Comentários acerca do relatório da Assistência do CR–PE.
Camaradas, Fabio Bezerra, membro do CC e da CPN, veio solicitar uma reunião comigo acerca da última reunião do CR de Pernambuco. A conversa teria como base um relatório de autoria do camarada Messias sobre a reunião do organismo de Pernambuco. Solicitei o acesso ao relatório antes de qualquer conversa. O camarada Messias acompanhou a reunião longa de forma online. Por essa condição objetiva, de pronto, retiro qualquer intencionalidade dos diversos erros, omissões, equívocos e relatos imprecisos. Acredito na boa vontade do camarada e sei das dificuldades de acompanhar a reunião online.
O camarada começa seu relatório citando as críticas que fiz sobre a ausência total de qualquer política de segurança. Primeiro e antes de tudo, fiz esse debate no organismo da direção estadual. Ao contrário do comentário malicioso e maldoso feito por Edilson na última reunião presidencial do CC, não foi um comentário feito na internet. O militante do PCB, segundo o estatuto da organização, tem o direito de fazer as críticas e os debates nos espaços corretos. E meu organismo regional, o CR de Pernambuco, é um desses espaços. Nunca é demais lembrar que milito em Pernambuco e que a segurança dos militantes do PCB de Pernambuco é tema pertinente para a direção do partido em… Pernambuco.
Se o Comitê Central não tem NENHUMA POLÍTICA DE SEGURANÇA, é óbvio que isso sobrecarrega o CR, que será o único responsável por pensar uma política para tal assunto. Para o bem e para o mal - e pelo que é visível para o desgosto de muitos - sou um dos militantes do PCB com mais visibilidade pública. O que coloca minha vida e da minha família em risco. Desde sempre cuido sozinho da minha segurança e na única vez que fiz uma cobrança aberta pela ausência do básico de política de segurança (não só para mim, como todo complexo partidário), fui atacado e recebi a insinuação de que eu seria policial - e claro, zero autocrítica por esse tipo de fala irresponsável e leviana.
No segundo parágrafo do relatório, o camarada Messias diz: “O camarada Jones também mencionou não concordar com as críticas recebidas durante a última reunião do CC, no que toca a avaliação de como ele conduziu a campanha”. A premissa está errada. Não conduzi nada sozinho. Na reunião do CR falei abertamente, e é uma pena o camarada Messias não ter colocado isso no relatório, que circula uma mentira canalha, divulgada por vários membros do CC, que “mando em Pernambuco”, que é o “meu CR” e que decido “tudo”. Quem faz política como feudo, tratando o CR do seu estado como propriedade privada, só pode imaginar o outro fazendo o mesmo. Toda e qualquer crítica à condução da campanha em Pernambuco deve considerar: a) meu papel como candidato; b) a ação do organismo dirigente de Pernambuco; c) a relação do CR com o CC na cobrança, monitoramento e direcionamento da campanha.
É sintomático, por exemplo, que durante toda a campanha o CC não tenha mandado um único documento para o CR de Pernambuco orientando sobre eventuais erros, falhas e correção de rumos da campanha. Se algo foi feito de errado, e esse CC nada disse, no mínimo do mínimo, temos um erro compartilhado (a única crítica, feita em reunião presencial em São Paulo, no sindicato dos médicos, foi sobre a ausência de fotos de Sofia Manzano no material de pré-campanha. No panfleto de campanha, a foto, o logo e o número estavam lá. Logo, a ÚNICA CRÍTICA foi respondida positivamente).
Na sequência, o camarada Messias escreveu que “Colocou que não houve elogios dos membros do CC aos resultados e ao trabalho eleitoral de Pernambuco”. Isso está completamente ERRADO. Não tenho carência de elogios, camaradas. O que coloquei foi que (e divido por pontos para ficar didático):
É impossível ter uma avaliação objetiva da nossa tática eleitoral no plano nacional quando no CC temos um grupo muito bem formado com opiniões pré-estabelecidas e não em poucos momentos atuando como tendência.
Que não importa o quão bom fosse o resultado em Pernambuco, só teria ataques, espantalhos e falsas questões.
Que pelo clima de grupismo dentro desse CC, não existe possibilidade de avaliação científica dos nossos resultados.
E que o exemplo desse grupo é a ausência quase total de críticas aos resultados eleitorais da Bahia e Rio de Janeiro.
Gostaria de me deter nesse último ponto como exemplo. Em 2010, na eleição para governador, lançamos chapa pura no Rio de Janeiro. Tivemos 11.299 (0,14% do eleitorado do estado). O candidato foi o camarada Eduardo Serra. De 2010 até 2022, temos 12 anos, crescimento da população brasileira e nesse meio tempo, Serra foi pró-reitor da UFRJ, a maior universidade federal do país e do Rio de Janeiro.
