domingo, 5 de junho de 2022

Boleka: Um Discípulo do Profeta Gentileza

 

Boleka: Um Discípulo do Profeta Gentileza

 

 

            Sempre admirei o trabalho de Geraldo Majela de Mesquita, o professor Boleka. Andréa da turma Pelourinho foi a primeira a elogiar esse grande artista e arte-educador para mim, ainda nos anos 90, ao tempo da banda Mayoma. Mayoma era um sucesso local.

            Boleka, além de músico popular, é também professor junto a mim na escola Wilson Lopes, bem como tem a sua própria escola de música. Ele conta que Boleka, originalmente nome artístico, agora é o seu nome verdadeiro. Geraldo virou apelido, brinca ele. Junto de sua escola de música e seu trabalho nas escolas, ele é um importante agitador cultural local. Ele foi o primeiro a me falar do trabalho de Eduardo Lucas Andrade, escritor, psicólogo e meu atual editor. Ele me emprestou o seminal livro Psicanálise e Educação, de autoria de Eduardo.

            Recentemente, Boleka redigiu um ótimo artigo para a Rede Futura de Ensino, chamado Hierofanias da Arte: A Escrita e a Intervenção Cultural do Profeta Gentileza, texto onde ele analisa uma figura fascinante: o profeta Gentileza. José Datrino, o chamado Profeta Gentileza, assim como a forma como ele inscreveu na cidade do Rio de Janeiro o seu pensamento e sua vida. Trata-se de figura que originou lendas em torno dele. Ele vivia nas ruas do Rio de Janeiro pregando a gentileza e bondade, oferecendo flores aos passantes. Para expressar-se, ele pintou nos muros do Viaduto do Caju mensagens que traduziam seu pensamento: ele se dizia Jesus de Nazaré e queria ensinar o caminho do perdão como sendo o caminho da verdade e da moral aos seres humanos.

            Gentileza recebeu uma revelação divina (hierofania) e a partir dela apresenta um princípio universal: a “gentileza”, que é o que ele prega no dia a dia. Ele acredita na gentileza como um absoluto, ou seja, uma solução para os problemas presentes e pretéritos da humanidade.

            Gentileza, uma figura ao mesmo tempo marginal e muito presente na cidade, produziu uma obra que tornou-se patrimônio cultural do Rio de Janeiro. Gentileza pintou murais que lhe deram prestígio social de artista urbano. Ele transmitia seu pensamento através da pregação nos sinais e esquinas, assim como tinha sua própria roupa e sua escrita peculiar. Após ter seus escritos apagados como se fossem pichações comuns, fato que gerou polêmica, obteve apoio de um movimento que obrigou a prefeitura do Rio a restaurar a obra. Ele também foi um inspirador de obras artísticas: duas canções de artistas da MPB foram dedicadas a ele: Gentileza de Gonzaguinha e uma canção homônima de Marisa Monte. Sua trajetória mostra como uma figura lendária (e evidentemente um indivíduo acometido de transtorno mental), em conflito, inclusive, com as religiões estabelecidas, obteve grande aceitação social como artista.

            Boleka é um discípulo do profeta Gentileza e sempre difunde a máxima aos alunos: gentileza gera gentileza. Eu sou grande admirador do trabalho de Boleka e até postei a canção Quarta-Feira de Cinzas, de sua autoria, em meu canal do youtube, que pode ser vista no seguinte link: <<https://www.youtube.com/watch?v=W6p7n-Atxc4>>.

 

 

 

 

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