150 Lúcio
Emílio do Espírito Santo Júnior A Nova Onda (Parte 1) lucio@bdonline.com.br "No fim dos anos 70, com o fim do
domínio da discoteca e do punk, surgiu uma New Wave, a Nova Onda que agitou a cena Pop. O rótulo
abrange grupos como U2, Talking Heads, Culture Club e tudo o que se quiser
colocar nesta lista, contanto que seja Postpunk Pop Avantguarde. Os grupos em
geral renegam os rótulos, mesmo a denominação de New Wave.
Os new wavers são profundamente
conscientes do quanto importa a imagem no rock e debatem e pensam profundamente
sobre detalhes como o nome do grupo, sua roupa, sua maquiagem, sua
""filosofia"" e a de suas músicas, sua promoção através de
videoclipes e rádios. Esta sensibilidade para o marketing se consolidou nos
anos 70, com David Bowie, Marc Bolan, Kiss e os Rolling Stones, entre outros,
usando dos mais variados truques para conseguir espaço na imprensa, nas rádios,
e congêneres. Os New Wavers são seus descendentes notórios,com muita
sensibilidade publicitária. Os conjuntos tendiam, no início dos 80, a reciclar
o rockabilly, o topete, a brilhantina, como os Stray Cats. Havia uma notória
tendência a retomar o rock and roll dos anos 50.
A New Wave americana tinha seu QG em
Manhattan. Lá, invocavam influências que iam de Yoko Ono ao Velvet Underground.
Surgiram também grupos regionais como os B-52s, da Georgia e os Cars, de
Boston. Destacou-se o sexteto novaiorquino Blondie, tendo como destaque a sex-
simbol Debbie Harry, compondo e interpretando. Na Inglaterra o rótulo New Wave
também foi generosamente usado, mas para o “positive punk”, englobando aí
conjuntos pouco expressivos. Ainda como parente da New Wave surgiu o rótulo New
Romantic, uma tendência que marcou mais a glamourosa moda inglesa do que a
música. Adam & the Ants, uma das bandas mais famosas desta vertente,
desapareceu após 85, quando a New Wave ficou demodeé. Seu principal componente,
“Adam Ant”, hoje ganha a vida como ator, sem a maquiagem pesada que usava nos
tempos em que foi famoso.
Vamos falar agora do “punk
chique”:Blondie. Das bandas que pintavam na toca noturna que viu nascer Talking
Heads, Television, Patti Smith Group e outros, o Blondie foi a que mais se
destacou, obtendo o sucesso rápido.Comandando os músicos vestidos de ternos
refinados estava uma garota de curvas generosas, Deborah Harry. Foi um grupo
pop por excelência, com todos os clichês do rock americano dos 50 e 60,
inclusive as baladas...Debbie Harry era uma ex-coelhinha da playboy, e cantava
desde o final dos anos 60, onde começou num grupo à base de violoes acústicos e
flower power. Depois passou um tempo como garçonete do Max’s Kansas City, bar
onde andavam Lou Reed, Iggy Pop, Lennon e Yoko e outras figuras, no início dos
70. Seu primeiro álbum, Blondie, não vendeu muito. A canção In the Flesh chamou
a atenção da Chrysalis, um selo de gravação bem maior daquele onde a banda
estava, o Private Stock. Passaram a ter distribuição mundial pela RCA e logo os
compactos “Denis” e “I’m Touch by your Presence” emplacaram na Europa. O passo
seguinte seria o álbum Parallel Lines, com o produtor inglês Mike Chapman. O
Blondie conquistou os EUA com a canção dançante Heart of Glass. Seu arranjo é
calcado nas embalagens eletronicas produzidas por Giorgio Moroder para Donna
Summer. Aqui no Brasil, Heart of Glass entrou em trilha de novela , nosso
“glorioso” substituto para o compacto. Continuaram este rumo nos álbuns Eat to
the Beat, de 79 e o ambicioso Autoamerican, de 80. Debbie foi assunto nas
colunas sociais em 1980, foi capa de revistas, tirou fotos ao lado de Truman
Capote e Andy Warhol como uma Superstar, foi elogiada e paparicada. A partir
deste auge, porém, o conjunto entrou em recesso, com os integrantes ou pulando
fora ou mais ocupados com projetos individuais. Ao voltarem à ativa em 82,
fracassaram com o disco the Hunter, cancelando a excursão inglesa devido à
pouca venda de ingressos. Pouco depois a banda acabou após sete anos de
existência. Ninguém do conjunto conseguiu reviver os bons tempos, nem Debbie.
Em 94 ela amargou a venda de apenas 14.000 cópias de seu último álbum, venda
que para o mercado americano é baixíssima. A moça acabou sendo mandada “ir
passear” pela sua gravadora. Um triste fim. Agora, em 95, Debbie Harry
ressuscita o Blondie. E explica que quem hoje está fazendo algo pelo Pop são as
mulheres e os gays. Coroada de razão.
