Esse documento, traduzido do russo por Erick Fischuk e até então inédito, tem a grande vantagem de desmistificar o livro Camaradas, de William Waack, o pretensioso e arrogante âncora da Globo. Sim, a acusação de Waack de que Prestes e seus camaradas fizeram o levante de 35 sob ordem de Moscou é um equívoco.
9.VI.33 TEXTO FINAL CONFIDENCIAL.
CARTA DO
SECRETARIADO DA I.C. PARA A AMÉRICA DO SUL
E CENTRAL AO C.C.
DO P.C. DO BRASIL
[Manuscrito:]
Kommentarien zur Resol. der Pol. Komm. am 27. IV.
1933 г.
I.
1 ‒ A situação
semicolonial do Brasil, seu papel de apêndice agroprimário dos países
capitalistas desenvolvidos e o predomínio dos resquícios feudais e escravistas
em sua organização socioeconômica determinaram a profundidade e a amplitude consideráveis
da crise econômica que assola o país. Justamente esses fatores fizeram também
com que o nível de vida das massas trabalhadoras caísse assustadoramente,
chegando abaixo do necessário à sobrevivência, no que concerne a amplas camadas
da classe operária e do campesinato. Ao mesmo tempo, é exatamente a situação
semicolonial do Brasil e a competição anglo-americana pelo “direito” de
monopolizar sua exploração que conduzem, no seio das classes dominantes, às
mais agudas formas de lutas grupais, incluindo a guerra e a sublevação. A
supressão da revolta de 1932 em São Paulo de forma alguma indica que
arrefeceram as contradições entre o bloco burguês-latifundiário paulista e a
camarilha governante de Vargas, ao mesmo tempo em que tem se agravado as
contradições dentro da própria camarilha de Vargas, portadoras da perspectiva
de novos conflitos e golpes.
Para incrementar
o movimento revolucionário e para que ele atraia com ímpeto as mais amplas
massas e as faça destruir o domínio burguês-latifundiário nas diversas regiões
do Brasil, têm surgido condições
objetivas cada vez mais favoráveis.
2 ‒ Além disso,
justamente o atraso semicolonial do Brasil – seu débil desenvolvimento
industrial, o baixo nível material e cultural da classe operária e um movimento
operário sem tradições marxistas e com fortíssimas influências
pequeno-burguesas, particularmente anarcossindicalistas ‒ determinou a
extraordinária fraqueza do PC e seu atraso em relação às possibilidades
revolucionárias objetivas surgidas no cenário de crise e de fim da
estabilização capitalista. Apesar de alguns êxitos do Partido Comunista do
Brasil em diversos campos de atuação, ele não soube superar no essencial as
tradições pequeno-burguesas predominantes no movimento operário brasileiro. De
fato, as diretivas da carta de 1930 ao PCB, bem como toda uma série de
instruções e cartas do Bureau Sul-Americano do CEIC, não saíram do papel, não foram
levadas às bases nem basearam qualquer reestruturação do trabalho partidário.
Na verdade, o Partido ainda não superou os longos anos que caracterizaram sua
formação inicial: por sua informidade ideológica e porosidade organizacional, por
sua infestação por elementos de classes estranhas, pela fraqueza de seus
quadros dirigentes, pela extrema insuficiência de suas ligações com as amplas
camadas de trabalhadores urbanos e rurais, pela incompletude ou mesmo ausência
de toda uma gama de setores importantíssimos de atuação partidária ‒ por tudo
isso o PCB, no atual momento, não está em condições de aproveitar plenamente as
possibilidades revolucionárias objetivas excepcionalmente favoráveis, nem de comandar
as massas trabalhadoras, principalmente o proletariado, sequer no curso de suas
lutas mais iminentes ou já desencadeadas contra a ofensiva do capital, a reação
política e o perigo da guerra, sem já falar na luta pelos objetivos
fundamentais da revolução antifeudal e anti-imperialista. Na maioria dos casos
o Partido tem permanecido à margem da luta econômica e política de massas, não
a desencadeando nem a liderando, e ainda não tem atuado na arena da luta de
classes do Brasil como um protagonista ativo que organize, comande e guie as
massas. Por isso, a luta das massas trabalhadoras cada vez mais radicais tem
ocorrido principalmente na forma de ações espontâneas e desorganizadas que, no
mais das vezes, terminam derrotadas. Uma parte significativa da classe operária,
bem como do campesinato, tem caído sob a influência de um ou outro de nossos
adversários ‒ socialistas, anarcossindicalistas, ex-prestistas e outros ‒ que escondem
sua essência contrarrevolucionária com manobras “de esquerda” mais ou menos
avançadas. Somente o fortalecimento do PCB e sua transformação num verdadeiro
Partido bolchevique, intimamente ligado às massas e que organize e lidere suas
lutas econômicas e políticas, podem garantir êxito no aproveitamento das
possibilidades objetivas favoráveis à vitória da revolução.
