domingo, 29 de agosto de 2021

Da New Wave ao Grunge

 

150      Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior          A Nova Onda (Parte 1)            lucio@bdonline.com.br          "No fim dos anos 70, com o fim do domínio da discoteca e do punk, surgiu uma New Wave, a  Nova Onda que agitou a cena Pop. O rótulo abrange grupos como U2, Talking Heads, Culture Club e tudo o que se quiser colocar nesta lista, contanto que seja Postpunk Pop Avantguarde. Os grupos em geral renegam os rótulos, mesmo a denominação de New Wave.

 

Os new wavers são profundamente conscientes do quanto importa a imagem no rock e debatem e pensam profundamente sobre detalhes como o nome do grupo, sua roupa, sua maquiagem, sua ""filosofia"" e a de suas músicas, sua promoção através de videoclipes e rádios. Esta sensibilidade para o marketing se consolidou nos anos 70, com David Bowie, Marc Bolan, Kiss e os Rolling Stones, entre outros, usando dos mais variados truques para conseguir espaço na imprensa, nas rádios, e congêneres. Os New Wavers são seus descendentes notórios,com muita sensibilidade publicitária. Os conjuntos tendiam, no início dos 80, a reciclar o rockabilly, o topete, a brilhantina, como os Stray Cats. Havia uma notória tendência a retomar o rock and roll dos anos 50.

 

A New Wave americana tinha seu QG em Manhattan. Lá, invocavam influências que iam de Yoko Ono ao Velvet Underground. Surgiram também grupos regionais como os B-52s, da Georgia e os Cars, de Boston. Destacou-se o sexteto novaiorquino Blondie, tendo como destaque a sex- simbol Debbie Harry, compondo e interpretando. Na Inglaterra o rótulo New Wave também foi generosamente usado, mas para o “positive punk”, englobando aí conjuntos pouco expressivos. Ainda como parente da New Wave surgiu o rótulo New Romantic, uma tendência que marcou mais a glamourosa moda inglesa do que a música. Adam & the Ants, uma das bandas mais famosas desta vertente, desapareceu após 85, quando a New Wave ficou demodeé. Seu principal componente, “Adam Ant”, hoje ganha a vida como ator, sem a maquiagem pesada que usava nos tempos em que foi famoso.

 

Vamos falar agora do “punk chique”:Blondie. Das bandas que pintavam na toca noturna que viu nascer Talking Heads, Television, Patti Smith Group e outros, o Blondie foi a que mais se destacou, obtendo o sucesso rápido.Comandando os músicos vestidos de ternos refinados estava uma garota de curvas generosas, Deborah Harry. Foi um grupo pop por excelência, com todos os clichês do rock americano dos 50 e 60, inclusive as baladas...Debbie Harry era uma ex-coelhinha da playboy, e cantava desde o final dos anos 60, onde começou num grupo à base de violoes acústicos e flower power. Depois passou um tempo como garçonete do Max’s Kansas City, bar onde andavam Lou Reed, Iggy Pop, Lennon e Yoko e outras figuras, no início dos 70. Seu primeiro álbum, Blondie, não vendeu muito. A canção In the Flesh chamou a atenção da Chrysalis, um selo de gravação bem maior daquele onde a banda estava, o Private Stock. Passaram a ter distribuição mundial pela RCA e logo os compactos “Denis” e “I’m Touch by your Presence” emplacaram na Europa. O passo seguinte seria o álbum Parallel Lines, com o produtor inglês Mike Chapman. O Blondie conquistou os EUA com a canção dançante Heart of Glass. Seu arranjo é calcado nas embalagens eletronicas produzidas por Giorgio Moroder para Donna Summer. Aqui no Brasil, Heart of Glass entrou em trilha de novela , nosso “glorioso” substituto para o compacto. Continuaram este rumo nos álbuns Eat to the Beat, de 79 e o ambicioso Autoamerican, de 80. Debbie foi assunto nas colunas sociais em 1980, foi capa de revistas, tirou fotos ao lado de Truman Capote e Andy Warhol como uma Superstar, foi elogiada e paparicada. A partir deste auge, porém, o conjunto entrou em recesso, com os integrantes ou pulando fora ou mais ocupados com projetos individuais. Ao voltarem à ativa em 82, fracassaram com o disco the Hunter, cancelando a excursão inglesa devido à pouca venda de ingressos. Pouco depois a banda acabou após sete anos de existência. Ninguém do conjunto conseguiu reviver os bons tempos, nem Debbie. Em 94 ela amargou a venda de apenas 14.000 cópias de seu último álbum, venda que para o mercado americano é baixíssima. A moça acabou sendo mandada “ir passear” pela sua gravadora. Um triste fim. Agora, em 95, Debbie Harry ressuscita o Blondie. E explica que quem hoje está fazendo algo pelo Pop são as mulheres e os gays. Coroada de razão.