Outra banda dessa geração eram os
Talking Heads. Foram, por volta de 85, o “quente”do momento. Eram um grupo
excêntrico, que no início vestia roupas simples, despojadas, com um toque cool
que encantava os modernos, os chiques, a crítica. Seguiram, sem premeditação, a
frase de Frank Zappa:”A áfrica é o flower power dos 80.”Com suas guitarras
incisivas e o canto de David Byrne, monocórdico, eles demoraram a gravar. Nos
primeiros anos 70, David Byrne, escocês fixado desde os três anos nos EUA,
estudava design em Rhode Island. Seu primeiro álbum, intitulado “77”, foi muito
elogiado, mas não teve bom desempenho comercial. Foi gravado em meio à
hostilidade entre Byrne e o produtor imposto pela gravadora, mas mesmo assim
tinha ótimos momentos. Só fizeram sucesso após seu segundo disco, do qual saiu
a balada “Take me to the River” que passou pela parada de compactos americana.
No disco de 79, Fear of Music, as músicas vieram com os arranjos elaborados por
Brian Eno e títulos como “Ar”, “Animais”, “Cidades”,”Drogas”. Os Heads
mergulharam na epidemia afro-funk, com Remain In Light( 80), sendo que Byrne
tramou com Eno o disco My Life in the Bush of Ghosts, lançado em 81. Este disco
é hoje uma espécie de bíblia da World Music.
Em 82, o disco The Name of This Band
is Talkig Heads pegará os rapazes se transformando em superbanda afro-funky.
Este disco ao vivo registra a turnê mundial da banda, indo até o Japão. Depois
disso, os quatro também se envolveram em projetos individuais. Tina e Chris
fundaram o Tom Tom Club, usina de pop dançante que logo emplaca “Genius of
Love” e “Wordy Rappinghood”como hits no mundo todo. Houve ainda discos como o do
filme de Byrne, True Stories, e outros, como Mr Jones(87) e Naked(88) até a
banda acabar, em 89. A partir daí o maior destaque entre os membros foi mesmo
Byrne, que veio ao Brasil buscar inspiração e gravou o disco Rei Momo,
iniciando sua fase solo, decididamente mais para a World Music. Redescobriu
para o mercado exterior o músico Tomzé, marginalizado pelo showbusiness
brasileiro, em seus passeios pela Bahia. Em 94 lançou um disco sombrio,
introspectivo e muito pessoal, onde exorciza fantasmas pessoais, na linha de
Magic and Loss, de Lou Reed.
Mas para muita gente o espírito New
Waver encarnou mesmo foi em Athens, na pele dos cinco integrantes do B-52’s.
Eles espremeram todos os filmes B de ficção científica e terror dos anos 50 e
60 e catástrofe dos anos 70, conservando somente a essência do mau gosto
americano. O clima era criado pelo pop dançante dos anos 50 e os 60
pré-Beatles. O guarda-roupa era neo-retro, as perucas “bolo de noiva”, tudo em
meio a danças destrambelhadas, moda do sintético-aberrante,o supra-sumo da
então todo-poderosa New Wave. O primeiro LP,que trazia “Rock Lobster”, grande
hit que impulsionou a venda do disco, que chegou a 500.000 cópias sem tocar nas
rádios americanas. Após outros LPs bem sucedidos, Wild Planet(80), Mesopotamia(82),Whammy(83),
eles vieram ao Rock and Rio, mas perderam Ricky Wilson, guitarrista e
arranjador, para a Aids, em Outubro de 85. Abalados, eles lançaram o LP
Bouncing Off The Satellites somente em 87. Fracasso total. Afinal, Ricky era
irmão de Cindy(vocais) e cérebro musical dos B-52’s. Numa espetacular volta por
cima, estouraram em 89 com Cosmic Thing , emplacando hits como “Love Shack” e
“Roam”. Hoje prosseguem como trio, sem Cindy, e tocaram Meet the Flinststones
no filme de Spielberg adaptado do antigo desenho animado dos anos 60. “Depois
que Ricky se foi, passamos um período de lamentação. Não tínhamos certeza se
queríamos ou não prosseguir sendo uma banda. Cindy não tinha certeza se deveria
continuar sem Ricky. Foi um período muito difícil para ela. Para todos nós,
porque perdemos uma pessoa que amávamos muitíssimo.” Assim Keith Stricland,
baterista da banda, define a fase posterior à perda do amigo. Na nova fase
Keith assumiu a responsabilidade sobre a guitarra, pois ele conhecia muito bem
o estilo de Ricky. O clima de comuna hippie dá o tom nos B-52’s, onde ninguém
toma drogas, bebe ou fuma, a homeopatia e a astrologia imperam, todos são
vegetarianos, exceto Cindy. Mas é Cindy quem explica: “protestar tem que ser
divertido, senão não vale a pena.” E finaliza: “nosso lema é: diversão, mas com
um propósito.”