Em 2022, com o mesmo Eduardo Serra candidato, tivemos 10.852 votos (0,13% do eleitorado). A votação diminuiu em termos absolutos e proporcionais. E o camarada Eduardo Serra disse, sem ser contestado por ninguém, que isso foi efeito do “voto útil” em Marcelo Freixo. Uma explicação simples, enganosa e facilmente derrubada. Esse argumento não explica como a candidata da UP, lançada na boca da eleição, teve quase três vezes mais votos que o PCB e pegou 0,33% do eleitorado. E tudo isso ficando apenas nos números, sem entrar no mérito político da campanha, como falas complicadíssimas do camarada Serra sobre segurança pública (alguém com um histórico mais que problemático sobre o tema, como sua defesa da PM no campus da UFRJ quando era pró-reitor).
E nunca é demais lembrar que estamos falando do segundo maior colégio eleitoral do Brasil (tomando as capitais como referência). E no segundo maior colégio eleitoral, em um dos estados politicamente mais importantes do Brasil, não tivemos as nossas maiores votação para deputado estadual (esse lugar fica com Pernambuco), federal, governador ou presidente (tanto em termos proporcionais como absolutos). E esse resultado eleitoral - sem entrar no mérito político da campanha, friso - não recebe nenhuma crítica, questionamento ou avaliação negativa, apenas um autoelogio do seu protagonista.
Agora vamos ao exemplo da Bahia. Em 2010, o PCB saiu com chapa pura para o governo do estado. Recebe 4969 votos, ou seja, 0,08% do eleitorado. Em 2022, 12 anos depois, temos o seguinte resultado eleitoral: 5951 votos, conquistando 0,07% do eleitorado. Em 12 anos, conquistando mais mil eleitores (uma média de 83 novos apoiadores/simpatizantes/eleitores do PCB por ano) e REDUZIMOS A VOTAÇÃO em termos proporcionais. Isso sem falar do caráter político da campanha na Bahia. De longe, a pior do Brasil, recheada de memes, fotos engraçadas, ausência do básico da nossa linha política e com o candidato a vice-governador, ao final do pleito, em “sindicância” (???), segundo fala do próprio Milton Pinheiro.
Poderia citar outros exemplos. Mas só esses dois bastam. O que afirmei na reunião do CR de Pernambuco é que nesse CC, não existe análise científica da nossa prática política, mas panelinhas, grupismo, espantalhos. Por qual motivo a campanha em Pernambuco foi alvo de tantas críticas e ataques e Bahia e Rio de Janeiro - lembro: poderia citar outros exemplos - não tiveram a mesma atenção?
Alguém pode dizer que o centro das críticas foi a campanha em Pernambuco para Sofia Manzano, candidata do PCB à presidência. O argumento é que fizemos pouca campanha, que Sofia ficou “escondida”, que teve poucos votos em Pernambuco se considerado a votação no estado. Poderia fazer diversas considerações POLÍTICAS sobre a força do lulismo em Pernambuco e como nesse estado, diferente de outros como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará, não existe, desde 1989, candidato presidencial progressista ou de esquerda para ganhar de Lula ou no mínimo beliscar boa fatia do seu eleitorado. Mas vou me manter na dimensão dos números.
Sofia Manzano, no Brasil inteiro, teve uma média de 0,03 a 0,06% da votação presidencial nos estados. Em nenhum estado, não importa o quão boa foi a campanha, Sofia teve mais que 0,06%, e em nenhum estado, não importa o quão ruim ou fraca foi a campanha, Sofia teve menos de 0,02%. O nome disso, camaradas, é uma média nacional. É o espaço político geral que a candidatura do PCB teve no Brasil, com o nível, qualidade e forma da campanha puxando essa média para cima ou para baixo. Vejamos alguns exemplos da votação de Sofia nos estados.
Rio de Janeiro: 4.458 (0,05%)
Bahia: 2.423 (0,03%)
Pernambuco: 1.419 (0,03%)
Minas Gerais: 4.431 (0,04%)
São Paulo: 14.943 (0,06%)
Paraná: 2.744 (0,04%)
Ceará: 1.579 (0,03%)
Maranhão: 727 (0,02%)
Rio Grande do Sul: 2399 (0,04%)
Alagoas: 482 (0,03%)
Paraíba: 634 (0,03%)
Sergipe: 364 (0,03%)
Rio Grande do Norte: 606 (0,03%)
A votação de Sofia em Pernambuco está perfeitamente dentro da média nacional e Sofia teve, em Pernambuco, a mesma porcentagem de votos que na Bahia, estado com colégio eleitoral muito maior - a Bahia boicotou a campanha, dela, foi?! Vale destacar também que se olharmos a média da votação de Sofia no Nordeste, ela é IGUAL, praticamente exata, em todos os estados: 0,03%. E isso para os estados com campanha do PCB para governador, como Ceará, e para os sem campanha estadual, como Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe. Acredito que ninguém sério vai dizer que isso é apenas coincidência.
