sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Marxiano, volte para o seu planeta: contra Erik Haagensen Gontijo





Resolvi ler uma tese marxiana, a tese de Erik Haagensen. Fiquei surpreso: os marxianos estão aí só para atrapalhar. Essa tese poderia ser jogada no lixo. Agindo como braço de um sistema capitalista, a nossa pomposa UFMG aceita lixo antimarxista a propósito de dissertações de mestrado, como essa sobre a Natureza, Sociedade e Atividade Sensível na Formação do Pensamento Marxiano. Logo de início, ele tem a coragem de afirmar:

Assim, o comunismo, enquanto idéia histórico-filósofica (decorrente de uma necessidade lógica), ou talvez menos, como uma mera aspiração com bases éticas, humanitárias, etc, destituídas de possibilidades reais, apesar da nobreza de seu idealismo, não ultrapassa o devaneio voluntarista, totalmente ao largo da realidade e, portanto, perfeitamente indiferente para o desenvolvimento prático (HAAGENSEN, p. 24)

           Embora sustente essa posição, entretanto, o que se pode concluir é que,  pelo contrário, ele salpica citações de Lukács aqui e ali, dando a entender até que é um leninista. No entanto, não pode ser, pois Lênin negou o tal ponto problemático que Erik cita logo no começo, no qual Lukács se irmana com Kant: “o ser mesmo (o ser em si) foi concebido por Kant, na teoria do conhecimento, como incognoscível por princípio” (p. 12).
No entanto, o atrasado Erik aceita isso esquece de que, para ser um marxista nessa altura da história, precisava definir que o fenômeno coincide com a coisa em si, senão ele abre as portas para o idealismo, ou seja, para idéias ultrapassadas (que permearam toda a dissertação e a comprometem).
Toda a dissertação de Erik gira em torno da terminologia hegeliana usada por Lukács, que nunca se convenceu de que o fenômeno (a imagem mental de uma coisa) e coisa em si (a realidade material) coincidem: a ciência penetra profundamente, podendo alterar a essência. Não há uma coisa em si incognoscível, misteriosa. Ao permanecer pensando que aquilo a que temos acesso é a consciência, o fenômeno, Lukács pensa, contra Lênin, que a revolução irá acontecer quando a proletariado atingir consciência de classe (já seria o bastante!), enquanto Lênin afirmava que é preciso verificar a conjuntura geral, se as classes dominadas não conseguem viver do jeito antigo e se as classes dominadoras também não conseguem dominar da forma anterior. Mas ele finge ser leninista até o final, vejamos seu último escrito:

A tarefa atual dos marxistas só pode ser trazer de volta à vida o método autêntico, a ontologia autêntica de Marx, principalmente para, com sua ajuda, não apenas possibilitar cientificamente uma análise histórica fiel do desenvolvimento social desde a morte de Marx – o que até hoje ainda não foi bem feito e nem completamente – como também para compreender e apresentar o ser em sua totalidade, no sentido de Marx, como processo histórico (irreversível) em seus fundamentos. Esse é o único caminho teoricamente viável para apresentar intelectualmente, sem qualquer transcendência, sem qualquer utopia, o processo de humanização do ser humano, o devir da espécie humana. Só assim essa teoria pode readquirir aquele pathos prático, sempre terreno-imanente, que havia no próprio Marx e que mais tarde – em parte ignorando o interlúdio leninista – se perdeu largamente, tanto na teoria como na prática (LUKÁCS, APUD: HAAGENSEN, 2007).

