segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Reis do Tuíste em Bom Despacho: Glória e Triste Fim


 Reis do Tuíste em Bom Despacho: Glória e Triste Fim

Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior

 

                O tuíste, dança que era sucesso no inicio dos anos 60, foi personificada em Bom Despacho na figura do Zé Paulino.

            Segundo Kid Vinil, a dança surgiu a partir de uma canção de Hank Ballard, que viu o sucesso da dança entre adolescentes da Flórida e resolveu gravá-la. Muito antes, era popular uma dança semelhante entre os negros norte-americanos e, supõe-se, a origem da dança ocorreu no oeste africano, bem como ocorreram gravações anteriores.

            Bil Haley e os Cometas foi a banda que explodiu com esse ritmo. Primeiro lançaram uma canção, mas ela só aconteceu quando foi trilha sonora do filme Sementes de Violência. Esse filme interessa-me muito. O título original era “Blackboard Jungle”, ou seja, a “Selva do Quadro-Negro”. É uma narrativa de grande interesse para mim, que sou professor. Nele, um jovem professor, recém-formado, retorna a sua cidade para tentar mudar a realidade. No entanto, os jovens sofrem com tensões raciais e brigas entre gangues. Ele mostra sua coleção de jazz e os jovens a quebram, daí entra a canção de Bil Haley falando sobre o tuíste. Era uma cena muito marcante, mas que infelizmente marca também a nossa sociedade: o vandalismo e o desprezo com os valores do outro, de uma outra geração, especialmente. É uma questão ainda hoje muito atual para quem lida com juventude. E, no filme, marcou o surgimento da era do rock and roll e do fim da era do jazz. Quebrando os discos, os jovens rompiam com o passado.

. Perto da escola Miguel Gontijo morava um rapaz, José Paulino, a quem chamavam Rei do Tuíste. Não era bonito, mas seus pés, sim. Os sapatos de bico fino, bem engraxados, tinham vida à parte enquanto dançavam no ritmo frenético do tuíste. Era um ritmo delicioso, que exigia extrema habilidade do bailarino.

            Zé Paulino apresentava-se na carroceria de um caminhão, em frente onde hoje é o Banco Itaú. Usava topete e toda a indumentária ligada a essa dança. Os amigos diziam que ia a Belo Horizonte comprar os discos e levar para as festas.

            Anos depois, conta minha mãe, meus pais foram vizinhos dele em Uberaba. Zé Paulino tinha entrado para a Polícia Militar e estava fazendo patrulhamento fluvial no Rio Grande. Ele não atinou para o horário em que as comportas das águas se abririam em uma usina próxima.

            As águas levaram o barco. Os corpos dos três tripulantes foram encontrados três dias depois. Os gritos desesperados da esposa ecoaram pela praça, quando soube da morte do marido por afogamento.

            Outra teoria, exposta por meu tio Paulo Morais, propõe que o rei do tuíste em Bom Despacho era o José Maria Rocha, filho do Sr. Roldão O José Maria Rocha dançou tuíste anteriormente ao Zé Paulino, mas foi Zé Paulino quem celebrizou-se aqui na cidade. Era o nosso Chubby Cheker. Nas memórias de mamãe, os pés de Zé Paulino adolescente interpunham-se aos gritos da viúva. Zé Paulino teve sua glória e um triste fim.

 

 

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

E agora, Padre Belchior em Bom Despacho?

 

E Agora, Padre Belchior em Bom Despacho?



Há alguns anos, meu tio Bil Morais realizou um antigo sonho: formou-se em História. E ele escolheu como tema de seu trabalho de conclusão de curso a história da família de sua mãe, Irene Morais, em Bom Despacho. O fio da meada levava a uma personagem histórica de grande importância: o Padre Belchior, figura próxima ao patriarca da independência, Bonifácio Andrada. Consta que ao gritar independência ou morte, o imperador teria dito a Padre Belchior a famosa frase: “e agora, Padre Belchior?”

O trabalho em questão investigou os hoje pouco lembrados e tumultuados dias do Primeiro Império. O patriarca da independência era ligado a Barbacena e o Padre Belchior tinha origem em Pitangui. Esses dois mineiros, no coração do império, eram parentes.

A dissolução da Constituinte de 1823 por parte de Pedro II e a criação de um outra Constituição mais absolutista afastou os liberais Bonifácio Andrada e Belchior do poder, o que acabou por levá-los ao exílio na França durante um período. Algum tempo depois veio de lá, para viver junto àquele grupo de brasileiros, uma jovem chamada Júlia, franco-brasileira. Ela ficou conhecida como Júlia a Francesa.

Júlia veio a ter um papel importante no povoamento da região centro-oeste de Minas. Padre Belchior enviou-a para ajudar a administrar uma fazenda que adquiriu em nossa região, a chamada Piraquara, região então escassamente povoada. Júlia foi a mãe do Major, dono da fazenda Piraquara. Minha avó, mãe de Bil Morais, chamava-se Irene Madeira Morais e era descendente direta desse Major. O nome Júlia permaneceu uma tradição na família, eternizando a matriarca.

Ao morrer, o Padre Belchior citou em seu testamento que Júlia era tida por ele como filha. E assim, Bil Morais conseguiu realizar um excelente trabalho de conclusão de curso que cimentou a hipótese de que nossa família materna teve origem numa moça francesa, filha de um importante gênio político brasileiro, Padre Belchior, hoje pouco comentado e lembrado.