 

Outra banda dessa geração eram os Talking Heads. Foram, por volta de 85, o “quente”do momento. Eram um grupo excêntrico, que no início vestia roupas simples, despojadas, com um toque cool que encantava os modernos, os chiques, a crítica. Seguiram, sem premeditação, a frase de Frank Zappa:”A áfrica é o flower power dos 80.”Com suas guitarras incisivas e o canto de David Byrne, monocórdico, eles demoraram a gravar. Nos primeiros anos 70, David Byrne, escocês fixado desde os três anos nos EUA, estudava design em Rhode Island. Seu primeiro álbum, intitulado “77”, foi muito elogiado, mas não teve bom desempenho comercial. Foi gravado em meio à hostilidade entre Byrne e o produtor imposto pela gravadora, mas mesmo assim tinha ótimos momentos. Só fizeram sucesso após seu segundo disco, do qual saiu a balada “Take me to the River” que passou pela parada de compactos americana. No disco de 79, Fear of Music, as músicas vieram com os arranjos elaborados por Brian Eno e títulos como “Ar”, “Animais”, “Cidades”,”Drogas”. Os Heads mergulharam na epidemia afro-funk, com Remain In Light( 80), sendo que Byrne tramou com Eno o disco My Life in the Bush of Ghosts, lançado em 81. Este disco é hoje uma espécie de bíblia da World Music.

 

Em 82, o disco The Name of This Band is Talkig Heads pegará os rapazes se transformando em superbanda afro-funky. Este disco ao vivo registra a turnê mundial da banda, indo até o Japão. Depois disso, os quatro também se envolveram em projetos individuais. Tina e Chris fundaram o Tom Tom Club, usina de pop dançante que logo emplaca “Genius of Love” e “Wordy Rappinghood”como hits no mundo todo. Houve ainda discos como o do filme de Byrne, True Stories, e outros, como Mr Jones(87) e Naked(88) até a banda acabar, em 89. A partir daí o maior destaque entre os membros foi mesmo Byrne, que veio ao Brasil buscar inspiração e gravou o disco Rei Momo, iniciando sua fase solo, decididamente mais para a World Music. Redescobriu para o mercado exterior o músico Tomzé, marginalizado pelo showbusiness brasileiro, em seus passeios pela Bahia. Em 94 lançou um disco sombrio, introspectivo e muito pessoal, onde exorciza fantasmas pessoais, na linha de Magic and Loss, de Lou Reed.

 

Mas para muita gente o espírito New Waver encarnou mesmo foi em Athens, na pele dos cinco integrantes do B-52’s. Eles espremeram todos os filmes B de ficção científica e terror dos anos 50 e 60 e catástrofe dos anos 70, conservando somente a essência do mau gosto americano. O clima era criado pelo pop dançante dos anos 50 e os 60 pré-Beatles. O guarda-roupa era neo-retro, as perucas “bolo de noiva”, tudo em meio a danças destrambelhadas, moda do sintético-aberrante,o supra-sumo da então todo-poderosa New Wave. O primeiro LP,que trazia “Rock Lobster”, grande hit que impulsionou a venda do disco, que chegou a 500.000 cópias sem tocar nas rádios americanas. Após outros LPs bem sucedidos, Wild Planet(80), Mesopotamia(82),Whammy(83), eles vieram ao Rock and Rio, mas perderam Ricky Wilson, guitarrista e arranjador, para a Aids, em Outubro de 85. Abalados, eles lançaram o LP Bouncing Off The Satellites somente em 87. Fracasso total. Afinal, Ricky era irmão de Cindy(vocais) e cérebro musical dos B-52’s. Numa espetacular volta por cima, estouraram em 89 com Cosmic Thing , emplacando hits como “Love Shack” e “Roam”. Hoje prosseguem como trio, sem Cindy, e tocaram Meet the Flinststones no filme de Spielberg adaptado do antigo desenho animado dos anos 60. “Depois que Ricky se foi, passamos um período de lamentação. Não tínhamos certeza se queríamos ou não prosseguir sendo uma banda. Cindy não tinha certeza se deveria continuar sem Ricky. Foi um período muito difícil para ela. Para todos nós, porque perdemos uma pessoa que amávamos muitíssimo.” Assim Keith Stricland, baterista da banda, define a fase posterior à perda do amigo. Na nova fase Keith assumiu a responsabilidade sobre a guitarra, pois ele conhecia muito bem o estilo de Ricky. O clima de comuna hippie dá o tom nos B-52’s, onde ninguém toma drogas, bebe ou fuma, a homeopatia e a astrologia imperam, todos são vegetarianos, exceto Cindy. Mas é Cindy quem explica: “protestar tem que ser divertido, senão não vale a pena.” E finaliza: “nosso lema é: diversão, mas com um propósito.”

