essa tese lembrando duas ou três coisas:
1) o “golpe” em questão está previsto na Constituição, e todas as instituições democráticas, longe de serem ameaçadas por tal “golpe”, o referendaram. O TCU rejeitou as contas, a Câmara dos Deputados autorizou a instauração do processo, o Senado admitiu sua abertura, o STF barrou todos os recursos impetrados pelo Governo, a OAB recomendou, etc. Quem podia dizer que era expediente ilegítimo, pois que engolfava o jurídico no político, o fez: José Eduardo Cardoso participou de todos os trâmites, apresentou impecável defesa de Dilma, e perdeu em todas as instâncias. Decerto, não se esqueceu que o que seria o “jurídico” estava sujeito a voto em todas elas. Mas, se isso é golpe, por que legitimou, de cabo a rabo, todo o processo?
A propósito, quem fala em “politização do judiciário” e “judicialização da política” parece se esquecer que o primeiro é (ainda que circunscrito às bolhas tribais da magistratura) perfeita e integralmente político, e a segunda é que elabora as leis (mesmo quando absurdamente ilegítimas).
2) é preciso explicar (e convencer) por que o impeachment de Collor (apoiado pelo PT) não foi golpe. O que era crime nesse caso e no caso atual é objeto de análise e decisão do Senado, e em ambos os casos o Senado concluiu pelo impeachment.
3) é absurdo forçar a aproximação do que há de comum entre Dilma e Jango, quando as diferenças são gritantes; em outras palavras, o que a palavra de ordem petista faz é esticar o conceito de golpe até o ponto em que se possa encaixotar o impeachment da Dilma dentro dele. No entanto, com isso se abre uma “jurisprudência” para se qualificar de golpe uma enormidade de ações políticas triviais, e de se perder de vista exatamente a especificidade daquilo que, até então, não era nada trivial, mas sim um golpe.
A partir desses argumentos, nada impede a direita de dizer que essa é apenas mais uma tentativa do PT em enganar o povo, que já anda bastante escaldado.
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A militância e sub-militância petistas, por sua vez, insistem no brado contra o “golpe”
1) ao confiarem na sofistaria que avaliza a idéia de que a democracia está em disputa, quer dizer, que ela pode ser conquistada, melhorada, aperfeiçoada ou até mesmo se tornar “de esquerda” (resta saber de quem seria essa proposta, já que o PT só é democrata da boca pra fora). Em consequência, se lançam a essa disputa de convencimento afirmando que ela, a democracia, e não o PT, é quem foi derrotada pelo “golpe” (apesar do PT ter seguido e legitimado o processo até o fim e toda a vida política brasileira, em todos os aspectos, permanecer tal como antes).
2) ao acreditarem que a política é uma prática que pode se harmonizar com os interesses dos trabalhadores (para não dizer: com os interesses humanos, na medida em que o interesse humano por valorizar capital é um interesse totalmente estranhado e alienado), donde resvalarem na crença da “ética na política” e na fantasia da “boa política”, comandada por heróis e salvadores da pátria, etc. (pura mitologia política, mais velha que o governo de Péricles). Por tudo isso, insistem em manter o foco das lutas e das críticas no âmbito do Estado, campo de batalha da direita por essência e excelência.
No entanto, essas crenças resultam, na prática, em impotência política e na chorumela da falsa crítica do ressentimento.
É preciso assumir que o PT vacilou, dançou e rodou na arena da política. E que a tentativa de angariar força por meio de uma tese equivocada como essa (se é que não passa de um marketing político feito às pressas) não resultará em uma força política que há de contar com a adesão da força de um entendimento claro e honesto.
Se bem que, ao menos, reuniu em sua defesa um bocado daquelas esquerdas que sempre desprezou.
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Agora, vejamos o outro lado.
Reconhecer que não houve golpe é reconhecer a verdadeira fisionomia da democracia burguesa, do Estado e da política em geral.
Este é um momento histórico propício, como raríssimas vezes se tem na história a oportunidade de se viver, para abrirmos os olhos a este fato.
É reconhecer que a democracia nada mais é que a forma que os interesses particulares, ou melhor, os capitais privados (reunidos em grupos ao redor de permanentes ou eventuais pontos comuns) disputam a tribuna da qual irão se proclamar interesses gerais, “da nação”, “do povo”, “do Brasil” etc.
Como se trata de uma arena onde combatem interesses particulares, ocasionalmente se apresentarão os que falarão em nome do trabalhador, sempre por ele, nem sempre para ele – e se tornarão aptos a servirem de jantar para as demais hienas.
Mas quem alega haver crise de representatividade na política apenas compartilha a mesma ilusão dos que denunciam agora o “golpe”. Desde quando a política visa representar o povo, ó cidadão da Disneylândia?
O poder político não emana de nenhuma forma de misticismo, tal como a “soberania” popular, e sim do poder material, econômico, o qual está muito bem representado na democracia.
Aliás, é o fato de haver tal poder econômico, ou seja, dominação social e secção da sociedade em classes, que explica a existência, a necessidade e os fins da política.
E é sobre a sociedade de classes que se ergue o Estado, a comunidade política dos cidadãos.
A cidadania é o resgate da comunidade perdida no mar burguês da competição universalizada, mas tudo nela é abstrato. O indivíduo se torna aí um punhado de números, por meio dos quais se decreta a igualdade de todos perante o Estado (escamoteando as diferenças sociais que vigoram na realidade cotidiana); e é assim que a expressão de sua sociabilidade na ética se degrada em códigos do Direito. A cidadania é, pois, o laço da comunhão de uma moral heterônoma, estatal, política, um “contrato social” imposto ao indivíduo; e o Estado jamais deixa de tutelar, pela lei e pela polícia, os membros dessa comunidade fantasmagórica, com o que não logra introjetar valores morais na formação dos princípios éticos de pessoa alguma, senão o medo.
O Direito é anti-ético. Tal como a moral, trata-se de um conjunto de normas que regula as relações sociais; porém, ao contrário dela, não emerge a partir de interações comunais e nem se afirma pelo reconhecimento de sua validade mesma, mas se impõe aos indivíduos em mútuo estranhamento de um ponto exterior e acima deles, se fazendo valer pela ameaça da sanção e, por tudo isso, evidenciando um caráter heterônomo, pueril, imputador, jamais permitindo e estimulando a autonomia, liberdade e responsabilidade dos indivíduos. O Direito é, assim, a expressão perfeita da hostilidade e da alienação que impera na sociabilidade anti-social da concorrência de todos contra todos.
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Muitos et ceteras caberiam listar aqui, mas o que foi dito acima já é suficiente para uma conclusão.
Os termos da alternativa são os seguintes: ou os trabalhadores se levantam contra a democracia burguesa, isto é, contra o Estado, isto é, contra o Direito, isto é, contra a cidadania, isto é, contra a política, ou vão continuar catando cascalho nas rebarbas da historieta tupiniquim. Donde não caber aos trabalhadores a defesa da democracia, mas sim a agudização das contradições da sociabilidade burguesa que ela possibilitou que aflorassem, visando e forçando a resolução de tais contradições – algo que democracia nenhuma pode permitir ou realizar.
Comecemos por uma greve geral, já!