<b>As Novas Garotas do
Rock</b>
Uma das características dos anos 80
foi a emergência de bandas de garotas, até então pouco presentes no rock. As
mulheres estavam mais presentes como objetos de desejo, fãs ensandecidas,
groupies. Com a nova consciência feminina surgiu toda uma nova safra de
cantoras: Björk e os Sugarcubes, Chrissie Hynde, dos Pretenders, Cindy Wilson e
Kate Pierson com os B-52’s e Nina Hagen, direto da Alemanha Oriental, fazendo
um rock performático que devia muito a David Bowie fase Ziggy Stardust e Frank
Zappa. Laurie Anderson veio de New York com todo um aparato multimídia e uma um
humor ferino contra o American Way of Life. Siouxsie Sioux virou diva gótica,
ela se destacou do movimento punk dirigindo-se para um lado mais sombrio, junto
com sua banda, os Banshees. A saxofonista italiana Jo Squillo apresentava-se
com os seios à mostra, e com isso conseguiu imediata notoriedade. Sobre seus
dotes musicais...hã...é melhor esquecer o assunto. A final, ela própria já foi
esquecida -- depois dela já fizeram coisas mais chocantes. Pobre Jo Squillo,
ela agora me parece ingênua.
Entre estas estava uma garota de
Michigan que parecia destinada a esgotar rapidamente seus quinze minutos de
fama. Sua voz era limitadíssima, seus dotes como compositora e instrumentista
inexistiam. Seu nome: Madonna Louise Ciccione.
<b>Madonna</b>
Seu primeiro hit sairia em 82, e
chamava-se “Everybody”. Antes, ela tentara tocar bateria numa banda à la the
Police, The Breakfast Club. Havia testado suas músicas em discotecas e via que
o público aprovava. Seu cabelo pintado, suas poses à la Marilyn Monroe e seu
visual “provocante” lhe garantiram espaço na mídia. Tinha sido dançarina e
acompanhara o astro da discoteca Patrick Hernandez até Paris, quando ainda não
era famosa. Sua família de origem ítalo-americana pouco apoio lhe dera, depois
que se mudara para New York, nos fins dos anos 70. Trabalhara de garçonete,
modelo para jovens artistas -- seu corpo musculoso era fácil de desenhar -- e
morara num bairro pobre. Na sua primeira fase posava com lingeries sobre as
roupas, pulseiras, crucifixos, colares e se dizia uma “material girl”.
Mostrou-se uma diluidora por excelência, aproveitando tudo o que pudesse na
cultura underground americana para pasteurizar e vender às massas americanas.
Madonna precisa sempre de novos truques, para servir como kitsch e vender
muito. Madonna, podemos concluir, é muito escândalo com uma trilha sonora para
as rádios FM. Ela é uma esperta estrategista de marketing e por isso chegou
onde está. Seu casamento com o ator Sean Penn serviu para encher colunas
socias, suas brigas viraram notícia, sua separação, tudo foi um lance
inteligente. E rendoso. Ela diluiu a dança Vogue, até então restrita à comunidade
gay novaiorquina. Tentou carreira no cinema, apesar dos nulos recursos como
atriz. Mas conseguiu chamar atenção ao fazer papéis como o de missionária
virgem em Surpresas em Xangai e “roqueira maluquinha” em Procura-se Susan
Desesperadamente. Só consegue fazer papel dela mesma, mas ainda assim criticou
os roteiristas destes filmes. Trocando de visual como trocava de roupa, tentou
ser chique em Dick Tracy, de Warren Beatty, seu namorado na época. De 88 até
94, seguiu ao sabor das modas, dançando e beijando um santo negro no clip de
Like a Prayer -- que foi apresentado até no programa eleitoral de um obscuro
“Partido Humanista”, aqui no Brasil, sem que ninguém desse a mínima para este
fato absurdo. O clip também valeu protestos do Vaticano que devem ter deixado
Madonna exultante. Em tempos de AIDS, Madonna fez da pornografia multimídia um
rico filão, explorado por ela em Na Cama com Madonna, seu filme mais
narcisista. No caríssimo livro onde expõe suas fantasias sexuais, Sex, Madonna
vulgarizou o sadomasoquismo. Em Corpo em Evidência ela até deitava sobre cacos
de vidro com o ator Willem Dafoe. Madonna ampliou suas riquezas, e hoje é uma
empresa altamente lucrativa, o conglomerado Madonna S.A. Ela já rendeu nada
menos do que 1,35 bilhões de dólares à Warner.
Já em plenos anos 90, Madonna, loira
aeróbica e saudável, “a cara dos anos 80”, está decaindo progressivamente de
popularidade. E já está mudando outra vez, tentando manter o status de símbolo
sexual. Após vulgaridades e baixarias incontáveis, ela diz que quer ter um
filho. Participou do filme “Olhos de Serpente”, do polêmico Abel Ferrara,
tentando fazer “arte”também no cinema, largando os antigos filmes “comerciais”.
Seu novo disco, Bedtime Stories(94), tenta ligar Madonna ao acid jazz, com composições
cheias de instrumentos acústicos e bases dançantes, tudo baseado em clássicos
do jazz que a loirosa dilui, repetindo antigos processos. Em suma, Madonna não
nos deixa solução, quem não a ama, a odeia. Virou até objeto de estudos
“acadêmicos”, como o livro “Personas Sexuais”, de Camille Paglia. Criou-se a
Madonna apocalíptica, baudrillardiana, mas há também a lacaniana e a freudiana;
enfim, parece que o que estes eruditos americanos queriam é pegar carona no
espetáculo da cultura de massa, recheando a conta bancária, como afirmou um
crítico mais impiedoso (Robert Hughes, em seu livro A Cultura da Reclamação).