 

 

<b>As Novas Garotas do Rock</b>

 

Uma das características dos anos 80 foi a emergência de bandas de garotas, até então pouco presentes no rock. As mulheres estavam mais presentes como objetos de desejo, fãs ensandecidas, groupies. Com a nova consciência feminina surgiu toda uma nova safra de cantoras: Björk e os Sugarcubes, Chrissie Hynde, dos Pretenders, Cindy Wilson e Kate Pierson com os B-52’s e Nina Hagen, direto da Alemanha Oriental, fazendo um rock performático que devia muito a David Bowie fase Ziggy Stardust e Frank Zappa. Laurie Anderson veio de New York com todo um aparato multimídia e uma um humor ferino contra o American Way of Life. Siouxsie Sioux virou diva gótica, ela se destacou do movimento punk dirigindo-se para um lado mais sombrio, junto com sua banda, os Banshees. A saxofonista italiana Jo Squillo apresentava-se com os seios à mostra, e com isso conseguiu imediata notoriedade. Sobre seus dotes musicais...hã...é melhor esquecer o assunto. A final, ela própria já foi esquecida -- depois dela já fizeram coisas mais chocantes. Pobre Jo Squillo, ela agora me parece ingênua.

 

Entre estas estava uma garota de Michigan que parecia destinada a esgotar rapidamente seus quinze minutos de fama. Sua voz era limitadíssima, seus dotes como compositora e instrumentista inexistiam. Seu nome: Madonna Louise Ciccione.

 

 

<b>Madonna</b>

 

 

Seu primeiro hit sairia em 82, e chamava-se “Everybody”. Antes, ela tentara tocar bateria numa banda à la the Police, The Breakfast Club. Havia testado suas músicas em discotecas e via que o público aprovava. Seu cabelo pintado, suas poses à la Marilyn Monroe e seu visual “provocante” lhe garantiram espaço na mídia. Tinha sido dançarina e acompanhara o astro da discoteca Patrick Hernandez até Paris, quando ainda não era famosa. Sua família de origem ítalo-americana pouco apoio lhe dera, depois que se mudara para New York, nos fins dos anos 70. Trabalhara de garçonete, modelo para jovens artistas -- seu corpo musculoso era fácil de desenhar -- e morara num bairro pobre. Na sua primeira fase posava com lingeries sobre as roupas, pulseiras, crucifixos, colares e se dizia uma “material girl”. Mostrou-se uma diluidora por excelência, aproveitando tudo o que pudesse na cultura underground americana para pasteurizar e vender às massas americanas. Madonna precisa sempre de novos truques, para servir como kitsch e vender muito. Madonna, podemos concluir, é muito escândalo com uma trilha sonora para as rádios FM. Ela é uma esperta estrategista de marketing e por isso chegou onde está. Seu casamento com o ator Sean Penn serviu para encher colunas socias, suas brigas viraram notícia, sua separação, tudo foi um lance inteligente. E rendoso. Ela diluiu a dança Vogue, até então restrita à comunidade gay novaiorquina. Tentou carreira no cinema, apesar dos nulos recursos como atriz. Mas conseguiu chamar atenção ao fazer papéis como o de missionária virgem em Surpresas em Xangai e “roqueira maluquinha” em Procura-se Susan Desesperadamente. Só consegue fazer papel dela mesma, mas ainda assim criticou os roteiristas destes filmes. Trocando de visual como trocava de roupa, tentou ser chique em Dick Tracy, de Warren Beatty, seu namorado na época. De 88 até 94, seguiu ao sabor das modas, dançando e beijando um santo negro no clip de Like a Prayer -- que foi apresentado até no programa eleitoral de um obscuro “Partido Humanista”, aqui no Brasil, sem que ninguém desse a mínima para este fato absurdo. O clip também valeu protestos do Vaticano que devem ter deixado Madonna exultante. Em tempos de AIDS, Madonna fez da pornografia multimídia um rico filão, explorado por ela em Na Cama com Madonna, seu filme mais narcisista. No caríssimo livro onde expõe suas fantasias sexuais, Sex, Madonna vulgarizou o sadomasoquismo. Em Corpo em Evidência ela até deitava sobre cacos de vidro com o ator Willem Dafoe. Madonna ampliou suas riquezas, e hoje é uma empresa altamente lucrativa, o conglomerado Madonna S.A. Ela já rendeu nada menos do que 1,35 bilhões de dólares à Warner.

 

Já em plenos anos 90, Madonna, loira aeróbica e saudável, “a cara dos anos 80”, está decaindo progressivamente de popularidade. E já está mudando outra vez, tentando manter o status de símbolo sexual. Após vulgaridades e baixarias incontáveis, ela diz que quer ter um filho. Participou do filme “Olhos de Serpente”, do polêmico Abel Ferrara, tentando fazer “arte”também no cinema, largando os antigos filmes “comerciais”. Seu novo disco, Bedtime Stories(94), tenta ligar Madonna ao acid jazz, com composições cheias de instrumentos acústicos e bases dançantes, tudo baseado em clássicos do jazz que a loirosa dilui, repetindo antigos processos. Em suma, Madonna não nos deixa solução, quem não a ama, a odeia. Virou até objeto de estudos “acadêmicos”, como o livro “Personas Sexuais”, de Camille Paglia. Criou-se a Madonna apocalíptica, baudrillardiana, mas há também a lacaniana e a freudiana; enfim, parece que o que estes eruditos americanos queriam é pegar carona no espetáculo da cultura de massa, recheando a conta bancária, como afirmou um crítico mais impiedoso (Robert Hughes, em seu livro A Cultura da Reclamação).