            O vocabulário empolado de Lukács remete a Hegel e Kant e nem tanto a Marx, que ele nunca digeriu totalmente. A mistificação está quando ele finge consideração pelo tal “interlúdio leninista”. Aliás, Stálin é continuador de Lênin, assim como Mao Tsé Tung. Na verdade, o tal “retorno a Marx” de Lukács só o levou aonde ele nunca saiu (ou mal chegou).
            Mas Erik se entrega aos devaneios voluntaristas e masturbatórios, autoengendrando um Marx só seu, tendo por trás a chancela medusina e petrificante da cátedra. Mas o marxiano vai mais além, seu interesse é ser o filósofo, que se colocando como marxista, coloca em seu embornal idéias que circulam no pensamento de direita atual.
Erik ataca a “teoria da ideologia”. Ele sintetiza, utilizando a tática da burguesia de inverter: “a teoria da ideologia é a ideologia alemã”. Nessa altura, cai a máscara e Erik faz papel de ideólogo burguês, ao consolidar a tática que ela tem assumido de fingir não ter ideologia, naturalizando sua dominação e buscando mantê-la invisível. É a teoria da ideologia [de Marx e Engels] que é considerada falsa aqui. Quem apresentar explicações motivadas pela falsa consciência, mentiras, é que está falando a verdade, então. Claro que o discurso de Erik vale é para ele mesmo. Ele é que busca vender mentiras como verdades e crê que nisso está sendo anti-ideológico. Na verdade, parece que ele se diverte com esse expediente de transmitir um Marx que deixa perplexo quem entende um pouco de Marx, pois participa de movimento estudantil, elabora canções, dá entrevistas na mídia, etc. Ou seja: ele é um disseminador de sua teoria e por isso precisa ser combatido. Está aí só para atrapalhar.
Ele prossegue, atrevido, invertendo tudo: “Em suma, basta interpretar o mundo de outra forma (a 11ª. Tese ad Feuerbach é fartamente ilustrada ao longo de todo o texto), tarefa que cabe a uma certa pedagogia crítica qualquer, e o mundo experimentará uma reviravolta em direção aos “verdadeiros humanos”. A “crítica” seria uma arma contra a “ideologia” que “organiza” o estado de coisas.” Para Haagensen, contestar verbalmente idéias falsas não combateria a alienação, uma vez que a alienação decorre exclusivamente da prática. Assim ele desvaloriza a argumentação e o debate. A teoria correta é um primeiro passo para uma prática acertada.
Aqui, ele simplesmente inverte o que diz a décima primeira tese de Feuerbach. Marx anuncia que uma nova teoria tem de ser levada para a prática para transformar o mundo. Erik entende que ele está propondo que uma nova teoria já bastaria e seria o critério último para transformar o mundo, ou seja, Marx seria um idealista. Erik então prossegue escrevendo que Marx não quer combater a falsa consciência, mas sim aos grilhões reais que estão presentes na vida prática dos indivíduos. Erik dissocia teoria e prática, inclusive colocando isso como dogma marxiano, “antipoliticista”, ou seja, derrotista, pessimista. O que será que Erik diria de uma carta de Marx como a seguinte, como numa carta escrita a Weydemeyer (1818-1866), datada do dia 05 de março de 1852, Marx é ainda mais claro:

    Não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna, nem a luta de classes entre si (...) O que fiz de novo foi:

    1) demonstrar que a existência das classes só está ligada a fases de determinado desenvolvimento histórico da produção;

    2) que a luta de classes CONDUZ NECESSARIAMENTE à ditadura do proletariado e
    3) que essa ditadura constitui apenas a transição para a abolição de todas as classes.
    (o grifo é meu) (em Karl Marx, F. Engels, Études Philosophiques, Paris, Éd. Sociales, 1951, p. 125).

E assim o barco vai, nessa toada, para o atoleiro. Para Erik, o discurso que busca verdades no lugar das falsas ideais que organizam é coisa de “padrecos que se pretendem reis” (p. 27). Mas o tom dele é justamente do padreco que engoliu um rei e seu método é o de pinçar citações e exibi-las como troféu. Aqui ele combate o marxismo bolchevique com sua terminologia bobalhona.
Mais adiante, ele afirma que “Marx nunca foi feuerbachiano”. Ora, ora. Quem disse isso? Como mutila o marxismo da dialética, Haagensen não entende que Marx nega uma parte e aceita uma parte do pensamento de Feuerbach. Talvez a parte mais divertida de sua dissertação seja o ataque a um marxiano que foi orientando de Adorno, Alfred Schmidt. Como falam a mesma língua, Erik mostra as patacoadas do alemão, mas é cego para as próprias. Feuerbach escreveu que “pensa-se diferente num castelo e numa choupana”. Marx formulou de outra maneira, mais precisa: nossa consciência é reflexo do mundo material. Não se trata, então, de pensar diferente num lugar e noutro, o que poderia levar a pensar numa determinação geográfica do pensamento.

                                         Erik Haagensen Gontijo

Toda a dissertação é um vocabulário exaltado de jovem hegeliano rebelde e sarcástico. Sua teoria é trocista (ou será trotsquista???) e seu “marxismo” não passa de uma província tumultuada do hegelianismo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fausto Arruda X PCB

 

Abro aqui um debate que julguei muito interessante. Concordo com Arruda em três pontos: 1) condição semi-feudal e semi-colonial do País. 2) O Brasil não é um país desenvolvido. 3) O trotsquismo realmente está bem presente no PCB, como por exemplo na figura de José Paulo Netto. Aliás, o marxismo universitário no Brasil  pode muito bem ser denominado de trotsquismo acadêmico e adjacências. O trotsquismo é uma teoria comprometida. É preciso encontrar outro lugar para fazer a reflexão, a academia melou.