<b>The Smiths</b>
Junto com o The Cure, formam as duas
maiores bandas dos anos 80. A banda foi formada em Manchester, por Morrissey,
um ex-bibliotecário, e Johnny Marr. Morrissey escrevia poemas, era fã de New
York Dolls, Roxy Music, David Bowie, T. Rex. Era apologista de uma tradição
britânica que ia de Petula Clark à Copa de 66(a última vencida pelos ingleses,
que aliás deram a este esporte sua feição atual). Morrissey encontrou em Marr o
parceiro ideal, que traduzia em música as imagens melancólicas de seus poemas.
E Johnny encontrou um novo alento para sua banda, que do contrário seria
inexpressiva por falta de boas letras. Manchester era uma cidade do norte
industrial e decadente. O clima lá, para os jovens de 1983, era de tédio. O
amargor daqueles jovens dos subúrbios industriais e conjuntos habitacionais se
condensou na música da banda. Seu título “Os Silvas”, era dedicado àqueles
desconhecidos, aquela massa para a qual os Smiths foram um espelho sincero.
Em seus anos de existência, de 83 a
87, lançaram apenas quatro discos, reunindo os singles na coletânea Hatfull of
Hollow e uma apresentação ao vivo (o disco Rank). Fizeram belos videoclipes,
chegando a trabalhar com o diretor de vanguarda Derek Jarman, morto de AIDS
neste ano de 1994. Os rapazes chegaram a ser chamados de “Beatles dos anos 80”.
A crítica, em especial a inglesa, os elogiou muito, e uma legião de fãs doentios
se formou.
Morrissey se destacava pelas suas
qualidades como vocalista-poeta, que o colocam ao lado de Ian Curtis e Jim
Morrison. Era leitor de Oscar Wilde,citando-o em uma letra(Cemetry Gates, do
álbum the Queen is Dead,1986), do seguinte modo : “Keats e Yeats estão do seu
lado/Mas você perde/porque Wilde está ao meu”. Joana D’arc também é citada no
mesmo disco, em “Bigmouth Strikes Again”:
“E agora eu sei como Joana D’arc se
sentiu, /quando as chamas roçaram seu nariz romano/ E seu walkman começou a
derreter.”Em “Panic”, Morrissey pede que enforquem o DJ, porque “ a música que
ele toca constantemente não me fala ao coração”. Em “There’s a Light that Never
Goes Out”, uma de suas canções mais tocadas, Morrissey canta:
“Passeando no seu carro/Eu nunca,
nunca penso em ir para casa/ Porque não tenho uma casa/ Me leve para sair hoje/
porque eu quero ver pessoas e quero ver luzes./Passeando no seu carro, por
favor não me leve para casa/porque não se trata da minha casa/ é a deles e lá
não sou bem-vindo nunca mais”.
Quando surgiram em 1983, os Smiths
foram apontados pela crítica especializada como o grande futuro do rock inglês.
E do rock mundial. Em 1987, após apenas quatro anos de pleno sucesso, a banda
anunciou o seu fim.
Johnny Marr, antes de formar os
Smiths, trabalhava numa loja de discos em Manchester. Nas horas vagas tocava
guitarra com seus amigos Andy Rourke(baixo)e Mike Joyce( bateria) e compunha
belas melodias, inspirando-se no farto material de raridades da discoteca de
seu chefe. Música bela-vocais e letras capengas. Faltava um precioso
ingrediente para que a fórmula funcionasse. A figura se chamava Stephen
Morrissey, rapaz que passara boa parte de sua adolescência vendo filmes/fotos
de James Dean e livros de Oscar Wilde. E além disso era fanático pelo grupo de
glitter-rock americano New York Dolls. Tal currículo demonstra a paixão de
Morrissey pelo diferente, marginal. Sem a banda, estaria condenado a recitar
poemas para uns gatos pingados.
Logo, o quarteto foi descoberto por um
tal de Geoff Travis, que era responsável por um selo independente, o Rough
Trade, fundado em 1976 e po um tempo não passou de uma lojinha na área oeste de
Londres, na época uma sociedade entre Travis e o norte-americano Ken Davidson.
Produzindo e vendendo fanzines, a Rough Trade acabou se tornando um endereço
quente para que bandas desconhecidas e ditas “alternativas” mandassem suas demo
tapes. Quando Travis abraçou o movimento punk, nos idos lde 77, Davidson
resolveu abandonar o barco e rompeu a sociedade. Mau negócio, pois naquele
verão a loja receberia os integrantes de um grupo chamado Metal Urbaine-algo
como um Sex Pistols francês-Travis gostou tanto do som que produziu o primeiro
vinil do grupo-e da sua própria gravadora-e, aproveitando a empreitada,Geoff Travis
fundou a distribuidora Rough Trade, driblando o problema de distribuição que
assolava os selos independentes. O fato coincidiu com a fundação do The Cartel,
uma organização de distribuidores independentes que reforçou a atuação indie na
Inglaterra. O selo Rough Trade entrou na década de 80 lançando diversas e
importantes bandas como Cabaret Voltaire, The Fall e Aztec Camera, reforçando
sua importância no mercado e provando que independente não queria dizer baixa
qualidade. Sem dúvida, a “aquisição” dos Smiths comprovou a força do circuito
independente.