 

 

<b>The Smiths</b>

 

 

Junto com o The Cure, formam as duas maiores bandas dos anos 80. A banda foi formada em Manchester, por Morrissey, um ex-bibliotecário, e Johnny Marr. Morrissey escrevia poemas, era fã de New York Dolls, Roxy Music, David Bowie, T. Rex. Era apologista de uma tradição britânica que ia de Petula Clark à Copa de 66(a última vencida pelos ingleses, que aliás deram a este esporte sua feição atual). Morrissey encontrou em Marr o parceiro ideal, que traduzia em música as imagens melancólicas de seus poemas. E Johnny encontrou um novo alento para sua banda, que do contrário seria inexpressiva por falta de boas letras. Manchester era uma cidade do norte industrial e decadente. O clima lá, para os jovens de 1983, era de tédio. O amargor daqueles jovens dos subúrbios industriais e conjuntos habitacionais se condensou na música da banda. Seu título “Os Silvas”, era dedicado àqueles desconhecidos, aquela massa para a qual os Smiths foram um espelho sincero.

Em seus anos de existência, de 83 a 87, lançaram apenas quatro discos, reunindo os singles na coletânea Hatfull of Hollow e uma apresentação ao vivo (o disco Rank). Fizeram belos videoclipes, chegando a trabalhar com o diretor de vanguarda Derek Jarman, morto de AIDS neste ano de 1994. Os rapazes chegaram a ser chamados de “Beatles dos anos 80”. A crítica, em especial a inglesa, os elogiou muito, e uma legião de fãs doentios se formou.

 

Morrissey se destacava pelas suas qualidades como vocalista-poeta, que o colocam ao lado de Ian Curtis e Jim Morrison. Era leitor de Oscar Wilde,citando-o em uma letra(Cemetry Gates, do álbum the Queen is Dead,1986), do seguinte modo : “Keats e Yeats estão do seu lado/Mas você perde/porque Wilde está ao meu”. Joana D’arc também é citada no mesmo disco, em “Bigmouth Strikes Again”:

 

“E agora eu sei como Joana D’arc se sentiu, /quando as chamas roçaram seu nariz romano/ E seu walkman começou a derreter.”Em “Panic”, Morrissey pede que enforquem o DJ, porque “ a música que ele toca constantemente não me fala ao coração”. Em “There’s a Light that Never Goes Out”, uma de suas canções mais tocadas, Morrissey canta:

 

“Passeando no seu carro/Eu nunca, nunca penso em ir para casa/ Porque não tenho uma casa/ Me leve para sair hoje/ porque eu quero ver pessoas e quero ver luzes./Passeando no seu carro, por favor não me leve para casa/porque não se trata da minha casa/ é a deles e lá não sou bem-vindo nunca mais”.

 

Quando surgiram em 1983, os Smiths foram apontados pela crítica especializada como o grande futuro do rock inglês. E do rock mundial. Em 1987, após apenas quatro anos de pleno sucesso, a banda anunciou o seu fim.

 

Johnny Marr, antes de formar os Smiths, trabalhava numa loja de discos em Manchester. Nas horas vagas tocava guitarra com seus amigos Andy Rourke(baixo)e Mike Joyce( bateria) e compunha belas melodias, inspirando-se no farto material de raridades da discoteca de seu chefe. Música bela-vocais e letras capengas. Faltava um precioso ingrediente para que a fórmula funcionasse. A figura se chamava Stephen Morrissey, rapaz que passara boa parte de sua adolescência vendo filmes/fotos de James Dean e livros de Oscar Wilde. E além disso era fanático pelo grupo de glitter-rock americano New York Dolls. Tal currículo demonstra a paixão de Morrissey pelo diferente, marginal. Sem a banda, estaria condenado a recitar poemas para uns gatos pingados.

 

Logo, o quarteto foi descoberto por um tal de Geoff Travis, que era responsável por um selo independente, o Rough Trade, fundado em 1976 e po um tempo não passou de uma lojinha na área oeste de Londres, na época uma sociedade entre Travis e o norte-americano Ken Davidson. Produzindo e vendendo fanzines, a Rough Trade acabou se tornando um endereço quente para que bandas desconhecidas e ditas “alternativas” mandassem suas demo tapes. Quando Travis abraçou o movimento punk, nos idos lde 77, Davidson resolveu abandonar o barco e rompeu a sociedade. Mau negócio, pois naquele verão a loja receberia os integrantes de um grupo chamado Metal Urbaine-algo como um Sex Pistols francês-Travis gostou tanto do som que produziu o primeiro vinil do grupo-e da sua própria gravadora-e, aproveitando a empreitada,Geoff Travis fundou a distribuidora Rough Trade, driblando o problema de distribuição que assolava os selos independentes. O fato coincidiu com a fundação do The Cartel, uma organização de distribuidores independentes que reforçou a atuação indie na Inglaterra. O selo Rough Trade entrou na década de 80 lançando diversas e importantes bandas como Cabaret Voltaire, The Fall e Aztec Camera, reforçando sua importância no mercado e provando que independente não queria dizer baixa qualidade. Sem dúvida, a “aquisição” dos Smiths comprovou a força do circuito independente.

