domingo, 13 de dezembro de 2015

Algumas questões relevantes pensadas a partir do blog questões relevantes

Há algum tempo tenho debatido com o meu amigo Paulo Falcão do blog questões relevantes:


1) O marxismo universitário fala em Marx e ao mesmo tempo "cortar" o projeto político. O marxismo demorou a entrar nas universidades. O primeiro esboço foi o marxismo da chamada Escola de Frankfurt. Focando na crítica e no pessimismo, esse marxismo tornava-se em parte aceitável, mas mesmo assim os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Social não foram aceitos, nos anos 20 e 30, nas universidades alemãs. Esse instituto só tornou-se mais forte a partir dos anos 50. A partir dos anos 50, de 1956 principalmente, o marxismo revisionista entrou com força total nas universidades, ao ponto de que toda universidade ocidental chegou a elaborar sua versão do marxismo revisionista. A partir dos anos 90, mesmo o revisionismo passou a ser marginalizado e suas cadeiras extintas e reduzidas. Marx, em si, tornou-se perigoso para os reacionários, que não conseguem nem cuspi-lo e nem engoli-lo.


2) Um exemplo de "marxiano" que faz o que foi citado acima é Vladimir Safatle, embora ele mantenha uma pretensão política que assusta Paulo Falcão. A pretensão de Safatle é de ocupar um lugar rendoso e prestigioso no sistema parlamentar atual. Ele quer poder e prestígio.


3) Tornou-se um truísmo de nosso tempo associar nazismo e comunismo. A principal acusação é que de que  ocomunismo seria religioso, anticientífico e conservador --e não radical demais. Zizek e Meszaros, por exemplo, bravateiam coisa semelhante: "é preciso ir além do capital". Ou seja, pretendem ridiculamente ser falsamente mais radicais do que Mao e Stálin. Evidentemente, Zizek e Meszaros estão fazendo fanfarronice e Pol Pot, Stálin e Mao são muitíssimo mais radicais do que esses dois marxianos. O primeiro era um dissidente antimarxista até anteontem e o outro participou da contrarrevolução de 56, também antimarxista. São marxianos que falam em Marx, mas também combatem o projeto político do marxismo, por outro lado.


4) Sempre que se fala mal do comunismo, foca-se principalmente em Stálin, Pol Pot e Mao. Essa vertente é considerada realmente danosa, enquanto a outra vertente, de Gramsci, Lukács e Trotsky, parece relativamente poupada. No entanto, é essa outra vertente que pode ser acusada daquilo que Paulo Falcão diz: resíduos messiânicos e religiosos. Lukács dizia que era preciso voltar a Marx, dando a entender que Marx, como Lutero, detinha todas as verdades.

5) O pensamento marxiano pode circular, mas ele precisa, de preferência, pagar preço de repudir Stálin (o que equivale a ser antileninista) e de falar mal de algum projeto político marxista. A universidade, em geral, falsificada, pela via do revisionismo, tanto Marx quanto Lênin.

6) Dificilmente se vê algum vídeo homenageando Gramsci na Itália que não tenha parlamentares babando emocionados. Isso é claro indício de que Gramsci, um parlamentar, fez um grande favor para fazer o marxismo refluir para o campo parlamentar. A universidade também adora suas especulações. Quando ele substitui o materialismo histórico pela filosofia da práxis, ele chega a dizer que essa filosofia "não é materialista e nem idealista". Gramsci NÃO é um leninista. Ele coloca ideias e palavras dele na boca de Lenin.

7) O PT utiliza-se de bandeiras da URSS, estrelas de cinco pontas e caras de Che Guevara, mas o PT não é estatista. O PT desejou apenas gerenciar de forma menos selvagem o capitalismo selvagem, mas fracassou de forma rotunda. Não é estatista: aplica o programa do PSDB. Habitualmente, também segue o dístico: "rápido, antes que a direita o faça".




Um comentário:

Paulo Falcão disse...

Caro Lúcio, não me atenho muito aos diversos ramos do marxismo. Minha crítica é à fonte primária: Marx teve acertos na análise de seu tempo mas o que indicou como um futuro lógico é utópico, messiânico e termina sempre em totalitarismo.

Quanto ao Safatle, não temo de maneira nenhuma que assuma algum cargo executivo na política. Isto é mais improvável que o Tiririca ser presidente. O que me incomoda nele é o dano intelectual que causa aos inocentes que lhe atribuem algum saber digno de nota. É um picareta das ciências sociais.