3 ‒ A situação
política geral do PCB se caracteriza atualmente pelos seguintes traços: o
Partido ainda está longe de ser um verdadeiro Partido bolchevique, de assimilar
a teoria marxista-leninista e nela basear sua prática política, de alcançar a
independência ideológica em relação às classes dominantes e de desligar-se com suficiente
clareza das teorias das classes estranhas e inimigas. Algumas camadas do
Partido ainda não se livraram do peso das ideias anarcossindicalistas,
prestistas, trotskistas e outras, que se apresentam ora num formato direitista
abertamente oportunista, ora encobertas por um palavreado “de esquerda”. Por
conta da crise do movimento revolucionário pequeno-burguês no Brasil, o Partido
Comunista constituiu, até recentemente, um centro de atração de diversos
elementos pequeno-burgueses que frequentemente conservavam ligações diretas com
as camarilhas burguesas-latifundiárias dominantes e traziam para as fileiras comunistas
influências de classes estranhas, as quais engendraram uma série de distorções na
linha partidária prática.
Os desvios de direita mais perigosos se manifestam,
sobretudo: na “teoria” segundo a qual o proletariado deve renunciar à luta pela
hegemonia da revolução democrático-burguesa e ceder o papel dirigente da
revolução à burguesia e à pequena burguesia (“teoria” de Astrojildo, Brandão e outros);
nos esforços para impedir que o Partido atue como força independente na atual
luta política (a palavra de ordem “primeiro se organizar, e depois lutar” de Cazini,
e sua proposta e de outros de que A
Classe Operária se abstivesse de publicar artigos políticos, limitando-se
apenas à correspondência operária etc.); nos esforços para limitar as tarefas
do movimento sindical revolucionário à mera luta econômica; no tratamento da FJC
como uma “organização de frente única que deve congregar os jovens trabalhadores
de todas as orientações políticas”; nas atitudes conciliatórias e
capitulacionistas perante estes ou aqueles agrupamentos burgueses-latifundiários
(a “teoria do mal menor” com relação a Miguel Costa em São Paulo, com relação
aos tenentistas e mesmo a Vargas no Rio, no período da “guerra civil”) etc.
Todas essas “teorias”, que têm seu fundamento lógico na ideia completamente oportunista
de Astrojildo e outros sobre a “revolução proletária que amadurece à sombra da
revolução pequeno-burguesa”, estão muito estreitamente ligadas à prática
oportunista dos “compromissos” e “conciliações” com diversas correntes “de
esquerda” do campo burguês-latifundiário contrarrevolucionário – trotskistas,
ex-prestistas que agora se tornaram um sustentáculo do domínio burguês-latifundiário
etc.
Os desvios de esquerda se manifestam: na
superestimação do grau de amadurecimento da situação revolucionária (a palavra
de ordem da criação de sovietes camponeses em São Paulo); na recusa em aplicar
a tática da frente única pela base e em lutar por reivindicações parciais; na
escamoteação da importância de se unir ao campesinato; na subestimação da
questão nacional; nas tendências sectárias e golpistas; na passividade e no “neutralismo”
semianarquistas nos momentos de aguçamento da luta entre as camarilhas burguesas-latifundiárias
pelo poder; na subestimação da importância dos recursos legais (a palavra de
ordem do “boicote à Constituinte”)
etc. Todas essas atitudes esquerdistas, reflexos da influência pequeno-burguesa
sobre o Partido Comunista, na verdade escondem a passividade oportunista no
tocante ao trabalho persistente e sistemático de mobilização e organização das
amplas massas trabalhadoras urbanas e rurais sob a bandeira do PCB.