Assim, em 83, após a febre disco e a
anarquia punk surgiu o single “This Charming Man”, uma bela canção apoiada no
esquema guitarra-baixo-bateria, de melodia instigante e letra sensível. Depois
vieram os singles “Hand in Glove”e “What Diference Does It Make?”, dois outros
embrulhos sonoros de qualidade superior.O semanário inglês New Musical Express
rasgava infinitas sedas e atirava toneladas de confete na novidade vinda de
Manchester. Clubes noturnos adotavam o som do grupo e público reagia com
adoração. Em fevereiro de 1984, saía o álbum mais aguardado do ano, The Smiths.
Na capa, Joe Dalessandro, ícone homo-másculo de Andy Warhol. No vinil brilhavam
outras pérolas, como “Still Ill” e “Reel Around The Fountain”.O LP entrou em
segundo lugar nas paradas locais e a banda acabou sendo consagrada como a mais
popular naquele ano na Inglaterra.
Antes de acabar 1984, a Rough Trade
lançou, em Novembro, o álbum Hatfull of Hollow, que reunia singles e outtakes,
como as Peel Sessions da rádio BBC. O LP trazia 16 músicas e foi um enorme
sucesso de vendas e críticas. Hatfull foi também a estréia da banda no
Brasil-apesar de lançado aqui apenas em 1985. Além da qualidade musical, os
discos dos Smiths se destacavam pela excelente acabamento da produção gráfica,
onde brilhavam encartes com as letras e capas de muito bom gosto. Já seus shows
nunca foram grandiloqüente de bandas como U2 e Simple Minds, mas quem viu
garante, era diversão genuína. Nos shows Morrissey usava ramalhetes de flores
nos bolsos das calças e camisões estampados que cascateavam pelo seu esquálido
corpo terminando por mostrar seu ombro nu, pálido e ossudo. Em plena época de
ascensão da MTV,os Smiths se recusavam a fazer clips-Morrissey estava traumatizado
pela péssima montagem que a Warner fizera para divulgar a música “How Soon Is
Now” nos EUA.
Muito do mito em torno dos Smiths era
devido à Morrissey. Ela sabia se cercar com uma aura de mistério e dor que
atingia em cheio os anseios da juventude dos anos 80. A maioria das músicas
descrevia não só o tormento de ser diferente como desventuras do
homossexualismo masculino. E às vezes as mensagens eram explícitas, como a
apologia da pedofilia gay em “Reel Around The Fountain”, e “How Soon Is Now”
clama o direito de viver sua preferência e chora a angústia da espera do amor
que todos necessitam; Still Ill fala diretamente de quando a mente não consegue
controlar as vontades do corpo;e “William It Was Really Nothing” execra um tal
de William que trocou o cantor por uma “garota gorda e que só pensa em casar”.
Em Fevereiro de 1985 chegava ao mercado o LP Meat is Murder, que entre mil
deprês trazia o libelo vegetariano “carne é assassinato”. Este álbum também
teve uma grande aceitação pública. Mas muito da arte desta banda estava nos
singles, dos quais muitos nunca saíram em álbuns, mas que tinham capas e
acabamento comparáveis aos álbuns. Até aqui no Brasil, onde o mercado de
compactos foi sepultado, entrou na onda e lançou dois clássicos do grupo( The
Boy With The Thorn in his Side e Panic).
“The Boy With a Thorn in his Side”
acabou se tornando uma das músicas mais famosas da banda. Mais uma vez, um
quase hino gay tornava-se coqueluche entre jovens de várias tribos. Morrissey
finalmente cedeu à tentação e surgiu o primeiro clip dos Smiths, simples, com
Morrissey sassaricando choroso entre microfones e velas. Virou um must da
época. Em Junho de 1986, o grupo lança o magistral The Queen is Dead, onde
claras posiçoes políticas já reveladas em outros trabalhos e frases àcidas em
entrevistas se manifestaram já no dúbio título “A Rainha Está Morta”tanto podia
se referir à soberana da Grã-Bretanha, que Morrissey despreza ad nauseam-quanto
à então conservadora primeira-ministra Margareth Thatcher que Morrissey odeia
com fervor. As outras canções cutucam a igreja (“Vicar In a Tutu”), o mundo
feminino(“Some Girls are Bigger than Others”), a loquacidade ferina do próprio
Morrissey ( “Bigmouth Strikes Again”) e a já falada vontade de fugir e
morrer(“There’s a light That Never Goes Out”) e “I Know It’s Over” fala da
solidão extrema , do mundo que parece estar desabando nas nossas cabeças e de
quando nos sentimos sem ninguém e pior, que não tivemos ninguém nunca.
Em fevereiro de 87, três anos após o
lançamento do primeiro LP, a Rough Trade lançou a coletânea The World Won’t
Listen, que trazia novamente 16 músicas, compreendendo singles e lados B.
Excelente seleção, o LP trazia pérolas como “Panic”e “Asleep”, “Half a Person”e
“London”.
Nos EUA, a mesma coletânea foi lançada
em LP duplo, com o nome de Louder Than Bombs e, obviamente, com mais músicas.
