17 de fevereiro de 1979. Bom Despacho, noite úmida, o carnaval seria na semana seguinte, dia 24. Choveu intensamente a tarde. Temporal típico de verão. Lulu e suas companheiras decidiram refrescar do calorão, na Churrascaria Itapoã, quase em frente à casa do Sr. Antônio Leite, eleito ano passado para seu terceiro mandato. Chegaram animadas e sentaram em um espaço no fundo, mais reservado e sossegado, para o ensaio da serenata/surpresa que Lulu, prometeu fazer ao seu eterno e amado, João Teodoro da Costa, o afamado João Zueira. Na mesa, quem passasse por perto, identificaria, pela beleza, graciosidade, alegria, felicidade, a presença da nossa querida Secelma. Junto às duas estavam a Neiva do Robertinho, a Marília do Sr. Odílio e a Lilice, que além de sua presença super agradável, neste dia, muito elegante, grávida, vestia uma blusa verde clara, fazendo destacar ainda mais a beleza de seus olhos verdes, realmente estava deslumbrante. João morava no Hotel Glória, pouco abaixo da Churrascaria. Enquanto isso, a roda e a animação dos amigos só aumentava. O Aritana redobrava, esforçando, daqui e para ali, no trabalho de garçom. E as garrafas vazias só aumentando....De repente aparece o violonista junto com o saxanfonista, cedidos por empréstimo, do sétimo batalhão, que não negavam nunca, um pedido sequer da Lulu. O Taquinho do Zé do Pedro, tumbando o ambiente, achou que lhe cabia uma vaga e veio do Sinucão do Zé Maria, com um pandeiro e formou o trio. Pouco mais tarde, Gustavo e Carma se juntaram à turma. Taquinho, muito vivaz e solícito, percebendo a brecha, diz que no Sinucão tinha também um Reco-reco. De pronto correu lá e num segundo o Gustavo, já meio embalado, pegou o instrumento e mostrou alguma habilidade, formado o quarteto. Para surpresa de todos aparece , o
ela própria, a preferida do Zueira. Seguiram-se a Noite do Meu Bem e mais e mais canções melodiosas, que fizeram lágrimas rolarem pela face da Lulu e de companheiras mais emotivas. Depois das exímias performances dos músicos do Sétimo e o belo vocal das meninas, Neiva até perdeu a voz. Nunca esquecendo do pandeiro do Taquinho, o esforço hercúleo do Gustavinho com o Reco-reco e é claro, não teria o mesmo brilhantismo, sem a imprescindível intervenção rítmica da caixinha de fósforo do nosso querido amigo Leão.
Chegando a hora da tradicional despedida, todos concentrados e no maior capricho e atenção iniciaram os acordes do Boa noite, diga ao menos boa noite. Bem no meio da apresentação algo prenunciava um desconforto. Um barulho de carro estacionando, porta fechando, a visão de uma Brasília amarela, barulho de portão abrindo. Nesse momento, Lulu com evidente nervosismo, ordena que parem imediatamente a música. Todos atentos, o suspense dos passos indecisos e dificultosos e Zueira, sem outra alternativa, aparece sorrateiro e sem graça, para o espanto de todos e decepção da Lulu!!! Ele, mesmo desconcertado, agradece a todos, que mudos vão se retirando um a um. Parte grupo ainda tentou quebrar o gelo, com gracejos e brincadeiras aos quais Lulu com raiva e em prantos, amparada nos ombros da Neiva, repreendeu energicamente.
Enfiaram a viola no saco, os mais animados retornaram à Itapoã onde prolongaram a noite, bebericando, divagando e analisando a situação delicada do Zueira e da Lulu.
Obs: Mais tarde, o Zueira confidenciou com o Tõe Zé, que naquele dia, foi com o Tõe Virgílio, radiotécnico, para o cabaré famoso em Luz, e lá ficaram até a hora daquele triste e fatídico encontro. Obs: Essa riqueza de detalhamento só foi possível devido a Lilice, no dia estando grávida, não bebeu e com sua memória privilegiada e detalhista, colhemos o máximo de dados possíveis