Esse
livro de Eduardo Andrade, publicado pela editora Literatura em Cena, é um livro cheio de vida. Há muita riqueza nele
ao debater um tema tabu, mas fundamental: o suicídio. Falar sobre suicídio é
falar sobre a vida, ele é algo que está entre nós a ser resolvido. Há passagens
emocionantes como o “corte no osso e o corte no sonho”, relatos de pacientes
que viveram episódios de autoextermínio.
Se
não escolhemos quando vir ao mundo, deveríamos pelo menos escolher quando sair
de cena, quando sair desse mundo. Isso Eduardo explica muito bem quando fala:
“Defronte ao insuportável, confrontado com o desamparo, e por não conseguir
abordar o real que é jogado na cara da existência, o sujeito se retira de cena
numa tentativa de fugir do sofrimento existencial que o habita, não é o desejo
de morrer que mune o suicídio.” Eduardo resgata pontos muito importantes para
serem trabalhados a respeito do suicídio e sobre o impulso autodestrutivo que o
move: mas nem todos são capazes de conter seus impulsos e acabam cometendo
crimes. E sobre o que fazer para conter o suicídio, Eduardo tem apontamentos
muito importantes sobre como fazer para evitar o suicídio, como quando cita
Bukowski: “nós não precisamos de grandes realizações, só precisamos realizar
pequenas coisas que nos façam sentir melhor ou não tão mal” (ANDRADE, 2019, p.
45). Senti falta, nesse livro, de Albert Camus (embora o mito de Sísifo se faça
presente) e sua reflexão sobre o suicídio enquanto o único problema filosófico
realmente sério: devemos julgar se a vida merece ou não ser vivida. Outros
suicidas cujo trabalho pode também iluminar a análise são Silvia Plath, Emil
Cioran e Maiakóvski.
Quando
o suicídio é verbalizado, a tragédia parece desmaterializar-se, na medida em
que se torna outra coisa e o sujeito vê sua própria face monstruosa. No mito da
Medusa, quando a Medusa vê seu próprio rosto materializado no escudo de Perseu,
ela perde boa parte de seu potencial para a tragédia. E Eduardo é muito feliz
em escolher seus autores e seus amores, tais como Goethe, Bukowski, Tolstói,
Dostoiévski, dentre outros.
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