 

Assim, em 83, após a febre disco e a anarquia punk surgiu o single “This Charming Man”, uma bela canção apoiada no esquema guitarra-baixo-bateria, de melodia instigante e letra sensível. Depois vieram os singles “Hand in Glove”e “What Diference Does It Make?”, dois outros embrulhos sonoros de qualidade superior.O semanário inglês New Musical Express rasgava infinitas sedas e atirava toneladas de confete na novidade vinda de Manchester. Clubes noturnos adotavam o som do grupo e público reagia com adoração. Em fevereiro de 1984, saía o álbum mais aguardado do ano, The Smiths. Na capa, Joe Dalessandro, ícone homo-másculo de Andy Warhol. No vinil brilhavam outras pérolas, como “Still Ill” e “Reel Around The Fountain”.O LP entrou em segundo lugar nas paradas locais e a banda acabou sendo consagrada como a mais popular naquele ano na Inglaterra.

 

Antes de acabar 1984, a Rough Trade lançou, em Novembro, o álbum Hatfull of Hollow, que reunia singles e outtakes, como as Peel Sessions da rádio BBC. O LP trazia 16 músicas e foi um enorme sucesso de vendas e críticas. Hatfull foi também a estréia da banda no Brasil-apesar de lançado aqui apenas em 1985. Além da qualidade musical, os discos dos Smiths se destacavam pela excelente acabamento da produção gráfica, onde brilhavam encartes com as letras e capas de muito bom gosto. Já seus shows nunca foram grandiloqüente de bandas como U2 e Simple Minds, mas quem viu garante, era diversão genuína. Nos shows Morrissey usava ramalhetes de flores nos bolsos das calças e camisões estampados que cascateavam pelo seu esquálido corpo terminando por mostrar seu ombro nu, pálido e ossudo. Em plena época de ascensão da MTV,os Smiths se recusavam a fazer clips-Morrissey estava traumatizado pela péssima montagem que a Warner fizera para divulgar a música “How Soon Is Now” nos EUA.

Muito do mito em torno dos Smiths era devido à Morrissey. Ela sabia se cercar com uma aura de mistério e dor que atingia em cheio os anseios da juventude dos anos 80. A maioria das músicas descrevia não só o tormento de ser diferente como desventuras do homossexualismo masculino. E às vezes as mensagens eram explícitas, como a apologia da pedofilia gay em “Reel Around The Fountain”, e “How Soon Is Now” clama o direito de viver sua preferência e chora a angústia da espera do amor que todos necessitam; Still Ill fala diretamente de quando a mente não consegue controlar as vontades do corpo;e “William It Was Really Nothing” execra um tal de William que trocou o cantor por uma “garota gorda e que só pensa em casar”. Em Fevereiro de 1985 chegava ao mercado o LP Meat is Murder, que entre mil deprês trazia o libelo vegetariano “carne é assassinato”. Este álbum também teve uma grande aceitação pública. Mas muito da arte desta banda estava nos singles, dos quais muitos nunca saíram em álbuns, mas que tinham capas e acabamento comparáveis aos álbuns. Até aqui no Brasil, onde o mercado de compactos foi sepultado, entrou na onda e lançou dois clássicos do grupo( The Boy With The Thorn in his Side e Panic).

 

“The Boy With a Thorn in his Side” acabou se tornando uma das músicas mais famosas da banda. Mais uma vez, um quase hino gay tornava-se coqueluche entre jovens de várias tribos. Morrissey finalmente cedeu à tentação e surgiu o primeiro clip dos Smiths, simples, com Morrissey sassaricando choroso entre microfones e velas. Virou um must da época. Em Junho de 1986, o grupo lança o magistral The Queen is Dead, onde claras posiçoes políticas já reveladas em outros trabalhos e frases àcidas em entrevistas se manifestaram já no dúbio título “A Rainha Está Morta”tanto podia se referir à soberana da Grã-Bretanha, que Morrissey despreza ad nauseam-quanto à então conservadora primeira-ministra Margareth Thatcher que Morrissey odeia com fervor. As outras canções cutucam a igreja (“Vicar In a Tutu”), o mundo feminino(“Some Girls are Bigger than Others”), a loquacidade ferina do próprio Morrissey ( “Bigmouth Strikes Again”) e a já falada vontade de fugir e morrer(“There’s a light That Never Goes Out”) e “I Know It’s Over” fala da solidão extrema , do mundo que parece estar desabando nas nossas cabeças e de quando nos sentimos sem ninguém e pior, que não tivemos ninguém nunca.

 

Em fevereiro de 87, três anos após o lançamento do primeiro LP, a Rough Trade lançou a coletânea The World Won’t Listen, que trazia novamente 16 músicas, compreendendo singles e lados B. Excelente seleção, o LP trazia pérolas como “Panic”e “Asleep”, “Half a Person”e “London”.

