segunda-feira, 18 de julho de 2022

Os Inimigos Não Mandam Flores: Teatro e Cinema em Bom Despacho

 

Os Inimigos Não Mandam Flores: Teatro e Cinema em Bom Despacho

 

                Ao pesquisar sobre o teatro em Bom Despacho, fiquei sabendo, através de minha querida amiga, a professora Laudelina Silva, que já foi encenado aqui na cidade o monólogo Mãos de Eurídice, considerado o primeiro monólogo brasileiro. A peça foi escrita em 1948 e 1950. A história gira em torno de Gumercindo, um homem que literalmente desce ao inferno graças à sua amane Eurídice. As mãos de Eurídice são protagonistas dessa paixão devoradora:  "mãos pedindo preces, mãos pedindo harpas, mãos pedindo asas, ternura e amor" - são citadas de passagem, entre os muitos outros atributos físicos da moça.

 Pedro Bloch, o autor, era da família Bloch, dono da revista e depois TV Manchete, verdadeiro império de comunicações encerrado nos anos 90. Dácio, que teve carreira política local, foi quem encenou essa obra. A figura predominante e inspiradora do teatro no início dos anos 60 (período aqui referido) foi o hoje advogado Paulino Menezes, pai de Roniere Menezes.

            Outro dia vi uma entrevista da poeta Adélia Prado onde ela conta que participava de um grupo de teatro que rodava a região a partir de Divinópolis, grupo chamado A Cara e a Coragem. Fico imaginando se esse grupo não deveria ter passado por Bom Despacho. Adélia comentou que tudo o que seu grupo teatral tinha era isso: a cara e a coragem. Imagino que esses pequenos grupos teatrais da época, que marcam a memória de uma geração, possivelmente tinham somente isso. E que, com tão pouco, que bela história escreveram! Pedro Bloch tinha também outras peças com títulos incríveis, tais como Esta Noite Choveu Prata e Morre um Gato na China.

            Outra peça desse mesmo dramaturgo encenada aqui foi Os Inimigos Não Mandam Flores, também de Pedro Bloch. A peça foi encenada no Brasil e no exterior com enorme sucesso e conta a história de um casal em crise que consegue reencontrar o amor e a paixão.

            Anos depois, acompanhei entusiasmado a carreira de um cineasta de Bom Despacho, filho do Zuca: Pablo Lobato. Ele foi a Cuba antes de ser moda as pessoas mandarem a gente para lá. E gravou um documentário muito emocionante, chamado “Mira (Veja)” que vi e revi várias vezes. Ele observa que o bloqueio que Cuba vive é também um bloqueio de sonhos. Ao entrevistar um tatuador, o jovem convida as pessoas a visitarem a ilha, pois é um lugar muitíssimo original. E vi também Macarrão com Cachaça, que contava a curiosa história de Macarrão, um negro operário que morre e é “bebido” pelos amigos em seu velório, ou seja, eles seguem uma tradição diversa, “baiana”, onde é servida bebida alcóolica no velório e ouve-se música no velório, tal como em outras tradições culturais, em que a morte não é sofrimento e sim celebração. Macarrão não estava morto e ergueu-se meio à festa, causando grande reboliço. O curta é intensamente divertido e curioso.

 Eu vi ambos em cinemas em Belo Horizonte, naquele rito coletivo que era o cinema no passado. As pessoas comentavam, davam risada juntos, era emocionante! Depois Pablo reinventou-se artista plástico e estudioso de Filosofia e Literatura, ainda outro dia assisti uma palestra sua aqui numa escola, interessado, agora, no filósofo Spinoza. Criativo, arguto, ele não perde suas raízes.

            Igualmente, no que se refere ao cinema, foi gravado aqui na cidade, no ano de 2012, com apoio de Fernando Cabral, o filme de terror A Chácara do Corvo 1, com pessoas da cidade fazendo papéis enquanto atores amadores, utilizando-se também de uma chácara na zona rural. O filme está todo disponível no youtube. Foi dirigido pelo espanhol Jordi Lores. ada na íntegra em Bom Despacho. Posteriormente, nasceu também A Chácara do Corvo 2.

Sem perder a essência inicial da saga, A Chácara do Corvo 2 foi um filme diferente, que deixa mais de lado o terror puro para levar ao espectador pelos caminhos de um autêntico "thriller", uma investigação policial, tentando descobrir o que aconteceu com os jovens desaparecidos nos caminhos do interior de Minas Gerais.

O ator José Altino, que foi muito reconhecido pelo seu papel na Chácara do Corvo 1, encarnou novamente o Roberto, um psicopata perturbado e submetido à mãe dele, que não duvida em levar adiante as piores ações. Altino interpreta magistralmente o personagem e destacou-se como um ator de futuro brilhante.

O filme foi interpretado também, nos papéis principais, por Clécio de Paula, Dênis Pereira, Felipe Tavares, Gilberto Cançado e Nathalia Chagas. E destacaram-se as interpretações do Maurício Simbera, Rejane Gontijo e Maria Edsonina Israel, que também repetiu elenco nesta produção.

A Chácara do Corvo 2 foi um filme de 75 minutos, de excelente qualidade, que oferece entretenimento, ação e suspense em partes iguais. Um filme onde a verdadeira protagonista é a cidade de Bom Despacho e que lança em seus títulos de crédito uma reivindicação da produção: o apoio a uma iniciativa cultural e popular que leve Bom Despacho a ter num futuro um local especializado em cinema, teatro e artes. Por esse motivo, o diretor, Jordi Lores criou a marca "Bom Despacho Cinema". Marca visual e virtual, a modo de bandeira desta petição pública.

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário: