quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um relatório para uma chimpanzé ou: contra a criminalidade acadêmica

Pessoal: vale a pena ler esse conto do professor Márcio Seligmann sobre um assunto semelhante ao do meu conto.

http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/SuplementoLiterario/File/1332.pdf

E aviso, inclusive, que agora as coisas por aqui vão ser bem lentas aqui no revista cidade sol e penetrália, bem esporádicas. Estou com dor no tendão e tomando um cedrillax para acabar com ela. Para isso vou tentar diminuir a atividade diante do teclado.

Esse blog não vai acabar: só se minha escrita acabar comigo primeiro.

Dedico esse conto a todos que sofrem com a criminalidade acadêmica: com os pequenos crimes que se perpetram todos os dias nas universidades e que quase sempre ficam impunes: orientadores que não orientam, que se mostram arrogantes e autoritários ou abandonam os orientandos para se aposentarem; relatórios burocráticos infinitos que terminam em corte de bolsas e verbas; professores que copiam partes de textos de alunos e colocam em seus trabalhos, mas esculacham os alunos; vaidades e egos inflados, acompanhados da insistência louca para que se produza nesse ambiente. Contra as condições haitianas de trabalho e as cobranças harvardianas.

Tudo frescura perto do que o povo brasileiro passa, que inclui horrores como trabalho escravo e luta diária pela sobrevivência, mas mesmo assim são pequenos crimes, pequenas crueldades, mas mesmo assim são crimes.



Um relatório para uma chimpanzé
Lúcio Jr.

O Escritor Premiado resolveu que não queria ver o cadáver de sua mulher, mas sim o de Dona Durruti Buenasuerte, sua orientadora na universidade. Dona Durruti era estúpida e rude e o fazia reescrever os seus textos. O Escritor Premiado não suportava a aparência horrível e a mau humor de Dona Durruti, mas precisava dela para concluir seu mestrado sobre o escritor Asdrúbal Trombon, de quem ele tinha de puxar o saco para poder ganhar espaço no caderno de Cultura onde o Asdrúbal era editor-chefe.
Ele foi, então, à universidade procurar Dona Durruti. Encontrou-a com uma grande televisão em seu gabinete. “Meu caro, já trouxe novamente o seu trabalho?” No entanto, o Escritor Premiado ficou calado diante dela, esperando o melhor momento de estrangulá-la. “Fui premiado”. “Quê, você é viado?” Falou a naja, com seu rosto fazendo uma careta que a tornava ainda mais feia de sarcasmo. “Não, minha cara, fui premiado e vou abandonar esse mestrado”. Ela calou-se por um momento e deu-lhe as costas com desprezo, dizendo “um prêmio é algo insignificante. O bom é estar em Paris, sem agenda. Viva Paris, aproveite Paris!” O Escritor Premiado ficou ali em silêncio, enquanto Dona Durruti tentava arrumar a cabeleira desgrenhada tirando e colocando o seu arquinho. De repente, pareceu-lhe que Dona Durruti era um chimpanzé. Seus gestos denunciavam aquilo. Antes lhe parecia que o rosto enrugado de Dona Durruti era feio e parecia estar se decompondo. Pareceu-lhe, de repente, que Dona Durruti era uma criatura não tanto desumana, mas pré-humana. Ela era um chimpanzé que se disfarçava de gente e conseguira fazer graduação, pós-graduação e até ocupar um lugar na universidade, sempre escondendo sua origem não-humana. Perder aquele cérebro de chimpanzé nada significaria para a humanidade.
“Adeus, Dona Durruti”, disse ele, tendo descoberto seu segredo. “O poeta bisseto do modenimo”, balbuciou a mulher monga. “Hein?” “Você não vai mais fazer sua pesquisa sobre o poeta bisseto do modenimo?” De repente, a chimpanzé balbuciava uma súplica. O Escritor Premiado teve pena de Durruti, pois ela confundia, em sua mente que fingia ser humana, Asdrúbal Trombon com um escritor totalmente diferente. Mas o mestrado dele começara há dez anos! Dona Durruti, no entanto, não tinha conseguido, ainda, processar essa informação e fingia diante de todos sabê-la, tendo até organizado um grupo de pesquisa sobre A Modernidade de Asdrúbal Trombon, Poeta Bisseto do Modenimo. “Preciso pensar, Dona Durruti”, alegou O Escritor Premiado.
E foi saindo de sua sala. Andando pelos corredores, encontrou na cantina um amigo escritor, o Dr. Rafinha. Vestido de terno branco impecável e chapéu de malandro, sempre fumando cigarilhas chiques, Rafinha gostava de ser chamado de Dr., embora estivesse no mestrado há quinze anos, contando as passagens por várias universidades e programas e clínicas psiquiátricas. “Vamos tomar um vinho no restaurante Vecchio Della Vecchia, soube de sua premiação. Hoje é por sua conta!”. “Claro, vamos!”, concordou o Escritor Premiado.
O Escritor Premiado pretendia, finalmente, tratar o seu amigo rico de forma adequada. Era seu amigo antes de ser premiado, mas uma vez premiado poderia ser com Dr. Rafinha quem ele era de verdade. Chegando ao Vecchio Della Vecchia, Dr. Rafinha passou a falar da peça que estava escrevendo e que seria intitulada Cracolândia, tendo por epígrafe uma frase do poema de Drummond: “No meio do caminho tinha uma pedra”.
“Sobre o que será?” Perguntou o Escritor Premiado.
“É uma peça que quer pegar a onda espírita, sabe? Uma peça espírita. O espírito do baterista do Led Zeppelin volta materializado numa mesa branca lá de Uberaba e começa a lembrar sua vida num monólogo de cara para o próprio vômito, com apoio dos discípulos de Chico Xavier. O s médiuns que o evocam buscam criar uma máquina de materializar celebs, objetivando saber news do além. O Gerald Thomas, que estava em Uberaba buscando a cura de suas angústias, ganhou a missão de traduzir o finado, que só falava em inglês, surgindo então uma grande parceria surreal. No último ato, Gerald passa a discutir seu não comparecimento no velório da mãe. O batera, então, lê uma carta psicografada da mãe do Gerald dizendo que a recepção calorosa que recebeu no além a fez esquecer essa bobagem da presença ou não do Gerald no velório. Os problemas da parceria entre Boham e Gerald surgiriam a partir da falta de papel higiênico no quarto do hotelzinho que ele estava em Uberaba. O batera e Gerald começam, então, a escrever uma ópera juntos para futuramente estrear em Londres e Nova York. Gerald, no entanto, entra numa profunda crise existencial ao deparar-se com o retrato de Rembrant e de Dorian Gray num museu dedicado ao Peão Boiadeiro em Berlllândia...”
Quando, finalmente, Dr. Rafinha imitou a prosódia do Triângulo Mineiro, o Escritor Premiado não suportou mais:
“Você tem uma fixação doentia com o Gerald Thomas! Que viadagem é essa!”
Dr. Rafinha ficou arrasado e o Escritor Premiado pairou em silêncio diante dele. O Escritor Premiado sabia que Dr. Rafinha não conseguiria jamais se alegrar com o sucesso de um amigo. Dr. Rafinha fazia coisas malucas tais como obter dinheiro de uma Fundação subvencionada pelo estado e investir tudo numa revista que só publicava os seus próprios textos sob pseudônimos. Ele chegou a publicar um ensaio muito curioso, misturando Heidegger e Lukács num alucinante coquetel a respeito do ser da coisa da dança; tudo isso em nome do estudo da obra de uma bailarina obscura chamada Fuego Della Luna, que na verdade, como sempre, era um de seus alter egos. O artigo obteve considerável repercussão em Belo Horizonte e agora todos no meio artístico mineiro queriam saber mais sobre Fuego Della Luna.
“Você achou ruim, mesmo, a minha peça?” Falou ele, a custo.
“Evidente. Citar Gerald Thomas é cafona. Ele é totalmente...”
Não pode prosseguir, pois Dr. Rafinha atirou-lhe um copo de vinho no rosto e deixou o Escritor Premiado falando sozinho. Chegando a casa naquela noite, meia hora depois, a esposa do Escritor Premiado lhe mostrou uma carta da orientadora, onde a chimpanzé, sempre com sua concisão lapidar, pedia um relatório de sua pesquisa sobre Asdrúbal Trombon, como se nada tivesse acontecido!
“Ora, um relatório para a academia escrito por um chimpanzé ainda vai, mas um relatório escrito para uma chimpanzé, haja paciência. Acho que será tão difícil ser Escritor Premiado quanto sem prêmio”, concluiu o Escritor Premiado.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Microconto de ocasião

Um microconto de ocasião, dedicado a Rafael Rodrigues, do blog Entretantos, da Bravo.

Quaresma


Jesus perguntou ao diabo: “quem é você?” “Eu sou o Diabo. Mas você tem
mesmo é que conhecer o meu advogado”.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

No meio do Caminho para o Complexo do Alemão

No meio do caminho para o complexo do alemão comprei uma pedra

Fumei a pedra no meio do caminho

Fumei mais uma pedra

No meio do caminho eu queria mais uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas cocaínas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho fumei uma pedra.

Fumei uma pedra e queria mais uma pedra e viciei na pedra que fumei no meio do caminho para o Complexo do Alemão no meio do caminho eu queria uma eu roubei e viciei na e matei e viciei na pedra uma pedra UMA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDRA PEDR...

(A propósito do lançamento do livro A Biografia de um Poema).

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PT de Bom Despacho apoia prefeito acusado de extorsão

O PT de Bom Despacho mostra mais uma vez que o buraco é sem fundo: em nome do diretório local, Dr. João Batista (João Faquinha) acompanhou um vereador da base do prefeito Haroldo Queiroz em entrevista à rádio Difusora, fazendo exatamente o que o prefeito disse que um vereador deve fazer: sair pedindo apoio para obras na cidade, em troca do quê, não sei. Enquanto isso, Célio Luquine, ex-prefeito de Bom Despacho, derrotado nas últimas eleições para vereador (filiado ao PT), está em BH participando da gestão do empresário Márcio Lacerda. Vejam abaixo um artigo sobre como é essa gestão:



Márcio Lacerda privatiza 81 bens públicos de Belo Horizonte e o governo de MG sucateia Copasa
Minas Livre - [Carlos Alberto Cândido] Está no noticiário, mas ninguém parece ter se dado conta da importância do fato nesta cidade de imprensa submissa: o prefeito Márcio Lacerda (PSB) vai promover a maior privatização de imóveis públicos que Belo Horizonte e talvez qualquer cidade brasileira já viu. Serão 81 imóveis municipais, que irão a leilão, inclusive o Mercado Distrital da Barroca e a mansão residencial do prefeito, localizada às margens da Lagoa da Pampulha, próximo do Museu de Arte, e que tem um painel de Guignard. A informação é que o painel será retirado, mas até que isso aconteça, é melhor desconfiar.
O pior, porém, é ver dezenas de terremos desocupados, com tamanhos variando entre 1 mil e 10 mil metros quadrados, segundo notícia do Estado de Minas, se transformarem em mais espigões. Se tem uma coisa de que Belo Horizonte não precisa hoje é que áreas públicas se transformem em empreendimentos imobiliários. Muito melhor seria ver esses lotes virarem praças e parques, para lazer da população, com muitas árvores para ajudar a despoluir o ar. Ao contrário do que se diz, Belo Horizonte tem pouquíssimas áreas verdes; tem muitas árvores, mas elas estão nos passeios.

Em Belo Horizonte é impossível até andar nos passeios, tomados por lixos, lixeiras, postes, árvores, canteiros, carros e motos estacionados, obras de construção, mesas de bar, cocôs de cachorro, orelhões, caixas de correio e uma infinidade de obstáculos. Áreas públicas são uma necessidade nas grandes cidades. Quando as pessoas moram em casas, têm quintais e conhecem os vizinhos, a vida comunitária se forma assim. Quando casas são substituídas por edifícios, esse convívio desaparece juntamente com espaços privados.

É preciso, portanto, criar praças, parques, espaços de lazer, com bastante verde, para que as pessoas convivam e façam caminhadas, para que crianças brinquem e idosos possam sair dos apartamentos. O prefeito, que mora num condomínio em Nova Lima e se considera moderno, que é rico e já viajou o mundo inteiro, deveria saber disso, pois as grandes metrópoles mundiais estão preocupadas com espaços públicos. Mas não, sua política é de privatizar os espaços públicos e administrar a cidade como se fosse uma empresa lucrativa.