 

Nos EUA, a mesma coletânea foi lançada em LP duplo, com o nome de Louder Than Bombs e, obviamente, com mais músicas. No Brasil foram lançados ambos. Strangeways Here We Come é um bom disco, mas a banda inicia uma tentativa de trilhar novos caminhos, mudando um pouco o estilo, mas as pressoes da indústria fonográfica já os deixaram exaustos. Havia canções maravilhosas, como “A Rush And a Push”, “Girlfriend in a Coma”, “Death of a Disco Dancer”, mas Marr implorava por férias e queria se distrair, viajando para os EUA e dedicando-se a alguns projetos particulares de tocar com outras pessoas. Morrissey não aceitava a reinvindicação do companheiro e forçou a barra antes e durante as gravaçoes de Strangeways. Andy e Mike assistiram impotentes. Marr então viajou para Los Angeles para o tão esperado descanso. E na New Musical Express, um mês antes do lançamento de Strangeways, saiu uma chamada de capa que se baseava em boatos e fofocas-e que acabou derrubando de vez o frágil equilíbrio que ainda mantinha reunida a banda. Morrissey se ofendeu com a matéria na revista e não procurou nem Marr nem os demais membros da banda para esclarecer a situação. Na semana seguinte, o NME publicava uma entrevista com Marr dizendo por que ele havia saído dos Smiths. O que era apenas um mal-entendido virando realidade, por intervenção da imprensa musical interessada em causar impacto e vender bem. Hoje em dia Morrissey admite que foi orgulho besta, mas já é tarde demais. O último trabalho de Marr foi o duo Eletronic, com Bernard Summers, do New Order. Ficou mais para New Order do que para Smiths, como comentou depois o próprio Bernard.

 

A Rough Trade lançou Strangeways em setembro de 87, já em clima de funeral. Em 88, voltou à carga para aproveitar o culto ao grupo e lançou Rank, o único registro oficial do conjunto. Mike Joyce e Andy Rourke ainda fizeram parte da banda Adult Nest. Joyce hoje toca bateria nos Buzzcocks e Rourke caiu no ostracismo. Em Viva Hate(88), Morrissey lançou um LP muito aguardado e muito criticado, mas que tem momentos inspirados. Morrissey continua excelente letrista,mas ressente-se da falta de Marr. Bonna Drag (90), provoca má impressão, mas ainda é inspirado se comparado ao autoindulgente KillUncle(91). Para compensar Morrissey fez Your Arsenal com Mick Ronson, ex-guitarrista da Spiders From Mars de Bowie e que fez neste disco um de seus últimos trabalhos, morrendo em 93. Azar de Morrissey, pois “Ronno” se mostrou o parceiro ideal para ele, injetando energia no entediado Morrissey, que neste disco flerta com o rockabilly, estilo do qual já vinha se aproximando. Fala do ciúme em “We Hate Our Friends When They Became Sucessfull” e dá um tom ultranacionalista às suas letras, sendo acusado até de simpatizar com os skinheads, os brutais caretas -- que dificilmente aceitariam Morrissey em suas fileiras sexistas e racistas. Neste mesmo disco há “I Know It’s Gonna Happen Someday”, onde Morrissey canta à la crooner de cabaret, feito Bowie em Station to Station. E em Beethoven Was Deaf , um registro ao vivo de Morrissey solo, ele prova que está recuperado e que vai continuar com sua verve aguçada anos 90 afora.

Alguns exemplos das frases venenosas ou pungentes do “Sr. Angústia”: “Eu acho que a dance music destruiu tudo. Eu desprezo o advento do remix de 12 polegadas, do multi-mix, do dance-mix, do etcetera-mix. Tudo isso é apenas outro prego no caixão do pop”e “Madonna representa tudo que há de mais absurdo e ofensivo. Ela está mais perto da prostituição organizada do que qualquer outra coisa.”, “A princesa Diana nunca balbuciou na vida algo que tenha sido útil para qualquer membro da raça humana”e esta última pérola: “Já pensei em me suicidar pelo menos 183 vezes. Eu realmente respeito o suicídio porque ele é uma forma de ter controle sobre sua própria vida. E o ato mais forte que uma pessoa pode realizar.”

 

Em 94 Morrissey lançou o disco Vauxhall and I, produzido por Steve Lillywhite. E mostrou que  está segurando a barra e lançando bons discos, apesar dos infortúnios.

 

 

U2-

 

 

A idéia de formar um grupo de rock partiu do baterista Larry, quando aos 16 anos colocou um anúncio no mural da escola Mount Temple-a primeira escola “progressista liberal”da Irlanda-procurando músicos. Definidos os membros, percebeu-se que o baixista Adam Clayton era o único que tinha participado de outra banda (The Max Quad), de onde fora expulso por indisciplina. Larry tocava bateria e Dave Evans já sabia guitarra. Só não estava definido o que o jovem Paul Hewson faria na banda. Ele afirmara que sabia tocar guitarra, mas não ia além de alguns acordes. Foi colocado para cantar-e os colegas lhe apelidaram de Bono Vox(boa voz, em latim).