Divirjo no seguinte ponto: o fato de tentar participar de eleições talvez não seja a chave de todas as nossas derrotas, mas com certeza não é o ponto onde os partidos e movimentos deveriam focar suas parcas forças. Creio que a esquerda socialista brasileira está numa confusão tal que é melhor ela se organizar em torno de jornais e revistas primeiramente, fazendo uma rede de solidariedade e discutindo teoria.

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ecletismo do PCB

Já a sigla PCB (Partido Comunista Brasileiro) ou o que restou do Partidão kruschovista/eurocomunista após a sua transformação em PPS e saída de trânsfugas para o malsinado PCdoB, se assemelha mesmo é a um rebocador de navios que gasta todo seu vapor no apito. Na melhor das hipóteses uma agremiação cripto-trotskista que predica um socialismo eclético e de pura retórica. Sua análise da história do movimento comunista internacional não é nada mais que o contrabando de toda propaganda anticomunista e antistalinista . Para esta agremiação não existiram os golpes revisionistas na URSS (1956) e na China (1976) senão que a correção de rumo desviado por extremistas esquerdistas; para quem a restauração capitalista na URSS só se deu em 1990 e a China continua socialista "ao seu modo". Ou seja, onde há revisionismo e oportunismo vêem socialismo , onde há revolução e ideologia proletária enxergam aventureirismo, esquerdismo e dogmatismo.
Sobre tal base, evidentemente, nada pode se esperar com respeito a todo significado da tenaz luta de que se ocupou toda sua vida o grande Lenin contra o oportunismo e o revisionismo, contra o bernsteinismo e o kautskismo, contra o bukarinismo e o trotskismo. E claro, coerentemente, não poderiam se dar conta do maior embate ideológico de todos os tempos que foi a confrontação do Partido Comunista da China sob chefatura de Mao Tsetung contra o revisionismo moderno de Kruschov, nos bastidores de 1956 a 1963 e neste ano desencadeada publicamente. Sobre a Grande Revolução Cultural Proletária então, maior movimento de massas revolucionário da história, em que centenas de milhões se mobilizaram em defesa do poder para o proletariado, não podiam mais que repetir o velho cacarejo da reação classificando-o de "auge do esquerdismo na China".
Mas vejamos um pouco mais, agora quanto a luta de classes em nosso país. Romper com o gerenciamento de Luiz Inácio e depois apoiá-lo no segundo turno da reeleição é colocado como um ato de coerência, assim como ajustar-se às novas regras eleitorais que não exigem o registro de todos os militantes no Cartório Eleitoral e, ainda, subsidiar o seu "projeto revolucionário " com as verbas do fundo partidário.
E o oportunismo não poderia ser menor ao analisar o que, com desfaçatez, considera o seu passado, ou seja, a história do Partido Comunista do Brasil fundado em 1922 até a Declaração de Março de 1958 (repetindo: período histórico em se lutou por assimilar o marxismo-leninismo, por uma linha revolucionária até acometer-se gravemente pelo reformismo e revisionismo consagrados pela Declaração de Março de 1958 e consolidado pelo V Congresso) e a partir do V Congresso (1960) (daí em diante sim, a verdadeira história da agremiação em questão, o Partidão), após o qual a agremiação que dele resultou integrou-se completamente ao velho Estado brasileiro, adotando a denominação de Partido Comunista Brasileiro, não constando de seus estatutos e programa qualquer menção aos fundamentos do marxismo como violência revolucionária e ditadura do proletariado.
De qualquer forma, sua abordagem sobre os primeiros 38 anos do Partido Comunista do Brasil, pretende escamotear os sérios desvios de direita, pinçando uma tímida crítica a um episódio de "ilusões eleitorais". De sua real história, ou seja, do Partidão (do V Congresso, de 1960 em diante) de trajetória reformista, direitista e revisionista , nada tem a dizer a não ser ressaltar que em 1992 ocorrera um racha em que se separaram dos " liquidacionistas ". Ora pois! Sobre a posição capitulacionista e covarde frente ao golpe militar-civil de 1964, nada a dizer; e sobre seu papel provocador em atacar os revolucionários que se levantaram em armas contra o fascismo acusando-os de agentes da CIA, também nada a registrar, claro.