II.
1
‒ A DEBILIDADE DOS QUADROS DIRIGENTES DO
PARTIDO. Esses quadros dirigentes se compõem, em grande parte, de elementos
não proletários ou há muito tempo inativos, que ainda não assimilaram os
fundamentos da teoria marxista-leninista ou se encontram até mesmo, em maior ou
menor grau, sob a influência de ideologias estranhas, muitos deles sendo
contaminados pelo espírito do sectarismo e da politicagem e uns tantos até
mesmo ligados direta ou indiretamente a diversos agrupamentos oposicionistas e renegados
ou a aventureiros e demagogos “de esquerda” do campo das classes dominantes, tais
como Miguel Costa. Apenas há pouquíssimo tempo tem começado a cristalizar-se um
grupo dirigente que, embora ainda não tenha se livrado da hesitação e da
vacilação numa série de questões políticas, mesmo assim tem se esforçado sinceramente
em executar uma linha política bolchevique e, portanto, pode futuramente, com a
condição de uma autocrítica decidida e com base numa reestruturação radical de
todo o trabalho partidário, tornar-se o núcleo sólido e sadio de um PC do
Brasil bolchevique.
As
tarefas no sentido de fortalecer e sanear os quadros dirigentes só podem ser
cumpridas com êxito na base da participação do Partido como força dirigente nas
lutas econômicas e políticas de massas, forjando e verificando os quadros não
somente no curso das discussões intrapartidárias, mas também, e acima de tudo,
das lutas de massas. As tarefas mais urgentes do Partido nesse campo são:
a)
orientar-se decididamente rumo à proletarização dos quadros dirigentes, com a
condição de manter a melhor parcela da velha liderança e sem empregar métodos
mecânicos ou fictícios no processo, entre eles o de aproveitar, nos comitês,
“operários” já há muito inativos; além disso, deve-se prestar especial atenção
ao aproveitamento e à promoção de camaradas que tenham se mostrado bons
dirigentes de massas no curso das lutas econômicas e políticas do proletariado;
b)
organizar um estudo marxista-leninista sistemático para os quadros ativos (realizar
cursos de curta duração para os ativos, publicar literatura marxista-leninista
em língua portuguesa, enviar uma série de ativistas para as escolas de formação
dos Partidos Comunistas irmãos – especialmente o argentino[1]
‒ etc.);
c)
afastar decididamente dos postos dirigentes todos os membros que estejam
realizando um trabalho sectário e excluir do Partido todos os indivíduos
ligados a correntes políticas estranhas e inimigas; além disso, é indispensável
conseguir esclarecer todos os membros do Partido, de modo sistemático e
profundo, sobre a essência antipartidária e contrarrevolucionária desses elementos,
evitando ao máximo afastá-los mecanicamente sem desmascará-los com justeza aos
olhos dos membros do Partido, como ocorreu, por exemplo, no caso de Astrojildo.
2 ‒ A POROSIDADE E A INFORMIDADE DO CONJUNTO DA ORGANIZAÇÃO
PARTIDÁRIA.