Foi o que fez com a Praça da Estação, cujo uso agora só se dá mediante pagamento de aluguel. Para que um artista se apresente na Praça 7, agora tem que ter alvará, como mostra notícia publicada neste portal. O prefeito gosta também de transformar áreas verdes em empreendimentos imobiliários, como está fazendo com a Mata do Isidoro, que será transformada na Vila da Copa, visando a abrigar delegações para a Copa da Fifa.

A privatização dos espaços públicos será certamente a marca do mandato do prefeito empresário, que tenta administrar Belo Horizonte como uma empresa: o que não dá lucro – cultura, por exemplo – não tem serventia. Não à toa recebeu vaia monumental do maior auditório da cidade, o Palácio das Artes, durante o Festival Internacional de Teatro (FIT), em agosto passado. Já tinha passado por isso na festa de encerramento do festival Comida di Buteco, em maio.

Empresário da cidade, o prefeito atua como auxiliar do capital, que destrói rapidamente todos os espaços vazios da cidade, derruba casas, escolas e até clubes – como acontecerá, ao que tudo indica, com o centro de lazer do América, no Bairro Ouro Preto – para erguer no lugar enormes edifícios.

É dever da prefeitura conter a especulação imobiliária, em defesa da qualidade de vida para os belo-horizontinos. Em vez disso age ela também a favor da deterioração do município. A intenção, diz a notícia, é fazer um caixa de R$ 200 milhões. O mercado vale no mínimo R$ 19,5 milhões; a casa do prefeito, R$ 1 milhão (só? Este é o preço de um apartamento na zona sul…). O governo FHC mostrou o que acontece com dinheiro de privatizações: desaparece sem trazer nenhum benefício social.

É incrível que nenhum representante dos belo-horizontinos, nenhum vereador, nenhuma organização da sociedade tenha ainda se levantado contra a realização desse crime contra o patrimônio público, movendo, inclusive, uma ação na justiça.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Prefeito de Bom Despacho ameaça blogueiros e imprensa

Toda minha solidaridade com o companheiro blogueiro Rosemberg (lincado acima como Bom Despacho-MG), ameaçado de processo e insultado por Haroldo Queiroz (prefeito local, PDT/MG) na Rádio Difusora ontem. A intenção deve ter sido de intimidar toda a imprensa, pois ameaçou de processo não só o blogueiro Rosemberg, mas também o vereador e blogueiro Fernando Cabral (www.fernandocabral.blogspot.com) e o Jornal de Negócios.

Eu não comento muito as novas peripécias do prefeito porque acho que é perder tempo com alguém que vai sumir na poeira da história de Bom Despacho.

Mas que arranco democrático foi esse ontem na Rádio Difusora, onde ele, em fúria, reclamou até da própria rádio que o entrevistava!

Algumas dessas flores de pântanos, essas jóias da náusea emitidas ontem no ar:

"Que CPI? Qual CPI? Isso é assunto dos vereadores". (Haroldo, afetando ignorar as críticas).

"Se Deus quiser vou ser eleito para deputado".(Misericórdia!)

"O Jornal (de Negócios) é o único que tem na cidade" (Haroldo demonstrando desconhecimento dos outros dois jornais onde a própria prefeitura anuncia com frequência).

"É um cara que não acredita em Deus, parece o Santanás" (Haroldo abrindo o flanco para um possível processo de preconceito contra os ateus a propósito de fazer críticas ao vereador e blogueiro Fernando Cabral).

"Como é que as outras rádios não fazem isso". (Isso, no caso, seria, dar liberdade de expressão, dar espaço ao vereador Fernando Cabral para fazer denúncias de superfaturamento em obras da prefeitura).

"Ele pode estar gostando de mim, estar apaixonado por mim". (Sem comentários).

"Se eu fizer qualquer coisa errada, eu mesmo me retiro da prefeitura". (Será?)

"Eu não escuto bobogeira, não fico falando bolinha". (Prefeito exibe estranhas capacidades auditivas e orais, criando o neologismo bobogeira, mistura de bobagem com asneira).

"O concurso da câmara....todo errado. Tinha questões repetidas". (Eu fiz o concurso e não vi).

"Eu tinha vontade dele (FC) administrar a prefeitura". (Eu também).

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A patrulha das patrulhas pop-odara: Jabor X Escorel

ESCOREL: A referência precisa, situando a cena inicial em 1945, gera expectativas que o filme não cumprirá, por transcorrer em um vácuo sem referências a qualquer outro fato histórico ocorrido até 1956, ano em que a narrativa chega ao fim. Deixando de articular os personagens com o contexto da época, Jabor cria seres a-históricos, que, depois de terem queimado um boneco representando Hitler, passam a viver livres de qualquer influência dos acontecimentos sociais e políticos. Os personagens de A Suprema Felicidade habitam uma “terra abençoada” chamada Brasil, refúgio de estereótipos, onde sambas e requebros se somam à mitologia musical e cinematográfica norte-americana para ocupar o imaginário".

JABOR: Ato de violência. Aí, percebi que não apenas a patrulha pop pautou seus críticos. Lembrei da devastadora crítica de Eduardo Escorel na revista piauí - (não confundir com Lauro Escorel, o grande artista que fotografou o filme). Lembro mesmo que corri à piauí com a esperança de aprender teoria com o velho autor de remotos filmes, como a história sinistra de um esquartejador e a adaptação dialética do Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado. Dele eu esperava opiniões cultas, conspícuas frases sobre Bergman, Fellini. Eu esperava encontrar André Bazin e dei de cara com Andrei Zhdanov, o supremo censor de Joseph Stalin (olhem no Google, meninos...) Mas, mesmo assim, esquartejado, tentei entendê-lo. E tive a revelação, vi a luz!Eduardo tinha uma missão política, senhores, iluminista mesmo: ele quis salvar o público das mensagens reacionárias que devo ter embutido no filme. Por isso, ele correu a Alphaville, para ver o filme quentinho, ainda no laboratório. Ele correu antes para avisar o povo: "Não vá!... Fuja do demônio neoliberal que fez um filme de época sem mostrar Getúlio ou a luta de classes." Eu sei que vocês foram modificados geneticamente por décadas de videoclipes, eu compreendo que vocês achem o Michel Gondry o novo Goddard e que o flash-back foi inventado pelo Tarantino.

Cabeça de Bacalhau blog: o jornal Diário do Nordeste demitiu de forma arbitrária, no último dia 18 de outubro, o jornalista Dalwton Moura, por ter escrito e editado matéria no Caderno 3 sobre as revoluções marxistas que marcaram os séculos XIX e XX.

Lúcio, patrulheiro pop-Odara: JABOR, GODARD É GOD-ART, NÃO GODDARD.

ESCOREL: Oscilando entre realismo e fantasia, a fotografia e a direção de arte também carecem de princípio unificador, ou de justificativa para sua heterogeneidade. As trucagens digitais e a recriação de época nem sempre conseguem evitar certo artificialismo. E, com as cenas externas em locações, o filme não consegue se libertar das amarras realistas para se situar à vontade no plano fantasioso da memória.

FELIPE MOREIRA: Concordo. Mas ele acha isso negativo. Para mim, tudo isso é positivo. Chega de realismo! O único filme não realista, com pretensões mítico / idealistas em cartaz há tempos. Em outras palavras: adorei A suprema felicidade e achei a crítica escrotinha.

Lúcio, patrulheiro pop-Odara: Felipe, eu nem vi o filme ainda. Pelo trailer parece bom. Discuto é a crítica. Para Jabor, crítico é o bonequinho da Globo batendo palminha. Não; crítico tem nome. E Escorel fez uma boa crítica, que pega tudo de dentro. Mas poderia ser respondida. Por exemplo: por que locação externa é sinônimo de filme realista? E a Veja falou bem do filme, só copiou a observação sobre o Nanini do Escorel. Isso acontece muito hoje. Quem escreve primeiro e melhor, pauta os mais fracos. E Veja é fraca.

NELSON RODRIGUES: Compreendo que isso dá prestígio; é um upgrading. O sujeito entra na redação de testa alta e lábio trêmulo: "Esculachei a besta do Jabor..!" E é olhado com cálida admiração.

Lúcio: CRITICAR COM ESSE ARGUMENTO DE QUE É PATRULHA É ANACRÔNICO. AS PATRULHAS NO JORNAL O MOVIMENTO ERAM NA VERDADE O CONFRONTO CEBRAP VERSUS EMBRAFILME, NEOLIBERALISMO X PROJETO NACIONAL.

JABOR: Vou pautar também os jovens tenentes das novas "patrulhas pop", porque eu sou egresso das velhas patrulhas ideológicas descobertas por Cacá Diegues e tenho esta missão. E conseguiu; parabéns, doce Zhdanov com seu lento sorriso superior. Foi um alívio. A sociedade estava salva.

Patrulhas das patrulhas do campo e do contracampo: Basta que ressoe “patrulha ideológica” no recinto fechado para que o locutor reflita e, num ato de repressão interna, sufoque o stalinista que existe em seu peito, modere suas palavras de ordem e venha a compor a linha de frente dos defensores de um Brasil republicano. Assim, vemos crescer substancialmente a “patrulha das patrulhas”, um regimento especial de homens e mulheres dispostos a obstruir com sua firmeza moral os fantasmas do atraso. A eficácia do “contra-patrulhamento” conseguiu que as discussões em torno da Ancinav e das tvs digitais fossem sufocadas antes que se alastrassem e mobilizassem um número cada vez maior de stalinistas fanáticos por controle.

ESCOREL: No início da carreira, Jabor dizia ter mais interesse por teatro e poesia do que cinema. Entre 1965 e 1990, período em que realizou nove longas-metragens, alguns com acentuadas características teatrais, sempre manteve atitude ambígua, parecendo mais um diletante do que um cineasta profissional. Por ter abandonado o duro ofício de fazer filmes, não surpreende, portanto, nem a singeleza da composição dos planos que registram a encenação sem resultarem de um projeto formal específico, nem a dificuldade para narrar a fragmentada história que ele mesmo escreveu.

JABOR: Mas, aí... esbarrei com a frase: "Jabor sempre pareceu mais um "diletante" que um cineasta profissional." Aí, não. Depois de ter trabalhado 30 anos em cinema, fazendo nove filmes, ouvir isso não dá. "Diletante" é você, cara, que fez dois ou três filmes medíocres que sumiram da história de nosso cinema.

ESCOREL: Em 1962, Jabor dizia querer filmar “O cão sem plumas”. Décadas depois, nada mais distante do poema de João Cabral de Melo Neto do que a exuberância de A Suprema Felicidade. Distância que pode ser a chave para entender a trajetória do realizador. Ela é marcada, como a de Paulo, seu personagem, pela vontade de “ser diferente” e “descobrir quem ele é”. Vendo A Suprema Felicidade, alguém ainda poderá ter dúvida em relação à verdadeira vocação de Arnaldo Jabor?

JABOR: E, no final, outro insulto, quando ele diz que, vendo esse filme, ele não tem mais dúvidas de quem sou eu...Respondo: Se você pudesse saber quem eu sou, você não seria o que é. E mais, ridículo censor do trabalho alheio: "A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados." É só.

Patrulha das patrulhas do campo e do contracampo: Não há nada mais repugnante para um artista liberal que censores organizados em patrulhas ideológicas.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

JABOR X ESCOREL: AS PATRULHAS DA SUPREMA FELICIDADE

Vcs tão acompanhando essa polêmica Jabor X Escorel? Tou com o Escorel e não abro. É o melhor crítico de cinema na grande imprensa, pelo que tenho acompanhado.

Jabor, para responder a uma crítica embasada do Escorel ao Suprema Felicidade, tá requentando o velho tema das patrulhas ideológicas.

Inicialmente, essa história foi assim: O grupo do Gasparian/FHC/Bob Schwarz, à testa do jornal O Movimento, começou a atacar os filmes de Embrafilme e do Cinema Novo, pois o grupo do CEBRAP/Movimento e do FHC é privatista desde sempre e combateu a Embrafilme por ver nela um aparelho ideológico estatista e que cheirava-lhes a comunismo. E foi denunciado pelo Glauber Rocha em 1976, em entrevista à Heloísa Buarque de Holanda!

Cacá Diegues levou a coisa para outro lado totalmente diferente, atacando os críticos de cinema e arte em geral, mas os ligados ao Partido Comunista e ao MDB em especial.

E nessa onda que virou moda no final dos anos 70 e volta e meia é falado até hoje, entrou até Caetano Veloso, viajando e sem ter a mínima ideia do que era um partido comunista, mas, diz a lenda, dizendo que Maurício Kubrusly criticava e não gostava de sua música porque Maurício era um comunista.

