sábado, 6 de agosto de 2011

Sobre Marina e Lula e a "norma culta"

Desde que presenciei, em um supermercado de Juiz de Fora, uma mãe corrigindo sua filhinha ("Não é ´pûr favor', é 'pôr favor'", dizia a mãe) deixei de entrar em discussões sobre "O que se fala é diferente do que se escreve".
Juiz de Fora talvez seja uma cidade universitária e culta demais para os padrões brasileiros, mas não vem ao caso...
Apenas gostaria de ressaltar que Caetano, em entrevista a Jô Soares, por esses dias, comparou o "falar errado" do Lula (e suas circunstâncias políticas) ao ato de falar, seguindo extremamente a norma culta, de uma brasileira que foi alfabetizada aos 16 anos (e também teve suas circunstâncias de formação de caráter): Marina Silva.

Giuliano Martins Massi


-------------------------------------------

Caro Giuliano: essa situação que você presenciou deveria ser seu ponto de partida, pois a mãe está fazendo uma tolice. Se a criança fala de maneira informal, provavelmente está imitando a fala da mãe, que por sua vez quer que ela fale como um livro.

Eu vi essa entrevista de CaeTUCano. A posição dele com relação a Lula é partidária, por isso a postura burra de chamá-lo de analfabeto. Ele tem as posições de Jô, que é a visão da Globo, que é a visão que predomina na mídia, que é a da gramática normativa.

Quanto a Marina, sinceramente não gosto do discurso dela. Acho voltado para a classe média e prefiro a clareza pontual de Plínio Sampaio em prol dos movimentos sociais, embora não tenha votado nele e sim, de alto a baixo, no PCB.

Tucanos tendem a preferir Marina que Lula. E Marina, é claro, por sua origem de classe, sabe falar o português informal também, mas como informo acima, ela se dirige à classe média e seu esforço foi em seduzir as bases petucanas na última eleição. Caetano está embevecido, pois em geral quem tem simpatias tucanas pode não aceitar Serra e preferir Marina. Caetano também está encantado com Aécio Neves. Aécio é lindo, Serra é feio.

Agora, gostaria que alguém estudasse as falas dela para saber se fala "extremamente de acordo com a norma culta". Creio que é essa afirmativa é falsa, porque a norma culta dos brasileiros abrange construções como "deixa eu dançar", "beija eu", construções não aceitas no português padrão, muito ligado a Portugal, que você deve estar chamando de "norma culta" e que é ensinado na escola.

O que é lamentável em Marina é que ela tem um problema sério com partidos. Ela não resiste a parti-los. Ela rachou com o PT e foi para o PV; no PV exigiu a retirada do casamento gay e da liberação das drogas, o que provocou o racha do Partido Livre; e recentemente Marina rachou com o PV e, quem sabe, irá para o Partido Ecológico Nacional. Também há quem me diga que ela criará um novo partido brotando diretamente de um movimento social a ser convocado por ela. Será, então, o quarto partido ecológico brasileiro.

Assim, o tópico "ecologia" em política estará tão rachado quanto o assunto "comunismo". Sim, pois temos agora quatro pcs: Partido Comunista Brasileiro, Partido Comunista do Brasil, Partido Comunista Revolucionário e Partido Comunista Marxista-leninista.

Eu acho isso bom? Não.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado(a):
Um ser humano culto imita os melhores livros, e ensina o mais próximo do que ele considera culto. Aquela mãe quis ensinar. E ensinar nunca é uma tolice.
Eu coloquei o "falar errado" do Lula entre aspas mas, por falha minha, não coloquei o "falar extremamente a norma culta" de Marina também entre aspas. De qualquer forma, citei palavras do Caetano Veloso, a quem não julgo em relação a posições políticas, partidárias ou ideológicas.
Respeito sua opinião, mas gostaria de destacar que o "ato de falar, seguindo extremamente a norma culta" não significa falar perfeitamente.
Ir além seria entrarmos em um debate longo, talvez proveitoso, mas que pode ficar para outra hora.
Pelo visto, nossas posições são distintas, mas não totalmente divergentes.
Concordo que "a língua é viva", mas, como tal, creio que não devemos deixá-la como uma planta em estado bruto numa floresta.
Tudo o que cultivamos exige correção para que cresça melhor, se desenvolva melhor, seja mais aceitável e que possa chegar ao maior número possível de pessoas.
Eis, na minha opinião, o papel da Educação. E corrigir é uma etapa desse processo.

Grato,
Giuliano

Revistacidadesol disse...

Ensinar nunca é uma tolice. Corrigir é, por vezes. Esse tipo de correção exemplificada por você eu acho perfeitamente tolo e antipático, sinceramente, quando vejo alguém fazendo me irrita, acho um saco. Sugiro procurar estimular a leitura de livros, comprar jogos para aprender gramática, etc. O saber tem de ter sabor.

Abs do Lúcio Jr