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domingo, 3 de dezembro de 2023
Mao Tse-Tung, UNITA, MPLA e o social-imperialismo
Mao Tse-Tung, UNITA, MPLA e o social-imperialismo.
Por todo período dos anos 60 a China foi a grande fortaleza do proletariado mundial. Centenas de militantes de dezenas de países iam à China e lá recebiam o mais avançado treinamento militar e político, para que retornassem aos seus países e iniciassem guerras populares que libertassem suas nações. O "Grande Debate" que foi promovido por Mao Tse-Tung em defesa do legado dos camaradas Lênin e Stalin contrapondo as teses capitulacionistas e reformistas de Khurshov, foram um grande marco histórico para o movimento comunista mundial a nível do rompimento de Lênin com a camarilha da II Internacional, pois, ambos embates, tanto o de Lênin nos anos 10 e de Mao nos anos 60, serviram para impulsionar a luta proletária, demarcando a linha marxista e expurgando os elementos oportunistas que buscavam sabotar o caminho da revolução.
Diversos partidos tiveram que se aprofundar no marxismo-leninismo para liquidar os elementos khruschovistas. Alguns marxistas-leninistas saíram derrotados pela violação ao centralismo democrático de líders burocráticos e tiveram que refundar Partidos Comunistas para se opor aos revisionistas. Também impulsionados pela revolução chinesa e seus aportes muitos movimentos de libertação nacional surgiram e, foram apoiados pela China do Presidente Mao Tse-Tung.
Dentre esses movimentos temos a polêmica UNITA, figura preferida dentre aqueles que tentam passar a China como apoiadora de "reacionários".
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) foi fundada por nacionalistas angolanos em 1966, auge das guerras de libertação pelo mundo, com a finalidade de promover uma revolução armada anti-colonial e democrática na Angola, expulsando os colonialistas portugueses e as classes feudais e, impulsionando as forças produtivas do país, num governo popular e democrático, assim se estabelecia em seu programa e a UNITA se concretizava como um grande movimento de massas.
"(...) ficou assim como um marco histórico a demonstrar a fria determinação, o acrisolado amor patriótico de angolanos valorosos, para quem a liberdade, a justiça social, a dignificação do homem através duna evolução, a socialização do sistema politico-económico-social angolano de forma a oferecer-se a camponeses e operários as perspectivas e condições dignas de qualquer ser humano, constituía a meta final. Durante nove longos anos a UNITA desenvolveu, dentro do País, uma luta armada de libertação, sempre escudada no maciço e indesmentível apoio das massas populares, - camponeses e operários -, sendo prova insofismável desse apoio as áreas libertadas, únicas que existiam em Angola (...)" 1
Contudo, a libertação de Angola passou por sérios problemas, sobretudo devido a influência do imperialismo ianque que financiava os mercenários do FNLA e, principalmente, o social-imperialismo soviético, tendo o MPLA com Agostinho Neto à cabeça.
Durante bom tempo militantes da base do MPLA e movimentos de massa travavam batalhas contra os colonialistas e os fascistas de forma autônoma, uma vez que a direção do MPLA pedia por recuos e tentava arquitetar uma política de gabinete nas costas do povo.
Em 1974 o colonialismo português após uma tempestade de revoltas populares abandona o poder. Cabe destacar que o MPLA só foi capaz de avançar rapidamente com apoio da potência militar soviética e dos soldados cubanos que foram "importados para fazer a revolução", algo completamente intervencionista que por si só já comprova a incapacidade do MPLA de mobilizar as amplas massas do povo angolano em unidade para a revolução, do contrário, a postura sectária do MPLA dividiu o povo angolano e o levou a uma guerra civil que perduraria por décadas.
"a partir de Novembro de 1974 a URSS passa a reconhecer no MPLA a hipótese de conseguir em Angola uma forte posição que servisse os seus interesses imperialistas e recomeça a fornece-lhe apoio militar. E não sé recomeça o apoio militar como, ao contrário do que tinha feito durante a luta anti-colonial, fornece agora armas modernas e sofisticadas e numa quantidade milhares de vezes maior que durante todos os anteriores anos de guerra." 2
No decorrer desse processo nos anos 70, a UNITA vendo o avanço do MPLA abandona seus princípios democráticos e adota a política de "derrotar o MPLA a todo custo", não importando mais com quem se aliava ou que linha política passaria a defender. Daí incorreu em diversas posturas retrógradas como apoio aos milicianos pró-aparthaid do Zaire e Africa do Sul e financiamento por parte dos EUA, tudo para derrotar o MPLA. Foi nisso que a China optou por cortar laços com a UNITA e essa se aprofundou em suas concepções pequeno-burguesas, militaristas e reacionárias.
