Grito para Roma (poema de Lorca que permeia a narrativa de Oswald de Andrade Marco Zero):
O amor está nos fossos onde lutam as serpentes da fome,
No triste mar que embala os cadáveres das gaivotas
E no escuríssimo beijo pungente embaixo das almofadas.
Mas o velho de mãos translúcidas
Dirá: Amor, amor, amor,
Aclamado por milhões de moribundos;
Dirá: amor, amor, amor,
Entre o tecido da seda estremecido da ternura;
Dirá: paz, paz, paz
Entre o ruído de facas e de dinamite;
Dirá: amor, amor, amor
Até que se tornem de prata os seus lábios.
Entretanto, entretanto, ai!, entretanto,
Os negros que tiram as escarradeiras,
Os rapazes que tremem sob o terror pálido dos diretores,
As mulheres afogadas em óleos minerais,
A multidão de martelo, de violino ou de nuvem,
Há de gritar ainda que lhe rebentem os miolos contra o muro,
Há de gritar ante as cúpulas,
Há de gritar louca de fogo,
Há de gritar louca de neve,
Há de gritar com a cabeça cheia de excremento,
Há de gritar como todas as noites juntas,
Há de gritar com voz tão despedaçada,
Até que as cidades tremam como meninas
E rompam as prisões do azeite e de música,
Porque queremos o pão nosso de cada dia,
Flor de amieiro e perene ternura debulhada,
Porque queremos que se cumpra a vontade da Terra
Que dá seus frutos para todos
Federico Garcia Lorca
Um comentário:
Lúcio, eis o primeiro e mais nobre desejo:
"...queremos que se cumpra a vontade da Terra
Que dá seus frutos para todos"
Todo maior artista é cisterna potável para os sedentos, hospedaria para os exaustos.
Forte abraço, meu amigo!
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