A manifestação do dia 1 de abril no Rio contra a ditadura militar está sendo acompanhada de uma polêmica interna na esquerda. O PSTU, com apoio do PSOL e do PCB, está em conflito com o MEPR, os anarquistas (ditos black blocks, porque fizeram um "bloco histórico" nada gramsciano entre umas onze organizações anarquistas), ou seja, está havendo um atrito entre os partidos legalizados e a frente dos movimentos não-eleitorais.
O elemento novo é a alegada violência da polêmica, que teria supostamente extrapolado o verbal. Há algum tempo os trotsquistas do PSTU são acusados por gente dos movimentos sociais de hegemonistas, ou seja, disputam sempre a direção, tomam frente dos movimentos a qualquer custo, mesmo que causando tumulto e constrangimentos e, por vezes, agressões. Já vi denúncias contra o PSTU, nesse sentido, na comunidade orkut do PCB e no grupo de Ciências Sociais da USP no facebook.
Agora, é o PSTU quem se disse agredido, publicamente, numa nota:
SEDE
DO PSTU-RJ É ATACADA | Nesse dia 1 de abril, logo após o ato contra o
golpe de 1964, uma série de provocadores se infiltrou nas fileiras do
PSTU e seguiu seus militantes até a sede do partido. Lá, lançaram todo
tipo de ameaça e provocação. "Desce daí PSTU" e "Cyro Garcia, nós vamos
te quebrar", foram algumas das ameaças realizadas pelos provocadores.
Mesmo os militantes do partido não cedendo
às provocações, típicas de infiltrados da polícia, os provocadores
invadiram parte da sede, quebrando vidraças do imóvel. Após a chegada de
mais militantes e ativistas, o grupo de provocadores se dispersou. Nas
imagens, o grupo de invasores se concentrando em frente à sede do
partido e a destruição deixada pelos provocadores. Em breve, mais
informações sobre esse fato grave e lamentável.
Como se lê, o PSTU acusou o MEPR e os anarquistas de terem atacado sua sede no Rio. Em
resposta, o MEPR alegou que o PSTU precisa explicar a agressão a dois militantes anarquistas, problema em função do qual teria surgido a questão em sua sede, pois outros anarquistas teriam ido até lá para tirar satisfações. Segundo o PSTU, a atitude teria terminado em ataques à sua sede. Segundo o MEPR, o conflito existiu, mas os danos teriam sido criados pelo próprio PSTU, que há muito provoca os anarquistas. E pediu ao PSTU que provasse suas acusações.
O PCB, que tem uma entidade ligada a ele funcionando no mesmo prédio (UJC) no mesmo prédio, parece solidário com o PSTU, assim como o PSOL. A nota da executiva do PSOL foi a seguinte:
A companheira Ana Cristina leu a nota da executiva do PSOL:
"lamentamos profundamente que no dia 1o de abril, quando
descomemorávamos o golpe militar, tenha acontecido um ataque com métodos
fascistas ao Pstu Rio."
Daciolo demonstrou o seu apoio ao
partido: "Conheço o PSTU há 3 anos e tenho uma admiração muito grande
por vocês. Quando o Cyro me ligou ontem à noite imediatamente me
prontifiquei a ajudar. Estou junto com vocês."
O dirigente do PCB Eduardo Serra relembrou a perseguição
ao seu partido promovida pela ditadura militar e deixou o seu apoio: "o
PSTU incomoda a burguesia porque é um partido que vai pra rua, vai pro
enfrentamento, organiza os trabalhadores. Consideramos a agressão à sede
do PSTU uma agressão ao PCB."
Cyro Garcia, presidente estadual do Pstu, fez um relato sobre o ataque à
sede do partido e leu a nota oficial do partido: "O que aconteceu ontem
não faz parte do método operário, esse é o método do stalinismo. Uma
coisa é a divergência política, outra coisa é o que ocorreu conosco
ontem."
Celio e Bruno, lideranças da greve dos garis do Rio,
falaram de sua experiência de luta: "foi de grande experiência para a
nossa luta o apoio dos movimentos sociais e de pessoas como o Cyro do
PSTU e os companheiros do PSOL, que estavam ali solidários à nossa
causa". Os garis fizeram denúncia da repressão: "hoje temos um governo
do PT que permite que a PM bata em trabalhador. Vivemos em uma
democracia que por trás dela tem uma ditadura."
Aderson
Bussinger, advogado e membro comissão de DH da OAB, disse que a Ordem
deve lançar nota condenando o ataque à Sede do PSTU. Aderson esteve na
ocupação militar do complexo da Maré e denunciou a repressão aos
moradores.
Na fotomontagem, em sentido horário: bombeiro Daciolo;
Eduardo Serra (PCB); visão geral da mesa com Aderson Bussinger
(vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, os companheiros
garis Bruno e Celio, Américo Gomes (membro do Conselho Consultivo da
Comissão da Verdade da ALESP), Florinda Lombardi, Cyro Garcia, entre
outros comps; Ana Cristina Carvalhaes, do PSoL.