Em vários casos,
as organizações partidárias só existem no papel, quase não revelando nenhuma
manifestação prática. As células estão isoladas das massas e não têm existência
própria, e as frações sindicais, na maioria dos casos, não saíram do papel. A
imprensa partidária publica com extrema irregularidade, e por enquanto não pode
sequer aspirar minimamente ao papel de “organizador coletivo” que dá coesão e
forma ao Partido, papel que a imprensa bolchevique da Rússia já desempenhava nos
primeiros tempos do desenvolvimento do bolchevismo. O PC do Brasil, na verdade,
ainda não existe como um Partido realmente nacional, com dirigentes vindos de
todas as partes, e a ligação entre seus diversos setores se destaca por sua
extrema fragilidade (débil ligação entre o CC e os CRs, e entre os CRs e o aparelho de bases; isolamento entre
os comitês do Partido e as massas partidárias em geral; discrepância entre as
atuações desses comitês e das frações partidárias nos sindicatos e em outras
organizações de massas etc.). Existe no Partido uma série de agrupamentos isolados
mais ou menos fechados que se opõem ao conjunto da militância nesta ou naquela questão
ou até a toda a linha político-partidária, que por vezes intrigam contra o
Partido e se ligam a elementos contrarrevolucionários abertamente inimigos,
tais como trotskistas, diversos aventureiros e demagogos “de esquerda” das
classes dominantes etc. A disciplina partidária é extremamente débil, ocorrendo
inúmeros casos de insubmissão direta às decisões dos órgãos dirigentes e casos
ainda mais numerosos de silêncio e desprezo a suas instruções.
As tarefas do
Partido no sentido do fortalecimento do conjunto do aparelho partidário só
podem ser resolvidas no imediato com a condição de concentrá-las, antes de
tudo, em algumas regiões essenciais ‒ tais como os estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Pernambuco ‒, onde devem ser reunidos os melhores organizadores,
agitadores, propagandistas e literatos do Partido, mesmo com prejuízo às
regiões restantes. As organizações dessas regiões também devem ser fortalecidas
com membros do Comitê Central a serem distribuídos entre as regiões onde o
Partido concentrará sua atenção principal, mantendo-se no centro apenas um pequeno
grupo de camaradas absolutamente indispensáveis.
É evidente que o
fortalecimento e o saneamento organizativos do Partido só podem ser alcançados com
a condição dele participar o mais ativamente possível como força dirigente nas
lutas econômicas e políticas de massas. Tem um caráter completamente
oportunista a “teoria” que circula em algumas camadas do Partido e era
defendida particularmente por Cazini, segundo a qual o Partido deve “primeiro
se organizar, e depois lutar”. Somente no próprio curso da luta de massas e com
base no estudo e na assimilação de sua experiência por todos os membros do
Partido é que se torna possível um real fortalecimento das organizações
partidárias.
Por outro lado,
o fortalecimento do Partido pressupõe o mais amplo desencadeamento da
autocrítica de baixo para cima, ligada a um minucioso debate, por toda a massa de membros do Partido,
de todas as tarefas postas diante deles, ao balanço detalhado e à correção dos
erros cometidos, à constante autoverificação no curso das lutas de massas e ao
fortalecimento da disciplina partidária.
3. O PARTIDO AINDA NÃO APRENDEU A MANEIRA
BOLCHEVIQUE DE COMBINAR OS MÉTODOS LEGAIS E CLANDESTINOS DE ATUAÇÃO. Por um
lado, em algumas camadas do Partido, existem tendências “legalistas”,
oportunistas de direita, que representam, na atual etapa, o perigo principal e
que se expressam particularmente nos intentos de “aproximar-se” de diversos
aventureiros e demagogos “de esquerda”, tais como Miguel Costa, e, dessa forma,
garantir para si uma saída para a “ampla” arena das intrigas políticas mais ou
menos “legalizadas”. As tendências “legalistas” também se expressam na
subestimação do significado decisivo do aparelho partidário ilegal na atual etapa,
na recusa em tomar medidas sérias e sistemáticas de luta contra os provocadores
etc. Por outro lado, o Partido não tem lutado amplamente para aproveitar as
possibilidades legais com objetivos revolucionários, criando para si, dessa
forma, dificuldades para tornar-se um legítimo Partido de massas (subestimação
da atuação nos sindicatos legais, indicação da palavra de ordem de boicote às eleições para a
Assembleia Constituinte por alguns camaradas, recusa em utilizar editoras
burguesas para publicar obras de Marx, Engels, Lênin e Stálin sob o pretexto de
que isso seria “moralmente inadmissível” etc.).
Aproveitando ao
máximo todas as possibilidades legais disponíveis, o Partido deve, ao mesmo
tempo, prestar a mais séria atenção às tarefas de fortalecimento e saneamento
do aparelho clandestino, afastando decididamente todos os elementos
desconfiáveis e garantindo, em primeiro lugar, a ligação das regiões essenciais
entre si e com os órgãos dirigentes. É de particular importância garantir o fornecimento
mais sistemático possível de livros às organizações partidárias brasileiras, tanto
os editados legal ou clandestinamente dentro do país quanto os editados no
exterior.
