quinta-feira, 27 de julho de 2023

Prestes, o Cavaleiro do Oportunismo

 

“O Partido Comunista do Brasil comemora este ano, o 50º aniversário de sua existência e o 10º aniversário de sua reorganização baseada no marxismo-leninismo. A reconstituição do partido se deu através do desenvolvimento de acirrada luta interna dos marxistas-leninistas contra os renegados do comunismo, à frente dos quais estava Luís Carlos Prestes. Os marxistas-leninistas não se dobraram nem diante da reação e do oportunismo de Prestes, nem diante de seus aliados e patrões, Kruschov e Brezhnev. Travando uma luta de princípios em defesa do Partido contra o avassalamento do revisionismo contemporâneo, os comunistas tornaram-se legítimos herdeiros das tradições revolucionárias do heróico povo brasileiro”.[1]

Chega até ser triste ver alguns camaradas tratando a figura de Luís Carlos Prestes como “herói”, mas isso porque não conhecem completamente a história política de Prestes, conhecem apenas o Prestes das revoltas tenentistas e do levante de 1935, se soubessem o que Luís Carlos Prestes fez a partir dos anos 50, teriam o maior repúdio e não o chamariam mais de “cavaleiro da esperança”, mas sim de “cavaleiro do oportunismo”.
Apesar de ter sido uma figura importante no Brasil dos anos 20 e 30, ele apresentou concepções errôneas ao comandar o levante popular de 1935.
Os camaradas soviéticos que foram enviados ao Brasil como gesto de internacionalismo proletário por parte do PCUS aos camaradas do PC do Brasil avaliaram a situação do Brasil e aconselharam que o levante revolucionário deveria ocorrer como na China: uma guerra popular prolongada através do campo em direção às cidades, o conselho era correto, mas o capitão Prestes acreditando dispor de bastante prestígio adquirido dentro do exército após os tempos da Coluna Prestes, optou por um levante que deveria ocorrer dentro das fileiras do Exército Brasileiro, ou seja, seria um golpe militar, mas, que infelizmente acabou fracassando, mas teve sua glória, pois, foi a primeira tentativa em construir um governo popular no Brasil. Alguns remanescentes do levante foram para o campo onde travaram guerra de guerrilha contra o exército de Vargas, mas não foi dada importância a essa corretíssima linha. Com isso, o levante resultou derrotado e vários membros do Partido foram presos e torturados, e o partido só voltaria a tomar fôlego em 1943.
De 1948 em diante, o partido que chegou ter em torno de 200 mil membros, passou a participar das eleições burguesas, mas foi colocado em ilegalidade pelo presidente fascista, o general Eurico Dutra, os parlamentares que pertenciam ao PC do Brasil tiveram seus mandatos cassados, e a polícia chegou a matar alguns militantes do PC.
Então, durante os anos 50, o partido se voltou por continuar participando da democracia burguesa, até que a partir de 1956 a luta entre linhas dentro do partido começou tornou-se mais aguda devido ao XXº Congresso do PCUS, que serviu para consolidar o revisionismo na URSS.
Prestes ao invés de continuar a defender o caminho revolucionário, ficou ao lado dos revisionistas soviéticos, portanto adotou a tese pacifista e a negação de Stalin como grande continuador do marxismo-leninismo.
Quando a situação ficou inviável, a corja revisionista foi expulsa do PC do Brasil em 1962, e se reorganizaram como Partido Comunista Brasileiro, servindo de capanga do social-imperialismo soviético, e cruzando os braços quando os militares tomaram o poder em 1964.
Quando os militares desferiram o golpe em 1964, Prestes declarou que não haveria condições dos militares permanecerem no poder, e que logo eles cairiam, pois bem, os militares ficaram no poder até 1985, e Prestes fugiu para URSS em 1969, mesmo ano em que tropas soviéticas ameaçavam uma guerra nuclear contra o povo chinês, e como se sabe, em 1969 China e Albânia serviam de baluarte para os comunistas de todo o mundo.
Nesse caso, em hipótese alguma Luís Carlos Prestes poderia ser comunista porque:

1º- A URSS em 1969 era um país social-imperialista, não mais servia de baluarte ao movimento comunista internacional como tinha sido nos tempos de Lênin e Stalin.

2º- Um comunista tem o GLORIOSO dever de dar a vida quando for preciso, ao partido e à revolução, pois sem sacrifícios não pode haver vitória.

3º- O ÚNICO meio de lutar contra qualquer governo que defenda a ordem burguesa e imperialista, seja ele um governo “democrático”, seja uma ditadura militar, é através da guerra popular sob o comando do partido.

Prestes voltou do exílio em 1979 depois da anistia, mas, o PCB já pelego, influenciado por teses revisionistas do eurocomunismo e com suas “divergências internas” (como o próprio Prestes falou em uma entrevista em 1986) resultou na saída de Luís Carlos Prestes em 1980, que ficou sem partido algum, ora apoiando Lula, ora apoiando Brizola.
Prestes até o fim da sua vida ficou como apoiador do social-imperialismo soviético, desde Kruschov até Gorbatchov. Sempre apoiando o anti-stalinismo, o aventureirismo militarista soviético e as reformas capitalistas que serviu de golpe derradeiro à União Soviética.