Mais uma vez tergiversando sobre o passado como mera retórica a cata de incautos, diz defender todas as formas de luta e chega a citar o Levante Popular de 35 e a guerrilha de Trombas e Formoso, só para afirmar que em sua "revolução socialista" não existe uma forma de luta principal. É típico do oportunismo não deixar claro e patente suas formulações, mas ir, como bem disse Lenin de forma sinuosa e tortuosa. Durante os anos de 1980 e mesmo de 1990, anos marcados pela renegação no campo da esquerda, era muito comum os subterfúgios oportunistas de se afirmar que consistia num erro definir a forma de luta principal e de que sim, era necessário combinar todas as formas. Assim, já há décadas, afundaram-se no mais crasso oportunismo eleitoreiro, deixando quem acreditou no conto da combinação à espera das outras formas de luta que nunca vieram.
Mas como todo reformista que quer se fazer passar por revolucionário e para tal se utiliza do jogo de palavras para enganar incautos, nossos revisionistas crêem piamente que declarar-se socialista e definir como socialista a etapa atual da revolução brasileira lhes assegura o título de marxistas e revolucionários , enquanto se ensebam na prática mais oportunista com suas táticas reformistas.
Para não deixar de citar algo de sua lavra própria, tomemos de suas resoluções o que afirma o PCB: "Nossa primeira constatação é a de que o Brasil se tornou um país capitalista completo, ou seja, trata-se de uma formação social capitalista na qual predominam as relações assalariadas, a propriedade privada burguesa dos meios de produção, as formas de produção e acumulação ampliada de capitais que completaram seu caminho até a formação do monopólio, chegando a agir de maneira interligada e inseparável da forma imperialista que hoje determina as relações econômicas mundiais. Mais do que um ponto através do qual o imperialismo opera sua reprodução ampliada da acumulação capitalista, o Brasil desenvolveu um parque industrial monopolista, setores de infra-estrutura de mineração, energia, armazenagem, transporte, portos e aeroportos, malhas urbanas, um comércio nacional e internacional, capitalizou o campo, gerou o monopólio moderno da agricultura, um sistema financeiro moderno e interligado ao mercado financeiro mundial, estruturou uma malha logística de serviços e ações públicas necessárias à reprodução das relações burguesas de produção." Provavelmente e pelo visto numa segunda ou próxima constatação, esta seria a de que o Brasil tornou-se uma potência imperialista.
É mesmo de se perguntar: Como podemos ter uma sociedade burguesa completa sem que tenha acontecido uma revolução burguesa no país? A quem, efetivamente, serve todo este "desenvolvimento" capitalista e toda a sua infra-estrutura? Qual proveito se obteve deste desenvolvimento, e não vamos aqui nos referir às condições de vida das massas exploradas e oprimidas (o que deveria ser a primeira questão para quem diz ser representante do proletariado), mas em benefício de se completar a formação da nação brasileira e sua real independência? Basta que se compare com os países que realizaram uma revolução burguesa para se chegar à conclusão que este capitalismo no brasil, engendrado pelo imperialismo contando como parceiros a burguesia compradora e o latifúndio e usando o Estado como principal alavanca, constitui um complexo de contradições que vão além da contradição capital e trabalho centralmente existente onde a burguesia derrotou a nobreza, demoliu suas instituições, varreu seu Estado e estabeleceu sua república com revoluções violentas.
Todas estas formulações não se amparam no materialismo histórico e dialético, e sim em concepções mecanicistas e ecléticas. E não é uma particularidade do PCdoB e PCB, na verdade vem encomendado pela verborragia ultra-radical que o trotskismo e demais revisionistas cunharam sobre um suposto " etapismo ", sempre apresentado como a essência do "reformismo stalinista". Segundo tal concepção a revolução em etapas é reformismo (como uma revolução pode ser uma reforma?) e a dialética materialista, cujas leis regem todo movimento por etapas e saltos, foi assassinada.