E patrulha virou isso que o Jabor usou contra o Escorel, uma arma ideológica da direita contra qualquer crítica vinda da esquerda ou que fale em história ou luta de classes.

domingo, 24 de outubro de 2010

Jornal Fique Sabendo quase declara o voto em Serra em seu editorial

Aqui estamos novamente para debater com o Valmir do Jornal Fique Sabendo, que em editorial da edição de 15 a 30 de outubro de 2010 ensaiou declarar o voto em Serra, mas ficou só no quase. Quase declarou. O título do editorial é: "O Brasil da Imprensa Quase Livre".

Valmir: você poderia ter declarado o voto em Serra nessa edição, imitando o jornal O Estado de São Paulo. Teria sido mais honesto, mostrado mais coragem. Porque durante a campanha você fez uma cobertura que ignorava todos os candidatos e falava só dos que anunciavam com você: Zé do Nô, Jefinho, Dr. Grilo, Anastasia.

Na capa você colocou uma imagem de Vital Guimarães, presidente do PSDB local, recebendo um panfleto de Anastasia e colocou a chamada falando em "carta de reivindicações". Achei muito positivo, como achei positiva a cobertura do caso do menino morto em circunstâncias misteriosas, o José Paulo. Como você já deve ter lido no blog do André, vou mesmo publicar um artigo a respeito da manifestação que aconteceu reivindicando uma apuração justa para esse caso. O artigo se chamará Outubro Vermelho em Bom Despacho.


Você ignorou a manifestação histórica e publicou um Boletim de Ocorrência, o segundo que vejo (o primeiro foi publicado no blog do Fique Sabendo) a respeito do caso José Paulo. Esse que você publicou impresso nem sequer toca no assunto "drogas" que era o grande tema do outro, que acusava José Paulo de traficante. O que aconteceu? Por que dois BOs? Por que esse agora dando ênfase ao acidente que o teria matado?

A carta de Vital a Anastasia foi uma iniciativa boa, parabéns ao Vital, que parece ter boas relações com você. A carta continha as seguintes reivindicações que vale a pena transcrever:

1--instalação imediata da Superintendência de Educação (já criada por Lei).
2--Destinação da Fazenda --antiga Febem --para o projeto da escola profissionalizante do Agroindustrial.
3--Recursos para a construção de um Anel Rodoviário e duplicação da entrada da cidade até a BR 262.
4--Recursos para a aquisição de um CTI e uma Hemodiálise para serem administrados pela Santa Casa e não por uma empresa particular conforme tem sido noticiado.
5--Asfaltamento para o Campo de Pouso, que se encontra e pista de terra desde sua construção há mais de dez anos.
6--Apoio para o processo de agilização do Parque Ecológico Mata do Batalhão.


São pontos bons, mas poderiam chegar a dez, com a estatização das siderúrgicas locais paradas pelo Lula, quem sabe, etc.

Mas, deixando de lado esse tema candente, vamos ao seu editorial. Em primeiro, você é extremamente inexato ao tratar de "numa edição da revista Veja..." Que edição? De quando? A Veja é um péssimo exemplo para você, Valmir. Ela se faz de neutra, mas é partidária do PSDB. E mente e distorce.

Como acho que é distorção e mentira essa história de que Lula quer monitorar a imprensa mediante um dispositivo na Constituição. Afirmações mentirosas desse naipe foram feitas pelo candidato Dr. Grilo, que pagava publicidade em seu jornal a respeito de minorias religiosas e sexuais. Esse candidato confunde o PNDH-3, plano de direitos humanos, com emendas à Constituição, por pura má fé.

Cuidado, Valmir: tomar partido, sim, incentivar a ignorância, a mentira e a confusão, deliberadamente, aproxima um órgão do fascismo, porque o fascismo faz uso deses expedientes. Não estou dizendo que você é fascista. Eu vi você na manifestação contra a morte de José Paulo e acredito que você é um cidadão que quer que a cidade melhore, é um cidadão que luta por uma imprensa melhor, é um rapaz batalhador que leva adiante sozinho o seu jornal. Por isso me dou ao trabalho de escrever esse texto: no intento de ajudar você a seguir o seu caminho que é de luz e impedir certos deslizes nas trevas.

Eu não peço a você ser cem por cento imparcial, mas ser parcial e não assumir acho negativo. Você pode receber pelas publicidades, mas o conteúdo pode ser uma cobertura mais abrangente, ouvindo e olhando os dois lados.

O governo Lula se caracteriza por ter tido uma simpatia da imprensa em seu início, para depois passar a ser intensamente combatido por ela. Nesse combate, ela não se mostrou isenta e sim conservadora, autoritária, ignorante e praticante da censura que ela diz querer evitar. Sim, ela modera, censura, omite, não dá direito de resposta! Escreva uma carta criticando a Veja e veja se sai lá!

Eu votei em Ivan Pinheiro do PCB no primeiro turno e votarei e Dilma no segundo, mas só porque ela é a menos pior. Mas de censura a jornalistas não se pode acusar o governo Lula! E mesmo Chávez sofreu um golpe de estado do qual participou toda a imprensa. E o que ele fez com a RCTV foi cassar a concessão dela, mas ela continuou funcionando a cabo e pela internet. Não foi "fechada pelo governo" como mentem por aí. Existe oposição a Chávez, sim, como o jornal Tal Cual, do Teodoro Petikoff. Leia que é espanhol, dá para ler e é menos editorializado que a Veja. Leia lá e não repita mais as besteiras reaças da Veja:

http://www.talcualdigital.com/index.html

Aliás, esse governo tem a peculiaridade de ser combatido por praticamente toda a imprensa, rádio, jornais e televisão, mas nem por isso perde popularidade. Isso é para você refletir sobre sua (ir)relevância para o povão.

A própria Veja tem publicidade de empresas tais como o Banco do Brasil, o que me deixa espantado. Receber dinheiro de um órgão do governo para falar mal dele! Eu creio que o PT deveria criar sua imprensa própria, não-estatal, e esculachar essa imprensa demotucana.

No mais, espero que você aceite esse texto como estima ao seu jornal e a você, assim como desejo de abrir o diálogo. Deixe estar que Lula quer você e seu jornal livres e Deus, no qual o FHC já disse não acreditar e a imprensa esconde, com certeza vai ser bem benevolente e onipresente e, sem se tornar "um minúsculo chefe de estado em virtude de sua decadência governamental", como você escreveu, com certeza irá querer.

Abraços sempre camaradas do Lúcio Jr.

domingo, 17 de outubro de 2010

Manifesto de reitores das universidades federais à nação brasileira

Da pré-escola ao pós-doutoramento - ciclo completo educacional e
acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e
profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos
anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas
implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta
de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do
Ministro Fernando Haddad.

Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito
significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante
da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de
brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima
da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro
reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de
povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares
mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que
não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações
estrangeiras.

Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele
em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e
consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a
Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi
universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a
ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e
Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao
ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI,
estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de
leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas
Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos
crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de
profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para
consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano
Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as
suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação
como uma prioridade central de seus governos.

Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto
educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o
País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade
brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e
que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a
continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os
níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o
Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais
decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.

Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa
gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial,
no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele
também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em
educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi
exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de
mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas
e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive,
relativas à Autonomia Universitária.

Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
José Weber Freire Macedo - Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Malvina Tânia Tuttman - Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Maria Beatriz Luce - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Miguel Badenes P. Filho - Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)
Carlos Eduardo Cantarelli - Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)
Miriam da Costa Oliveira - Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)
Célia Maria da Silva Oliveira - Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Paulo Gabriel S. Nacif - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).
Pedro Angelo A. Abreu - Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)
Hélgio Trindade - Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Ricardo Motta Miranda - Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hélio Waldman - Universidade Federal do ABC (UFABC)
Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Henrique Duque Chaves Filho - Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - UFC
Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande - (FURG)
Targino de Araújo Filho - Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)
Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
José Seixas Lourenço - Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Virmondes Rodrigues Júnior - Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)

sábado, 9 de outubro de 2010

Manifesto Pró-Dilma

Professores e Pesquisadores de Filosofia Apoiam Dilma Rousseff para a Presidência da República


Professores e pesquisadores de Filosofia, abaixo assinados, manifestamos nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Seguem-se nossas razões.

Os valores de nossa Constituição exigem compromisso e responsabilidade por parte dos representantes políticos e dos intelectuais

Nesta semana completam-se vinte e dois anos de promulgação da Constituição Federal. Embora marcada por contradições de uma sociedade que recém começava a acordar da longa noite do arbítrio, ela logrou afirmar valores que animam sonhos generosos com o futuro de nosso país. Entre os objetivos da República Federativa do Brasil estão “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, “garantir o desenvolvimento nacional”, “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.


A vitalidade de nossa República depende do efetivo compromisso com tais objetivos, para além da mera adesão verbal. Por parte de nossos representantes, ele deve traduzir-se em projetos claros e ações efetivas, sujeitos à responsabilização política pelos cidadãos. Dos intelectuais, espera-se o exame racionalmente responsável desses projetos e ações.


Os oito anos de governo Lula constituíram um formidável movimento na direção desses objetivos. Reconheça-se o papel do governo anterior na conquista de relativa estabilidade econômica. Ao atual governo, porém, deve-se tributar o feito inédito de conciliar crescimento da economia, controle da inflação e significativo desenvolvimento social. Nesses oito anos, a pobreza foi reduzida em mais de 40%; mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe média; a desigualdade de renda sofreu uma queda palpável. Não se tratou de um efeito natural e inevitável da estabilidade econômica. Trata-se do resultado de políticas públicas resolutamente implementadas pelo atual governo – as quais não se limitam ao Bolsa Família, mas têm nesse programa seu carro-chefe.


Tais políticas assinalam o compromisso do governo Lula com a realização dos objetivos de nossa República. Como ministra, Dilma Rousseff exerceu um papel central no sucesso dessa gestão. Cremos que sua chegada à Presidência representará a continuidade, aprofundamento e aperfeiçoamento do combate à pobreza e à desigualdade que marcou os últimos oito anos.


Há razões para duvidar que um eventual governo José Serra ofereça os mesmos prospectos. É notório o desprezo com que os programas sociais do atual governo – em particular o Bolsa Família – foram inicialmente recebidos pelos atores da coligação que sustenta o candidato. Frente ao sucesso de tais programas, José Serra vem agora verbalizar sua adesão a eles, quando não arroga para si sua primeira concepção. Não tendo ainda, passado o primeiro turno, apresentado um programa de governo, ele nos lança toda sorte de promessas – algumas das quais em franco contraste com sua gestão como governador de São Paulo – sem esclarecer como concretizá-las. O caráter errático de sua campanha justifica ceticismo quanto à consistência de seus compromissos. Seu discurso pautado por conveniências eleitorais indica aversão à responsabilidade que se espera de nossos representantes. Ironicamente, os intelectuais associados ao seu projeto político costumam tachar o governo Lula e a candidatura Dilma de populistas.

O compromisso com a inclusão social é um compromisso com a democracia


A despeito da súbita conversão da oposição às políticas sociais do atual governo, ainda ecoam entre nós os chavões disseminados por ela sobre os programas de transferência de renda implementados nos últimos anos: eles consistiriam em mera esmola assistencialista desprovida de mecanismos que possibilitem a autonomia de seus beneficiários; mais grave, constituiriam instrumento de controle populista sobre as massas pobres, visando à perpetuação no poder do PT e de seus aliados. Tais chavões repousam sobre um equívoco de direito e de fato.


A história da democracia, desde seus primeiros momentos na pólis ateniense, é a história da progressiva incorporação à comunidade política dos que outrora se viam destituídos de voz nos processos decisórios coletivos. Que tal incorporação se mostre efetiva pressupõe que os cidadãos disponham das condições materiais básicas para seu reconhecimento como tais. A cidadania exige o que Kant caracterizou como independência: o cidadão deve ser “seu próprio senhor (sui iuris)”, por conseguinte possuir “alguma propriedade (e qualquer habilidade, ofício, arte ou ciência pode contar como propriedade) que lhe possibilite o sustento”. Nossa Constituição vai ao encontro dessa exigência ao reservar um capítulo aos direitos sociais.


Os programas de transferência de renda implementados pelo governo não apenas ajudaram a proteger o país da crise econômica mundial – por induzirem o crescimento do mercado interno –, mas fortaleceram nossa democracia ao criar bases concretas para a cidadania de milhões de brasileiros. Se atentarmos ao seu formato institucional, veremos que eles proporcionam condições para a progressiva autonomia de seus beneficiários, ao invés de prendê-los em um círculo de dependência. Que mulheres e homens beneficiados por tais programas confiram seus votos às forças que lutaram por implementá-los não deve surpreender ninguém – trata-se, afinal, da lógica mesma da governança democrática. Senhoras e senhores de seu destino, porém, sua relação com tais forças será propriamente política, não mais a subserviência em que os confinavam as oligarquias.