Fora o fato de Prestes ter fugido da batalha no momento em que o povo brasileiro mais precisou de forças progressistas que afrontassem as forças retrógradas dos milicos nos anos 60, Prestes também tem uma visão distorcida do que vem a ser o marxismo-leninismo, e desconhece alguns de seus princípios básicos:

“Então, fui examinar o passado do nosso partido. Encontrei, logo em 45, o erro que eu já me referi. Em que nós negávamos a possibilidade do capitalismo no Brasil. Mas isso tem origens também. E as origens eu fui descobrir no 6º Congresso da Internacional Comunista, em 1928. Esse congresso cometeu muitos erros. Entre eles, elaborou uma tese, um documento que tem esse título "Teses para o desenvolvimento da luta dos povos coloniais e semicoloniais". E esse documento foi aplicado dogmaticamente em toda a América Latina, com exceção de Cuba, que foi o único país que se livrou disso. Os outros todos aplicaram isso. Estão aplicando ainda, até hoje. O PCB aplica ainda esse documento. Isso é um absurdo, porque o Brasil não é mais um país colonial desde quando? Desde o princípio do século passado que se libertou da colônia portuguesa”. [2]

É fato que o Brasil se libertou de Portugal em 1822, mas isso não quis dizer que o nosso país se viu independente na questão econômica, o Brasil sempre esteve dependente das potências, fato é que até o aço que o Brasil consumia até os anos 40 vinha dos Estados Unidos. Até hoje o nosso país necessita do capital estrangeiro, se as empresas estrangeiras entram em derrocada, conseqüentemente os empregados são dispensados e a produção diminui, as vendas diminuem, é como se fosse um efeito dominó, o que acontece lá, é sentido aqui, “a marolinha” da crise pode virar um “tsunami” no Brasil.
Quanto a Cuba, Kruschov aplicou com êxito um de seus planos: transformar países socialistas em satélites da URSS. Cuba durante muitos anos dependeu da URSS, não tratou de desenvolver a indústria pesada, ficou no mesmo sistema semicolonial característico dos tempos de Fulgêncio Batista: exportar o açúcar em troca de petróleo e outros bens industrializados, quando Cuba poderia muito bem ter sua indústria automotiva (e resolver o problema da frota de carros velhos e dos ônibus), Cuba no final dos anos 70, tinha a maior reserva de cromita do mundo, mas essas reservas não haviam sido exploradas.
Ao invés do governo cubano ter gastado dinheiro e forças com a criação de indústria pesada aproveitando a parceria com a URSS, Cuba preferiu gastar enviando soldados para aventuras na Etiópia, Angola, Granada, Congo, e Iêmen do Sul.

Aqui, tem outra declaração de Prestes feita em 1986:

“Mas, o marxismo é Marx, Engels e Lênin” [3]

E Stalin. Mas, cadê Stalin? Será que Prestes se esqueceu da importantíssima figura que foi Stalin para o marxismo-leninismo, para a URSS, e para os povos do mundo? Não, ele não se esqueceu, e até lembrou-se de Stalin em outra entrevista em 1988:

“Stalin, através da violência e do arbítrio, matando muita gente, como diz o camarada Gorbatchev, crimes imperdoáveis”.[4]

Além de apoiador de Gorbatchev, era apoiador do revisionista polaco Wladislaw Gomulka, que foi removido do poder no começo dos anos 70, depois que o povo polonês se rebelou contra a sua “ditadura revisionista” [5]:

O revisionista Gomulka
“Chegou a ser feita a reforma agrária na Polônia, mas criou um problema gravíssimo, político. Um choque com o Vaticano. Quando o camarada Gomulka assumiu o governo, ele verificou que esse era o problema principal que ele tinha que enfrentar. Anulou a reforma agrária, para entregar a terra aos pequenos camponeses e eles ficaram para resolver os problemas políticos da relação do Estado polonês com a igreja”. [6]

Mas que “camarada” é esse que deixa o Vaticano intervir nos assuntos internos da Polônia? Esse recuo perante a reacionária igreja católica serviu para preparar terreno para o surgimento do sindicato Solidariedade, tendo como líder sindical o reacionário Lech Walesa, apoiado pelo papa João Paulo II.







Com certeza muita gente pode se zangar com esse artigo, pois bem, a “unanimidade só existe em cemitérios”, mas, o que foi apresentado aqui não são intrigas lançadas por algum opositor do PCB ou por algum agente da CIA. As palavras de Prestes, foram ditas por ele mesmo, os vídeos da entrevista completa ao programa Roda Viva estão disponíveis no site youtube, a entrevista realizada em 1988 com o jornalista Sidney Resende está disponível no site Marxists Internet Archive, e o artigo publicado no jornal A Classe Operária está disponível em PDF no site da Fundação Maurício Grabois.

NOTAS:

[1]: Artigo inicialmente publicado no jornal Bandeira Vermelha, órgão do CC do Partido Comunista da Polônia, e re-publicado no jornal A Classe Operária, em julho de 1972;

[2]: Entrevista ao programa de televisão Roda Viva, realizado em 1986;

[3]: Ibidem;

[4]: Luís Carlos Prestes em entrevista realizada em 1988 com o repórter Sidney Resende;

[5]: Retirado do artigo: Crise do revisionismo, publicado no jornal A Classe Operária de janeiro de 1971;

[6]: Entrevista ao programa de televisão Roda Viva, realizado em 1986. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre o revisionista Gomulka:

Como Superar os Desvios Direitistas e Nacionalistas na Direção do Partido - Boleslaw Bierut)

https://www.marxists.org/portugues/bierut/1948/09/06.htm