O verdadeiro caminho da revolução brasileira

Diferentemente de tais proezas analíticas, as leis universais do materialismo histórico e dialético explicam que no processo de desenvolvimento de nossa formação econômico-social, desde que surgiram os elementos capitalistas não ocorreu nenhum salto qualitativo (senão que acumulação quantitativa de elementos de um capitalismo burocrático) ficando pendente e por concluir a revolução democrática, a qual na época do imperialismo só pode se realizar como revolução democrática de novo tipo, e por decorrência dirigida pelo proletariado em aliança com o campesinato . Como em todos os países atrasados, quando da passagem do capitalismo de sua etapa de livre concorrência à dos monopólios, aqui o imperialismo, através da exportação de capitais e da política colonial, se assentou sobre a semifeudalidade e estabeleceu uma condição semicolonial com a qual submeteu todas as classes impondo sua associação com a grande burguesia e o latifúndio, engendrando o capitalismo burocrático para a opressão nacional e superexploração das massas trabalhadoras.
Ao contrário da verborragia socialisteira, que quer fazer crer que a revolução socialista surgirá de todo esse monturo que constitui a prática do oportunismo eleitoreiro e seu bla-bla-blá sindicaleiro , a revolução socialista em nosso país, como a história comprova, terá que ser preparada no curso de sucessivas batalhas duras e sangrentas, único caminho possível para se coesionar e forjar a força social capaz de demolir todo o aparelho de Estado reacionário e edificar outro sobre suas cinzas. Terá que construir a hegemonia do proletariado para impor sua autoridade política e moral. Ou será que a aliança operário-camponesa surgirá espontaneamente, ou os camponeses se unirão com os operários por mera simpatia ou porque está escrito nos textos marxistas? Não, terá de ser construída de forma tal que o proletariado ganhe as massas camponesas para essa aliança, e isto não se obterá com promessas generosas e declarações de boas intenções. Terá de ser construída na luta decidida do partido comunista autêntico que se aliando aos camponeses pobres ajudando-os, organizando-os e dirigindo-os na luta pela terra, destruindo o latifúndio e por seus direitos, o que só será possível (uma vez mais, como comprovado pela história) através da guerra revolucionária, da revolução agrária.
Isolar as classes latifundiárias, a grande burguesia e o imperialismo é a chave para derrotar a contra-revolução parte por parte e fazer triunfar a revolução. Tal tarefa exige defender os interesses das demais classes exploradas, oprimidas e prejudicadas pela sua dominação e é isto que quer dizer construir a frente única revolucionária com base num programa que, obviamente não pode ser um programa socialista de imediato (e menos ainda arremedos de socialismo que prevêem a existência da propriedade privada de meios de produção como as da pequena e média burguesia como preconiza PCdoB e PCB entre outros ultra-socialistas eleitoreiros). Mas sim um programa democrático-revolucionário que ao lado de confiscar o latifúndio, a grande burguesia e o imperialismo e colocar todos esses recursos em benefício das massas populares e do progresso da nação, defenda e proteja a pequena e média burguesias. E nas condições de nosso país, confiscar o latifúndio, a grande burguesia e o imperialismo significa confiscar o grosso das terras e dos capitais (tarefas democráticas agrária e antiimperialista). No entanto, o pequeno e médio capitais deverão ser assegurados até que a revolução estabeleça seu novo poder em todo país para passar à luta pela supressão da propriedade privada, ou seja saltar à construção socialista.
Por isto mesmo, a revolução em nosso país só pode ser a revolução democrática de novo tipo ininterrupta ao socialismo. É revolução democrática, porém de novo tipo, porque tal revolução só pode ser realizada se dirigida de forma absoluta pelo proletariado revolucionário através de seu autêntico partido comunista, baseado na aliança operário-camponesa como núcleo de uma frente de classes revolucionárias. Frente única revolucionária e não frente popular eleitoreira com seu cacarejo de ocupação de "espaços democráticos " no Estado reacionário e de "acumulação fria". Frente, não para concorrer aos cargos de gerenciamento do velho Estado burguês-latifundiário e pedir votos na corrida corrupta, demagógica e populista pelos " lugarzinhos rendosos", como diria o velho Lenin, no putrefato parlamento burguês. Mas para apoiar a revolução e sustentar a guerra revolucionária. Frente, não para administrar o velho Estado e perpetuar suas podres instituições e as ilusões constitucionais sobre as massas, mas para cercar os inimigos do povo, isolá-los e esmagá-los. Frente para destruir o velho Estado genocida e edificar um novo Poder e um novo Estado, uma nova economia, uma nova democracia e a construção da sociedade socialista. E é por etapa mesmo, cavalheiros!
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1. Declaração de Março de 1958 — Documento político lançado nessa data pelo grupo de Prestes aprofundando a orientação reformista do PCB e estabelecendo o revisionismo moderno de Kruschov como sua base ideológica, posições que se consolidariam com o V Congresso de 1960. 