4 ‒ A LIGAÇÃO INSUFICIENTE ENTRE O PARTIDO E A
CLASSE OPERÁRIA. Enquanto não houver uma ligação firme entre o Partido
Comunista e a classe operária, não se pode nem falar em bolchevização do
Partido ou em sua transformação numa organização realmente capaz de liderar com
êxito a luta revolucionária de massas. Entretanto, o PCB continua sendo de fato
uma organização fechada que não soube estabelecer uma forte ligação com as
massas proletárias.
Mesmo quando se
criavam condições objetivas excepcionalmente favoráveis para o reforço da
ligação entre o Partido e a massa trabalhadora ‒ tal como durante a greve dos
ferroviários, quando as próprias massas, por vezes, “procuravam” o Partido
Comunista e buscavam permanecer sob sua liderança ‒, elas foram extremamente
mal aproveitadas. O Partido ainda está isolado das amplas massas operárias, ora
ficando para trás na evolução do movimento de massas, o que constitui o perigo
principal (assim, por exemplo, uma série de grandes greves se realizou sem
qualquer participação do PC do Brasil), ora lançando, por outro lado, palavras
de ordem e diretivas esquerdistas (tendências
golpistas, subestimação da tática da frente única pela base etc.).
Embora o PCB já
tenha começado a desenvolver parcialmente a estruturação partidária com base
nas células de empresa, ele ainda não tem células na maioria das grandes empresas.
Aquelas existentes estão isoladas das massas, não sabem do que elas vivem ou
quais são seus sentimentos e exigências, nem têm encabeçado ou liderado as
massas em sua luta econômica e política cotidiana.
O movimento
sindical revolucionário, principal correia de transmissão entre o Partido e as
massas operárias, encontra-se num estado de total desorganização e sua atuação
não tem se baseado nas instruções dadas pelo CEIC na carta sobre o trabalho sindical
nos países da América do Sul e do Caribe. O movimento sindical revolucionário
não só não se fortaleceu nos últimos tempos, como, pelo contrário, perdeu as
poucas forças que tinha. A direção da CGTB praticamente não existe e as
organizações sindicais revolucionárias, com algumas exceções, só existem no
papel, não estando realmente ligadas às massas nem desencadeando ou liderando sua
luta. No fundo, não se realiza um trabalho sequer nos sindicatos reacionários
anarcossindicalistas e reformistas nem nos sindicatos oficiais recém-fortificados.
O Partido não
somente não aprendeu a realizar na prática a frente única pela base, mas também
sequer ainda se deu conta, por parte de inúmeras camadas suas, da enorme e
atual importância dessa forma de luta pelo apoio da maioria da classe operária.
O Partido não tem conduzido quase nenhuma luta real por reivindicações parciais
nem organizado ações de massas em torno delas, embora lhes dê grande espaço em
seus “manifestos”. Apesar da crescente demagogia de nossos adversários e embora
eles empreguem manobras “de esquerda” cada vez mais amplas, o Partido não soube
até agora concentrar minimamente suas forças no desmascaramento de seus
adversários no curso da atual luta das massas operárias por reivindicações
parciais.
A tarefa
imediata do Partido no que toca fortalecer sua ligação com as amplas massas
proletárias é concentrar o trabalho num pequeno número de grandes empresas ‒ especialmente
criando e fortalecendo células partidárias ‒ e numa série de grandes
sindicatos. O Partido deve formular reivindicações básicas, orientadas à defesa
dos interesses imediatos da classe operária diante da crescente ofensiva do
capital, do reforço da reação política e do agravamento do perigo da guerra, e
deve organizar ações de massas em defesa delas. As reivindicações devem se adaptar
às condições de cada região e de cada empresa, ter um caráter plenamente
concreto e ser inteligíveis aos operários mais atrasados. O Partido deve criar
nas grandes empresas “comitês de luta contra a ofensiva do capital e a reação
política” como órgãos da frente única pela base, chamando a participarem
trabalhadores de todas as orientações políticas e buscando, ao mesmo tempo, garantir
a liderança comunista nesses comitês.
