Os
Inimigos Não Mandam Flores: Teatro e Cinema em Bom Despacho
Ao pesquisar sobre o teatro em
Bom Despacho, fiquei sabendo, através de minha querida amiga, a professora
Laudelina Silva, que já foi encenado aqui na cidade o monólogo Mãos de
Eurídice, considerado o primeiro monólogo brasileiro. A peça
foi escrita em 1948 e 1950. A história gira em torno de Gumercindo, um homem
que literalmente desce ao inferno graças à sua amane Eurídice. As mãos de
Eurídice são protagonistas dessa paixão devoradora: "mãos pedindo preces, mãos pedindo
harpas, mãos pedindo asas, ternura e amor" - são citadas de passagem,
entre os muitos outros atributos físicos da moça.
Pedro Bloch, o autor, era da família Bloch,
dono da revista e depois TV Manchete, verdadeiro império de comunicações
encerrado nos anos 90. Dácio, que teve carreira política local, foi quem
encenou essa obra. A figura predominante e inspiradora do teatro no início dos
anos 60 (período aqui referido) foi o hoje advogado Paulino Menezes, pai de
Roniere Menezes.
Outro dia vi uma entrevista da poeta
Adélia Prado onde ela conta que participava de um grupo de teatro que rodava a
região a partir de Divinópolis, grupo chamado A Cara e a Coragem. Fico
imaginando se esse grupo não deveria ter passado por Bom Despacho. Adélia
comentou que tudo o que seu grupo teatral tinha era isso: a cara e a coragem.
Imagino que esses pequenos grupos teatrais da época, que marcam a memória de
uma geração, possivelmente tinham somente isso. E que, com tão pouco, que bela
história escreveram! Pedro Bloch tinha também outras peças com títulos
incríveis, tais como Esta Noite Choveu Prata e Morre um Gato na China.
Outra peça desse mesmo dramaturgo
encenada aqui foi Os Inimigos Não Mandam Flores, também de Pedro Bloch.
A peça foi encenada no Brasil e no exterior com enorme sucesso e conta a história
de um casal em crise que consegue reencontrar o amor e a paixão.
Anos depois, acompanhei entusiasmado
a carreira de um cineasta de Bom Despacho, filho do Zuca: Pablo Lobato. Ele foi
a Cuba antes de ser moda as pessoas mandarem a gente para lá. E gravou um
documentário muito emocionante, chamado “Mira (Veja)” que vi e revi
várias vezes. Ele observa que o bloqueio que Cuba vive é também um bloqueio de
sonhos. Ao entrevistar um tatuador, o jovem convida as pessoas a visitarem a
ilha, pois é um lugar muitíssimo original. E vi também Macarrão com Cachaça,
que contava a curiosa história de Macarrão, um negro operário que morre e é
“bebido” pelos amigos em seu velório, ou seja, eles seguem uma tradição
diversa, “baiana”, onde é servida bebida alcóolica no velório e ouve-se música
no velório, tal como em outras tradições culturais, em que a morte não é
sofrimento e sim celebração. Macarrão não estava morto e ergueu-se meio à
festa, causando grande reboliço. O curta é intensamente divertido e curioso.
Eu vi ambos em cinemas em Belo Horizonte,
naquele rito coletivo que era o cinema no passado. As pessoas comentavam, davam
risada juntos, era emocionante! Depois Pablo reinventou-se artista plástico e
estudioso de Filosofia e Literatura, ainda outro dia assisti uma palestra sua
aqui numa escola, interessado, agora, no filósofo Spinoza. Criativo, arguto, ele
não perde suas raízes.
Igualmente, no que se refere ao
cinema, foi gravado aqui na cidade, no ano de 2012, com apoio de Fernando
Cabral, o filme de terror A Chácara do Corvo 1, com pessoas da cidade
fazendo papéis enquanto atores amadores, utilizando-se também de uma chácara na
zona rural. O filme está todo disponível no youtube. Foi dirigido pelo
espanhol Jordi Lores. ada na íntegra em Bom Despacho. Posteriormente,
nasceu também A Chácara do Corvo 2.
Sem
perder a essência inicial da saga, A Chácara do Corvo 2 foi um filme
diferente, que deixa mais de lado o terror puro para levar ao espectador pelos
caminhos de um autêntico "thriller", uma investigação policial,
tentando descobrir o que aconteceu com os jovens desaparecidos nos caminhos do
interior de Minas Gerais.
O
ator José Altino, que foi muito reconhecido pelo seu papel na Chácara do
Corvo 1, encarnou novamente o Roberto, um psicopata perturbado e submetido
à mãe dele, que não duvida em levar adiante as piores ações. Altino interpreta
magistralmente o personagem e destacou-se como um ator de futuro brilhante.
O
filme foi interpretado também, nos papéis principais, por Clécio de Paula,
Dênis Pereira, Felipe Tavares, Gilberto Cançado e Nathalia Chagas. E destacaram-se
as interpretações do Maurício Simbera, Rejane Gontijo e Maria Edsonina Israel,
que também repetiu elenco nesta produção.
A
Chácara do Corvo 2 foi um filme de 75 minutos, de excelente
qualidade, que oferece entretenimento, ação e suspense em partes iguais. Um
filme onde a verdadeira protagonista é a cidade de Bom Despacho e que lança em
seus títulos de crédito uma reivindicação da produção: o apoio a uma iniciativa
cultural e popular que leve Bom Despacho a ter num futuro um local
especializado em cinema, teatro e artes. Por esse motivo, o diretor, Jordi
Lores criou a marca "Bom Despacho Cinema". Marca visual e virtual, a
modo de bandeira desta petição pública.
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