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 Resposta do PCB Guarulhos:
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 O jornal A Nova democracia, com o artigo de Fausto Arruda (A partir de agora, tratado como FA)"PCdoB e PCB, variantes eleitoreiras do mesmo revisionismo", critica os programas dos dois partidos, que realizaram seus congressos em 2009.
Num primeiro momento, o artigo concentra sua crítica no PCdoB, explicitando fatos e problemas que já conhecemos, acerca da sua subordinação ao governo, o que caracteriza um tremendo erro teórico, ou uma demonstração clara de oportunismo político.
Em seguida, há uma análise conjuntural de situações históricas, trazendo-as à síntese que é o atual PCdoB, remetendo-o ao revisionismo;à teologia da libertação, ao reformismo democrático-popular, hoje já um social-liberalismo sem perspectiva estratégica socialista.


Consideramos, ao analisar o documento escrito pelo camaradas Igor Grabois e Edmilson Costa, a saber, "as diferenças entre PCdoB e PCB", que o grande problema do PCdoB não foi a mudança de linha política, que é comum se se analisar dialeticamente a realidade, mas a ausência de auto-crítica ao realizar essas mudanças, um grande erro na conduta revolucionária leninista. Por exemplo, "mais de 10 anos depois da linha traçada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), no VI Congresso, de 1967, o PC do B conseguiu chegar a conclusões semelhantes. Mas, para se manter fiel às suas oscilações políticas, a partir de 1978 o PC do B começou o rompimento com o Partido Comunista Chinês, sem sequer uma linha de autocrítica. Como é de costume, os companheiros procuraram rapidamente apagar da memória os tempos em que considerava o PC Chinês a vanguarda do proletariado mundial. Rapidamente, o PC do B se alinhou ao Partido do Trabalho da Albânia, do líder Enver Hoxha, e passou considerar a Albânia o 'farol do socialismo' da mesma forma que considerava anteriormente Mao Tse Tung o maior marxista da humanidade."
Isto é, a falta de auto-crítica , que marcou a transição posterior, à estratégia democrático-popular, ficou marcada na história dessa organização.

Em seguida, FA irá centrar-se no PCB. É importante notar uma espécie de desconhecimento acerca das resoluções do último congresso do partidão, acerca de suas deliberações estratégico táticas e analítico-conjunturais, tampouco sobre o caráter e o objetivo desse congresso. Por conseguinte, tece comentários, ou infundados, ou provocadores, afinal, não constituem verdade factual, aliás, parecem, por vezes, provocações manipuladas e direitosas.
Logo na abertura de seu artigo, o autor faz uma retomada da fase histórica do PCB Kruschevista e do PCB Euro-comunista dos anos 80, além de criticar o seu alinhamento com a URSS. Ora, não temos vergonha de nosso passado. Sim, alinhamo-nos durante toda a vida política da União soviética, a ela, não nos arrependemos, afinal, a URSS, mesmo cometendo erros, como a linha do XX congresso do PCUS, que são apontados em nossas resoluções, tem de ser considerada no campo do concreto, no campo material, numa perspectiva dialética, numa conjuntura internacional, que era favorável ao movimento comunista internacional, principalmente após a fase de dogmatismo estratégico-tático dos tempos da terceira internacional. Além disso, na conjuntura da ditadura militar no Brasil "o PCB construía uma outra linha política no seu VI Congresso, realizado em 1967. Nessas resoluções o PCB ( aplicando a linha do XX congresso do PCUS) identificou a ditadura como um governo de longa duração e propôs a formação estratégica de uma ampla Frente Democrática, com o objetivo de reunir todas as forças sociais e políticas que estivessem dispostas a organizar um amplo movimento nacional, para acumular forças até a derrota da ditadura. O PCB preconizava a entrada de todos aqueles que estivessem contra a ditadura no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ao mesmo tempo em que buscava acumular força nos movimentos operário e juvenil." "A vida demonstrou que a linha política desenvolvida pelo PCB no Congresso de 1967 fora vitoriosa, uma vez que foi exatamente o movimento democrático amplo que pôs fim aos 21 anos de ditadura militar no País". Diferentemente das guerrilhas maoístas, heroicos lutadores populares, mas leitores mecânicos da conjuntura da época.