sábado, 15 de outubro de 2016

Erik: Um Marxiano Contra a Dialética



Um bate bola entre eu e um marxiano antidialético. O texto dele, na íntegra, está disponível no blog dele, as minhas observações estão em itálico.




Marx: o materialismo contra a dialética

Certos marxistas gostam de dizer que o marxismo se corrige e se apura ao longo de sua história, através de “contribuições” dos mais díspares autores, cujo marxismo e contributo são garantidos por sua fidelidade ao “método do materialismo dialético”. São incapazes, entretanto, de corrigir ou eliminar essa farsa chamada “dialética marxista”.


Erik: como assim? Quem são seus inimigos, Erik? Que marxistas seriam esses? Eu? Engels? Stálin? Você vai desfazer essa farsa para nós? Aguardo ansioso. Marx é contra a dialética? Que interessante! Que descoberta.


Há, dentre outros mais, um texto de Marx claríssimo na crítica à dialética. É o capítulo “O Método da Economia Política”, de seu livro “Miséria da Filosofia”, onde mostra que o pensamento dialético está na verdade em Proudhon, de quem Marx critica o procedimento de encaixotar as categorias econômicas em categorias lógicas, produzidas por um ato especulativo que consiste em galgar os graus da abstração até se chegar em um patamar vazio de determinações, donde tais categorias serem “puras”; posteriormente, tais categorias são organizadas logicamente, e pronto: nasce mais um sistema dialético.