No Brasil foram lançados ambos. Strangeways Here We Come é um bom disco, mas a
banda inicia uma tentativa de trilhar novos caminhos, mudando um pouco o
estilo, mas as pressoes da indústria fonográfica já os deixaram exaustos. Havia
canções maravilhosas, como “A Rush And a Push”, “Girlfriend in a Coma”, “Death
of a Disco Dancer”, mas Marr implorava por férias e queria se distrair,
viajando para os EUA e dedicando-se a alguns projetos particulares de tocar com
outras pessoas. Morrissey não aceitava a reinvindicação do companheiro e forçou
a barra antes e durante as gravaçoes de Strangeways. Andy e Mike assistiram
impotentes. Marr então viajou para Los Angeles para o tão esperado descanso. E
na New Musical Express, um mês antes do lançamento de Strangeways, saiu uma
chamada de capa que se baseava em boatos e fofocas-e que acabou derrubando de
vez o frágil equilíbrio que ainda mantinha reunida a banda. Morrissey se
ofendeu com a matéria na revista e não procurou nem Marr nem os demais membros
da banda para esclarecer a situação. Na semana seguinte, o NME publicava uma
entrevista com Marr dizendo por que ele havia saído dos Smiths. O que era
apenas um mal-entendido virando realidade, por intervenção da imprensa musical
interessada em causar impacto e vender bem. Hoje em dia Morrissey admite que
foi orgulho besta, mas já é tarde demais. O último trabalho de Marr foi o duo
Eletronic, com Bernard Summers, do New Order. Ficou mais para New Order do que
para Smiths, como comentou depois o próprio Bernard.
A Rough Trade lançou Strangeways em
setembro de 87, já em clima de funeral. Em 88, voltou à carga para aproveitar o
culto ao grupo e lançou Rank, o único registro oficial do conjunto. Mike Joyce e
Andy Rourke ainda fizeram parte da banda Adult Nest. Joyce hoje toca bateria
nos Buzzcocks e Rourke caiu no ostracismo. Em Viva Hate(88), Morrissey lançou
um LP muito aguardado e muito criticado, mas que tem momentos inspirados.
Morrissey continua excelente letrista,mas ressente-se da falta de Marr. Bonna
Drag (90), provoca má impressão, mas ainda é inspirado se comparado ao
autoindulgente KillUncle(91). Para compensar Morrissey fez Your Arsenal com
Mick Ronson, ex-guitarrista da Spiders From Mars de Bowie e que fez neste disco
um de seus últimos trabalhos, morrendo em 93. Azar de Morrissey, pois “Ronno”
se mostrou o parceiro ideal para ele, injetando energia no entediado Morrissey,
que neste disco flerta com o rockabilly, estilo do qual já vinha se aproximando.
Fala do ciúme em “We Hate Our Friends When They Became Sucessfull” e dá um tom
ultranacionalista às suas letras, sendo acusado até de simpatizar com os
skinheads, os brutais caretas -- que dificilmente aceitariam Morrissey em suas
fileiras sexistas e racistas. Neste mesmo disco há “I Know It’s Gonna Happen
Someday”, onde Morrissey canta à la crooner de cabaret, feito Bowie em Station
to Station. E em Beethoven Was Deaf , um registro ao vivo de Morrissey solo,
ele prova que está recuperado e que vai continuar com sua verve aguçada anos 90
afora.
Alguns exemplos das frases venenosas
ou pungentes do “Sr. Angústia”: “Eu acho que a dance music destruiu tudo. Eu
desprezo o advento do remix de 12 polegadas, do multi-mix, do dance-mix, do
etcetera-mix. Tudo isso é apenas outro prego no caixão do pop”e “Madonna
representa tudo que há de mais absurdo e ofensivo. Ela está mais perto da
prostituição organizada do que qualquer outra coisa.”, “A princesa Diana nunca
balbuciou na vida algo que tenha sido útil para qualquer membro da raça
humana”e esta última pérola: “Já pensei em me suicidar pelo menos 183 vezes. Eu
realmente respeito o suicídio porque ele é uma forma de ter controle sobre sua
própria vida. E o ato mais forte que uma pessoa pode realizar.”
Em 94 Morrissey lançou o disco
Vauxhall and I, produzido por Steve Lillywhite. E mostrou que está segurando a barra e lançando bons
discos, apesar dos infortúnios.
U2-
A idéia de formar um grupo de rock
partiu do baterista Larry, quando aos 16 anos colocou um anúncio no mural da
escola Mount Temple-a primeira escola “progressista liberal”da
Irlanda-procurando músicos. Definidos os membros, percebeu-se que o baixista
Adam Clayton era o único que tinha participado de outra banda (The Max Quad),
de onde fora expulso por indisciplina. Larry tocava bateria e Dave Evans já
sabia guitarra. Só não estava definido o que o jovem Paul Hewson faria na
banda. Ele afirmara que sabia tocar guitarra, mas não ia além de alguns
acordes. Foi colocado para cantar-e os colegas lhe apelidaram de Bono Vox(boa
voz, em latim).