É verdade que o partido teve grande influência direitosa nos anos 80, no entanto é importante lembrar da crise do movimento comunista internacional - que trouxe à tona o fenômeno político do liquidacionismo, como aconteceu na Europa Ocidental, em que os PCs se dissolviam ou se transformavam em partidos reformistas e liberais - que derrocaria na queda da experiência de construção do socialismo no Leste Europeu. Além disso, a emergência do fim da ditadura - que já havia matado boa parte da militância e do comitê central - trazia uma conjuntura e uma correlação de forças críticas ao Partidão.
No entanto, apesar de o PCB estar cumprindo, na época, papel de conciliador de classe, os verdadeiros revolucionários do Partido sempre estavam resistindo na luta interna no Partidão, embora quase sempre em minoria. Como exemplo, em seu 8º congresso, que defendia a estabilidade política , o governo Sarney e a democracia burguesa em ascensão - como detalhes das resoluções - os comunistas "conquistaram", numa batalha interna, críticas à lei de segurança nacional e do apoio do presidente Sarney ao bloco fisiológico chamado de centrão. O PCB visava retomar sua influência e a vitalidade dos movimentos sociais e sindical, embora tenha cometido o erro de não tenha apoiar a fundação da CUT , em seu início.

Quando FA diz que o Partido é eclético e retórico, entendo que esteja dizendo que negamos princípios - nas resoluções do XIV Congresso - básicos do socialismo, como a revolução, a luta de classes, ou a mudança histórica e revolucionária dos modos de produção.
Sim, seria verdade, se estivéssemos em 1991-1992, quando da crise de cisão do PCB, no entanto, o partido permaneceu existindo, ou seja, influenciando na luta de classes, está do lado do proletariado, e não tem nada a ver com o PPS, hoje aliado da direita fascista do PSDB-DEMO.

Ao chegar ao seu XIII congresso, em 2005, o PCB rompe com a estratégia democrático-popular, que já havia convertido-se em social-liberalismo, expresso no governo Lula, rompe também com a CUT, pois esta central sindical já cumpriu seu papel no movimento sindical, e é hoje um instrumento de conciliação de classe.
Também, como fruto de uma científica análise político-econômica de nosso país, rompemos com qualquer ilusão etapista, identificando o processo revolucionário brasileiro como socialista.

Após os grandes avanços do XIII congresso, ao chegar ao XIV em 2009, o PCB aprofunda sua leitura do Capitalismo Brasileiro como completo, isto é, maduro para o socialismo.
Rompemos com a superestrutura da UNE, subordinada ao governo, logo, do Capital, mas não paralelizamos burocraticamente o Movimento Estudantil, como fizeram alguns setores ao criar uma nova entidade. Propomos a reconstrução do ME na base.

Assim, demonstrando a incoerência de FA, que nos classifica no campo eleitoreiro, defendemos uma frente anticapitalista e antiimperialista, que não se confunda com uma coligação eleitoral, e que aglutine as lutas do proletariado, construindo efetivamente a hegemonia proletária e socialista, concretizando , de baixo para cima, o Bloco Revolucionário do Proletariado, construtor prático do poder popular.

É importante ressaltar as declarações de rompimento com as políticas eleitoreiras do PSOL, o que inviabilizou a frente de esquerda, que é só uma coligação eleitoral. O PCB, ao contrário do que afirma o autor, não pretende financiar a revolução com fundo eleitoral, isso seria ridículo. o PCB não tem, e nem busca ter, grande influência na institucionalidade burguesa, além de ser um partido mantido materialmente pelos próprios militantes, o que demonstra a provocação cotrarrevolucionária do autor.

Além disso, a não dissolução da INTERSINDICAL - instrumento de luta e organização da classe trabalhadora , na CONLUTAS, o que seria uma subordinação do movimento operário à institucionalidade burguesa - o que não inviabiliza a unidade de ação com tais setores, que querem construir, mesmo que apressados, um movimento sindical classista - demonstra nossa coerência.


O PCB, em suas teses, ao contrário do que diz o artigo, no que tange ao movimento comunista internacional, relaciona a propaganda antistalinista com a propaganda anti-urss, que , segundo as resoluções, são tidas como contrarrevolucionárias, ou incoerentes ideologicamente. Assim, defendemos criticamente, naquela conjuntura específica, pois somos materialistas histórico-dialéticos, a aplicação do modelo defendido por Stalin. Por entendermos que a concepção trotskista poderia acelerar o processo de Guerra mundial, encurtando a vida da URSS. É importante lembrar que não desmerecemos nenhum teórico marxista revolucionário, até mesmo discutimos certos conceitos de Trotsky, como o desenvolvimento desigual e combinado. No entanto, também apresentamos como acrítica, a visão ortodoxa, manualística , fundamentalista e dogmática do marxismo, algo presente no péssimo artigo de FA, nas antigas teses do PCB. Essa concepção ortodoxa do marxismo foi política institucional da URSS  e da Comintern durante décadas, o que foi um grande desserviço à cientificidade do materialismo dialético e histórico, como método de investigação da conjuntura material e cultural de uma sociedade. FA nega, omitindo nosso texto de maneira oportunista, nossa crítica ao revisionismo de Deng Xiao Ping e a nossa atribuição de diversos problemas chineses à abertura econômica capitalista.