Vejamos o que diz João Quartim de Moraes a respeito:

A singularidade do texto que apresentamos no original, acompanhado da sólida e elegante tradução preparada por Fausto Castilho em 1996, está em que é a mais longa, densa e sistemática discussão sobre o método na obra de Marx. Ele também tratou do tema no Posfácio à 2ª edição alemã de O capital, mas principalmente para comentar resenhas sobre a 1ª edição. Cita uma longa passagem de uma delas, publicada no Correio Europeu de São Petersburgo, em que o autor expõe o que chama o método efetivo (wirkliche) de O capital. Ora, nota Marx, o que essa exposição, “acertada” e “benevolente”, descreve é o “método dialético”. Mas, por mais pertinente que tivesse sido a caracterização de seu método pelo resenhista russo, ele julgou útil consagrar à questão os cinco parágrafos restantes do Posfácio, principalmente para esclarecer as relações entre sua dialética e a hegeliana. Declara primeiro que seu método “é a antítese” do hegeliano, mas, defendendo Hegel contra os que pretenderam enterrar-lhe a obra, enuncia o célebre tema da inversão materialista da dialética, que separa o núcleo racional do envoltório místico. É evidente a importância desse Posfácio para o debate sobre a postura de Marx perante a dialética e a herança hegeliana, porém é no texto sobre o método da economia política que ele mostra como seu método funciona.


Falar de um “materialismo dialético” é cair imediatamente em uma contradição nos termos, pois enquanto o materialismo é ontológico – trata “o ser” não como categoria pura comum a tudo que existe (e que, portanto, nada tem a dizer de coisa alguma), mas considera “o ser” como um ser, uma coisa, um objeto, síntese de múltiplas determinações, ou seja, concreto, particular, específico, que apela não apenas ao pensamento mas também aos sentidos (pois dentre sua riqueza singular de predicados estão os que o tornam material) -, a dialética é um logicismo, uma fórmula metafísica dotada de “princípio”, não importa que não seja o ser “positivo, estático, eterno, imutável, infinito, perfeito, uno, em-si, esférico, absoluto” da metafísica tradicional (categorias do tempo, do espaço, da forma, do conteúdo, do ato etc. abstraídas e hipostasiadas ao vácuo total), mas sim o “devir”, o movimento tornado categoria pura, síntese da relação contraditória entre a pura “positividade” e a pura “negatividade” (Hegel inicia a “Ciência da Lógica” com a “análise” abstrativante da relação entre os puríssimos “ser” e “nada”, para fazer pipocar daí o “devir”); e de toda essa construção ideal pura, este “processo de contradições e sínteses que põe tudo (?) em movimento”, pretende alcançar o que é a verdade daquilo que é ontológico, concreto, impuro, que apela ao sensível muito antes de apelar ao pensamento filosófico, o que é verdadeiramente um absurdo e só pode se destinar ao fracasso ridículo, como todo bom sistema metafísico.

Erik: Pelo contrário, historicamente ontologia é o estudo do “ser do ser”. É abstração e inicialmente era voltada para o estudo de Deus, da Teologia. No final do seu confuso texto o termo ontológico voltou a significar abstração, metafísica. Mas o seu materialismo não era ontológico? É isso que é seu confuso “marxismo”. Tudo isso não passa de revisão absconsa do marxismo-leninismo, para os Eriks da vida se masturbarem na cátedra.

Donde Marx não partir de nenhuma dialética hegeliana, muito menos enxertando nela “o material” (o que seria um transplante totalmente estranho ao pensamento hegeliano) e retirando dela a “casca” de idéias irracionais do idealismo; algo que, convenhamos, teria sido extremamente banal de se ajeitar e não faria Marx merecer lugar nenhum na história da filosofia e da ciência.


Leia meu texto Marx, Conceitos Básicos, disponível no site da Comunidade Josef Stálin (Ui! Sentiu um arrepio?!): o método para chegar à realidade escolhido por Marx, como vimos, foi a dialética de Hegel repensada, assim como o conceito de história como um valor para o entendimento de qualquer ciência, arte ou religião. Estudando sua história e situando-a nela, esse saber será bem melhor entendido e mais frutífero. Hegel entendia a história do homem como uma sucessão de eras, ordenadas pelo espírito absoluto, chegando ao final dos tempos num continuum inspirado pelo cristianismo. Marx aproveita esse esquema mental, mas adapta-o ao materialismo: a sucessão histórica é de modos de produção: comuna primitiva, escravismo, capitalismo, socialismo, comunismo. E o “espírito absoluto” que move a história, ao invés de ser Deus, é o homem, através do processo histórico dialético (ou seja, através da tese/antítese/síntese), que seria para ele uma das leis fundamentais da natureza e da cultura.
         Muitas vezes se fala em “dialética” a propósito de Marx ou do marxismo, de tal forma que praticamente um virou sinônimo do outro. No entanto, a dialética é uma palavra de origem grega e de forma alguma foi inventada por Marx e por seus seguidores.
         A dialética, ou seja, a possibilidade de que o mundo seja formado pela luta dos contrários (dialegein) foi primeiramente estudada na Grécia Antiga por Heráclito (e o materialismo, por Epicuro e Demócrito). Dialética vem da palavra grega “dialektiké” que significa conversar, debater. Esses dois últimos foram, inclusive, objeto de estudo de Marx em sua monografia de conclusão de curso de doutorado em Filosofia (que era o equivalente à nossa graduação em Filosofia). Os gregos é que esboçaram a dialética. O filósofo Heráclito dizia que o todo se transforma: “jamais entramos no mesmo rio”. A luta dos contrários já tinha, para eles, muita importância, principalmente para Platão, que acentua a fecundidade dessa luta; os contrários se geram mutuamente. A palavra dialética vem diretamente de dialegein, que significa discutir. Exprime a luta de idéias contrárias.
            A dialética estuda as leis gerais do universo, leis comuns a todos os aspectos da realidade, desde a natureza física até o pensamento, passando pela natureza viva e pela sociedade.
            A dialética interessou especialmente a Marx porque é uma filosofia que pensa que o mundo está constantemente em transformação, que é a forma que assume essa luta à qual ele se refere.