As liberdades públicas devem ser protegidas, em particular de seus paladinos de ocasião


Nos últimos oito anos – mas especialmente neste ano eleitoral – assistiu-se à reiterada acusação, por parte de alguns intelectuais e da grande imprensa, de que o presidente Lula e seu governo atentam contra as liberdades públicas. É verdade que não há governo cujos quadros estejam inteiramente imunes às tentações do abuso de poder; é justamente esse fato que informa o desenvolvimento dos sistemas de freios e contrapesos do moderno Estado de Direito. Todavia, à parte episódios singulares – seguidos das sanções e reparos cabíveis –, um olhar sóbrio sobre o nosso país não terá dificuldade em ver que o governo tem zelado pelas garantias fundamentais previstas na Constituição e respeitado a independência das instituições encarregadas de protegê-las, como o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal.


Diante disso, foi com desgosto e preocupação que vimos personalidades e intelectuais ilustres de nosso país assinarem, há duas semanas, um autointitulado “Manifesto em Defesa da Democracia”, em que acusam o governo de tramas para “solapar o regime democrático”. À conveniência da candidatura oposicionista, inventam uma nova regra de conduta presidencial: o Presidente da República deve abster-se, em qualquer contexto, de fazer política ou apoiar candidaturas. Ironicamente, observada tal regra seria impossível a reeleição para o executivo federal – instituto criado durante o governo anterior, não sem sombra de casuísmo, em circunstâncias que não mereceram o alarme da maioria de seus signatários.


Grandes veículos de comunicação sistematicamente alardeiam que o governo Lula e a candidatura Dilma representam uma ameaça à liberdade de imprensa, enquanto se notabilizam por uma cobertura militante e nem sempre responsável da atual campanha presidencial. As críticas do Presidente à grande imprensa não exigem adesão, mas tampouco atentam contra o regime democrático, em que o Presidente goza dos mesmos direitos de todo cidadão, na forma da lei. Propostas de aperfeiçoamento dos marcos legais do setor devem ser examinadas com racionalidade, a exemplo do que tem acontecido em países como a França e a Inglaterra.


Se durante a campanha do primeiro turno houve um episódio a ameaçar a liberdade de imprensa no Brasil, terá sido o estranho requerimento da Dra. Sandra Cureau, vice-procuradora-geral Eleitoral, à revista Carta Capital. De efeito intimidativo e duvidoso lastro legal, o episódio não recebeu atenção dos grandes veículos de comunicação do país, tampouco ensejou a mobilização cívica daqueles que, poucos dias antes, publicavam um manifesto contra supostas ameaças do Presidente à democracia brasileira. O zelo pelas liberdades públicas não admite dois pesos e duas medidas. Quando a evocação das garantias fundamentais se vê aliciada pelo vale-tudo eleitoral, a Constituição é rebaixada à mera retórica.


Estamos convictos de que Dilma Rousseff, se eleita, saberá proteger as liberdades públicas. Comprometidos com a defesa dessas liberdades, recomendamos o voto nela.

Em defesa do Estado laico e do respeito à diversidade de orientações espirituais, contra a instrumentalização política do discurso religioso


A Constituição Federal é suficientemente clara na afirmação do caráter laico do Estado brasileiro. É garantida aos cidadãos brasileiros a liberdade de crença e consciência, não se admitindo que identidades religiosas se imponham como condição do exercício de direitos e do respeito à dignidade fundamental de cada um. Isso não significa que a religiosidade deva ser excluída da cena pública; exige, porém, intransigência com os que pregam o ódio e a intolerância em nome de uma orientação espiritual particular.


É, pois, com preocupação que testemunhamos a instrumentalização do discurso religioso na presente corrida presidencial. Em particular, deploramos a guarida de templos ao proselitismo a favor ou contra esta ou aquela candidatura – em clara afronta à legislação eleitoral. Dilma Rousseff, em particular, tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto e a liberdade de manifestação religiosa. Conclamamos ambos os candidatos ora em disputa a não cederem às intimidações dos intolerantes. Temos confiança de que um eventual governo Dilma Rousseff preservará o caráter laico do Estado brasileiro e conduzirá adequadamente a discussão de temas que, embora sensíveis a religiosidades particulares, são de notório interesse público.

O compromisso com a expansão e qualificação da universidade é condição da construção de um país próspero, justo e com desenvolvimento sustentável


É incontroverso que a prosperidade de um país se deixa medir pela qualidade e pelo grau de universalização da educação de suas crianças e de seus jovens. O Brasil tem muito por fazer nesse sentido, uma tarefa de gerações. O atual governo tem dado passos na direção certa. Programas de transferência de renda condicionam benefícios a famílias à manutenção de suas crianças na escola, diminuindo a evasão no ensino fundamental. A criação e ampliação de escolas técnicas e institutos federais têm proporcionado o aumento de vagas públicas no ensino médio. Programas como o PRODOCENCIA e o PARFOR atendem à capacitação de professores em ambos os níveis.


Em poucas áreas da governança o contraste entre a administração atual e a anterior é tão flagrante quanto nas políticas para o ensino superior e a pesquisa científica e tecnológica associadas. Durante os oito anos do governo anterior, não se criou uma nova universidade federal sequer; os equipamentos das universidades federais viram-se em vergonhosa penúria; as verbas de pesquisa estiveram constantemente à mercê de contingenciamentos; o arrocho salarial, aliado à falta de perspectivas e reconhecimento, favoreceu a aposentadoria precoce de inúmeros docentes, sem a realização de concursos públicos para a reposição satisfatória de professores. O consórcio partidário que cerca a candidatura José Serra – o mesmo que deu guarida ao governo anterior – deve explicar por que e como não reeditará essa situação.


O atual governo tem agido não apenas para a recuperação do ensino superior e da pesquisa universitária, após anos de sucateamento, como tem implementado políticas para sua expansão e qualificação – com resultados já reconhecidos pela comunidade científica internacional. O PROUNI – atacado por um dos partidos da coligação de José Serra – possibilitou o acesso à universidade para mais de 700.000 brasileiros de baixa renda. Através do REUNI, as universidades federais têm assistido a um grande crescimento na infraestrutura e na contratação, mediante concurso público, de docentes qualificados. Programas de fomento, levados a cabo pelo CNPq e pela CAPES, têm proporcionado um sensível aumento da pesquisa em ciência e tecnologia, premissa central para o desenvolvimento do país. Foram criadas 14 novas universidades federais, testemunhando-se a interiorização do ensino superior no Brasil, levando o conhecimento às regiões mais pobres, menos desenvolvidas e mais necessitadas de apoio do Estado.


Ademais, deve-se frisar que não há possibilidade de desenvolvimento sustentável e preservação de nossa biodiversidade – temas cujo protagonismo na atual campanha deve-se à contribuição de Marina Silva – sem investimentos pesados em ciência e tecnologia. Não se pode esperar que a iniciativa privada satisfaça inteiramente essa demanda. O papel do Estado como indutor da pesquisa científica é indispensável, exigindo um compromisso que se traduza em políticas públicas concretas. A ausência de projetos claros e consistentes da candidatura oposicionista, a par do lamentável retrospecto do governo anterior nessa área, motiva receios quanto ao futuro do ensino superior e do conhecimento científico no Brasil – e, com eles, da proteção de nosso meio-ambiente – no caso da vitória de José Serra. A perspectiva de continuidade e aperfeiçoamento das políticas do governo Lula para o ensino e a pesquisa universitários motiva nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff.

Por essas razões, apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Para o povo brasileiro continuar em sua jornada de reencontro consigo mesmo. Para o Brasil continuar mudando!

06 de outubro de 2010


Professores(as) e pesquisadores(as) DE FILOSOFIA interessados em assinar o manifesto, favor enviar email com nome completo, vínculo institucional e demais informações que acharem relevantes para o endereço: manifestoprodilma@gmail.com. Para conferir a lista de signatários acesse o link "assinaturas" na barra lateral. Para os demais interessados, favor conferir: http://www.petitiononline.com/prodilma/petition.html

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Lula, o Noivo da Girafa

Algum tempo depois do polêmico lançamento, finalmente vi Lula, O Noivo da Girafa, digo, o Filho do Brasil. De fato, o filme é uma experiência quase tão híbrida quanto seria um casamento entre seres de diferentes espécies: o filme tenta se equilibrar entre duas narrativas muito diferentes: um melodrama típico do cinema da retomada, cuja estética é a "cosmética da fome"; e, mal emjambrada, uma torta biografia política. Essa última, então, tem parto mais sofrido do que o de Lula.

De início, o filme é um melodrama concentrado na figura de Dona Lindu, a mãe de Lula. Ela quer que o filho seja alguém na vida, que realize sua “lenda pessoal”. Essa é a mensagem da mãe. A figura da mãe é utilizada para dar unidade à narrativa, vide as imagens em flashback no final, que denunciam também a carência de unidade. Diante da carência de unidade, do filme, do Brasil ou do PT, talvez se possa recorrer à mãe, seja ela Dona Lindu ou, quem sabe, Dilma Rousseff. A imagem da mãe cristianizada e anti-erótica é, quem sabe, único ponto do filme que aponta remotamente para a candidata do presidente.

A mistura e o hibridismo são imagens boas para definir Lula, que desde o princípio começa como num corpo estranho na política brasileira. Se a parte de melodrama estabelece continuidade com filmes tratando de infidelidade tais como Eu, Tu, Eles, a parte biográfica enfrenta, com desconforto, os assuntos políticos, sempre buscando despolitizá-los, sempre supondo que o espectador que vai ver um filme sobre um líder político não quer debate político algum.

A partir de 1963, quando Lula vivencia uma greve no ABC pela primeira vez, insere-se uma cena de invasão violenta de fábrica onde morre um chefe. Lula foge assustado. A cena seria para mostrar que Lula é contra a violência, mas serve também para muito mais, quando Lula dialoga com seu irmão Ziza, então no Partido Comunista Brasileiro (informação que o filme sonega por puro preconceito e má fé), supostamente o responsável pela invasão violenta da fábrica (o que não é, de forma alguma, típico da atitude do PCB diante do período João Goulart, que era de conciliação).

A cena termina por ilustrar as agitações do período Goulart e o fato de que Lula divergia delas por serem violentas: no entanto, de fato Lula era um alienado e achou que o golpe era uma coisa boa. Ele nem sequer escutou as explicações do irmão. Uma inserção em off de uma rádio da época comenta que Jango, embora tivesse um plano de desenvolvimento para o País, deixava descontentes alguns setores da população. Como ocorre a invasão da fábrica logo em seguida, o espectador pensa que dentre os setores descontentes estava o operariado! E esses setores eram: Igreja Católica, empresariado, mídia conservadora, exército, dentre outros. O golpe que segue em diante fica parecendo justificável, decorrência lógica em função dos acontecimentos anteriores, o que leva o espectador a pensar algo como: “ah, mas eles estavam invadindo fábricas e matando pessoas, tinha que acabar com a baderna mesmo”.

Quando o filme trata do golpe militar de 1964, não relaciona o fato histórico diretamente com Lula, mas dá a entender, com o episódio da perda do dedo, que desde 1964 Lula rompeu com a ditadura e politizou-se, o que é falso.
O filme errou feio em não conseguir enfrentar o fato de que Lula foi a favor da ditadura de 64 até fazer greve em 1978. Será que tocar nisso seria arranhar a imagem cuidadosamente idealizada transmitida no filme? Só que, daí por diante, tudo se desequilibra e se falseia em função disso.

A cena de 1968 onde Lula vê anunciado o AI-5 dá a entender que ele está se manifestando contra a ditadura. A prisão do irmão de Lula também não se encadeia no sentido que o filme deveria ter. O filme deixa no ar se Ziza era comunista ou se foi chamado de comunista, assim como comenta muito rapidamente sobre a tortura; a dramaticidade da situação é toda esvaziada, nem ela é encadeada como uma passagem no processo de conscientização de Lula de que deveria lutar contra a ditadura.