No cenário da época(1978), em que eles começavam ali em Dublin, Irlanda, o movimento punk fazia furor. O U2 resolveu assimilar um pouco do punk, mas recorrendo às melodias dos 50/60, especialmente o também irlandês Van Morrisson. Começaram a tocar na zona norte de Dublin, em alguns clubes. Logo surgiu Paul Guiness, empresário artístico que os avisou para não se exporem em público sem ter desenvolvido a própria música. Os rapazes levaram a sério e só em 79 voltaram a fazer shows, agora no centro de Dublin. O Hot Press, jornal musical local, passou a publicar matérias falando da banda. No mesmo ano a banda ganhou um concurso de música e gravar o míni-LP U23, lançado apenas na Irlanda.

 

Mas devido à pouca divulgação, a banda passou para a Island Records, com o apoio de Paul McGuiness. A gravadora já tinha Bob Marley, Grace Jones e Steve Winwood. A gravadora oferecia uma relação bem próxima com seus artistas e na época era bem pequena. “11 O’Clock Tick Tock”foi o primeiro single do U2 lançado pela Island. A canção não deixava definido o som do grupo e após uma pequena turnê pela Inglaterra, no outono de 1980 eles se trancaram no estúdio com o produtor Steve Lillywhite para finalmente gravarem seu primeiro àlbum.

 

Surgiu então o disco Boy. Lillywhite bolou sons incomuns e ruídos para incrementar o som do grupo e dar uma sensação de mistério, distância e profundidade. Isso funcionou em músicas como “I Will Follow”,”The Eletric Co.”e “Into The Heart”. A crítica aprovou e eles formaram logo fãs fiéis.

 

A partir do sucesso na Inglaterra, o U2 conquistou os americanos com suas performances “dramáticas”. Em Londres, depois de tocarem no Hammersmith Palais foram cumprimentados no camarim por Bruce Springsteen.

 

No verão de 1981, voltaram à Dublin para um segundo álbum, ainda com Lillywhite. Mas antes de começarem a gravar, o livro onde Bono escrevia as letras foi roubado e ele teve que começar tudo de novo enquanto eles tocavam no estúdio. Desorientados com o sucesso e com as turnês, eles cometeram um àlbum fraco, que assim mesmo conseguiu boa posição nas paradas e foi arrasado pela crítica. As vendas foram menores que a do anterior, mas “Gloria”, um rock que saía bem ao vivo e tinha “inclinação religiosa”, contribuiu para o ainda exíguo repertório do U2.

 

Mas o conjunto se esforçou em manter a fama em turnês na Inglaterra, EUA e na própria Dublin, onde reuniam 5.000 pessoas num concerto e ganhavam prêmios aos montes do jornal Hot Press em 1982.

 

Com Lillywhite ajudando-os, voltaram para o estúdio e em Março de 83 lançaram War, que entrou logo na semana de lançamento na parada de sucessos. As letras panfletárias garantiram a notoriedade da banda. Causas como a do sindicato polonês Solidariedade foram abraçadas. “New Years Day” se inspirava em Lech Walesa. “Sunday Bloody Sunday”-não confundir com a música de mesmo nome de John Lennon, embora ambas tenham o mesmo nome e o mesmo tema-era baseada num massacre de civis ocorrido na Irlanda do Norte em 72. Dizia:

“Garrafas quebradas sob os pés das crianças/Corpos espalhados numa rua sem saída/Mas eu não vou atender ao chamado da batalha/Ele me coloca, ele me coloca na parede”.

 

A reação da crítica foi mista. Muitos execraram aquele panfletarismo pop, mas houve quem elogiasse e mitificasse a banda. Chegou-se a de chamar “Sunday Bloody Sunday”de “hino de uma geração”. Eles então ascenderam para um disco de ouro nos EUA, com shows em grandes estádios, tocando para 10.000 pessoas por show. Em Agosto de 83, o U2 se juntou a Eurythmics, Simple Minds e Big Country para um show em Dublin, com público de 25.000 pessoas. Depois disso lançaram Under a Blood Red Sky, o primeiro registro ao vivo das performances do grupo em disco.

Mas depois disso a banda entrou em recesso por quase dois anos. Em 84 os rapazes romperam com Lillywhite. Passaram a trabalhar com Daniel Lanois(produtor canadense com grande know-how de técnicas e engenharia de gravação) e Brian Eno-saído do Roxy-Music e que já havia produzido David Bowie em sua trilogia berlinense. O disco de 84 tinha seu título tirado de uma exposição de quadros de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, The Unforgettable Fire, “o Fogo Inesquecível”tinha os “climas etéreos” dos primeiros dois Lps mais o panfletarismo pop, como em “Pride”, uma homenagem a Martin Luther King, que dizia:

 

“De manhã cedo, 4 de Abril/Um tiro no céu de Memphis/Finalmente livre, eles tiraram sua vida/Mas não conseguiram tirar seu orgulho.”  E “MLK”era outra homenagem ao líder negro americano. Aliás, neste disco o U2 fala sobre Elvis e a América, em “Elvis Presley and America”e “4th of July”.O àlbum entrou nas paradas logo de cara e aumentou as vendagens do grupo.