Fotos: DB. — com Cyro Garcia em Sindipetro-RJ
Um integrante do PSTU atribuiu os ataques ao stalinismo (para variar). Oxalá isso signifique parte do processo, já observado aqui como premente, de superação da hegemonia do trotsquismo na esquerda brasileira. Patrick Granja, repórter do jornal A Nova Democracia e preso injustamente ao cobrir a manifestação, sem que nenhum dos partidos acima tenha soltado uma nota em solidariedade, escreveu o seguinte:
ESCLARECIMENTO SOBRE O ATAQUE À SEDE DO PSTU-RIO
Ontem,
eu e Bruno Matiazzo estávamos passando pela Lapa de taxi indo em
direção ao estacionamento do Ibmec, onde nosso carro estava estacionado,
quando nos deparamos com um furdunço em frente à sede do PSTU-Rio.
Prontamente, eu pedi para o Bruno descer do carro e apurar o que estava
acontecendo e segui em direção ao estacionamento. Quando vi que havia
outros midiativistas (Thiago Dezan da Mídia NINJA, André Miguéis, da
Mídia Independente Coletiva - MIC, Daniel Cruz, do Coletivo Mariachi) no
local, achei que pudesse ser uma coisa séria.
Quando
voltei, rapidamente desci do carro e pedi para que o Bruno e todos os
outros midiativistas embarcassem, pois alguns movimentos estavam fazendo
uma projeção de dentro da faculdade de direito da UFRJ no prédio do
Ministério da Defesa e eu havia prometido lhes dar cobertura. Nem
entramos muito no mérito do que estava acontecendo, mas todos nós
havíamos acabado de voltar do IFCS, onde um grupo de anarquistas dizia
ter sido agredido por militantes do PSTU durante o ato em repúdio ao
golpe de 1964. Eles chegaram a convidar militantes do Movimento
Estudantil Popular Revolucionário - MEPR para ir à sede do PSTU tirar
satsifação, mas a unidade do MEPR não concordou com a ação.
Todos nós temos material filmado comprovando que:
1 - O MEPR não participou da ação,
2 - Não havia sequer um grupo de linha maoísta entre os agressores,
3
- Nossa equipe estava alí - e nas imagens o Bruno repete isso o tempo
todo - para saber o que estava acontecendo e para garantir o direito à
verdade dos fatos. Inclusive, em um momento, o Daniel Cruz quase foi
atingido por uma pedra,
4
- Os vidros de uma sala da sede foram quebrados e uma madeira que
protegia o portão de entrada foi arrancada. No entanto, os manifestantes
não conseguiram acessar o local onde estavam os integrantes do PSTU, o
que leva a crer que as imagens do interior da sede aos pedaços postadas
na página do partido foram forjadas por eles mesmos.
Se
um integrante da FIP faz uma besteira, é uma irresponsabilidade dele,
não da Frente Independente Popular - RJ como um todo. Além disso, ontem
recebi uma ligação da deputada Janira Rocha dizendo que estavam
envolvendo meu nome nessa história, só por conta dos segundos em que saí
do carro para chamar o Bruno. Fomos ali cordialmente (nas gravações o
Bruno esbanja educação e deixa claro que está ali para garantir a
segurança de todos) e agora vemos toda essa desinformação promovida pelo
PSTU.
A
minha posição pessoal é a seguinte. Que esse partido não conte comigo
para nada. Afinal de contas, em meus 12 anos de militância, já ví
inúmeras demonstrações do mais barato dos oportunismos por parte dessa
gente que se diz "esquerda" e organização "dos trabalhadores". Essa é só
mais uma. Envolver EM UM BOLETIM DE OCORRÊNCIA NA DELEGACIA E EM UMA
NOTA PÚBLICA o nome de um coletivo combativo e de pessoas que nada
tiveram a ver com o ocorrido é uma irresponsabilidade típica de quem não
tem projeto político, base política, nada. Eu que subo e desço favela
todo dia, sei bem disso.
Não
defendo a razão de quem agiu para quebrar a sede do PSTU, mas admito
que, desde sempre, mas em especial depois de junho do ano passado, o
PSTU vem tomando posições complicadas que têm os colocado do lado oposto
à luta das massas e, assim, "Uma faísca pode incendiar toda a
pradaria", como diz o provérbio chinês. E a tendência é piorar, visto
que daqui uns meses, todos os seus militantes estarão nas ruas
misturados às inúmeras legendas fazendo campanha para ter um espaço no
Estado burguês.
Avisamos
que caso essas informações não sejam removidas ou corrigidas na página
do PSTU, publicaremos um vídeo desmascarando toda essa farsa veiculada
pela internet. Só não o fizemos ainda porque, convenhamos, temos mais o
que fazer.Eleição é farsa, não muda nada não.
O povo organizado vai fazer revolução!