O que cabe destacar aqui é que, diferentemente do que apregoa notórios revisionistas que pintam a UNITA como inimigo, essa organização em seu inicio foi um movimento nacionalista justo e revolucionário e, por outro lado, o MPLA passou longe de representar um governo popular, quiçá socialista como disseminava os khrushovistas na época.
O MPLA, assim como a UNITA, surgiu como um movimento correto, mas que se debateu por não assumir uma direção proletária. Teve como fundador e secretário-geral Viriato da Cruz que viajara à China em 1958 antes de ter fundado o MPLA e voltaria à China em 1960 para obter apoios político e militar apos o MPLA já ter se formado. Em 62 o Viriato abandonaria o cargo de secretário-geral do MPLA, devido a insanáveis divergências com o presidente do movimento, Agostinho Neto, e foi formalmente expulso, em 1963.
Sob a liderança de Agostinho Neto e sua camarilha o MPLA foi um desastre político com inúmeras dissidências internas e sucessivas tentativas de golpes, muitas por não concordarem com a política de subjugação imposta pelos soviéticos, a qual Agostinho defendia firmemente.
Com Agostinho Neto no poder do Estado, criou-se uma classe burguesa angolona burocrática, ligada aos aparelhos administrativos, quadros à esquerda no MPLA foram expulsos, os movimentos populares e as massas sofreram forte repressão, os meios de comunicação monopolizados e, toda divergência, interna ou externa, rechaçada a ponto de se proibir defender a democracia popular ou citar à República Popular da China, uma vez que Angola se convertia num fantoche do revisionismo soviético.
"A acção repressiva do MPLA contra os elementos revolucionários que militavam nas suas fileiras, dirigida pelo DON/Nacional e particularmente por Nito Alves, tomou-se particularmente intensa durante o mês de Setembro». Na Gabela são presos militantes do Centro de Orientação Política e é instaurado um processo e um mandato de captura aos elementos que compunham a direcção do CIR (Centro de Instrução Revolucionária das FAPLA) que são acusados de "esquerdistas" e "maoistas". Em Luanda são proibidos os Jornais "Angola" e "Poder Popular” que se tinham destacado como órgãos de informação ao serviço das organizações populares e da luta das massas trabalhadoras. Mais tarde seria ainda suspenso o jornal "4 de Fevereiro"." 3
Não bastando uma política anti-povo o MPLA, já completamente degenerado, desarmou as massas após a libertação e colocou milhares de soldados cubanos para defender Angola de "subversivos" (o próprio povo). A subjugação sobretudo econômica de Angola, cedendo milhares de toneladas de café aos russos a preços de miséria - a venda do café de Angola a Cuba por um preço três vezes inferior ao do mercado internacional - as frotas soviéticas saqueando à vontade o peixe nas águas territoriais angolanas, e entrega da indústria extractiva (diamantes, petróleo, ferro), longe de serem um "internacionalismo", representavam o imperialismo com indumentária vermelha ,ou como diria Lênin: social-imperialismo.
Entender a complexidade da luta de classes em Angola é fundamental para compreendermos os desdobramentos do movimento comunista, sobretudo como pós-Stalin a URSS longe de apresentar uma oposição ao imperialismo, era parte do mesmo. Algumas pessoas de forma oportunista ou por limitação do marxismo tem ocultado que o que existiu dos anos 60 em diante não representava mais o Estado Proletário de Lenin e Stalin, mas uma deformação burocrática e imperialista. O MPLA instaurou um regime fascista em Angola, subserviente ao imperialismo soviético e que hoje serve as demais potências imperialistas, tudo isso sob anos de guerra contra o seu próprio povo. A dicotomia entre UNITA e MPLA nunca existiu, ambos no fim se degeneraram em meros aparelhos do capitalismo burocrático, representantes de uma ou outra potência imperialista, inimigos das classes trabalhadoras de Angola.
Citações
1
1975-12-16 - KWACHA - UNITA
2, 3
1976-03-00 - ANGOLA CONTRA A OCUPAÇÃO MILITAR E A REPRESSÃO
Referências:
Carta Chinesa, A batalha ideológica que o Brasil não viu.
Vanguarda Operária Nº 03 - OCA 1976
Vanguarda Operária Nº 01 - OCA 1976
1976-04-00 - DECLARAÇÃO CONJUNTA DO COMITÉ CENTRAL DO PCP(R) E DA DELEGAÇÃO DO COMITÉ CENTRAL DA OCA
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