No cenário da época(1978), em que eles
começavam ali em Dublin, Irlanda, o movimento punk fazia furor. O U2 resolveu
assimilar um pouco do punk, mas recorrendo às melodias dos 50/60, especialmente
o também irlandês Van Morrisson. Começaram a tocar na zona norte de Dublin, em
alguns clubes. Logo surgiu Paul Guiness, empresário artístico que os avisou
para não se exporem em público sem ter desenvolvido a própria música. Os
rapazes levaram a sério e só em 79 voltaram a fazer shows, agora no centro de
Dublin. O Hot Press, jornal musical local, passou a publicar matérias falando
da banda. No mesmo ano a banda ganhou um concurso de música e gravar o míni-LP
U23, lançado apenas na Irlanda.
Mas devido à pouca divulgação, a banda
passou para a Island Records, com o apoio de Paul McGuiness. A gravadora já
tinha Bob Marley, Grace Jones e Steve Winwood. A gravadora oferecia uma relação
bem próxima com seus artistas e na época era bem pequena. “11 O’Clock Tick
Tock”foi o primeiro single do U2 lançado pela Island. A canção não deixava
definido o som do grupo e após uma pequena turnê pela Inglaterra, no outono de
1980 eles se trancaram no estúdio com o produtor Steve Lillywhite para
finalmente gravarem seu primeiro àlbum.
Surgiu então o disco Boy. Lillywhite
bolou sons incomuns e ruídos para incrementar o som do grupo e dar uma sensação
de mistério, distância e profundidade. Isso funcionou em músicas como “I Will
Follow”,”The Eletric Co.”e “Into The Heart”. A crítica aprovou e eles formaram
logo fãs fiéis.
A partir do sucesso na Inglaterra, o
U2 conquistou os americanos com suas performances “dramáticas”. Em Londres,
depois de tocarem no Hammersmith Palais foram cumprimentados no camarim por
Bruce Springsteen.
No verão de 1981, voltaram à Dublin
para um segundo álbum, ainda com Lillywhite. Mas antes de começarem a gravar, o
livro onde Bono escrevia as letras foi roubado e ele teve que começar tudo de
novo enquanto eles tocavam no estúdio. Desorientados com o sucesso e com as
turnês, eles cometeram um àlbum fraco, que assim mesmo conseguiu boa posição
nas paradas e foi arrasado pela crítica. As vendas foram menores que a do
anterior, mas “Gloria”, um rock que saía bem ao vivo e tinha “inclinação
religiosa”, contribuiu para o ainda exíguo repertório do U2.
Mas o conjunto se esforçou em manter a
fama em turnês na Inglaterra, EUA e na própria Dublin, onde reuniam 5.000
pessoas num concerto e ganhavam prêmios aos montes do jornal Hot Press em 1982.
Com Lillywhite ajudando-os, voltaram
para o estúdio e em Março de 83 lançaram War, que entrou logo na semana de
lançamento na parada de sucessos. As letras panfletárias garantiram a
notoriedade da banda. Causas como a do sindicato polonês Solidariedade foram
abraçadas. “New Years Day” se inspirava em Lech Walesa. “Sunday Bloody
Sunday”-não confundir com a música de mesmo nome de John Lennon, embora ambas
tenham o mesmo nome e o mesmo tema-era baseada num massacre de civis ocorrido
na Irlanda do Norte em 72. Dizia:
“Garrafas quebradas sob os pés das
crianças/Corpos espalhados numa rua sem saída/Mas eu não vou atender ao chamado
da batalha/Ele me coloca, ele me coloca na parede”.
A reação da crítica foi mista. Muitos
execraram aquele panfletarismo pop, mas houve quem elogiasse e mitificasse a
banda. Chegou-se a de chamar “Sunday Bloody Sunday”de “hino de uma geração”.
Eles então ascenderam para um disco de ouro nos EUA, com shows em grandes
estádios, tocando para 10.000 pessoas por show. Em Agosto de 83, o U2 se juntou
a Eurythmics, Simple Minds e Big Country para um show em Dublin, com público de
25.000 pessoas. Depois disso lançaram Under a Blood Red Sky, o primeiro
registro ao vivo das performances do grupo em disco.
Mas depois disso a banda entrou em
recesso por quase dois anos. Em 84 os rapazes romperam com Lillywhite. Passaram
a trabalhar com Daniel Lanois(produtor canadense com grande know-how de
técnicas e engenharia de gravação) e Brian Eno-saído do Roxy-Music e que já
havia produzido David Bowie em sua trilogia berlinense. O disco de 84 tinha seu
título tirado de uma exposição de quadros de sobreviventes de Hiroshima e
Nagasaki, The Unforgettable Fire, “o Fogo Inesquecível”tinha os “climas
etéreos” dos primeiros dois Lps mais o panfletarismo pop, como em “Pride”, uma
homenagem a Martin Luther King, que dizia:
“De manhã cedo, 4 de Abril/Um tiro no
céu de Memphis/Finalmente livre, eles tiraram sua vida/Mas não conseguiram
tirar seu orgulho.” E “MLK”era outra
homenagem ao líder negro americano. Aliás, neste disco o U2 fala sobre Elvis e
a América, em “Elvis Presley and America”e “4th of July”.O àlbum entrou nas
paradas logo de cara e aumentou as vendagens do grupo.
