terça-feira, 6 de março de 2012


A rede antissocial: um milhão de pessoas não curtiram isso

As redes sociais são uma das grandes inovações do mundo atual. Através delas e da internet, é construída uma imprensa alternativa. Junto às tevês por assinatura, elas ameaçam colocar um fim ao reinado da televisão como mídia de massas. As redes sociais possibilitam que se produza conteúdo de forma livre e dialogue com quem produz, por anunciam uma mídia mais democrática do que a televisão.
Ao mesmo tempo, um indicativo das limitações e regressões que as redes sociais podem trazer é o próprio filme A Rede Social, contando a vida do “inventor” do facebook. “Inventor” entre aspas mesmo, porque fica claro que os méritos do facebook são de aprimorar a idéia lançada pelo Orkut, fato ocultado cuidadosamente. Zuckerberg mostrou estar muito ciente do tipo de divertimento grosseiro e retrógrado que muitas vezes faz sucesso mesmo nas mídias mais adiantadas, como quando usa os perfis dos amigos para brincadeiras de mau gosto onde se aponta que mulher é mais bonita do que a outra. Outro aspecto que fica na sombra é até que ponto o próprio estado norte-americano não apóia a produção desse tipo de produto tecnológico, uma vez que a balança de pagamentos dos USA depende da exportação de tecnologia cara.
Ocorre que Zuckerberg, além de escolher um design semelhante ao orkut, com uma cor semelhante, utilizou seu círculo social privilegiado (a elitista universidade de Harvard) para obter o que o Orkut nunca conseguiu: prestígio, aura. A partir da classe média e das celebridades foi possível massificar sua rede social, cujas informações tornam os cidadãos mais do que nunca vulneráveis às empresas. Outro aspecto é o fato de Zuckerberg ter tido um sócio brasileiro, Eduardo Saverin. Creio que isso não se deve a um amor pela “diversidade cultural”, como o filme comenta de forma ridícula e inescrupulosa, mas para que Zuckerberg pudesse repetir o sucesso do Orkut junto às massas brasileiras com o seu facebook. A genialidade técnica muitas vezes anda de braços dados com mentes de rapina, superficiais, desprovidas de qualquer riqueza espiritual, repetindo a tendência do cinema dos anos 80, 90 e 2000, muito rico tecnicamente e pobre em cultura humanista. A metáfora que define nosso tempo é o mergulhador que entra de escafandro numa banheira.
No facebook, a dinâmica dos relacionamentos se dá num mundo totalmente descolado do real, onde o “perfil” de uma pessoa real tende a adotar um comportamento e dinâmica muito diferente da pessoa real, o que leva à incomunicabilidade. A imagem da pessoa na rede é por vezes, espetáculo e fantasmagoria pura. Contraditoriamente, essa incomunicabilidade nasceu da comunicação. A abertura para a agressão psicológica selvagem está, mais que nunca, aberta.
Construído como uma grande vitrine em que os vendedores são seus amigos, o facebook é também extremamente viciante. Sua tendência é aproximar pessoas distantes e afastar as próximas, além da óbvia tendência de que os usuários tenham suas vidas vasculhadas por empresas que depois ainda chantageiam que “olham os perfis na hora das entrevistas de emprego”. Existe, por um lado, uma liberdade de criar mídia e se informar, por outro, nunca a lógica empresarial penetrou tão a fundo a mente e o corpo das pessoas.

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