Quando o filme narra a participação de Lula no sindicato, em momento algum é dito que a ditadura proibiu qualquer tipo de greve. E o que deixa perplexo é o tipo de sindicalista ao qual Lula se ligou: são gordos pelegos oportunistas, contrários ao próprio irmão comunista, com discurso de “retrair”, ou seja, pregam a não-luta. O dirigente sindical corrupto transmite ensinamentos que Lula absorveu com firmeza, tal como “ideologia é coisa de bitolado”. Ideologia, nesse sentido, é sinônimo de “esquerda”. Lula é apresentado como um pelego gordo e oportunista que é não é “de escritório” e é “sangue novo”. Mais adiante, quando enfim ele passa a discursar e liderar dentro do sindicato, nega explicitamente a divisão entre esquerda e direita em nome da luta direta por resultados, assim como nega a luta de classes. Embora realmente Lula estivesse, nesse primeiro momento, contra os partidos comunistas e contra Brizola assim como contra a ditadura, seu discurso era bem de “noivo da girafa”: misturava simpatia pelo sindicalismo norte-americano, tradeunionista, com vocabulário marxista: falava em “burguesia nacional” e “socialismo” com bastante freqüência. E não se pode deixar de notar o quanto sua prisão foi uma provação muito light em relação ao que passou na cadeia um César Benjamin. No tempo da prisão, Lula tinha largo espaço na mídia e amplo apoio dos operários que representava, fora outros setores da sociedade que perceberam o levante operário como prego no caixão da ditadura. A empolgação com Lula mostrada no filme é tão grande que até o enterro da mãe vira um animado comício a favor dele.


A questão é que, primeiramente, entre 1978 e 1981, Lula evoluiu da reivindicação direta de salários para o setor operário do ABC paulista que ele representava para a luta política contra a ditadura, inclusive formando um partido e se lançando como político. No entanto, nessa cinebiografia, tudo isso é invisível -- e por ideologia, por desejo de esconder e gerar falsa consciência. O filme esconde o processo em que nasce o político a partir do sindicalista e só mostra os sucessos posteriores em uma elipse pouco esclarecedora. No todo, é um filme que muito esconde sorrateiramente e pouco revela. Merece ser visto com o máximo de espírito
crítico, senão faz cair em equívocos, é torpe e enganador.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Discurso na Câmara dos Vereadores, 13 de setembro de 2010

Boa noite. Venho aqui essa noite parabenizar o vereador Carlos da Rádio, que atendeu recentemente uma reclamação dos artistas locais. Esclareço que tenho acompanhado o andamento do projeto através de meu amigo André do Rock, que encaminhou o anteprojeto ano passado.

Tendo em vista que essa reivindicação foi atendida, venho trazer algumas outras, ligadas aos artistas ou de outra ordem. Os artistas locais demandam há muito uma lei municipal de Incentivo à Cultura. Os Reinadeiros, que também são artistas, informaram que há muito não está ocorrendo repasse de verbas da prefeitura para o Reinado. Gostaria de saber, junto aos vereadores de oposição, se essa informação procede.

Outros dois pontos são a necessidade da criação de uma rádio comunitária e de uma TV local. Nunca vi uma iniciativa que me pareceu tão anunciadora do futuro quanto a TV Interativa. Foi uma iniciativa visionária. No entanto, ela parou e não tenho visto manifestações em seu favor por parte do poder público e dos empresários locais. O apoio e o questionamento sobre o que aconteceu, porque ela parou de ser exibida na web e não foi estimulada como um embrião de uma TV local. Será que a cidade vai deixar morrer essa iniciativa?

Outra iniciativa é a criação de uma rádio comunitária. A rádio comunitária ainda não existe na cidade da forma como ela é idealizada, ou seja, como um espaço plural, onde a s pessoas da comunidade tenham voz. Para a comunidade também é importante a entrada das aulas da cultura afro-brasileira e da música nas escolas municipais.

Outra questão é a preservação da Língua do Negro da Costa. Minha sugestão é a realização de oficinas de produção oral e escrita na Língua do Negro da Costa, assim como frisar a necessidade da revitalização do patrimônio afro do Beco dos Aflitos. Garanto que existe interesse nacional na preservação desse patrimônio local, assim como o apoio à publicação de textos na editora local, que é a Dez Escritos, que já editou Madrinha, de Sônia Queiroz, e o Fernando Cabral, aqui presente.

Lúcio E. do E. S. Júnior

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Xuxa Afro, um Mito Profanador

Pessoal, no último dia 4 de setembro tive uma grata surpresa, ao encontrar o meu amigo Geovane Sassá aqui em Bom Despacho, participando como ator do espetáculo Eh Boi, do Grupo Cabana.

Eu só fiquei um pouco preocupado quando o Sassá me falou que pediu meu contato e ninguém na Secretaria de Cultura local tinha. Pô, Rosalva, pega com o Acir aí! Nesses tempos em que o sigilo fiscal da gente é segredo de liquidificador, ninguém numa cidade do interior tem o telefone de um professor!

Se até o governador Aécio tem meu telefone e me ligou esses dias para passar um trote pedindo para votar em Anastasia!

Então taí um ensaio que fiz sobre o trabalho do Sassá há muitos anos, mas que ainda é pertinente; abraços, Sassá!




A Xuxa África: Um Mito Profanador?

“To whirl the old
woman from Bahia”

Millôr Fernandes,
em The Cow Went To The Swamp



A Xuxa afro-brasileira, criação do músico e ator Geovanne Sassá,
pode ser analisada como sendo uma tentativa de atualização do mito do
andrógino de Platão:

“andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no
nome comum ao dois, ao masculino e ao feminino(...)inteiriça era a forma de
cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele
tinha, e as pernas e o mesmo tanto das mãos(...) Por conseguinte, desde que
a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade
e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no
ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral”.

A Xuxa Àfrica busca mimeticamente homenagear/parodiar sua
cara-metade, Xuxa Meneghel, uma gaúcha de clara ascendência européia e corpo
escultural. A “rainha dos baixinhos” exerce seu reinado submetendo seus
súditos a seu otimismo Kitsch e a sorrisos pré-fabricados. A Xuxa Negra se
autoproclama “rainha dos neguinhos”, constituindo-se num mito
dessacralizador. Xuxa, como personagem do músico e ator Carlos Geovane
Nunes, se cristaliza absorvendo elementos do belo grotesco e do belo cômico
que:

“São duas formas do belo que se tocam, que se enlaçam até se
confundirem numa única emoção.

De comum, têem o elemento do ridículo, que nunca pode faltar
nelas; de diferente, têm um grau diverso da deformidade ou da caricatura da
verdade.

Assim como as cócegas e certas formas de volúpia confundem as
fronteiras do prazer e da dor (demonstrando-nos pela centésima vez que as
nossas classificações são brinquedos infantis, fios de seda tecido entre os
granitos da natureza);assim como o grotesco e o cômico parecem folgar nos
confins do belo e do feio, confundindo-os um com o outro, com mão
travessa.”

A personagem de Geovane Sassá o engloba, possuindo seu corpo
numa trasmutação exuberante e esdrúxula; é como uma pomba-gira. A Medusa de
Ébano possui uma força que se assemelha a um grito primal, telúrico,
dionisíaco. A Xuxa “Noir” dá à sua homônima um espelho circense: a loirosa
narcísica e ariana, ao tentar vender o mito da supremacia branca num país
mestiço, é subitamente colocada frente a frente com uma imagem caricata e
deformante de si mesma, mas que mostra a modelo e dublê de artista na sua
verdadeira face; a modelo semigringa é tornada deusa pagã. Fechou-se o
círculo. A divindade africana lança uma luz desmistificante sobre a face da
Eva Braun brasileira e petrifica a megera. Aquilo que na moçoila gaúcha era
pura empulhação, sorriso de propaganda de creme dental, manipulação
mercadológica e ingenuidade calculada ganha um contraponto de impulsos
vitalistas, convites indecorosos à fruição imediata dos sentidos e volúpia
das sensações mais lúbricas.

Exibindo seu corpo de ninfa multicolorida, cortesã apocalíptica
e sensual, nossa personagem remete a obras palpitantes de vida e vigor como
os quadros de Jackson Pollock; ela é, como as telas do referido pintor
americano, uma rede intrincada de gotas, redemoinhos e salpicos. “A pintura
tem vida própria”-disse ele uma vez-“eu tento deixá-la acontecer”. Geovane
também poderia dizer o mesmo com respeito às suas criaturas.

E a criatura em questão usa, não obstante, um óculos de armação
antiga e demodeé. São óculos de velha encarquilhada que escondem olhinhos
brilhantes de moça. Talvez fosse a um olhar como esse que Nietzsche se
referia neste seu poema Da Pobreza do Riquíssimo:

“-Quietos!

É minha verdade!-

De olhos esquivos,

de arrepios aveludados

me atinge seu olhar,

amável, mau, um olhar de moça...

Ela adivinha o fundo de minha felicidade,

ela me adivinha-ah! o que ela inventa?-

Purpúreo espreita um dragão

no sem-fundo de um olhar de moça.”

Sendo assim, a Xuxa Preta bota ao avesso a democracia racial
brasileira, rodando a baiana da europeizada e etnocêntrica vedete da TV.
Santa e prostituta, homem e mulher, frágil e sedutora, a personagem tem um
pouco de Marilyn Monroe e Benedita da Silva, e parece ter nascido da
conjunção carnal de Sassá Mutema e Hebe Camargo.

Ao apresentar-se a Xuxa Preta evoca um clima de confraternização
que também está presente, por exemplo, no rito do vodu, no Haiti. “O vodu é,
basicamente, a religião e o culto aos espíritos ou divindades chamados loa.
A classificação dos loas é muito complexa, não somente por causa da grande
diversidade de origem geográfica e étnica dos africanos trazidos ao Haiti,
mas também pela existência de uma infinidade de divindades regionais ou
locais.(...)Cada loa tem sua morada particular: no mar, num rio, numa
montanha ou árvore, de onde vem para ajudar seus servidores fiéis, quando
ouve suas orações ou o som dos tambores sagrados pedindo a sua presença.
Cada loa tem também seu dia ou dias próprios durante a semana.(...) As
cerimônias do vodu são executadas em locais abertos ao público.” Igualmente
são feitos às claras os rituais lúdicos de Xuxa Àfrica.

Quando achamos que já temos a situação dominada e já rimos da
piada, Xuxa nos dá uma bofetada de veludo, numa reviravolta semiótica.
Transcendendo o reacionarismo e o machismo de Minas Gerais, ela rebola e nos
remete ao momossexualismo baiano. Algo como ver o padre Lima Vaz saindo na
Banda Mole no carnaval, tropicalizantemente conectado no “zeitgeist”. Ela
digere Minas e silencia impávida como se quisesse nos devorar, nos colocar
de volta para o útero. Um toque picante e, sarapatética, ela espargirá
energia como se fosse um lança-perfume cintilante.

Só mesmo uma Xuxa de Cor para nascer nos trópicos e afugentar a
tristeza destas plagas com uma descarga de alegria tão vulcânica!


Uma Xuxa Preta está, é claro, ligada ao espírito dionisíaco do
carnaval, pois ela é brasileira, afinal. Lembra do carnaval do passado,
expressão espontânea da vontade coletiva de libertar-se, divertindo-se. Ela
está ligada ao caráter dionisíaco e mesmo histérico da festa (no sentido
grego de rito coletivo uterino e afrodisíaco) que imprimia à diversão um
forte sentido de contestação psicossocial. A personagem também estaria
ligada à escatologia e ao grotesco, no sentido que explicita Muniz Sodré:

“A Escatologia implica numa atitude cultural com relação à
história. A cultura oral brasileira foi marcada, desde as suas origens
afro-indiano-portuguesas, por uma Escatologia naturalista-que vê o homem
como parte de uma natureza manifesta em ritmos cíclicos, recorrentes. Como o
homem estaria integrado organicamente na natureza, qualquer desacerto,
injustiça, aberração do estado natural, remediável pelo culto ou pela
magia.(...) Essas Escatologias influem poderosamente na imaginação coletiva.
O portador de deformação física, por exemplo, é percebido historicamente
como um desvio da organicidade natural, como monstro (Teratos). Isto gerou
em nossa mitologia figuras como o lobisomem, o mão-de-cabelo, etc. Ainda
hoje, em cidades do interior do Brasil, o deformado físico( a mulher macaco,
o menino com cara de jumento, etc.) é vivido como um fenômeno de origem
sobrenatural-castigo dos céus-e, às vezes, como espetáculo, já que pode ser
exibido, a dinheiro, em feiras, ou simplesmente vendido como história na
literatura de cordel. (...) O ethos da cultura de massa brasileira, tão
perto quanto ainda se acha da cultura oral, é fortemente marcado pelas
influências escatológicas da tradição popular. O fascínio pelo
extraordinário, pela aberração, é evidente nos programas de variedades (
fatos mediúnicos, aberrações físicas como as irmãs siamesas, aleijões,
flagelações morais, etc.) . A esta altura a Escatologia consegue juntar os
dois sentidos: o místico e o coprológico.(...) Em Medicina, o
termo(Escatologia) tem sentido coprológico-é o estudo dos excrementos”

É desta tradição popular que a Xuxa Preta, vista como bizarra
ou aberrante, se alimenta e se insere.

