quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Paródia de Zizek: a dança pervertida


O comediante Klemen Slakonja publicou uma paródia genial do filósofo Slajov Zizek no youtube no dia 18 de outubro passado.

A música e o clipe encenam tanto uma piada que Zizek disse, intitulada "Cortar o Saco" quanto outras de suas análises, como quando compara vegetarianos a macacos e analisa o Kung Fu Panda.  O comediante esloveno também imita seu sotaque e seus tiques nervosos. A piada que gerou a música é a seguinte: Zizek conta que, durante as invasões mongóis, um guerreiro mongol encontrou um casal camponês e disse: "irei estuprar sua mulher e você irá segurar meu saco para que ele não suje". Depois desse monstruoso estupro, o camponês ria e a mulher perguntou: "como você pode rir, fui estuprada monstruosamente". E o camponês disse: "Mas ele ficou com as bolas sujas".

Zizek diz que os dissidentes no Leste Europeu contavam essa piada para mostrar o que deveriam fazer: não somente ficar "enchendo o saco" dos governantes, mas sim cortar seu saco fora. Assim, "Cut the Balls" é o nome dessa hilária paródia, que eu não me canso de ver.

A letra está disponível num blog sobre filosofia na Costa Rica:




The Perverted Dance (Cut The Balls)
(K.Slakonja/K.Slakonja/M.Bezjak)


What's up with this music?!

I am a philosopher, I like to provoke,
we live in perverted times,
so let me tell you a perverted joke!

A famous, dirty, horrible joke,
taking place in 15th century Russia.
A farmer and his wife walk along a dusty country road.
A Mongol warrior on a horse stops and says
"I'm gonna rape your wife and you should hold my testicles,
while I rape your wife, so that they will not get dusty."
When he raped his wife, the Mongol warrior went away,
the farmer started to laugh and jump with joy, his wife said
"Hey, how can you be happy?! I was just brutally raped!
And he says: "But I got him. His balls are full of dust."

Well, in reality we only dirty with dust the balls of those in power.
And now comes the dirty conclusion - the point is to cut them off!

Now let me warn you - this isn't Macarena, not Chicken dance,
not Aserejé, not Gangnam style and so on and so on.

We stand no chance, there's no time for romance,
it's time to dance The Perverted Dance!

Cut the balls,
we need to cut the balls,
we need to cut the balls,
the balls of those in power!
We need to cut the balls
and our faces won't be sour!
Just cut the balls,
make them become Niagara falls.

Cut the balls,
we need to cut the balls,
we need to cut the balls,
the balls of those in power!
We need to cut the balls,
we can train with cauliflower!
Just cut the balls,
make them become Niagara falls.

Oh, my god, why am i doing this?! Singing, dancing?!
I feel like that disgusting guy from Canada, Justin Bieber...

So, the problem with capitalism is that it's in the crisis from its very beginning.
From somewhere, I would say, late 18th century, there are prophets who claim capitalism is nearing its end.
It's like that stupid bird Fenix, the more you, you know, it returns.
I got hungry, let's grab something to eat!
What?! No meat?! Only for vegeterians ?!
Degenerates, degenaretes, they'll all soon turn into monkeys.

I dont say let's do nothing,
I say sometimes doing nothing is the most violent thing to do.
So cut the balls, just cut the balls!
And racism is also a problem,
so be like Kung Fu Panda - be white, black, asian
and cut the balls, just cut the balls!
They call me The Borat of Philosophy,
The Marx Brother and The Elvis of cultural theory.
Cut the crap and cut the balls, just cut the balls!

Hey, I am Slavoj Žižek!
No, I am Slavoj Žižek!
No, I am Slavoj Žižek,
Fuck that, whatever, let's all be Slavoj Žižek!

Grab and pull the imaginary balls from the sky,
cut through the air and say bye, bye, bye.
Let's join together, let's fall in trance,
let's dance The Perverted Dance!

Cut the balls,
we need to cut the balls,
we need to cut the balls,
the balls of those in power!
We need to cut the balls.
and then take the bloody shower!
Just cut the balls,
make them become Niagara falls!

Cut the balls,
we need to cut the balls,
we need to cut the balls,
the balls of those in power!
We need to cut the balls,
let them face the final hour!
just cut the balls,
make them become Niagara falls!

Cut the balls,
we need to cut the balls,
we need to cut the balls,
the balls of those in power!
We need to cut the balls,
we need to cut the balls!
Just cut the balls,
make them become Niagara falls!

