A
rede antissocial: um milhão de pessoas não curtiram isso
As redes
sociais são uma das grandes inovações do mundo atual. Através delas e da
internet, é construída uma imprensa alternativa. Junto às tevês por assinatura,
elas ameaçam colocar um fim ao reinado da televisão como mídia de massas. As
redes sociais possibilitam que se produza conteúdo de forma livre e dialogue
com quem produz, por anunciam uma mídia mais democrática do que a televisão.
Ao mesmo
tempo, um indicativo das limitações e regressões que as redes sociais podem
trazer é o próprio filme A Rede Social,
contando a vida do “inventor” do facebook. “Inventor” entre aspas mesmo, porque
fica claro que os méritos do facebook são de aprimorar a idéia lançada pelo
Orkut, fato ocultado cuidadosamente. Zuckerberg mostrou estar muito ciente do
tipo de divertimento grosseiro e retrógrado que muitas vezes faz sucesso mesmo
nas mídias mais adiantadas, como quando usa os perfis dos amigos para
brincadeiras de mau gosto onde se aponta que mulher é mais bonita do que a
outra. Outro aspecto que fica na sombra é até que ponto o próprio estado
norte-americano não apóia a produção desse tipo de produto tecnológico, uma vez
que a balança de pagamentos dos USA depende da exportação de tecnologia cara.
Ocorre que
Zuckerberg, além de escolher um design semelhante ao orkut, com uma cor semelhante,
utilizou seu círculo social privilegiado (a elitista universidade de Harvard)
para obter o que o Orkut nunca conseguiu: prestígio, aura. A partir da classe
média e das celebridades foi possível massificar sua rede social, cujas
informações tornam os cidadãos mais do que nunca vulneráveis às empresas. Outro
aspecto é o fato de Zuckerberg ter tido um sócio brasileiro, Eduardo Saverin.
Creio que isso não se deve a um amor pela “diversidade cultural”, como o filme
comenta de forma ridícula e inescrupulosa, mas para que Zuckerberg pudesse
repetir o sucesso do Orkut junto às massas brasileiras com o seu facebook. A
genialidade técnica muitas vezes anda de braços dados com mentes de rapina,
superficiais, desprovidas de qualquer riqueza espiritual, repetindo a tendência
do cinema dos anos 80, 90 e 2000, muito rico tecnicamente e pobre em cultura
humanista. A metáfora que define nosso tempo é o mergulhador que entra de
escafandro numa banheira.
No facebook, a
dinâmica dos relacionamentos se dá num mundo totalmente descolado do real, onde
o “perfil” de uma pessoa real tende a adotar um comportamento e dinâmica muito
diferente da pessoa real, o que leva à incomunicabilidade. A imagem da pessoa
na rede é por vezes, espetáculo e fantasmagoria pura. Contraditoriamente, essa
incomunicabilidade nasceu da comunicação. A abertura para a agressão
psicológica selvagem está, mais que nunca, aberta.
Construído
como uma grande vitrine em que os vendedores são seus amigos, o facebook é também
extremamente viciante. Sua tendência é aproximar pessoas distantes e afastar as
próximas, além da óbvia tendência de que os usuários tenham suas vidas
vasculhadas por empresas que depois ainda chantageiam que “olham os perfis na
hora das entrevistas de emprego”. Existe, por um lado, uma liberdade de criar
mídia e se informar, por outro, nunca a lógica empresarial penetrou tão a fundo
a mente e o corpo das pessoas.
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