quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Suicídio e Clínica Psicanalítica (Eduardo Andrade)





Esse livro de Eduardo Andrade, publicado pela editora Literatura em Cena, é um livro cheio de vida. Há muita riqueza nele ao debater um tema tabu, mas fundamental: o suicídio. Falar sobre suicídio é falar sobre a vida, ele é algo que está entre nós a ser resolvido. Há passagens emocionantes como o “corte no osso e o corte no sonho”, relatos de pacientes que viveram episódios de autoextermínio.
Se não escolhemos quando vir ao mundo, deveríamos pelo menos escolher quando sair de cena, quando sair desse mundo. Isso Eduardo explica muito bem quando fala: “Defronte ao insuportável, confrontado com o desamparo, e por não conseguir abordar o real que é jogado na cara da existência, o sujeito se retira de cena numa tentativa de fugir do sofrimento existencial que o habita, não é o desejo de morrer que mune o suicídio.” Eduardo resgata pontos muito importantes para serem trabalhados a respeito do suicídio e sobre o impulso autodestrutivo que o move: mas nem todos são capazes de conter seus impulsos e acabam cometendo crimes. E sobre o que fazer para conter o suicídio, Eduardo tem apontamentos muito importantes sobre como fazer para evitar o suicídio, como quando cita Bukowski: “nós não precisamos de grandes realizações, só precisamos realizar pequenas coisas que nos façam sentir melhor ou não tão mal” (ANDRADE, 2019, p. 45). Senti falta, nesse livro, de Albert Camus (embora o mito de Sísifo se faça presente) e sua reflexão sobre o suicídio enquanto o único problema filosófico realmente sério: devemos julgar se a vida merece ou não ser vivida. Outros suicidas cujo trabalho pode também iluminar a análise são Silvia Plath, Emil Cioran e Maiakóvski.
Quando o suicídio é verbalizado, a tragédia parece desmaterializar-se, na medida em que se torna outra coisa e o sujeito vê sua própria face monstruosa. No mito da Medusa, quando a Medusa vê seu próprio rosto materializado no escudo de Perseu, ela perde boa parte de seu potencial para a tragédia. E Eduardo é muito feliz em escolher seus autores e seus amores, tais como Goethe, Bukowski, Tolstói, Dostoiévski, dentre outros.

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