This stupid repetative mechanic music!
Stop it!

Thank you, thank you very much!

The problem is maybe not the big act "Cut the balls",
but you make small changes and all of a sudden, balls are no longer there.
Those in power look down and say "Oh, where are my balls?"
and suddenly their voices get higher and so on and so on.
I stand by my joke. The structure of the joke is that this so called progressive intelectual,
in order to score his small narcicistic point, oh, I dusted the balls,
totally ignores the suffering there and that's the whole point of the joke.
So cut the balls, we need to cut the balls!

Music: Klemen Slakonja
Lyrics: Klemen Slakonja
Arrangement: Martin Bezjak
Music production: Martin Bezjak



Screenwriter: Klemen Slakonja
Director: Nikolaj Vodošek
Editing: Mitja Mitruševski
Video production: Mediaspot
Makeup artist: Luka Luka Simšič
Costume designer: Mateja Benedetti

Starring: Klemen Slakonja as Slavoj Žižek, Tara Zupančič as farmer's wife, Goran Hrvaćanin as farmer, Mario Ćulibrk as the Mongol warrior on a horse, Kung Fu Panda, dancers, sea lion, monkeys



segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Tinhorão é mutilado por Caetano e Gil




O título dessa notinha é apenas uma ironia a respeito de como uma adaptação pode alterar o sentido de um texto ou frase.  A questão 106 do Caderno Rosa do ENEM fez uma curiosa adaptação de José Ramos Tinhorão, tanto que merece nota. Ela distorceu o pensamento do crítico a favor de Caetano e Gil. Observe o texto da questão:


Mesmo tendo a trajetória do movimento interrompida com a prisão de dois de seus líderes, o tropicalismo não deixou de cumprir seu papel de vanguarda na música popular brasileira. A partir da década de 70 do século passado, em lugar do produto musical de exportação de nível internacional prometido pelos baianos com a "retomada da linha evolutiva", instituiu-se nos meios de comunicação e na indústria do lazer uma nova era musical (J. R. Tinhorão. Pequena História da Música Popular da modinha ao tropicalismo. São Paulo: Art, 1986 (adaptado).


A seguir, veja como o gume do crítico foi amansado em favor de Caetano e Gil, evidente no texto original:



(...) o tropicalismo (...) não deixou de cumprir seu papel de vanguarda do governo de 1964 na área da música popular: rompidas as resistências da parte politicamente consciente da classe média universitária, que tentava a defesa de uma música de matrizes brasileiras, as guitarras do som universal puderam completar sua ocupação do mercado brasileiro. E assim, a partir da década de 70, em lugar do produto musical de exportação prometido pelos baianos com a ‘retomada da linha evolutiva’, instalou-se nos meios de comunicação e da indústria do lazer, definitivamente, a era do rock. O qual, aliás, muito tropicalisticamente, o espírito satisfeito dos colonizados passaria a chamar, a partir da década de 1980, de rock brasileiro (Tinhorão, 1986: 267).

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Lobão: um percurso patafísico de nosso tempo