Contudo, falta um ponto. A desproporção de votos que o PCB teve para o governo de Pernambuco e para presidência no estado. É uma ótima questão. Começo, novamente, com números. Em 2014, o PCB teve candidatura própria ao governo do estado, obtendo 2892 votos (0,07% do eleitorado). Em 2022, camaradas, tivemos 33,931 mil votos (0, 69% do eleitorado). Isso dá um crescimento de mais de 11 vezes na votação (mais de 1000% de crescimento). Em nenhum outro lugar do Brasil, o PCB cresceu tanto seu número de votos. Aliás, desde a reconstrução revolucionária do PCB, nunca tivemos um crescimento tão grande de votos em um estado! O camarada Túlio Lopes, na reunião do CC, disse que aumentamos o número de votos para governador do estado. Esqueceu de dizer, porém, que isso se deve em maior medida a Pernambuco (e em segundo lugar, para São Paulo). Se o PCB em Pernambuco, assim como Bahia, Rio, Minas Gerais e muitos outros estados, tivesse mantido a mesma média de votos que teve em 2010 e 2014, o resultado teria sido outro. Vale lembrar que na eleição de 2022, tivemos 140,607 mil votos para governador de estado no total. Quase 1/4 disso é só de Pernambuco.
Só em Recife, capital de Pernambuco, tivemos votação maior que todos os outros candidatos do PCB ao governo do estado, à exceção de São Paulo. Rio e Minas, entre os maiores colégios eleitorais do Brasil, tiveram no total 10,852 e 12,514, votos respectivamente. Só em Recife, tivemos mais de 14 mil votos! Era uma surpresa essa votação? Não. Por uma série de razões que não convém debater aqui, era um resultado esperado. O que fez a direção da campanha de Sofia Manzano? Buscou atrelar a campanha nacional a de Pernambuco para buscar capitalizar esses votos? Não. Um pequeno exemplo.
Indo no Twitter de Sofia Manzano (rede social de maior repercussão da candidata durante toda eleição), usando a barra de busca (@ do perfil + as palavras Recife ou Pernambuco), temos como resultado apenas 13 citações para toda a eleição! Dessas 13 citações, uma foi em março, no aniversário do PCB, 3 em maio, 1 em agosto e todas as outras durante a ÚNICA visita de Sofia em Pernambuco (boa parte delas, divulgando agenda de atividades). Sofia, seja em suas redes ou entrevistas, NÃO DEBATEU os problemas fundamentais de Pernambuco; nada do que o estado produziu de conteúdo foi incorporado no discurso da candidata e ela veio ao estado apenas uma vez.
Uma viagem para Pernambuco sem planejamento, sem organização e sem o mínimo de tato político. Sofia, basicamente, fez atividades em espaços 100% petistas (ou alguém acha que os camponeses da CPT vão votar em Sofia Manzano, candidata que viram uma vez na vida, e não em Lula? ) ou panfletagem arrumadas de improviso para preencher buraco na agenda. A coordenação de campanha de Sofia simplesmente não funcionava, não pensava e planejava nada, e o mesmo serve para a coordenação de campanha do PCB-PE.
O camarada Fabio Bezerra, no mínimo três vezes durante a campanha, veio falar comigo sobre aspectos da campanha de Sofia em Pernambuco. Talvez Fabio não saiba, mas o secretário político do PCB-PE é Roberto Arrais, o secretário de organização é Kim Taurida e eu não era membro da executiva da coordenação de campanha. Nunca, durante toda campanha, tivemos qualquer documento ou comunicação formal para integrar a comunicação das campanhas, posts conjuntos em redes, coordenar intervenções temáticas e afins. A coordenação de campanha de Sofia Manzano, DURANTE TODO PROCESSO ELEITORAL, não traçou nenhuma estratégia para se aproveitar do potencial eleitoral do PCB-PE e reduzir a força do lulismo em Pernambuco.
Ao que parece, sem nunca comunicar ao CR de Pernambuco, o esperado é que a campanha para governador, percebendo que teríamos em Pernambuco em média mais votos que o PCB nos demais estados, deveria fazer um esforço adicional para fazer uma transferência a mais de votos. Contudo, nunca houve uma orientação, um diálogo, uma apresentação de TÁTICA ELEITORAL para fazê-lo. Como se estivessem em negação, ou criando uma armadilha, a ideia foi não fazer nada, esperar que a votação para governador fosse muito maior que a para presidente, e no final dizer: Jones não fez campanha para Sofia!!! Tenho certeza que se Sofia tivesse feito em Pernambuco a quantidade de atividades que fez em São Paulo, por exemplo, sua votação seria maior. Mas passando apenas três dias e meio no estado, participando só de atividades internas ou em espaços 100% petistas, e falando do estado menos de 10 vezes em TODA CAMPANHA, devo considerar que o resultado foi muito satisfatório.