As células
partidárias nas empresas e as frações comunistas nos sindicatos devem propor
aos “comitês de luta” e às lideranças sindicais que se organizem ações de
massas em defesa das reivindicações parciais ‒ comícios, manifestações, greves
etc. ‒, desmascarando implacavelmente no próprio curso da luta de massas todas
as tentativas de nossos inimigos de arrasar, sabotar e atraiçoar essa luta.
O Partido deve
prestar a mais séria atenção à seleção e formação dos quadros dirigentes do
movimento sindical revolucionário, organizando uma rede de cursos sindicais,
criando uma publicação especial para os sindicatos etc.
5 ‒ A EXTREMA DEBILIDADE DO TRABALHO PARTIDÁRIO
NO CAMPO. Embora a vitória da revolução democrático-burguesa só seja
possível garantindo-se o papel dirigente do proletariado comandado pelos
comunistas, o PCB, com relação ao campesinato trabalhador, mesmo tendo obtido
recentemente alguns êxitos, principalmente em São Paulo, no trabalho entre o
proletariado agrícola, foram êxitos, em primeiro lugar, não consolidados por uma
campanha de recrutamento bem sucedida e, em segundo lugar, não aproveitados
para adentrar a influência partidária nas amplas camadas do campesinato pobre e
médio. O Partido continua a subestimar a importância de uma liderança
proletária no movimento camponês e não tem conduzido nenhuma luta real pelas
reivindicações parciais do campesinato trabalhador, sequer elaborando uma lista
delas. Quase não reagindo diante da luta das massas camponesas que tem se
desenvolvido espontaneamente e adquirido, em vários casos, um caráter bastante
impetuoso, o Partido, por outro lado, às vezes tem proposto diretivas que superestimam o amadurecimento da
situação revolucionária e que, por isso, ficam em suspenso (tais como a da
criação de sovietes camponeses, proposta em São Paulo no tempo da “guerra
civil”).
As tarefas
imediatas do Partido nesse âmbito são: a) criar células partidárias nas grandes
regiões agrícolas, chamando os melhores e mais conscientes assalariados
agrícolas e camponeses pobres e médios que no passado tenham participado
ativamente do movimento revolucionário espontâneo dos camponeses; b) mobilizar
parte dos quadros ativos urbanos num trabalho permanente no campo; c) realizar
um trabalho sistemático nos sindicatos agrícolas já existentes e criar novos
sindicatos; d) criar “comitês de luta camponeses” em prol dos interesses
imediatos do campesinato pobre e médio e do proletariado agrícola; e) elaborar
reivindicações parciais concretas e realizar em sua defesa uma série de ações
de massas que passo a passo levem o campesinato a lutar pela apropriação e
divisão imediatas dos latifúndios; f) estabelecer ligações com os melhores
elementos do movimento dos “cangaceiros” que sejam estreitamente ligados às
massas e conquistar a liderança desse movimento.
6 ‒ A EXTREMA DEBILIDADE DO TRABALHO PARTIDÁRIO ENTRE
AS MASSAS TRABALHADORAS DOS POVOS OPRIMIDOS. O Pleno de agosto de 1932 do
CC submeteu a uma séria discussão a questão nacional, o que sem dúvida indica
por si só um notável passo adiante. Mas nesse mesmo Pleno se revelou com toda
clareza o quão débil ainda é a lida com os princípios básicos da política
leninista das nacionalidades, mesmo entre os quadros dirigentes do Partido; assim,
por exemplo, certos participantes desse Pleno se manifestaram contra a diretiva do direito dos povos à secessão,
apontando que essa aspiração já fora alcançada nos EUA, onde os negros seriam
“separados” dos brancos por lhes serem destinados, por exemplo, lugares especiais
nos bondes, trens etc. Goza de ampla difusão no Partido toda sorte de teorias
“raciais” burguesas, tal como a tendência a reunir os diversos povos indígenas
numa única “raça”, escondendo a recusa em lutar pelo direito dos povos
indígenas à secessão. O conjunto do Partido ainda não desenvolveu nenhum
trabalho prático entre as massas trabalhadoras dos povos oprimidos em defesa de
sua libertação nacional, limitando-se, no melhor dos casos, a frases e
raciocínios gerais.