O Manifesto do Nada na Terra do Nunca é o percurso patafísico de Lobão. Só com o conhecimento das verdades absurdas e ridículas pode-se explicar algo tão "psicodélico" e "esquizofrênico". Só a patafísica pode explicar um texto daqueles. Ele escreveu um ensaio cheio de pretensões acadêmicas. Lobão cita fontes, mas deixa subentendido que leu e acompanha as polêmicas da direita: o artigo de Walter Navarro em O Tempo, debochando do genocídio dos Guarani-Kaiowá (o que Lobão também faz); os ataques do "filósofo" Pondé ao cartunista Laerte, a quem chamou indiretamente, de "frouxo" e "traveco bolchevique". E, finalmente, a metafísica fascista de Olavo de Carvalho em seu Imbecil Coletivo.
 Em sua transmutação da esquerda festiva para o anarcocapitalismo, Lobão parece ter feito uma recuperação da fina flor do pensamento de direita, que ele mistura a delírios paranoicos a respeito de comunistas. Velhos tempos em que quem o perseguia eram as canções de Herbert Vianna!
 Assim, "o carola estatizado" de Olavo de Carvalho encontra um equivalente em seu "Imbecil Coletivo". Sobrenadam também, nessa geléia geral com cocaína, Nelson Rodrigues e Paulo Francis elevados a sacerdotes de ideologia. Outro elemento presente é a reescrita da história de um ponto de vista de extrema-direita fascista, ao estilo de Leandro Narloch.  Por fim, ele resolve criticar Oswald de Andrade, cobrando dele lógica, racionalidade, eficiência e ética do trabalho, como um bom colunista de Veja faria. Lobão acusa Oswald de Andrade ao mesmo tempo de nacionalismo ressentido e copiador de tudo que é estrangeiro. Preso por uso de drogas, ele cobra racionalidade da prosa brilhante de Oswald (que profetizou a contracultura) e pensa que isso é original, mas não cobra esse mesmo racionalismo de sua interpretação da história. Quando é que Fidel Castro condecorou John Lennon, como escreve Lobão? Oswald de Andrade provavelmente riria muito de um roqueiro que defende a mãe dos Gracos, Cornélia, mas que vive contando que a mulher o enganou, entrando à sua revelia na Lei Roaunet!
 As análises de Lobão submetem toda a história da humanidade a seu ego mimado. Para entender o próprio percurso de forma não-patafísica seriam necessários conceitos como indústria cultural e o capitalismo, conceitos que faltam totalmente a esse niilista que chafurda na decadência ideológica da burguesia e no irracionalismo. O objetivo de toda essa fúria lupina é apenas tentar reassumir um protagonismo na indústria cultural que, devido ao corpo que não serve mais de modelo de roupas, é impossível de ser resgatado.
 O grande tema que subjaz a seus livros é outro, não dito: a decadência deselegante e o apodrecimento ideológico de um popstar pretensamente intelectual do terceiro mundo. Lobão virou o nosso Bob Roberts, o roqueiro retrógrado do filme de Tim Robbins. 




                                                                                           Bob Roberts, o cantor de folk-rock reacionário

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um Espectro ronda Constantino e João Victor Gasparino: o "Marxismo Cultural"




A imagem acima explica, mais do que uma análise de suas tolices, o texto do estudante da UNIVALI, João Victor Gasparino, que recusou-se a escrever um trabalho universitário sobre Marx, vomitando, em uma carta, o velho xingatório ideológico e, a partir do terceiro parágrafo, os inevitáveis chavões da Guerra Fria. E ainda teve o apoio do colunista da Veja, Rodrigo Constantino, que publicou-no em seu blog no site da revista.

Há algum tempo Cristiano Alves publicou em seu site um texto sobre O que as vítimas do comunismo tinham em suas mentes e corpos. De fato, essa montagem acima é semelhante, é bem ilustrativa sociologicamente do pensamento de João Victorino e Rodrigo Constantino. Ela ilustra como a extrema-direita hoje vê a esquerda.  Em primeiro plano, como cães ameaçadores manipulados, por trás, por Marx-Satã-Maçom, estão os seus inimigos ferozes, os representantes dos movimentos de direitos civis: feministas, gays, intelectuais ateus, negros e defensores da legalização das drogas.

Em segundo plano estão os pequenos vampiros que inspiram as agressivas minorias: Stálin, Gramsci, Hitler, Leonardo Boff e Marta Suplicy. Uma cabeça de vampiro maior, sorridente e em destaque é a do ex-presidente Lula, figura detestada por essa extrema-direita.

Assim, a extrema-direita faz uma ligação que na vida real é um tanto quanto ilusória: os comunistas e os modernos movimentos de direitos civis. A verdadeira inspiração desses movimentos são as classes médias da Europa e dos Estados Unidos, ou seja, dos países avançados. Como o Brasil é um país que vai atrás, colonial e dependente, não há como a nossa classe média não sofrer essa influência e não abrir algum espaço de mídia para esses movimentos.

Igualmente, essa extrema-direita não pode esclarecer que o PT, Lula e Boff estão à direita hoje em dia. Lula e Marta estão com o PT, Boff com Marina, etc. Dizer isso seria danoso para essa extrema-direita, pois sua posição ficaria evidente. Seu maior truque é o disfarce de, a partir de um meio de comunicação supostamente neutro, assumir-se como narrativa "natural", voz "da verdade", das massas, do cidadão comum.

O PT no poder irrita profundamente essa extrema-direita, que não pode, sem prejuízo para ela mesma, dizer a verdade sobre seus adversários. Outro fator é que a crise acentuou suas dificuldades. Ela, que, baseada em Von Mises, Hayek e outros ideólogos anarco-capitalistas, alega não querer depender do estado, passa a precisar justamente de apoio do estado para fechar suas contas. Com a maior parte da burguesia apoiando PT e PMDB, ela não tem ilusão de poder ganhar eleições com seus representantes.