 

Em Março de 1985 até a Rolling Stone publicou uma foto da banda na capa e os elegeu a maior banda de rock dos anos 80. Naquele ano eles tocaram no Live Aid, promovido por Bob Geldof -que vive Pink no filme The Wall-para socorrer os famintos da Etiópia. E neste concerto Bono dançou abraçado com uma fã que tirou da platéia durante o show, que foi visto por um bilhão de pessoas pela TV, e que garantiu a popularidade do grupo mundo afora.

 

O U2 passou então a uma espécie de paladino pop dos fracos e oprimidos, participando de shows como “Sun City:Artistas Contra o Apartheid” e shows a favor da anistia internacional. Ficaram sem gravar mais três anos. Voltaram então com The Joshua Tree, ainda no estilo rock-militante que os alçara à condição de superbanda. O nome do conjunto se referia ao tipo de cacto que ilustra ao fundo uma das fotos do álbum. Em Abril eles saem na capa da Time, e antes deles só Beatles e The Who haviam ilustrado a capa da revista. “With or Without You” era uma balada que começava assim:  “Vejo a pedra nos seus olhos/Vejo o tormento no seu rosto/Espero por você/Num passe de mágica muda-se o destino/Numa cama do pregos ela me faz esperar/E eu espero...sem você”.

 

A política aparece em “Mothers of The Disappeared”, que fala das madres e abuelitas na plaza de Mayo, que perderam seus filhos na ditadura argentina, “Bullet Blue Sky” fala sobre a América Central e “Running to Stand Still”fala da vida de uma viciada em heroína e “In God’s Country”Bono cantava as delícias da América, este “País Divino”, onde “o sono vem como uma droga”. Mas “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” foi outra música elevada a “hino de uma geração” e dizia, com fervor pop quase religioso:

 

“Acredito na chegada do Reino/Daí todas as cores sangrarão numa só/Mas, sim, ainda estou correndo/Você soltou as algemas/ Soltou as correntes/ Você carregou a cruz da minha vergonha.” The Joshua Tree vendeu 14 milhões de cópias no mundo todo. No dia 2 de Março de 88, o U2 ganhou dois grammys (maior prêmio de música norte-americana ), como melhor grupo de rock e melhor àlbum de 1987, batendo até mesmo o novo disco de Michael Jackson, Bad, que era o favorito da noite. A turnê do disco passou por 15 países, durou 264 dias e foi assistida por três milhoes de pessoas.

Depois desta turnê eles lançaram o filme dirigido por Phil Joanou, o documentário “U2-Rattle and Hum”,que tinha cenas dos shows da turnê americana e momentos do grupo na estrada. Este é um dos mais pretensiosos fimes de rock, pois não tem sequer uma história, como por exemplo “Help”, dos Beatles e o clássico”200 Motels”, de Frank Zappa. O àlbum que era a trilha sonora do filme também veio e vendeu bem, e, apesar de ter duetos com Bob Dylan e B. B. King teve de ser preenchido com covers de “All Along The Watchtower” e “Helter Skelter” às quais o U2 só acrescentou seus trejeitos, sendo bem inferiores às originais. Aliás o U2 tem essa sina de só tocar clássicos como “Paint It Black” e “Are You Lonesome Tonight” em versões bem mais fracas do que suas gravações originais, com Rolling Stones e Elvis Presley no caso das duas últimas citadas.

 

No final de 91, com o àlbum Achtung Baby, a banda voltou a ter Brian Eno, Daniel Lanois e de quebra, Steve Lillywhite. E eles abandonaram o messianismo e os temas americanos para ir gravar em Berlim e aproveitar para colocar um embalo mais dançante em faixas como “Zoo Station”e “Mysterious Ways”. As letras se concentram no assunto amor, mas mais elaboradas, como em “So Cruel”e “Who’s Gonna Ride Your Wild Hourses”.Mas a música mais interessante do àlbum é “Until The End of The World”, que sinaliza o que viria no àlbum de 1994, Zooropa, e foi feita para o filme de Win Wenders, Até o Fim Do Mundo.

 

Zooropa saiu em 94 com um forte aparato de marketing , e é um àlbum cheio de ruídos bizarros e, segundo Bono, inspirado em livros como Neuromancer, de William Gibson, inovador da ficção científica nos 80 e William Burroughs, de Junkie e Almoço Nu -- e que tem pelo menos uma faixa inspirada nas escatologias/bebedeiras do escritor Charles Bukowski, “Dirty Day”. Tem atrativos, como a canção que Bono compôs para o veterano Johnny Cash e que é a melhor faixa do àlbum. Este disco teve menor aproveitamento nas rádios do que o anterior, que produziu vários hits. Uma das mais tocadas é “Lemon ”. A partir deste disco o U2 difere radicalmente dos discos dos anos 80. E Bono posou em fotos travestido, entre outras surpresas para os fãs antigos. O U2 parece hoje acreditar que o que está mudando o mundo é a tecnologia, computadores, TV a cabo, etc. E investe nisso. Veremos no que vai dar."          25/11/2007


 

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