As tarefas do
Partido nesse sentido são: a) lutar decididamente contra a subestimação da
questão nacional, defender a palavra de ordem leninista do “direito dos povos à
secessão” e combater toda e qualquer deturpação desse princípio; b) chamar às
fileiras do Partido os melhores representantes do movimento revolucionário
espontâneo das massas trabalhadoras negras e indígenas; c) articular a luta por
reivindicações parciais à luta pela libertação nacional dos trabalhadores negros
e índios (exigir iguais condições de trabalho aos operários de todas as
nacionalidades, a abolição do trabalho forçado dos índios etc.).
7 ‒ O PARTIDO TEM PRESTADO UMA ATENÇÃO EXTREMAMENTE
DÉBIL AO TRABALHO ENTRE AS MULHERES E A JUVENTUDE TRABALHADORA. O trabalho
sistemático entre as mulheres trabalhadoras é, no fundo, totalmente
inexistente. No que concerne à FJC, o Partido não soube lhe manter as rédeas de
modo sistemático e bem orientado politicamente, e por isso, em algumas camadas dessa
juventude, ainda circulam teorias “vanguardistas”, bem como diretrizes pela sua
conversão numa “organização de massas que abarque os jovens trabalhadores de
todas as orientações políticas”, diretrizes que a transformariam, se postas em
prática, numa arma política antipartidária e contrarrevolucionária.
8 ‒ O PARTIDO TEM PRATICAMENTE MENOSPREZADO A
IMPORTÂNCIA DE LUTAR CONTRA OS IMPERIALISTAS, não tem realizado um trabalho
sistemático para esclarecer as massas sobre a ligação indissolúvel entre as
tarefas da revolução antifeudal e anti-imperialista, quase não soube penetrar nas
empresas industriais e fazendas que se encontram nas mãos do capital
estrangeiro e não tem proposto reivindicações parciais, articuladas
especialmente com as tarefas gerais da luta para libertar o Brasil do domínio
imperialista.
9 ‒ O PARTIDO AINDA NÃO SE CONSCIENTIZOU DA
ENORMIDADE DO PERIGO DA GUERRA E NÃO TEM REALIZADO UM TRABALHO ANTIMILITARISTA
SISTEMÁTICO NO ESPÍRITO DO MARXISMO-LENINISMO. Apesar da enorme importância
do Brasil como uma grande base de retaguarda ou mesmo como um dos participantes
de uma futura guerra interimperialista ou de uma guerra contrarrevolucionária
dirigida à URSS e apesar do evidente perigo de uma intervenção brasileira numa
guerra nas cabeceiras do Amazonas, o Partido não tem realizado uma campanha
sistemática contra o perigo da guerra. Mesmo durante as greves que o Partido
mais ou menos ativamente liderou, ele quase nada fez para ligar as reivindicações
dos grevistas com as palavras de ordem antimilitaristas. O Partido não tem
criado “comitês de luta contra a guerra” nas empresas industriais nem nas zonas
rurais. De maneira absolutamente insatisfatória se realizou a preparação para o
Congresso Latino-Americano Contra a Guerra Imperialista ‒ arregimentação
insuficiente das massas, convite a trotskistas etc. O partido não ostenta
nenhuma conquista real no trabalho entre as Forças Armadas das classes
dominantes, limitando-se a lançar, vez ou outra, panfletos e apelos isolados,
geralmente com diretrizes políticas errôneas. Assim, por exemplo, durante a
“guerra civil” do ano passado, alguns apelos partidários propunham a diretriz
pacifista pequeno-burguesa da luta “contra todas as guerras”, defendiam a
teoria do “mal menor” com relação aos tenentistas, apoiavam a “tese” absurda de
que a “preparação de uma intervenção antissoviética” era o “fator principal”
das guerras no Chaco e no Brasil etc.