Essa mídia de direita está desesperada, pois está e estará mais e mais no colo do odiado PT. Em breve terá que adotar uma linha mais mansa, tirando alguns cães raivosos como aconteceu com Diogo Mainardi, que, depois de um tempo na Europa, possivelmente para evitar ser preso, depois de ter tido o nome citado na operação Satyagraha (Mainardi supostamente plantava notícias para o banqueiro Daniel Dantas), retornou
como escritor ao estilo de Marcelo Rubens Paiva e Cristovão Tezza, fazendo um "testemunho" biográfico. Seus representantes, assim como os da Folha, são obrigados a me ligar pedindo para que eu assine essa porcaria, insistentemente, loucamente. Eu sempre os aborreço propondo assinatura em troca da cabeça ora de Reinaldo Azevedo, ora de Pondé. Agora vou pedir a de Constantino.

A frase que está ao centro da imagem é um pensamento de Paulo Francis, cronista cultural que serve a essa extrema-direita de ideólogo (articulou essa imagem e esse pensamento em seus últimos anos de vida). Ex-esquerdista, a frase simplesmente propõe que o Brasil vive o domínio da loucura, que é governado por loucos, pessoas fora da razão. Isso justifica que se utilize, então, do irracionalismo para combatê-los. Como dialogar com loucos, senão participando da loucura? O uso de Francis é uma busca de uma tradição nobre, uma busca de credibilidade bastante notável na frase em latim que "assina" a imagem e dá a ideia de que ela é de autoria de vários autores, uma possível organização que quer se manter anônima (porque obviamente sabe que precisa se utilizar de mentiras e teme responsabilização judicial).

A direita absorve com dificuldade a ideia de que existe uma outra esquerda que não o PT. Paranoicamente, associa todas as vertentes da esquerda numa só grande conspiração e a atribui, no seu modo de pensar primário, às ações do diabo. Paulo Francis e eles, invisíveis em sua representação, estariam ocultos, são o ponto de vista de quem vê essa cena infernal e, supostamente, estão com Deus e devem ser anjos falando em latim. O diabo usa símbolos maçônicos e comunistas, além de bandeiras de partidos e organizações de esquerda, independente se oposicionista ou não (até mesmo o PSOL entrou). Na Europa de meados do século passado, o diabo era sempre um judeu de nariz grande ou um intelectual com um ar idiota, ou seja, um ser manipulado pelo diabo.

A carta de João Victorino não está escrita em estilo acadêmico, embora se arrogue a argumentar nesse sentido. Não tem fontes, nem referências bibliográficas, não faz citações. E ele faz uma citação falsa, inventada, de um Decálogo atribuído a Lênin. Ele leva ao professor uma das piores pragas da internet, o texto de autoria falsa, como fazem com Shakespeare, atribuindo-lhe textos de Veronica Shoffstall, etc.

O rapaz não sabe ABNT, ignora as normas técnicas. O professor deveria ter lhe dado zero. Ele demonstrou preguiça e desejo de confrontar não só o professor, mas própria a universidade (ele, como aluno, matriculou-se numa disciplina que já tinha uma determinada ementa). Foi ele próprio quem optou por estudar Marx ao matricular-se nessa disciplina. Não foi imposição do estado e nem doutrinação ideológica esquerdista.

 E sim, magister dixit, sou eu, Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, mestre em Estudos Literários pela UFMG, quem afirma isso: o aluno deveria, para poder obter nota, ter apresentado de forma honesta o pensamento de Marx. Poderia, em seguida, combatê-lo, desde que citasse Olavo de Carvalho, que parece ser a sua única fonte. Ele é desonesto mesmo em relação a Olavo. Mesmo assim, deve ser citado, acaso utilizado. Esse argumento de que "eu estive no Cambodja" não vale em trabalhos acadêmicos. A partir do terceiro parágrafo, ele já começa a falar nas experiências socialistas, não em Marx. Ora..."odeia Marx e tudo o que ele representa". Bom, Fernando Henrique e o ex-colunista da Veja José Arthur Gianotti também estudaram Marx e têm prestígio e autoridade associados a ele (outro dia o professor Bertone Sousa incensou Gianotti como autoridade sobre Marx em uma postagem). Eles são tucanos. Então João Victorino odeia os tucanos e colunistas da Veja, assim como tudo o que representam?