Encerro citando certo trecho de um poema de Baudelaire onde ele
tece uma homenagem “A Un Dame Creóle” como nossa Xuxa d’Afrique:

“No inebriante país que o sol acaricia/ Sob um dossel de agreste
púrpura bordado/ E a cuja sombra nosso olhar se delicia/ Conheci uma crioula
de encanto ignorado./ A graciosa morena, cálida e arredia,/ Tem na postura
um ar nobremente afetado;/ Soberba e esbelta quando o bosque a desafia,/ Seu
sorriso é tranqüilo e seu olhar ousado.”

Bibliografia:

-Baudelaire, Charles: As Flores do Mal.

-Grondim, Marcelo: Haiti, Cultura, Poder e Desenvolvimento.

-Platão, O Banquete: Coleção Os Pensadores.

-Mantegazza, Paulo: A Fisiologia do Belo.

-Sodré, Muniz: A Comunicação doGrotesco

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ode ao Homem Brasileiro

Fernanda Young
Alexandre Machado


Ó homem brasileiro
Tão vigoroso e faceiro
Compreensivo e maneiro
Sempre com nós, mulheres, gastando dinheiro!

Perdoa essas suas fêmeas insensatas, tão falastronas e chatas,
Que reclamam em revistas baratas
À espera de orgasmos na lata!

Ó Macho Nacional
Entre jararacas
Matando a cobra
E mostrando o pau

És mesmo sensacional!

E se roncas feito um animal,
Tudo bem, não faz mal!

Agüentas diariamente,
Além da mulher tão carente,
Um escritório repelente,
Numa economia emergente,
Volta e meia decadente!

Um belo futuro pela frente,
Mas que nunca chega na gente!

Por isso, não esquente,
Homem Brasileiro
Tão inteligente!

Na língua do amor fluente
Quem disser o contrário, mente!


Como fiz eu, frígida, incompetente!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Contra o Bairrismo no Fique Sabendo

Leio hoje o Jornal Fique Sabendo e encontro o mesmo discurso bairrista que grassa por aí pela cidade.

Segundo esse discurso, os cidadãos de Bom Despacho deveriam eleger candidatos locais, independente de partidos políticos ou coligações, e pior, deixando de lado qualquer consideração a respeito da ideologia dessas pessoas, concentrando-se só em sua origem na cidade.

E acho nefasta, aliás, essa mentalidade de simplesmente sentar e esperar providências de cima. Que tal estimular iniciativas que tragam avanços para a cidadania? Que tal organizar movimentos sociais locais? Uma dessas iniciativas, por exemplo, é Jornal Fique Sabendo cobrir a produção cultural local, os livros que são lançados, os filmes que são produzidos em Bom Despacho e região.

No entanto, em primeiro é preciso lembrar que no Congresso Nacional discutem-se temas nacionais e lá não há tempo para discutir a educação, saúde e infra-estrutura de Bom Despacho.

Aliás, nem nos editoriais do Fique Sabendo parece existir tempo para temas como esses acima. O que vejo é uma opinião subjetiva do editor sobre Deus, telenovelas, BBB, o filme Tropa de Elite, Olimpíadas, Obama, etc.

E, como lembrou meu amigo Alex Lombello, que é candidato a deputado federal, se o deputado vender o voto para trazer asfalto e votar contra um aumento para os aposentados, uma cidade que tem muitos aposentados como Bom Despacho é muito mais prejudicada, pois aqui existem muitos aposentados!

Lê-se no editorial "Eleições de 2010: Bom Despacho tem seus candidatos": "Nos últimos anos Bom Despacho perdeu várias oportunidades de se desenvolver (...). Isso ocorreu de acordo com especialistas políticos (sic), porque a cidade nunca teve representantes na Assembléia Legislativa e no Congresso Nacional."

Ora, Valmir, já ouvi dizer que Cecília Ferramenta é daqui e é deputada estadual...E outra, não acredito que as rixas e intrigas entre políticos locais sejam um problema com você diz. O problema é que as rixas são pessoais, assim como as brigas são em torno de pessoas e não de projetos; os partidos também praticamente são clubes dos ricos. Não existe como um cidadão participar de um partido ou ser chamado para um sem ser de uma panelinha ou ser rico. Aliás, no contexto atual, os partidos não têm importância alguma, são só veículos para as pessoas.

Eu te desafio a me esclarecer em quem é que Zé do Nô, Inácio Franco, Chico Uejo e Jefinho vão votar para presidente. Um jornal sério, cidadão e interessado no progresso da cidade faria essas perguntas a esses senhores, faria reportagens e entrevistas e não essa propaganda vagabunda e reles embutida em matéria e editorial.

E quem são esses especialistas políticos que você aponta, Valmir? Eu te desafio a me apontar um. Se você me passar essa análise política, reproduzo-a aqui numa postagem.

E aponto dois problemas na cidade: 1) tendência a olhar somente para o próprio umbigo, herdada, quem sabe, de duas instituições muito fechadas e com tendências a leis e regras próprias, Igreja Católica e Polícia Militar. É o contrário da mentalidade cidadã a que viceja por aqui. As pessoas pensam: "se eu estiver bem, eu sozinho, que se foda o mundo!" 2) Cada família é uma república. É também o contrário da cidadania.

Portanto, Valmir, o desafio é politizar, fazer diferente, agitar a pasmaceira. Fazer cobertura política bundona em velocidade 5, NÃO!

domingo, 8 de agosto de 2010

Resumo das 21 propostas de Alex Lombello

São João del Pueblo

Página da célula de São João del Rei do Partido Comunista Brasileiro - PCB
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Resumo de minhas 21 propostas
1 - Eleitor, para você ser mesmo patrão dos políticos, precisa ter o poder de demiti-los. Quando tivermos um plebiscito anual para confirmarmos ou encerrarmos os mandatos, até o pior político adivinhara nossos desejos.

2 - Já é possível a movimentação de cada centavo público na internet, para todos, com fotos das notas, dos extratos, das folhas de pagamento etc. Lutemos pela completa transparência digital.

3 - A educação brasileira continuará um lixo enquanto estiver nas mãos de cabos eleitorais. As escolas, secretarias e o ministério devem ser controlados por conselhos de estudantes e professores.

4 - Imagine se para criar um imposto fosse necessário obter a aprovação do povo em um plebiscito. Seria então necessário explicar com muitos detalhes os gastos públicos.

5 - O Senado só existe para barrar qualquer proposta avançada que porventura passe pela Câmara. Com eleições extremamente caras, só os capitalistas financeiros têm grana para vencê-las. Devemos pedir o fim do Senado.

6 - Os Conselhos do SUS têm que ser realmente representativos dos usuários e dos funcionários da saúde, que também devem controlar cada hospital.

7 - As TVs públicas têm programação insipda, abrem pouco espaço para clips e curtas amadores, são reprodutoras de agências estrangeiras, porque estão nas mãos de cabos eleitorais do governo. Democracia nas TVs públicas, com a programação controlada por conselhos populares locais, regionais, estaduais e nacional.

8 - Todas as empresas públicas deviam ser agrupadas em uma só grande coorporação nacional, dirigida pelos seus trabalhadores e não pelos cabos eleitorais do governo. Como são empresas do povo, suas contas não deviam ter sigilo.

9 –Não basta que os bancos sejam oficialmente do povo, eles precisam servir ao povo, e não se comportarem como bancos privados. Devem contratar mais, pagar mais, isentar de taxas e cobrar juros menores e buscarem sempre o lucro zero.

10 -É necessário que exista controle público sobre as terras públicas. E são necessárias grandes empresas agrícolas públicas, para solucionar as lutas no campo e produzir alimentos para alimentar as crianças do café da manhã à janta.

11 - Precisamos de uma tabela fixa de salários dos políticos baseada no mínimo para conter os aumentos constantes que eles se dão com nosso dinheiro.

12 – Democracia na CBF e nos esportes. A seleção brasileira representa a nação, não pode ser propriedade de meia dúzia de cartolas.

13 – Fim da reeleição de parlamentares, que tomaram o controle dos partidos, fechando o canal de participação popular nas eleições. Vetando-lhes a reeleição dificulta-se essa apropriação indébita.

14 – Homens públicos não devem ter sigilo bancário. Se a pessoa resolver ocupar um cargo público, suas contas também devem ser públicas, não deve ter sigilo bancário. Se quer privacidade fique na vida privada.

15 - A redução da jornada aumenta os turnos, daí os empregos, portanto as vendas de todo mundo, e então a produção.

16 - As Câmaras precisam todas ser reformadas. Os vereadores, por exemplo, devem ser substituídos por conselheiros municipais sem remuneração. Os deputados têm que ganhar menos e ter menos assessores,

17 - Um aumento das aposentadorias é um aumento de vendas em todas as cidades, daí aumento dos empregos. Um mandato pode também auxiliar a organização dos aposentados e idosos, e lutar para que essas organizações tenham controle ao menos de supervisão sobre os asilos.

18 – Os juízes precisam ser eleitos e demitidos pelo povo ou pela Ordem dos Advogados do Brasil. As leis que geram a impunidade atual devem ser extintas. A punição para os corruptos deve ser o confisco de todos os bens.

19 – Autonomia dos Sindicatos perante o Ministério do Trabalho e as Centrais Sindicais. Desde 1937 os Sindicatos estão sob tutela governamental e isso não os ajudou em nada.

20 - A única maneira de extinguir o tráfico de maconha é permitir que os maconheiros a plantem em casa. Será um dinheiro a menos para a compra de armas e munições e os traficantes ainda perderão o contato dos maconheiros, dificultando espalhar o crack. A grana hoje gasta importando maconha sem impostos ficará no país.

21 - A Internet permite ao deputado que tiver essa vontade manter-se ligado constantemente aos seus eleitores, informar-lhes diariamente o que acontece e ouvir suas opiniões até minutos antes da votação. Propomos um mandato on line e a prova é nossa campanha na internet, completamente aberta ao debate e a receber opiniões, na página http://saojoaodelpueblo-pcb.blogspot.com .

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"Professor" Anastasia Voa no Jornal Fique Sabendo: Aeroporto?

Há muito não faço observações sobre a imprensa bom-despachense. Mas vamos lá. Li um curioso editorial do jornal Fique Sabendo sobre a lei da palmada, que é onde meu amigo Valmir Rogério veicula suas opiniões sem assinar, mas todo mundo sabe que é ele quem escreve.

E daí me deu vontade de dar uma palmada na imprensa, essa criança custosa que habitualmente confunde coisas como castigos físicos e humilhações com palmada no bumbum.

No final do texto ele observa que o filme Lula, o Filho do Brasil, "mostrou o presidente, quando menino, tomando verdadeiras palmadas de seu pai, considerado alcóolatra". Valmir, não se tratava de palmadas e sim surras violentas, tapas na orelha, etc. Lula disse que herdou toda a sua maldade do pai. Já eu fiquei achando que do pai violento herdou um certo desprezo por quem lê e estuda.

E, com certeza, Valmir, o comentário dele é autobiográfico: chicotada na infância não impede que alguém cresça e torne-se um político corrupto. O próprio Lula é um bom exemplo disso.

Na verdade, quando se fala em PT, eu acho, em primeiro lugar, que o PT nunca deveria ter sido fundado. Lula e os outros deveriam ter entrado ou nos partidos comunistas ou se submetido à autoridade de Brizola no PDT. Plínio Sampaio está errado quando diz que o PT é a primeira grande criação do povo brasileiro. Não: antes existiram o PCB de Prestes, o PTB de Jango e o PDT de Brizola. Sejamos justos, esses partidos tiveram falhas, erros, mas foram veículo das lutas do povo brasileiro muito antes do agora PT, que vence eleições ainda que caindo de podre e em pleno processo de autofagia.

Quando se fala em PT, é forte a imagem que eles passam de que agora está ocorrendo um plebiscito entre esquerda e direita, entre Dilma e Serra. Eu afasto a possibilidade de votar em Dilma mentalizando em duas pessoas: Gleide Andrade, atualmente no diretório municipal de BH; e em Paulo Lamac, líder do PT na câmara de vereadores.

