segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Gell-Horny & Hemingway

Hemingway e Gellorn é um filme centrado na história de amor de Ernest Hemingway com Marta Gellhorn, jornalista e escritora representada por Nicole Kidman.  O filme, realizado para a TV, mistura documentário e ficção, tanto em termos de imagens históricas das guerras quanto na estética pela qual opta, com Nicole Kidman falando diretamente para o espectador: "Amor? Devemos?" O charme da frase, em inglês, entre tragadas de cigarro, é intraduzível, pois marca a fragmentária estética modernista que influenciou Gellhorn e Hemingway.
Embora com esse filme o desejo tenha sido tirar a história de Gellhorn da sombra de Hemingway, o filme foi totalmente dominado por sua figura e por imagens retiradas de sua ficção, como o grande plano geral do espadarte, que evidentemente representa Hemingway, pois quando ele morre, ao final, o espadarte reaparece num mar de sangue. Outras imagens surgem: ao separar-se de Hemingway, Pauline Pfeiffer comenta o episódio em que Hemingway mediu seu pênis com Fitzgerald, verificando que o de Fitzgerald era menor, episódio mencionado posteriormente em Paris é uma Festa (mas com outra leitura: Fitzgerald, ansioso, é quem teria mostrado o membro para exame de Hemingway).
A guerra joga um papel central nas vidas de Hemingway e Gellhorn. A imagem dos dois fazendo sexo selvagem em uma forte cena em meio a um bombardeio deixa bem claro que Hemingway é visto como mais que um homem: ele é um touro, uma força da natureza. Depois da Guerra da Espanha, onde os principais inimigos de Hemingway são os russos que interferem na Espanha e um crítico que questiona sua masculinidade excessiva e a supõe duvidosa (Max Eastman) nunca mais Hemingway e Gellhorn conseguem encontrar sua paz, ou melhor dizendo, uma guerra tão excitante. E eles tentaram: II Guerra Mundial, Finlândia e, finalmente, China. Na China os problemas se multiplicam e Hemingway tem uma crise de ciúmes quando Gellhorn fica encantada com Chu En Lai. Nessa altura, é o namoro de Gellhorn com o comunismo que os afasta. Depois disso, a vida de Gellhorn torna-se uma espécie de tourada sem um touro. O tom desse filme, com relação  a Hemingway, é azedo. Ele não aparece sob uma boa luz: é fanfarrão, vive bêbado e puxando brigas, termina por traí-la, busca jogar com o governo, tornando-se mais patriótico para evitar que o governo pensasse que ele estava ligado ao comunismo (critica ela). Gellhorn consegue ir bem além de ser mera nota de pé de página na vida de alguém, mas esse alguém praticamente domina, como um fantasma, praticamente toda sua obra. Hemingway e sua obra foram figuras dominantes na vida de Gellhorn e foram ainda marcantes, trinta anos depois da morte de Hemingway (apresentada no filme como complementar à morte de Gellhorn, através da imagem de um corvo).


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