O que Marx faz, ao contrário de partir de um método dialético – que só serve para enquadrar as coisas numa lógica -, é buscar “a lógica específica do objeto específico”, entender o objeto a partir de si mesmo, extrair suas diferenças específicas, compreendê-lo em sua especificidade.


Erik, você nas notas admite que Marx utilizava a dialética como método de exposição, ou seja, o método dialético. Mais aí em cima você diz que “ao contrário de partir de um método dialético”...decida-se. Você não consegue manter a coerência nem um texto!Quiçá tornar-se esse grande filósofo que você que ser. Mas juntos chegaremos lá! Continuemos a aulinha básica.
Na antiguidade, dialética era a arte de chegar à verdade. O método seria o dialético, ou seja, através das contradições do pensamento em um diálogo. Essa forma de entender o mundo foi estendida aos fenômenos da natureza. O método dialético marxista olha a natureza como um todo unido, coerente, em que os objetos e fenômenos estão ligados entre eles de forma orgânica, dependendo uns dos outros e condicionando-se de forma recíproca. Nenhum fenômeno pode, então, ser tomado fora das condições que o rodeiam, se for separado das condições. A natureza, para a metafísica, é imóvel, estagnada e imutável. Já para o método dialético, ela anda num estado de movimento e transformação perpétuos, numa renovação e desenvolvimento incessantes. Para o método dialético, o fenômeno tem de ser considerado também do ponto de vista de seu movimento, transformação, aparecimento e desaparecimento. O dialético focaliza naquilo que nasce e se desenvolve, não focando na estabilidade como o método metafísico.
            Toda a natureza está num processo de aparecimento e desaparecimento, num fluxo incessante de transformação perpétua. A dialética observa as coisas principalmente no seu encadeamento, no seu movimento, aparecimento, desaparecimento e relações recíprocas.
            O dialético considera que o desenvolvimento é sempre um processo progressivo, onde as mudanças quantitativas se sobrepõem às qualitativas; o processo poderia ser ilustrado por uma espiral. São o resultado de mudanças quantitativas insensíveis e graduais.
            A natureza é a pedra de toque da dialética. Para o dialético, Darwin mostrou que o mundo existente é um mundo orgânico que se transforma há milhões de anos. Já a concepção metafísica, cada vez mais criticada e desvalorizada entre os cientistas, começou com o Aristóteles e sua idéia de Deus como “motor imóvel”.


Daí que não se trata nunca de ficar no âmbito abstrato da “aplicação” de categorias abstratas, tais como modo de produção tal, relação social de produção tal, forças produtivas contraditórias a tal, infraestrutura assim, superestrutura assado, logo revolução. Marx, ao contrário disso, investiga as coisas a fundo, e a tal ponto que desmente uma série enorme de receitas distribuídas pelo marxismo de apostila, como p.ex. a idéia de etapas necessárias no desenvolvimento de uma economia para poder transitar ao comunismo (o etapismo, está claro, é fruto do logicismo, da dialética aplicada do éter teorético do mundo das idéias abstratas sobre a realidade concreta da prática – uma tremenda imbecilidade intelectual). O procedimento de Marx é materialista, crítico-ontológico.
Materialismo não é uma lógica, uma aplicação de métodos ou uma combinação nova de idéias (extraídas, arbitrariamente, do sistema filosófico alheio no qual fazem sentido); como bem viu Lenin, ao proceder ontologicamente, “Marx não nos deu uma Lógica, mas sim a lógica do capital”.
P.S. – Um interlocutor insistiu na existência de uma dialética em Marx, citando o famoso Posfácio à Segunda Edição de O Capital, onde encontramos um rol de elogios a Hegel e à “forma racional e revolucionária” da dialética, que será “enfiada na cabeça dos novos-ricos do novo Sacro Império Prussiano-Germânico” pela vindoura e intensa “crise geral”.
Chamei-lhe a atenção para as palavras que se encontram dez parágrafos antes: “O Correio Europeu, de São Petersburgo, em um artigo inteiramente dedicado ao método de O Capital (maio de 1872), considera meu método de investigação estritamente realista, mas o modo de exposição, desgraçadamente, dialético-alemão”.