Em Março de 1985 até a Rolling Stone
publicou uma foto da banda na capa e os elegeu a maior banda de rock dos anos
80. Naquele ano eles tocaram no Live Aid, promovido por Bob Geldof -que vive
Pink no filme The Wall-para socorrer os famintos da Etiópia. E neste concerto
Bono dançou abraçado com uma fã que tirou da platéia durante o show, que foi
visto por um bilhão de pessoas pela TV, e que garantiu a popularidade do grupo
mundo afora.
O U2 passou então a uma espécie de
paladino pop dos fracos e oprimidos, participando de shows como “Sun
City:Artistas Contra o Apartheid” e shows a favor da anistia internacional.
Ficaram sem gravar mais três anos. Voltaram então com The Joshua Tree, ainda no
estilo rock-militante que os alçara à condição de superbanda. O nome do
conjunto se referia ao tipo de cacto que ilustra ao fundo uma das fotos do
álbum. Em Abril eles saem na capa da Time, e antes deles só Beatles e The Who
haviam ilustrado a capa da revista. “With or Without You” era uma balada que
começava assim: “Vejo a pedra nos seus
olhos/Vejo o tormento no seu rosto/Espero por você/Num passe de mágica muda-se
o destino/Numa cama do pregos ela me faz esperar/E eu espero...sem você”.
A política aparece em “Mothers of The
Disappeared”, que fala das madres e abuelitas na plaza de Mayo, que perderam
seus filhos na ditadura argentina, “Bullet Blue Sky” fala sobre a América
Central e “Running to Stand Still”fala da vida de uma viciada em heroína e “In
God’s Country”Bono cantava as delícias da América, este “País Divino”, onde “o
sono vem como uma droga”. Mas “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” foi
outra música elevada a “hino de uma geração” e dizia, com fervor pop quase
religioso:
“Acredito na chegada do Reino/Daí
todas as cores sangrarão numa só/Mas, sim, ainda estou correndo/Você soltou as
algemas/ Soltou as correntes/ Você carregou a cruz da minha vergonha.” The
Joshua Tree vendeu 14 milhões de cópias no mundo todo. No dia 2 de Março de 88,
o U2 ganhou dois grammys (maior prêmio de música norte-americana ), como melhor
grupo de rock e melhor àlbum de 1987, batendo até mesmo o novo disco de Michael
Jackson, Bad, que era o favorito da noite. A turnê do disco passou por 15
países, durou 264 dias e foi assistida por três milhoes de pessoas.
Depois desta turnê eles lançaram o
filme dirigido por Phil Joanou, o documentário “U2-Rattle and Hum”,que tinha
cenas dos shows da turnê americana e momentos do grupo na estrada. Este é um
dos mais pretensiosos fimes de rock, pois não tem sequer uma história, como por
exemplo “Help”, dos Beatles e o clássico”200 Motels”, de Frank Zappa. O àlbum
que era a trilha sonora do filme também veio e vendeu bem, e, apesar de ter
duetos com Bob Dylan e B. B. King teve de ser preenchido com covers de “All
Along The Watchtower” e “Helter Skelter” às quais o U2 só acrescentou seus
trejeitos, sendo bem inferiores às originais. Aliás o U2 tem essa sina de só
tocar clássicos como “Paint It Black” e “Are You Lonesome Tonight” em versões
bem mais fracas do que suas gravações originais, com Rolling Stones e Elvis
Presley no caso das duas últimas citadas.
No final de 91, com o àlbum Achtung
Baby, a banda voltou a ter Brian Eno, Daniel Lanois e de quebra, Steve
Lillywhite. E eles abandonaram o messianismo e os temas americanos para ir
gravar em Berlim e aproveitar para colocar um embalo mais dançante em faixas
como “Zoo Station”e “Mysterious Ways”. As letras se concentram no assunto amor,
mas mais elaboradas, como em “So Cruel”e “Who’s Gonna Ride Your Wild
Hourses”.Mas a música mais interessante do àlbum é “Until The End of The
World”, que sinaliza o que viria no àlbum de 1994, Zooropa, e foi feita para o
filme de Win Wenders, Até o Fim Do Mundo.
Zooropa saiu em 94 com um forte
aparato de marketing , e é um àlbum cheio de ruídos bizarros e, segundo Bono,
inspirado em livros como Neuromancer, de William Gibson, inovador da ficção
científica nos 80 e William Burroughs, de Junkie e Almoço Nu -- e que tem pelo
menos uma faixa inspirada nas escatologias/bebedeiras do escritor Charles
Bukowski, “Dirty Day”. Tem atrativos, como a canção que Bono compôs para o
veterano Johnny Cash e que é a melhor faixa do àlbum. Este disco teve menor
aproveitamento nas rádios do que o anterior, que produziu vários hits. Uma das
mais tocadas é “Lemon ”. A partir deste disco o U2 difere radicalmente dos
discos dos anos 80. E Bono posou em fotos travestido, entre outras surpresas
para os fãs antigos. O U2 parece hoje acreditar que o que está mudando o mundo
é a tecnologia, computadores, TV a cabo, etc. E investe nisso. Veremos no que
vai dar." 25/11/2007
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