segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um Espectro ronda Constantino e João Victor Gasparino: o "Marxismo Cultural"




A imagem acima explica, mais do que uma análise de suas tolices, o texto do estudante da UNIVALI, João Victor Gasparino, que recusou-se a escrever um trabalho universitário sobre Marx, vomitando, em uma carta, o velho xingatório ideológico e, a partir do terceiro parágrafo, os inevitáveis chavões da Guerra Fria. E ainda teve o apoio do colunista da Veja, Rodrigo Constantino, que publicou-no em seu blog no site da revista.

Há algum tempo Cristiano Alves publicou em seu site um texto sobre O que as vítimas do comunismo tinham em suas mentes e corpos. De fato, essa montagem acima é semelhante, é bem ilustrativa sociologicamente do pensamento de João Victorino e Rodrigo Constantino. Ela ilustra como a extrema-direita hoje vê a esquerda.  Em primeiro plano, como cães ameaçadores manipulados, por trás, por Marx-Satã-Maçom, estão os seus inimigos ferozes, os representantes dos movimentos de direitos civis: feministas, gays, intelectuais ateus, negros e defensores da legalização das drogas.

Em segundo plano estão os pequenos vampiros que inspiram as agressivas minorias: Stálin, Gramsci, Hitler, Leonardo Boff e Marta Suplicy. Uma cabeça de vampiro maior, sorridente e em destaque é a do ex-presidente Lula, figura detestada por essa extrema-direita.

Assim, a extrema-direita faz uma ligação que na vida real é um tanto quanto ilusória: os comunistas e os modernos movimentos de direitos civis. A verdadeira inspiração desses movimentos são as classes médias da Europa e dos Estados Unidos, ou seja, dos países avançados. Como o Brasil é um país que vai atrás, colonial e dependente, não há como a nossa classe média não sofrer essa influência e não abrir algum espaço de mídia para esses movimentos.

Igualmente, essa extrema-direita não pode esclarecer que o PT, Lula e Boff estão à direita hoje em dia. Lula e Marta estão com o PT, Boff com Marina, etc. Dizer isso seria danoso para essa extrema-direita, pois sua posição ficaria evidente. Seu maior truque é o disfarce de, a partir de um meio de comunicação supostamente neutro, assumir-se como narrativa "natural", voz "da verdade", das massas, do cidadão comum.

O PT no poder irrita profundamente essa extrema-direita, que não pode, sem prejuízo para ela mesma, dizer a verdade sobre seus adversários. Outro fator é que a crise acentuou suas dificuldades. Ela, que, baseada em Von Mises, Hayek e outros ideólogos anarco-capitalistas, alega não querer depender do estado, passa a precisar justamente de apoio do estado para fechar suas contas. Com a maior parte da burguesia apoiando PT e PMDB, ela não tem ilusão de poder ganhar eleições com seus representantes.

Essa mídia de direita está desesperada, pois está e estará mais e mais no colo do odiado PT. Em breve terá que adotar uma linha mais mansa, tirando alguns cães raivosos como aconteceu com Diogo Mainardi, que, depois de um tempo na Europa, possivelmente para evitar ser preso, depois de ter tido o nome citado na operação Satyagraha (Mainardi supostamente plantava notícias para o banqueiro Daniel Dantas), retornou
como escritor ao estilo de Marcelo Rubens Paiva e Cristovão Tezza, fazendo um "testemunho" biográfico. Seus representantes, assim como os da Folha, são obrigados a me ligar pedindo para que eu assine essa porcaria, insistentemente, loucamente. Eu sempre os aborreço propondo assinatura em troca da cabeça ora de Reinaldo Azevedo, ora de Pondé. Agora vou pedir a de Constantino.