E em meio à resposta de Marx, temos essas linhas:

“Sem dúvida, deve-se distinguir o modo de exposição segundo sua forma do modo de investigação. A investigação tem de se apropriar da matéria em seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real. Se isso é realizado com sucesso, e se a vida da matéria é agora refletida idealmente, o observador pode ter a impressão de se encontrar diante de uma construção a priori”.

O método dialético de Marx é, pois, um método de exposição.

Mas ainda há uma carta escrita a Engels em 1867, na qual se lê:

“Você tem toda razão a respeito de Hofmann. A propósito, você verá na conclusão do meu capítulo III, onde eu esboço a transformação do mestre-artesão em capitalista – como resultado de mudanças puramente quantitativas – que, no texto, eu cito a descoberta de Hegel sobre a lei de transformação de uma mudança meramente quantitativa em uma mudança qualitativa como sendo atestada pela história e, de forma semelhante, pelas ciências naturais”.

A passagem aludida por Marx está no capítulo “Taxa e Massa de Mais Valia” (O Capital) e diz o seguinte:

“As corporações de ofício da Idade Média procuraram impedir pela força a transformação do mestre-artesão em capitalista, limitando a um máximo muito exíguo o número de trabalhadores que um mestre individual pode empregar. O possuidor do dinheiro ou de mercadorias só se transforma realmente num capitalista quando a quantidade desembolsada para a produção ultrapassa em muito o máximo medieval. Aqui, como na ciência da natureza, mostra-se a exatidão da lei, descoberta por Hegel em sua Lógica, de que alterações meramente quantitativas, tendo atingido um determinado ponto, convertem-se em diferenças qualitativas”.

Quanto a isso, cabe dizer que os princípios da dialética hegeliana se assentavam no que Lukács chamou de “a autêntica ontologia de Hegel” (devidamente tornada falsa por meio do logicismo dialético). E quando Marx aponta tais princípios (ou “leis”) no próprio objeto, não está aplicando a dialética de Hegel nele, mas extraindo do objeto o próprio arrimo da aplicação da dialética como método de exposição. Só por isso, aliás, é que tal aplicação é possível e não-arbitrária.
Mas tais princípios não são a afirmação de uma ontologia dialética, uma dialética da natureza ou da realidade dialética em si mesma. Por exemplo, a contradição: é na investigação da mercadoria que Marx a identifica atravessando sua essência constituída por valor-de-uso e valor. De modo algum a contradição é natural aos produtos do trabalho humano, enquanto simples valores-de-uso, mas é assumida por estes em seu existir concreto no modo de produção capitalista, em sua existência objetiva como mercadoria.
Hegel mesmo era um entusiasta da Economia Política. Não retirou seus princípios dialéticos de nenhuma dialética originária, porém os recobriu com os resultados lógicos – a que chegou por via especulativa – e transformou tais princípios em fundamentos de uma verdadeira metafísica, reduzindo a historicidade a uma teologia, com a qual traduziu filosoficamente a Bíblia: no início temos a Idéia, que então é negada por sua alienação original sob a forma de Natureza, para que, ao fim de todo seu trabalho de resgate de si, atinja o estágio absoluto do Espírito revelado.
Ao contrário disso, e do que crê o marxismo da dialética marxiana a priori, o método dialético de Marx é totalmente a posteriori. Pois bem, nem todos os marxistas retiraram a “casca irracional” da teologia hegeliana e ainda aguardam o Juízo Final sob o comunismo; mas, dentre aqueles que a descascaram, alguns não perceberam que o “invólucro racional” está por ser descoberto nas coisas mesmas, e insistem na metafísica hegeliana de uma lógica dialética pairando sobre a realidade.

Erik, você toca num ponto muito interessante: é um indicativo de que você mistura o pensamento idealista hegeliano ao pensamento marxista, baseando-se nisso nos textos do jovem Marx, totalmente embebidos do pensamento e do vocabulário hegeliano. Isso fica bastante evidente em todo o seu texto.