Para terminar esse ponto, cito um exemplo final. Todos sabem o histórico do PCB em Paulista, a força do partido na cidade e as ações do Escambo cultural. Por total falta de planejamento da coordenação de campanha e do CR-PE (e vejam, não acho que essa falta de planejamento foi um boicote proposital contra mim. É possível ver as coisas de forma objetiva!) , fui em Paulista apenas duas vezes em toda campanha (em uma delas, fui fazer panfletagem sozinho). Em Paulista, Sofia Manzano teve apenas 74 votos (temos mais ex-militantes do PCB em Paulista do que Sofia teve de votos). Essa votação, mesmo com o longo trabalho do partido em Paulista, e quase sem campanha para governo do estado na cidade, é de minha responsabilidade também? Talvez eu também tenha matado John Kennedy, crucificado Jesus ou seja o responsável pelo 7x 1 no jogo Brasil e Alemanha.
Passando agora para outro ponto. O camarada Messias, no seu relatório, diz “Que não ficou para a sequência da última reunião do CC no domingo, por ter se sentido ofendido/incomodado com a forma como o pleno do CC o abordou no sábado”. Não foi isso que falei. Disse que não tinha condições psicológicas de me manter naquela reunião depois de eu ter relatado riscos físicos a mim e minha mãe, a única resposta foi ataques, grosserias e insinuações (como dizer que tinha postura de P2). Para evitar qualquer explosão, não participei da reunião.
Aproveito para reafirmar o que falei na reunião: não serei uma nova Marielle para meu nome, depois de morto, virar propaganda do partido. Se por total desorganização - que é de responsabilidade do CC e da CPN - ou até mesmo propositalmente não existe nenhuma política de segurança, não me peçam para encarar com serenidade e tranquilidade os riscos à vida da minha família. E caso aconteça alguma coisa comigo, garanto que a ausência total de política de segurança do PCB e as reações a essa cobrança serão conhecidas pelo mundo. Não virarei símbolo na mão de pessoas que não perdem a oportunidade de mentir, perseguir e me boicotar - como os que na boca do Congresso do PCB de 2021, diziam que eu era funcionário de Marcio França, que ele assinava os cheques com meu pagamento pelos textos no portal Socialismo Criativo.
Por fim, cabe duas considerações. A primeira é que o Estatuto desse Partido, tão desprestigiado nos últimos tempos, diz no III Capítulo, letra c), que é do direito do militante “criticar, fraternal e construtivamente, no âmbito do partido tudo que lhe parecer incorreto nos atos ou conduta de qualquer organismo ou militante”. E na frase “qualquer organismo”, está incluído o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro. No capítulo V, letra d), está escrito “A liberdade de discussão nos organismos e instâncias partidárias” e no artigo 20 do capítulo V, para finalizar, também diz que “Todo militante pode discutir livremente nas reuniões do partido, para expressar suas opiniões sobre qualquer problema, direito que emana da democracia interna”.
Críticas não significam romper a unidade de ação ou a unidade interna dessa organização. E quando a crítica diz respeito, por exemplo, à AUSÊNCIA DE POLÍTICA DE SEGURANÇA com um militante que sofre ameaças diárias, é um absurdo reacionário dizer que tenho que ficar calado, esperando que aconteça algo comigo. Tenho direito estatutário de fazer as críticas que fiz, reafirmo que no Comitê Central do PCB de hoje existe grupismo, articulações subterrâneas e práticas que ferem o básico da ética comunista - como excluir o camarada Ivan Pinheiro de todas as homenagens nos 100 anos do Partido, talvez buscando deixar o camarada mais triste e matá-lo de forma mais rápida. Morto não tem opinião política, afinal! (gostaria, inclusive, de firmar desde já um compromisso. Em caso de eventual morte do camarada Ivan, não deixarei, sob hipótese alguma, que os que buscam boicotá-lo e apagar sua história no PCB, façam homenagens cínicas e protocolares).
Por fim, nunca esqueçam, camaradas, que essa organização tem estatuto e programa político tirado em congresso. As perseguições, processo disciplinares ilegais e expulsões (tão em moda pelas bandas do sudeste) não vão ser normalizadas por mim. Sou militante do PCB e tenho direitos e deveres como tal.
Um abraço, camaradas!
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