Em algumas
camadas do Partido circula uma teoria esquerdista segundo a qual “a guerra
seria um fato positivo, pois conduziria à revolução”, ou seja, uma teoria
completamente oportunista, que esconde a incapacidade e a má vontade em
realizar um trabalho de massas sistemático que desencadeie as lutas de classe
na cidade e no campo, levando a classe operária e o campesinato trabalhador à
revolução.
10 ‒ O PARTIDO NÃO LANÇOU UMA PROPAGANDA
SISTEMÁTICA DAS CONQUISTAS DA EDIFICAÇÃO SOCIALISTA NA U.R.S.S. As
tentativas de criar uma “Sociedade dos Amigos da URSS” até agora só levaram ao
surgimento de organizações absolutamente desligadas das massas e convertidas num
reduto de intelectuais pequeno-burgueses, parte dos quais intrigava contra o
Partido sob o abrigo de um fraseado “de esquerda” e “pró-soviético”. O PCB não tem
realizado uma campanha sistemática de esclarecimento sobre os êxitos,
dificuldades e tarefas da edificação socialista na URSS, e em certas camadas do
Partido existe até uma desconfiança nas iniciativas do PC(b) da URSS e do
governo soviético, chegando a casos de calúnias trotskistas contra os bolcheviques
e o camarada Stálin.
11 ‒ O PARTIDO TEM PRESTADO UMA ATENÇÃO
INSUFICIENTE À FORMAÇÃO INTERNACIONALISTA DE SEUS MEMBROS. Não têm sido
esclarecidos os grandes acontecimentos de importância internacional e não tem
sido feita nenhuma tentativa de estabelecer ligações entre esses acontecimentos
com esta ou aquela tarefa do Partido e das amplas massas trabalhadoras.
12 ‒ ATUALMENTE A IMPRENSA PARTIDÁRIA AINDA NÃO
CONSTITUI DE FORMA ALGUMA UM AUTÊNTICO “ORGANIZADOR COLETIVO” DAS MASSAS. Mesmo
A Classe Operária, órgão central do
Partido, tem aparecido de forma absolutamente irregular e sua ligação com as
massas é muito débil. Ele não tem lançado luzes sobre a vida cotidiana dos
trabalhadores nem respondido a seus interesses presentes ou refletido suas
necessidades vitais. Ao mesmo tempo, A Classe
Operária não está em condições de elevar o nível de consciência política
das massas nem de servir como um autêntico propagador das ideias comunistas
entre as massas. É indispensável: а) garantir uma tiragem regular e uma ampla
divulgação de A Classe Operária; b)
garantir um afluxo constante de correspondência operária e camponesa,
desenvolver uma rede de correspondentes operários e camponeses e organizar-lhes
a direção; c) criar um quadro permanente de colaboradores políticos para o
jornal, capazes de assegurar-lhe uma feição bolchevique; d) garantir a
liderança permanente do jornal por parte dos órgãos dirigentes do Partido.
X X
X
A
fim de livrar o Partido dos elementos estranhos e convertê-lo numa autêntica organização
bolchevique, é indispensável debater a presente carta e as instruções especiais
listadas, que devem ser trabalhadas pelo CC do PCB em todos os círculos partidários,
nos comitês, células e frações comunistas, bem como traçar um plano concreto
para livrar o Partido dos elementos estranhos e para reestruturar radicalmente
todo o trabalho partidário.
3 comentários:
Hhaahahahahha...isso!!!
Um documento desdiz um livro inteiro baseado em uma SÉRIE de documentos. SÉRIE, não um! Duvida do livro? Foi ver os documentos? Não, garanto. Não é do teu interesse, certo? Absolutamente ridículo!
O livro de Waack já foi desmentido por outros, entre os quais, João Quartim de MOraes.
Mas esse é documento ajuda a explicar o seguinte: como eles ordenariam um levante armado para um partido que mal sabia organizar um jornal tomar o poder??? Fishuk analisou o livro de Waack e notou que ele falho em muitos pontos, principalmente no que diz respeito ao uso das fontes.
Por "bolha" vc quis dizer "pulha"?
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