A frase que está ao centro da imagem é um pensamento de Paulo Francis, cronista cultural que serve a essa extrema-direita de ideólogo (articulou essa imagem e esse pensamento em seus últimos anos de vida). Ex-esquerdista, a frase simplesmente propõe que o Brasil vive o domínio da loucura, que é governado por loucos, pessoas fora da razão. Isso justifica que se utilize, então, do irracionalismo para combatê-los. Como dialogar com loucos, senão participando da loucura? O uso de Francis é uma busca de uma tradição nobre, uma busca de credibilidade bastante notável na frase em latim que "assina" a imagem e dá a ideia de que ela é de autoria de vários autores, uma possível organização que quer se manter anônima (porque obviamente sabe que precisa se utilizar de mentiras e teme responsabilização judicial).

A direita absorve com dificuldade a ideia de que existe uma outra esquerda que não o PT. Paranoicamente, associa todas as vertentes da esquerda numa só grande conspiração e a atribui, no seu modo de pensar primário, às ações do diabo. Paulo Francis e eles, invisíveis em sua representação, estariam ocultos, são o ponto de vista de quem vê essa cena infernal e, supostamente, estão com Deus e devem ser anjos falando em latim. O diabo usa símbolos maçônicos e comunistas, além de bandeiras de partidos e organizações de esquerda, independente se oposicionista ou não (até mesmo o PSOL entrou). Na Europa de meados do século passado, o diabo era sempre um judeu de nariz grande ou um intelectual com um ar idiota, ou seja, um ser manipulado pelo diabo.

A carta de João Victorino não está escrita em estilo acadêmico, embora se arrogue a argumentar nesse sentido. Não tem fontes, nem referências bibliográficas, não faz citações. E ele faz uma citação falsa, inventada, de um Decálogo atribuído a Lênin. Ele leva ao professor uma das piores pragas da internet, o texto de autoria falsa, como fazem com Shakespeare, atribuindo-lhe textos de Veronica Shoffstall, etc.

O rapaz não sabe ABNT, ignora as normas técnicas. O professor deveria ter lhe dado zero. Ele demonstrou preguiça e desejo de confrontar não só o professor, mas própria a universidade (ele, como aluno, matriculou-se numa disciplina que já tinha uma determinada ementa). Foi ele próprio quem optou por estudar Marx ao matricular-se nessa disciplina. Não foi imposição do estado e nem doutrinação ideológica esquerdista.

 E sim, magister dixit, sou eu, Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, mestre em Estudos Literários pela UFMG, quem afirma isso: o aluno deveria, para poder obter nota, ter apresentado de forma honesta o pensamento de Marx. Poderia, em seguida, combatê-lo, desde que citasse Olavo de Carvalho, que parece ser a sua única fonte. Ele é desonesto mesmo em relação a Olavo. Mesmo assim, deve ser citado, acaso utilizado. Esse argumento de que "eu estive no Cambodja" não vale em trabalhos acadêmicos. A partir do terceiro parágrafo, ele já começa a falar nas experiências socialistas, não em Marx. Ora..."odeia Marx e tudo o que ele representa". Bom, Fernando Henrique e o ex-colunista da Veja José Arthur Gianotti também estudaram Marx e têm prestígio e autoridade associados a ele (outro dia o professor Bertone Sousa incensou Gianotti como autoridade sobre Marx em uma postagem). Eles são tucanos. Então João Victorino odeia os tucanos e colunistas da Veja, assim como tudo o que representam?








3 comentários:

PCelestial disse...

A luta do socialismo celestial será das mais árduas. Alunos como este estão em todos os estratos e segmentos da sociedade. E o pior é que não se consegue mudar a visão deles.

Revistacidadesol disse...

Oi, Gerson.

A questão é que a própria universidade, sob pena de decadência, vai ter que reagir de forma didática contra esse tipo de agressão. O que é alvissareiro para nós é que, tombando a Veja no irracionalismo, as universidades terão que procurar em outros lugares os textos para usar nas avaliações. Abs do Lúcio Jr.

Anônimo disse...

Mas não se tratam de "espectros". A coisa é real. Ao contrário do que vocês dizem, não são "alunos como este" que estão em todos os estratos e segmentos, são os socialistas. Esses sim, estão infiltrados em tudo, achando que Marx e sua "luta" são uma maravilha, um "céu". Só se for da boca do leão.