Uma chapa que Gleide ajudou a elaborar no DCE e que sucedeu àquela em que participei gerou a monstruosa gestão João Hess no DCE da UFMG, de triste memória. Tenho certeza, por exemplo, de que um artigo que fiz contra essa gestão, pela qual também me sentia, em menor grau, responsável, foi rebatido não por João Hess, mas por ela, sua verdadeira mentora intelectual. E pensar que foi no imobilismo gerado pela gestão João Hess que aconteceu um fato terrível como foi a expulsão dos estudantes pobres que eram moradores do edifício Borges da Costa. Como me dói a lembrança de ver uma mulher lésbica negra da Letras puxada pelos cabelos pela Polícia Federal e ao lado sua namorada...Eu as conhecia!

E toda essa desgraça, essa violência, graças ao imobilismo da gestão horrorosa de João Hess, gerada na mente de extremo pragmatismo e oportunismo antiético de Gleide, possibilitou que aquelas cenas infernais foram possíveis: não havia DCE, então, para defender os estudantes! A entidade estava travada em burocracias malucas na justiça.

Já Paulo Lamac copiou a ideia que meu amigo Magno Payakan trouxe de Campinas, de fazer um cursinho pré-vestibular para estudantes de baixa renda ministrado pelos próprios alunos da universidade. E tornou isso uma empresa rendosa. O DCE UFMG, na época, colaborou bastante com ele. E virou uma coisa direitosa: peguei uma vez o material de apresentação do Pré-UFMG e não havia nenhuma referência elogiosa ao movimento estudantil, muito pelo contrário.

Não, o PT nunca deveria ter existido. E eu só voto nisso que está aí no segundo turno e olha lá, no intento de "derrotar Serra e continuar na oposição ao governo Dilma".


Mas voltemos ao Jornal Fique Sabendo. Ele publicou uma matéria que me espantou: "Governador Anastasia garante melhorias para o Aeroporto de Bom Despacho". Na matéria, o Anastasia, que é candidato, faz promessas para a cidade. Cita-se todo mundo do PSDB. Ora, dizem que nessa eleição não se aceitam matérias pagas. Ficamos todos, então, na dependência de sermos pautados. O Jornal de Negócios tem feito uma boa cobertura das eleições. Mas essa do Fique Sabendo é propaganda do PSDB inserida na pauta, com promessas e tudo.

Sendo assim, exijo que o jornal Fique Sabendo reproduza as propostas que fiz aqui no blog e que bem que gostaria que fossem discutidas na primeira reunião de uma célula do partido comunista brasileiro a ser fundada na cidade. São propostas para o debate sobre o que a cidade precisa em termos de melhorias, educação e cultura.

Por que o poderoso e rico pode e eu não? E o pior é a propaganda burra: Anastasia, a julgar segundo a matéria, pensou que existe um aeroporto em Bom Despacho, enquanto deveria referir-se ao bairro popular chamado Cidade Nova pelo Jornal Fique Sabendo (conforme a oportunidade), oficialmente São Vicente, mas popularmente conhecido como "Campo de Aviação"!!!

Hemingway In My Life: The Day Ernest Hemingway Died Crucified

Hemingway In My Life: The Day Ernest Hemingway Died Crucified

Lúcio Jr.
Brazilian Writer

Questions: Allie Baker, from hemingwayproject.blogspot.com



1) Do many people in Brazil know who Hemingway is? Do they read him in school?

Yes, I think many people know him here. There is either a text that we usually receive by the internet that says: “Why the chicken passed away the highway? So, it point a lot of answers: Nietzsche answer: “the chicken passed to be an superchicken”. There are Socrates, Darwin and so. On. But it´s interesting that there are a Hemingway answer too: “To die. Alone. In the rain”. Although this joke is very popular, I guess Hemingway´s style is very popular here and all around the world. But they don´t usually read him in school here in Brazil.


2) It is interesting that even though Hemingway writes about America in the Nick Adams stories, it makes you think of Brazil. Is it because of the landscape or the characters?

It´s rather because of the landscapes than the caractheres. Also there´s the taste of go fishing with my father. I love to see themes like this in short stories like “A Way You´ll Never be” and “Now I Lay Me”.


3) What is your very favorite Hemingway book? Why?

The Sun also Rises. I don´t how exactly how to explain, how it seduces me, but I guess it´s because Spain has a clear identification with Brazil. My brother travelled to Europe and told me this too. I even wrote a little essay about it: “The Sex also Rises”, about sexuality in this novel. This book seems to be superficial but it isn´t. I wish to do a conference about him, drinking a small drink that he was drinking on every passage. I guess it will be somewhat synestesic.

4) What part of Hemingway's life is the m interesting to you? Why?

His early years on Paris, because I love that “bildungsroman” kind of novel.


5) If you could ask Hemingway anything, what would you ask him?

Do you ever heard of “Os Sertões”, de Euclides da Cunha? Est-ce que vous pensez que Jake Barnes est impossibilité d´avoir des rapports sexuelles à causes psicologiques ou physiques?


6) How do Brazilian readers regard the very masculine persona that Hemingway developed over the years?

Till nowadays, the majority of brazilian readers used to take his macho image not a persona, but a reality. Also, there was, among brazilian writers, a disseminate image of Hemingway as a macho winner: a man who won, literally, Tolstói and Turgeniev, and after them, won his rivality with Fitzgerald and others from his generation and so on. Take a look at the quotes of Hemingway at the text "Mulher de trinta e oito" at my blog. He really loves the macho image of Hemingway. It´s a sex simbol for him (and a lot of readers), a symbol of masculinity! He´s also and obsessed with Hemingway and Marilyn. Ernest fiction and image is used by him in this tale (That can be translated as a joke with Balzac, something like“Thirty-Eight Years Woman”) as a poster child for Viagra.


7) How does Hemingway influence you as a writer?

There’s something in it for everyone, his descriptive style, his crisp dialog, the carnival atmosphere of the Fiesta itself and, as always in his works, his fascination with androgyny, or as the protagonist of The Garden of Eden put it, finding “a more African sexuality, one that goes beyond all tribal law.” I consider him an extraordinarily complex and modern writer.

Hemingway influencied me as a writer, especially with Nick Adam´s stories. I love his short sentences, and his dry stile in this book, it´s specially clear. I´ve lived in a city called Uberaba here in Minas Gerais. It was a quartier near to the countryside and I found it similar as the narratives told in Nick Adam´s stories.

My adventures at that time was a little similar like Nick Adam´s ones: go fishing some crawfishes on the Uberaba River, wandering thru woods and streams full of mossy rocks and playing with red and black or thorny seeds. I particularly remember a day when I saw a snake in the square in front of our house, and after we found a snake inside our house. I was always wondering lonely, mostly of the time.

First, I´ve read Mark Twain and then, Hemingway. For me, there was a clear continuity between then. When I was an adolescent and wanted to be a writer, for me, the biography of a writer was: a man on the desk, writing. But Hemingway biography did revolutionize this concept.

So, I think of my childhood maybe was something similar as the Hemingway in Idaho. But my adolescence and youth the writer´s technique did change: I used a electric typewriter for some time but no longer the word for windows arrived. I think it´s the great difference between Hemingway era and ours: the work of the writer is totally different today.


8) What books have you read about Hemingway's life?

Life and Works John L. Brown

Hemingway Interview with George Plimpton, Paris Review


9) Is there anything else you would like to say?


Allie, have you ever heard of Roberto Drummond, a writer from Brazil? It was published in 1978. But I think he´s about a leftist jornalist prosecuted by brazilian dictadorship. He wrote a book called The Day Ernest Hemingway Died Crucified. It´s a very pop influencied, interesting and experimental novel.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Carta com propostas para Bom Despacho

Neste momento grave da história política da cidade de Bom Despacho, onde verifica-se uma crise da administração municipal em função de acusações várias, eu, Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (professor) convoco a comunidade interessada em cultura, artes, política e comunicação para o debate a respeito das possíveis saídas e propostas para a cidade, levando em conta as presentes reivindicações:

• Diante do fato de que não existe uma Lei Municipal de Cultura, os artistas locais contam com a administração para algumas atividades esparsas, mas no geral a cultura, artes e comunicações estão entregues à competição selvagem do mercado e contam com ajuda insuficiente da administração local. Convoca-se, através desta, os cidadãos interessados em cultura para tomarem uma atitude em relação à redação da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

• Apoio à Festa de Reinado com divisão igual da verba destinada aos cortes envolvidos na Festa.

• Se a conjuntura política da atual administração é de crise, também crítica se encontra a situação dos músicos locais, que encontram pouquíssimos espaços de trabalho remunerado. Reivindica-se, através desta, espaço remunerado nas rádios de Bom Despacho para os músicos locais.

• Necessidade de criação e apoio à TV local (lutar para trazer TV Interativa também para a TV como canal aberto) e uma rádio comunitária (que poderia ser a 104, 7 Killer FM, legalizada).

• Apoio a iniciativas como o Coral Voz e Vida, assim como a volta das aulas de Música às escolas.

• Exigir apoio da comunidade e da administração para iniciativas como a editora Dez Escritos. Reivindicar o estímulo à produção de produção oral e escrita na Língua do Negro da Costa, também conhecida como “gira da Tabatinga”, tendo em vista preservar esse rico patrimônio lingüístico local, ameaçado de extinção; apoio ao cumprimento de lei que obriga a inclusão de aulas de cultura afro-brasileira, ausentes na cidade, com exceção de uma experiência na Escola Martinho Fidélis. Criação de oficinas e apoio à publicação de livros na Língua do Negro da Costa (“Gira” da Tabatinga)

• Pagamento do INSS para os funcionários demitidos da prefeitura.

• Pagamento do piso salarial de oitocentos reais (por 25 horas semanais) para os professores.

• Estatização das siderúrgicas locais, hoje paradas devido à crise, com indenizações para os trabalhadores e para os moradores do bairro São Vicente, que há anos conviveram com a poluição.

• Revitalização do Beco dos Aflitos, com valorização do patrimônio afro local.

• Liberdade de organização e reunião para o movimento estudantil da UNIPAC Bom Despacho. Transformação da dívida da UNIPAC com a prefeitura em bolsas para os estudantes.

• Não à privatização da BR 262 depois de duplicada e não ao pagamento de pedágios. Ampliação da duplicação até Bom Despacho (atualmente, só chega até Nova Serrana). Construção do trevo diante da UNIPAC para maior segurança dos alunos.

• Construção do aterro sanitário local.

• Criação do Parque Mata do Batalhão, transformando a mata em um parque ecológico público sob controle do município.

• Apoio aos pequenos produtores locais para que possam se opor ao agronegócio e dizerem não aos transgênicos.


• Reinstalação do posto do ministério do trabalho que Bom Despacho perdeu.

• Apoio à construção da sede da ADEFIS (Associação dos Deficientes Físicos) e da sede da escola de música do maestro Domingos.

• Apoio à CPI do prefeito Haroldo Queiroz e, se ela comprovar as acusações, impeachment já.

Isto posto, convido a todos para debater os pontos acima aqui no revista cidade sol.


Adorei os seguintes questionamentos recebidos:

Anônimo disse...

1-A arte e a cultura devem ter investimento, inclusive em cidades pequenas, já que os únicos que conseguem desenvolver são destinados as tradições locais. Então para haver mais pluralidade cultural e artística que são limitadas.

2-Temos urgentemente de criar veículos públicos de comunicação. E a radio comunitária é um dos meios mais eficientes e populares para o interior.

3-Sobre os desempregados, é necessário pagar seguro desemprego, ou já está pagando?INSS também...

4-O piso nacional dos professores, em termos de Brasil, se não me engano, é 950, mas os neoliberais de Minas pagam mais ou menos 600 reais na pratica. Esse piso colocado, no blog, é para professores da rede municipal? Ou será que as horas semanais desse piso é bem menor do que o nacional?O que justificaria um valor menor...?

5-Uai, se tem empresas paradas, o estado (poder publico) tem a obrigação de levantar isso. Já a poluição é outro agravante, que tem que ser prevenido e combatido...

6-Geralmente as universidades particulares têm movimento muito fraco em relação às publicas. Esses movimentos devem ser criados para essas universidades alcançar a eficiência e as decisões democráticas que tem nas publica, tornando assim instituições de ensino “semi-social”.

7-A preservação do meio ambiente é uma bandeira do futuro e presente e apenas os reacionários e conservadores não as defendem, ou não enxergam a importância de defendê-las. Refiro ao parque e ao aterro.

8-Não apoiar a manutenção de pequenos produtores, ou pequenas propriedades, é uma bandeira que os comunistas não apóiam como têm muitos por ai dizendo. É conciliável existir socialismo com pequenas propriedades produtivas, com regulação da sociedade é claro.