O autor também considera nosso apoio crítico de 2006 à candidatura do PT como eleitoreiro, é importante lembrar que não participamos da chapa do PT em 2006 e não fomos "recompensados" por tal atitude, pois estávamos na frente de esquerda. Agimos assim, devido à nossa leitura conjuntural, muito bem expressa por ivan Pinehro em entrevista ao Pravda:"podemos dividir a América Latina em três grupos: um primeiro grupo é mais à esquerda, mais representativo dessas mudanças sociais, como é o caso de Cuba, que inspirou e possibilitou outros processos revolucionários.Temos aí também neste grupo os casos da Venezuela, Bolívia e, em menor medida, do Equador. Por outro lado, tem um grupo de países que nós chamamos de governos sociais liberais, especialmente no cone-sul do Brasil, e ai nós estamos falando de Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina. São experiências reformistas, mas dentro da lógica do capital. Esses governos não têm nenhum interesse em participar de uma articulação continental antiimperialista, como é o caso da ALBA. E, finalmente, na América Latina tem três países cujos governos são alinhados ao imperialismo americano: México, Peru e Colômbia."

O que é considerado coerente, não é o apoio a X ou Y, mas a independência política do partido, que nos permite realizar a leitura concreta da realidade concreta.



O Dogmatismo Anacrônico de Fausto Arruda

Após realizar as críticas, o autor pretende definir o verdadeiro caminho para a revolução.
Ora, se há um caminho verdadeiro, esse é o da construção dialética da luta e do movimento dos contrários, numa atividade de pôr-se-a-si-mesmo. Isto é, afirmar o caminho, que é a atividade que uma classe irá realizar em uma conjuntura objetiva, que, como diz Marx, é a síntese de muitas determinações, é fazer uma afirmação metafísica, dogmática e idealista.

Além do subtítulo dogmático, há uma tentativa fanática de introduzir a conjuntura chinesa à brasileira, substituindo nossa verdadeira estrutura de classes e superestrutura política.Ora, FA, Marx já nos disse: “os homens fazem sua história, mas não como querem e sim sob determinadas circunstâncias herdadas e transmitidas pelo passado”.  
E não passará de especulação metafísica essa sua avaliação ,em que são encontradas, como determinantes no modo de produção, características semifeudais na estrutura brasileira, erro que o PCB cometeu no passado, antes da ditadura civil-empresarial-militar.
Sim, pode ser que algumas relações sociais de produção no campo tenham características que remetam a algo parecido com o feudalismo, às vezes até escravistas, assim como uma relação social de produção fabril é despótica. No entanto, isso não caracteriza o modo de produção, que é essencialmente burguês, voltado para o lucro. Forma de produção não é o modo de produção.
Por isso, ao contrário do que o autor afirma, a burguesia nacional, que não se distingue mais da internacional, em parceria com o latifúndio, realiza um monopólio capitalista da terra, expresso no agronegócio. Isso prova que a reforma agrária, conceitualmente, já foi feita, mas nos moldes burgueses, isto é, não é mais uma tarefa democrática em atraso, mas uma luta que se choca diretamente com o Capital.

No entanto, afirmar que a burguesia nacional não se distingue da internacional não significa afirmar que o Brasil é imperiaista, mas um sócio-menor do imperialismo. Ao contrário do que o autor acusa o PCB de afirmar.

O dogmatismo metafísico e anacrônico de FA confunde conjunturas com leis universais, tenta, inclusive, defender o etapismo no Brasil. Pensando estar na China, em 1949, o autor defende a manutenção dos capitais nacionais, defendendo a união com a burguesia progressista nacional e fases democráticas a serem alcançadas.

FA comete erros teóricos que empobrecem sua análise e , lembrando-nos dos jovens hegelianos, tece uma crítica crítica, isto é, uma crítica pela crítica. Fanática, dogmática, religiosa, metafísica, idealista, sem ligação com a matéria. Binária, isto é, não dialética, inconsistente , típica de seitas sem ligação prático-material com a classe, o que o tira do campo da revolução e insere no campo do teoricismo ortodoxo.