9-Um posto do ministério de trabalho ajudara cada vez mais os trabalhadores conhecer seus direitos e lutar por eles.

10-Político corrupto e culpado é demissão, mas acho que isso só não basta, ou seja, é cadeia neles e sem privilégios de preso político.

3 de agosto de 2010 14:03



Em breve tentarei respondê-los.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Marcelo conversa com Wilson Nanini

MN: Wilson, o "poeta ainda não de todo tocado de espelho e idioma", tateando a imagem-voz poética, ensaia domar tempestades. Diante da tangibilidade do mal no mundo, explique-me como e quando a poesia pode ser exorcismo ou esconjuro. exorciza-se só o mal de dentro e a dor causada por catástrofes, ou a poesia pode roçar o coração do outro? O mal lá quer saber de poesia?



WN: Rsrs! Realmente o mal não quer saber de poesia. Mas a provoca, a intima à sobrevivência, ainda que espremida entre uma rotina aterradora e alentos cada vez mais ineficientes. A meu ver, estamos respondendo mal à quebra das instituições sociais, à constatação da falência de alicerces, antes imprescindíveis, e à tentativa frustrada de restaurar a espiritualidade religiosa dada à bancarrota, já há algum tempo. E diante desses impasses, o poeta, assim como os demais artistas, assume uma obrigação – quase social – pois testa em si ferramentas de transcendência, um caminho novo que perpasse ciladas, que perfure cegueiras, que dissolva obstáculos. Poesia me é a possibilidade de tirar o mérito do caos. Como policial militar, tento impedir intempéries. Mas como poeta, tento interagir com eles, em pé de igualdade. São a matéria-prima de minha poesia. Sem querer ser presunçoso, o poema é um ato de solidariedade: só existe porque o poeta quer pôr no mundo o antídoto, a vacina que destilou dentro de si, de que foi a cobaia.



MN: Às vezes a poesia te traz a alegria de uma mulher procurando a sombrinha cor de rosa pela casa [e achando, suponho!]. Esse vislumbre é bem interessante, porque quebra, mais-que-um-tanto, essa costumeira presunção de se imaginar que o poeta toca com regularidade a "Epifania" [sic]. Fale-me dessas pequenas alegrias de encontrar gesto-palavra, de percorre caminhos-de-palavras, de ser "quase", e estar em paz com isso.



WN: Poemas que falam do cotidiano são uma constância inevitável e muito apetecível para mim, cuja poesia tenta se dissociar de um discurso literário rebuscado – e, por vezes, vazio – e da visão caolha de que o poeta é o porta-voz do enlevo. O rumor de um avião captado em meio à insônia, a mulher correndo ao varal para salvar peças-íntimas da chuva, abraços recebidos da avó, minha esposa procurando sua sombrinha cor de rosa (rsrs), e tantos outros sinais de superfície simples, mas de cerne riquíssimo, com que o mundo me acena, depois de deflagrados, passam a habitar, em mim, num lugar entre pele e alma e, além de me fornecerem um bom material poético, são uma via para transitar em segurança pela vida.




MN: O poeta [ou prosador] morto é a alegria [e o sonho] dos Editores. Vide 2666, de Roberto Bolaño. Veremos um "auê" ainda maior com Saramago. Fernando Pessoa publicou UM livro em língua portuguesa, em vida. Os demais, em inglês. Hoje, há "conclaves intermináveis" para se estudar sua Obra. O poeta está fadado a ser póstumo? Por que? E complementando: o que significa ser um "poeta inédito" para o [por enquanto] vivíssimo Wilson Nanini?



WN: Guimarães Rosa dizia que escrever é um ato de empáfia, enquanto publicar requer humildade. Parece oportuno que as editoras ornem a morte alheia para vender alguns exemplares a mais. É até compreensível, pois os sentimentos que brotam com a morte de um querido Saramago requerem ser apaziguados com uma (re)visitação profunda à sua obra. Eu mesmo, desde que recebi a notícia de sua morte, tenho relido seus livros e é certo que se alguma editora lançar uma obra inédita póstuma, eu voarei em cima dela com o fervor do leitor fanático. Creio que no caso de Fernando Pessoa, e de outros gigantes, como Rimbaud e Van Gogh, por exemplo, as circunstâncias vitais foram maiores do que uma premissa da maldição artística.

Estou vivo e vivo quero estar. Publicado ou não. Basta-me interagir e melhorar a interação, que aprofunda o (auto)conhecimento. Embora, suspeite que seja insuperável o prazer do livro impresso, com todas as suas possibilidades estéticas, capa, distribuição do texto, etc.

Ainda não tenho nada impresso e, portanto, me considero inédito. Sinto-me ainda em “fase de berçário”, bastante devedor às poéticas e às demais obras de arte que me impeliram até aqui.




MN: Estando longe das grandes metrópoles, como você enxerga "o movimento que há por estas plagas"? [Não se esqueça que eu te entrevisto de São Paulo, cidade babélica]. O poeta [matéria escassa?, perguntaria você...] concilia, na alma, "pedra e vidro", silêncio e petardo? Há algum glamour na balbúrdia metropolitana vista de longe [claro, com a "efervescência cultural" aparecendo, aqui e ali, como corolário ou sub-produto], ou só susto?



WN: As maiores vantagens de uma São Paulo são as possibilidades de exposição do já feito e do contato in loco com seus pares criadores. Moro em uma cidadezinha (Botelhos/MG), cuja população urbana e rural não soma dezesseis mil habitantes. Jamais participei de um sarau, de uma mesa de discussão, de um varal poético. Mesmo as raríssimas pessoas ligadas à arte, em minha cidade, não tem o mesmo enfoque que almejo, não propiciando, portanto, nem mesmo uma produtiva conversa de bar. Minha conversa sobre literatura e artes se dão com minha esposa, sempre a primeira leitora e crítica de meus poemas. Se não fosse pelo advento da internet, creio que jamais teria estabelecido diálogos preciosos com poetas admiráveis, como Cláudio Daniel, Renato Mazzini, José Aloise Bahia e Micheliny Verunschk, por exemplo, cujos contatos foram tão fundamentais para meu aprendizado, quanto seus versos.



A efervescência cultural, com seus museus, teatros, oficinas literárias, me faz falta. Por outro lado, minha poesia se alimenta da sintaxe de riachos, falas feitas de uma mistura de arame farpado, roseiras e poentes, rezas de benzedeira, totens domésticos, gemidos de facas. Pois, um poeta é um poeta em qualquer âmbito: a noite o habita.



MN: Qual o lugar da Melancolia e do Quebranto na tua escrita [as vezes te vejo murmurar algo, como que farto de quebrantes e quebrantos!]? Que outros sentimentos te lapidam com ênfase [homem-escrita]? Qual o lugar do Asco na escrita? Que poema te arranca contemplar um corpo morto, tantas vezes arrancado-da-vida [a poética do assassinato]?



WN: Sou uma pessoa, até certo ponto, melancólica, nostálgica. Sou devedor da ancestralidade, da própria e da alheia. Detenho um gosto ao saudosismo, mas apenas pela alegria já vivida.



Como policial militar, lido com a morte alheia e com a possibilidade da própria morte, rotineiramente. Centenas de vezes estive à frente de pessoas com arame farpado e sangue nos olhos. Inclusive um considerável número de meus poemas foi esboçado de manhã, após noites de intensa labuta no meu ofício profissional. O repúdio ao distúrbio está disseminado em quase todos os meus poemas. Mas nunca fiz algo específico, como faria um Poe, um Baudelaire ou um Augusto dos Anjos.




MN: Você faz declarações de amor não tão esporádicas, à sua esposa. Isso é bonito, na minha opinião. Declame e explique, aqui, o lugar do outro amor [amor de musa-poeta]: teu amor por Adélia Prado.



WN: Minha mulher não é apenas minha mulher: é uma parte minha que vive fora de mim. Não tomo nenhuma decisão sem consultá-la e vice-versa. Tem todas as características que sempre busquei em uma mulher e outras que nem pensava que existissem, antes de conhecê-la há mais de onze anos. Juntos, temos enfrentado a vida e vivido um amor, ao que minha poesia não poderia passar sem beber de suas águas.



Já a “musa” Adélia, com quem ainda não tive a honra de travar um diálogo, inaugurou, há muito, minha paixão preponderante pela poesia criada por poetas mulheres. Talvez seja coincidência, mas Adélia Prado, Orides Fontela e Micheliny Verunschk estão entre os cinco poetas que mais visito. Os outros dois são Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade. Este último, o descobri pouco antes do Bagagem de Adélia, e os cria, dentro de minha fauna cataclísmica, esposos em uma poesia cheia de versos e avessos. A mulher católica fervorosa tornou-se, para mim, um par perfeito para o comunista de Itabira. Venho de uma premissa familiar católica, já devidamente abandonada, e a poesia de Adélia, repleta de nudez e bíblia, teve em mim terreno propício para a eclosão de uma nova poética. O sagrado permeia vários poemas meus. E o tributo que tentei prestar à musa é como o retorno da alma a Deus: “num olor inato interno que mescla/bois borboletas/ deus: todos os artefatos álacres/de escavar cosméticos/entre distúrbios//que concretos ou telúricos/noitinvadem-me às vezes”.




MN: Teus poemas [não os "poemínimos"; mas, ás vezes, até estes!] possuem um "ritmo de procissão", aos meus olhos-ouvidos. Não importa que haja uma sanfona ao fundo, um coro de beatas ou ladainhas, que haja ou não andor, ou que seja uma procissão de insetos em direção a um cadáver. Eu gostaria que você me ajudasse a entender que [com]passo é este, e porque o ouço tanto, ao fundo dos teus poemas.





WN: Rsrs. Bem apreciado, Marcelo! Minha cidade me propicia ou já me propiciou verdadeiras delícias triviais, como folia de reis, banda de coreto, fanfarra, circo, procissão de santos, desfiles cívicos. Sanfonas, violas! Botelhos nem sei onde começa e onde termina em mim. Então, aconteceu-me uma poesia que é um circo em plena missa, uma missa em plena orgia, uma orgia em plena ciranda, uma ciranda em plena procissão. O que você pode ouvir ao fundo é um réquiem, é uma ladainha, é um gemido nupcial, murmúrios de benzedeira, rezas de beatas às três da manhã, cantigas de roda, estrondo de bumbo. Por vezes, tudo misturado. Comigo à frente ou sendo evolado.





MN: Quais as bênçãos que vêm de teus avós, e como elas afagam tua poesia?



WN: Minha poesia tem um gosto pelo ancestral recente, dentro do qual transito com enorme conforto, e onde minha poesia se serve abundantemente de todos os ritos insontes que só o amor maduro e gratuito pode propor. Meus avôs paternos, filhos de italianos, foram lavradores. Eles portam o afago e o afeto próprios de uma gente de translúcido âmago tão calejado quanto as palmas das mãos, cuja humildade rarefaz-se na sociedade contemporânea. Mas foi com meus avôs maternos – já mortos – que passei a maior porção da minha infância e adolescência, e tirei a maioria das lições de vida que me tem alicerçado. De meu avô, herdei a paixão pela vida e o ofício policial. E de minha avó, a devoção ao etéreo.



MN: O que acomete a pele acaso arranha a alma?



WN: Sim. E o contrário também é glorioso. Poesia é uma espécie de víscera que habita entre pele e alma. Se o corpo encontra-se em processo de fenecimento, a alma é pungida. Mas também, se acaso o ponto mais nevrálgico da delícia é atingido com os afagos mais solícitos, a alma chega a cantar. A alma nunca sai incólume aos anseios do corpo.





MN: O que leva Wilson Nanini a retirar um poema do próprio blog? Auto-crítica? "prazo de validade vencido"? Penso que alguns bons poemas não estejam mais lá. Talvez aqueles dos princípios...




WN: Meus poemas estão em constante transformação. Não sei se um dia os terei impressos em livro. Mas até lá, quando terão uma forma definitiva, não os poupo: os trato a poder de faca, a corte impassível. O blog é um modo fantástico de expor aos olhos alheios o avesso transformado em palavras. E, consequentemente, de aferir sua relevância, diante de observações muito, muito pertinentes. Alguns dos poemas (em especial os da primeira safra) que foram publicados em meu blog já tiveram toda sua estrutura modificada. Não acredito em uma obra dada pela vida. Minha poesia nasce da pedra bruta: há poemas que venho trabalhando há anos, e, não raras vezes, pouco após achá-los bem esculpidos, se percebo algum lapso, os despoemo, os dilacero rapidamente.



MN: Obrigado, Wilson.




WN: Obrigado! Forte abraço, Marcelo!





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Wilson Nanini










Marcelo Novaes